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OPINIÃO

As eleições em segundo turno

De acordo com a legislação eleitoral, o segundo turno das eleições municipais deve ocorrer em todas as cidades com mais de 200 mil eleitores, quando nenhum dos candidatos tenha alcançado, no primeiro turno, a maioria absoluta dos votos válidos.

Por esse motivo, no próximo domingo, dia 27 de outubro, eleitores de 51 municípios brasileiros retornarão às urnas para escolher, de forma definitiva, os nomes que vão comandar as respectivas prefeituras nos próximos quatro anos. Serão considerados eleitos aqueles candidatos que alcançarem a maior porcentagem de votos válidos.

Embora seja relativamente pequeno o número de cidades envolvidas no segundo turno, a importância do pleito deste domingo fica evidente ao avaliarmos a relevância política e econômica dessas localidades. Para se ter uma ideia, 15 capitais brasileiras estão na lista de municípios que decidirão a eleição em duas etapas de votação.

No total, são 33,9 milhões de pessoas poderão votar no segundo turno. Grande parte é de moradores do estado de São Paulo, sendo que 9,3 milhões de eleitores estão na capital, a maior metrópole brasileira.

Além disso, dados divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indicam que seis capitais com votação em segundo turno possuem mais de um milhão de eleitores. São elas: Belo Horizonte, com 1.992.984; Fortaleza, com 1.769.681; Manaus, com 1.446.122; Curitiba, com 1.423.722; Belém, com 1.056.251; e Goiânia, com 1.030.274.

As eleições vão ocorrer de forma simultânea em todo país, das 8h às 17h, no horário de Brasília. Por esse motivo, em Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Manaus (AM) e Porto Velho (RO), as seções vão funcionar das 7h às 16horas, em razão das diferenças de fuso.

Para que as eleições ocorram de forma tranquila, a exemplo do que ocorreu no primeiro turno, a Justiça Eleitoral vai fazer funcionar 97,3 mil seções eleitorais, com as respectivas urnas eletrônicas. Além disso, cerca de 358 mil mesários devem trabalhar nesse domingo, sendo 68% voluntários.

A expectativa é de que em poucas horas após o encerramento da votação já sejam divulgados os resultados da apuração e os nomes dos 102 prefeitos e vice-prefeitos eleitos. Seja qual for o resultado nos 51 municípios, devemos lembrar que as eleições são um momento importante para o fortalecimento da democracia no Brasil. Ela e a soberania popular devem ser sempre as maiores vitoriosas.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Responsabilidade fiscal preventiva 

A discussão sobre os investimentos públicos e a dívida pública tem sido pauta recorrente nos debates sobre a economia e o desenvolvimento nacional. Contudo, muitas vezes, o foco exagerado no curto prazo leva à análise simplista dos números da dívida pública, sem levar em consideração o impacto que os investimentos orientados ao desenvolvimento humano e à melhoria das condições sociais e institucionais têm sobre sua trajetória de longo prazo. 

É fundamental que o planejamento público se descole da tentação de concentrar-se exclusivamente nos dados momentâneos da dívida e, em vez disso, adote uma visão estratégica de longo prazo. A análise econômica que privilegia unicamente o tamanho da dívida no presente desconsidera o efeito transformador de certos investimentos, que, ao reduzir as desigualdades e a conflitualidade social, acabam por criar condições propícias para o desenvolvimento econômico sustentável, com impacto direto na estabilidade fiscal. 

Investir em políticas públicas que garantam a efetivação dos direitos humanos, por exemplo, resulta, no longo prazo, em menos desigualdade, mais coesão social e uma significativa redução dos conflitos e tensões. Esses fatores são estabilizadores da dívida pública, pois diminuem a pressão por gastos emergenciais em áreas como segurança pública e sistemas de saúde sobrecarregados. Em vez de gastar recursos excessivos em medidas reativas, como o aumento da repressão ou o atendimento de crises sanitárias, o governo pode concentrar esforços em políticas preventivas. 

Um exemplo notável é o investimento em educação. Quando se destina verbas adequadas para a melhoria do sistema educacional, os efeitos a longo prazo são palpáveis: trabalhadores mais qualificados geram maior produtividade, o que impulsiona a economia e, por consequência, as receitas públicas. A longo prazo, isso fortalece as bases fiscais do país e melhora a sustentabilidade da dívida. 

A educação também tem outro impacto relevante: ela aprimora as instituições públicas, tornando-as mais eficientes, e fortalece a qualidade política dos governos, o que, por sua vez, reduz a corrupção e o desperdício de recursos. Políticos mais bem preparados e instituições mais robustas gastam melhor e de forma mais criteriosa, o que alivia a pressão sobre o orçamento público. 

Além disso, o famoso ditado “quem constrói escolas não precisa construir prisões” ilustra uma realidade óbvia, mas muitas vezes ignorada: políticas públicas que favorecem a educação e a inclusão social são poderosos redutores de criminalidade. Isso, por sua vez, alivia os cofres públicos de gastos excessivos em segurança, zeladoria urbana e sistema penitenciário. 

Investir em infraestrutura urbana, como iluminação pública, limpeza e manutenção de espaços, também é uma forma de economizar em longo prazo. Cidades bem cuidadas, com boa infraestrutura e políticas urbanas voltadas ao bem-estar dos cidadãos, enfrentam menos problemas de criminalidade e segurança. Esse tipo de investimento evita o aumento de gastos posteriores com repressão, construções de presídios e contratação de mais forças de segurança. 

Outro exemplo importante é o investimento em políticas ambientais e de adaptação climática. Os desastres naturais e as mudanças climáticas geram um impacto financeiro gigantesco, tanto na reconstrução de áreas afetadas quanto no pagamento de indenizações às vítimas. Políticas preventivas, como o fortalecimento de medidas de preservação ambiental e a adaptação de infraestruturas para lidar com os novos desafios climáticos, economizam bilhões de reais em gastos reativos no futuro. Essas medidas, além de promoverem sustentabilidade e justiça social, têm impacto direto na saúde fiscal do país.

Portanto, os investimentos públicos feitos de maneira criteriosa, sob a égide da eficiência e de um planejamento de longo prazo, são estabilizadores da dívida pública e consistentemente alinhados à responsabilidade fiscal. A visão imediatista que se apega apenas ao tamanho atual da dívida ignora os efeitos de longo prazo de políticas de bem-estar social, educação, infraestrutura e preservação ambiental. 

O caminho para a estabilidade fiscal não reside unicamente em cortar gastos de maneira indiscriminada, mas em saber onde e como investir para gerar um ciclo virtuoso de crescimento e desenvolvimento. Um planejamento de longo prazo bem-feito não só estabiliza a dívida pública, como também eleva a qualidade de vida da população, promovendo um futuro mais justo e equilibrado para todos.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social, e mestre em Economia Política. Escritor, Professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro "Caminho - a Beleza é Enxergar", da Editora UICLAP (@andrenaves.def)


Inclusão: Caminhos para uma Sociedade mais justa

A nossa participação política não começa nem termina com o voto; ela deve ser contínua e abrangente. Temas como as políticas públicas de inclusão jamais podem sair de pauta. Uma sociedade inclusiva é o reflexo de uma política ativa e justa, e garantir que a inclusão de pessoas com deficiência esteja sempre presente nas pautas públicas é essencial.

O novo paradigma do modelo social da deficiência, baseado nos direitos humanos, marca uma mudança significativa na forma como entendemos e tratamos a deficiência. De acordo com essa perspectiva, a deficiência não é mais vista como um problema inerente à pessoa, algo a ser corrigido ou curado, mas como uma construção social. As barreiras impostas pela sociedade — sejam físicas, comunicacionais, atitudinais ou legais — são o que agrava ou perpetua as limitações funcionais de uma pessoa.

As barreiras atitudinais se manifestam quando as pessoas, por desinformação ou preconceito, subestimam as capacidades de uma pessoa com deficiência, resultando em exclusão de oportunidades. As barreiras físicas estão nos prédios sem acessos adequados, nas ruas sem rampas, nos transportes e nas escolas que não oferecem estruturas inclusivas. Todas essas barreiras criam um ciclo de exclusão que apenas ações afirmativas e a educação inclusiva podem começar a quebrar.

Essa abordagem reconhece que a deficiência resulta mais da exclusão e da falta de acessibilidade do que de uma condição individual. É fruto de anos de luta das organizações da sociedade civil e dos movimentos sociais que defendem os direitos das pessoas com deficiência, promovendo sua inclusão plena e a remoção dessas barreiras sociais.

A adoção desse modelo implica não apenas mudanças legislativas e políticas públicas, mas também uma profunda transformação nas atitudes e nos valores da sociedade. Ele desafia conceitos anteriores, que reduziam a deficiência a uma questão médica ou individual, e abre espaço para uma visão de justiça social, onde a inclusão e a equidade são centrais.

A desigualdade tem como uma de suas causas o preconceito. Nenhuma forma de preconceito faz a sociedade eficiente; pelo contrário, faz dela deficiente. O caminho que nos é apresentado é tortuoso, mas, mesmo assim, é preciso caminhar. Inserção, inclusão, diferentes em busca da igualdade de oportunidades e do direito de exercer a plena cidadania.

Desde janeiro de 2016, está em vigor a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), instituída em julho de 2015. Por que é importante divulgar essa lei? Para que ela seja conhecida, por toda a sociedade. O conhecimento dessa legislação é fundamental para que possamos avançar rumo a uma sociedade mais justa e acessível.

Acessibilidade, tanto como princípio quanto como direito, desempenha um papel crucial na promoção da igualdade e da inclusão social. Como princípio, a acessibilidade se refere à necessidade de remover barreiras — físicas, comunicacionais, tecnológicas e atitudinais — para garantir que todas as pessoas, independentemente de suas habilidades ou limitações, possam participar plenamente da sociedade. Isso envolve o compromisso de criar ambientes, produtos e serviços que possam ser utilizados por todos, sem discriminação.

O direito à acessibilidade está consagrado em legislações nacionais e internacionais, como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD) da ONU. Esse reconhecimento jurídico estabelece a acessibilidade como um dever do Estado e da sociedade em geral, garantindo que pessoas com deficiência tenham o mesmo acesso a oportunidades, serviços e espaços públicos e privados que qualquer outra pessoa.

A acessibilidade é uma ferramenta fundamental para a promoção da autonomia e da dignidade, permitindo que indivíduos com deficiência vivam de forma independente e participem plenamente em todos os aspectos da vida, desde a educação e o trabalho até o lazer e a participação política. Mais do que uma necessidade prática, a acessibilidade é um componente essencial para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

É importante falar sobre esse assunto e divulgar a Lei 13.146 à exaustão. As pessoas com deficiência precisam romper, cada vez mais, a barreira da invisibilidade. A inclusão se dá pela ocupação dos espaços, e isso nos faz visíveis. Para romper as barreiras e quebrar o ciclo de exclusão, é necessária uma série de ações afirmativas. Além das políticas públicas, será preciso o esforço de todos os setores da sociedade.

A pessoa com deficiência ainda é vista, no imaginário de uma parte da sociedade, como um grupo inferiorizado e incapaz. A desinformação leva à conformação e à acomodação, perpetuando o status quo. Para contrapor isso e ajudar a construir novas percepções na formação de uma cultura inclusiva, são necessárias políticas afirmativas que valorizem a importância da pessoa com deficiência na construção da cidadania e de uma cidade democrática e inclusiva.

Palavras, imagens e tudo o que as pessoas sem deficiência pensam antes de agir diante de alguém com deficiência revelam as atitudes da sociedade. Já ouvi muitas vezes expressões como: “Coitado, deve ser penoso para ele ser assim. Vou ajudá-lo, tenho dó, vou fazer a minha parte.“. Essa ainda é a imagem que muitos têm de nós. Embora isso tenha diminuído, ainda há pessoas que nos veem com inferioridade e estigmas.

É preciso ter em mente que, antes da deficiência, vem o ser humano. A pessoa está além de sua deficiência; é um ser humano dotado de todos os direitos, como qualquer outra pessoa. A verdadeira inclusão só será alcançada quando, além de remover as barreiras, a sociedade começar a enxergar o potencial das pessoas com deficiência. Seja na escola, no trabalho ou na arte, quando damos condições de igualdade para todos, estamos permitindo que o ser humano brilhe, e não sua deficiência.

A mudança que queremos ver depende de todos nós. A inclusão não é apenas uma responsabilidade do Estado, mas de cada cidadão. Ao revermos nossas atitudes, educarmos nossas crianças para a diversidade e exigirmos ambientes acessíveis e inclusivos, estaremos construindo uma sociedade mais justa, onde todos podem exercer sua cidadania plena.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP - Autor do livro - O sol nas margens da noite -


Comunidades planejadas e a importância do saneamento

No Brasil tem crescido a demanda por comunidades planejadas, que são áreas que funcionam de maneira similar aos bairros tradicionais, mas que apresentam um melhor planejamento dos espaços públicos. Uma de suas principais características é unir a funcionalidade urbana com o bem-estar de seus moradores, diferentemente do que acontece em muitas outras localidades que se expandiram de maneira desordenada. 

Entre os serviços essenciais e considerado uma prioridade nos projetos de desenvolvimento de comunidades planejadas, mas que em muitos lugares ainda é bastante negligenciado, é o de saneamento básico, fator indispensável para oferecer melhor qualidade de vida à população, além de ser um direito garantido pela nossa Constituição. Ou seja, se há tanta demanda por comunidades planejadas, temos aí um cenário favorável para o setor. 

Com isso, reforça-se ainda mais o bom momento que as empresas de saneamento já estão vivendo nos últimos anos, especialmente após o decreto do “Novo Marco Legal”, que prevê até 2033 a universalização dos serviços de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgoto. Desde então, o setor nunca movimentou tanto dinheiro no Brasil, abrindo portas para empresas que buscam um ambiente mais seguro e próspero para investir. 

Tanto é que, pesquisa realizada pela consultoria Ernest & Young, em parceria com a Abdib (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base), mostra que o maior interesse para investimentos no setor privado está justamente neste segmento, com 61,5% dos entrevistados afirmando que o saneamento deve ser o setor que deve receber o maior aporte de recursos nos próximos três anos, superando, por exemplo, energia e rodovias. 

Por outro lado, as próprias empresas do setor também investem em soluções tecnológicas para oferecer o chamado saneamento inteligente ou 4.0, cada vez mais comum em projetos de comunidades planejadas. São avanços que permitem uma gestão mais eficiente de todo o processo, capaz de detectar rapidamente pontos de vazamentos em redes de água tratada ou de identificar entupimentos em redes de coleta de esgoto, entre tantos outros ganhos. 

São muitos os benefícios que esses avanços trazem, mas não é apenas a sociedade que vive nessas comunidades planejadas que ganham com isso. Quanto mais as empresas investem em pesquisa e desenvolvimento, melhoramos cada vez mais a forma como fazemos uso da água e como o esgoto é tratado, procurando sempre reduzir os custos envolvidos nessas operações e, principalmente, os impactos causados ao meio ambiente. 

As associadas APECS têm trabalhado e desenvolvido projetos e soluções integradas às comunidades planejadas com incremento de tecnologia, soluções baseadas na natureza (SBNs) e conexão plena aos ambientes planejados.

Ricardo Lazzari Mendes é coordenador do Boletim do Saneamento e presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente)


Nossa Senhora Aparecida: símbolo da fé brasileira


1717. Esse ano marcou a história de fé do povo brasileiro. Uma pequenina imagem de Nossa Senhora da Conceição foi encontrada no Rio Paraíba do Sul por três humildes pescadores. João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, após uma infrutífera pesca, encontram nas redes o corpo de uma imagem religiosa, rio abaixo, na mesma rede avistaram a cabeça da imagem. Após este fato inesperado, um milagre aconteceu, as redes fartaram-se de peixes. 

A esposa de Domingos colou com cera a cabeça no corpo da imagem. Era uma escultura em homenagem à Imaculada Conceição de Maria. A palavra imaculada significa “sem mácula”, referência a uma verdade de fé: “Maria foi concebida no seio de Santa Ana sem o pecado original”. Esta imagem de Nossa Senhora da Conceição será chamada de “Aparecida”, ao aparecer naquela pesca no rio Paraíba. 

Com a imagem na casa de Domingos, a família e vizinhos se reuniam todos os sábados para rezar o terço e cantar a ladainha de Nossa Senhora. A devoção começou a crescer, e no transcorrer das décadas do século 18, oratório e posterior Igreja foram construídas para abrigar a imagem. Os relatos dos milagres se popularizavam e mais pessoas vinham pedir a intercessão de Nossa Senhora, que popularmente já era chamada de “Aparecida”. 

O impacto da devoção a Nossa Senhora Aparecida no Brasil é grande e constitui parte da cultura do povo. Diversas autoridades do antigo império e também da república já prestaram homenagens. Muitos são os brasileiros que se declaram fiéis devotos, o que leva a seguinte pergunta: O que significa uma devoção? 

Ser devoto, significa ter uma vontade pronta para entregar o que for necessário para o serviço e o culto a Deus. Desse modo, uma pessoa que é devota de Nossa Senhora Aparecida está prontamente disposta a praticar livremente atitudes de serviço a Deus através de Maria. Por isso, a devoção popular, conduzida de acordo com a fé professada, leva os fiéis à prática de virtudes humanas e, por vezes, sobrenaturais. 

No transcurso da história de Nossa Senhora Aparecida, o modo particular do povo brasileiro manifestar sua devoção a Mãe de Deus, demonstra o carinho e a dedicação de uma nação a servir e amar prontamente a Deus através de Maria. Todos os dias, milhares de peregrinos passam pelo Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, e ali vivem experiências de fé e profunda devoção. Muitas são as pessoas que agradecem, pedem, fazem votos, renovam propósitos e decidem por uma conversão a Deus. 

Tais frutos religiosos manifestam que a árvore é boa, e por isso, em todo o território nacional é possível encontrar pessoas que vivem sua devoção a Mãe de Deus. Milhares de paróquias no Brasil são dedicadas ao patrocínio de Nossa Senhora Aparecida, nos mais diversos contextos culturais da nação há uma expressão de homenagem à padroeira do Brasil. Desse modo, a Mãe Aparecida forma parte da identidade de fé do povo brasileiro, e impulsiona a vida cristã a cumprir tudo o que Jesus pregou. 

A cada 12 de outubro, feriado nacional e dia de Nossa Senhora Aparecida, é tempo de meditar e pensar nos frutos que esta devoção manifesta em sua vida. Quais as suas disposições para prontamente corresponder com devoção ao apelo divino de amar e servir? Que a resposta seja uma expressão fundada no amor a Deus e sua Mãe que levem a atitudes de serviço ao próximo e comunhão entre os irmãos. 

Venerar a Mãe de Jesus, é reconhecer que todos os atos dirigidos a Maria atingem o fim primeiro do ser humano: “dar glória a Deus”. Visto que Deus quis vir ao mundo no seio de Maria, a Providência permitiu sua manifestação no Brasil com o título de Aparecida, para que as pessoas cresçam na fé, e ao dar glória a Deus alcancem a salvação. Que do altar de Aparecida a Mãe do céu continue a levar todos até Jesus. Viva a Rainha e Padroeira do Brasil!

Padre Alex Nogueira é mestre em direito canônico, professor acadêmico e autor do livro Orar faz muito bem!, da Edições Loyola


2º sábado de outubro - (12) Dia Mundial dos Cuidados Paliativos 

Cuidados Paliativos, o que significa isso?

A palavra “paliativo” tem origem no latim pallium, que significa manto. O termo representa o alívio do sofrimento, enquanto a doença não pode ser curada. Paliar significa proteger de sofrimentos evitáveis. O tratamento paliativo é ativo e envolve o indivíduo em cuidados perceptíveis, tratando-o em sua integralidade. 

A expressão “cuidados paliativos”, tente a ser carregada por conceitos inadequados. Essa expressão geralmente é associada ao câncer em estado terminal. 

Cuidados paliativos não se restringem a isso. Cuidados paliativos envolvem os conceitos de tratar os sintomas, melhorar as condições físicas, nutricionais, de mobilidade, de inserção social e familiar. 

Significa que cuida essencialmente do bem-estar. 

Existem Cuidados Paliativos na Pediatria, na Cardiologia, entre outros, para tratar as consequências das doenças dos pulmões, dos rins, dos acidentes e de acidente vascular cerebral (AVC). 

Aliás, na Neurologia, os cuidados paliativos são cada vez mais frequentes e precoces. Pessoas que sofrem de doenças crônicas, intratáveis ou não, de sequelas de traumatismos que afetam o cérebro, coluna ou nervos, bem como aquelas que sofreram uma hemorragia ou infarto cerebral, são inseridas no contexto do Cuidado Paliativo, cada vez mais cedo.

Em resumo, o médico que se dedica à área de Cuidados Paliativos é essencialmente um cuidador atento e sensível às necessidades e às queixas do paciente. Essa especialidade sempre envolve organizar um atendimento que abrange diversas outras profissões, como Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Enfermagem, Psicologia. 

Em resumo, Cuidados Paliativos significam que a pessoa, independente do diagnóstico ou do estágio de uma doença crônica, será sempre cuidada e tratada.

Dr. Kleber Duarte é médico neurocirurgião com quase 30 anos de experiência na área
de neurocirurgia funcional e dor. Atualmente é coordenador do Serviço de Neurocirurgia para Saúde Suplementar e Neurocirurgia em Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Tem amplo conhecimento e alta qualificação em técnicas cirúrgicas e de estereotaxia para tratamento de doenças que comprometem o sistema motor e em dores crônicas.


A votação no dia 6 de outubro

Estamos em contagem regressiva para o dia 6 de outubro, quando ocorre o primeiro turno das eleições municipais. No próximo domingo, quase 156 mil eleitores poderão ir às urnas, em 5.569 cidades brasileiras, para ajudar a eleger prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.

Além disso, as estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam que 463 mil pessoas solicitaram registros de candidaturas junto à Justiça Eleitoral, em todo o Brasil. No total, 15.573 candidatos disputam o comando das prefeituras brasileiras e 431 mil buscam ocupar uma das 58 mil cadeiras das câmaras municipais.

Números tão expressivos, tanto de eleitores quanto de candidatos, nos dão uma ideia do tamanho da infraestrutura necessária para que a votação ocorra de forma tranquila e eficiente em todo o país. Os investimentos da Justiça Eleitoral são altos em várias frentes, inclusive em tecnologia. Aproximadamente 114 mil urnas eletrônicas deverão ser utilizadas para recebimento dos votos dos eleitores brasileiros.

A legislação eleitoral estipula como obrigatório o voto de todos os cidadãos com idades entre 18 e 70 anos. Já para aqueles com 16 e 17 anos e para maiores de 70 anos e analfabetos, o voto é facultativo. O indivíduo que estiver fora do domicílio eleitoral deverá justificar a ausência, sendo que o prazo é de até 60 dias após o dia do pleito.

Uma grande parte do eleitorado, mais de 80%, já realizou o cadastramento biométrico e poderá votar com mais segurança, já que o recurso reduz fraudes e facilita o processo de identificação. Os eleitores que ainda não fizeram a biometria não serão impedidos de votar e poderão comparecer aos respectivos locais de votação levando um documento oficial com foto.

Na hora da votação, primeiramente deve-se digitar o número do candidato escolhido para o cargo de vereador e, na sequência, escolher a chapa de prefeito e vice. O uso de celulares ou outros equipamentos eletrônicos é proibido na cabine da urna, mas a colinha de papel, com os números dos candidatos, está liberada.

A expectativa é de que em poucas horas após o fim da votação já sejam divulgados os resultados das eleições em todo o país. Apenas nos municípios com mais de 200 mil eleitores poderá haver segundo turno, caso nenhum dos candidatos à prefeitura consiga atingir mais da metade dos votos válidos, excluídos os brancos e nulos.

Votar é um ato cidadão de exercício da democracia. O voto consciente é uma ferramenta poderosa e devemos saber usá-la para o bem das nossas cidades e das nossas vidas.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Entre a Política e o Poder: Reflexões Sobre a Justiça

“Amai a justiça vós que governais a terra (Sab 1,1), porque a justiça é imortal” (Sab 1,15). Esta mensagem da Sabedoria nos convida a refletir sobre o papel de quem governa e de quem é governado. Na prática, a justiça, que deveria ser imortal, parece muitas vezes perder-se no jogo do poder. E onde entra o nosso voto nisso tudo? “O voto não tem preço, tem consequências”.

A velha política, marcada pelo clientelismo e pelos interesses pessoais, parece resistir ao tempo, enquanto a boa política, aquela que visa o bem comum, luta para sobreviver. Já a má política é a expressão dos desvios éticos e morais, que corrompem a justiça e o bem-estar social. A política em si não tem lado, mas o político sim. Tudo é uma questão de prioridades. Quais prioridades? A prioridade deve ser governar para todos, mas há quem necessite de um outro olhar. Governar é fazer justiça.

Nossa participação na sociedade, convivendo nela, se dá por meio de relações políticas. Estamos sempre tomando decisões que, direta ou indiretamente, influenciam nossa vida como sociedade e como comunidade. No entanto, a política em nosso país é marcada pelo fisiologismo, essa relação imoral entre o poder político e as decisões que favorecem grupos ou a base aliada em troca de interesses privados, em detrimento do bem comum. Essa prática está enraizada em nossa política, tornando-a uma negociata que já se tornou praxe.

Será que política é apenas um conceito de poder? E que poder? Quem é servido por esse poder? Quem se serve desse poder? Maquiavel, sempre provocador, nos lembra que a política tem duas caras: a pública e a dos bastidores. É nos bastidores que a verdadeira face do poder se revela, longe do alcance do cidadão comum. O que se esconde por detrás do poder? O que o poder esconde de nós?

A política nos manipula? Ou seria o poder manipulado pela política? Ou talvez sejam os políticos que manipulam, usando a política como uma ferramenta que obedece a ordens preestabelecidas? Somos manipulados? Somos ingênuos? A política e o poder. O poder da política. Eu, político? Imagina! Meu universo é outro. E o seu? Você precisa se sustentar. De onde vem o seu sustento? Todos nós precisamos trabalhar para sobreviver, nisso acredito que há consenso.

Bertolt Brecht, dramaturgo, romancista e poeta alemão, dizia que o pior analfabeto é o analfabeto político: “Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.“.

E a política como deveria ser? Platão aponta para o mundo das ideias, das coisas perfeitas. O ideal humanista, a perfeita sintonia entre o que é e o que deveria ser. O idealismo político, o bem comum. A política da divergência: divergir para convergir. O ideal da política é promover o bem comum.

Maquiavel não me deixa quieto, provocando-me a ponto de acreditar que a política é um jogo. Um jogo marcado pela sordidez, em que as regras sempre favorecem quem detém o poder. Ética? Moral? Não sei. Talvez seja descrença minha, mas atualmente essas duas palavras parecem não fazer parte da política. Será que sempre foi assim?

Será que quem não é candidato pode se desinteressar totalmente pelo assunto, tendo apenas o compromisso de eleger alguém, qualquer um? Acredito que não. Foi só uma provocação. A sociedade está mais consciente de que nosso compromisso vai muito além do voto. Votar é apenas o começo. Nossa cidadania exige mais do que o ato de escolha; ela pede participação contínua, questionamento e engajamento. O exercício da cidadania depende de como o poder político está estabelecido.

Apesar do descrédito na política — e até com certa razão, pois a classe política, em sua maioria, trabalha para seu próprio favorecimento e de seu grupo —, mesmo na desconfiança, preciso ter esperança. Precisamos acreditar na força da união e no poder de construir uma sociedade mais justa e fraterna. A justiça, como nos lembra a Sabedoria, é imortal — cabe a nós mantê-la viva em nossas ações e escolhas.
 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP - Autor do livro - O abraço do tempo -


O POVO e o governo

Aristóteles dividia os governos em seis. Considerava o melhor deles, aquele dirigido por um homem bom só voltado para o povo, mais fácil de encontrar-se numa monarquia. O segundo seria o da aristocracia, com um grupo de homens dedicados a governar para a comunidade. O terceiro melhor seria a politia, quando o povo se dedica a procurar o bem da coletividade na escolha de seus dirigentes, mais do que seu interesse pessoal. Politia vem de “polis”, cidade, pois a Grécia desde os aqueus, dórios, jônios era um conjunto de cidades-Estado, que só se unificaram com os macedônios e Alexandre, que, de resto, foi discípulo do filósofo.

Enumerava, em seguida, os governos maus, sendo o menos ruim a democracia, governo do povo voltado para si mais do que para a comunidade. “Demos” em grego é povo. Depois vinha a plutocracia, um grupo de homens maus governando e, por fim, a pior das formas, ou seja, a tirania.

Norberto Bobbio, quando proferiu uma série de palestras sobre as formas de governo, coletânea publicada pela UNB, realçou a importância da divisão de Aristóteles para a compreensão de uma teoria do poder, algo que, de forma mais modesta, embora mais abrangente, procurei esclarecer no meu livro “Uma Breve Teoria do Poder”, cuja quarta edição foi prefaciada por Michel Temer, tendo as anteriores sido apresentadas por Ney Prado e António Paim (Ed. Resistência Cultural).

Por que trago estas considerações aos meus amigos leitores? É que me causou surpresa que em relação ao desfile oficial de 7 de setembro, a maior parte do trajeto percorrido pelo carro com o Presidente da República estava repleta de seguranças, mas sem povo, apenas um pequeno número de populares perante o palanque oficial repleto de autoridades do Supremo Tribunal Federal e do Governo Lula, além do Presidente do Senado e a ausência do presidente da Casa do Povo.

Enquanto a ausência popular se fazia notar em Brasília, a Avenida Paulista estava completamente lotada por centenas de milhares de brasileiros, que mostravam seu descontentamento com a interferência permanente nos direitos individuais e na liberdade de expressão por parte do Pretório Excelso, pedindo medidas do Congresso para corrigir as distorções da aplicação da lei suprema, que entendiam fragilizar a democracia.

A escassez do povo no evento dos que se autointitulam defensores da democracia e a multidão de brasileiros na manifestação dos que são o povo e se sentem perseguidos pelos pretendidos protetores democráticos que estão reescrevendo a Constituição promulgada pelos Constituintes de 88, constituem, pelo menos, matéria para reflexão, principalmente agora em que se vê o povo que deu vitória a Gonzalez, em multidão nas ruas, e o sanguinário ditador do país se autoproclamando vencedor de uma eleição sem provas e sem gente nas ruas para mostrar-lhe simpatia.

À evidência, não há como comparar o Brasil com a Venezuela, pois ainda podemos expressar nossas opiniões, com poucos riscos de prisão, muito embora o interminável inquérito das “fake news” tenha feito suas vítimas, sendo o Brasil bem diferente da Venezuela.

O certo, todavia, é que esta tensão permanente entre o STF, o povo e o Congresso, com a primeira vez na história do país uma multidão vir às ruas para pedir impeachment de um Ministro da Suprema Corte, é perniciosa para a nossa democracia.

Não seria o caso, pois, de os Ministros do STF, voltarem a ser o que eram os magistrados da época do Ministro Moreira Alves, quando o Supremo Tribunal Federal era a Instituição mais respeitada do país?

Se voltassem a ser, teríamos a harmonia e independência dos Poderes e isto seria bom para o povo, para a democracia e para o país.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Horário de verão: uma questão de bom senso

A instituição do horário de verão pode representar uma economia de R$ 400 milhões, segundo estimativa do Ministério de Minas e Energia. E o alívio financeiro significativo é apenas uma de várias questões a serem avaliadas pelo Governo Federal no momento da decisão sobre a retomada, ou não, da medida. A definição é estratégica, com impactos nas esferas política e ambiental.

O horário de verão é adotado em diversas localidades ao redor do mundo com a missão de reduzir a pressão provocada pela alta demanda energética durante o horário de pico de consumo. No Brasil, a medida foi instituída pela primeira vez por Getúlio Vargas, em 1931. Na década de 80, passou a ser implementada anualmente, até que, em 2019, Jair Bolsonaro colocou fim ao horário de verão no país.

Se for retomado em 2024, o horário diferenciado deve significar menores gastos de eletricidade para residências, estabelecimentos comerciais, indústrias e setor público, inclusive iluminação de vias. Também há outras vantagens, já que a luz do dia prolongada incentiva e economia, com maior fluxo nos estabelecimentos comerciais, e aumenta a sensação de segurança nas ruas.

O horário de verão ainda garante melhor aproveitamento da energia solar, limpa e renovável, ao mesmo tempo em que possibilita a redução no uso da eletricidade gerada pelas termelétricas que, além de mais cara, é mais poluente. A meu ver essa é a grande questão a ser avaliada nessa questão do horário de verão.

Diante do momento delicado que vivemos, de enfrentamento dos impactos da mudança do clima e do aquecimento global, o tema deve ser debatido do ponto de vista da sustentabilidade.

O Brasil tem registrado grandes períodos de estiagem, temperaturas elevadas, baixa umidade do ar e índices atípicos de queimadas. Portanto, poupar a produção de energia não é mais uma escolha. É uma questão de bom senso.

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomendam ao Governo a instituição do horário de verão. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse não estar convencido sobre a necessidade da medida.

Silveira destacou que não há risco de uma crise energética no país e informou que pretende buscar “outros instrumentos” para embasar a definição. Felizmente, a decisão final não é dele.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing



A Política que perdemos: Reconstruindo a justiça social

Vivemos tempos em que a política, outrora concebida como instrumento de justiça, tem sido reduzida a um jogo estratégico. A frase de Aristóteles ecoa através dos séculos, lembrando-nos de uma política que deveria priorizar o bem comum: “A política não deveria ser a arte de dominar, mas sim a arte de fazer justiça”.

Quando a política é tratada como um jogo, perde-se a compreensão de sua verdadeira natureza. Reduzi-la a uma disputa de poder ou competição de estratégias esvazia sua profundidade e a importância que deveria ter na vida de cada cidadão. Em sua essência, a política não deveria ser um palco de performances vazias, mas um espaço de diálogo, construção do bem comum e mediação dos interesses coletivos.

Desde Aristóteles, sabemos que o ser humano é social por natureza, necessitando da convivência com o outro para viver em comunidade. A política, portanto, é o instrumento que organiza essa convivência, garantindo que as necessidades coletivas sejam atendidas. No entanto, quando corrompida por interesses particulares, ela perde seu caráter de serviço público e se torna veículo de privilégios.

No Brasil, a distinção entre “profissionais da política” e “profissionais na política” evidencia um problema central: muitos políticos transformam a política em uma forma de promover o bem pessoal ou de grupos específicos, em detrimento do bem comum. Essa diferença pode ser vista, por exemplo, em políticos que, em vez de lutar por reformas estruturais, dedicam seus mandatos a interesses de corporações ou grupos econômicos que os financiaram. Privilegiar grupos em troca de apoio político enfraquece a essência da política, que deveria ser voltada ao interesse público, não a interesses privados. Como resultado, vemos políticos legislando em causa própria e negligenciando as necessidades da população.

A realidade eleitoral reflete esse desvio de propósito. Em muitas campanhas, o debate é marcado por críticas vazias, desprovidas de propostas concretas. Embora a crítica seja uma ferramenta essencial para uma democracia saudável, ela perde sua força quando não busca o aprimoramento de ideias e ações. O que vemos, frequentemente, é uma troca de acusações que esvazia o processo político e nos distancia das soluções reais para os problemas da sociedade.

O marketing eleitoral se tornou uma ferramenta para maquiar promessas, moldar narrativas e desviar a atenção dos eleitores das questões essenciais, como educação e saúde. Assim, os debates se tornam espetáculos, onde o foco não é mais o conteúdo, mas a imagem. Essa inversão de prioridades gera desconfiança entre os eleitores, especialmente quando campanhas financiadas com recursos públicos priorizam a construção de uma persona eleitoral em vez de propostas para educação, saúde e segurança. A política, que deveria ser o meio pelo qual construímos o futuro do país, acaba parecendo mais um espetáculo vazio, no qual os interesses da sociedade são relegados a segundo plano.

Os eleitores, por sua vez, tornam-se reféns desse processo, muitas vezes desiludidos e céticos em relação à possibilidade de uma mudança efetiva. Quando o debate político se reduz a uma batalha de narrativas vazias, o voto deixa de ser um instrumento de transformação e passa a ser um ato de desesperança, uma escolha entre o “menos pior” em vez de uma decisão pautada por uma visão clara de futuro. E assim, a sociedade se vê presa em um ciclo de repetição, onde os problemas se perpetuam, enquanto as promessas de soluções evaporam ao vento logo após o período eleitoral.

O caminho para reverter esse quadro passa, necessariamente, pela reconexão da política com suas raízes mais profundas: a construção do bem comum. Para isso, é essencial que os candidatos e partidos se comprometam com debates verdadeiramente propositivos, focados em soluções concretas e viáveis para os problemas da sociedade. É preciso resgatar o diálogo que não tenha medo de confrontar ideias, mas que o faça com o objetivo de melhorar o coletivo, e não de simplesmente desqualificar o adversário.

Embora o cenário pareça sombrio, há sinais de renovação. Movimentos de base, lideranças emergentes e cidadãos conscientes podem reacender a chama de uma política voltada para o bem comum. O grande desafio, portanto, é resgatar a essência da política como um serviço ao bem comum. Mais do que nunca, é preciso que a política deixe de ser vista como um jogo e volte a ser o espaço onde o futuro da sociedade é construído com seriedade e responsabilidade.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP - Autor do livro - O abraço do tempo -


A interferência de Lula na definição da nova presidência da Câmara Federal

O Brasil todo está mergulhado no clima da campanha para as eleições municipais, que ocorrerão em poucas semanas, no dia 6 de outubro. Nesse momento, os esforços do meio político estão completamente voltados para as ações eleitorais que se seguirão até o dia do pleito e serão decisivas para a definição dos nomes que assumirão os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereadores. 

Mas nos bastidores políticos de Brasília, as atenções voltam-se também a outro tema: a sucessão de Arthur Lira. Sim, ao mesmo tempo em que atua intensamente no processo eleitoral em curso nos municípios brasileiros, a alta classe política do país mantém olhares atentos para a definição da nova presidência da Câmara dos Deputados, prevista para ocorrer oficialmente em fevereiro de 2025.

Nos últimos dias, especialmente, o assunto ganhou mais atenção. Isso porque situação e oposição começaram a realizar jogadas mais agressivas e a movimentação do xadrez político forçou o presidente Lula a ingressar no processo de negociação. A decisão é arriscada.

O próprio Lula, segundo noticiado pela imprensa, teria dito recentemente aos líderes da Câmara que não estaria disposto a incorrer no mesmo “erro” cometido pela ex-presidente Dilma Rousseff. Ela apoiou Arlindo Chinaglia contra Eduardo Cunha, que acabou vencendo e, mais tarde, iniciando o processo que resultou no impeachment da petista.

A diferença entre os dois cenários, no entanto, é o fator polarização. Atualmente, o embate radicalizado entre esquerda e extrema direita obriga a adoção de medidas mais drásticas, incluindo-se a intervenção do presidente na definição do melhor nome para a sucesso de Lira.

Resultado: o gabinete presidencial se tornou ambiente de negociação. Na última semana, o deputado Elmar Nascimento esteve no Palácio do Planalto para conversar com o presidente. Ele havia conquistado o apoio de Lira para a sucessão, mas o atual presidente da Câmara acabou anunciando publicamente seu apoio a Hugo Motta.

Agora, Elmar Nascimento quer convencer Lula de que Motta não tem força suficiente para fechar consenso entre toda a base do governo. Correndo por fora, ainda vem Antonio Brito com apoio de Gilberto Kassab.

Enquanto os aliados do presidente se dividem, a oposição se organiza. Barrar o avanço dos deputados bolsonaristas é politicamente estratégico para o Planalto, assim como também uma questão profundamente pessoal para o presidente. E é esse o grande motivo por trás de sua interferência nas negociações.

O preço que Lula terá de pagar por assumir esse risco só o tempo dirá. As próximas jogadas precisarão ser pensadas com inteligência.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Pacificação Nacional - A absolvição política de Lula e a anistia aos baderneiros do 8 de Janeiro

Tenho esperança de que possamos começar a pacificação nacional através do Supremo Tribunal Federal, fazendo uma revisão das condenações dos envolvidos nas badernas do dia 8 de janeiro.

Digo isso por conta da decisão política que absolveu o presidente Lula, em razão da mudança de foro de competência. Afinal, ao recomeçar todo o processo em outra instância, a prescrição atingiu todos os processos vinculados àquela condenação.

Ora, foro incompetente é matéria processual. No início do curso de Direito, nas disciplinas de processo civil e processo penal, aprendemos que a primeira coisa a se verificar, ao ingressarmos com uma ação, é se o juiz é competente ou não para julgar aquele caso.

O que vale dizer que um aluno de segundo ano de faculdade de Direito, de qualquer uma das mais de 1.700 que existem no Brasil, que não soubesse avaliar se um juiz tem competência para examinar o caso, seria reprovado imediatamente. Mas o que ocorreu? Teoricamente, tivemos um juiz, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, cinco ministros do Superior Tribunal de Justiça e onze ministros do Supremo Tribunal Federal que entenderam que o juiz Sergio Moro tinha competência de foro para julgar aquele processo. Só algum tempo depois, estranhamente, se descobriu que havia uma incompetência territorial para aquele julgamento.

Será que profissionais tão habilitados para serem Ministros, poderiam cometer um erro tão elementar? Não! Todos eles são grandes juristas; eu os conheço e tenho livros escritos com a maior parte deles.

Seria desídia não ter examinado um processo dessa relevância com o devido cuidado? Também não! Todos eles têm legiões de assessores.

Estou, pois, convencido de que foi uma decisão política para resgatar a figura do presidente Lula, numa tentativa de pacificação nacional e na esperança de que esquerda e direita pudessem ter um caminho comum.

Assim, o presidente Lula foi resgatado por uma decisão eminentemente política, porque eu não posso, até em homenagem à cultura e à inteligência de todos eles, acreditar que cometeriam um erro tão elementar, e nenhum deles tenha se apercebido tempestivamente da incompetência do juiz Sergio Moro para o referido processo.

Por tudo isso, gostaria de sugerir agora outra tentativa de pacificação nacional, ou seja, a revisão de todos os processos referentes a 8 de janeiro.

Em recente entrevista, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim disse claramente que os fatos ocorridos em 8 de janeiro não configuram um golpe de Estado. - Quando é que gente desarmada pode dar um golpe de Estado? -, indagou Jobim. Nenhuma delas, sem passagem pela polícia, poderia atentar contra o Estado Democrático. Por que condená-las a 17 anos de prisão?

O que fizeram contra os baderneiros do PT e do MST, que destruíram as dependências do Congresso Nacional na época do presidente Michel Temer? Este imediatamente considerou que não valeria a pena tomar nenhuma atitude mais drástica.

Em uma palestra que proferiu na Academia Paulista de Letras Jurídicas, ele disse ter se inspirado no ex-presidente Juscelino Kubitschek, que anistiou os revoltosos de Aragarças e Jacareacanga e os perdoou.    

Tenho a impressão de que seria um gesto de monumental grandeza do Supremo, da mesma forma que fez a revisão por causa daquele que seria um erro fulcral imperdoável, fundamental, elementar, que não poderia ser praticado por qualquer aluno de qualquer faculdade de Direito, de não saber se um juiz seria ou não competente.

Essa mesma decisão, que foi, portanto, de natureza política, poderia iniciar uma pacificação, se o Supremo revisasse os processos dos baderneiros de 8 de janeiro, já que, como disse o ministro Nelson Jobim, que foi presidente do Supremo, deputado federal e Constituinte, jamais poderiam ter dado um golpe de Estado, porque não tinham armas.

Talvez pudéssemos começar por aí um grande processo de pacificação para tentar reduzir essa radicalização que não faz bem à nação e passássemos a discutir ideias, e não atacar pessoas.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).



Dicas para o desenvolvimento socioemocional das crianças 

A educação socioemocional serve para compreender as próprias emoções. O desenvolvimento dessa habilidade faz com que a criança aprenda conceitos como empatia e contribui para um melhor desempenho acadêmico, além de auxiliar profissionalmente no futuro. 

A resiliência emocional nos ensina a lidar com o estresse e frustração. Além disso, ter autoconfiança é essencial para enfrentar desafios e superar adversidades. Já a empatia, respeito e confiança ajudam a se colocar no lugar do outro e ter uma forma de agir mais solidária.

Trabalhar as emoções facilita ao lidar com situações difíceis. Para isso, é vital aprender capacidades como resiliência, colaborativismo, superação, persistência e equilíbrio para estabelecer relacionamentos saudáveis e tomar decisões responsáveis e assertivas. Deste modo, é possível atingir objetivos e enfrentar situações adversas de maneira criativa e construtiva. 

No ambiente familiar, para que o desenvolvimento socioemocional aconteça, deve-se fortalecer a confiança e o diálogo. A escuta empática, por exemplo, constrói um diálogo familiar saudável. 

O desenvolvimento socioemocional das crianças é um aspecto crucial e, muitas vezes, subestimado no processo educacional. Para os educadores, é crucial desenvolver estratégias que provoquem o desenvolvimento socioemocional dos alunos, como a criação de um ambiente acolhedor e seguro, o estímulo à empatia e a resolução pacífica de conflitos. 

Os professores podem promover a autoconsciência ao ajudá-los a identificar e entender suas próprias emoções, incentivando a reflexão e a expressão emocional. Além disso, podem cultivar a empatia, ensinando a importância de se colocar no lugar do outro e entender suas perspectivas e sentimentos.

Outra forma é capacitar os alunos a resolver conflitos de forma pacífica e construtiva, promovendo a comunicação eficaz e a negociação. Estimular o pensamento crítico, num ambiente de apoio, também gera o desenvolvimento socioemocional. Com essas dicas os educadores e pais podem criar um ambiente escolar mais positivo, colaborativo e inclusivo.

Luciana Brites é CEO do Instituto NeuroSaber, psicopedagoga, psicomotricista, mestre e doutoranda em distúrbios do desenvolvimento pelo Mackenzie, palestrante e autora de livros sobre educação e transtornos de aprendizagem. Instituto NeuroSaber/ https://institutoneurosaber.com.br



Entre o tempo e a saudade
Homenagem ao Professor Mário Rodolfo

Os dias passam, amanhecem e entardecem, mas a saudade persiste, como uma carta que nunca é lida, sempre endereçada ao coração. Onde ela mora, ninguém sabe ao certo, mas todos a conhecem, todos a sentem. Será que ela recebe correspondência? Talvez cada lágrima seja uma espécie de mensagem, enviada ao vento, para que a saudade as receba e as guarde em algum lugar secreto.

Agora sentado nas margens do caminho que levam sonhos e alimenta a esperança dos dias que estão por vir. O momento e o instante refletem a nossa condição humana diante do imponderável. 

O momento é vazio, o instante é silêncio, e ouvem-se os ecos da sua fala que ressoam e se misturam ao som do vento. A ausência parece ter uma textura própria, um silêncio que preenche os espaços e voa às alturas como um pássaro em busca do seu sonho. A partida, mesmo que esperada, traz consigo a ferida invisível, aquela que sangra silenciosamente, sem alarde.

E a saudade, essa companheira invisível e persistente, começa a se moldar no ar. Imagino-a como uma figura etérea, feita de nuvens densas e nebulosas, carregando em si todas as lembranças que resistem ao tempo. Se pudéssemos vê-la, talvez fosse como um véu translúcido, que nos envolve sem nos sufocar, lembrando-nos a cada instante de quem partiu. Seus contornos seriam feitos de memórias – as boas, que aquecem o coração, e as amargas, que provocam aquele nó na garganta.

E as lágrimas tecem as faces do imaginário com sensibilidade e com um cuidado amoroso para compor os versos de uma poesia cheia de ternura. Os caminhos ainda não percorridos, os passos que ainda não foram dados. E os jardins da vida com flores exuberantes e perfumes de essências com sabores de sonhos. Para essas flores, a primavera será eterna, e os dias... nem todos os dias são leves; há dias modorrentos em que a vida perde um pouco do seu colorido. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?

Enquanto brinco com as palavras, tentando capturar a essência desse sentimento, percebo que a saudade é, na verdade, uma artista. Ela pinta nossos dias com as cores da nostalgia, usando as lembranças como pincéis. E, nesse quadro que ela desenha, cada traço é uma despedida, cada lembrança, uma ausência. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?

Quero imaginar um painel, um desenho universal, onde a saudade toma a forma de uma longa e lírica poesia. O poeta, talvez, tenha se escondido na outra margem do rio, onde navegadores e sonhadores se encontram. Talvez ele seja o próprio rio, onde as águas profundas refletem a sabedoria e a calma das manhãs de primavera. O rio que, silenciosamente, alimenta o ser e nos extasia com a profundidade da beleza humana. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?

Nesse emaranhado de sentimentos, o que somos se mistura ao que sentimos. A noite semeou estrelas ao sabor do luar, e o sol amanheceu para vivermos mais. Com as linhas do horizonte, escrevi a saudade, e com as cores dos sonhos, pintei a face da vida sob o olhar do infinito. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?

Em dias de tristes momentos e instantes em lágrimas, tantas perguntas ficam sem respostas, tantos sorrisos se transformam em saudade. Uma vida e tantas outras vidas sentindo a ausência. A ausência de quem soube ser, inteiramente, presença. Com maestria e leveza, ele tocou corações apaixonados pela vida. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?

O legado que Ele deixou é como uma missão para todos que tivemos o privilégio de presenciar e desfrutar do seu entusiasmo frente à presidência do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Ainda estamos entendendo a sua partida, e aprendendo a trabalhar sem a sua presença. A ausência, o vazio e a lacuna permanecerão, assim como a sua imagem e seus ensinamentos. Tudo será um desafio, um processo didático-pedagógico a ser enfrentado. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?

Mas, ao mesmo tempo, a saudade é uma guardiã. Ela preserva o que é valioso, o que não pode ser esquecido. E talvez seja essa a sua missão, manter vivos os momentos que, de outra forma, desapareceriam nas brumas do tempo. Como seria a saudade se pudéssemos vê-la?

E assim, enquanto os dias continuam a se suceder, levando consigo as cores do amanhecer e do entardecer, a saudade permanece, como uma presença constante, silenciosa, mas sempre presente. As pessoas queridas não morrem apenas se ausentam e de tempo em tempo as recordações e as lembranças reavivam em nós a sublime presença de quem nunca e jamais nos deixou. Deus é o nosso porto seguro, Ele é a esperança, e só Nele há amor. Ele é a misericórdia e só Nele há o perdão. Ele é o alimento e só Nele há saciedade. Ele é amor e só Nele há paz. Ele é a vida eterna e só Nele, somente Nele há eternidade. Ele é o amor que nos ama incondicionalmente.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP - Autor do livro - O abraço do tempo -


Para os novos candidatos refletirem! 


Como muitos sabem, participei de diversas campanhas eleitorais por diferentes grupos políticos. Em alguns momentos, já em outros momentos cheguei a considerar não me candidatar ao pleito, mas sempre havia alguém me convencendo a tentar mais uma vez. Utilizavam vários argumentos, começando por me elogiar e elevar meu ânimo ao máximo, afirmando que, desta vez, eu teria uma votação expressiva e que, sem dúvida, seria o candidato mais votado da coligação ou do partido. Diziam que todo o apoio do grupo estaria na minha campanha.

O que eu não percebia era que esses mesmos argumentos eram aplicados a todos os outros candidatos. Quanta ingenuidade da minha parte! Demorei a acordar para a realidade. O verdadeiro objetivo dos líderes partidários ao me convidar para ser candidato era fortalecer suas próprias estruturas políticas. Eles desejavam eleger pelo menos um vereador, o que demonstraria força para seus deputados e, como consequência, garantiriam benefícios, como cargos de assessoria parlamentar, que vêm acompanhados de altos salários.

Em uma eleição específica, um político que também concorria ao mesmo cargo e que me prometeu apoio do partido, ao visitar famílias onde eu tinha votos, argumentava que eu já estaria eleito e pedia para dividir o voto da casa com ele, o que ele não esperava que justamente nessa morava meus primos. Infelizmente, nesse mundo, muitos só pensam em si próprios.

Portanto, para você, candidato que já ouviu promessas semelhantes, reflita bem: vale a pena continuar acreditando? Reavalie sua campanha e trabalhe da melhor forma possível, sem esperar por milagres. Não gaste desnecessariamente, esperando por promessas, pois, no final, você pode acabar tendo que arcar com as dívidas de campanha, percebendo que foi apenas mais um degrau para eleger as velhas raposas da política "GAMELEIRA".

Boa sorte a todos!
@LucianoBaixinho


Envelhecer com dignidade

Em 2070, quase 40% da população do Brasil terá mais de 65 anos. A idade média dos brasileiros será de 51,2 anos, muito acima da média de 2023, que era de 34,8.

Os números foram divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e nos trazem um alerta: precisamos agir agora para que possamos envelhecer com dignidade.

As estatísticas do IBGE indicam que, em 2046, os idosos devem representar 28% dos brasileiros, podendo chegar a 37,8% em 2070. A aceleração do envelhecimento da população pode ser constatada ainda com maior clareza quando analisamos os números do passado. Em 1980, as pessoas idosas eram 4% do total; em 2010, esse índice saltou para 7,4%; e, em 2022, chegou a 10,9%.

Esse fenômeno é explicado por dois fatores principais, sendo que o primeiro deles é a queda na taxa de fecundidade. Ou seja, as famílias brasileiras estão cada vez menores. Atualmente, o Brasil tem um índice médio de 1,57 filho por mulher, quando o ideal seria de 2,1 para garantia da reposição populacional. E essa é uma tendência mundial. Em 2021, 54% dos países registraram taxas de fecundidade abaixo de 2,1 e a média global era de apenas 2,23. Na década de 50, esse índice era de 4,84.

O segundo ponto que explica o envelhecimento da população é o aumento da expectativa de vida. Sim, hoje é possível viver mais e melhor do que há 70 anos. Isso ocorre porque as pessoas possuem amplo acesso a serviços de saúde, remédios e vacinas; assim como a programas de assistência social de diversos tipos, que contribuem para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

E é justamente esse o ponto que preocupa. Com uma população cada vez mais idosa, como será possível manter a rede assistencial ativa e preparada para a sobrecarga que se aproxima? Como garantir que o serviço público não seja sufocado pela nova demanda?

A resposta para essas questões é planejamento. O problema é que planejar a longo prazo não é algo simples, exige coragem para que gestores públicos invistam agora no que só será reconhecido de fato no futuro.

A chave para essa equação, portanto, está na legislação. Precisamos de leis fortes que garantam todas as medidas necessárias para que os idosos possam viver bem e ser bem assistidos hoje e no amanhã.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing



5 comportamentos que trazem credibilidade durante uma conversa

Saber-se comunicar é um dos pilares fundamentais no mundo profissional, especialmente nos negócios. Assim como ter uma postura adequada, a comunicação eficaz influencia diretamente na percepção de credibilidade de uma pessoa.

De acordo com um levantamento recente do Pumble sobre estatísticas de comunicação no local de trabalho para 2024, 86% dos funcionários e executivos culpam a falta de uma boa comunicação como a principal causa de falhas no local de trabalho. Antes, em 2018, um estudo do Project Management Institute Brasil (PMI) já havia mostrado dados semelhantes: 76% das grandes empresas consideram a comunicação no ambiente de trabalho como o principal motivo para o fracasso de atividades propostas.

Ambas as pesquisas referenciadas também indicam que a comunicação eficaz no ambiente de trabalho não apenas previne mal-entendidos, mas também aumenta a produtividade e a motivação de gestores e colaboradores.

A credibilidade durante uma conversa é multifacetada
Existem alguns comportamentos-chave que permitem que colaboradores de todas as áreas e hierarquias possam melhorar significativamente suas habilidades de comunicação e, por consequência, suas carreiras. Afinal, uma abordagem comunicativa eficaz não só beneficia a imagem individual, mas também contribui para o sucesso coletivo da organização.

Quando bem-trabalhados, permitem uma interação mais fluida e eficiente durante o networking e estabelecem solidez em relações profissionais, garantindo que elas sejam duradouras e produtivas. Dessa forma, os profissionais conseguem se destacar como pessoas confiáveis e competentes capazes de construir uma reputação positiva, que pode, inclusive, abrir portas para novas oportunidades e crescimento na carreira.

Além do networking, as dicas a seguir podem ser aplicadas em outras situações, como apresentações formais, reuniões de equipe ou negociações com clientes. Confira:

1. Preparação e conhecimento do conteúdo: antes de qualquer conversa, é fundamental preparar-se e estar por dentro do assunto a ser abordado, já que a segurança transmitida pelo domínio do conteúdo é percebida e valorizada pelos interlocutores. Inclusive, um estudo da consultoria Gallup revelou que apenas três em cada dez pessoas confiam plenamente em seus líderes, destacando a importância da preparação para construir credibilidade.

2. Assertividade e clareza na comunicação: expressar-se de maneira confiante e direta garante que a mensagem seja passada e entendida sem ambiguidades, contudo, demonstrar assertividade e clareza não é sinônimo de agressividade. A assertividade é um indicador de confiança e competência.

3. Empatia e escuta ativa: essas duas posturas permitem que você se coloque no lugar do outro e entenda suas perspectivas e necessidades, prestando atenção genuína ao que está sendo dito, sem interrupções ou julgamentos precipitados. A empatia e a escuta ativa demonstram respeito e interesse pelo interlocutor e pelo que ele está apresentando.

4. Expressão não-verbal: manter uma postura aberta, contato visual e gestos apropriados pode transmitir confiança e engajamento. Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, a comunicação não-verbal, como a linguagem corporal, é um componente crítico na percepção de credibilidade e confiança.

5. Fechamento com impacto: ao fim da conversa, é importante reafirmar a mensagem a ser passada. Dessa forma, resumir os pontos-chave discutidos e destacar os próximos passos ou ações a serem tomadas, por exemplo, reforça sua credibilidade perante o interlocutor.

Mara Leme Martins PhD. Vice-Presidente do BNI Brasil - Business Network International - a maior e mais bem-sucedida organização de networking de negócios do mundo




O Espetáculo das promessas

Sentado em frente à tela do computador, pensando em algo para escrever, sem saber ao certo sobre o quê, decidi abordar a política, um tema bem apropriado para o momento, pois o período eleitoral está apenas começando. A temporada de caça aos votos foi iniciada. Até o dia da eleição, esse será o cenário político que dominará o país: as eleições municipais. Porém, o cenário atual e os resultados nas capitais já nos dão os rumos para 2026.

As campanhas eleitorais são carregadas de promessas e propostas, muitas vezes vazias. Em tempo de eleição, as palavras se multiplicam, ecoando nas ruas, nas redes, nos discursos inflamados dos palanques. É um espetáculo em que o povo é, ao mesmo tempo, plateia e protagonista, esperando que as promessas feitas no calor da campanha se materializem em atos concretos.

Mas, com o passar do tempo, algo curioso acontece. As palavras, antes vibrantes e cheias de esperança, começam a perder força. O que era uma promessa firme transforma-se em um eco distante, quase imperceptível. O político, outrora aclamado como o melhor e que irá resolver os problemas da gestão pública e da vida nos seus munícipes, torna-se uma figura distante, ocupada com reuniões, alianças e jogos de poder. A conexão com o povo, que parecia tão forte durante a campanha, dissolve-se na complexidade dos corredores do poder.

Infelizmente, o momento político em que vivemos, no qual a política deveria ser uma forma de prestar bom serviço à população, um serviço público de qualidade, transforma-se em um jogo de interesses. Aquelas promessas de mudanças profundas e transformadoras são substituídas pela manutenção do status quo, pela busca incessante pelo poder a qualquer custo. E o povo? O povo, mais uma vez, acreditou em promessas que se perderam em si mesmas.

Aqueles que depositaram sua confiança na urna muitas vezes são deixados à margem, com sua voz se perdendo em meio ao ruído das negociações políticas. Parece que, depois das eleições, o povo se torna apenas um detalhe.

Um dos momentos cruciais desse processo são os debates, que deveriam ser sobre ideias e propostas que atendam às necessidades mais latentes da população, e que ofereçam visões de futuro. É isso que se espera de alguém que se diz preparado tanto para o cargo no executivo quanto para uma cadeira no legislativo. 

No entanto, comumente assistimos, ao invés de propostas, ataques pessoais, uma guerra de narrativas em que a verdade é a primeira vítima. Em meio a tudo isso, a política, que deveria ser uma ferramenta de transformação social, converte-se em um espetáculo de vaidades, onde a imagem vale mais do que a substância, e o marketing político substitui o comprometimento com o bem comum.

E assim, somos impulsionados, a cada novo ciclo eleitoral, a acreditar que o futuro será melhor. E a esperança é restabelecida, mesmo que timidamente. Ainda queremos acreditar que as coisas podem mudar, que a política pode voltar a ser um espaço de diálogo sincero, de construção coletiva, de soluções reais para problemas reais. Mas a cada nova decepção, essa esperança se desgasta um pouco mais, corroendo o tecido social, alimentando o cinismo e a descrença nas instituições.

É possível ainda acreditar que a política pode e deve ser diferente. Mas, para que isso aconteça, precisamos mudar nossas atitudes. Nossa participação não se encerra nas urnas, com os votos naqueles que escolhemos. Somos responsáveis por aqueles que elegemos. É nossa responsabilidade, como cidadãos e cidadãs, fiscalizar e cobrar constantemente dos eleitos aquilo que foi prometido. Isso pode ser feito de diversas formas: acompanhando as ações dos eleitos, participando de discussões públicas, e pressionando por transparência e ética na política.

A boa política precisa ser resgatada; esse é o desafio que se coloca diante de nós. Como sociedade, somos parte do problema, assim como somos parte da solução. É necessário reaproximá-la das pessoas, de suas necessidades reais, de seus anseios mais profundos. Por isso, é fundamental romper com a lógica do poder pelo poder e resgatar o ideal de que governar é servir, é construir um futuro melhor para todos, e não apenas para alguns privilegiados.

Finalizo com duas citações sobre política: A primeira é do filósofo Platão: “Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. A segunda é do dramaturgo e romancista Bertolt Brecht: “Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.”

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP - Autor do livro - O abraço do tempo -


A decisão mais importante 

Desde criança, a mulher é incentivada a brincar de boneca e casinha, em menção ao cuidado com a família. Os desenhos infantis reafirmam ludicamente o ideal para uma princesa: encontrar seu príncipe encantado e viver feliz para sempre.

Quando adultas, a prática é outra. As mulheres comumente estudam, trabalham, escolhem um parceiro, constituem família e esse é ponto que pode mudar suas vidas para melhor ou, pior.

Por um lado, se a mulher encontra um companheiro emocionalmente maduro e com sabedoria para apoiar e incentivar o seu sucesso pessoal e profissional, entendendo que juntos poderão ir mais longe, há a possibilidade de sucesso pleno em todas as áreas da vida do casal.  

Por outro, muitos são emocionalmente imaturos e, culturalmente, agem de forma abusiva quando acreditam ter o domínio do outro. A escolha de um companheiro com essas características pode fazer a vida da mulher andar para trás.  

Depois do casamento, alguns maridos ainda acreditam que lugar de mulher é na cozinha, pois lá, ela será apenas dele e estará a seu serviço. Esse tipo de parceiro não apoia seu crescimento profissional, pois não aceita a companheira em uma posição de destaque e superior a dele.  

Ao “puxar o tapete” da companheira, o homem faz com que ela assuma a administração do lar e da família, enquanto ele detém posse das finanças, gerando conflitos entre o casal. 

É uma questão egóica e a consequência pode ser devastadora, porque, atualmente, as mulheres entendem seu valor e reconhecem seu potencial.  

No relacionamento disfuncional, ela se deprime e por vezes adoece, enquanto almeja a separação. E, nessa hora, o príncipe vira sapo.  

A união normalmente é atrelada aos bens do casal e, quando a mulher opta pela liberdade e desenvolvimento profissional, a consequência é o divórcio. Este caminho pode ser árduo, porque um companheiro com essência controladora potencializará seu domínio nessa fase.  

Enquanto lutam judicialmente para desfazer a união, dividir bens e acertar questões de filhos, a mulher continuará de alguma forma unida àquele homem, em meio a conflitos, patrimônio bloqueado ou desviado e filhos com desenvolvimento emocional e material comprometido.  

O fato é que o casamento é a escolha mais importante da vida da mulher. Essa bifurcação pode levá-la ao sucesso ou ao retrocesso.   

Hoje, mulheres buscam autonomia para conciliar família, vida social e alcançar uma carreira bem-sucedida, afinal, lugar de mulher é onde ela quiser.

Gab Saab é neuropsicanalista e especialista em psicologia jurídica, graduanda em Direito, palestrante e autora do livro “Abuso Guia Prático: como identificar e se libertar de relacionamentos abusivos”


Duas medidas para os presentes dos presidentes

O Tribunal de Contas da União decidiu, na última semana, que o presidente Lula está liberado de fazer a devolução do relógio que ganhou de Jacques Chirad, durante as comemorações do Ano do Brasil na França. A decisão foi alvo de enorme repercussão e o presente avaliado em R$ 80 mil acabou se tornando peça central na queda de braços da polarização política nacional.

Apesar de o relógio ter sido presenteado há quase 20 anos, ainda em 2005, durante o primeiro mandato de Lula, o caso foi alvo de questionamentos agora. A oposição acionou o TCU com um pedido de investigação, alegando que a peça deveria ser devolvida à União.

Os ministros concluíram que, por não haver legislação que especifique exatamente quais bens podem, ou não, ser incorporados ao patrimônio pessoal dos presidentes, não caberia ao Tribunal determinar a devolução.

A decisão criou ainda mais polêmica do que a própria denúncia. Isso porque os ministros acabaram abrindo uma brecha importante no caso das joias recebidas por Jair Bolsonaro do governo da Arábia Saudita. Em 2023, por unanimidade, o próprio TCU decidiu que o ex-presidente tinha de devolver as peças avaliadas em R$ 6,8 milhões.

A questão é que, em 2016, o Tribunal definiu que os presentes recebidos pelos presidentes deveriam ser considerados patrimônio público, com exceção daqueles de uso personalíssimo. Porém, não há regras claras que possam ancorar a decisão de que o relógio francês seja de uso pessoal ao passo em que as joias sauditas devam ser incorporadas à União.

Por causa dos presentes, Bolsonaro e mais 11 pessoas foram indiciados, no mês passado, pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos. Após a decisão do TCU, de âmbito meramente administrativo, a Polícia Federal se manifestou dizendo que nada muda em relação ao indiciamento e que, agora, o processo está nas mãos do Supremo Tribunal Federal.

E, sim, é isso mesmo. O STF é quem vai analisar se houve, ou não, qualquer tipo de irregularidade ou crime. Mas o fato é que a nova posição do TCU fortalece Bolsonaro junto à opinião pública e, no xadrez da polarização, Lula quer, agora, se movimentar para devolver o relógio.

A meu ver, no entanto, a principal questão em torno desse episódio não gira em torno dos embates políticos, ou dos valores das joias e nem mesmo da definição sobre haver, ou não, direito de uso pessoal dos presentes.

O que fica difícil compreender é os motivos que levam um presidente a ser liberado da devolução enquanto o outro corre risco de condenação criminal. É um peso e duas medidas. Na verdade, portanto, esse caso nos convida a refletir sobre coerência.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing



As DITADURAS de ESQUERDA 

O recente episódio da farsa eleitoral venezuelana trás, novamente, à baila a discussão concernente a dois aspectos essenciais destes regimes que ainda florescem no mundo e tentam se reerguer em outros países, que lutam por permanecer como democracias.

A tragicomédia da Venezuela principiou com a negativa da candidatura da opositora com mais condições de governar o país e o impedimento por “problemas operacionais” da máquina chavista que não estava apta a receber a segunda candidata no prazo da inscrição. Quando o prazo já tinha terminado, disseram que não poderiam receber o registro da candidatura.

Tal manobra não impediu que se unissem forças opositoras em torno de um diplomata, sendo que a apuração dos poucos votos auditados com respectivas atas demonstravam sua vitória esplendorosa, obrigando o títere governante a interromper o acesso da oposição à apuração. Mais uma das inúmeras formas que as ditaduras de esquerda encontram para manterem-se no poder.

Na ditadura cubana, para conseguir o poder, Fidel matou milhares de cubanos em paredons, instalando a mais antiga ditadura da América. O Brasil de Lula e Dilma financiou obras de elevado valor naquele país, dívida contraída que jamais foi adimplida pelos ditadores da ilha caribenha.

Na União Soviética, em número de mortes Stalin suplantou Fidel, elevando os assassinatos de seus opositores de milhares para dezenas de milhares. Putin reduziu o número de assassinatos, mas como ditador expansionista, travou uma guerra de conquista contra a Ucrânia, prendendo e eliminando aqueles que se opõem a seu governo.

Ortega não fica atrás como ditador, eliminando ou prendendo adversários e mantendo uma cruel tirania sobre seu povo.

Por fim, a China, desde o massacre da Praça da Paz, tem sido mais discreta na eliminação de adversários, sendo que aqueles que desaparecem não se sabe onde se encontram: se em algum lugar ou embaixo da terra.

Uma das características desses governos, é o fracasso econômico, como é possível verificar na Venezuela, Cuba e Nicarágua, por força da corrupção reinante, do narcotráfico presente e de não entenderem as regras da economia de mercado, que fizeram todos os países desenvolvidos não serem de esquerda.

A Rússia mantém-se graças ao apoio da China, por onde escoam suas mercadorias, em face de sanções econômicas que sofre pela guerra contra a Ucrânia. A China, uma ditadura de esquerda na política, por sua vez, é um dos países que ainda adota o capitalismo selvagem, suas regras, gerando impactos e protestos pelo mundo.

No Brasil, o presidente Lula que, em seus dois primeiros mandatos foi um homem pragmático, neste terceiro tornou-se um ideológico de esquerda, mantendo com as cinco ditaduras relações de cordialidade e discreto apoio. Alega interesses comerciais que, todavia, independeriam da exteriorização de simpatia. Em verdade, sua preferência, embora negue, é por tais regimes, o que fica mais claro em suas diversas manifestações ora de admiração, ora de silêncios comprometedores ou tímidas manifestações de preocupação.

O certo é que a fraude eleitoral venezuelana desventrou para o mundo esta característica maior dos governos ditadores de esquerda, ou seja, a mentira como forma de se manter o poder, levando até mesmo a OEA, países europeus e inúmeros países da América a considerarem fraudulento e inadmissível o “golpe” eleitoral de Maduro.

Termino este artigo com uma frase de Roberto Campos sobre as eleições nas ditaduras de esquerda: “nestes governos não têm que se ganhar as eleições, mas sim ganhar as apurações”.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).



A crise democrática na Venezuela

Um dia após as eleições presidenciais, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou a vitória de Nicolás Maduro para um novo mandato como presidente do país. O resultado, no entanto, foi contestado por opositores e, desde então, o mundo todo tem acompanhado com tensão os desdobramentos do cenário político venezuelano.

Toda a questão gira em torno de duas situações principais: a falta de transparência na contagem de votos e a forma truculenta com que opositores e manifestantes populares vêm sendo tratados. Ambos os pontos são escandalosos exemplos de atos ditatoriais e antidemocráticos.

Os números divulgados oficialmente pelo CNE apontam que Maduro teria vencido as eleições com 51,2% dos votos. A oposição, por sua vez, afirma que os números foram fraudados e que Edmundo González seria o verdadeiro vitorioso, com cerca de 70% da preferência dos eleitores venezuelanos. O impasse gerou protestos no país e chamou a atenção de nações do mundo todo.

Diante desse cenário, com o passar dos dias, aumentou a pressão internacional pela apresentação das atas de votação. O fato, porém, é que os membros da Suprema Corte da Venezuela têm forte alinhamento com Maduro e, portanto, são improváveis as chances de que sejam apuradas e sanadas irregularidades no pleito.

Mas isso não é tudo. Tão preocupante quanto a fraude é o risco que correm os opositores políticos e manifestantes. Informações divulgadas pela imprensa dão conta de que ao menos 13 pessoas morreram em protestos e mais de mil já teriam sido presas.

Ainda há ameaças, feitas pelo próprio Maduro, de que outras mil pessoas sejam detidas e enviadas a prisões de segurança máxima. Gonzales e María Corina Machado, principais nomes de oposição no país, também estão ameaçados de prisão e podem ser acusados de terrorismo.

Para completar a crise, os Estados Unidos reconheceram a vitória de González. O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que os EUA apoiarão o “processo de restabelecimento das normas democráticas na Venezuela” e que estão “prontos para considerar maneiras de fortalecê-lo conjuntamente com nossos parceiros internacionais”.

O que planejam, de fato, os americanos para colocar fim à ditadura de Maduro? Qual será o papel do Brasil, país de fronteira com a Venezuela, nesse contexto? Ainda é cedo para previsões mais aprofundadas, mas esse é, sem dúvidas, um tema que precisa ser acompanhado de perto pelos brasileiros.
Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Entre o pessimismo e a esperança: reflexões sobre a humanidade 

Agora, sentado à beira da estreita margem que separa o todo em um sincronismo quase descomunal, percebo o abismo, o precipício e a lealdade do cosmo e do caos. A fome e a sede de mãos dadas seguem um longo caminho em busca de novos horizontes. Logo amanhece, é outro dia, e ainda sinto a esperança e alimento toda a bondade que nutre o ser humano. O dia de hoje passou rápido demais; agora já é noite, e ainda estou sentado à beira dessa estreita margem, contemplando o mundo em uma sublime e singela canção de paz.

O que nos faz acreditar em um mundo melhor? Será que acreditar no ser humano é acreditar em um mundo melhor? Embora eu acredite nisso, o momento em que estamos vivendo, de certa forma, me deixa mais pessimista do que otimista. O mundo ou os mundos, sim, podemos analisar dessa forma. Então, existem vários mundos? Na realidade, há apenas um mundo. O termo mundo é utilizado em várias concepções. Alguém já ouviu falar em primeiro mundo, segundo mundo e terceiro mundo? Mas o que isso quer dizer?

Entende-se como primeiro mundo as regiões mais ricas, os países mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, Japão e outros. Os países em desenvolvimento, como Brasil, China, Rússia e outros, são considerados segundo mundo. Enquanto o terceiro mundo se refere às regiões pobres, como a maioria dos países latinos e muitos países da África e da Ásia.

Volto ao questionamento do início desse texto: o que nos faz acreditar em um mundo melhor? Quem é o dono do mundo? Por que uns têm muito enquanto outros têm pouco ou nada? Alguém pode, com certa razão, dizer: não há o que fazer, o mundo sempre foi assim. E, realmente, o mundo sempre foi marcado por guerras e conflitos. As grandes e poderosas nações dominaram e continuam dominando, colonizadores e colonizados.

O que fizeram os países ricos para serem ricos, e o que fizeram os países pobres para serem pobres? Mérito para os ricos e demérito para os pobres, será que é isso? Quem foram e quem são os colonizadores? Quem foram e quem são os colonizados?

O mundo e suas aberrações cotidianas. O relato do caos no painel de absurdos. A política e a politicagem, e o mundo dos privilegiados. A política e o mundo, e o mundo da política, onde privilégio pouco é bobagem. O mundo ferindo o próprio mundo, e a humanidade implora por piedade.

A condição humana e a contradição humana frente às mazelas do mundo. As periferias do capitalismo e a face da decadência sob a égide do capital. No jardim do exílio, as flores em lágrimas e a tenacidade da dor na esperança saqueada. Reféns do sensacionalismo político, o capitalismo periférico e o desmando do estado.

A economia, o índice de inflação, o sobe e desce da bolsa de valores, o mercado financeiro e as benesses dos donos do capital. Ainda o questionamento do início desse texto: o que nos faz acreditar em um mundo melhor? Quanto custa a nossa esperança? Precisamos ter esperança ou a esperança é apenas um devaneio?

Onde guardei os meus sonhos também guardei a minha esperança. Mesmo um pouco descolorida e mesmo com um pouco de timidez, ela me acena com um quase pedido: não abandone o sentimento que tens por mim. Ainda aqui, um pouco esquecida, posso mover-te e impulsionar a acreditar em algo que seja melhor. No entanto, mesmo diante desse cenário, há algo que nos faz acreditar em um mundo melhor. Somos humanos, movidos e dotados de muitos preceitos. A nossa humanidade se humaniza mesmo diante da força bruta e dos corações petrificados.

É a nossa capacidade humana de sonhar, de resistir e de lutar por justiça e igualdade. É a nossa capacidade de ir em frente, de caminhar mesmo entre os obstáculos. É a nossa vontade se concretizando, como círculo virtuoso exalando a essência do ser. É o poder da solidariedade, da empatia e da cooperação. É a esperança que se renova a cada amanhecer, a crença de que podemos, sim, construir um futuro mais justo e humano. Porque, no final das contas, o que nos faz acreditar em um mundo melhor é a nossa própria humanidade e o desejo inato de transformar nossa realidade, apesar de todas as adversidades.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP - Autor do livro - O abraço do tempo -


Inclusão nas eleições municipais de 2024

Estatísticas do Tribunal Superior Eleitoral indicam que, neste ano de 2024, um total de 1,4 milhão de cidadãos declarou possuir algum tipo de deficiência e precisar de condições especiais para votar. O número representa um aumento de 25% em relação a 2020, quando o TSE registrou 1,1 milhão de eleitores com deficiência.

O crescimento é significativo e a Justiça Eleitoral brasileira está atenta a ele, tendo dado sucessivos passos em direção a um processo eleitoral cada vez mais inclusivo.

Neste momento, por exemplo, o TSE abriu prazo para que eleitores com deficiência ou mobilidade reduzida solicitem transferência temporária de seção eleitoral, para que possam votar em outubro. A data limite é 22 de agosto e o benefício se estende também a pessoas indígenas, quilombolas, integrantes de comunidade tradicional ou residente de assentamento rural.

Na hora do voto, as pessoas com deficiência também podem contar com recursos tecnológicos de inclusão. A novidade para esse ano de 2024 é o uso da Inteligência Artificial para criação de uma voz sintetizada, batizada de Letícia, que vai auxiliar eleitores com deficiência visual na hora do voto. A ferramenta vai informar o cargo em votação, os números digitados pelo eleitor e o nome do candidato que receberá o voto. A urna conta ainda com a apresentação de um intérprete de Libras para orientar e melhorar a experiência de voto dos cidadãos com deficiência auditiva.

Outro importante fator de inclusão no processo eleitoral é o uso do nome social no título de eleitor. Esse direito existe desde 2018 e a previsão é de que, neste ano, mais de 41 mil pessoas utilizem o nome social, número que quadriplicou desde 2020.

Ao mesmo tempo em que eleitores com deficiência contam com instrumentos importantes para votar, a Justiça Eleitoral também tem procurado ampliar as ferramentas inclusivas para as candidaturas. Em fevereiro deste ano, o TSE publicou instrução que dispõe sobre a escolha e registro de candidatos em 2024. O documento trouxe novas medidas para que possamos ter candidatos com perfis mais plurais, sendo que entre elas estão o maior controle da destinação de recursos para candidaturas negras e a exigência de que as listas apresentadas pelos partidos contenham ao menos uma pessoa de cada gênero.

A mesma instrução ainda estipula que, no registro das candidaturas, sejam coletados dados pessoais sobre etnia indígena, pertencimento a comunidade quilombola e identidade de gênero. Os concorrentes também terão opção de indicar, ou não, a orientação sexual. Essas informações são importantes para que tenhamos estatísticas mais aprofundadas sobre o perfil dos nossos candidatos, de forma que a Justiça Eleitoral possa criar mecanismos futuros para ampliar a representatividade das mais diversas parcelas da sociedade no processo eleitoral.

Se por um lado temos registrado avanços relevantes, por outro, ainda são muitos os pontos falhos. Um deles, por exemplo, é a falta de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida em todo o país, sendo comuns, no dia da eleição, os vídeos com desabafos de cidadãos sobre as mais diversas dificuldades de acesso às urnas, incluindo calçadas esburacadas e presença de escadas dentro dos prédios de votação. Da mesma forma, candidatos que representam minorias comumente recebem poucos recursos e infraestrutura por parte dos partidos, o que torna muito difícil a execução adequada de suas campanhas.

Em resumo, não estamos navegando por um mar de rosas. Mas a boa notícia é que nossa bússola aponta para o caminho certo, rumo a eleições mais inclusivas e a uma Democracia mais forte.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


O Brasil enfrenta uma crise ética 

O Brasil atravessa uma crise ética. É patente a aceitação e banalização da perda dos valores morais evidenciada pelo comportamento dos governantes e pela anestesia da sociedade, em um péssimo exemplo para as futuras gerações.

Estamos nos tornando rapidamente um país que tem facilitado em muito a vida de criminosos, inclusive de facções organizadas e não é à toa que, segundo ranking da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é hoje o país com o maior número de homicídios do mundo. O Estudo Global sobre Homicídios 2023, no ano passado o Brasil registrou 45.562 homicídios, mais do que a Índia, a segunda colocada nesse ranking macabro, que somou 41.330 casos, mas tem população quase sete vezes maior que a brasileira.

Nossa situação é comparável à dos países em guerra, inclusive com notícias de intimidação e infiltração de agentes públicos, coagindo o serviço público a contratar com empresas de fachada. Qual é o limite?

A história recente é um alerta. Nos últimos 35 anos, o Brasil teve eleições de dois em dois anos, respeitando integralmente as leis e os resultados das urnas, como deve ser numa democracia. E o que aconteceu? Nesse período, elegemos cinco presidentes da República e acabamos empossando sete. Dois presidentes (Fernando Collor de Mello e Dilma Roussef) sofreram impeachment, um (Luiz Inácio Lula da Silva) foi condenado e preso após o exercício do segundo mandato e posteriormente foi “descondensado”. Outro (Michel Temer, que assumiu com o impeachment de Dilma), chegou a ser detido, mas não foi preso; um (Fernando Henrique Cardoso) saiu com baixíssima aprovação, praticamente e o último (Jair Bolsonaro), por inabilidade e diante das dificuldades impostas pelo sistema não conseguiu governar, perdeu a reeleição, está inelegível e ainda responde vários processos. O país está diante de uma anomalia muito grave e séria que não pode ser banalizada e relegada ao segundo plano, e sim enfrentada com urgência.

O Brasil é uma república federativa, democrática, que tem como alicerce a liberdade de expressão, política, de culto, econômica etc., e cuja Constituição Federal traz entre os objetivos fundamentais uma sociedade livre, justa e solidária, na qual todos são iguais perante a lei. A realidade, porém, é muito diferente. Não temos liberdade plena; somos uma sociedade tremendamente injusta, a começar pelas desigualdades regionais, sociais e de oportunidade, fortemente egoísta e solidária apenas nas tragédias, pois cultivamos privilégios para poucos e obrigações para muitos.

É muito difícil aceitar que os cidadãos comuns, se processados por crimes, sejam julgados por juízes de 1ª instância enquanto outros têm seus processos tramitando originalmente nas cortes superiores cujos magistrados, aliás, são nomeados pelos governantes. E estes privilegiados não são poucos, somam mais de 50 mil com foro por prerrogativa de função, número sem similaridade em nenhum outro país do mundo.

A sensação é a de que somos uma monarquia com mais de 50 mil regentes, ou de que estamos reeditando as capitanias hereditárias de 1530, quando o rei Dom João III, diante da imensidão do território brasileiro, então colônia portuguesa, criou 14 capitanias nomeando 12 donatários e conferindo a eles todos os privilégios e somente duas obrigações coletar e pagar tributos à Coroa. Os brasileiros das classes C, D e E de hoje se assemelham a vassalos modernos porque têm pouquíssimos direitos e muitas obrigações. Os donatários do Século XXI são os donos do poder, sempre beneficiados pelos mais diversos privilégios.

Samuel Hanan é engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros “Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”. Site: https://samuelhanan.com.br


A política como ferramenta de transformação social

O tema em questão não poderia ser outro. O momento é propício e mais do que necessário para ser falado e debatido: a política no centro da conversa. Em outubro, teremos as eleições municipais, um evento que nos envolve direta ou indiretamente. É uma oportunidade para discutir a política como transformação social.

A política faz parte do nosso cotidiano, gostemos ou não. A questão não é gostar ou não gostar, mas reconhecer que, independentemente da nossa participação, a política nos influencia. Estamos inseridos nesse sistema, e não há como fugir. Dizer “Eu não gosto de política, portanto sou apolítico” é ingênuo. Nesse caso, você já tomou uma posição, fazendo parte do grupo que escolheu a mesma atitude. Essa decisão política não o torna imune às consequências, sejam elas boas ou ruins. Outras pessoas decidiram por você, já que você se fez ausente.

Para que a política atue como forma de transformação social, é necessária a participação de toda a sociedade. Somos todos parte desse sistema. A política é o próprio sistema. Quem são os beneficiados pelo sistema? A quem ele obedece? E em quais condições?

No Brasil, a renda é mal distribuída. De onde vem essa renda? Quem a distribui? A principal causa da má distribuição de renda é o aumento da desigualdade social. A disparidade entre ricos e pobres é evidente. Quem se beneficia da pobreza? A pobreza é um fenômeno complexo, resultante de fatores econômicos, sociais, políticos e ambientais.

No Brasil, a renda é mal distribuída, agravando a desigualdade social. Segundo o IBGE, em 2019, os 10% mais ricos detinham 42,1% da renda total, enquanto os 40% mais pobres ficavam com apenas 10,3%. A disparidade entre ricos e pobres é evidente. A pobreza é um fenômeno complexo, resultante de fatores econômicos, sociais, políticos e ambientais.

Pode a política acabar com a pobreza? A política, como a pobreza, é multifacetada. O acúmulo de renda e o combate à pobreza são questões políticas. Como disse o ex-presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt: “A prova do nosso progresso não é se adicionamos mais à abundância daqueles que têm muito; é se proporcionamos o suficiente àqueles que têm pouco.” Resta saber qual política agrada ao sistema.

O grande desafio do Brasil no século XXI é erradicar a miséria, superar a pobreza e incluir milhares de brasileiros fora da sociedade do trabalho, proporcionando uma vida digna: saúde, educação, saneamento, moradia decente, trabalho e renda. Este país parece resultado da contradição entre o Brasil nação e o Brasil mercado, entre o desejo de inclusão social e as forças de mercado que concentram renda. 

O Estado brasileiro tornou-se um instrumento dos interesses dos ricos, tanto internos quanto externos. As poucas vezes em que o Estado moveu-se para o lado dos mais pobres foi porque esses lutaram para se tornarem visíveis. Mesmo no recente governo democrático popular, a inclusão social ocorreu principalmente via economia de mercado e acesso ao consumo, sem enfrentar problemas estruturais como educação e saúde de qualidade, moradia decente, saneamento, mobilidade urbana e condições dignas de trabalho e renda.

Em outubro, vamos às urnas escolher nossos representantes no executivo municipal e no legislativo. O que queremos para nossos municípios? E o que esperamos dos nossos eleitos? A corrida eleitoral vai começar, e devemos ficar atentos às propostas dos candidatos. Que os candidatos à câmara legislativa usem a política para legislar em benefício do bem comum.

A política é um instrumento de correção das distorções sociais e deve fortalecer uma sociedade que respeite os direitos sociais, com uma ética solidária, baseada em valores de solidariedade, liberdade, democracia, justiça e equidade. A transformação social através da política depende das nossas escolhas. A qualidade da política depende da qualidade dos políticos. Nós, como sociedade, temos a responsabilidade de escolher bem nossos representantes. Não importa para que lado sopra o vento, o importante é que nossos objetivos, sonhos e anseios sejam impulsionados pela força revigorante da esperança.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP - Autor do livro - O abraço do tempo -


Convenções partidárias abrem contagem regressiva para as eleições 

As convenções partidárias para as eleições municipais de 2024 já podem ser realizadas. O prazo, iniciado neste sábado, dia 20 de julho, segue até 5 de agosto. Nesse período, deverão ser realizados todos os eventos em que partidos e federações oficializarão os nomes de seus candidatos para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereadores nos municípios brasileiros.

Durante as convenções também serão oficializadas as coligações, que são a união de dois ou mais partidos para a formação das chapas, que concorrerão ao comando das prefeituras. No caso dos vereadores, a disputa conjunta das vagas só é autorizada quando os partidos já estão unidos em uma federação.

Todos concorrentes oficializados nas convenções devem ter nacionalidade brasileira, estar filiados no partido há pelo menos seis meses e gozar integralmente dos direitos políticos, entre outras exigências da legislação. Para ser candidato ao cargo de prefeito, o cidadão deve ter 21 anos de idade, já os vereadores devem ter 18 anos até a data do pedido de registro da candidatura. Além disso, no caso das eleições proporcionais, as listas devem obedecer a proporcionalidade de gênero, com pelo menos 30% de candidaturas femininas.

As convenções partidárias podem ocorrer em prédios públicos de forma gratuita, desde que os partidos solicitem o uso dos espaços com pelo menos uma semana de antecedência. Outra questão importante a ser observada é que as reuniões podem ser realizadas presencial ou virtualmente, ou ainda em modelo híbrido. Na prática, no entanto, os partidos não abrem mão de eventos físicos porque eles movimentam um grande volume de correligionários e geram exposição na mídia.

Os veículos de comunicação não estão autorizados a fazer transmissões ao vivo das convenções, mas podem realizar a cobertura jornalística e veicular reportagens indicando a formação oficial das chapas. Geralmente, a imprensa regional registra os eventos com destaque, o que confere visibilidade aos candidatos.

Após a realização das convenções, os partidos terão até o dia 15 de agosto para fazer a solicitação dos registros das candidaturas à Justiça Eleitoral. No dia seguinte ao fim deste prazo, ou seja, 16 de agosto, estaremos oficialmente em campanha e as propagandas estarão autorizadas.

Em resumo, as convenções partidárias nos colocam em clima de contagem regressiva para o início oficial do período eleitoral. De agora em diante, eleitores devem ficar ainda mais atentos aos acontecimentos políticos para que possam, desde já, construir a base para escolha de seus candidatos.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Dúvidas sobre a simplificação do sistema tributário 

Hamilton Dias de Souza, Humberto Ávila, Roque Carrazza e este articulista temos escrito e dado palestras sobre a reforma tributária desde que o projeto de emenda constitucional foi apresentado pelo Governo Federal ao Congresso Nacional com poderes de constituinte derivado.

Partindo do princípio que o sistema era complexo, inseguro e oneroso, buscou a EC 132/2023 resultante do projeto apresentado, e propôs pelo artigo 145, §3º da CF, criar um sistema “simples, transparente e justo tributariamente”.

A fim de conseguir os três desideratos instituiu sistema com três vezes mais disposições constitucionais do que temos no atual. Ocorre que os princípios, normas e regras de uma Constituição exigem um grau de conhecimento muito mais acurado que da legislação infraconstitucional, pois a eficácia e a validade do que for dito e interpretado pelas Cortes Superiores influirá toda a legislação inferior.

Compreende-se a nossa perplexidade quando vimos aprovada esta “triplicação simplificadora”.

Por outro lado, o Código Tributário Nacional, que tem eficácia de legislação complementar, possui 218 artigos para todos os tributos brasileiros das 3 esferas da Federação.

A nova legislação complementar, para dois tributos apenas, tem no primeiro PLC 499 artigos e no segundo PL 108/2024 197, faltando ainda entregar o Governo ao Congresso o terceiro projeto.

Nossa perplexidade com tais propostas só aumentou, até porque tais projetos não são apenas de normas gerais, mas também e principalmente de normas de aplicação impositiva, pois criam os regimes a serem obrigatoriamente seguidos pela União, Estados e Municípios.

Acresce-se que todo o sistema basear-se-á na contribuição sobre bens e serviços a partir de 2026 de competência da União, cujo regime jurídico será necessariamente o mesmo do IBS de Estados e Municípios que entrará em vigor no ano de 2029, não com administração de Estados e Municípios, mas de um Comitê Gestor de 54 cidadãos.

Como se percebe, 26 Estados e Distrito Federal e 5.569 Municípios abrem mão de gerir seus tributos (ICMS e ISS) para que tal Comitê Gestor, com sede em Brasília, o faça.

Nele, teremos 27 delegados dos 26 Estados e DF e 27 delegados dos 5.569 Municípios, sendo 13 deles escolhidos por critério populacional e 14 nominal.

À evidência, como o ISS representa a arrecadação de 43% dos Municípios e o ICMS 88% dos Estados, percebe-se que a autonomia financeira dos Estados e Municípios fica consideravelmente reduzida.

Acresce-se as novidades que todos aqueles que interpretarão esta legislação simplificadora, terão pela frente: um imenso número de dispositivos.

Para complicar a reforma simplificadora, desde 2025 até 2032, todas as empresas terão que manter sua equipe tradicional para pagamento do ISS e ICMS, e uma nova equipe para estudar o novo sistema que entrará em vigor no dia 01/01/2026 para a CBS e em 2029 para o IBS. Por que? Porque os 2 sistemas coexistirão até dezembro de 2032 se não houver prorrogação. Assim, o custo das empresas para ser contribuinte, será consideravelmente acrescido por 8 anos!!!

Estranha a simplificação.

“The last, but not the least”. Todos os Estados e Municípios que são “exportadores líquidos” de produtos e serviços perderão receita. Os Estados, no diferencial entre “exportação de produtos” 2/3 do ICMS e os Municípios a totalidade do ISS, nos serviços, pois tudo ficará com os Estados e Municípios “importadores”. Para compensar, a União destinará 60 bilhões de reais para tais perdas e outras.

Quem sofrerá com este acréscimo de recursos a serem disponibilizados? Temos, pois, os quatro (Hamilton Dias de Souza, Humberto Ávila, Roque Carrazza), sérias dúvidas sobre a simplificação do sistema.
Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Eleições para vereadores merecem mais atenção 

Em anos de eleições municipais, como é o caso de 2024, os cidadãos brasileiros vão às urnas para escolher prefeito, vice-prefeito e vereadores. Muitas vezes, no entanto, a disputa pela prefeitura ofusca a corrida pelo preenchimento das vagas nas câmaras municipais e os eleitores acabam se interessando menos pelas eleições proporcionais. O resultado disso é que, em muitos casos, as pessoas não conhecem as reais funções dos vereadores e a importância deles para o dia a dia dos municípios.

Consideradas casas do povo, as câmaras municipais são, na essência, espaços democráticos que devem representar a população e refletir seus anseios. Os vereadores precisam entender as necessidades dos munícipes e trazer os assuntos mais relevantes para o debate público. Nesse sentido, quanto maior a pluraridade dos plenários, com representantes de diversas causas e setores, melhor para a cidade.

Mas este é apenas um dos aspectos das funções de um vereador. Entre seus principais atributos está a criação de leis que contribuam para o bem estar da população. Os projetos de autoria dos parlamentares não podem criar gastos para a prefeitura e devem tramitar por diversas comissões dentro da própria Câmara até que possam ir ao plenário e passar por votação. Depois de aprovada, a proposta segue para o Executivo, cabendo ao prefeito realizar, ou não, a sanção da lei.

Outro ponto de fundamental importância na atuação dos vereadores é a fiscalização dos atos do prefeito. Isso inclui a análise da aplicação orçamentária, cabendo aos vereadores cuidar para que não haja mau uso do dinheiro público. As câmaras municipais também são responsáveis, juntamente com os Tribunais de Contas dos respectivos estados, pela aprovação das contas das prefeituras.

Com funções tão significativas, a votação para o cargo de vereador merece atenção. É importante lembrar que as vagas das câmaras são preenchidas por meio do sistema proporcional. Ou seja, nem sempre os vereadores mais votados são eleitos, uma vez que as cadeiras são divididas de acordo com o desempenho geral das coligações. Apenas os partidos que atingem o chamado quociente eleitoral é que têm direito à divisão das vagas. E é por esse motivo que o mandato pertence ao partido e não ao político eleito.

Além de tudo isso, uma curiosidade interessante é que o número de vagas das câmaras pode mudar de uma eleição para outra. Isso acontece porque a quantidade de vereadores é proporcional ao número de habitantes de cada cidade. Se a população diminui, a Câmara Municipal precisa ficar mais enxuta. Neste ano, por exemplo, a capital Recife vai reduzir o número de parlamentares, passando dos atuais 39 para 37, já que o Censo 2022 apontou queda no número de seus moradores.

Para terminar esse artigo, deixo aqui uma provocação e um convite. A provocação é para que tente responder a essas duas perguntas: você sabe quantos são os vereadores de sua cidade? E se lembra em quem votou nas eleições proporcionais de 2020?

Já o meu convite é para que, neste ano de 2024, todos possamos dar especial atenção à escolha dos nomes em que vamos votar para o cargo de vereador. A qualidade das câmaras municipais depende da qualidade do voto de cada um de nós.
Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Entre a utopia e a realidade: A política em questão

Definir política não é tarefa fácil. A palavra “política” vem do grego “politikós”, que designava os cidadãos da “polis”, a cidade-estado grega. A “polis” referia-se não só à cidade física, mas também à sociedade organizada. Dessa forma, a origem da política está ligada à participação comunitária e à vida coletiva, diferente da visão de política como algo restrito a políticos profissionais e distante do cotidiano.

Em outras palavras, política é a forma de organizar a sociedade para uma convivência harmoniosa. Se definir política é difícil, viver a política conforme essa definição é ainda mais desafiadora.

O termo política vem do grego, o que nos remete a dois filósofos que pensaram a política como ideal: Platão e Aristóteles. Platão e o idealismo político, a busca do bem comum. E para Aristóteles, o homem é, por natureza, um ser político. O ser humano necessita de coisas e de outros seres humanos. Sendo carente e imperfeito, ele busca viver em comunidade para alcançar a plenitude.

O pensamento político de Platão e Aristóteles aponta para o ideal político, a política como deveria ser. A política como ação humana é essencial para a boa convivência em sociedade.

Até que, no século XVI, aparece Nicolau Maquiavel, que pensava a política não como um idealista, mas como um realista. Contrapondo o idealismo platônico e aristotélico, ele considerava a política não como deveria ser, mas como ela é de fato. Sai de cena o idealismo político e entra o realismo político.

Maquiavel aguça minha inquietude, levando-me a acreditar que a política é um jogo marcado pela sordidez, onde a regra favorece quem detém o poder. Ética? Moral? Atualmente, essas palavras não parecem fazer parte da política. Será que sempre foi assim?

Ele apenas mostra o quão vil e mesquinho pode ser o ser humano, especialmente quando revestido pelo poder. Maquiavel continua descrevendo como o político deve fazer sua política para se manter no poder. São ensinamentos muitas vezes escondidos em discursos cheios de efeitos e ludibriantes, que mostram na prática a mesquinhez e a hipocrisia cotidiana, que permeiam o mundo político.

Diante desses três pensadores, podemos nos perguntar, como é a política atual? Hoje, ela é mais platônica ou maquiavélica? Acredito que ambos estão tão presentes no cenário político atual. O “toma lá, dá cá” continua presente na política cotidiana. Nossa política é caracterizada pelo fisiologismo, uma relação de favorecimento de grupos ou da base aliada em troca de favores, prejudicando o bem comum. O cenário político se assemelha a um balcão de negócio, onde se negocia até o que não tem preço.

Essa prática está enraizada, transformando a política em negócio. Grupos privilegiados se beneficiam em troca de apoio e favores. Assim, a política perde sua essência e deixa de ser um instrumento de promoção do bem comum, tornando-se uma prática de descaso com o bem público e a população mais necessitada.

Hoje, vemos políticos legislando em causa própria. A política é uma ferramenta para a promoção do bem comum, mas, usada de forma errada, pode causar sérios danos à sociedade.

Quando pensamos em política, logo vem à mente os políticos, as legendas partidárias e os cargos ocupados no executivo e legislativo, em todas as esferas de governo. No entanto, podemos fazer política sem sermos filiados a partidos. Como cidadãos, reivindicamos direitos por meio de políticas públicas que beneficiem toda a sociedade. Essa também é uma forma de fazer política. Caso queiramos concorrer a um cargo político, aí sim, precisamos de filiação partidária. 

A política nos manipula ou o poder é manipulado pela política? Ou talvez os políticos manipulem a política como uma ferramenta que obedece a ordens preestabelecidas? Somos manipulados ou ingênuos? A política e o poder. O poder do político.

Enquanto o fanatismo toma conta de grupos extremados, de polarização ideológica, jogando um contra o outro. Esse cenário raivoso e de ódio que se vê no país nos dias hoje. Tudo isso é reflexo dessa polarização política, que dificulta o debate e não traz nenhum benefício para a sociedade. 

No Brasil, exercer um cargo político parece sinônimo de privilégios. Privilégios que custam caro. Lembrando que este ano tem eleições. Vamos eleger o chefe do executivo municipal, o prefeito e os vereadores que formam o legislativo municipal.

Apesar do nosso descrédito com os nossos políticos, temos que acreditar, não em nossos políticos, mas na força e na importância do nosso voto. Um dos nossos compromissos como cidadãos é o voto. Lembrando que o voto é apenas uma das formas de participação política.

Diante do descrédito com os políticos, é essencial acreditar na força do nosso voto. Além disso, nossa cidadania deve ser exercida de várias formas, como participação em espaços sociais e influenciar decisões que atendam os anseios da sociedade. Assim, temos o direito e o dever de cobrar dos eleitos, pois “os ausentes nunca têm razão”. Nosso envolvimento é fundamental para uma política mais justa e eficiente.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP. Autor do livro - O abraço do tempo -


As restrições eleitorais contra uso da máquina pública 

Estamos em contagem regressiva. As eleições municipais de 2024 ocorrerão no dia 6 de outubro, em todas as cidades do país. Em razão da proximidade, a Justiça Eleitoral impõe diversas restrições às administrações e agentes públicos com o objetivo principal de impedir o uso da máquina com fins eleitoreiros. Na prática, a legislação busca evitar que os futuros candidatos usem os recursos e a infraestrutura de órgãos públicos para promoção pessoal.

As restrições previstas no calendário eleitoral começaram a vigorar no dia 6 de julho. Elas incluem, por exemplo, a proibição da participação de candidatos em entregas de obras públicas, assim como a contratação de shows artísticos pagos com recursos públicos para animação de inaugurações ou divulgação de serviços públicos.

Também estão proibidas novas transferências de recursos do Governo Federal para estados e municípios, ou de estados para as prefeituras, sendo permitido apenas o envio de verbas para obras já em andamento, com cronograma definido, ou no caso de calamidade pública.

Outra proibição importante se refere aos funcionalismo público. Até o dia da eleição, não poderão ser realizadas nomeações, contratações ou demissões por justa causa de servidores. Há exceções para os cargos de confiança e para as contratações de caráter emergencial. No caso de concursos públicos, a nomeação dos servidores está liberada apenas se a homologação do resultado tiver acontecido antes de 6 de julho.

Por fim, há ainda as proibições para a veiculação de publicidade e ações de autopromoção. Estão proibidos os pronunciamentos, em emissoras de rádio e televisão, fora do horário eleitoral gratuito. Também não podem ser divulgadas propagandas institucionais dos órgãos públicos, a não ser que haja caso de urgente necessidade.

Os sites das prefeituras e demais órgãos públicos também devem sofrer alterações, de forma que não se caracterize qualquer tipo de propaganda. Eles não podem conter nomes, slogans, símbolos, expressões, imagens ou qualquer outro elemento que possa induzir o eleitor a identificar candidatos ou programas de governo.

Importante destacar que o descumprimento das proibições caracteriza infração eleitoral, sendo que não há necessidade de comprovação de beneficiamento de um candidato para que o agente público responsável pela conduta seja punido. Caso seja comprovada obtenção de vantagem e uso eleitoreiro da máquina, poderão ser caracterizados abuso do poder político e improbidade administrativa.

Todas essas proibições são importantes porque conferem maior isonomia às eleições. E o respeito à legislação significa respeito também ao eleitor.
Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Há algo de muito errado nas finanças do Governo Federal

O Brasil atingiu, segundo os jornais da semana passada, cifra superior a um trilhão de reais da dívida pública (R$ 1.000.000.000.000,00). O arcabouço fiscal faz água e as previsões para cima (déficit futuro) crescem, por enquanto com a promessa de que o superávit pretendido apenas ficará menor. Roberto Campos ironizava, no passado, que as promessas dos detentores do Poder comprometiam apenas as pessoas que as ouviam. No caso, os economistas do mercado, pois são realistas, sabem que dificilmente as promessas do governo Lula sobre o arcabouço serão mantidas.

O certo é que o governo não tem merecido a confiança do empresariado brasileiro, circulando nos jornais no início do mês uma nota de repúdio das 5 mais fortes confederações de empresários (agricultura, comércio e serviços, indústria, cooperativa e transporte) à negativa de créditos legítimos que as empresas tem de PIS/Cofins para compensar a desoneração da folha de serviços negociada com o Legislativo e desrespeitada com a Medida Provisória nº 1.202/2023, que o Congresso Nacional devolveu ao Governo.

Desde o dia 12/06/2024, o dólar oscila  entre 5,40 a 5,42 reais e a Bolsa caiu quase 2 pontos percentuais. Pesou neste cenário a fala do presidente que prometeu aumento de tributação e queda de juros, o que afetaria o único instrumento atual de combate à inflação, que é a política monetária.

Neste quadro, resolveu o Governo, com a catástrofe climática do Rio Grande do Sul importar arroz. A Confederação Nacional da Agricultura, todavia, mostrou a desnecessidade da importação, pois mais de 4/5 da safra do Rio Grande do Sul já tinha sido colhida e o risco de desabastecimento é rigorosamente nenhum.

Transcrevo trecho do livro que escrevi com Samuel Hanan, que demonstra a importância do agronegócio para o Brasil e a equivocada visão governamental:
Agrobusiness Brasileiro (2023) 

A. 26 a 30% do PIB Brasil (+US$600 bilhões) (US$2.130 Bilhões); 

B. 49 a 50% das exportações brasileiras (US$166,55 bilhões); 

C. 150% do saldo da balança comercial (US$150 bilhões) - saldo Brasil: US$ 98,84 bilhões; 

D. 30% dos empregos formais; 

E. 40% da produção mundial de soja (complexo); 

F. 50% da produção mundial de açúcar; 

G. 30% da produção mundial de café; 

H. 80% da produção mundial de suco de laranja;

I. 25% da produção mundial de carne bovina;

J. 30% da produção mundial de carne de frango.

BRASIL-POTÊNCIA MUNDIAL DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS (BRASIL: 2,6% DA POPULAÇÃO MUNDIAL)
(Brasil – Que país é esse? – Editora Valer, pg. 41)

Ora, no momento em que o Governo resolve comprar no exterior arroz que temos, à evidência prejudica empregos e empresas brasileiras que poderiam fornecer o produto.

A reação do setor do agronegócio tem sido, pois, coerente e imediata. Explicam, à exaustão, a desnecessidade da importação, mostrando que o governo gastaria dinheiro que não tem, levando em consideração sua dívida e, por outro lado, prejudicaria empregos de produtores e comerciantes de arroz que tradicionalmente atuam no país.

O governo, todavia, fez o primeiro leilão e empresas sem nenhuma tradição no mercado e sem força econômica suficiente ganharam, o que o obrigou a cancelá-lo, sobre pairar ainda a suspeita de ilicitude no pregão.

A grande questão que se coloca é a seguinte. Se não temos dinheiro para gastar num arcabouço fiscal cada vez mais inconfiável, se o governo não precisaria importar porque tem arroz suficiente para o Brasil, se nossa dívida chegou a mais de um trilhão de reais, por que importar arroz, vale dizer, queimar divisas para comprá-lo no exterior?

Não gostaria de lembrar Shakespeare, embora pertença à Academia William Shakespeare, mas que há algo de muito errado nas finanças do Governo Federal, não há dúvida de que há.


Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).



A fantasia em torno da descriminalização da maconha

“As drogas pisoteiam a dignidade humana. A redução da dependência de drogas não é alcançada pela legalização do uso de drogas, como algumas pessoas têm proposto ou alguns países já implementaram. Isso é uma fantasia.”

Essas falas são do papa Francisco. Ele se posicionou contra a legalização das drogas na última semana, mais precisamente em 26 de junho, Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas, data criada pela Assembleia Geral da ONU em 1987 com objetivo de alertar o mundo sobre os prejuízos incalculáveis provocados pelos entorpecentes para a saúde pública, as comunidades vítimas do tráfico, as famílias que enfrentam os problemas da dependência, a segurança pública e a economia.

Coincidência ou não, a mensagem do papa Francisco veio um dia depois de o Supremo Tribunal Federal ter formado maioria para descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal no Brasil. A sessão de terça-feira (25/06) foi interrompida e o julgamento foi concluído no dia seguinte, com a fixação da quantidade de 40 gramas para caracterização do porte para usuários.

A decisão não indica que o Supremo tenha legalizado ou liberado o uso da maconha. O porte continua sendo ilícito, mas as punições para as pessoas flagradas com a droga saem agora da esfera criminal, sendo que as penas terão peso simbólico como, por exemplo, a prestação de serviço comunitário.

O tema é polêmico. Por um lado, a decisão do STF é considerada um avanço importante, especialmente para o tratamento humano do usuário, com a diferenciação entre dependentes e criminosos. Além disso, a expectativa é de que haja reduções nos índices de encarceramento e de violência relacionada ao tráfico, o que, pelo menos em tese, deve significar mais justiça social.

Por outro lado, a descriminalização é criticada por uma grande parcela da população e por especialistas que apontam para a possibilidade de que a medida acabe por estimular ainda mais o uso da maconha e, desta forma, possa fortalecer o tráfico e o crime organizado. Entre as possíveis consequências disso podem estar prejuízos para a segurança e para a saúde pública.

Ao colocar na balança os argumentos favoráveis e contrários à descriminalização do porte da maconha, acabo assumindo posição mais conservadora. Acredito que a medida pode reduzir a inibição ao uso da droga, de forma que ela acabe se tornando mais atraente aos olhos dos jovens. Mais que isso, é arriscado que a maconha acabe por abrir portas para o uso de entorpecentes mais pesados, aumentando os índices de dependência química no país.

Exatamente como disse o papa, os supostos benefícios da descriminalização da droga são, a meu ver, uma fantasia. O que vem pela frente, é o tempo quem nos dirá.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Uma carta ao amanhecer

Em algum lugar distante, vislumbro meus momentos e visualizo o horizonte pelas frestas da imaginação. Aos poucos, tudo se desfaz e se refaz. Após a chuva e a noite escura, o dia amanheceu ensolarado.

Às vezes, me encontro no mesmo lugar, nutrindo-me de mim mesmo. A vastidão do todo em tudo me envolve, como um redemoinho de estranhezas em dias aborrecidos.

Estou entre o tudo e, às vezes, entre o nada; em outras vezes, voo alto em busca de mim no topo da imaginação. Escrevo para preencher o vazio de certos momentos, quando me encontro distante do lugar onde estou. Viajo entre palavras e ausências. Distante, à beira de outros caminhos, saboreio a vida ao meu redor.

Sentado à margem de mim mesmo, escrevo versos que vêm ao meu encontro e me levam para outros momentos. Ao meu redor, a imensidão se revela em lugares inimagináveis, uma aquarela de cores, versos cortantes e poesias solitárias.

Ao meu lado, uma carta ao amanhecer, envolta nos primeiros raios de sol, repousa sobre a relva verde ainda úmida sob as lágrimas da noite. “Com carinho, alguém em busca de um novo caminho”, diziam as primeiras linhas da carta. Era simples, sem remetente e sem endereço, exposta aos primeiros raios de sol daquela manhã suave e sublime.

Alguém em busca de um novo caminho. Qual o sentido dessa frase? Não sei ao certo, mas há muitos significados nessa busca. Quem está em busca de um novo caminho? Que caminho é esse? Onde ele levará? Essa simples frase desperta questionamentos e reflexões.

A carta continuava como uma brisa suave, esperando que essa ausência fosse preenchida. No coração, um profundo sentimento se alimentava de si mesmo, nutrindo cada instante dos imensuráveis momentos. Era para calar o silêncio, mas aquela voz preferiu ouvi-lo, ouvindo-se a si mesma em meio à inquietação.

Continuei a ler a misteriosa carta, sem entender completamente o sentido de tudo o que estava escrito. Mas era possível compreender a mensagem e a intenção profunda que ela carregava. Era destinada a alguém que precisava ouvir aquelas palavras.

Os próximos parágrafos estavam repletos de sentimentos, descrevendo momentos inesquecíveis, cheios de emoções e nostalgia. Naquelas manhãs, parecia que a vida renascia a cada instante, a cada raio de sol que cruzava o horizonte, refletindo na parede da memória a vida em sua plenitude. A carta terminava com versos líricos, em uma poesia suave e serena.

Alguém em busca de um novo caminho, à procura de um distante jardim entre a saudade e a espera. Entre a flor e a essência, o espinho que fere. O pão, a fome e os pés descalços seguem os caminhos da vida. Seguem entre dias nublados e, ao entardecer, o cansaço quer o sono para sublimar a vida e sonhar com dias de paz.

Um novo caminho com novos obstáculos, tristezas e alegrias. Um novo caminho com um novo caminhar, sem rastros, vestígios, dores ou rancores. Um novo caminho que está em nós a cada momento, que se apresenta a cada amanhecer, a cada nova oportunidade e possibilidade.

Agora, me vejo sentado à margem de mim mesmo. Ao meu redor, tudo me envolve: o vento que sopra, uma folha que cai, as flores, os frutos, as pedras e o infinito no olhar. O chão que meus pés pisam, o ar que enche meus pulmões. Tudo em pleno silêncio: o céu azul, as nuvens que passam calmamente, o rio que flui contornando suas curvas, sem perder sua essência.

E assim, compreendo que o verdadeiro caminho está em cada instante vivido, em cada reflexão, e cada amanhecer. E percebo que cada novo dia é uma oportunidade de recomeço, um novo caminho a ser trilhado com esperança e determinação. Assim, compreendo que a verdadeira paz reside na harmonia com o presente, onde cada momento é um novo começo.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP. Autor do livro - O abraço do tempo -


Eleições 2024: o que vem pela frente

Em outubro de 2024, os brasileiros retornarão às urnas, desta vez para eleger prefeito, vice-prefeito e vereadores de seus municípios. No total, mais de 5,5 mil cidades brasileiras vão definir novos mandatos para o Poder Executivo e para cerca de 58 mil cadeiras existentes nas câmaras municipais do país.

Faltando menos de quatro meses para o dia do pleito, será que os brasileiros sabem o que vem pela frente? Conhecem as principais regras e datas a serem seguidas? Provavelmente, para a grande maioria da população, a resposta para essas perguntas é não.

Por esse motivo, neste artigo, elenco os principais pontos a que o eleitor deve estar atento, com base no Calendário Eleitoral de 2024, estabelecido pela Resolução nº 23.738/2024.

O primeiro deles é o período para a realização das convenções, quando partidos e federações vão escolher quem são as candidatas e candidatos que participarão da campanha e concorrerão pelos votos do eleitorado. Os eventos devem ser realizados entre 20 de julho e 5 de agosto e as agremiações terão prazo até 15 de agosto para apresentar a lista com os nomes à Justiça Eleitoral.

Logo em seguida, no dia 16 de agosto, será iniciada a campanha de fato, com autorização para distribuição das propagandas eleitorais, que podem ocorrer em ambientes físico e virtual. Também estará liberada a divulgação dos números dos candidatos e o pedido de votos. Até essa data, os pretensos concorrentes só podem se apresentar como pré-candidatos.

A propaganda gratuita no rádio e na TV será exibida entre os dias 30 de agosto e 3 de outubro, uma quinta-feira. Já a partir do dia 21 de setembro, candidatas e candidatos não poderão ser presos, salvo no caso de flagrante delito.

O primeiro turno vai ocorrer no dia 6 de outubro. Logo após o encerramento da votação, a Justiça Eleitoral iniciará a apuração dos votos dos 152 milhões de eleitoras e eleitores brasileiros e a expectativa é de que, em poucas horas, já sejam divulgados os nomes de todos os vereadores eleitos no país e dos prefeitos e vices das cidades com menos de 200 mil habitantes. Em municípios maiores, se houver necessidade, será realizado o segundo turno no último domingo do mês, que neste ano cai no dia 27.

Conhecer normas, prazos e datas do período eleitoral, é fundamental para que os eleitores exerçam o direito à cidadania. Informação é arma poderosa para a escolha dos candidatos e para a Democracia.

Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing


Meter tempo entre a vida e a morte...

O instante da morte é um instante que se desata do tempo que foi, e não se ata com o tempo que há de ser, porque já não há de haver tempo…  Não vos parece que é terrível coisa ser a morte momentânea? Nem é terrível, nem é momento para quem acaba a vida antes de morrer, mete tempo entre a vida, e a morte. Padre Antônio Vieira

De tempos em tempos costumo meditar esta frase. A primeira vez em que me deparei com ela senti como se um pesado silêncio entrasse em minha alma e, ao mesmo tempo, um vento estrondoso percorresse todos os cantos de minha vida, como a inquirir sobre o que tenho feito dela. E cada vez que retorna à minha consciência fico rememorando meus passos, observando as decisões que tomei, o trabalho que escolhi e o rumo que tenho dado à minha existência. 

Pertence a obra “Sermões” do Padre Antônio Vieira. O ato de “meter o tempo entre a vida e a morte” se refere a acordarmos para o propósito de nossas vidas, de não nos deixarmos levar pelas distrações que o mundo oferece, sem compreender e realizar o que nos compete. Consegue ver a possibilidade de ter um tempo para você, de compreender o sentido de sua vida, de se entregar ao que gosta ou ao que sente ser um chamado interior, antes que chegue o momento da morte? 

Vou discorrer um pouco sobre a obra para entrar nas reflexões do autor. Narra a história do rei Carlos V, imperador da Alemanha e rei da Espanha, conhecido também como Carlos I. Como todo imperador, seu poderio era ilimitado, detentor de uma imensa riqueza, poder e prestígio. Governava vários povos e era adorado com um deus. Certo dia o rei recebeu um soldado veterano, que era muito apreciado por ele, reconhecido por sua coragem e valentia nos combates e guerras e por sua dedicação à coroa. 

Ocorre que foi então surpreendido pelas palavras do soldado que, ao entrar no palácio, apresentou um memorial para deixar seu posto e se retirar das armas, pois, desejava partir livre, sem o dever de lutar em mais nenhuma batalha. Estarrecido, afirmou ao soldado que ele era o melhor de todos no reino e que em breve receberia homenagens por sua valentia e dedicação. Todavia, para sua surpresa, o veterano respondeu que não queria glórias ou reconhecimento, mas apenas se retirar do trabalho:

“Ao menos vos peço que me concedais algum espaço de quietação e sossego, em que possa meter tempo entre a vida e a morte”.

Ao entrar em contato com esta narrativa fiquei imaginando o sentimento do rei diante da decisão do soldado e, ao mesmo tempo, me perguntado sobre o sentido de minha vida, com o trabalho que exerço, com as decisões que tenho tomado e ao que poderia renunciar…

“Concedeu enternecido a licença; retirou-se ao gabinete; tornou a ler o memorial do soldado; e despachou-se a si mesmo. Oh soldado mais valente, mais guerreiro, mais generoso, mais prudente, e mais soldado que eu! Tu até agora foste meu soldado, eu teu capitão; desde este ponto, tu serás meu capitão, e eu teu soldado: quero seguir tua bandeira. Assim discorreu consigo Carlos, e assim o fez. Arrima o bastão, renuncia o Império, desde a púrpura, e tirando a coroa imperial da cabeça, pôs a coroa a todas suas vitórias; porque saber morrer é a maior façanha”.

Quando li este relato senti um misto de emoções. Fiquei admirada com a renúncia e a coragem de ambos, contudo, impactada e comovida com a decisão do rei em abandonar tudo. Veja que renunciou ao poder, à fama, a uma vida glamorosa, cheia de riquezas, conforto, prazeres, porque compreendeu que tudo o quanto vivia era, na verdade, uma grande ilusão. Assim, decidiu que não ficaria esperando pela morte, que ela não o surpreenderia e fosse então tarde demais. 

Com determinação e muita coragem deixou tudo para trás e foi recolher-se no “Convento de Juste”. Escreve ainda Padre Antônio Vieira: “e porque a primeira vez soube morrer Imperador, a segunda morreu Santo”.

Note que o soldado, quando fez menção de “meter tempo entre a vida e a morte” acabou por inspirar o rei; sua atitude despertou no imperador questionamentos sobre sua vida, a realeza, a glória terrena, coisas que tinha e que não faziam mais sentido. Então, tocado e inspirado por tão nobre atitude do amigo, abdicou de todo o seu império, títulos, conquistas e no ano de 1556 foi para o Mosteiro, vindo a falecer dois anos mais tarde.

Padre Vieira aborda também a história de Jó:

“Os dias de minha vida, queira ou não queira hão de acabar-se brevemente. O que pois Vos peço, Senhor, é que antes da morte me concedais algum tempo; em que chore meus pecados, em que trate só de compor a minha consciência e aparelhar a minha alma”. 

E conclui com a história do rei Davi, dizendo que ambos honraram muito a Deus com suas vidas, fizeram o bem, com obras em prol dos pobres, dos doentes e necessitados, mas mesmo assim, não se sentiram prontos para enfrentar a hora da morte, em que questiona:

“Agora pergunto, e se qualquer de nós se achara com a vida de um destes homens, não se atrevera a esperar pela morte muito confiadamente? E, contudo, nem Davi, nem Jó com tanto cabedal de virtudes, com tantos tesouros de merecimento, e o que é mais, com tantos testemunhos do Céu, tiveram confiança para que os tomasse de repente o momento da morte; ambos pediram tempo a Deus para meter tempo entre a morte, e a vida”. 

Diante de reflexões tão profundas fico me perguntando o que poderia renunciar em minha vida… Reconhecendo que, diante do que o rei abdicou, qualquer coisa terrena que tenhamos parecerá irrisória, contudo, não há como comparar a vida de cada um de nós, a dimensão da renúncia pessoal.

Há momentos em nossa trajetória em que precisaremos renunciar: talvez a um emprego melhor, a um cargo importante, mas que nos afastará da família, das pessoas que amamos; ao egoísmo, às atitudes mesquinhas, ao reconhecimento pessoal, à soberba: ao mal. Diversas circunstâncias poderão se apresentar com a aparência de ser o melhor a fazer ou de representar sucesso, felicidade, porém, podem ser distrações, armadilhas, ilusões que nos afastarão do que realmente importa. 

Mas como saber o momento de renunciar? Acredito que há uma consciência dentro de cada um de nós que representa o sentido de nossa existência. Por vezes pode ficar abafada diante de tantas seduções, das ilusões que o mundo oferece. Por isso a necessidade de silenciarmos, de nos aproximarmos de Deus e permanecermos nEle. Quando nos afastamos de Deus, pouco a pouco o coração vai endurecendo e fica mais difícil escutar o chamado interior.

Por fim, é importante termos humildade em reconhecer nossos erros, observarmos as escolhas que fazemos e, com coragem, renunciarmos ao que seja necessário para o encontro com o Senhor, enquanto ainda temos “tempo”.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com



No jardim das utopias

O momento anoitece e os instantes amanhecem. Da janela da imaginação observo as flores em distantes jardins e logo embeveço em sua essência. Próximo, logo ali, abrem-se caminhos que levam para lugares inimagináveis. Idealizo os momentos e vivencio os instantes na perenidade do tempo que brinca comigo antes do anoitecer. 

A utopia como fonte de inspiração para uma sociedade mais justa. Imagino e idealizo uma sociedade ideal, um lugar de plena justiça e fraternidade. Essa sociedade foi idealizada por Thomas More no século XVI em sua obra chamada Utopia. Mas antes, vamos ver o que significa utopia. Segundo a Wikipédia a palavra utopia se origina do grego “ou+topos” que pode ser traduzido como “lugar que não existe”.

Desde então, a utopia tem sido um conceito central em diversas obras literárias e filosóficas, sempre refletindo sobre a possibilidade de se construir um mundo perfeito. Mesmo não existindo, a utopia está sempre nas letras de música, na poesia, na literatura e em obras filosóficas.

O jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano diz que é a utopia que nos faz caminhar; ele diz assim: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.“

A utopia de quem ousou o mudar o mundo em nome de um ideal, de um sonho. O ativista de direitos civis Martin Luther King Jr, em celebre discurso em favor dos direitos da população negra norte-americana. Em seu discurso destaca-se essa frase: “I Have a Dream” – Eu tenho um sonho. O sonho de uma sociedade mais justa. Uma sociedade onde as pessoas sejam respeitadas pelo o que elas são”.

Na nossa atual Constituição em seu art. 5º que fala da igualdade de todas as pessoas perante a lei. Que todas as pessoas tenham seus direitos respeitados. Que esses direitos que as leis nos concedem, sejam de fato respeitados. Embora a realidade esteja distante e os acontecimentos cotidianos colocam em descredito esse sonho, embeveço em utopia e vejo esse sonho ainda possível.

A utopia também aparece no Contrato Social, que fundamentaram as doutrinas jurídico-políticas do Estado Moderno. É o pensamento filosófico do francês, Jean-Jacques Rousseau, em seus ideais utópicos de uma melhor forma de organização social. Consagrar o povo como fonte básica de toda autoridade política.

Esses três momentos da nossa história como humanidade, retrata a força enigmática da utopia. Há outros momentos que também teve a sua importância na história da humanidade. O sonho de uma sociedade mais igualitária, um mundo com bases sólidas, e que essa solidez seja nutrida pela partilha e solidariedade.

As forças humanistas que alimentam sonhos e nutre a utopia, contrariando a lógica mercadológica que vendem esperança e negociam sonhos. Essa tal de utopia, logo ao amanhecer me convidando para caminhar. Não importando com os obstáculos, só caminhe, somente o caminhar faz chegar.  

Nas utopias, a igualdade é uma característica fundamental. Todas as pessoas têm acesso igualitário a recursos, oportunidades e direitos, eliminando as hierarquias sociais e econômicas que normalmente dividem as sociedades. Este ideal de igualdade não só promove a justiça, mas também assegura que todos os cidadãos possam viver vidas plenas e satisfatórias, livres das opressões e discriminações que marcam o mundo real. Além da igualdade, a justiça é um pilar crucial nas sociedades utópicas.

Leis justas e um sistema judiciário imparcial garantem que todos os cidadãos sejam tratados com equidade. Não há espaço para corrupção ou abuso de poder, e a transparência governa as interações sociais e políticas. Esse compromisso com a justiça não só cria um ambiente de confiança e respeito mútuo, mas também promove a paz e a estabilidade social.

No livro Utopia, Thomas More descreveu uma sociedade em que predominavam a tolerância e a justiça social. Na nossa sociedade o que predomina é a meritocracia. Em um país como nosso com grandes desigualdades, a meritocracia joga a favor dos mais favorecido. Essa é lógica do sistema que somos submetidos quer queiramos ou não.

A utopia está lá no horizonte como disse Eduardo Galeano, mas como fazemos para chegar até ela? Quando mais caminhemos em sua direção, mais temos a sensação que não podemos parar. Somos feitos de sonhos, e não importa o tempo e nem a distância e muito menos os obstáculos. Basta nos vislumbrar a beleza de tudo que nos envolve e saborear o sabor da vida.

Finalizo esse texto citando alguns versos da música Coração civil de Milton Nascimento e Fernando Brant: “Quero a utopia, quero tudo e mais. Quero a felicidade nos olhos de um pai. Quero a alegria muita gente feliz. Quero que a justiça reine em meu país. Quero a liberdade, quero o vinho e o pão. Quero ser amizade, quero amor, prazer. Quero nossa cidade sempre ensolarada os meninos e o povo no poder, eu quero ver.”
 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP. Autor do livro - O abraço do tempo -


É preciso muito cuidado com a criação da "Arrozbrás" 

O governo brasileiro está importando arroz por causa da quebra de safra no Rio Grande do Sul. O que impressiona é que o governo quer fornecer o arroz tabelado e abaixo do preço de mercado.

De certa forma, essa intervenção no mercado vai representar um desestímulo à plantação de arroz no Brasil, porque os agricultores terão prejuízos. Ao fazer esse tabelamento, que desestimula o plantio, possivelmente ficaremos dependentes da importação de arroz, quando somos autossuficientes e exportadores. Isso representa uma intervenção semelhante àquela que vimos Nicolás Maduro fazer na Venezuela, quando resolveu vender a gasolina tão barata e muito abaixo do preço de mercado. Apesar de o país ter a maior reserva de petróleo do mundo, a medida desestruturou toda a indústria petrolífera do país.

Sempre que se intervém no mercado, desestimula-se a produção. Intervenções geram a sensação de que os preços se tornam estáveis, mas há naturalmente desemprego decorrente daqueles que não continuarão a trabalhar no ramo onde ocorreu, destacadamente no caso do controle de preços.

Os congelamentos de preços no Brasil (planos Cruzado, Bresser e Collor) sempre foram um fracasso. Mesmo na Argentina houve congelamento de preços (Plano Primavera). Todos fracassaram. Aliás, há 4 mil anos o congelamento de preços fracassa, pois está no Código de Hamurabi, o primeiro registro de congelamento na história, que não deu certo. Tivemos, ainda, em 300 d.C. um congelamento praticado por Diocleciano em Roma, que também fracassou.

Congelar o preço, desestimulando a produção nacional e tendo que se comprar, eventualmente, mais caro para se vender mais barato, é intervenção no mercado que nunca deu certo.

Além disso, no caso brasileiro, está se importando uma fantástica quantidade, com queima de divisas, quando asseguram muitos especialistas do setor que a produção nacional ainda pode garantir o consumo interno.

Isso preocupa os produtores brasileiros, pois se eles deixarem de produzir, em vez de termos o arroz como gerador de divisas, o teremos como um consumidor de divisas.

A melhor forma de baixar preços é produzir e produzir muito, de tal forma que a quantidade permita a redução de preço. Se adotarmos no Brasil a “Arrozbrás”, intervenção típica de regimes esquerdistas e que nunca deu certo, corremos o risco de ver mais um fracasso da nossa economia.

Precisamos que todos aqueles que conhecem o assunto pressionem o Congresso Nacional para que tenhamos liberdade no setor, até porque o artigo 174 da Constituição Federal declara que o planejamento econômico é indicativo para o setor privado, mas não pode ser obrigatório.

No momento, entretanto, em que se congela o preço do arroz, se torna obrigatório. Aqueles que não praticarem o mesmo preço não poderão vender sua mercadoria, e se esses preços tabelados não compensarem, desestimular-se-á a continuidade da produção de arroz no Brasil.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).



A sociedade como meio de inclusão social

Será que falar e pensar em uma sociedade mais inclusiva é ser utópico? Primeiramente quero começar essa reflexão sobre integração. No seu sentido etimológico, integração vem do verbo integrar, com origem no latim integrare que significa formar, coordenar ou combinar, o ato ou efeito de integrar ou tornar inteiro. Integração, refere-se ao processo de incorporar indivíduos ou grupos diferentes em uma sociedade.

Como a pessoa com deficiência pensa a sociedade atual? Esse lugar não é para mim, ou vai com a cara e a coragem para ver onde pode chegar. Pessoa com deficiência? Quais deficiências? Quais deficiências não interessa, o que realmente interessa e tem importância, é que a pessoa com deficiência tenha os mesmos direitos. Se elas têm menos direito por ser uma pessoa com deficiência, o deficiente é a sociedade, não a pessoa. 

Quem é a sociedade? Entende-se como sociedade uma associação entre indivíduos que compartilham valores culturais e éticos e que estão sob um mesmo regime político e econômico, em um mesmo território e sob as mesmas regras de convivência. Estamos falando de nós mesmo e temos objetivos em comum de melhorar e preservar a vida em coletividade. Algo está errado com a gente. Nós somos a sociedade, formamos a sociedade. Mas é cada um por si.

A Sociedade está adaptada ou a pessoa com deficiência tem que se adaptar a sociedade? As nossas calçadas estão aptas ou a pessoa com deficiência tem que se adaptar a elas para poder caminhar?  Integração é isso. Eu como pessoa com deficiência sou convidado para participar da sociedade, fazer parte de um grupo. E como sou visto pela sociedade a qual eu pertenço? 

Que legal, fui convidado para participar da sociedade, sou cidadão, sou respeitado do jeito que eu sou. Espera um pouco, sou convidado para participar. Participar em que condições? Como que eu chego até certo lugar, se as condições do lugar não são favoráveis? Dá-se um jeito e tudo se resolve. Você se adapta, as condições não são tão ruins assim como parece, o importante é que você está integrado. A integração é quando a pessoa com deficiência se adapta ao ambiente, não é o ambiente que é adaptado para receber a pessoa com deficiência.  

O que é sociedade inclusiva? O Art. 4º do Estatuto da Pessoa com Deficiência diz que toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. O parágrafo 1º considera como discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.

O art. 53. diz que a acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social.

O acesso à educação é um direito fundamental de todo cidadão, sendo de extrema importância para o desenvolvimento humano. Contudo, as pessoas com deficiência ainda encontram dificuldades para serem totalmente incluídas no sistema educacional. Assim, surge a necessidade da implementação da educação inclusiva, que implica em pensar o ambiente e a prática educacional de forma a possibilitar o acesso, a permanência e o aprendizado pleno dos estudantes com deficiência. 

Como estamos vivendo, como estamos vivendo em sociedade, hoje, junho de 2024? Quando falo em pessoa com deficiência, vem logo a mente o estatuto da pessoa com deficiência. Por que existe esse estatuto? Vou ter essa resposta no art. 1º, diz que o estatuto propõe a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

Como que o Poder Público e outras entidades têm se envolvido com a causa da pessoa com deficiência? A responsabilidade do Poder Público em promover políticas públicas em prol da sociedade. Especificamente políticas públicas em favor da pessoa com deficiência, pondo em prática o Estatuto da Pessoa com Deficiência. Promovendo direitos, sensibilizar, acolher e conscientizar que todos somos partes, fazemos parte da sociedade que somos todos nós.

Nós como sociedade, somos responsáveis de forma direta ou indireta, pelo desenvolvimento do lugar onde vivemos. Nossas ações contribuem pelos avanços e pelos retrocessos da nossa sociedade. O Estatuto da Pessoa com Deficiência é uma forma de avanço em que a sociedade de uma forma geral, tem no estatuto um instrumento de transformação social.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP. Autor do livro - O abraço do tempo -


A entrada do Brasil na OCDE é imperiosa necessidade 

O presidente Lula sempre se disse um comunista ou, pelo menos, nos últimos tempos, manifestou o seu prazer em colocar um ministro comunista no Supremo Tribunal Federal. É amigo de ditadores comunistas, como Nicolás Maduro (Venezuela), Daniel Ortega (Nicarágua), Xi Jinping (China) e Vladimir Putin (Rússia), e tem trabalhado para aquilo que ele chama de “Sul global”. Afasta-se, pois, dos países democráticos e vincula-se aos países mais à esquerda, a maioria ditaduras.

Por que estou mencionando isso? Porque, de rigor, nossa entrada na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde estão países inclusive da América, como, por exemplo, o México, é importante. A OCDE é uma organização que representa 70% do PIB mundial e onde o progresso de todas as nações é evidente.

O embaixador Rubens Barbosa, em recente artigo no jornal O Estado de S. Paulo, mostrou a importância de o Brasil entrar para a OCDE e disse que o presidente Lula não faz nenhum esforço para que isso ocorra, pois, para ele, não é relevante. O próprio jornal criticou, em seu editorial, essa tendência do atual governo em dirigir-se para o “Sul global” e unir-se a países fracassados que são ditaduras, como Venezuela e Nicarágua, ou então solidificar relações com países que estão fazendo aliança anti-Ocidental, como Rússia e China. Não é isso que o Brasil quer, e muito menos o que deseja a grande maioria dos brasileiros. Estamos no Ocidente, não temos que nos vincular ao Oriente comunista ou ao “Sul global”, com países esquerdistas.

Essa é a razão pela qual nós deveríamos entrar na OCDE, para termos as portas abertas em todos os países democráticos, com todas as nações mais desenvolvidas, onde a troca de tecnologia e, ao mesmo tempo, o entendimento entre essas nações auxiliam nosso crescimento. Por isso, o alerta do embaixador Rubens Barbosa e do editorial do jornal O Estado de São Paulo, criticando esse amor à esquerda, essa tendência de se voltar para o atraso por parte de quem se diz comunista e que colocou um ministro comunista no Supremo Tribunal Federal.

Parece-me importante que nós, brasileiros, mostremos ao presidente Lula que nosso destino é ocidental. Estamos em um continente ocidental e não é nos unindo a países vinculados às ditaduras ou que, efetivamente, fazem oposição ao Ocidente que cresceremos. A entrada do Brasil na OCDE é, portanto, uma imperiosa necessidade.
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Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Sociedade e cidadania

A Constituição Federal de 1988, sem dúvida foi um momento importante para os rumos das políticas sociais e para as formas de interação entre estado e sociedade, abrindo espaço para um conjunto de grupos organizados reivindicarem seus direitos. Políticas sociais, democracia e cidadania.

O assunto em questão já foi abordado algumas vezes nesse espaço, nessa coluna. Por se tratar de algo importantíssimo para a sociedade, por isso volto a escrever sobre ele novamente. A pessoa com deficiência e a luta, a busca pelo seu espaço. Em uma sociedade que prevalece o “forte”, a força como único instrumento que difere vencedores e vencidos. Pensar as pessoas não pelo o que elas têm, mas pelo o que elas são. Vivemos em uma sociedade competitiva, lembrando a música dos Titãs, “Homem primata, capitalismo selvagem”. Talvez não chegue a tanto, será?

O intuito nesse texto, tem os mesmos objetivos de outros textos que já explanei sobre esse tema nesse mesmo espaço. Conscientizar, sensibilizar a sociedade sobre a importância de pensar em projetos que beneficie toda a sociedade. Não é convencer as pessoas, é conscientizar mesmo. Como uma forma didática em um pensamento sistêmico. Ter sempre em mente que a minha atitude pode ajudar ou prejudicar outras pessoas. Pensar em tudo, como sociedade, é pensar em cada um, cuidar de cada indivíduo para o bem de todos. 

Infelizmente, a realidade nos alimenta com momentos que é difícil até de sonhar, imagina realizar. Nas minhas reflexões sobre essa temática, confesso que o pessimismo e a desesperança, muitas vezes me assolam. Mesmo assim, acreditar é preciso. Acreditar que o pouco que se faça, ainda que seja pouco, pode minimizar dores e sofrimentos de muitos. 

O Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Nº 13.146, de 06 de julho de 2015, estabelece um novo marco quando se refere em políticas públicas. Pelo Estatuto, é considerado pessoa com deficiência quem tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Esse importante documento prevê a inclusão da pessoa com deficiência e sua participação mais ativa na sociedade. Também determina o papel do Ministério Público e de Estados e Municípios na fiscalização e no cumprimento do Estatuto no âmbito do trabalho, da educação, da saúde e das políticas públicas em geral.

Falar do conselho e a sua atuação em nossa sociedade com conquistas e desafios. O Conselho Municipal do Direitos da Pessoa com Deficiência, atuando desde maio de 2016 em nosso município. Acredito que isso já seja uma conquista, temos o Conselho. Entende-se que isso já faz com que as políticas públicas de inclusão estejam em um patamar elevados. Falarei um pouco do Conselho e suas atribuições.

O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CMDPcD), tem como função importante o exercício de supervisão de políticas públicas objetivando o atendimento e práticas de política de inclusão. O Conselho tem como missão garantir a promoção e proteção dos direitos da pessoa com deficiência, atuando como um intermediário essencial entre a sociedade civil e o poder público.
Formado por representantes do governo municipal, organizações não governamentais, entidades de defesa dos direitos das pessoas com deficiência, além de cidadãos e cidadãs com deficiência e seus familiares. Essa diversidade assegura que múltiplas perspectivas sejam consideradas, promovendo políticas públicas mais inclusivas e eficazes.

Uma das principais funções do conselho é propor, monitorar e avaliar políticas, programas e projetos que atendam às necessidades da pessoa com deficiência. Verificar se essas iniciativas estão alinhadas de acordo com a legislação, garantindo que os direitos sejam respeitados.

O conselho também atua como um facilitador de diálogo e cooperação entre diferentes setores da sociedade e o governo municipal. Essa articulação é essencial para a criação de uma rede de apoio que maximize os recursos e esforços, resultando em ações mais coordenadas e eficazes em benefício da pessoa com deficiência. Promover a acessibilidade é uma prioridade central do conselho em assegurar que espaços públicos e privados sejam acessíveis a todos, independentemente de suas limitações físicas, sensoriais ou cognitivas. Isso inclui a fiscalização de obras e serviços, a promoção de adaptações necessárias e a conscientização.

Sociedade, direitos e cidadania como uma base sólida, fundamentada no respeito mútuo e nas diferenças que nos molda como seres imperfeitos que somos, movidos por profundos sentimentos que nos humaniza.

O Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência desempenha um papel crucial na defesa e promoção dos direitos da pessoa com deficiência, atuando como um agente de transformação social. Seu fortalecimento e a ampliação da participação da sociedade civil são essenciais para garantir uma sociedade mais inclusiva e igualitária.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP. Autor do livro - O abraço do tempo -


Por que os gerasenos expulsaram Jesus da cidade?

O mal moral é como um ácido que come a alma da pessoa. Primeiro ele a enfraquece,
levando-a a se deteriorar e desmoronar; então ele a consome aos poucos, até que a única coisa remanescente seja uma casca vazia – uma casca vazia em que o mal pode viver confortavelmente. Anthony Destefano.

Durante muito tempo essa passagem do Evangelho passou despercebida para mim. Não havia prestado atenção na gravidade da atitude do povo e achei difícil compreender o motivo de pedirem a Jesus que se retirasse da cidade. Como assim? Ele não fez o bem; não libertou o homem que sofria com uma legião de demônios? Essas questões ficaram remoendo em meus pensamentos. 

“Navegaram para a região dos gerasenos. Mal saltou em terra, veio-lhe ao encontro um homem dessa região, possuído de muitos demônios; há muito tempo não se vestia nem parava em casa, mas habitava no cemitério. Ao ver Jesus, prostrou-se diante dele e gritou em alta voz: “Por que te ocupas de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te, não me atormentes!” Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem, perguntou-lhe: “Qual é o teu nome?”. Ele respondeu: “Legião!” (Porque eram muitos os demônios que nele se ocultavam.). E pediam-lhe que não os mandasse ir para o abismo. Ora, andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos; rogaram-lhe os demônios que lhes permitisse entrar neles. Ele permitiu. Saíram, pois, os demônios do homem e entraram nos porcos; e a manada de porcos precipitou-se pelo despenhadeiro, impetuosamente no lago, e afogou-se. Então, todo o povo da região dos gerasenos rogou a Jesus que se retirasse deles, pois estavam possuídos de grande temor.”

Em busca de respostas, fui estudar atentamente o texto sagrado, porém, quanto mais meditava, mais dúvidas surgiam, não entendia o sentido da rejeição. Após um bom tempo de inquietações (reconheço que tenho ideia fixa) compreendi o que ocorreu: eles conheceram Jesus, mas não O reconheceram. A verdade é que a presença de Jesus os incomodava, trazia a consciência de seus pecados. Não queriam que nada mudasse em suas vidas. Não queriam perder privilégios, que seus negócios fossem arruinados. Decidiram continuar no erro, no pecado. Não desejavam que suas ações pecaminosas fossem confrontadas com a luz de Deus. Não desejavam deixar a lama que os envolvia… Porque suas ações os igualavam aos porcos! 

Ao me deparar com essa revelação fiquei impactada e ao mesmo tempo com um profundo sentimento de tristeza. Não acreditava que alguém pudesse recusar a presença do Senhor dessa forma. Porém, ao meditar e comparar com minhas próprias ações, revendo meus passos, reconheço em mim traços dessa mesma recusa. A verdade é que é difícil aceitar os erros, pecados, pois a luz do Senhor nos faz ver o que não queremos ou não aceitamos em nós mesmos. 

A presença libertadora de Cristo expõe (escancara) os pecados. Não tenho dúvidas de que Ele tem sido recusado no decorrer da história humana. O texto pode despertar tanto para o exame pessoal de nossos comportamentos, como revelar inúmeras situações que expõem a maldade humana. Veja a situação de sofrimento de milhares de imigrantes, expulsos, despatriados, atingidos pelo horror da guerra, pela fome; a tortura e a degradação de meninos e meninas que são explorados pela rede de pedófilos; o crime de genocídio infantil validado pelo aborto, dentre tantas outras que denunciam explicitamente a recusa da presença de Jesus. 

E podemos nos igualar aos gerasenos se apenas conhecemos Jesus (o demônio também conhece, mas não O reconhece) mas não O reconhecemos. E como reconhece-lO? Pedro reconheceu pela revelação do Espírito Santo. Foi assim que pouco a pouco foi se modificando e conseguiu permanecer no Senhor. Assim como Paulo e tantos outros que fizeram grandes renúncias permitindo que Cristo transformasse suas vidas, porque havia em seus corações a inscrição: “Ordinavit in me charitatem” (Ordenou em mim a caridade).

O reconhecimento não é um processo mágico que envolve sentimentos ou emoções, nem mesmo a sensação de euforia, mas a busca contínua pela conversão, por estar e permanecer em Deus. Envolve uma luta particular em renunciarmos ao mal com constância; perseverarmos na Bondade diante de pequenos eventos diários que exigem de nós um comportamento cristão, compassivo e que podem revelar também um caminho para a santidade. 

Podemos fazer a escolha de não recusarmos Jesus: pedirmos, constantemente, para que não nos abandone, que não se retire de nossas vidas, apesar de nossos pecados e falta de caridade. Pedir que dilate o nosso coração.... Que fique conosco, apesar de não O merecermos.

É importante observarmos nosso comportamento, principalmente diante de momentos (e pessoas) difíceis, para que saibamos quem somos de fato. 

Para que não fiquemos parecidos com os gerasenos, que amavam seus porcos mais do que a Deus!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com



Retrocesso econômico e revogação da desoneração da folha 

O governo gasta mal e pretende economizar da pior forma ao atingir o próprio desenvolvimento com perspectiva de demissões

A derrubada de veto do projeto de lei aprovado sobre desoneração da folha de pagamento (PL 334/23), por maioria absoluta (mais de 50% dos parlamentares do Congresso Nacional), garantiu às empresas e às prefeituras, até 2027, um regime assegurador de empregos, desenvolvimento econômico e governabilidade de municípios.

O Congresso, representando 156 milhões de eleitores, ou seja, a totalidade das correntes políticas, com oposição e situação nele com assento, atendeu, na sua competência exclusiva de legislar, os anseios do povo.

A Suprema Corte, eleita por um homem só, através de um único ministro, todavia, suspendeu a vontade do povo manifestada por seus representantes, a pedido do presidente da República que, por sua vez, tem demonstrado fantástica capacidade de gastar aleatoriamente, gerando déficits permanentes nas contas públicas.

Essa vocação de gastar sem se preocupar com o equilíbrio das finanças estatais tem sido duramente criticada pela imprensa, pelas agências de rating e pelo Banco Central, visto que, pela falta de equilíbrio financeiro, resta ao Brasil o combate à inflação apenas pelo remédio amargo da política monetária e juros elevados.

O governo federal, todavia, gasta mal e pretende economizar à custa do sacrifício do setor privado que mais emprega, assim como da geração de descompasso orçamentário em grande número de municípios.

Gasta mal e pretende economizar da pior forma ao atingir o próprio desenvolvimento com razoável perspectiva de demissões elevadas, cujos desempregados tenderão a ser sustentadas pelo Bolsa Família. Propõe, portanto, a redução de empregos e o aumento de dependentes do erário.

Apesar de a Suprema Corte, com sete ministros indicados pelo Partido dos Trabalhadores, já ter sinalizado que manterá a decisão interventiva na lei do Congresso Nacional, e de nenhum dos bons juristas ser economista de expressão naquela Corte, está legislando mais uma vez no lugar do Poder Legislativo.

Resta sempre a esperança de que o próprio presidente da República reconsidere sua posição e, em conjunto com o Parlamento, reformule seu entendimento em medida provisória, restabelecendo o decidido no Congresso e enterrando a deletéria pretensão que afeta empresas, municípios e, principalmente, trabalhadores.

Talvez, ao perceber a prejudicial atitude do Executivo, seus ministros da área econômica possam mostrar que, até politicamente, em face das próximas eleições municipais, seu posicionamento tem que ser mudado!

Quando me lembro do saudoso amigo Roberto Campos, que em frases gráficas definia situações, não poucas vezes penso em seguir suas manifestações, parafraseando-as. Por isso, termino este artigo com esta apropriação de sua visão para o Brasil de hoje. É que ao ver todos os erros contra o desenvolvimento do País que o veto presidencial e seu recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) provocaram, sou obrigado a reconhecer que “a incompetência no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor”.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


O encanto da vida sob olhar de Mãe

O silêncio quer ouvir a sua voz em suave melodia e sublime afeição. O encanto da vida sob seus olhares. Os versos se fazem em lágrimas e germina a semente do amor. E a vida se faz na vivência e na convivência com o todo, num misto de ternura e solidariedade. O tempo quer eternizar a beleza da natureza sob o olhar de Mãe. Glorifica o enlace primordial, o amor umbilical, tudo em um terno encanto de sensibilidade que alimenta e nutre a vida em todos os seus momentos.

A ternura envolve todo o ser que se faz presença na imagem esculpida na face do infinito. O nome de Mãe e o balbuciar do silêncio num eco poético entre as rimas da vida. No alto da montanha entre mares e florestas, floresce o jardim de sentimentos. As flores que acolhe e alimenta com a sua essência o ser que habita o coração de Mãe.

O céu, a terra e um pouquinho de cada um que aos poucos constrói-se. A linha tênue da vida. O caminho reto e as curvas desse mesmo caminho que levam ao outro lado de si mesmo. A vida transpira, o amor respira e tudo que compõe o todo de alguma forma inspira os próximos passos na certeza de um novo caminhar. 

A chuva que molha a terra, a semente que germina, momentos depois, o fruto, o alimento da vida. 

O amor que transborda as bordas da profundidade, e enche os rios de nossas vidas para saciar a sede da existência. A linha do horizonte desenha o infinito entre sonhos e utopias; tudo em si transpira e inspira profundos sentimentos. 

A efemeridade e o tempo sentado na beira do caminho contemplando toda a beleza num hiato de ternura e eternidade. O amor como um ato de amar. O amor como gratuidade transpassa a profundidade de si mesmo. O efêmero e o perene e a singularidade do amor maternal.

O encanto dos dias, os momentos com a cumplicidade dos instantes. Todos os dias são seus. Todos os momentos, todos os instantes e toda a beleza que compõe cada amanhecer. São todos os dias com a leveza de cada momento que afaga as faces com simplicidade e sublimidade. 

São todos os dias de sol ou de chuva de noite de luar e de estrelas com os seus reluzentes brilhos. São todos os dias refletido em seu olhar. O encanto no sorriso dizendo para que a vida seja plena. É o sorriso da vida, é o sorriso de mãe. Mãe, suaves manhãs, flor de qualquer jardim, brilho de todos os olhares. Serena, suave, sublime, todos os momentos na completude e na perfeita harmonia de todos os amanheceres. 

Somente o olhar de Mãe, o olhar que tudo vê. O olhar que enxerga mesmo no escuro do ser, e sente o sabor de uma lágrima escondida na solidão de um olhar. Mesmo que o vento leve, o tempo jamais esquecerá a face de Mãe em uma noite de luar. São os versos de uma lágrima na poesia do olhar. 

Muitas vezes suas lágrimas são de alegria, outras vezes a tristeza faz chorar. Afague a sua face e acaricia em seus braços. Abrace os momentos e delicie os doces instantes de sua presença. 

Em outros dias, mesmo em tempos difíceis ou nas incompreensões, nas nossas humanas incompreensões. A imperfeita perfeição nos olhares afetuosos, o olhar de Mãe. Mãe, carrega-me em seus braços, preciso de colo e do calor dos seus abraços. Mãe, caminha comigo, mesmo sabendo caminhar, ainda preciso de suas mãos seguras. 

As noites são escuras, ilumina-me e clareia o meu caminhar. Mãe, nem todos os dias amanhece, amanhece em meu dia e seja em mim o meu porto seguro. O seu caminhar fez e solidificou o meu caminhar. Caminho entre palavras, protegido por belas frases e sublimes versos. 

Mãe, eu sei, eu entendo e compreendo, o tempo passou, os seus passos perderam forças, o seu caminhar já não é mais o mesmo. Isso não importa, o tempo é sábio e coroou de sabedoria. 

Nossas contradições, humanas contradições. Somos plenos e sedentos de nós. Somos plenos e embevecidos em seu sublime amor. As nossas condições humanas, o nosso humano ser se concretiza no sagrado e no divino ser de mãe. 

O mundo em seu vale de lágrimas. 

A dor de mãe e a crueldade do nosso tempo. As feridas dos nossos dias e as dores dos momentos em um instante de suavidade moldado em ternura nas faces de Mãe. Uma história, uma crônica, um conto e um verso na profundidade de uma poesia. São corações envolvidos em êxtase, nutrido pela mais pura essência que perfaz e subtrai de si toda a pureza da face feminina de Deus que transfigura nas faces sublime de Mãe.  

E assim, cada palavra, cada sentimento, cada imagem tecida nesta ode à maternidade, se entrelaça numa aquarela de cores únicas, um tributo à força, ao amor e à beleza que reside no coração materno. Cada linha, cada verso é um hino à eternidade do vínculo entre mãe e filho, um testemunho da luz que uma mãe irradia, mesmo nos dias mais tristes. Porque no final, é o amor de Mãe que ilumina os nossos dias e nos guia para casa, mesmo quando estamos perdidos no labirinto da vida.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Preocupações com a Economia do Brasil

Teremos déficit esse ano, assim como tivemos ano passado e, possivelmente, teremos nos próximos anos, pois a economia está fragilizada

Os jornais têm destacado, diariamente, notícias sobre a economia do Brasil, expressando especial preocupação com o aumento do dólar, o que vai implicar possivelmente uma nova intervenção do Banco Central, com o fracasso do arcabouço fiscal e com a não realização das previsões feitas pelo Ministro Haddad no início no governo.

É evidente que o Ministro foi, de certa forma, prejudicado pelo Presidente Lula no momento em que este não valorizou o arcabouço. Isso faz com que os empresários que investem para que as empresas cresçam no mercado, que gera empregos, pois afinal é o mercado que mede, com sua sensibilidade, se a economia vai bem ou vai mal, fiquem inseguros diante desse cenário.

No momento em que o presidente não deu muita importância à luta do ministro Fernando Haddad, este foi obrigado a reduzir o seu plano, mostrando que o arcabouço fiscal, que já era fraco, ficou muito pior do que o teto de gastos, do Presidente Temer.

Isso tem implicado desconfiança cada vez maior, de que nem mesmo esse novo arcabouço, com novos dados, será respeitado. Fato é que teremos déficit esse ano, assim como tivemos ano passado e, possivelmente, teremos nos próximos anos, pois a economia está fragilizada.

O dólar começa a aumentar não só porque a economia americana é mais forte, obrigando o Banco Central americano a não reduzir os juros para evitar a inflação, mas também porque a economia do Brasil, sendo mais fraca, não possui um plano econômico, já que o arcabouço está vazado pelo próprio governo e o setor mais produtivo, que é o agropecuário, está precisando lidar, no mês de abril, com a invasão de terras pelo MST em nove Estados e com o presidente Lula, segundo os jornais, fazendo a seguinte declaração: “eles têm o direito de brigar”.

Vale dizer, invasão de terras, insegurança jurídica para o setor brasileiro que mais progride (agropecuário) e um arcabouço fiscal insustentável formam uma soma de más notícias que dá saudades do teto de gastos que Michel Temer fixou para segurar a inflação provocada por um governo absolutamente fragilizado, por uma política incorreta no campo econômico da presidente Dilma, a qual acarretou o seu impeachment, levando à justa declaração do presidente do Banco Central brasileiro do risco de medidas mais drásticas do BC para combater eventual surto inflacionário.

Então, a falta de programa econômico, as declarações levianas do presidente Lula, como essa das invasões do MST, a fragilização do arcabouço, a falta de um plano econômico, uma política em que o dólar avança, a Bolsa cai, geram uma sensação de que, com um ano e quatro meses, o governo Lula ainda não fez um programa econômico para o desenvolvimento do país.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


A importância do sono para a aprendizagem infantil 

O sono desempenha uma função vital que vai além do ato de fechar os olhos. De acordo com pesquisas, o sono tem impacto profundo na aprendizagem e na memória. Por esse motivo, devemos estar atentos a esse detalhe na saúde das crianças.

Durante a vida escolar, o pequeno deve conseguir se concentrar para absorver diversas informações e conseguir reter o conhecimento. Logo, se um estudante apresenta dificuldades para se manter acordado e atento, seu desempenho pode ser prejudicado. Isso pode ser um sinal de que o sono não está desempenhando o papel crucial que deveria.

Portanto, quando as crianças não dormem o suficiente, sua capacidade de aprendizado é afetada de forma significativa, pois o sono é como o combustível que alimenta o cérebro. Quando falta, o desenvolvimento pode ser afetado e o desempenho acadêmico pode sofrer.

Os pais devem incentivar o cochilo dos pequenos. Ele é essencial para a consolidação da memória, da atenção e para o desenvolvimento geral das crianças. Também tem impactos no crescimento, principalmente durante a primeira infância.

É essencial cultivar hábitos saudáveis para ter um sono de qualidade. Para isso, certifique-se de que o ambiente, nesses momentos, seja agradável para a criança. O quarto deve ser escuro, silencioso e com uma temperatura agradável, pois é um ambiente confortável e que contribui para um descanso tranquilo.

Além disso, evite estímulos eletrônicos, como tablets e smartphones, antes de dormir. A luz azul emitida por esses aparelhos pode interferir no sono. Opte por atividades relaxantes, como ler um livro.
É importante também evitar comidas pesadas antes de dormir. Indico que os responsáveis incentivem a prática de atividades físicas durante o dia, pois o exercício regular pode promover um sono mais profundo à noite.

Busque promover práticas que auxiliem uma melhor qualidade de vida para seus filhos. Lembre-se, sono é mais do que descanso: é uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento e futuro das nossas crianças.

Luciana Brites é CEO do Instituto Neuro Saber (https://institutoneurosaber.com.br), autora de livros sobre educação e transtornos de aprendizagem, pedagoga, palestrante, especialista em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UniFil Londrina e em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação ISPE-GAE São Paulo, além de ser Mestra e Doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento pelo Mackenzie


Preocupações com a Economia do Brasil

Os jornais têm destacado, diariamente, notícias sobre a economia do Brasil, expressando especial preocupação com o aumento do dólar, o que vai implicar possivelmente uma nova intervenção do Banco Central, com o fracasso do arcabouço fiscal e com a não realização das previsões feitas pelo Ministro Haddad no início no governo.

É evidente que o Ministro foi, de certa forma, prejudicado pelo Presidente Lula no momento em que este não valorizou o arcabouço. Isso faz com que os empresários que investem para que as empresas cresçam no mercado, que gera empregos, pois afinal é o mercado que mede, com sua sensibilidade, se a economia vai bem ou vai mal, fiquem inseguros diante desse cenário.

No momento em que o presidente não deu muita importância à luta do ministro Fernando Haddad, este foi obrigado a reduzir o seu plano, mostrando que o arcabouço fiscal, que já era fraco, ficou muito pior do que o teto de gastos, do Presidente Temer.

Isso tem implicado desconfiança cada vez maior, de que nem mesmo esse novo arcabouço, com novos dados, será respeitado. Fato é que teremos déficit esse ano, assim como tivemos ano passado e, possivelmente, teremos nos próximos anos, pois a economia está fragilizada. O dólar começa a aumentar não só porque a economia americana é mais forte, obrigando o Banco Central americano a não reduzir os juros para evitar a inflação, mas também porque a economia do Brasil, sendo mais fraca, não possui um plano econômico, já que o arcabouço está vazado pelo próprio governo e o setor mais produtivo, que é o agropecuário, está precisando lidar, no mês de abril, com a invasão de terras pelo MST em nove Estados e com o presidente Lula, segundo os jornais, fazendo a seguinte declaração: “eles têm o direito de brigar”.

Vale dizer, invasão de terras, insegurança jurídica para o setor brasileiro que mais progride (agropecuário) e um arcabouço fiscal insustentável formam uma soma de más notícias que dá saudades do teto de gastos que Michel Temer fixou para segurar a inflação provocada por um governo absolutamente fragilizado, por uma política incorreta no campo econômico da presidente Dilma, a qual acarretou o seu impeachment, levando à justa declaração do presidente do Banco Central brasileiro do risco de medidas mais drásticas do BC para combater eventual surto inflacionário.

Então, a falta de programa econômico, as declarações levianas do presidente Lula, como essa das invasões do MST, a fragilização do arcabouço, a falta de um plano econômico, uma política em que o dólar avança, a Bolsa cai, geram uma sensação de que, com um ano e quatro meses, o governo Lula ainda não fez um programa econômico para o desenvolvimento do país.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Casamento se faz com amor e reconquista 

Com os anos de relacionamento, não é incomum que todo aquele encanto, a alegria, o prazer de estar com a pessoa amada enfraqueça, diminua, encolha e desbote. Em outras palavras, a conexão vai se perdendo. E, com ela, a intimidade.

Com a convivência, o desgaste, problemas que todo casal enfrenta, a conexão se reduz ou até desaparece. O grande desafio é mantê-la, é recolocá-la na rotina, é renová-la, reerguê-la. E mesmo fortalecê-la, caso não tenha se perdido. Porque nunca é demais estar cada vez mais ligado a quem se ama.

É preciso entender, antes de tudo, que as formas de se manter conectado a alguém mudam com o tempo. A afinidade inicial, que deu o clique lá atrás, quando vocês começaram o namoro, pode não ser mais a mesma.

Se, com o passar dos anos, você quer voltar ao que o(a) aproximava de seu amor, pode ser que reencontre exatamente aquela conexão inicial – mas pode ser também que ela tenha ficado no passado mesmo, para sempre.

Por isso é importante você conhecer seu(sua) parceiro(a), se interessar por ele/ela, procurar o que a(o) liga a ele/ela agora. Às vezes, como no filme Casal improvável, essa conexão pode estar nos momentos mais banais, mais triviais, mais simples da vida.

Portanto, ela começa de algo que vocês já têm. Não é preciso inventá-la. Claro que não é fácil manter compatibilidade em todas as áreas da vida ao mesmo tempo. As conexões são dinâmicas, como a vida. Por isso, em cada momento, é indispensável saber o que o outro deseja, o que ele/ela pensa, quais são suas demandas e carências.

É a partir daí que novas conexões se tornam possíveis. Isso não quer dizer que elas sejam fáceis. Aliás, é exatamente nos momentos mais difíceis que essa ligação é posta à prova. É fácil conectar-se quando tudo está bem.

Porém, quando seu(sua) companheiro(a) está passando por um mau momento ou quando ele/ela está errando com você, aí é muito trabalhoso manter ou gerar conexão. Ela é a forma como a outra pessoa se sente percebida e amada. Tudo parte daí.

É preciso ser um “operário do amor” e trabalhar muito para que a afinidade não se perca e sempre se renove. Porque, uma vez que diminui, a tendência é que, com o tempo, a distância entre o casal só aumente. A relação madura entre um homem e uma mulher é algo desafiador. É necessário ser criativo(a), interessado(a), paciente, sensato(a). E, principalmente, mobilizar toda a sua capacidade de amar.

Quando falamos em conexão, o objetivo é entender que essa reaproximação, essa reconquista da intimidade transmite ao(à) seu(sua) companheiro(a) a certeza de que ele/ela é amado(a), admirado(a). Isso propicia segurança. Uma pessoa se solta, se desinibe, se conecta somente num ambiente em que se sente segura. As relações afetiva e física dificilmente serão boas num ambiente de insegurança e de desconfiança.

O relacionamento amoroso é uma ótima forma de desenvolvimento pessoal. Observe quanta capacidade, quanta habilidade você precisa desenvolver para manter um namoro ou um casamento. Ou seja, a partir de um relacionamento saudável você se prepara para lidar com o trabalho, com as amizades, com os filhos, com os pais. É em casa que aprendemos a cuidar, a amar. A conexão gera harmonia e entendimento.

Déa Jório, fisioterapeuta especialista em Saúde da Mulher, e Jal Reis, terapeuta e educador sexual, casados há 10 anos e autores do livro “21 Hábitos para
Apimentar o Relacionamento”


Aborto: a vida começa na concepção - recente resolução do Conselho Federal de Medicina

O Conselho Federal de Medicina (CFM)  publicou no Diário Oficial da União (DOU), Resolução 2.378, de 2024, que veda a realização da assistolia fetal em gestações com mais de 22 semanas para casos de aborto oriundos de estupro. Ou seja, declarou que a partir do 22º mês de gestação, mesmo nas hipóteses permitidas pelo artigo 128 do Código Penal, que são os casos de aborto terapêutico ou do aborto por estupro, já não é mais possível realizar o aborto. O procedimento provoca a morte do feto por meio da administração de substâncias (geralmente são aplicadas altas doses de cloreto de potássio no coração de bebês com mais de 22 semanas de gestação) para, depois, ser retirado do útero da mulher.

A definição desse prazo final pelo Conselho Federal de Medicina  tem sua razão de ser. É que, o nascituro com 22 semanas, tem condições, embora prematuro, de sobreviver. Então, é um ser humano pleno, com a possibilidade de viver fora do ventre materno por causa das técnicas modernas de recuperação do feto nessa fase de desenvolvimento. Agora, a partir dessa histórica resolução do Conselho Federal de Medicina, as crianças com mais de 22 semanas terão direito ao parto antecipado. Caso a mãe não queira permanecer com o filho, deverá ser encaminhada para adoção. É um ser humano.

O Conselho Federal de Medicina diz que o aborto nos casos de estrupo é permitido antes da viabilidade de vida extrauterina, o que desaparece a partir da 22ª semana. Há muitos que têm criticado essa decisão, dizendo que o Código Penal, de 1940, permite o aborto em qualquer hipótese. A ser válida a tese, matar um nascituro, um minuto antes de nascer não seria crime, mas 1 minuto depois de nascido seria um homicídio. Nada mais ilógico que tal interpretação.

Não é verdade, também, porque nós temos um princípio na Constituição Federal que consagra a inviolabilidade do direito à vida. Vale dizer, se a vida extrauterina é possível a partir da 22ª semana, significa que aquele ser humano tem a garantia absoluta constitucional à vida pelo “caput” do artigo 5º, que explicita quando começa ser inviolável o direito à vida.

Sempre defendi que, após a Constituição de 5 de outubro de 1988, data em que foi promulgada, o próprio Código Penal tinha sido revogado. Sendo assim, qualquer que fosse a hipótese do aborto seria proibida porque a vida começa na concepção. Aliás, é o que diz o Código Civil, em seu artigo 2º e o que dizia o Código anterior no artigo 4º. 

O Supremo Tribunal Federal, entretanto, em um auto poder outorgado de legislar, criou uma Terceira hipótese de não punibilidade, que é a do aborto eugênico. Não se trata, pois, do aborto terapêutico, caso em que a gravidez gera risco de morte da mulher, mas sim do caso em que o feto esteja mal formado, hipótese esta não criada pelo Poder Legislativo, mas sim por um poder auto concedido ao Judiciário, já que não constante da legislação.

Portanto, o Supremo Tribunal Federal, criou uma Terceira hipótese, que é a do aborto eugênico, para não permitir que um feto mal formado venha a nascer.

Ora, a decisão do Conselho Federal de Medicina é de absoluta lógica: se o feto tiver condições de vida extrauterina, não poderá haver aborto, porque aquele nascituro continuará a viver fora, assim como está vivendo no ventre materno.

Então, as críticas que fazem ao Conselho Federal de Medicina, além de não serem aceitáveis, representam, na verdade, a defesa do homicídio uterino, do assassinato de seres humanos já com condições de vida fora do ventre materno.

Quero, pois, cumprimentar o Conselho Federal de Medicina por ter tomado científica posição em relação às hipóteses de aborto permitidas pelo Código Penal, no artigo 128, enquanto o feto não tiver condições de vida extrauterina. Tendo condições de vida extrauterina, em nenhuma hipótese, o aborto é permitido.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Criar redes integradas por território é a solução para o SUS 

O Sistema Único de Saúde (SUS), uma conquista histórica do povo brasileiro, enfrenta uma crise sem precedentes, refletida em longas filas de espera, hospitais superlotados e tempos de espera inaceitáveis para atendimento e cirurgias. 80% da população brasileira depende exclusivamente do SUS.

Com relatos de pacientes aguardando mais de 11 horas por um atendimento básico, e filas de espera de mais de 6 meses para a realização de cirurgias essenciais, é evidente que o atual modelo do SUS não está atendendo às necessidades da população de forma eficaz.

A descentralização por meio das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), embora tenha sido uma tentativa de aliviar a demanda nos hospitais centrais, revelou-se insuficiente para resolver os problemas fundamentais de acesso e qualidade nos serviços de saúde.

O atual cenário do SUS é alarmante e exige uma ação imediata. Não podemos mais aceitar que os brasileiros enfrentem condições tão precárias de atendimento médico, colocando em risco sua saúde e bem-estar.

Diante desse contexto crítico, é necessário um esforço conjunto do governo, profissionais de saúde, instituições acadêmicas e a sociedade civil para remodelar o SUS e garantir um sistema de saúde acessível, eficiente e de qualidade para todos os brasileiros.

Na minha visão, estudos e experiência de mais de 30 anos no setor de saúde, está mais do que na hora de agir, de remodelar este atendimento e de criar uma Política Nacional de Qualidade para dar uma sustentabilidade ao setor. Caso nada seja feito vamos viver um colapso na saúde pública.

E a saída está na própria história do SUS: criar redes integradas por território, ou seja, cuidar das pessoas por região e de forma unificada e multidisciplinar. Desta forma, evitamos as longas filas e as idas e vindas da população nos postos de saúde por diversos bairros.

A remodelação do SUS não é apenas uma questão de política de saúde, mas sim uma questão de justiça social e direitos humanos. Todos os brasileiros têm o direito constitucional a um sistema de saúde público, gratuito e de qualidade, e é nosso dever garantir que esse direito seja respeitado e cumprido.

Mara Machado é CEO do Instituto Qualisa de Gestão (IQG), que há 30 anos capacita pessoas e contribui com as instituições de saúde para reestruturar o sistema de gestão vigente, impulsionar a estratégia de inovação e formar um quadro de coordenação entre todos os atores decisórios. O IQG vem trabalhando com parceiros internos do setor e externos para favorecer a geração de novas frentes para o sistema e colocar os prestadores de serviços em posição mais ativa. Atua no desenvolvimento de novas e modernas soluções para atender com agilidade as exigências do mercado atual.


O aumento da corrupção no país: Brasil, que país é este? 

Recentemente, a revista The Economist, talvez a mais importante publicação sobre a economia do mundo, mostrou, um retrato vergonhoso para o Brasil no que diz respeito ao aumento da corrupção no país, avaliação feita pela Transparência Internacional, que mede a corrupção em todos os países do mundo.

Nós mostramos, efetivamente, esses dados em nosso novo livro “Brasil, que país é este?”, escrito com Samuel Hannan, ex-vice governador do Amazonas.

De rigor, caímos, no combate à corrupção, 25 posições, da 69ª para a 104ª posição entre todos os países do mundo avaliados pela Transparência Internacional, isto é, nos 140 países em que faz o levantamento. A avaliação não é realizada em todos os países do mundo, porque com assento na ONU, temos pouco mais de 190.

De qualquer forma, entre os 140 pesquisados, estarmos colocados na 104ª posição por corrupção é algo vergonhoso.

Nós estávamos na posição 69ª no começo do século, caímos, portanto, uma barbaridade de posições. The Economist analisa também as razões do aumento de corrupção na América Latina e mais do que o Brasil, só o Peru caiu 20 posições em 10 anos, tendo o México também caído.

A Transparência entende que, as Operações Lava Jato e Mãos Limpas, na Itália, foram operações de combate à corrupção, embora desmoralizadas em seus respectivos países, ao ponto de voltar a corrupção na Itália e no Brasil, o que certamente nos leva a ocupar essa vergonhosa posição.

Mas há outros dados que também me preocupam. Quero trazer alguns deles para os amigos leitores de como, nos últimos 30 anos, pioramos.

A taxa média de crescimento do PIB, de 1956 a 1961, foi de 8,6%; de 1964 a 1968, de 6,5%; de 1989 a 2023, caiu para 2,11 % de crescimento em relação ao PIB; a perda de participação no PIB mundial, de 1980 até agora, foi de 35,8%. A carga tributária bruta, quando nós tínhamos uma posição, que era confortável, de um crescimento da ordem de 6,5%, em 1988 era de 22,4%, mas tivemos um aumento para 33,7%, ou seja, de 50% de elevação da carga tributária, com queda do desenvolvimento nacional.

O aumento da corrupção deveu-se, em grande parte, ao aumento da burocracia.

Para ter-se noção, entre 1988 a 2023, passamos de 4.121 municípios em 1988, para 5.569 municípios, dos quais 24% deles têm menos de 5 mil habitantes.

Outros 23% desses municípios têm entre 5 e 10 mil habitantes e 23% dos outros têm 10 a 20 mil, o que vale dizer, praticamente 70% dos municípios criados têm menos de 20 mil habitantes, mas possuem a possibilidade de ter nove vereadores, prefeito e gastar dinheiro com essas estruturas. São Paulo, com 11,5 milhões de habitantes, é legislado por 55 vereadores. O município de Serra da Saudade tem 803 habitantes e 9 vereadores, que é o mínimo imposto pela Constituição.

Mostramos, portanto, no livro, “Brasil, que país é este?” escrito com Samuel Hannan, o grande pesquisador do mesmo, por que nós patinamos, fundamentalmente, por termos permitido o crescimento de uma estrutura burocrática que reduziu o Brasil para essas posições vergonhosas na maior parte dos índices conhecidos.

Vale lembrar que só entre os grandes detentores do poder: presidente, governadores, prefeitos, deputados federais e estaduais, senadores, ministros e secretários de Estado, exclusivamente, ou seja, aqueles que estão no topo da administração, o Brasil tem 755 mil autoridades maiores.

O Poder Judiciário consome 1,66% do PIB, sendo que a média mundial é de 0,37%. Gastamos quatro vezes mais do que todos os outros países para sustentar a estrutura judiciária da nação.

Essa é a razão pela qual tenho dito que, nesses 30 anos, o Brasil caiu assustadoramente em nível de progresso, porque já chegamos a ser a oitava economia do mundo em um período anterior. Agora estamos, em verdade, com um custo burocrático, que é um dos maiores de todo o mundo, o que não permite o desenvolvimento. A OCDE declara que no mundo o custo burocrático é de menos que 10% do PIB, no Brasil é superior a 13%!!!

O problema não é só o pagamento desse custo burocrático, é que esse custo cria obrigações para o cidadão; só para se ter noção, para abrir-se uma empresa na Inglaterra, basta preencher um formulário e enviá-lo para o Governo e já está aberta. No Brasil, chegou-se a levar dois, três meses para que a aprovação sobre o pedido fosse concedida, isso por causa de todos aqueles funcionários responsáveis pelos carimbos de autorização, para que a empresa pudesse começar a funcionar. Hoje melhorou um pouco, mas, de qualquer forma, ainda temos uma burocracia que cria obrigação tilde; sobre obrigações para o cidadão brasileiro e sobre as empresas, o que dificulta o progresso do país.

São dados, levantados pelo Samuel Hanan, que escreveu comigo o livro “Brasil, que país é este?”. Na obra, não fazemos críticas às pessoas, àqueles que detêm o Poder, mas avaliamos a estrutura do Poder que nos leva a viver em um país burocrático que emperra o crescimento empresarial e do povo brasileiro.
Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


A última carta 

Se a perda se refere a um ente querido, é necessário conscientizar quem perdeu (mesmo que seja criança) de que, na verdade, não houve perda. A pessoa querida, estando em Deus, pode nos acompanhar melhor, com muito carinho, e nEle podemos encontrá-la.   Padre José Someti.

O que poderia ainda dizer às mães e pais que perderam seus filhos… Tenho recebido várias mães que vivem o luto, algumas perderam seus filhos recentemente, outras há muitos anos. Importante ressaltar que o tempo passa diferente para as pessoas enlutadas. Não é o tempo comum marcado pelo relógio, pelo calendário, denominado cronus. Podem ter se passado meses, anos, mas cada pessoa sente e sofre de modo particular. Vivemos o tempo do kairós... Assim, por vezes não somos compreendidos. Não podemos julgar a dor do outro pela duração do tempo que ele vive o luto. E não há como cobrar ou comparar a dor: ela é subjetiva.

Decidi escrever uma última carta após algumas leituras, pelo alento que tenho recebido ao receber palavras de fé e esperança nas Homilias que frequento e diante de diálogos com mães e pais enlutados. Porque creio que podemos nos fortalecer quando colocamos nossas esperanças no Senhor, quando fixamos nosso coração em Seu olhar. Temos o exemplo de Pedro, quando passava pela tormenta no barco em que estava e o medo dominou seu coração. Então viu Jesus caminhando sobre as águas. Naquele momento ele não achou que fosse o Senhor e perguntou:

“Senhor, se és tu, manda-me ir a teu encontro, caminhando sobre a água”.

Então algo extraordinário aconteceu: Jesus convidou o apóstolo a ir até Ele caminhando sobre as águas. Pedro foi ao encontro de Jesus. Conseguiu caminhar sobre o mar. Porém, um tempo depois entrou em desespero e começou a afundar. Quando ocorreu isso? Quando Pedro tirou os olhos do Senhor! Mas veja que depois ele clamou por socorro e o Senhor o salvou. Creio que essa passagem do Evangelho de Matheus nos ensina e define bem um caminho para todos nós: colocarmos nosso olhar, nosso coração, fixo no olhar de Jesus. Acreditar. Ele não nos desampara. Está firme ao nosso lado, mesmo que por vezes não consigamos ver.

E gostaria de compartilhar algumas palavras de uma mãe, Susie, na ocasião da data comemorativa do aniversário de seu filho Marcelo, que morreu tragicamente aos doze anos de idade. Eu havia ligado no sentido de dar algum conforto a ela, pois, posso dizer por mim mesma que a data de aniversário é o dia mais triste do ano, em que nos lembramos mais ainda de nossos filhos, das coisas que fazíamos com eles... Mas ocorreu que ao ligar fui surpreendida por palavras de fé que aqueceram meu coração:

“Datas comemorativas, aniversários, festas, são sempre muito difíceis; você fica lembrando o que fazia com seu filho no aniversário dele… mas, precisamos nos lembrar que tudo isso que vivemos é provisório, temporário. Tudo que vivemos tem um propósito para o nosso aprendizado. Peço força a Deus e força para a mãe Maria. Vamos caminhando na fé, porque temos um Deus maravilhoso”.

Confesso que fiquei repetindo para mim mesma as palavras de Susie: tudo isso que vivemos é provisório! E ao conversar com ela citei uma explicação que ouvi em uma homilia do Padre Pablo Henrique: 

“Tudo o que vivemos, todo sofrimento que estivermos enfrentando será muito pequeno se comparado à eternidade”.

Diante do diálogo que tivemos, compartilhei com algumas mães que vivem a tristeza do luto, apesar de passados muitos anos. Comecei a repetir as palavras de fé que trouxeram sentido, que acalentaram meu coração. Podemos não compreender o sentido de tanto sofrimento, mortes, tristezas, mas, diante da eternidade, tudo que temos passado realmente se tornará algo muito breve, como um sopro. Sem falar em tudo o quanto viveremos quando terminarmos aqui a nossa jornada. E sobre eternidade, Paulo Gianolla, pai de Marcelo, define muito bem o que ela representa: 

“Eternidade não é o tempo sem fim, em que ficaremos sem fazer nada para todo o sempre. Eternidade é o tempo não tempo! A primeira coisa que muda quando morremos é que acaba o “tempo” e começamos a fazer parte dessa Eternidade: que era, que é e que há de vir. Deus lá do céu vê toda a história, em todo o tempo. Nós vemos somente a sequência linear: começo, meio e fim. Como missionários do Reino devemos ser a Luz e o Evangelho que os outros não veem e não leem. Que Ele seja visto em nós, em nossas atitudes; que sejamos a pequena amostra dEle nas pessoas”.

Podemos achar que nosso sofrimento é grande demais, que está acima de nossas forças, que não suportaremos. Infelizmente conheço pessoas que desistiram de suas vidas após a morte dos filhos. Ficaram encarceradas, presas na dor. Não há como julgá-las. Precisam ser acolhidas. Reconheço que tens dias em que tudo fica mais triste, mais difícil de suportar a ausência de Marcos, apesar de passados vários anos. Mas, principalmente nestes momentos, costumo me lembrar que um dia tudo isso findará e que ele está vivo, guardado com o Senhor. Nossos filhos e filhas, assim como tantas pessoas que amamos, aguardam por nós. E creia: recebem nossos atos de amor, as ofertas e orações. Estão vivos, porque:

“Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6). Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos”.

E Cristo nos deixou a promessa que estará sempre conosco, até o final dos tempos. Veja que Deus não separa aqueles que se amam, porque não é somente bom: Ele é A Bondade! Tenho para mim que as mães e pais enlutados são verdadeiros soldados; cada um enfrenta sua batalha particular, mas, apesar da dor, caminham corajosamente. Porque sabemos que não estamos sozinhos.

Como tenho escrito nas cartas anteriores: vamos viver um dia por vez. Só por hoje não vamos chorar; só por hoje não vamos nos entristecer; só por hoje vamos dar o nosso melhor. Colocar em cada pequeno ato do nosso dia muita dedicação e amor (Pequena via de Santa Terezinha). Seja na preparação de um bolo, na arrumação e limpeza da casa; em nosso trabalho, ao lidarmos com problemas, com pessoas difíceis (ou duras de coração); no auxílio a doentes; no cuidado com as crianças; nas tarefas de doação em trabalhos sociais; na atuação na igreja, a qual você talvez passa parte. Enfim, colocarmos o amor nas pequenas ações. Trabalhar em prol do bem com determinação e constância. Viver o momento presente. Porque amanhã talvez não estejamos mais aqui.

Peçamos então ao Senhor para que nos dê a força do Espírito Santo, a força que moveu tantos santos e mártires, a que os apóstolos receberam para seguir a Jesus, para enfrentar a própria morte. Vamos pedir pela fortaleza, para não desanimarmos, não desistirmos da vida. Se estamos aqui é porque ainda temos um propósito a realizar. Vamos marchar, como Moisés no deserto. Sempre que me refiro ao ato de “marchar” perante os acontecimentos, sofrimentos, me recordo de minha avó, de minha mãe. Elas me ensinaram a não lamuriar, não se vitimizar perante os sofrimentos, mas antes, enfrentar a vida com fé e esperança, sem jamais desanimar, sem se deixar abater, dando sempre o melhor de si. Porque sabiam que suas vidas tinham um sentido maior.

Que o Senhor seja nosso amparo, que possamos cumprir tudo o quanto Ele planejou para nós. E no final de tudo, quando olharmos para o que foi a nossa vida, veremos que demos o nosso melhor, que não desanimamos – não desistimos.

Porque sabemos para onde vamos!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com



A importância da constituição 

Hoje temos uma Constituição que, apesar de extremamente prolixa e repleta de disposições que não possuem densidade constitucional, talvez seja a Constituição que mais incorporou aspectos fundamentais, haja vista a valorização dos direitos individuais, coletivos, dos cidadãos, políticos, de cidadania, sociais, além da harmonia e independência entre os Poderes.

Quando foi convocada a Constituinte, nós tínhamos um regime no qual o Poder Executivo era predominante e governava por decretos-leis “que não podiam sequer ser modificados no Congresso, o qual poderia aprovar ou rejeitar, mas não apresentar emendas”, e um Poder Judiciário sendo que não havia nenhuma possibilidade de qualquer instituição apresentar as Ações Diretas de Inconstitucionalidade, já que o Procurador-Geral da República era o único que tinha legitimidade ativa para tanto.

Com isso, havia propostas de inconstitucionalidade de leis estaduais, mas jamais de leis federais, porque quem podia propor era o próprio advogado de quem fazia as leis, isto é, do presidente da República, que governava por decretos-leis.

Com o advento da Constituinte, participei de diversas audiências públicas, e constantemente mantive contatos com Bernardo Cabral e Ulisses Guimarães, respectivamente relator e presidente da Constituinte. O deputado Ulisses Guimarães assistiu palestra minha sobre o parlamentarismo, sendo que o projeto da Constituição foi parlamentarista até a Comissão de Sistematização. Procuraram, os Constituintes, garantir os direitos individuais e, ao mesmo tempo, que os Poderes fossem harmônicos e independentes.

Colocaram, logo no artigo primeiro, que quem era soberano em uma democracia real era o povo. Quem poderia dizer o que é ou não democracia era o povo, através de seus representantes, eleitos por eleição, não indicados ”houve um período em que senadores eram indicados pelo presidente da República”, e o artigo primeiro declara, através dos seus representantes, o povo é o soberano, é o que pode, efetivamente, definir a democracia no país.

Por essa razão, é que, no Título IV da Constituição, o primeiro Poder que aparece é o Legislativo, por uma única razão: é o único Poder dos três que tem a representação da totalidade da nação, onde encontramos a situação e a oposição. A maior representação é, portanto, daqueles que elaboram as leis, manifestando a vontade do povo (artigo 44 a 69).

O segundo Poder, previsto nos artigos 76 a 91, é o Executivo, que representa a maioria do povo (salvo quando há 2º turno, caso em que muitos votam por exclusão, porque no 1º turno tinham um candidato próprio).

O terceiro Poder não é representativo do povo nem por ele eleito, sendo, pois, um poder técnico, que representa a lei, já que as pessoas que o integram possuem conhecimento para garantir o Direito. O Poder Judiciário não seria nada se não tivesse duas instituições fundamentais: o Ministério Público e a Advocacia, que formam o tripé fundamental.

Por essa razão, é um poder técnico, que não elabora a lei, nem pode fazê-lo, segundo a Constituição, pois a ele cabe a garantia da lei e da Constituição, com a colaboração da Advocacia e do Ministério Público.

Assim, as três Instituições são importantes. Recentemente, em conversa com o ex-presidente Michel Temer (que também foi professor de Direito Constitucional) falamos sobre a relevância do fato dele ter inserido na Constituição, como Constituinte, o artigo 133, que prevê a inviolabilidade do advogado no exercício das suas funções.

Ora, esse equilíbrio dos três Poderes com funções exaustivamente definidas na Constituição é que justifica o artigo segundo. Se o primeiro diz que o povo é soberano, e manifesta-se, através dos seus Poderes representativos, Executivo e Legislativo, o poder técnico que abrange o Poder Judiciário (92 a 126), o Ministério Público (127 a 131) e a Advocacia (133 a 135), é um poder que tem que viver em harmonia e independência com os outros.

Isso foi o que os Constituintes desejaram, tanto que para preservar essa independência e harmonia, atribuíram ao Legislativo, onde encontramos situação e oposição, o artigo 49, inciso XI, a seguinte disposição: zelar ”a expressão é zelar” pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes. Trata-se, pois, do sistema de freios e contrapesos, que é típico do direito Americano.

O poder técnico (Poder Judiciário) só pode atuar como legislador negativo, vale dizer, pode declarar que uma lei é inconstitucional, mas não pode jamais legislar no lugar do Legislativo. É o que está no artigo 49, inciso XI, no sentido de que a quem cabe zelar pela sua competência é o próprio poder, não podendo delegá-la.

Creio, pois, que como juristas, temos que conhecer a espinha dorsal (harmonia e independência entre os Poderes) da Constituição, não obstante sua adiposidade.

Certa vez em um debate na Folha de S. Paulo com o Celso Antônio Bandeira de Mello, Nelson Jobim e Bernardo Cabral, defendi essa posição e os três concordaram inteiramente comigo.

Mais do que isso, o relator da Constituição, Bernardo Cabral, que atualmente preside o Conselho de Notáveis da Federação do Comércio, dizia que era a posição dele também. Ele que foi eleito pela Constituinte para ser o relator, chegando a receber 2.500 artigos, propostas que teve de conciliar e que ele compactou em 245.

Por essa razão, digo o que está escrito na Constituição o que muitos, até mesmo na Suprema Corte, não perceberam ainda ou, se perceberam, não quiseram aceitar.

Os relatores, participantes, políticos e professores que acompanharam o processo constituinte são testemunhas de que durante três meses, os Constituintes não discutiram nada, pois convocaram especialistas para, em audiências públicas, exporem a sua opinião sobre a Constituição.

Eu mesmo fui a duas audiências públicas e depois continuei a dar as minhas opiniões com Delfim Neto, Dornelles, Bernardo Cabral e Ulisses, cada vez que me mandavam um texto. Digo isso para mostrar a preocupação que os Constituintes tiveram em ouvir especialistas, antes de escreverem o texto definitivo.

Por isso é fundamental que todos percebam que, de rigor, o Texto Maior e o que nele está escrito é o estatuto que um povo escolhe para si, ou seja, para saber como vai organizar sua vida, sendo imprescindível dar-se importância à supremacia da Constituição.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


A última carta 

O que poderia ainda dizer às mães e pais que perderam seus filhos… Tenho recebido várias mães que vivem o luto, algumas perderam seus filhos recentemente, outras há muitos anos. Importante ressaltar que o tempo passa diferente para as pessoas enlutadas. Não é o tempo comum, registrado pelo calendário. Podem ter passado meses, anos, décadas, mas cada pessoa sente e sofre de modo particular. Não há como cobrar ou comparar a dor: ela é subjetiva.

Decidi escrever uma última carta após conversar com Susi, sobre o que ela me falou, na data comemorativa do aniversário de seu filho Marcelo, que morreu tragicamente aos doze anos de idade. Eu havia ligado no sentido de dar algum conforto, pois, posso dizer por mim mesma que a data de aniversário é o dia mais triste do ano, em que nos lembramos mais ainda de nossos filhos, das coisas que fazíamos com eles... Mas ocorreu que, ao ligar para ela, fui surpreendida por palavras de fé que aqueceram meu coração:

“Datas comemorativas, aniversários, festas, são sempre muito difíceis; você fica lembrando o que fazia com seu filho no aniversário dele… mas, precisamos nos lembrar que tudo isso que vivemos é provisório, temporário. Tudo que vivemos tem um propósito para o nosso aprendizado. Peço força a Deus e força para a mãe Maria. Vamos caminhando na fé, porque temos um Deus maravilhoso”.

Confesso que fiquei repetindo para mim mesma as palavras de Susi: tudo isso que vivemos é provisório! E ao conversar com ela citei uma explicação que ouvi em uma homilia do Padre Pablo Henrique: “Tudo o que vivemos, todo sofrimento que estivermos enfrentando será muito pequeno se comparado à eternidade”.

Diante do diálogo que tivemos, passei a ligar no mesmo instante para algumas mães que vivem a tristeza do luto, apesar de passados muitos anos. Comecei a repetir as palavras de fé que trouxeram sentido, alento à minha dor. Podemos não compreender o sentido de tanto sofrimento, mortes, tristezas, mas, diante da eternidade, realmente se tornará algo muito breve, como um sopro. Sem falar em tudo o quanto viveremos quando terminarmos aqui a nossa jornada.

Podemos achar que nosso sofrimento é grande demais, que está acima de nossas forças, que não suportaremos. Infelizmente conheço pessoas que desistiram de suas vidas após a morte dos filhos. Ficaram encarceradas, presas na dor. Não há como julgá-las.

Precisam ser acolhidas. Reconheço que tem dias em que tudo fica mais triste, mais difícil de suportar a ausência de meu filho Marcos, apesar de passados vários anos. Mas, principalmente nestes momentos, costumo me lembrar que um dia tudo isso findará e que ele está vivo, guardado com o Senhor. Nossos filhos e filhas, assim como tantas pessoas que amamos, aguardam por nós. Eles recebem nossos atos de amor, as ofertas e orações.

Eles estão vivos, porque: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6). Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos”.

E Cristo nos deixou a promessa que estará sempre conosco, até o final dos tempos.

Veja que Deus não separa aqueles que se amam, porque Ele não é somente bom: Ele é A Bondade!

Tenho para mim que as mães e pais enlutados são verdadeiros soldados; cada um enfrenta sua batalha particular, mas, apesar da dor, caminham corajosamente. Porque sabemos que não estamos sozinhos.

Como tenho escrito nas cartas anteriores: vamos viver um dia por vez. Só por hoje não vamos chorar; só por hoje não vamos nos entristecer, só por hoje vamos dar o nosso melhor. Colocar em cada pequeno ato do nosso dia a dia muita dedicação e amor (Pequena via de Santa Terezinha). Seja na preparação de um bolo, na arrumação e limpeza da casa; em nosso trabalho, ao lidarmos com problemas, com pessoas difíceis (ou duras de coração); no auxílio a doentes, no cuidado com as crianças; nas tarefas de doação em trabalhos sociais, na atuação na igreja, a qual você talvez passa parte. Enfim, colocarmos o amor nas pequenas ações. Trabalhar em prol do bem com determinação e constância.

Viver o momento presente. Porque amanhã talvez não estejamos mais aqui.

Peçamos então ao Senhor para que nos dê a força do Espírito Santo, a força que moveu tantos santos e mártires, a que os apóstolos receberam para seguir a Jesus, para enfrentar a própria morte. Vamos pedir pela fortaleza, para não desanimarmos, não desistirmos da vida. Se estamos aqui é porque ainda temos um propósito a realizar. E no final de tudo, quando olharmos para o que foi nossa vida, veremos que fomos salvos pelo Amor.

Que possamos ter a certeza de Jó: “No final, eu sei que verei o meu Senhor”.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com



Segurança infantil: evite brinquedos perigosos 

Quando vamos presentear uma criança devemos avaliar sobre qual brinquedo comprar para garantir a segurança delas. É muito importante estar atento ao bem-estar dos pequenos, seja com brincadeiras ou brinquedos.

Diante de tantas opções nas prateleiras, surge a dúvida de qual seria a escolha certa. As crianças são curiosas e adoram explorar o mundo ao seu redor, incluindo os brinquedos. Lembre-se que nem todos os brinquedos são seguros e alguns podem até oferecer risco à vida da criança.

Os brinquedos perigosos podem causar diversos acidentes às crianças, como cortes, intoxicação, asfixia ou até mesmo choques elétricos. Uma das dicas que devemos estar mais atentos é se o brinquedo possui o selo do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).

Outra questão é se o brinquedo que você escolheu se encaixa na faixa etária da criança. Verifique sempre a idade recomendada pelo fabricante do produto.

Tenha cautela e avalie todos os possíveis riscos. Observe quais são os materiais utilizados na fabricação dos brinquedos, por exemplo. Evite produtos tóxicos e peças pequenas que as crianças possam engolir ou aspirar. Certifique-se de que os brinquedos de plástico sejam livres de ftalatos, um composto químico prejudicial à saúde infantil.

Além disso, os pais devem sempre estar zelosos e supervisionar a criança durante o uso de brinquedos para garantir a segurança delas. Verifique também às recomendações de uso e montagem do produto. Apenas libere para o uso após verificar que todas as peças estão firmes e fixadas corretamente. Caso haja algum defeito ou problema, entre em contato com o fabricante ou loja onde foi adquirido para buscar uma solução.

Essas medidas simples podem fazer toda a diferença na prevenção de acidentes e lesões. Queremos ver os pequenos sempre alegres, bem desenvolvidos, saudáveis e longe de qualquer perigo. Com a prevenção na medida certa, podemos proporcionar momentos de diversão para nossas crianças com segurança.

Luciana Brites é CEO do Instituto NeuroSaber (https://institutoneurosaber.com.br), autora de livros sobre educação e transtornos de aprendizagem, pedagoga, palestrante, especialista em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UniFil Londrina e em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação ISPE-GAE São Paulo, além de ser Mestra e Doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento pelo Mackenzie


O poder da música 

A música age em diversas partes do cérebro, razão pela qual se mostra tão efetiva no tratamento de inúmeras doenças. Estudos indicam que a música agradável altera as estruturas cerebrais e gera um sistema de recompensa. Pode ser usada no combate à depressão, ao estresse, à ansiedade, no tratamento de pacientes com dores crônicas, dentre outros problemas. Devido a esse reconhecimento do poder terapêutico da música é que surgiu a Musicoterapia. A música é capaz de despertar emoções e estimular interações sociais, auxiliando na recuperação do paciente. Pode despertar emoções, evocar lembranças, provocar uma série de respostas no corpo humano. 

Assim, ouvir música não é apenas um lazer: pode ter efeitos terapêuticos e ser parte das estratégias de estímulo de áreas do cérebro que despertam os potenciais de aprendizagem.

Quando ouvimos uma música agradável, principalmente as que gostamos, o cérebro tende a liberar endorfina. Esse processo proporciona um alívio natural para as dores. A dopamina também é liberada, com a capacidade de provocar emoções, alterar os pensamentos, trazer otimismo, vivacidade, recarregar a energia, elevar o humor. Há uma conexão com os sentimentos internos e experiências pessoais. Repare como as músicas tendem a marcar épocas, a gravar em nossa memória momentos inesquecíveis.

Não são somente as músicas instrumentais e eruditas que são capazes de reduzir os sintomas da ansiedade, ou tratar outras doenças, como também as músicas populares, de boa qualidade. Mas também pode acontecer o contrário: músicas ruidosas, dissonantes, podem alterar a estrutura cerebral e causar ansiedade, estimular a hiperatividade, dentre outros problemas.

Já imaginou se não existissem as canções? Como seria o mundo sem a música… Não consigo sequer imaginar, pois, me acompanha em todos os momentos do dia a dia (sejam alegres ou tristes). Pense nas músicas mais bonitas que você já escutou. Fica difícil elencar algumas ou identificar as mais belas, pois outras canções ficariam excluídas. Mas, mesmo assim, arrisco rememorar algumas que acredito serem imortais diante da beleza e magnitude. Existem trilhas sonoras de filmes que marcaram época de tão magníficas; algumas foram tão impactantes que penso que sem elas o filme sequer existiria… Consegue imaginar o filme “Tubarão” sem a música tema ao fundo? Creio que sem as trilhas sonoras os filmes perderiam grande parte de sua beleza, ou impacto. Assista os filmes: “A Missão”; “Cinema Paradiso” ou “Era uma vez no oeste”, todas do magnífico Ennio Morricone, e experimente retirar a música. Ficariam desfigurados, sem sentido.

Eu ficaria descrevendo inúmeros filmes ou obras consagradas e eternizadas no tempo como: Carmina Burana, de Carl Orff, “Sonata ao Luar” de Bethoven, ou as peças de Bach, Mozart, Choppin (já incorri em pecado, pois deixei inúmeras canções de fora!). São músicas tão belíssimas que é quase impossível permanecer inalterado após ouvir estas magníficas canções.

A música (boa) possibilita a experiência da sensibilidade, de nos remeter ao Belo, ao Justo e Verdadeiro. A arte tem este poder. Consegue nos conduzir a algo mais profundo e nos afastar, por um momento que seja, de nossas mazelas, dores. Proporciona suspender o tempo, o cotidiano (quicá nos levar a pensar sobre o que estamos fazendo com nossas vidas).

A música pode nos aproximar do Eterno, nos elevar – é como se experimentássemos um pedacinho do céu… Podemos acessar nossos sentimentos, emoções, encontrar equilíbrio, paz, motivação; faz brotar a esperança, o espírito de fortaleza, para que possamos enfrentar as contingências diárias. É como se pudéssemos recarregar nossa energia e, com força renovada, devolver ao mundo um pouco de generosidade, usar de pequenas delicadezas, pequenos atos de amor, com a proposta de um mundo melhor (por mais piegas que possa parecer).

Como já descrevi, o contrário também é verdadeiro. Há músicas que possuem o poder de nos perturbar, alterar nossos sentimentos, trazer irritação, ansiedade ou nervosismo. As batidas pesadas, sincopadas, aliadas aos tons dissonantes, alteram as ondas cerebrais, entorpecem a consciência, modificam o estado emocional, podendo baixar o padrão moral (e espiritual). Repare nas músicas eletrônicas mixadas, para animação de discoteca, elas possuem um ritmo acelerado, com batidas estridentes, ruidosas, dissonantes (para mim são de enlouquecer!). Várias músicas podem nos afetar negativamente, desde o Hard Rock, em que se usam guitarras com sons metálicos e distorcidos, ou, Hap, Funk, dentre outras, em que o recurso do barulho é a meta, sem atentar para o “belo”. Com o tempo, as pessoas vão se acostumando aos sons ruidosos, distorcidos, feios. O gosto musical vai se transformando. 

Importante destacar o que o apóstolo Paulo revela: “fides ex audito”, ou seja, a fé vem da audição, do ouvir. Deus criou o mundo por meio da palavra; criou um mundo harmônico, belo. A música nos afeta espiritual e fisicamente. Ela cria uma harmonia no cérebro da pessoa. Podemos ficar deprimidos ou alegres dependendo do tipo de música, pois ela afeta nosso humor, nosso comportamento, nossa alma.

Certa vez, li um livro, não me recordo se era uma lenda ou conto, que dizia que há músicas que são feitas primeiramente no Céu, inspiradas e tocadas pelos anjos, por isso são tão belíssimas... E explanava que outras são feitas no próprio inferno, diante da vulgaridade da letra e por despertarem o que há de pior, sendo convites à degradação. 

Gostaria de deixar uma última reflexão: repare como as pessoas, mesmo sem perceber entoam canções. Algumas são tranquilas, amorosas, outras agitadas – ou mesmo estridentes. Penso que temos conosco um código interno, feito também com notas musicais. Quando saímos da rota, nos afastamos do bem, de Deus, desafinamos, ficamos fora do tom. E fora do tom emitimos notas dissonantes, ruidosas, que nos afetam assim como aos outros ao nosso redor.

Que música toca em você? O que os outros podem ouvir? 

Tenho esperança que possamos expressar as mais belas melodias. Assim, nos momentos difíceis, confusos (ou perturbadores), embargados pela tristeza, buscarmos a harmonia, a serenidade e assim entoarmos um cântico de paz ou como um pedido de ajuda (de misericórdia). E nos momentos em que estivermos plenos, cheios de alegria e da virtude da fortaleza, entoarmos grandiosas obras musicais, em um canto inspirador, determinado, capaz de mover montanhas.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com



Gritos silenciosos... 

Não poderia deixar de falar sobre os bebês inocentes, indefesos e que, por ironia, abrigados no ventre materno, no lugar que deveria ser o mais seguro do mundo, acaba sendo o lugar que os condenarão à morte.

Em quase todos os povos o direito à vida sempre foi inquestionável. No Judaísmo, o precursor do monoteísmo, o aborto jamais existiu. Talvez a forma como vem sendo propagada a liberação e legalização do aborto nos impeça de reconhecer a realidade: em muitos lugares é autorizado o assassinato de bebês!

Raramente vemos a mídia mostrar o que acontece com um bebê quando ele é submetido ao aborto. Essa violência é ocultada; não é revelado o sofrimento a que são submetidos. Por vezes a criança já está em condições de nascer, poderia ser cuidada ou colocada para a adoção.

Recordo quando adolescente, em que participei de um “Encontro de jovens” da Igreja Católica e passaram um filme sobre o que ocorria com os “bebês indesejados”. Nunca vou me esquecer. Apareceram filmagens em tempo real, sem edição de imagens, retratando como eram brutalmente mortos, por diferentes formas e métodos. Depois, eram jogados no lixo. Aquelas cenas me marcaram profundamente. Ainda estão vívidas em minha memória.

Vou poupar o leitor de descrever com mais detalhes o horrendo cenário, mas fico me questionando que, mesmo após todos estes anos, o direito à vida de um ser humano ainda não estar confirmado no mundo todo. Repare como até a palavra bebê é ocultada e em seu lugar é usado o termo embrião, feto, na tentativa de minimizar o impacto, para retirar, por meio da semântica, a identidade daquele ser, para poder eliminá-lo como se fosse uma coisa.

O mais interessante é que foram criadas leis para a proteção do meio ambiente, do direito à vida dos animais, alguns deles com uma legislação específica que os defende e prevê como crime, impedindo a crueldade, a matança. Isto é um avanço, pois certamente merecem nosso respeito e cuidado, com o direito à vida (e eu amo os animais).

Mas, e a vida de um bebê inocente? Por que não merece o mesmo cuidado e direito de proteção à vida, como as tartarugas, por exemplo? Em que momento a vida humana passou a ser banalizada e descartada, vista como objeto?

De tempos em tempos aparece na mídia que deveria haver um debate sobre o aborto. Eu pergunto: por que debate? Houve debate para a criação de Lei de proteção às tartarugas? Houve debate para a preservação do Mico-leão-dourado, para a proteção do meio ambiente? Por que deveria haver um fórum para decidir se os bebês devem ou não morrer? A vida humana não merece respeito? 

A verdade é que houve toda uma propaganda no sentido de diminuir a taxa de natalidade, que envolve uma série de fatores econômicos e de controle social, em que governos, conferências internacionais em vários países, médicos e corporações, com ONGs, algumas com nomes disfarçados, como Free Choice, estão envolvidos. Há todo um trabalho da mídia, dos meios de comunicação em promover a cultura da morte, em que falsos argumentos são apresentados, com a manipulação do “imaginário social”, em que o aborto é colocado como um direito da mulher (direito de matar).

Em meio a argumentos ideológicos a favor do aborto, clichês são internalizados, como: meu corpo minhas regras; tenho o direito de decidir pelo aborto, dentre outros.

Há uma propaganda ideológica no sentido de justificar esse crime, fazendo com que aceitemos o inaceitável. O crime de assassinar bebês recebeu o eufemismo de emancipação, direito da mulher. Repare como há uma propaganda na mídia para a validação da política do aborto, com a apropriação da linguagem, em que ouvimos muito sobre o direito da mulher, direito de liberdade de escolha, direito ao prazer, direito a tudo, menos sobre o direito à vida de um ser inocente. Felizmente, na contramão, temos diversas igrejas que são contra o aborto e fazem um importante trabalho de prevenção da gravidez assim como o acolhimento e suporte para as mães grávidas.

Paulatinamente a mídia, a educação, a sociedade de um modo geral, vem reforçando esta falácia e aos poucos muitos vão se acostumando com o aborto, não vendo como uma crueldade, uma sentença de morte a seres inocentes, mas sim de um direito de escolha da mulher. O mais assustador é que leis estão sendo criadas para favorecer estes assassinatos.

Certa vez ouvi de uma pessoa que este assunto não merecia consideração, porque cada um é livre para fazer o que quiser e ninguém tem nada com isso; que a mulher é dona de seu corpo e que pode decidir se quer abortar o bebê. Estas palavras me deixaram (deixam) aterrorizada. Que grau moral é esse que atingimos, em que um bebê pode ser morto com a desculpa do desejo pessoal, da “liberdade” da mulher? (temo pela nossa humanidade).

Isto representa uma justificativa para o genocídio, em que a mulher como “dona de seu corpo” pode decidir por matar um ser indefeso. Mas alguém pode se considerar proprietário de outra vida, mesmo que seja causar sofrimento ou a morte? Como foi que chegamos ao ponto de ter leis que protegem os animais, tendo estes mais direitos à vida, com sanções previstas no código penal e a vida de um bebê indefeso ser banalizada, considerada obsoleta, descartável?

Um bebê com apenas um mês de vida já possui um coração pulsando, com terminações nervosas e o início da formação de seus diversos órgãos. Veja que dádiva divina. Como todo e qualquer ser humano, deve ter seu direito inalienável à vida. Deve ser defendido, pois trata-se de um ser que é incapaz de se defender sozinho, de se proteger. Considerando também a tristeza, o sofrimento do bebê no ventre materno quando sente que é indesejado. Sofre no anonimato, no silêncio da mais pura inocência.

Veja que o animal protege e cuida do filhote. A natureza evidencia que, mesmo em espécies diferentes, há o desejo inato de proteção e cuidado. Quantas vezes não verificamos casos de animais que amamentam filhotes alheios, de outras espécies, que cuidam com tanto carinho e respeito. Alguns podem dizer que isso representa um código de perpetuação da espécie; prefiro acreditar que seja expressão da bondade.

A frase mais comum a respeito ao aborto é: “a mulher é dona do próprio corpo, pode fazer dele o que bem entender”. Não lhe parece isso influência do slogan “faz o que te apetece”, de Aleister Crowler, seguido por Anton LaVey, fundador da Igreja Satânica?

Creio ser importante atentarmos para diversos fatores que tem contribuído para a aceitação do aborto, como interesses escusos da indústria farmacêutica; o relativismo cultural, querendo transformar a mulher no próprio homem e descaracterizando o dom da maternidade. A mulher carrega, dentre outras qualidades, a doçura, a ternura, o dom de cuidar, importante não somente para a concepção, mas para exercer seu papel no mundo. A liberação sexual está tentando retirar da mulher o compromisso com a consequente gravidez ou questões morais. Os filhos vão se tornando descartáveis, pois atrapalham a carreira ou outros desejos. Na atualidade, muitas mulheres estão presas a estereótipos, em busca da beleza eterna, do hedonismo (busca pelo prazer).

O aborto já foi legalizado em vários países. O Brasil ainda se mantém fiel ao preceito de que todos tem o direito à vida, talvez por questões religiosas (Graças a Deus!). Ainda é tempo de levantarmos as vozes, de nos posicionarmos contra esta chacina; não há como ficar em cima do muro. Uma sociedade que não respeita o direito à vida de uma criança, não respeitará também outros direitos. É o caminho da barbárie.

Creio que enquanto o ser humano não tiver a consciência de que somos também seres eternos e que haveremos de responder por todos os nossos atos, viverá de acordo com a expectativa de felicidade, mesmo que momentânea, sem pensar as consequências de suas ações. Inclusive pela omissão ou o silêncio diante deste crime hediondo.

A legalização do aborto representa o fim da consciência (confesso que isto me assusta!). A deliberação do mal. Estes crimes não ficarão impunes. A consciência de cada um definirá o seu agir.

E não há como mascarar a realidade: quem se posiciona a favor do aborto defende o Holocausto!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com




PEC 42/23 que proíbe candidatura de militares da ativa amputa direito 

A proposta de emenda (PEC 42/23), patrocinada pelo governo Lula, tramita no momento no Senado. Ela foi pensada como uma medida para tentar reduzir a politização das Forças Armadas. “Os militares não são cidadãos de segunda categoria por terem escolhido a carreira das armas”, afirma Ives Gandra Martins em seu parecer ao Senador Mourão.

Consulta-me o senador Hamilton Mourão sobre a PEC 42/23, que pretende eliminar o direito de pleno exercício da cidadania e de direitos políticos de militares das Forças Armadas e das polícias estaduais, alterando cláusula pétrea da Lei Suprema (artigo 60, §4º, inciso IV).

Nesta esteira, segundo o texto inicial da referida PEC, o artigo 14 passaria a dispor nos seguintes termos:

“Art. 14.  (…)

§ 8º Os militares alistáveis dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios são elegíveis, atendidas as seguintes condições:

(…)

§ 8º-A O militar alistável das Forças Armadas é elegível e, no ato do registro da candidatura, fica transferido para a:

I – reserva não remunerada, se não preencher as condições de transferência a pedido para a inatividade remunerada; ou II – reserva remunerada, se preencher as condições de transferência a pedido para a inatividade remunerada.

(…)”

Resposta

Em breve opinião legal, respondo ao ilustre parlamentar minha opinião a respeito.

Todo o Título II da Constituição (artigos 5º a 17) é considerado o mais relevante da Lei Suprema.

É que uma Constituição é destinada ao povo, cabendo aos governantes servirem-no, pois para isto, numa democracia, foram pelo povo escolhidos.

Ora, o referido título é dedicado aos direitos e garantias fundamentais, sendo o disposto no artigo 5º, que enumera grande parte dos direitos individuais, e os artigos 12 a 17 dedicados à nacionalidade e à cidadania (direitos políticos), os que completam o elenco e dimensão do ser social que é o homem, ou seja, como indivíduo e como integrante do meio em que vive e exerce sua cidadania.

Tenho para mim, nada obstante posições doutrinárias contrárias, que também os direitos sociais complementam as garantias fundamentais da pessoa humana (cidadão ou residente), sendo expressão sobrevivencial da espécie, colocando-os, portanto, entre os direitos individuais, aqueles do artigo 6 a 11.

Não sem razão, deu o constituinte ao Título II a denominação de “Dos Direitos e garantias fundamentais”.

Assim sendo, entendo que — e foi esta a posição de Celso Bastos e minha, nos comentários que fizemos pela Saraiva de 1988 a 1998, em 15 volumes e em torno de 10 mil páginas, da Carta da República —, o indivíduo, sua nacionalidade, cidadania e dimensão laboral conformam a integridade de sua personalidade, que ficaria amputada se qualquer destas dimensões lhe fosse tirada.

Nos 20 meses da Constituinte, muitas vezes consultados por constituintes, pelo presidente Ulysses Guimarães e relator Bernardo Cabral, sobre participarmos de audiências publicas, foi o que sentimos dos dois naqueles trabalhos em que parlamentares e especialistas atuaram intensamente.

Na ocasião, decidiram os elaboradores do texto máximo que as duas cláusulas pétreas da Constituição anterior (República e Federação) deveriam ser alargadas, consideravelmente; daí surgindo o artigo 60, §4º da Carta Magna com a seguinte dicção:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I – a forma federativa de Estado;

II – o voto direto, secreto, universal e periódico;

III – a separação dos Poderes;

IV – os direitos e garantias individuais.

Entendo até mesmo que o §4º, ao falar em direitos e garantias individuais, isto é, pertencentes a todos os cidadãos, residentes e pessoas no território nacional, que teriam proteção sob determinados aspectos legais, que a imodificabilidade constitucional estender-se-ia além do Título II, sempre que direitos fundamentais de dimensão individual fossem atingidos, como, por exemplo, no tópico do artigo 150, em que se percebe esta extensão, sendo o seguinte o seu discurso:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (…).

O certo, todavia, é que os direitos e garantias fundamentais podem ser acrescidos, mas não há possibilidade constitucional de reduzi-los sem que seja ferido drasticamente o direito do indivíduo em uma democracia. É, para mim, cláusula pétrea todos os direitos individuais garantidos pela Lei Suprema, estando entre eles, enquanto houver democracia no país, o direito de poder exercer a cidadania em sua plenitude nos termos da Lei Suprema aprovada em 05/10/1988.

Ora, o § 8º do artigo 14 da Constituição versado está como se segue:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

(…)

§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:

I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;

II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

É que a cidadania é a dimensão maior do ser gregário, que é o ser humano, pois de poder viver e decidir no ambiente que vive.

Ora, se a simples inscrição para concorrer nas eleições fará o militar perder todos os direitos de sua carreira, inclusive o de remuneração na reserva ou não, se houver pedido para a inatividade, há uma imensa diminuição de direitos da cidadania incompatível com um Estado Democrático de Direito.

PEC é inconstitucional, pois retira direito de cidadãos - Tornar o militar, enquanto na ativa — que exerce função tão relevante, a ponto de o constituinte de 88 ter denominado o Título V dedicado às Forças Armadas, policiais militares e guardas municipais de “Da Defesa Do Estado e das Instituições Democráticas” —, um cidadão amputado na sua ampla cidadania é macular drasticamente o direito maior que os cidadãos tem numa real democracia, razão pela qual entendo que a PEC 42/23 é de manifesta inconstitucionalidade.

O §8º não pode ser modificado, pois garante direito que não pode ser decepado do exercício da cidadania. 

Os militares não são cidadãos de segunda categoria por terem escolhido a carreira das armas. Não podem ser desconsiderados pela sociedade como párias inúteis no exercício da cidadania, sem direito de concorrer a cargos públicos para servir o país de outra forma, a não ser com perda de direitos adquiridos em sua carreira militar.

Certa vez, o ministro Francisco Rezek, em audiência na Suprema Corte, ao detector uma manifesta inconstitucionalidade, utilizou-se da seguinte imagem, dizendo que a fumaça do bom direito era tão forte contra a lei impugnada que ele mal conseguia ver os ministros que se encontravam na bancada oposta no plenário físico da instituição.

É como vejo esta PEC que pretende reduzir a nobreza de uma função que os constituintes, no Título V, consideraram relevante para a defesa da pátria e das instituições, tornando os militares cidadãos inexpressivos, de segunda categoria, com restrições ao sagrado direito, num regime democrático, de concorrer às eleições.
Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


O poder geral de cautela dos Tribunais de Contas e a sustentação de contratos 

Tradicionalmente, cabe ao constituinte a missão de conceber e modelar as instituições. Essa tarefa tem essencialmente dois propósitos. O primeiro é conferir racionalidade à organização política do Estado, definindo as competências de cada ente ou organismo e demarcando o seu âmbito de atuação. O segundo, intimamente relacionado ao primeiro, consiste em impedir arbítrios e abusos por meio da divisão de atribuições entre vários polos de autoridade, conforme a noção de equilíbrio e harmonia dos Poderes teorizada por Montesquieu.

Particularmente quanto aos Tribunais de Contas, embora o constituinte de 1988 tenha ampliado suas prerrogativas, o exercício da atividade controladora dos recursos e bens públicos só se legitima quando fundamentada no texto constitucional. Assim, com alguma frequência, surgem controvérsias sobre as possibilidades de atuação das Cortes de Contas, sobretudo diante do protagonismo que esses órgãos vêm assumindo.

Uma das questões que se apresenta refere-se à competência dos Tribunais de Contas para sustar contratos administrativos. Indaga-se, em outras palavras, se é permitido a essas Cortes ordenar a suspensão do ajuste contratual, uma vez verificadas irregularidades.

Tal problemática deriva da leitura do art. 71, parágrafos 1º e 2º da Constituição Federal. Diz a Lei Maior que a sustação de contratos será efetivada somente pelo Poder Legislativo, todavia, se o Parlamento não se manifestar no prazo de 90 dias, caberá ao Tribunal de Contas decidir a respeito.

A dúvida interpretativa está, justamente, no trecho final do parágrafo 2º do citado artigo. Ou seja, o constituinte não afirmou, literalmente, que o Tribunal de Contas poderá sustar o contrato se configurada a omissão do Legislativo, mas previu, tão somente, que “o Tribunal decidirá a respeito”.

O Supremo Tribunal Federal já superou essa discussão no julgamento dos Mandados de Segurança nºs 23.550/DF e 26.000/DF. Decidiu-se que os Tribunais de Contas não podem sustar os contratos, tendo em vista ser essa uma competência exclusiva do Poder Legislativo. Entretanto, nesses mesmos julgamentos, o STF ressalvou ser possível às Cortes de Contas determinar à autoridade administrativa que tome providências para anular o ajuste.

Insere-se, portanto, no rol de competências constitucionais dos Tribunais de Contas a prerrogativa de impor ao gestor a obrigação de extinguir o vínculo contratual, embora não lhe seja permitido impedir, de plano, a sua execução.

Mais recentemente, constata-se uma evolução na jurisprudência do STF. Em junho de 2023, transitou em julgado o Acórdão do Plenário do Supremo no Agravo Regimental nos Embargos de Declaração na Suspensão de Segurança 5.306/PI. Após analisar a matéria por sucessivos expedientes, como se nota da extensa ação processual citada, o Supremo deferiu aos Tribunais de Contas a possibilidade de suspender o pagamento de contratos, desde que de maneira cautelar.

Com base na chamada teoria dos poderes implícitos, prevaleceu o entendimento segundo o qual as Cortes de Contas possuem poder geral de cautela e, portanto, podem determinar a interrupção da contraprestação financeira aos contratados para evitar lesão ao erário ou à ordem pública.

Indiretamente, a jurisdição constitucional reconheceu ao organismo técnico de controle externo a atribuição de sustar contratos, pois os efeitos do não pagamento implicam, de fato, na suspensão dos ajustes com a Administração Pública.

Desse modo, tendo a interpretação do Supremo nos concedido essa prerrogativa, as Cortes de Contas não podem renunciar ao exercício dessa aptidão em defesa do interesse público.

Essa excepcional atribuição, por outro lado, deve ser exercida com prudência e cautela. Aqueles com competência decisória nos Tribunais de Contas devem, antes, atentar às circunstâncias do caso concreto e às dificuldades reais dos gestores, como preconizam os comandos da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Assim, uma eventual medida cautelar deve considerar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, pois os efeitos de uma paralisação de contrato podem gerar consequências ainda mais negativas, sobretudo no caso de serviços essenciais. Isso, porém, não exime os infratores. Mesmo sem a sustação, os Tribunais podem – e devem – aplicar as devidas sanções contra os responsáveis pelas irregularidades.
Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


Sinais de alerta com a saúde mental das crianças 

Cada ser humano é diferente do outro e a forma como lidam com questões emocionais e de saúde mental também. Muito se fala sobre saúde mental, mas estamos prestando atenção ao comportamento das crianças? É muito importante que todos, que convivam e estejam ao redor do pequeno, estejam atentos às mudanças de humor e comportamento.

Quando falamos de saúde mental nos referimos a como nossa mente e coração se sentem e funcionam. Relaciona-se a como nos sentimos por dentro e como lidamos com nossos pensamentos e emoções. Estar atento à saúde mental infantil se faz necessário porque ela desempenha um papel fundamental em seu desenvolvimento e bem-estar.

Além disso, afeta como elas aprendem, se relacionam com os outros e enfrentam os desafios da vida. Quando as crianças estão emocionalmente saudáveis, têm mais chances de serem bem-sucedidas em todas as áreas e aspectos de suas vidas.

Os principais fatores de risco ligados à saúde mental infantil estão relacionados à violência, social e familiar; bullying; violência sexual; e problemas socioeconômicos.

Alguns sinais de alerta que as crianças demonstram são mudanças drásticas de comportamento, problemas de sono, expressão de emoções, declínio no desenvolvimento escolar e comentários que podem ser vistos como preocupantes. Na mudança de comportamento, passam a se isolar, evitam contato social e expressam tristeza de maneira contínua.

Os problemas de sono têm reações como constantes dores de cabeça, estômago ou recusa em ir à escola. Na expressão de emoções, a criança pode começar a ter, por exemplo, medo de tudo. A expressão de emoções incomuns ou extremas pode ser um indicativo de que algo está perturbando a criança. 

Já o declínio no desempenho escolar também pode ser sinal de dificuldades emocionais. Nos comentários preocupantes fazem afirmações como que desejam desaparecer, se machucam ou machucam os outros. Esses comportamentos devem ser levados a sério. 

Muitos pais se perguntam o que fazer diante dessas circunstâncias. O mais indicado é conversar com a criança e abrir um espaço seguro para que elas possam falar dos seus sentimentos. É necessária uma escuta empática e sem julgamentos. 

Também é importante um apoio profissional para que essa criança seja amparada e que suas necessidades sejam compreendidas. Procure reduzir o estresse criando um ambiente familiar calmo e de apoio. Identifique os sinais de alerta e procure ajuda. Lembre-se, buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas, sim, de amor e cuidado.

Luciana Brites é CEO do Instituto NeuroSaber (https://institutoneurosaber. com.br ), autora de livros sobre educação e transtornos de aprendizagem, pedagoga, palestrante, especialista em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UniFil Londrina e em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação ISPE-GAE São Paulo, além de ser Mestra e Doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento pelo Mackenzie


Dia Mundial dos Pulses: leguminosas para uma alimentação saudável 

O Dia Mundial dos Pulses, ou seja, o Dia Mundial das Leguminosas ocorre todos os anos em 10 de fevereiro. São as Nações Unidas que fixaram esta data desde 2019, sendo uma oportunidade para destacar os benefícios nutricionais das leguminosas e a sua contribuição para sistemas alimentares sustentáveis e para um mundo livre da fome.

As leguminosas referem-se a plantas cujos frutos comestíveis estão contidos em vagens. Esta família reúne uma grande variedade de espécies vegetais cultivadas em todo o mundo: soja, amendoim, feijão, ervilha, grão de bico e lentilha são as leguminosas mais cultivadas. As leguminosas também são destinadas ao consumo animal com culturas como a ervilha proteica, a fava e o tremoço. Finalmente, as leguminosas forrageiras abrangem principalmente a alfafa, mas também o trevo e a ervilhaca.

As leguminosas são um bem indispensável para enfrentar os desafios relacionados com a pobreza, a segurança alimentar, a saúde humana e a nutrição, bem como a saúde do solo e o ambiente; participam assim na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da iniciativa Hand in Hand da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

As leguminosas eram bem conhecidas há séculos nas antigas civilizações da África, Índia, Ásia Central, China, América Central, América Latina e Sudeste Asiático. A produção e o consumo de leguminosas em muitos destes países remontam a milhares de anos (6.000 a 8.000) e ainda hoje fazem parte da dieta diária.

Tradicionalmente, o cultivo de leguminosas visava a rotação de culturas para enriquecer o solo com numerosos nódulos e bactérias fixadoras de nitrogênio, mas também para fornecer alimentos nutritivos aos seres humanos. Além disso, as cascas retiradas das leguminosas servem para alimentar os animais domésticos, formando assim uma cadeia sustentável no sistema alimentar.

Estas sementes secas de leguminosas comestíveis são muito ricas em fibras e proteínas e possuem uma composição única de carboidratos. Devido ao seu alto perfil nutricional, são adequados para todos os setores da sociedade. O valor nutricional das leguminosas torna a refeição completa, pois as leguminosas fornecem proteínas de alta qualidade, minerais como magnésio, cálcio e zinco, além de fibras, juntamente com carboidratos de qualidade. As leguminosas também desempenham um papel importante na saúde intestinal e na microbiota.

Devido ao elevado perfil nutricional e aos aspectos de saúde das leguminosas, não é de admirar que a procura por leguminosas tenha aumentado e esteja aumentando ano a ano em um ritmo frenético. Além disso, as leguminosas requerem menos água para crescer e, portanto, têm uma pegada de carbono muito menor. Quer sejam grão-de-bico, lentilhas, ervilhas ou vários feijões, as leguminosas estão a fazer parte da nossa dieta, graças às inovações na ciência das plantas e à crescente consciencialização pública que conduz a uma agricultura orientada para o mercado.

Quem não come leguminosas deveria tornar isso um hábito hoje. Uma dieta que inclua leguminosas permite uma alimentação mais sustentável, rica, nutritiva e saudável, com pratos saudáveis para a família e um enorme efeito, embora indireto, no sistema imunitário do organismo.

A NPV trabalha para aumentar a consciência sobre a importância das leguminosas para a nossa saúde e para o planeta. Contudo, as características favoráveis das leguminosas só serão alcançadas se elas tiverem à sua disposição os nutrientes necessários para seu crescimento e desenvolvimento. O fato dos solos brasileiros apresentarem limitações na disponibilidade de nutrientes, se faz necessário o uso de fertilizantes em quantidades corretas e na época e local correto. Essa é a forma de produzir alimentos com respeito ao ambiente, pois as leguminosas representam, na agricultura, um verdadeiro interesse ecológico e econômico.

Valter Casarin é coordenador geral e científico da NPV - Nutrientes para a Vida


'Criptoamigáveis', mas regulamentados: o que os EUA podem aprender com Brasil, Emirados Árabes e Singapura

Enquanto os EUA resistem às empresas cripto, outros países acolhem as moedas digitais adotando uma estrutura regulatória coerente

As conversas sobre as regiões mais favoráveis às criptomoedas geralmente fazem referência a um paraíso permissivo ou a um Velho Oeste sem regras. A realidade, no entanto, é que muitos dos países com mercados de criptoativos em expansão também desenvolveram bases regulatórias adequadas para atrair este tipo de investimento. O estabelecimento das regras do jogo tem levado a um aumento do volume de transações em criptomoedas no Brasil, em Singapura e nos Emirados Árabes Unidos, consolidando mercados mais controlados e com a participação dos Estados.

O Brasil, que este ano lança a sua moeda digital — o Drex — através do Banco Central, já possui uma lei de criptoativos, que entrou em vigor em junho de 2023, e é o país número um na utilização de criptomoedas na América Latina, segundo a Chainalysis. Singapura adotou regulamentações através da sua autoridade monetária, que criou regras claras para os ativos digitais, incluindo um regime de licenciamento robusto, normas contra a lavagem de dinheiro e proteção para consumidores e investidores. Abu Dhabi, por sua vez, é o epicentro do mercado cripto nos Emirados Árabes Unidos, com uma atividade muito maior nos protocolos DeFi do que o resto da região, de acordo com a Chainalysis. Os EAU se posicionaram como um centro de inovação no setor graças à sua regulamentação, que fomenta o desenvolvimento de plataformas seguras e disruptivas. Estas políticas atraíram muitos empreendedores e entusiastas das criptomoedas, que veem o DeFi como a ponta de lança da tecnologia blockchain.

Mudanças para alavancar o mercado cripto- Dados como esses traçam um panorama claro: a regulamentação pode favorecer a inovação e potencializar a utilização das criptomoedas. Entretanto, antes de pensar nas questões relacionadas à adoção dos ativos digitais, é importante lembrar das lições deixadas pelas crises de mercado, que deixaram evidente a necessidade de uma nova perspectiva onde o anonimato, a volatilidade e os problemas de escalabilidade sejam coisa do passado. E é nesse contexto que os criptoativos de última geração surgem como uma oportunidade para inovar. Como no caso da Unicoin, uma criptomoeda respaldada por ativos que está transformando o mundo dos investimentos ao possibilitar a negociação direta de propriedades em troca de unicoins. Estes imóveis, adquiridos pela Unicoin a 140% do seu valor de avaliação, passam a fazer parte do lastro da criptomoeda, que também inclui ações de empresas selecionadas pelo programa Unicorn Hunters.

Esse tipo de respaldo tem estabelecido um novo padrão de mercado, no qual as criptomoedas não apenas devem ter valor real, mas também ser regulamentadas, auditadas e transparentes. Enquanto países como os Estados Unidos ainda debatem a regulamentação, outras economias emergentes têm tirado o máximo proveito possível da tecnologia blockchain e construído um futuro no qual a intervenção estatal saudável pode gerar benefícios a longo prazo para o mundo cripto.

Por Silvina Moschini


Reforma tributária: uma simplificação complicada 

Ao tratar, mais uma vez, do tema da reforma tributária promulgada, só tenho dúvidas. Não quero dizer que sou contra, mas como não posso ser a favor, prefiro dizer talvez.

Inicialmente, uma observação se faz necessária: nós entendíamos que o nosso sistema tributário era excessivo no que diz respeito ao número de artigos contidos na Constituição. Para simplificar, aumentaram três vezes o número de artigos para regular o sistema tributário. Creio que isso trará problemas de interpretação.

Em segundo lugar, a CBS entrará em vigor em 2026 e o IBS em 2029, com regime jurídico idêntico. O Congresso Nacional, não os Estados e Municípios, definirá as leis complementares e o regime jurídico de cada tributo.

O sistema caótico que temos continuará vigente até 2033. Então, as empresas, para terem uma vida mais simplificada até 2033, se não houver prorrogação, deverão conciliar o sistema que consideram caótico com o novo.

Vale dizer, vão ter que trabalhar duas vezes: com um velho sistema cheio de problemas e com um novo que elas desconhecem. Evidentemente, terão que aprender e o trabalho será, no mínimo, duplicado.

Assim, para simplificar, pelo menos até 2033, nós teremos um sistema mais complicado, composto pelo antigo caótico e pelo novo desconhecido.

Terceiro ponto, a federação acabou. Ora, oque caracteriza uma federação? A autonomia política de eleger seus membros, prefeitos, governadores, deputados, vereadores; a autonomia administrativa, de administrar os Estados e os Municípios; e a financeira, de definir a destinação dos recursos de acordo com a necessidade orçamentária de cada Estado e município.

Essa autonomia financeira acabou, pois o controle do recebimento e a distribuição do IBS será centralizado em um Comitê instalado em Brasília, com 54 delegados, sendo 5.569 municípios representados por 27 delegados e os 26 Estados e Distrito Federal por outros 27. Com esse sistema, evidentemente, como aliás eles alertaram, os grandes Estados e Municípios perderão, enquanto os pequenos e médios Estados e Municípios ganharão; por causa do projeto de emenda no Senado que foi aceito pela Câmara dos Deputados, no sentido de que as maiores benesses serão destinadas para os Estados do norte e nordeste.

Por outro lado, o projeto assegura que quem perder não será prejudicado, pois será compensado em até 50 anos pelas perdas. De tal maneira que nós vamos ter, na verdade, fundos com várias finalidades, tais como para equalizar o sistema, chegando a 60 bilhões de reais, fora o que a União terá que colocar para, enfim, equilibrar os que perdem com os que ganham. O que vale dizer, durante 50 anos, ou pelo menos até 2043, com 60 bilhões por ano, a União terá que bancar o prejuízo. Tal previsão representa uma tentativa de equilibrar as perdas que existirão, mas que eles não sabem de quanto será nem como será, pois não fizeram esses cálculos até hoje, de tal forma que quem pagará esse dinheiro que a União precisará colocar para compensar, evidentemente, só poderá ser o contribuinte.

Os Estados, para terem certeza de que vão receber na partilha aquilo que eles teriam como receita, terão que definir, de 2024 a 2028, qual é a média de receita tributária que tinham com o ICMS, que será o IBS em 2029. O que vai acontecer é que os Estados, para mostrar o que vão receber pelo que vierem a perder, terão que ter uma receita boa na redistribuição. Os Estados que estão prevendo essa perda já começaram a aumentar o ICMS, neste ano de 2023, para que, no ano de 2029, a média justifique uma recepção das suas perdas no valor que a União terá que compensar.

Como se vê, não é simples. Foi aprovada a Emenda à Constituição. Ótimo. Temos agora um novo sistema. Sabe-se qual vai ser alíquota? Não, nunca disseram qual seria alíquota. Sabe-se quais serão as perdas dos Estados e Municípios? Não, apenas cálculo aleatório. Sabe-se quanto cada setor vai ganhar ou perder? Não, não há nenhum cálculo até hoje.

Mas já sabem quais são os princípios constitucionais que são norteadores. Mas o que regulamenta são exatamente as leis complementares e ordinárias.

Calcula-se que certos setores, como de serviços, vão sair de uma alíquota máxima de 5%, mais 3,65% de PIS/COFINS, para uma alíquota de 30% mais ou menos. Haverá, portanto, um aumento monumental. Se a alíquota for de 30% e para o setor, por exemplo, da advocacia, for reduzida para 21%, ele sai de 3,65% e de uma taxa que representa, mais ou menos, um salário mínimo por ano de ISS, e passa para 21%. Um aumento razoável, tanto para o setor de serviços em geral, quanto para a advocacia em particular.

Fizeram um cálculo de que a indústria vai ganhar 8%, comércio 6%, agricultura 4%, serviços 2%. Os cálculos são aleatórios, a partir de uma projeção de que a economia vai crescer 20% em um novo sistema.

Evidentemente, pode dizer que vai crescer 30%, 40%, 10%, pode perder 20%, ninguém sabe. Aliás, porque fazer cálculos não foi prioridade para o nosso Congresso, que decidiu princípios direcionais sem conhecer projetos de leis complementares, nem de leis ordinárias, nem examinar o impacto em cada entidade federativa e em cada setor empresário?

E, a meu ver, no momento em que as leis forem apresentadas com os números, haverá lobbies no Congresso Nacional dos diversos segmentos, para conseguir novas exceções na lei infraconstitucional, para que não tenham um impacto negativo.

É evidente que temos a previsão de princípios gerais. Só para dar um exemplo, o que é um princípio geral? A Constituição fala, no artigo 155, que o Estado, pelo § 2º, tem o direito de cobrar ICMS. ICMS quer dizer Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias. Essas três palavras (circulação, operação e mercadoria) estão em uma única linha na Constituição, e o Supremo Tribunal Federal levou cerca de 30 anos para definir o que seria “circulação”, “mercadoria” e “operação”.

Com a reforma, nós temos três vezes mais dispositivos para o Supremo interpretar, já que os outros, que ele continua interpretando e tendo dificuldades, representavam um terço daquilo que foi aprovado.

Então, como os senhores veem, enquanto não houver projetos de lei complementar e de lei ordinária, nem análise do impacto em todas as entidades federativas, em todos os segmentos, de que maneira, efetivamente, o sistema funcionará e como o Supremo interpretará todos esses dispositivos, bem como não souber quais setores, ao saberem os percentuais da lei, farão lobbies e serão atendidos, evidentemente que não posso me posicionar. Portanto, como não conheço nenhuma dessas informações, digo talvez.

Como, entretanto, para simplificar, resolveram complicar mantendo dois sistemas até 2033, este raciocínio para um velho acostumado à lógica cartesiana, não é fácil de compreender.

O certo é, a meu ver, que vale a pena os advogados dedicarem-se, a partir de agora, ao direito tributário, pois tantos serão os problemas de interpretação a ocorrer, que terão um campo de atuação durante muito tempo.

Mas, não digo sim, não digo não, digo talvez.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Prefeitos em fim de mandato devem atentar para regras e contas

Normas evitam abusos na campanha eleitoral ou dívidas para o sucessor 

Neste ano de 2024, todos os 5.569 municípios brasileiros escolherão seus novos prefeitos e prefeitas. Para que o rito maior da democracia possa transcorrer em condições de igualdade, e para que os futuros gestores encontrem a casa em ordem no ano que vem, foram criadas leis para restringir aquilo que o administrador público pode fazer no último ano de mandato.

Tais normas procuram fixar balizas para a execução orçamentária das prefeituras, a fim de impedir que os ocupantes do poder abusem do cargo durante a campanha eleitoral ou criem dívidas para o sucessor.

Algumas dessas regras devem começar a ser observadas já nos primeiros meses do ano. O espírito da Lei de Responsabilidade Fiscal (lei complementar 101/2000) impõe um compasso regido pela prudência, diante da perspectiva de um iminente fechamento de caixa. Nos últimos oito meses do ano, por exemplo, a administração é proibida de se comprometer com novas despesas que não possam ser quitadas dentro do mandato, conforme prevê o artigo 42.

Também será nulo qualquer ato que resulte em aumento de despesa com pessoal, a exemplo de gratificações, nos últimos 180 dias, segundo o art. 21, II. Já o art. 38, IV, b, veda operações de crédito para antecipação de receita, a fim de evitar gambiarras insustentáveis nas finanças.

A Lei Eleitoral (lei federal 9.504/97), por sua vez, coloca travas no uso da máquina administrativa durante o processo de sucessão, com vedações expressas em seu art. 73. Durante o segundo semestre, os prefeitos são proibidos de conceder qualquer aumento real na remuneração dos servidores. A publicidade oficial é vedada por completo nos três meses que antecedem o pleito e, no primeiro semestre, o gasto de propaganda fica limitado à média mensal verificada ao longo de 2021, 2022 e 2023. 

Apesar da obviedade, vale lembrar ainda que a legislação também proíbe o prefeito de ceder ou usar, em benefício de algum candidato, bens móveis e imóveis da administração pública, usar indevidamente materiais ou serviços custeados pelo município e ceder servidor público ou usar de seus serviços para comitês de campanha eleitoral durante o horário de expediente.

As normas podem parecer rígidas, mas não exigem nada além de moralidade e razoabilidade, qualidades sempre esperadas dos eleitos para gerir uma prefeitura, cujas ações devem ser pautadas pelo bom senso e pelos princípios gerais da administração pública. 

Conter despesas e equilibrar as contas na reta final do mandato pode soar contraintuitivo para um prefeito que busca se reeleger ou garantir a vitória de um correligionário em outubro. Contudo, o agente político precisa compreender que sua própria permanência na arena pública depende do estrito cumprimento da legislação, seja para convencer a sociedade de que mereceu sua confiança, seja para ter as contas aprovadas e conservar os pré-requisitos formais de elegibilidade.

Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


Carta aberta aos Pré-Candidatos à Prefeitura e à Câmara de Vereadores 

Caros amigos, gostaria primeiramente de frisar que sou um cidadão, um munícipe! Peço, por favor, que leiam até o fim e demonstrem merecer o respeito daqueles que renovam, a cada quatro anos, a esperança na solução de problemas que insistem em atazanar a nossa vida cotidiana. 

O Brasil tem passado por uma das mais sérias crises de Segurança Pública de sua história. E antes que vocês assumam a postura covarde de se esconder atrás da letra constitucional, tagarelando que isso é de competência estadual, além de outras porcarias do gênero, eu gostaria de propor uma série de medidas que se encontram ao alcance de sua caneta! 

A melhor ação municipal que pode ser tomada para transformar a Segurança Pública é tirar a Política Inclusiva do papel! Sabem das calçadas esburacadas, cheias de mato e lixo? Quando ações de zeladoria municipal cuidam das calçadas, tornando-as acessíveis a TODOS, a cidadania volta a circular. Nem é preciso falar que a pior criminalidade se esconde nas calçadas mais movimentadas. Ao mesmo tempo, com o reparo e manutenção adequados, há melhorias no setor comercial, ampliando os postos de trabalho disponíveis, além de valorização imobiliária. Viu como é bom? Vocês vão até ganhar em arrecadação se cuidarem melhor da cidade! 

Junto com a melhoria das calçadas, eu proponho, pelos mesmos motivos, uma iluminação mais forte e qualificada das nossas ruas e praças. A iluminação pública é fundamental para afastar a insegurança pública. Eu sei que vocês sabem, mas só quero deixar claro que basta um trabalho adequado de zeladoria para que as calçadas, ruas e praças fiquem mais convidativas e acessíveis a todos. Resumindo: a beleza é inclusiva! Cidade bonita é mais segura! 

Vocês precisam também, urgentemente, melhorar o projeto urbanístico do município. É que, a depender das opções tomadas, as calçadas serão ‘desertos’ ainda mais inseguros. Imaginem um espigão de concreto sem nenhuma árvore, luz ou opção de comércio nas redondezas? 

Vocês lembram daquela música dos Titãs: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...”? Pois bem, invistam também em opções artístico-culturais pela cidade. Eu imagino que vocês, que pensam em se candidatar, devam saber, mas vale a pena repetir: Cultura e Arte são fundamentais para melhorar a autoestima, individual e coletiva, gerando um sentido de pertencimento a todos. A Cultura fortalece os laços que cada pessoa possui com sua comunidade; e também estimula a Educação, uma das principais ferramentas, ao lado do trabalho, de Inclusão Social! 

E nunca se esqueçam da necessidade da Proteção Social! Criar e fomentar políticas que cuidem das pessoas, suprindo suas necessidades mais básicas, são o principal alicerce da Segurança Pública. 

Segurança alimentar, programas de assistência social, aumento e melhoria de albergues... enfim, o caminho é longo. No entanto, se o desafio é enorme, maior ainda deve ser o desejo de vocês, que tão bravamente escolheram abraçar uma pré-candidatura, de revolucionarem os planos municipais. 

E é sempre boa a lembrança de que em caso de sucesso vocês ganharão a imortalidade, figurando no panteão dos heróis da Brava Gente Brasileira!

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política


Produção agrícola e pecuária salvaram governo Lula em 2023 - Ives Gandra 

O ano de 2023 para o Brasil não foi um desastre econômico, mas ficou longe de ser um sucesso

A agropecuária salvou o governo Lula de um resultado negativo. Tendo crescido em relação a 2022, no período da safra e no começo do ano atingiu números expressivos que compensaram a acentuada queda do PIB nos 2º e 3º trimestres, permitindo uma evolução na ordem de aproximadamente 3%.

O déficit orçamentário previsto de muito mais de 100 bilhões de reais derrubou o bom resultado do último ano do governo anterior, num superávit acima dos 50 bilhões de reais.

A reforma tributária, aprovada em nível de Lei Suprema, sem conhecimento dos projetos de legislação infraconstitucional, assim como os impactos em cada unidade federativa e em cada segmento empresarial, continua sendo aplaudida pelos desconhecedores do sistema tributário e gerando perplexidade e dúvidas naqueles que o entendem.

A convivência de 2 sistemas (o antigo, dito como caótico, e o novo de 2026 a 2033), no mínimo trará para todas as empresas do Brasil um complicador, ou seja, continuar com o velho sistema por 8 anos, se não houver prorrogação, e acrescentar o novo desconhecido. Este terá que ser estudado com cuidado nos termos da Carta Magna e da legislação decorrente, lembrando-se que o texto que se pretende simplificador na sua origem, é 3 vezes mais extenso do que o atualmente previsto na CF/88.

Enfim, quando se conhecerem as alíquotas e os impactos na federação e na empresa nacional, durante as propostas legislativas, a indústria não protestará, pois foi a grande incentivadora e beneficiária do projeto, mas os setores de serviço, comércio e agropecuária, que terão um peso, em alguns segmentos muito superior à atual carga tributária, certamente criarão seus lobbies no Congresso para gerar novas exceções.

O certo, porém, é que o Brasil ostentará a maior alíquota de imposto sobre o valor agregado (IVA) do mundo.

Na política, o Executivo - cuja eleição foi assegurada pelo Supremo Tribunal Federal, no dizer de um dos Ministros, pois auxiliou a vencer o outro candidato, segundo outro Ministro, - mantém ótimas relações com a Suprema Corte e difíceis com o Congresso Nacional.

O Supremo Tribunal Federal, que se auto outorgou o direito de legislar em algumas matérias como aborto, drogas, marco temporal das terras indígenas, etc., transformou-se não só no poder técnico (de julgar), mas também no poder político, ao ponto de sugerir nomes para a própria Suprema Corte ao Presidente da República, com sua aceitação.

Essa transformação de uma Casa de interpretação das leis numa Casa Legislativa, gerou tensões e reação principalmente do Senado, que é a única Corte capaz de punir Ministros do STF, com projetos de Emenda Constitucional, dos quais um já fora aprovado na casa dos Estados (PEC 8/2021), desagradando os magistrados do Pretório Excelso.

Entendem os senadores, assim como eu, que o artigo 49 inciso XI obriga - é um “poder-dever” -, o parlamento a defender sua competência normativa perante a invasão de outros Poderes. Está assim redigido:

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...) XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes;

Por fim, por ser o Congresso um poder de maioria conservadora e o Executivo um governo de esquerda, todos os projetos de lei por este propostos exigirão muito trabalho para serem aprovados e a concessão de recursos orçamentários para bases eleitorais dos parlamentares que possam votar a seu favor gerará um acréscimo orçamentário, sendo, pois, o custo político desfigurativo das contas públicas.

À falta de segurança orçamentária para combater a inflação, a política monetária do Banco Central é o único caminho que resta para enfrentá-la.

Nada obstante tais problemas a serem enfrentados no ano de 2024, certamente com PIB menor que em 2023, sou otimista por acreditar mais na sociedade do que nos governos - que sempre são maus empregadores para o empreendedorismo e para o desenvolvimento nacional -, pois sei que a iniciativa privada brasileira se reinventará.

Para o Brasil, sempre confiei na teoria do besouro, que os físicos declaravam não poder voar pelo peso do corpo e o tamanho das asas, mas, apesar dos prognósticos contrários, sempre voou. Assim são os empreendedores brasileiros, quando a doutrina econômica mostra que não podem crescer, crescem, pois tem a sabedoria da reinvenção.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


O amor e a ciência de mãos dadas 

Nos encontramos em uma nova fase da humanidade em que a ciência avança com uma rapidez vertiginosa e possibilita a realização de sonhos que antes existiam apenas no campo da imaginação. Porém, como uma moeda tem dois lados, a ciência também reflete a dualidade da humanidade nas dimensões das nossas virtudes, mas também dos nossos vícios. Reconhecer essa dualidade é viabilizar escolhas em lugar da aleatoriedade da sorte.

Nesse sentido, a energia nuclear, a inteligência artificial e a genética são exemplos de três grandes forças do desenvolvimento científico que exigem uma urgente e profunda reflexão. A literatura, o cinema e os debates dos especialistas descrevem cenários muitas vezes distópicos, que são alertas para nos levar a explorar caminhos alternativos mais promissores. Porém, onde estará a fonte dessa intuição de que tanto precisamos? Está no amor!

Precisamos de uma reflexão afetiva, mais do que intelectual. Uma intuição, mais do que um raciocínio, para nos guiar a um lugar onde a ciência e o amor estejam de mãos dadas.

Reflexo desse encontro está na realização do sonho de gerar um filho. A fertilização in vitro foi um marco do progresso científico nos anos 1970, e, desde então, a medicina reprodutiva continua avançando a passos largos e possibilitando a concretização de muitos sonhos. Pessoas que não encontram parceiros para formar uma família; outras que tomam a decisão tardiamente, ou que se submetem a tratamentos médicos que afetam a fertilidade; casais homoafetivos; e tantos outros sonhos que não eram possíveis antes, podem agora ser realizados.

Nessa jornada, ainda estamos aprendendo a lidar com muitas questões morais, espirituais, legais, sociais e filosóficas. Mas todas são inevitavelmente permeadas de uma profunda reflexão afetiva, que diz respeito não só aos sonhos e desejos individuais, como também ao nosso mais profundo instinto de perpetuação e evolução da própria espécie. O modelo de sociedade tecnológica que estamos desenvolvendo induz a uma taxa de fertilidade inferior à taxa de reposição da população - em breve teremos que lidar com mais esse desafio.

A chave é o equilíbrio entre a razão e o afeto, e devemos reconhecer que a balança está pendendo mais para um dos lados. Gerar um filho e deixar um legado para as futuras gerações é um ato de amor que estende a mão para a ciência.

Augusto Maia é autor do livro de contos Amor in Vitro, inspirado em histórias reais sobre reprodução assistida. Também é administrador de empresa, mestre em Ciências, pesquisa Humanidades, Narrativas e Humanização, além de trabalhar há mais de 25 anos como executivo na indústria farmacêutica


8 de janeiro de 2023 - Fico espantado quando se fala numa tentativa de golpe de Estado 

Em 1953, eu queria ser historiador e entrar na faculdade da USP, até porque um dos meus professores, Eduardo França, foi um dos primeiros catedráticos da USP na matéria. Fui, porém, desaconselhado por três de meus professores de história, mostrando que, quando eu voltasse da França, onde fora estudar, poderia ter uma carreira como advogado, visto que o historiador examina fatos, e quem gosta de história termina sabendo sempre interpretá-los.

O meu amor pela história levou-me a ser guindado à Academia Paulista de História, exatamente na cadeira que fora do meu professor, Eduardo de Oliveira França, algo que me comoveu muito na época. Por que conto tudo isso? Porque ao examinar o que ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023, fico espantado quando se fala numa tentativa de golpe de Estado.

Foi um movimento de manifestação política, absolutamente irracional por um grupo que terminou – não se sabe se houve infiltrados, porque não se conhecem os vídeos – numa quebradeira injustificável, como não se justificou a vandalismo na Câmara dos Deputados quando era presidente Michel Temer, realizada pelo pessoal de esquerda, porque não é assim que se faz política. Mas, de qualquer forma, a única coisa que seria rigorosamente impossível no dia 08, seria um golpe de Estado. Não tinham nenhuma arma. Encontraram uma faca com um deles, mas não havia nenhuma movimentação militar que pudesse justificar um movimento golpista.

Tendo em vista que, muitas vezes, civis estavam às portas dos quartéis exigindo uma atuação por parte dos militares, todas as Forças Armadas, com tranquilidade, respeitaram a opinião, mas não tomaram medida nenhuma contra a ordem pública.

Eu mesmo dizia, desde agosto de 2022, que não haveria a menor possibilidade de golpe porque as Forças Armadas não participariam nunca de um golpe de Estado.

Fazia tal afirmação com conhecimento e certa autoridade, pois sou professor emérito da Escola de Comando de Estado Maior do Exército e dava aulas para os coronéis dentre os quais sairiam generais no fim do ano sobre direito constitucional. Por isso, sabia perfeitamente a mentalidade deles e que jamais, jamais, jamais as Forças Armadas tomariam qualquer medida contra a Constituição. Até porque, o curso no qual eu comecei a dar aulas em 1990 até 2022, foi criado em 1989, logo depois da promulgação da Constituição, para que os militares que iriam para o generalato, nas três armas, discutissem problemas nacionais e internacionais. Por isso, eu, um professor de Direito, fui convidado em 1990, recebi o título de professor emérito em 1994 e lecionei até 2022, dizia com toda tranquilidade que os militares jamais dariam um golpe.

Estou convencido que o presidente Bolsonaro nunca pretendeu dar um golpe, mas se pretendesse não teria conseguido apoio nenhum das Forças Armadas, cujos generais, 90%, pelo menos os generais daquela época, de 1990 a 2022, tiveram que suportar as minhas aulas e eu conhecia sua maneira de pensar. Por que eu digo isso? Porque não há golpe de Estado sem armas. Não há golpe de Estado sem tanques.

Vou dar um exemplo. Nos últimos cinco anos nós tivemos algo que impressiona. Em oito países da África, houve golpes de Estado, a saber: Sudão, Burquina, Guiné, Níger, Gabão, Chad, Zimbabue e Mali. Todos com forças armadas. Todos com tanques nas ruas e com soldados.

Um grupo desarmado de civis, cuja grande maioria não tinha nenhuma passagem pela polícia, fez uma baderna e teria que ser punido por isso, afinal, contestou de forma irracional. Como um amante da História, membro da Academia Paulista de História e ex vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo fundado em 1894, tendo escrito livros e artigos sobre História, inclusive um deles intitulado “O Estado, a Luz da História, do Direito e da Filosofia – Ed. Noeses”, sei, perfeitamente, que não haveria a menor possibilidade de um golpe de Estado. Mais do que isso, não seria possível um atentado violento ao Estado de Direito por um grupo de civis que, desarmado, não teria força nenhuma, porque não tinham apoio dos 330 mil homens que constituem as Forças Armadas do Brasil.

Por que trago esse assunto? Porque no próximo dia 8 vai se comemorar o primeiro aniversário de algo que, para mim, foi uma baderna que tinha que ser apurada. Algo que não enaltece a democracia, pois as pessoas que pensam que na violência podem resolver uma determinada situação merecem ser punidas, mas jamais como um golpe de Estado. Porque nunca houve na história do mundo um golpe de Estado sem armas, nem forças armadas. Digo isso porque como historiador sei que, daqui a 50 anos, o que vai valer para aqueles que examinarem essa questão serão os fatos da época, ou seja: gente desarmada não poderia dar um golpe de Estado e que as forças armadas nunca o fariam. As pessoas foram consideradas como golpistas sem ter força nenhuma. Golpe sem armas é rigorosamente impossível. Para mim, teriam que ser punidas como baderneiras. Mas não com as penas violentas com que foram condenadas; jamais com 17 anos de reclusão como participantes da tentativa de um golpe de Estado, como se tivessem posto em risco a estabilidade da democracia brasileira.

Quando um grupo de algumas centenas de soldados conseguiu afastá-los da bagunça sem disparar tiros, descobriu-se que um deles, segundo li nos jornais – e estou apenas reproduzindo o que eu li -, tinha uma arma, ou seja, uma faca.

Como amante da História, tenho a impressão de que, quando examinarem, daqui a 50 anos, as narrativas oficiais de que houve um violento atentado à democracia, os historiadores que analisarem os fatos, e não as narrativas, não serão muito generosos com aqueles que interpretaram mal os fatos históricos à luz de narrativas sobre o que ocorreu no dia 8 de janeiro de 2023.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Tendências para 2024: Como o uso da Inteligência Artificial pode melhorar o relacionamento no mercado de consumo

Em um mundo onde a tecnologia e as expectativas dos consumidores evoluem rapidamente, os departamentos jurídicos têm a oportunidade de empregar a tecnologia para aprimorar o relacionamento com seus clientes

À medida que avançamos em direção a 2024, a Inteligência Artificial (IA) continua reformulando o panorama dos departamentos jurídicos nas empresas de consumo. Com o aumento da complexidade das questões legais e regulatórias, a IA emerge como um elemento vital para a eficiência, precisão e inovação nessas organizações. Em um mundo onde a tecnologia e as expectativas dos consumidores evoluem rapidamente, os departamentos jurídicos enfrentam a oportunidade de empregar a Inteligência Artificial (IA) para aprimorar o relacionamento das empresas com seus clientes. Neste contexto, e antecipando as tendências tecnológicas para 2024, vamos explorar como determinadas ferramentas de IA podem ser utilizadas com esse objetivo, enfatizando seu potencial para melhorar a comunicação, fortalecer a confiança e aumentar a eficiência no serviço ao cliente.

1- Análise Preditiva
A análise preditiva utiliza algoritmos e modelos estatísticos para antecipar resultados de litígios e prever tendências de consumo. Ao processar dados históricos, esta ferramenta permite que as empresas estejam mais bem preparadas para a tomada de decisões, antecipando as necessidades dos consumidores e melhorando sua satisfação.

2- Processamento de Linguagem Natural (PLN)
O PLN é essencial para entender e interpretar grandes volumes de textos jurídicos e feedbacks dos consumidores. Esta tecnologia facilita a análise automática de contratos e documentos jurídicos, além de permitir que as empresas compreendam e respondam efetivamente às preocupações dos clientes, personalizando sua comunicação.

3- Chatbots Jurídicos
Os chatbots jurídicos, alimentados por PLN, transformam o atendimento ao cliente, fornecendo respostas instantâneas e precisas às suas questões. Esta ferramenta eleva a eficiência do atendimento, oferecendo suporte rápido e melhorando a experiência do cliente.

4- Reconhecimento de Voz
A tecnologia de reconhecimento de voz, útil para a transcrição de audiências e depoimentos, também melhora a acessibilidade e conveniência para os consumidores em situações de atendimento, facilitando a interação para aqueles com dificuldades de digitação ou navegação.

5- Análise de Sentimento
A análise de sentimento extrai insights emocionais de textos e declarações, permitindo que as empresas identifiquem e abordem proativamente insatisfações ou mal-entendidos dos clientes, ajustando suas estratégias para refletir empatia e compreensão.

6- Blockchain para Contratos Inteligentes
Os contratos inteligentes baseados em blockchain oferecem execução automatizada e segura, garantindo transparência e fortalecendo a confiança do cliente, ao assegurar que os acordos sejam automaticamente cumpridos.

7- Detecção de Fraudes com IA
Essencial para o compliance e monitoramento financeiro, a detecção de fraudes com IA identifica padrões anormais e atividades suspeitas, protegendo empresa e consumidor de riscos legais e financeiros.

8- Machine Learning para Previsão de Riscos
O uso de machine learning na previsão de riscos ajuda na avaliação de contratos e na identificação de potenciais problemas regulatórios. Ao antecipar riscos, as empresas podem evitar situações que poderiam prejudicar a relação com os clientes, como no caso de se identificar e corrigir cláusulas contratuais que possam gerar discordância e embates com os consumidores.

9- IA para Compliance Regulatório
Sistemas de IA dedicados ao compliance regulatório garantem que a empresa esteja sempre atualizada com as mudanças na legislação, assegurando conformidade com as leis de proteção ao consumidor e fortalecendo a confiança dos clientes nas práticas empresariais.

À medida que nos aproximamos de 2024, fica evidente que as ferramentas de IA oferecem vantagens inestimáveis para os departamentos jurídicos de empresas de consumo, não apenas em eficiência e precisão, mas também na abertura de caminho para uma nova era de inovação e estratégia jurídica. Além disso, é significativo o impacto gerado pelo uso dessas tecnologias no relacionamento entre empresa e consumidor. A adoção dessas ferramentas pode melhorar a comunicação, aumentar a confiança e proporcionar um serviço mais personalizado e responsivo ao cliente. Em 2024, espera-se que a IA seja uma força motriz para fortalecer e enriquecer as relações entre empresas de consumo e seus clientes.

Ricardo Motta. É advogado e especialista em direito do consumidor, com experiência de mais de 25 anos


O que é necessário para empreender em 2024? 

Você acha que para empreender precisa de uma grande ideia? Que é necessário pensar em algo excepcional? Muitas pessoas fantasiam muito a questão de ser empreendedor. Na verdade, são pessoas normais, porém o grande diferencial delas é que estão preparadas quando aparece uma oportunidade. É válido ressaltar que muitas viram empreendedoras por necessidade ou após uma demissão, como aconteceu durante a pandemia. 

Para começar a empreender em 2024, ou nos próximos anos, é importante que você seja alguém proativo e curioso em verificar o que está acontecendo no mercado e no mundo, além de enxergar quais são as necessidades do seu público-alvo. 

Uma coisa que gosto de salientar para quem deseja empreender é que não se pode ficar “esperando” o momento certo para agir. Perceba que o momento ideal é agora. Logo, não perca tempo.  Coloque suas ideias em prática e não fique postergando, saia de sua zona de conforto. 

Tenha um objetivo e trace metas concretas para alcançá-lo. Além disso, tire suas ideias do papel e comece a agir.  Busque se organizar e persevere para não acabar desanimando. 

Adiar suas ações e tomadas de decisão apenas atrasarão o seu processo. Comece agora mesmo, use o que tem nas mãos e busque sempre se aprimorar e aperfeiçoar. Você não precisa fazer tudo de uma vez, mas precisa começar a fazer. 

Não se deixe dominar pelo medo e pela insegurança. Infelizmente, isso é muito comum acontecer. Portanto, entenda que que muitos desafios vão surgir pelo caminho, assim como as críticas. Mas não dê ouvidos. Tenha fé, trabalhe duro e reflita que cabe somente a você seguir o rumo em direção aos seus objetivos.

Leonardo Chucrute é Gestor em Educação, CEO do Zerohum, Professor de matemática, ex-cadete da AFA e autor de livros didáticos


Fim de ano: quais são as obrigações do empregador nas vagas temporárias?

Segundo projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Brasil baterá o recorde de vagas temporárias abertas no fim de 2023

O fim de ano tradicionalmente faz com que muitas empresas abram vagas temporárias com o intuito de suprir as demandas de trabalho e de vendas,  geradas pelo interesse do consumidor ao realizar as compras de Natal e Ano Novo. Segundo projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Brasil baterá o recorde de vagas temporárias abertas no fim de 2023. De acordo com o órgão, cerca de 108,5 mil vagas serão ofertadas no período, sendo o maior número em 10 anos.

O contrato de trabalho temporário é regulamentado por uma norma específica, sendo mais comum no país em épocas de demanda especial nas datas sazonais, principalmente no comércio. O empregado com contrato de trabalho temporário possui praticamente os mesmos direitos do contratado por prazo indeterminado, sendo algumas diferenças existentes originadas pelas especificidades do contrato.

“Apesar de não existir um vínculo trabalhista entre a empresa tomadora de serviço e o empregado temporário, ela será a responsável pelas obrigações trabalhistas e previdenciárias do empregado, inclusive pelo recolhimento das contribuições previdenciárias durante todo o contrato”, explica Ágatha Otero, advogada do escritório Aparecido Inácio e Pereira.

A tomadora de serviços deverá garantir ao empregado contratado temporariamente as condições de segurança, higiene e salubridade do local de trabalho. Da mesma forma, deve fornecer ao trabalhador temporário o mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus empregados permanentes.

Além da formalização da contratação por escrito, o trabalhador temporário possui direito a:

· Anotação da condição de trabalhador temporário na CTPS;

· Remuneração igual aos demais empregados da mesma categoria da empresa tomadora dos serviços;

· Jornada de trabalho reconhecido o limite legal de 44 horas semanais (com acréscimo de 50% para horas extras);

· Adicional noturno;

· Repouso semanal remunerado;

· 13º salário proporcional ao tempo de trabalho;

· Férias proporcionais;

· Seguro contra acidente de trabalho.

Descumprimentos podem gerar punições
O descumprimento dos requisitos específicos do contrato temporário, que também são direitos do trabalhador temporário, transformam essa relação de emprego, que passa a ser considerada por tempo indeterminado.

Ou seja, o descumprimento de deveres como anotação na carteira, respeito ao prazo de duração do contrato e a existência do contrato temporário escrito, faz com que essa relação se transforme e o trabalhador passa a ter direito às demais garantias trabalhistas, iguais aos trabalhadores da empresa tomadora de serviços.

Além disso, o trabalhador temporário possui direito a todos os benefícios previdenciários: auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade, por tempo de contribuição, salário maternidade, auxílio-acidente e o recolhimento do FGTS  obrigatório por lei (art. 7º, III, da Constituição Federal), correspondendo a 8% do valor sobre a remuneração paga ou devida ao empregado e deve ser depositado em conta específica. 

“Como o trabalho temporário é um contrato com prazo flexível, limitado a 180 dias e podendo se estender por mais 90, não há depósito da multa sobre o FGTS, visto que esta é cabível apenas quando houver rescisão imotivada antes do termo final do contrato. Já o saque do FGTS pode ser feito pelo trabalhador temporário após o término do contrato. Sendo que o empregado tem direito a sacar 100% do valor depositado durante o período em que ficou à disposição da empregadora”, finaliza a advogada.

Dra. Agatha Flávia Machado Otero Bacharela em Direito pela Universidade Santo Amaro e pós-graduanda em Direito e Processo do Trabalho pela Escola Paulista de Direito


Quando agricultores ganham, todos ganham 

Cooperativa dos EUA investe em mensagem de valorização do agro

Quando agricultores ganham, todos ganham. Inclusive os amantes de manteiga, como você. Essa é a mensagem que aparece no pote do produto da cooperativa agrícola Land O’Lakes, dos Estados Unidos. Na embalagem está escrito: “Com esta compra você ajuda os agricultores americanos e suas comunidades. Como uma cooperativa, somos mais de 1.000 fazendeiros que se beneficiam da venda dos nossos produtos de qualidade”.

A Land O’Lakes tem se destacado por valorizar o agro. Neste ano, investiu milhões em um espaço comercial durante a final do Super Bowl e o usou para lembrar a importância do trabalho incessante de agricultores para produzir a comida que chega à mesa de tanta gente.

A cooperativa, criada em 1921, foi apontada pela revista Time como uma das 100 empresas mais influentes.

Nos sites de venda dos produtos da Land O’Lakes, é possível ver uma imagem de valorização dizendo: “Orgulho de ser propriedade de agricultores”, fazendo referência ao cooperativismo agrícola.

O que o Brasil tem para aprender com esse caso da cooperativa agrícola dos Estados Unidos? Algo tão simples quanto a mensagem que está escrita no pote da manteiga: quando agricultores ganham, todos ganham.

Que aqui a gente aprenda a valorizar mais a gente trabalhadora que faz do agro um dos setores mais prósperos da economia brasileira.

Por Kellen Severo - Opinião Jovem Pan


Ensino integral para melhorar o país

Embora implementado há relativamente pouco tempo no país, o modelo de escola em tempo integral, no qual o aluno passa ao menos 7 horas na sala de aula, vem rapidamente se firmando como uma das principais ferramentas para combater as deficiências do ensino público brasileiro.

O exemplo mais vistoso é o de Pernambuco. Colocada em prática em 2003, e continuamente fortalecida nos anos seguintes, a política de aumento da jornada escolar teve como objetivo elevar a qualidade de ensino e reduzir a evasão. Os resultados pretendidos não demoraram a aparecer.

Da 21ª posição no ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do ensino médio, em 2007, o estado passou para o 1º lugar, em 2015; desde então, vem-se mantendo entre as primeiras posições. Caíram, ainda, os níveis de desigualdade de aprendizado e os de abandono escolar. Hoje, as escolas em tempo integral de Pernambuco representam mais de 60% do total da rede de 1.056 unidades.

No âmbito nacional, um levantamento produzido pelo Instituto Sonho Grande mostrou que as escolas do ensino médio integral se saíram melhor do que as regulares nos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira (Ideb). Em 2021, elas obtiveram nota média de 4,7 ante 4,3 do modelo tradicional.

Quando se considera apenas o desempenho no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) –que, com os dados da aprovação escolar, compõe a nota do Ideb–, os resultados são ainda mais expressivos. Estudantes da modalidade integral alcançaram 10 pontos a mais em língua portuguesa e 9 em matemática do que alunos de turmas regulares, o que equivale a aproximadamente 50% a mais de aprendizado.

Não à toa, o PNE (Plano Nacional de Educação) aprovado em 2014 consagra o aumento da jornada escolar como uma de suas diretrizes. Até junho de 2024, estipula o plano, o ensino em tempo integral deve ser oferecido em no mínimo 50% das escolas públicas, de forma a atender pelo menos 25% dos alunos da educação básica.

A fim de avaliar a evolução das escolas paulistas nesse quesito, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) promoveu em agosto um amplo esforço fiscalizatório em todo o estado. Os resultados, tornados públicos no mês de novembro, não são muito animadores. Se, de um lado, estamos perto de cumprir as metas gerais definidas pelo PNE, de outro, são muitas ainda as disparidades entre os municípios paulistas.

De acordo com o relatório, embora 24,95% dos alunos matriculados nas redes municipais paulistas estudem hoje em escolas de tempo integral, quase metade das prefeituras do estado (307) ainda não cumpriram a meta do plano, ao passo que as demais 338 alcançaram ou superaram o patamar estabelecido pela legislação.

O número geral é puxado pelo bom desempenho nas creches/pré-escola, onde 46% dos alunos frequentam o ensino integral. Chama atenção, contudo, que, em 85 redes, o percentual de 25% das matrículas não foi atingido nem mesmo nessa fase. Já no ensino fundamental, o quadro é preocupante: 11,6% dos estudantes estão matriculados em tempo integral (13% nos anos iniciais e 5% nos anos finais).

Mais grave ainda é a situação dos alunos de baixa renda. Segundo a fiscalização do TCE, apenas 17,8% dos alunos de famílias beneficiadas por programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família, estão matriculados em escolas municipais em tempo integral. Por se tratar de um percentual que, além de baixo, é também inferior à média, ele ainda contraria uma das principais diretrizes da legislação dessa modalidade de ensino: priorizar estudantes em risco ou vulnerabilidade.

Ao mostrar o quanto ainda falta para que todos os municípios atinjam –e, por que não, ultrapassem– a meta do Plano Nacional de Educação, o relatório do TCE serve de alerta e guia tanto para as prefeituras como para o governo estadual.

Certamente serão necessários mais investimentos. A implantação do modelo implica um aumento dos gastos, já que é preciso expandir a estrutura física, como salas, material didático, merenda escolar etc, e de pessoal, na forma de contratação e capacitação de educadores. Nesse sentido, a lei federal 14.640, aprovada em julho deste ano, pode ser de grande ajuda. Ela estabelece um investimento de R$ 4 bilhões para que estados e municípios possam incrementar a oferta de jornadas em tempo integral em suas redes.

No caminho para melhorar a educação brasileira, as escolas em tempo integral têm um papel fundamental a cumprir. Devemos usá-las sem moderação.
Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


A Pessoa com Deficiência e o Empreendedorismo

A trajetória da Pessoa com Deficiência (PcD) é marcada por obstáculos sociais que, muitas vezes, são erroneamente associados à sua condição individual. No entanto, a compreensão aprofundada revela que as barreiras enfrentadas diariamente não emanam da deficiência em si, mas das estruturas sociais deficientes e excludentes presentes na sociedade. 

É urgente eliminar tais barreiras injustas e odiosas por meio da construção de uma sociedade inclusiva, da Educação Inclusiva e do Trabalho.

É importante destacar que a pessoa com deficiência é frequentemente confrontada com inúmeras barreiras, que vão desde a falta de acessibilidade física até estigmatizações e preconceitos. Enfatizo que essas barreiras não derivam da condição da pessoa, mas sim do ambiente estrutural que perpetua essa exclusão. Eliminar barreiras exige uma reconfiguração de paradigmas e a compreensão de que a inclusão beneficia toda a sociedade, fortalecendo seus alicerces.

É, neste sentido, que a Educação Inclusiva e o Trabalho surgem como poderosas ferramentas na busca pela emancipação e autonomia das pessoas com deficiência. Ao capacitá-los para a vida social, esses instrumentos não apenas quebram barreiras, mas também fomentam uma participação ativa e significativa desses indivíduos na sociedade.

Recente pesquisa da Fundação Seade e da Secretaria do Estado de São Paulo dos Direitos da Pessoa com Deficiência revela uma tendência notável: mais de 60% das PcD estão buscando no empreendedorismo o protagonismo na inclusão social. Essa escolha demonstra a necessidade de incentivar e simplificar o ambiente de negócios como parte integrante da promoção inclusiva.

A construção de uma sociedade para todos demanda a desconstrução de barreiras injustas e a promoção de ambientes que valorizem a diversidade. A Educação Inclusiva e o Trabalho surgem como instrumentos-chave nesse processo, proporcionando não apenas capacitação, mas também empoderamento.

O Estado brasileiro, reconhecendo a importância do empreendedorismo na inclusão social, deve assumir a responsabilidade de facilitar e simplificar o ambiente de negócios. Ao priorizar a voz, o protagonismo e a liderança das pessoas com deficiência, estaremos construindo uma sociedade na qual todos possam contribuir plenamente: “nada sobre nós, sem nós”.
André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social, e mestre em Economia Política. É também Comendador Cultural, Escritor, Professor e Palestrante (Instagram: @andrenaves.def)


Haveria Golpe de Estado sem armas?
Um assunto que realmente me sensibilizou

Um assunto que realmente me sensibilizou foi a morte,  em 20/11, desse pai de família, com dois filhos, casado, que estava preso na Papuda, Brasília-DF,  e sofria de diabetes e de hipertensão (Cleriston Pereira da Cunha). A própria Procuradoria Geral da República tinha pedido para dar prisão domiciliar para que ele pudesse ser tratado. O pedido estava na Suprema Corte desde o mês de setembro.

Ele continuou preso e morreu. Um homem, simples, sem ficha nenhuma, segundo os jornais, pai de família, com dois filhos, que participou de um quebra-quebra, que era uma mera manifestação política, e que, evidentemente, não era golpe de Estado porque não havia armas. Integro a Academia Paulista de História, sempre gostei de história. Escrevi livros de história. Nunca vi na história do mundo, um golpe de Estado, sem armas. Aquele grupo de baderneiros que transformaram uma manifestação política em um quebra-quebra, jamais poderia ter dado um golpe de Estado. Jamais.

Pergunto aos 207 milhões de brasileiros: quando no mundo houve um golpe de Estado sem armas? O Brasil tem um exército de 220 mil soldados; a Marinha, 55 mil; a Aeronáutica, 55 mil; policiais militares são, mais ou menos, 600 mil. E o grupo que estava lá não tinha nenhuma arma. É possível derrubar um governo eleito pelo povo sem armas? Evidente que não era golpe de Estado.

Foi um grupo que foi fazer um protesto politico e, depois, transformou aquilo numa baderna. Eles deveriam ter a mesma punição que tiveram aqueles baderneiros do PT e do MST, que invadiram o Congresso Nacional, na época em que era Presidente da República, o Presidente Michel Temer, e foram tratados como baderneiros. Mas nunca foram tratados como golpistas.

Tenho a sensação de que venderam uma ideia de que grupo desarmado poderia dar um golpe de Estado. Prenderam pessoas sem nenhum passado criminal, com folha corrida criminal em branco, e deixaram presos. Estão aplicando penas de 17 anos. E um deles, pai de família, com mulher e dois filhos, preso com problemas de saúde, com a Procuradoria Geral da República pedindo ao Supremo Tribunal Federal pela libertação dele desde setembro, transformando-a em prisão domiciliar. Ele morre no mês de novembro. Morre com ataque cardíaco. E isso é natural, e, nesse caso, os direitos humanos pouco importam.

A meu ver, hoje nós temos um problema no direito que me entristece muito, como advogado. Advogado há 65 anos. O direito do advogado de exercer a sua profissão está sendo reduzido. Quando eu comecei a advogar, eu ainda menino praticamente, sustentava perante o Supremo Tribunal Federal, era recebido pelos próprios ministros em Brasília em 1961, 1962, 1963. Eles estavam recém-instalados em Brasília. Me tratavam com muito respeito. Aliomar Baleeiro, Hahnemann Guimarães, Pedro Chaves.

Sendo um advogado, enfim, recém-formado, cuja carreira universitária ia começar só no ano de 1964. Era ouvido nas sustentações orais pelos ministros. Hoje, as sessões são virtuais para a condenação de pessoas a 17 anos de prisão. Sessões virtuais em que o advogado não olha os olhos dos ministros, porque manda a sustentação oral através de um vídeo, na esperança de que venha a ser visto e ouvido. Coisa que eu entendo que não deve acontecer. Um ministro, com todas as preocupações, com as palestras que tem que dar, fora as viagens que tem que fazer, dificilmente terá tempo de ouvir.

Vocês acham que recebendo essas sustentações orais, eles vão sentar numa mesa e ficar ouvindo? É possível que façam. Mas muitos advogados têm a impressão de que não. E as próprias declarações são intrigantes: “Não, o que está escrito não precisa ser dito”. Há um direito funcional com a sustentação oral. E agora, inclusive, um regimento interno mudando esse direito. O Supremo dizendo o seguinte: quando uma sessão virtual é transformada em sessão plenária, o advogado que mandou a sustentação oral não poderá fazer uma nova sustentação oral perante o plenário. Ora, os advogados que mandaram virtualmente a sustentação são aqueles advogados mais importantes na causa. Se não puderem mais falar diretamente com os ministros, quantas vezes eu, no momento em que sustentava perante o Supremo, mudava a minha orientação de acordo com a reação que ia percebendo dos ministros da Suprema Corte, aí está a razão da advocacia, aí está a razão da sustentação oral, aí está a razão de convencer todos os ministros, no momento em que se apresentam os principais argumentos. Isso praticamente está sendo abolido.

Porque, mesmo quando uma sessão virtual, que hoje predomina sobre as sessões presenciais, é transformada em presencial, por pedido de destaque, é evidente que a sustentação oral não vai ser feita pelos que são advogados os mais importantes, por aqueles que fizeram a sustentação oral, mandando-a e não tendo a certeza se a sessão virtual poderia se transformar em sessão plenária.

A Ordem dos Advogados do Brasil tem protestado de uma forma tímida ao abrir o Conselho Federal na defesa do direito à advocacia.

E a Ordem Seccional de São Paulo, infelizmente nós não estamos vendo integrada a esta luta, das mais importantes. Quando fui presidente do Instituto de Advogados, de São Paulo, de 1985 a 1986, junto com nossos presidentes, do Conselho Federal da Ordem e do Conselho Seccional defendiamos o direito do advogado ”importantíssimo para a administração da justiça” poder exercer o direito do cidadão. Nossa credibilidade era maior, porque o advogado representa o cidadão que está sendo condenado, ou que está sendo acusado. Nós tínhamos a respeitabilidade e a coragem de enfrentar.

A relação de importância da magistratura é igual, - sempre disse isso nas minhas aulas desde 1964 -, ao advogado e ao membro do Ministério Público. É que sem eles, não haveria justiça.

Não pode haver justiça sem advogado, não pode haver justiça sem Ministério Público, não pode haver Ministério Público e Advogacia sem magistrado. Os três são igualmente importantes para a administração da justiça.

Por isso estão no título IV do capítulo do Poder Judiciário e das funções essenciais à administração da justiça.

Hoje nós estamos tendo um enfraquecimento da advocacia e não se tem tido a coragem necessária daqueles órgãos que representam os advogados de defender, à exaustão, o direito do advogado, de exercer o direito maior num processo judicial, de que, no ponto final do julgamento, possa sustentar oralmente, sendo todos os ministros, todos os desembargadores obrigados a ouvir aquele que está na defesa do cidadão.

É o exercício maior da cidadania, aqueles que defendem o Estado de direito sem ganhar absolutamente nada, porque os membros do Ministério Público e o Poder Judiciário, para defender a democracia, são pagos pelo Estado.

O advogado é pago pelo seu cliente para defender a cidadania, mas para defender o Estado de direito faz, como sempre fiz, quando era presidente, ou quando era conselheiro da ordem, presidente de instituições jurídicas e de academias jurídicas, ”pro bono”, porque o patriotismo se exerce por amor à pátria e o Estado de direito se defende por amor à pátria.

Enfim, a morte de um cidadão em que a própria Procuradoria Geral da República, em setembro, pediu por causa da sua saúde que não continuasse detido, me sensibilizou, me sensibilizou como advogado, me sensibilizou como cidadão brasileiro, me sensibilizou como pai de família, porque eu me perguntaria, se eu tivesse morrido aos 46 anos, com meus 6 filhos pequenos, o que seria da minha mulher para poder tocar sozinha a educação de seis filhos? Isto é algo que nós temos que refletir seriamente.

Nós, advogados na defesa da democracia, os membros do Ministério Público, devemos exercer com maior intensidade a defesa da cidadania, e os membros do Poder Judiciário, para mais do que fazer justiça, não fazerem injustiça, como aconteceu nesse caso.

Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Por que João teve dúvidas?

João Batista foi um grande profeta. Jesus se refere a ele como sendo o maior de todos já nascido de uma mulher. Mas revela também que, mesmo assim, comparado ao Reino de Deus, ele é ainda o menor de todos. Diante disso, fico imaginando a dimensão do amor, do grau de bondade que deve haver nas pessoas que habitam ao lado do Senhor e tudo o quanto foi preparado para elas...

Os textos sagrados revelam que João foi concebido pela Graça de Deus, pois seus pais já eram idosos quando ele foi gerado. O evangelista Lucas revela o que ocorreu quando Isabel recebeu a visita de Maria:

“Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. De onde me vem a honra de que venha a mim a mãe do meu Senhor’.”

Veja que João recebeu, por meio de Maria, o Espírito Santo, ainda no ventre de sua mãe. Veio ao mundo com a missão de ser o grande profeta, aquele que anunciaria a chegada do Messias. João batizou Jesus, viu o Espírito Santo descer sobre o Senhor, em forma de pomba. Ele reconheceu que Jesus era o próprio Deus.

Mas então, por que João teve dúvidas? Por que mandou perguntar a Jesus se Ele era realmente o Messias?

Fui me debruçar nos textos sagrados em busca de respostas. Queria saber o motivo da indagação de João. Porém, ao estudar os textos sagrados compreendi sua inquietação ou, por que não dizer, até mesmo o sentimento de abandono que ele poderia estar sentindo. Ele dedicou sua vida a Deus e apesar de toda a renúncia e entrega viu-se preso, prestes a ser decapitado, a enfrentar a morte.

O que não terá passado em seu coração… Talvez não compreendesse o motivo de continuar preso estando o Messias presente no mundo. 

Tenho convicção de que a dúvida de João era (é) mais do que razoável. Somos humanos. Fomos programados para a vida. As dúvidas de João são compreensíveis, mas, e a de tantos que sequer tiveram grandes renúncias, que não deixaram tudo para trabalhar pelo reino e, diante de problemas cotidianos, dores, sofrimentos, blasfemam quanto à atuação do Senhor em suas vidas e duvidam até mesmo de Sua existência? 

Como podemos cobrar algo de Deus - quem somos nós para tanto?

Quais as renúncias que temos feito?

De tudo quanto li e meditei tenho em meu coração que João queria ouvir da boca do próprio Deus o que ele já sabia em seu coração. Mas ele precisava da resposta. Ele, mais do que ninguém merecia a confirmação da presença do Messias entre nós. E ao receber a resposta, aceitou sua morte, pois sabia o que o aguardava: estar na companhia de Deus. Para sempre. Ele cumpriu sua missão. Compreendeu que a vinda do Senhor tinha um propósito maior que tudo quanto vivera e que ultrapassava qualquer dúvida ou especulação humana.

A história do profeta traz vários ensinamentos, dentre eles, a de que precisamos descobrir o sentido de nossas vidas e de confiar em Deus. João confiou. E olha que ele tinha motivos para duvidar, desistir. 

Mas, para confiarmos, necessitamos da fé. Não somos obras do acaso: temos um propósito inscrito em nossas almas. Talvez o mundo seja excessivamente ruidoso e por isso, haja dificuldade em escutar o chamado interior. Dificuldade em parar, silenciar. Ouvir o que Deus quer nos dizer. 

Não sei se temos condições de compreender os eventos que enfrentamos, as dificuldades, sofrimentos, ou mesmo o sentimento de abandono que esteja habitando em nosso coração. Creio que todos passamos por momentos de angústia, provações. Talvez a dúvida faça parte da nossa jornada terrestre. 

Mas, apesar de tudo que estejamos enfrentando, devemos pedir para o Senhor que aumente a nossa fé. A fé é um dom de Deus, resulta da Graça. Por isso é importante pedirmos por ela, incessantemente.

E é importante termos cravado em nossos corações a certeza que João tinha: a de que somos maiores até mesmo que todos os problemas, dores, porque a vida tem um sentido maior.

Tenho em meu coração que João, ao final, não temeu a morte, pois, confiava no Pai. Sabia para onde caminhava. 

Na certeza de que a morte é apenas um acidente no percurso!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Conectividade no campo e o futuro da Indústria de Máquinas Agrícolas no Brasil 

O Brasil é uma nação de vastas terras férteis e um setor agrícola que desempenha um papel crucial em sua economia. Com um setor que exporta mais de 30% da produção, fica evidente o potencial que o agronegócio tem para o desenvolvimento do país.

O campo brasileiro tem evoluído e se tornado um exemplo de inovação tecnológica. A agricultura de precisão, a crescente utilização de drones, a análise de dados em tempo real, máquinas autônomas e startups são apenas algumas das muitas inovações que vêm revolucionando o campo.

No entanto, apesar de todo esse progresso, há um desafio que persiste e que merece nossa atenção: a conectividade no campo.

Atualmente, apenas 30% das propriedades rurais no Brasil têm acesso à internet em algum nível. Essa é uma preocupação legítima, pois a tecnologia desempenha um papel importante na agricultura moderna.

A conectividade no campo é essencial, pois permite o desenvolvimento de máquinas agrícolas mais avançadas, integrando sensores, automação e inteligência artificial para melhorar a precisão e a eficiência operacional.

Com dados em tempo real, as empresas podem personalizar máquinas de acordo com as necessidades específicas dos agricultores, oferecendo soluções sob medida para diferentes tipos de cultivos e condições agrícolas.

Sensores e conectividade permitem a implementação de manutenção preditiva, ajudando a prever falhas e realizar reparos antes que ocorram grandes problemas, reduzindo custos operacionais, além de permitir assistência técnica remota, melhorando a eficiência do suporte ao cliente e ainda, fornecer uma grande quantidade de dados valiosos.

Empresas podem analisar esses dados para obter insights significativos, identificar padrões e tendências, e melhorar continuamente seus produtos e serviços. Com acesso a dados em tempo real, as empresas podem criar novos modelos de negócios, como serviços de assinatura baseados em uso, oferecendo soluções inovadoras aos agricultores.

Em resumo, a conectividade no campo é a chave para impulsionar a produtividade e a eficiência no setor agrícola brasileiro. Garantir que todas as propriedades rurais tenham acesso à tecnologia é um passo fundamental para manter o país na vanguarda da inovação agrícola.

A parceria entre o setor privado, o governo e outras partes interessadas desempenha um papel essencial nessa jornada. Afinal, a tecnologia é o caminho para um futuro agrícola mais próspero e sustentável no Brasil.
José Velloso é engenheiro  mecânico, administrador de empresas e presidente executivo da ABIMAQ


Problemas do texto da Reforma Tributária aprovado no Senado

O Senado Federal aprovou na quarta-feira (08) a proposta de Reforma Tributária. A principal medida proposta é a unificação de cinco impostos federais, estaduais e municipais em um único Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Além disso, a proposta estabelece a criação de uma Cesta Básica Nacional de Alimentos, com isenção total de impostos, e a implementação de um “imposto do pecado” sobre produtos como cigarros, bebidas alcoólicas e armas.

Uma mudança tão ampla do atual sistema tributário deveria ter sido estudada como fez a Comissão do Instituto Brasileiro de Direito Financeiro na década de 1950 e parte da reforma de 1960 para plasmar a Emenda nº18/65 e o Código Tributário Nacional.

O anteprojeto de Rubens Gomes de Souza estudado anos a fio pelos melhores tributaristas da história do Brasil como Gilberto de Ulhôa Canto, Tito Rezende, Aliomar Baleeiro, Amílcar de Araújo Falcão, Carlos da Rocha Guimarães e outros, resiste, na sua espinha dorsal, até hoje, apesar da intensa “contribuição de pioria” que políticos e regulamenteiros no curso nesses 60 anos têm trazido ao sistema.
 
A desfigurada PEC 45 apresentada por Arthur Lira e aprovada em poucos dias na Câmara e, agora, pelo Senado, traz como elementos estruturantes do novo sistema:

1- Uma desfiguração do sistema federativo ao retirar a competência plena dos Estados sobre ICMS (90% em média de sua arrecadação) e dos Municípios sobre o ISS (principal tributo dos médios e grandes Municípios), transferindo toda a competência impositiva para a União que legislará sobre CBS e IBS.  Além disso, um Comitê Gestor terá capacidade de arrecadação e distribuição do IBS para 5.565 Municípios, 26 Estados e Distrito Federal. Tal Comitê será composto de 54 delegados, 27 dos Estados e DF e 27 dos 5.569 Municípios.

2- Muda o regime misto de origem e destino, exclusivamente para destino sem nenhuma projeção quantitativa de como impactará a receita de todas as entidades federativas.

3- Mantém a convivência do atual sistema com a CBS da União desde 2026 e o IBS desde 2029 até 2033, o que vale para “simplificar” complicará o sistema até 2033 se não houver prorrogações.

4- Impactará o setor de serviços, hoje com um ISS de até 5% e um PIS/COFINS cumulativo de 3, 65 para os setores não excepcionados para uma alíquota que será de no mínimo 27%, mas provavelmente superior a 30%, se considerarmos o cálculo da incidência de ICMS, PIS, COFINS e ISS em relação ao PIB dos últimos anos em torno de 11,8%. Quanto maiores forem as exceções, maior a alíquota.

5- A indústria sujeita a IPI, ICMS, PIS, COFINS deverá ter um alívio de tributação, levando em consideração todas as deduções que poderá fazer, não se sabendo ainda como funcionará o denominado imposto seletivo, cuja abrangência se desconhece.

6- Os bancos, por serem trocadores de dinheiro, serão pouco atingidos.

7- O setor de serviço sujeito a ISS e PIS/COFINS cumulativo, com pouquíssimas deduções, deverá, nas alíquotas não excepcionadas, pagar mais do que a indústria, que poderá deduzir o tributo anterior em valores muito maiores.

8- O comércio sujeito ao ICMS e PIS/COFINS terá também um aumento considerável, pois não paga o IPI que a indústria paga hoje, mas pagará na não exceção o mesmo que a indústria paga de PIS/COFINS ICMS e IPI.

9- A agropecuária, mesmo com a redução de 60%, pagará mais do que está pagando hoje, ou seja, em torno de 4,5%, razão pela qual é o setor da economia que tem salvo o país do descompasso, gerando superávits na balança comercial. De cada cinco (5) pratos que se come no mundo, um é fornecido pelo Brasil.

10 - Indefinição das Alíquotas do IBS: As alíquotas do Imposto sobre Bens e Serviços serão determinadas por leis complementares a serem votadas posteriormente, gerando incerteza e insegurança jurídica para contribuintes e governos.

11 - Criação do Conselho Federativo: A proposta introduz a formação de um Conselho Federativo composto por representantes dos três níveis de governo, concedendo poder de veto sobre as decisões do Comitê Gestor do IBS. Esse conselho pode resultar em conflitos e impasses, além de suscitar preocupações sobre a autonomia de estados e municípios.

12 - Exceções à Alíquota Geral do IBS: Setores como saúde, educação, transporte público e energia elétrica seriam beneficiados por exceções à alíquota geral do IBS, potencialmente distorcendo a lógica de simplificação e neutralidade do imposto.

13 - Transição para o Novo Imposto: O período de transição proposto, de dez anos, sendo seis anos de convivência entre o IBS e os impostos atuais e quatro anos de redução gradual desses impostos, merece  críticas por ser potencialmente longo demais, dificultando a adaptação de contribuintes e governos ao novo sistema.

14 - Dupla Desoneração na Cesta Básica: A proposta sugere isenção total do IBS na cesta básica e um crédito tributário para compensar os impostos pagos nas etapas anteriores da cadeia produtiva. Essa medida pode ser ineficaz e regressiva, beneficiando mais os consumidores de maior renda.

15 -  Por fim, para não alongar em demasia, quando os números e as alíquota forem apresentadas na legislação infraconstitucional a ser produzida, todos os setores duramente impactados farão seus “lobbies” no Congresso, prevendo-se mais exceções.

Como Estados, Municípios e União não têm certeza de como seus vencimentos se comportarão, o próprio Fundo que, na plenitude da vigência do sistema deverá destinar 60 bilhões de reais tirados do orçamento da União, prevê-se que ou os contribuintes pagarão a conta ou o endividamento crescerá, pois quem ganhar de entidades federativas ficará satisfeito, quem perder terá que ser compensado, o que vale dizer, para simplificar o sistema criamos 3 vezes mais dispositivos constitucionais que o do atual sistema, que certamente exigirão a interpretação provocada por entidades públicas prejudicadas por tais disposições por parte da Suprema Corte.

O texto ainda passará por análise na Câmara dos Deputados, onde poderá sofrer alterações ou ser rejeitado. A votação no Senado não foi unânime.

Há necessidade de ajustes na Câmara, especialmente no que diz respeito à elevação da alíquota, destacando que, sem esses ajustes, o Brasil pode perder a oportunidade de fortalecer a competitividade. Portanto, se a reforma ao voltar para Câmara, for aprovada como foi apresentada no Senado, poderá onerar de forma descomunal os setores do Agro, Comércio e Serviços.

Creio que contadores e advogados tributaristas não se queixarão do trabalho que terão por dezenas de anos, pois só a definição pela Suprema Corte do que seria “operação”, ”circulação” e “mercadoria” do ICM levou aproximadamente 30 anos.

A atenção se volta agora para os próximos capítulos dessa reforma no cenário tributário brasileiro.


Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região, professor honorário das Universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia), doutor honoris causa das Universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS, catedrático da Universidade do Minho (Portugal), presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP, ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).


Saca do arroz atinge recorde de preço

Cereal em casca superou R$ 113 com valorização de 38,5% em 12 meses

O arroz atingiu o preço mais alto da história no Brasil. A saca do cereal em casca ultrapassou R$ 113 com valorização de 38,5% em 12 meses, de acordo com o Cepea/Esalq. A alta sentida no campo também refletiu no varejo. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) a valorização no ano, até setembro, já era de 10,8%. Afinal, por que o preço desse alimento básico na mesa dos brasileiros está subindo? Alguns fatores ajudam a explicar o momento histórico: (1) Na safra 22/23 o Brasil semeou a menor área de todos os tempos, com menos de 1 milhão e meio de hectares; (2) A produção também caiu para o mais baixo patamar em quase 20 anos, com pouco mais de 10 milhões de toneladas, é o que revelam os dados da Companhia Nacional de Abastecimento; (3) Exportações aquecidas, com expectativa de fechar o ano com embarques ao redor de 1,7 milhão de toneladas; (4) Restrição da oferta global do arroz vindo da Índia, um dos maiores exportadores do mundo; (5) Dificuldade no plantio da safra atual, a 23/24, nas áreas de maior produção, como os estados do Sul do país. O excesso de chuvas tem impedido o avanço dos trabalhos de campo e a semeadura está com ritmo abaixo da média para o período.

A tendência é que os preços do cereal se mantenham firmes até o início de 2024, período em que a colheita no Brasil começa, projeta a Cogo Inteligência em Agronegócios. Para o consumidor, ainda há repasses a serem feitos pela indústria. No campo, com a melhora esperada na rentabilidade do cereal, a área na safra atual subiu e a produção, se o clima contribuir, também deverá ser maior aqui no Brasil. No mundo, há uma grande demanda por arroz e oferta restrita. O arroz foi o grão que mais subiu de preços no mercado global nos últimos 12 meses, com alta de 30% em dólares, destaca a Cogo. Isso é fruto da entressafra na América Latina, problemas na produção de países como Índia e Malásia e uma safra não tão grande que está sendo colhida nos Estados Unidos. Ou seja, pela frente devemos ter meses de arroz custando mais caro.

Por Kellen Severo - Jornalista especializada em Economia e Agronegócios. É Pós-graduada em Economia pela FIPE/USP, estudou Direito do Agronegócio no Insper e Economia Comportamental na FIA. Premiada seis vezes pelo trabalho que desenvolve como jornalista do setor Agro


Criatividade, o motor do mundo 

Em 17 de novembro é celebrado o Dia da Criatividade, uma palavra proveniente do latim: creatus, que pode ser definida como a capacidade de fazer surgir algo novo a partir de uma ideia original. Mas você sabe de onde vem a criatividade? Conhece as características de uma pessoa criativa? Sabe o que a ciência diz a respeito?

Na antiguidade, acreditava-se que se tratava de um talento divino, um privilégio concedido a poucos, conceito que, ao longo do tempo, acabou sendo desmistificado pela ciência. Hoje se sabe, por exemplo, que entre 25% e 40% do processo criativo está relacionado à genética. A criatividade, portanto, não é um dom, e sim uma competência que pode ser desenvolvida ao longo da vida.

Boa parte do processo criativo, ao que tudo indica, está associada ao hábito da leitura, do questionamento, à expansão da consciência, a conhecer culturas e lugares diferentes... Afinal, não precisa ser um cientista para deduzir que tudo isso serve de matéria-prima para desenvolver a imaginação.
   
Criatividade também está relacionada ao pioneirismo e a resolução de problemas. Para estimulá-la, é preciso sair da zona de conforto, esforçar-se para enxergar o mundo sob um prisma diferente, fora dos padrões já estabelecidos, uma vez que pensar fora do senso comum requer empenho, e biologicamente, o cérebro humano foi programado para economizar energia.

Talvez por isso, até as pessoas mais criativas sofram com bloqueios. O mais importante nesta situação é buscar o foco e ser você mesmo. É preciso ficar atento. Muitas vezes a resposta vem quando menos se espera. Esteja pronto para anotá-la. As ideias são etéreas e costumam escapar, principalmente as boas.

Ainda segundo a ciência, a criatividade também está associada à capacidade de estabelecer conexões entre questões aparentemente desconexas. Via de regra, uma pessoa criativa também é uma pessoa detalhista, observadora, que costuma rejeitar receitas prontas.

Outra característica de uma pessoa criativa é a capacidade de experimentação, de usar a sua intelectualidade para explorar o mundo, de submeter-se a novas experiências sensoriais.

Dessa forma, além de interferir na dimensão emocional do sujeito, pensar fora da caixa também é o motor que impulsiona o mundo em seu constante de ciclo renovação, seja ela artística, tecnológica ou mesmo profissional. E viva o Dia da Criatividade!

Aroldo Veiga é autor dos romances Antagônicos e Trono de Cangalha


O Brasil tem capacidade de combater o terrorismo? 

Essa é uma pergunta que suscita reflexões sobre as medidas e estratégias adotadas para enfrentar essa ameaça global. Neste cenário, é fundamental destacar a importância da cooperação internacional como um pilar fundamental na luta contra o terrorismo, assegurando a integridade e a segurança da nação. Através dessa colaboração, fortalecemos nossa capacidade de prevenir, investigar e neutralizar ameaças.

Nosso país tem demonstrado uma resistência efetiva a essas ameaças, construída por meio da união de esforços com agências de segurança de diversos países ao redor do mundo. A cooperação internacional, protagonizada pela Interpol e pela Polícia Federal, revela-se crucial no monitoramento de organizações extremistas e na troca de informações vitais. Essa colaboração, representando uma verdadeira força-tarefa, possibilita rastrear suspeitos e potencializa investigações.

No tabuleiro da segurança nacional, é crucial impedir que o terrorismo ganhe terreno e se estabeleça em nosso território, proliferando como facções criminosas. A rede de cooperação internacional se torna, assim, a base sólida sobre a qual repousa a nossa luta contra o terrorismo. 

A espinha dorsal dessa estratégia reside em investimentos robustos em nossa polícia judiciária. Fortalecer e capacitar nossas forças policiais é crucial, proporcionando recursos e treinamentos adequados para enfrentar essa ameaça com eficácia. A segurança é um compromisso inabalável, e não podemos permitir que a negligência prevaleça. 

Manter um monitoramento incansável, sem baixar a guarda, é uma obrigação para proteger nossa nação. Estamos vivendo em um mundo interconectado, onde as fronteiras não são barreiras para o terrorismo. Portanto, o controle e o monitoramento constantes são os verdadeiros guardiões da segurança do Brasil.

Raquel Gallinati, Delegada de Polícia. Diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil. Mestre em Filosofia. Pós-graduada em Ciências Penais, Direito de Polícia Judiciária e Processo Penal.


A real lógica do Agronegócio Brasileiro

Ao contrário do furdunço ideológico que contamina grande parte dos bancos escolares nacionais, o agronegócio brasileiro é exemplo para o mundo de sustentabilidade ambiental, inclusão social e eficiência econômica, devendo ser motivo de orgulho para toda a gente brasileira. O agronegócio brasileiro tem se destacado como um modelo de sucesso que transcende as fronteiras do país.

Apesar desse setor ser frequentemente contaminado por debates ideológicos e conflitos, o campo brasileiro representa uma história de sustentabilidade ambiental, inclusão social e eficiência econômica que merece ser reconhecida e celebrada. 

O Brasil rural é o Brasil que dá certo! Seja pelo feixe de valores que ostenta, seja pelas vantagens competitivas naturais ou construídas, a atividade econômica rural representa o que há de melhor nas terras brasileiras, podendo, e devendo, espraiar-se por todas as demais iniciativas econômicas e sociais daqui.

Uma das características mais marcantes do agronegócio brasileiro é a sua base sólida em valores essenciais, como o estudo, o trabalho e a disciplina. Esses valores não são apenas palavras vazias, mas princípios que orientam a ação de muitos agricultores e empresários rurais. A busca constante por conhecimento, a dedicação ao trabalho árduo e a disciplina na gestão dos recursos são pilares que sustentam o sucesso do agronegócio. 

Além disso, a atividade agropecuária brasileira desenvolveu, ao longo do tempo, tecnologias inovadoras para o cultivo e para o manejo. A agricultura e a pecuária em terras nacionais, devido a essas técnicas, conseguem regenerar o meio ambiente enquanto produzem altas taxas de lucratividade e de proveito social.

Ao lado dos valores fundamentais que permeiam o agronegócio, é importante destacar as vantagens competitivas naturais que o Brasil possui. Com uma extensa área de terras férteis, um clima propício para o cultivo e uma biodiversidade invejável, o país tem condições excepcionais para a produção agrícola e pecuária. Mas, para além disso, é fundamental ressaltar que muitos avanços foram conquistados por meio de esforços e investimentos em pesquisa e tecnologia. A incorporação de práticas sustentáveis e inovações no campo brasileiro tem sido um fator-chave para o seu sucesso. 

Um aspecto que merece destaque especial é a inclusão social proporcionada pelo agronegócio. O setor emprega milhões de brasileiros, tanto no campo quanto na indústria que o suporta. Além disso, promove o desenvolvimento de comunidades rurais, contribuindo para a fixação de famílias no interior e melhorando a qualidade de vida de muitos brasileiros. A diversidade de atividades do agronegócio oferece oportunidades para pessoas de diferentes formações e habilidades, demonstrando um compromisso genuíno com a inclusão social. 

No que diz respeito à sustentabilidade ambiental, o agronegócio brasileiro tem avançado na implementação de práticas que visam a preservação dos recursos naturais. A conscientização sobre a importância da conservação do solo, da água e da biodiversidade tem se refletido em ações concretas, como a adoção de sistemas de produção mais sustentáveis e o investimento em tecnologias de baixo impacto ambiental. 

O Brasil rural, com suas vastas extensões de terra, representa uma oportunidade para o país. O sucesso do agronegócio brasileiro não deve ser limitado ao campo, mas deve inspirar e servir como exemplo para outras iniciativas econômicas e sociais. Os princípios de estudo, trabalho e disciplina, aliados às vantagens naturais do país, podem ser aplicados em diversas áreas, promovendo o crescimento e o desenvolvimento sustentável. 

É crucial destacar que aqueles que criticam o agronegócio nacional muitas vezes não consideram a realidade e complexidade desse setor. Essas críticas, muitas vezes, ecoam argumentos estrangeiros que visam manter seus mercados agrícolas protegidos, uma vez que enfrentam dificuldades em competir com a notável eficiência econômica e social do agronegócio brasileiro. É fundamental lembrar que o agronegócio no Brasil, em contraste com a média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), recebe pouquíssimos subsídios, evidenciando sua capacidade de se manter competitivo sem a dependência de apoio financeiro significativo. 

Em resumo, o agronegócio brasileiro é um motivo de orgulho para todos os brasileiros. Sua história de sucesso, baseada em valores sólidos, vantagens competitivas naturais e compromisso com a inclusão social e a sustentabilidade ambiental, serve como inspiração para o país. O campo é, de fato, o Brasil que dá certo, e seu exemplo deve ser valorizado e compartilhado em busca de um futuro melhor para toda a nação.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política; Escritor, Professor e Palestrante.


Saneamento rural, um desafio a ser enfrentado 

A aprovação do Novo Marco Legal do Saneamento contribuiu para o avanço da prestação de serviço do setor por meio de Parcerias Público-Privadas (PPPs), concessões, entre outros instrumentos. Até então inexpressiva entre os assuntos de infraestrutura, a pauta ganhou relevância no debate nacional.

Se por um lado temos discutido os desafios de atendimento das metas na área urbana até 2033, ainda encontramos lacunas para atender a população rural. A legislação deixa claro que o atendimento dos objetivos de universalização de abastecimento de água e esgotamento sanitário deve ser considerado apenas para áreas rurais sob cobertura de contratos. Porém, as localidades que não estejam sob responsabilidade contratual de uma concessionária – estatal, paraestatal ou privada – não são atendidas pela legislação em vigor. Isso quer dizer que elas estão desobrigadas ao cumprimento das metas dos serviços. 

A população rural brasileira é de aproximadamente 30 milhões de pessoas. De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS - 2021), 92,3% dos moradores dessas regiões não são atendidos por serviços de esgotamento sanitário e 70,4% não possuem sistemas de abastecimento de água tratada. A complexidade do saneamento na área urbana já é grande e se multiplica ainda mais nos distantes territórios brasileiros, começando pela ausência de informação dessas localidades, capazes de apontar as reais demandas dessas populações. 

A ausência de sistemas de esgotamento sanitário é alta em todas as regiões brasileiras e chega a 99,7% na região Norte. Na região Centro-Oeste, 76,4% da população não dispõe do serviço. No abastecimento de água, 80,2% dos moradores da área rural da região Norte não têm esse serviço, contra 55,1% da região Sul, que aparece com os melhores indicadores nesse quesito, segundo dados do SNIS 2021.

Diante de um panorama extremamente diversificado, as soluções de uma região podem não ser a resposta para outra localidade. Por isso, cabe ao município elaborar um planejamento, que comece com um levantamento de dados da realidade da sua área rural. O próximo passo é buscar soluções para as demandas dessa população. A Embrapa, por exemplo, desenvolveu várias tecnologias para atendimento dos moradores da área rural como “Fossa Séptica biodigestora”, o “Jardim Filtrante” e o “Clorador Embrapa”. 

Outro fator importante para o sucesso dessa empreitada é a interação das ações entre os diversos níveis de governo, além da participação ativa da comunidade na discussão de suas demandas bem como no processo de alcance da universalização dos serviços. 

O avanço do saneamento básico no país deve atender tanto a população urbana como os moradores do campo. O abastecimento de água potável e o esgotamento sanitário nas áreas rurais promove saúde e desenvolvimento, oferecendo aos brasileiros das mais distantes localizações o sentimento de pertencimento a uma nação que os tornam tão importantes quanto àqueles de qualquer outra região do país.

Elzio Mistrelo é engenheiro, Diretor Administrativo e Financeiro da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e coordenador do Boletim do Saneamento.



Por que o TCESP deve fiscalizar as Fundações de Apoio? 

As fundações de apoio são entidades privadas sem fins lucrativos criadas para dar instrumentalidade ao órgão público a que são vinculadas, seja na área da saúde, pesquisa ou educação.

A natureza jurídica privada, no entanto, não pode ser vista de forma absoluta. Há uma simbiose das fundações de apoio com os respectivos órgãos públicos que não pode ser desconsiderada. Uma fundação de apoio, privada, não existe sem um ente governamental, público, beneficiando-se, inclusive, de algumas prerrogativas naturais deste último. 

Elas carregam consigo a marca e notoriedade do ente público apoiado, valendo-se de seus médicos, pesquisadores, professores e, por vezes, até de estrutura física para consecução de seus objetivos. Mais que isso, por estarem ligadas a um ente público, podem ser contratadas sem processo licitatório ou se habilitarem a determinados benefícios fiscais. 

É raro encontrarmos alguma fundação que tenha receitas totalmente oriundas da prestação de serviços para a iniciativa privada. Como regra, os recursos são fruto de um contrato de prestação de serviços, aliança estratégica ou convênio com um ente estatal. Contudo, ainda que o dinheiro seja totalmente oriundo de prestação de serviços para a iniciativa privada, impossível não olharmos para elas como parte de uma estrutura do Estado, até porque, sua finalidade (e por isso as vantagens que carregam) é apoiar o ente público. 

No que diz respeito ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP), está entre as suas competências constitucionais (art. 33 da Constituição do Estado de São Paulo) julgar as contas de todos os responsáveis por recursos, bens e valores públicos da administração direta e autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, incluídas as fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público estadual.  

Assim, com o propósito de transmitir maior segurança jurídica na ação fiscalizatória, o TCESP determinou, por meio da Deliberação do processo SEI nº 008754/2022-21, que, além das fundações enumeradas nos §§ 5º dos artigos 35 e 58 das Instruções nº 01/2020 (fundações públicas estaduais, por exemplo), estão incluídas no seu rol de jurisdicionados: I - as fundações que utilizem imóveis públicos, ainda que este seja o único vínculo com a Administração Pública; II - as fundações que utilizem o nome, ou a marca da organização da Administração Pública no exercício de suas atividades; III - as fundações cujos órgãos de cúpula sejam preenchidos por docentes, diretores, autoridades e/ou servidores de órgãos ou entidades da Administração Pública, independentemente de disposição estatutária específica.

Para o TCESP, portanto, a origem dos recursos financeiros que abastassem os caixas da Fundação não é único fator que determina sua competência de fiscalização. Outras nuances, como uso da marca, know how ou bens patrimoniais acabam por abarcar a expressão “mantidas pelo Poder Público Estadual”. Ora, a lógica é bem simples, a Fundação de Apoio, embora privada, existiria ou realizaria as atividades que executa se não houvesse essa simbiose com um ente público? 

É por isso que, se de um lado as fundações de apoio possuem maior flexibilidade e agilidade em relação aos órgãos públicos para efetuar as contratações de fornecimento de materiais e serviços, bem como as contratações de funcionários sem a realização de concurso público, de outro, devem prestar contas de todos os recursos públicos que estão à sua disposição.

Com a perspectiva de desempenhar o seu papel com maior efetividade, o TCESP analisa anualmente as relações existentes entre os órgãos públicos e as respectivas fundações de apoio em processos específicos em que são examinados, entre tantos quesitos, os seus Balanços Patrimoniais. 

Por ora, não há outra forma de a Corte de Contas fiscalizar essas entidades, considerando que a análise dos registros que subsidiaram as demonstrações contábeis podem ser uma importante fonte para que o órgão fiscalizador certifique a inocorrência de eventuais conflitos de interesses daqueles que são contratados pelas fundações de apoio, especialmente se também compõem o quadro funcional do órgão público que as instituiu. 

Nessas ocasiões, é verificado se as contratações de bens, serviços e pessoal observaram os seus Regulamentos de Compras e de Seleção de Pessoal, bem como se estão em conformidade com princípios da administração pública, como os da impessoalidade, moralidade e publicidade. 

Essa dedicação aos demonstrativos das fundações de apoio é, também, uma forma indireta de o Tribunal de Contas auxiliar os órgãos públicos apoiados a alcançarem seus objetivos.

Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


O sistema de prestação de cuidados de saúde necessita de mudanças estruturais e urgentes 

Os consumidores brasileiros estão questionando uma crença de longa data sobre os cuidados de saúde que recebem. Durante décadas, pensava-se que o Sistema de Saúde proporcionava os melhores cuidados de Saúde do mundo, uma vez que aproveitavam as tecnologias mais recentes, os profissionais altamente treinados e os maiores orçamentos. 

No entanto, os relatórios e estatísticas divulgados nos últimos anos mostram um cenário atormentado por erros evitáveis, procedimentos desnecessários e uso indevido e subutilizado de serviços.

Para se ter uma ideia deste cenário, o sistema de saúde brasileiro desperdiça 53% do custo assistencial e a ineficiência no uso do leito hospitalar apresenta 49,3% do desperdício de uma unidade. Os eventos adversos contribuem com 21,3% dos desperdícios e as reinternações hospitalares precoces potencialmente previsíveis representam 13,5% do desperdício. As internações por condições sensíveis à atenção primária equivalem a 11,5% do total.

Estes resultados de cuidados de má qualidade levaram a dezenas (se não centenas) de milhares de mortes evitáveis, centenas de milhares de lesões evitáveis e bilhões de reais em custos desnecessários para organizações e indivíduos que financiam cuidados neste país.

O sistema de prestação de cuidados de saúde necessita de mudanças estruturais. Os níveis de frustração, tanto dos pacientes como dos médicos e profissionais da saúde, provavelmente nunca foram tão elevados. Os cuidados de saúde atuais prejudicam com demasiada frequência e falham rotineiramente na obtenção dos seus benefícios potenciais e os problemas de Qualidade estão por toda parte, afetando muitos pacientes. Infelizmente, entre os cuidados de saúde que temos e os cuidados de saúde que poderíamos ter, existe um abismo.

Estas constatações e outras semelhantes refletem uma crença crescente entre muitas partes interessadas que algo está fundamentalmente errado com o sistema de saúde brasileiro e que esta situação precisa mudar. 

Por isso que sempre comento: o sistema de Saúde brasileiro precisa ser reestruturado por uma política Nacional de Qualidade  e de um novo modelo de governança para garantir a equidade e sustentabilidade.

Mara Machado é CEO do Instituto Qualisa de Gestão (IQG), que há quase 30 anos capacita pessoas e contribui com as instituições de saúde para reestruturar o sistema de gestão vigente, impulsionar a estratégia de inovação e formar um quadro de coordenação entre todos os atores decisórios

O IQG vem trabalhando com parceiros internos do setor e externos para favorecer a geração de novas frentes para o sistema e colocar os prestadores de serviços em posição mais ativa. 

Atua no desenvolvimento de novas e modernas soluções para atender com agilidade as exigências do mercado atual.


A aplicação de multa pelos Tribunais de Contas em embargos protelatórios 

Sanção utiliza o CPC como fonte subsidiária para punir deslealdade processual e abuso do direito de recorrer

As competências atribuídas ao controle externo, sobretudo àquelas de viés sancionatório, são viabilizadas mediante processo no qual são observados princípios constitucionais que asseguram seu desenvolvimento válido e regular.

Assim, as partes têm as garantias do contraditório, ampla defesa e duplo grau de jurisdição com todos os meios e procedimentos que lhes são inerentes. Todavia, a exemplo do que ocorre no processo judicial, essas prerrogativas podem ser utilizadas em desvio de finalidade. Em outras palavras, no intuito de afastar ou atrasar decisão não desejada, o sujeito do processo pode usar de incidentes de defesa e de expedientes recursais para tumultuar o procedimento e protelar a concretização da decisão.

E, ausente um diploma processual uniforme e específico à jurisdição dos Tribunais de Contas, esses órgãos podem se socorrer do Código de Processo Civil-CPC como norma integradora para coibir práticas de litigância de má-fé e de deslealdade processual.

Nesse contexto, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, na sessão do Pleno de 20/09/2023, inovou sua jurisprudência. No julgamento do TC-002352/026/12, a Corte de Contas Paulista impôs ao embargante a multa por embargos protelatórios, prevista no art. 1026, §2º, do CPC.

No caso analisado, o recorrente apresentou quatro embargos consecutivos, todos desprovidos de fundamento, pois inexistiam contradição, omissão ou obscuridade a corrigir. Evidenciou-se, quando da análise do quarto embargo, o nítido caráter dilatório desse expediente recursal, ensejando a incidência de sanção pecuniária ao recorrente.

Também, foram aplicadas as vedações previstas nos parágrafos 3º e 4º do citado dispositivo, de maneira que não serão admitidos novos embargos e, em caso de reiteração, a multa aplicada pode ser majorada, sendo seu recolhimento condição imprescindível para interposição de qualquer outro recurso.

Esse novo entendimento, é compatível com o que vem sendo decido em outros Tribunais de Contas. Por exemplo, as Cortes de Contas da União, dos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Tocantins endossam a tese de aplicação subsidiária do CPC para apenar a falta de ética processual e, mais especificamente, o abuso do direito de recorrer.

É preciso dar uma resposta contundente aos intentos procrastinatórios daqueles que se submetem a competência dos Tribunais de Contas, não só para garantir a efetividade e a contemporaneidade de nossas decisões, mas sobretudo para imprimir maior agilidade na atuação primordial de controle externo dos recursos públicos.

Repetidos subterfúgios recursais movimentam toda uma estrutura de recursos humanos e materiais de modo a impor gastos desnecessários, bem como subtraem tempo considerável que poderia ser empregado em processos de maior relevância e materialidade.

Por fim, os Tribunais de Contas precisam estar em sintonia com os anseios sociais de celeridade e de duração razoável dos processos. Logo, impedir ou frustrar a interposição de expedientes meramente procrastinatórios vai ao encontro desses objetivos.

Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


A Impunidade destrói os Direitos Humanos 

A relação entre Direitos Humanos e uma política de Segurança Pública disciplinada é um tópico fundamental para o funcionamento de qualquer sociedade democrática. A promoção dos Direitos Humanos é um pilar essencial em qualquer sociedade que busca a justiça, a igualdade e o respeito à dignidade de seus cidadãos. No entanto, a realidade nos mostra que a impunidade e a falta de disciplina na área de Segurança Pública representam uma ameaça direta a esses direitos fundamentais.

Primeiramente, é crucial entender que os Direitos Humanos abrangem aspectos vitais da vida humana: Vida, Liberdade, Igualdade, Segurança e Propriedade.

A vida não se restringe apenas à sobrevivência física, mas também à plena emancipação da pessoa, ao acesso às oportunidades e ao desenvolvimento individual. A liberdade significa a capacidade de buscar o desenvolvimento pessoal de acordo com as características individuais. A igualdade exige que todos tenham acesso equânime às oportunidades de emancipação. A segurança implica proteção contra ameaças à vida e à liberdade, incluindo a criminalidade, permitindo o acesso seguro às necessidades para a emancipação. A propriedade engloba tudo que é próprio à individualidade, como bens, ideias, concepções e trabalho.

Em um contexto de insegurança pública, em que a criminalidade atormenta a vida das pessoas, vários aspectos dos Direitos Humanos são prejudicados. A livre circulação individual, a liberdade de iniciativa econômica, o trabalho e o empreendedorismo são seriamente afetados. Sem desenvolvimento econômico, a emancipação individual se torna uma meta distante para muitos cidadãos, que vivem amedrontados pelo crime organizado, privados do acesso aos instrumentos sociais de emancipação plena.

Aqui, é importante salientar que a criminalidade, frequentemente enraizada na indisciplina e alimentada pela miséria social resultante da não concretização dos Direitos Humanos, tende a se retroalimentar. A perpetuação da miséria social, muitas vezes causada pela falta de ação estatal, é uma das consequências mais graves da impunidade.

Portanto, é evidente que somente por meio de uma punição rigorosa e exemplar, aliada a uma política de Segurança Pública disciplinada, podemos combater efetivamente o crime e permitir que o Estado promova a concretização dos Direitos Humanos, especialmente nos bolsões de exclusão social.

A impunidade é uma força destrutiva que mina os Direitos Humanos. Aqueles que defendem a vitimização da criminalidade estão desconsiderando a responsabilidade individual dos criminosos, e isso é incompatível com o Estado Democrático de Direito. Além disso, esse discurso desvia a atenção das reais vítimas, que, por meio de esforço e trabalho individual, superam as adversidades sociais agravadas pela criminalidade.

Em resumo, grupos organizados de criminosos que aprisionam parcelas significativas da população em bolsões de exclusão social estão agindo de maneira antidemocrática e contrária aos Direitos Humanos. Defender a impunidade ou a leniência com a criminalidade equivale a lutar contra a Democracia e os Direitos Humanos.

Portanto, é fundamental compreender que a promoção dos Direitos Humanos e uma política de Segurança Pública rigorosa são interdependentes e essenciais para a construção de uma sociedade justa e igualitária.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social, e mestre em Economia Política. É também comendador cultural, escritor, professor e palestrante


20 anos depois, Estatuto do Idoso ainda não se consolidou

Em envelhecimento acelerado, Brasil falha na aplicação da norma

Em 2003, as mulheres e os homens com mais de 60 anos representavam cerca de 9% da população brasileira. Hoje, esse percentual já alcança 15%, devendo chegar a 23% em 2050 e 32% em 2060, segundo projeções do IBGE, o que vai corresponder a mais de 70 milhões de pessoas. Como se vê, o país vive um processo acelerado de envelhecimento.

Foi para proteger e dar dignidade a esse contingente cada vez maior de brasileiros que, há 20 anos, foi promulgado o Estatuto da Pessoa Idosa, cujo aniversário se celebra neste mês de outubro. 

De autoria do então deputado Paulo Paim, a lei 10.741 organizou em 118 artigos uma série de dispositivos legais para assegurar direitos para aqueles que já ultrapassaram os 60 anos, sejam eles aposentados ou não, e constitui, sem dúvida, uma das maiores conquistas da população idosa. 

Foi o estatuto, por exemplo, que instituiu o atendimento preferencial para pessoas com mais de 60 anos nas instituições bancárias, órgãos públicos e no embarque e desembarque dos meios de transporte. Foi também devido a ele que quem tem mais de 65 anos passou a poder utilizar o transporte público de forma gratuita. Idosos também têm direito a 5% das vagas em estacionamentos e prioridade no julgamento dos processos judiciais. 

Além de estabelecer esses benefícios, a lei se notabiliza, acima de tudo, por garantir a dignidade dos idosos em áreas como saúde, educação, cultura, lazer, trabalho, previdência social e habitação. Eles passaram a ter direito a acompanhante em tempo integral nas internações hospitalares e a uma cota de 3% das casas ou apartamentos à venda em programas habitacionais financiados com verba pública. 

O estatuto também estipulou uma renda de um salário-mínimo para aqueles que vivem em condição de vulnerabilidade social e determinou que os municípios promovam programas especiais de inclusão social e assistência, como centros de referências, instituições de longa duração e núcleos de convivência com opções de atividades culturais de lazer. 

Por fim, mas não menos importante, o estatuto protege os idosos da violência física e psicológica. Hospitais, clínicas e postos de saúde são obrigados a notificar a polícia e o Ministério Público quando receberem pacientes nessa situação. 

Apesar dos enormes avanços trazidos pela lei, muita coisa ainda pode ser feita em prol da população idosa, como mostrou uma pesquisa nacional sobre o tema conduzida recentemente pelo DataSenado. 

Embora 75% da população acima de 16 anos já tenha ouvido falar do diploma, o nível de conhecimento sobre ele ainda é baixo: 49% dos brasileiros consideram ter um nível médio de conhecimento, 35% um nível baixo e 9% nenhum conhecimento. Paradoxalmente, é maior entre os idosos o percentual daqueles que dizem não saber nada sobre a lei (12%). Também é preocupante que 21% das pessoas com 60 anos nem sequer saibam de sua existência. 

Mais grave ainda é a percepção de que o estatuto tem sido pouco respeitado no país –uma opinião corroborada por especialistas no tema. Embora esteja vigente há 20 anos, o diploma só é plenamente respeitado na opinião de 7% da população. Para 73% ele é respeitado às vezes, e para 15%, nunca é respeitado. Esse sentimento é ainda maior entre aqueles para quem a lei foi feita. Entre os idosos, 20% entendem que ela não é cumprida nunca. 

Se é fundamental, portanto, dar mais publicidade ao estatuto e melhorar o seu cumprimento, também é importante manter a lei atualizada diante do aumento da população idosa e das mudanças pelas quais a sociedade brasileira passou nas últimas décadas. Especialistas têm apontado cada vez mais a necessidade de o diploma considerar o envelhecimento como um processo atravessado por diferenças de raça, gênero e classe social, e não um fenômeno homogêneo. 

Dados prévios do Atlas da Violência deste ano, a ser divulgado em outubro, mostram, por exemplo, que idosos não negros morrem 6,4 anos mais tarde do que os negros. Tal diferença atinge nada menos que 10,9 anos quando se considera uma mulher não negra e um homem negro. Estratos historicamente marginalizados, como idosos da comunidade LGBT, também merecem atenção especial. Trata-se, em suma, de reconhecer que grupos vulneráveis têm menos oportunidades de envelhecer com dignidade – e buscar reverter isso. 

A longevidade é uma conquista civilizatória. Devemos garantir que todos, sem exceção, possam desfrutá-la com direitos, segurança e bem-estar. 
Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


Prevenção que salva vidas!

Hoje tenho uma conversa muito especial com as mulheres que prestigiam esse veículo, com sua habitual leitura. Vou falar sobre o já consagrado Outubro Rosa, mês de prevenção ao câncer de mama, criado no início da década de 1990 nos Estados Unidos e rapidamente adotado na maioria dos países. Embora seja um tema nem sempre fácil de abordar, falar abertamente sobre o câncer pode ajudar a esclarecer mitos e verdades e, com isso, aumentar o conhecimento, diminuir o medo associado à doença e salvar vidas.

Números - O câncer de mama é o tipo que mais acomete mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos. Para o Brasil, o Ministério da Saúde prevê quase 74 mil casos novos de câncer de mama em 2023, com um risco estimado de 66 casos a cada 100 mil mulheres. As mais altas taxas de mortalidade estão nas regiões Sul e Sudeste do País. Mas é possível mudar esse triste cenário. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, o INCA, um em cada três casos de câncer pode ter risco de morte reduzido a quase zero, se for descoberto logo no início. O problema é que muitas pessoas, por medo ou desinformação, evitam o assunto e acabam atrasando a ida ao médico. Por isso, é preciso desfazer crenças sobre o câncer, para que a doença deixe de ser vista como uma sentença de morte ou um mal inevitável e incurável.

Prevenção - O câncer de mama apresenta sinais e sintomas em suas fases iniciais. Detectá-los precocemente traz melhores resultados no tratamento e ajuda a reduzir a mortalidade, alerta o INCA. Os médicos especialistas comentam, acertadamente, que, quando a mulher conhece bem o seu corpo, ela pode perceber mudanças que são normais nas mamas e ficar alerta para um sinal ou sintoma suspeito de câncer. Por isso, iniciamos por meio do Link e das mídias sociais da Federação e dos seus 72 sindicatos filiados, uma ampla campanha, com o objetivo de orientar mulheres e homens a respeito da prevenção e da detecção precoce do câncer de mama. Estão sendo veiculadas mensagens conscientizadoras que alertam para os fatores de risco, sinais e sintomas, detecção precoce e como prevenir o câncer de mama.

Homens - Os homens têm um papel fundamental nesta campanha. São eles que devem incentivar as mulheres a fazer o diagnóstico precoce. Além disso, os homens também podem ter câncer de mama, embora essa ocorrência seja rara, representando apenas um caso em cada 100.

Para finalizar, tenho um recado do Ministério da Saúde: preste atenção nas estratégias para reduzir o risco do câncer de mama: mantenha o peso corporal adequado, pratique atividade física e evite o consumo de bebidas alcoólicas. Para as mulheres que acabaram de dar à luz a amamentação também é considerada um fator protetor.

A prevenção salva vidas e a informação é o ponto de partida para isto. Que não só o outubro seja rosa para as mulheres, mas todos os dias do ano!

Luiz Carlos Motta é Presidente da Fecomerciários e da CNTC. É Deputado Federal (PL/SP)


Você conhece a verdadeira francesinha?

É inegável: unhas bem cuidadas são bonitas de serem vistas! Não é à toa que uma das preferências das mulheres, na hora do embelezamento das unhas, é a famosa Francesinha. Atemporal e clássica, essa técnica de nail art segue valorizando as unhas, seja na versão tradicional ou nas variações atualizadas, que usam, de maneira inusitada, diversas cores, texturas e acabamentos. 

Pouca gente conhece, no entanto, a Francesinha original e a forma como ela foi criada! Tudo aconteceu por volta dos anos 1970. Naquela época, a cor das unhas precisava, obrigatoriamente, combinar com a cor das roupas. Imagine o tamanho do transtorno que isso causava na vida das mulheres! E, como a arte imita a vida, a mesma dificuldade era vivenciada pela indústria do cinema. Cansado do tempo necessário para a troca de esmaltes durante as filmagens, um diretor de Hollywood encomendou ao maquiador Jeff Pink um estilo de esmalte que combinasse com todas as cores de roupas. 

Apesar de incomum e difícil de conseguir, Pink criou como solução o Natural Look Nail Kit, uma combinação de um esmalte no tom da pele e um esmalte branco, que deveriam ser usados juntos. A esmaltação foi usada durante um desfile de moda, em Paris, e ao retornar aos Estado Unidos, Pink passou a chamar o kit de “Manicure Francesa”. Depois que artistas como Cher e Barbra Streisand passaram a usar o look, o sucesso foi total. 

Jeff Pink buscou inspiração na Revolução Francesa para a inusitada saída. Naquele tempo, tomar banho era um luxo acessível apenas para a elite. Tanto, que em filmes como ‘Les Misérables’ vemos que as cortesãs viviam em condições de higiene bastante precárias. A saída para esconder a sujeira que se acumulava embaixo das unhas era pintar as bordas das unhas de branco. 

A Francesinha original, criada por Jeff Pink, utiliza um esmalte no tom da pele para cobrir e uniformizar o leito ungueal. O esmalte ultra branco, por sua vez, acompanha a ‘linha do sorriso’, realçando a borda livre das unhas. A ideia era criar uma espécie de unha natural estilizada. Foi com essa fórmula minimalista e elegante, que o maquiador encantou celebridades e conquistou o mundo inteiro. 

Hoje em dia, há Francesinhas de diversos tipos fazendo as unhas de mulheres de todas as idades. As pontas podem ser coloridas, decoradas e até recebem formatos variados. No Brasil, existe, inclusive, uma versão autoral, em que a base de esmalte nude foi substituída pelo esmalte de base branca translúcida e as pontas das unhas deixaram de seguir a linha do sorriso e passaram a ser feitas bem finas e retas. O resultado é bastante diferente daquele proposto por Jeff Pink e não costuma ser visto em outras partes do mundo. 

O universo dos cuidados e embelezamento das unhas é democrático e aceita variações, embora alguns modismos possam popularizar gostos duvidosos. Particularmente, preferimos a versão original da Francesinha, uma vez que ela proporciona um resultado esteticamente mais harmonioso. Ao manter o fundo nude, as pontas branquinhas e seguir a ‘linha do sorriso’, a Francesinha transmite mais delicadeza e feminilidade, além de ser a mais clássica, atemporal e, sem dúvida, a mais chique entre todas as nail arts! 

Olga Radionova é a maior autoridade no método russo original de cuidados com as unhas no Brasil, diretora da RNSA School e responsável por formar as especialistas que atuam na Bela Russa – 1ª rede de franquias de estúdios especializados no método russo original de cuidados com as unhas


Outubro dos comerciários!

Outubro é o mês dos comerciários. A categoria que reúne mais de 12 milhões de trabalhadores no Brasil, comemora a sua data no dia 30. Apenas para citar um exemplo da sua dimensão e importância este contingente é maior do que a população de Portugal. É a maior categoria de trabalhadores urbanos do País. No Estado de São Paulo, são 2 milhões e 500 mil comerciários, representados pela Fecomerciários e seus 72 Sindicatos Filiados.

O 30 de Outubro teve origem nas mobilizações por redução da jornada de trabalho e conquistas de outros direitos. Foram dois momentos de mobilização e luta, ocorridos sempre no mesmo mês e dia. O primeiro, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, aconteceu em 1911. A jornada foi reduzida, de estafantes 12 horas diárias de trabalho, para dez horas diárias. O segundo, se deu em 1932, quando o Presidente Getúlio Vargas reduziu a jornada para oito horas diárias. Mas, em 2013, após uma longa batalha das entidades sindicais comerciárias de todo o Brasil, conseguimos a regulamentação da profissão por meio da Lei Federal 12.790 e o reconhecimento do Dia do Comerciário.

Avanços
Entre outros avanços, a regulamentação da profissão é a segurança de vários direitos como registro em carteira de trabalho, jornada de trabalho de oito horas diárias (44 semanais) e manutenção e fixação de pisos salariais por meio de Convenção e Acordo. Os comerciários também conquistaram o direito de uma gratificação que pode ser em dinheiro ou folga, correspondente a um ou dois dias de trabalho, a depender do tempo da contratação. Essas conquistas são resultado da moderna estrutura sindical baseada no Sistema Confederativo. Ou seja a Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC), Federação e Sindicatos. 

Celebração
Como já é tradição, a base sindical comerciária paulista vai celebrar o Dia do Comerciário em seu Complexo Eco, na Estância Turística de Avaré, no próximo dia 28, a partir das 10 horas. A confraternização organizada pela Federação, costuma reunir mais de 3.500 pessoas naquele Complexo, com um dia muito especial com shows, sorteio de um grande número de brindes, além de palestras e discussões sobre temas da atualidade.

As celebrações vão se estender durante todo o mês de outubro na base sindical comerciária paulista, onde atuam os Sincomerciários e Sinprafarmas filiados à Federação. Nas programações, confraternizações nas sedes, subsedes e Clubes de Campo com sorteios de valisosos prêmios em algumas regiões, como motos, bicicletas, eletroeletrônicos e eletrodomésticos, entre outros. Essas ações são acompanhadas por pronunciamentos das diretorias das entidades por empregos, salários e direitos.

Força e representatividade
Este ano, o mês dos comerciários, está sendo marcado pelas ótimas repercussões do Congresso Sindical Comerciário intitulado: “O Novo Sindicato: Mais Forte, Mais Representativo”, que, em sua 28ª Edição, aconteceu recentemente no Centro de Lazer da Federação Praia Grande, com a presença do Ministro Carlos Lupi, da Previdência, entre outras autoridades.

Gostaria de destacar o Projeto Fenix, aprovado naquele importante encontro que reuniu cerca de 600 participantes. O Projeto, voltado para a base sindical comerciária paulista, agrupa 11 setores de atuação da Federação e seus Filiados. Seu objetivo é contribuir com a renovação dos Sindicatos, seu fortalecimento e sua representatividade.

Durante este mês, reforçaremos a discussões das deliberações aprovadas no 28º Congresso. Tais como campanhas permanentes de sindicalização, a identificação dos associados e diretores que podem ser candidatos às eleições municipais do ano que vem, o fortalecimento do intercâmbio das melhores práticas entre os sindicatos, a capacitação dos dirigentes e funcionários dos sindicatos filiados e a concentração de esforços para a fundação da nossa Universidade Sindical Corporativas.

Juntos, podemos e conquistamos mais! É esta união e consciência de classe que potencializam as nossas justas bandeiras de luta e nos garante os melhores motivos para celebrarmos o Dia do Comerciário! Parabéns à maior categoria de trabalhadores urbanos nos Brasil!

Luiz Carlos Motta é Presidente da Fecomerciários e Deputado Federal (PL/SP)


Numa democracia, buscas especulativas são flagrantes abusos de autoridade 

Eu, Ubiratan Sanderson, e você, cidadão, temos assistido a um verdadeiro show de horrores no campo das garantias fundamentais em nosso país. Infelizmente, o Estado que persegue tem ultrapassado todos os limites de razoabilidade, partindo literalmente para cima dos brasileiros pelo simples fato de pensarem diferente.

Parlamentares têm sofrido medidas constritivas judiciais por exercerem o mister constitucional de falarem; empresários sendo submetidos a buscas em suas casas com base em conversas de WhatsApp; cidadãos presos à baciada, sem a devida individualização de culpa, por participarem de manifestações políticas. Até mesmo jornalistas estão sofrendo sanções absurdas.

Recentemente, vimos a implantação da mais abjeta das ações detrimentosas às garantias fundamentais: a “fishing expedition“, termo em inglês que significa expedição de pesca, mas que em bom português quer dizer “busca especulativa”, ou seja, perseguição política.

Esses instrumentos de perseguição, próprios de regimes totalitários, são normalmente usados para mascarar abusos. Para fazer de conta que o devido processo legal e as garantias constitucionais estão sendo cumpridas, lançam mão de construções argumentativas estapafúrdias para fundamentar a expedição de ordens de prisão, de buscas, quebras de sigilos e bloqueio de bens, etc. Numa democracia, esse tipo de instrumento é classificado como abuso de autoridade, cujos responsáveis costumam responder civil e criminalmente com os rigores da lei.

A operação da Polícia Federal contra uma família paulista que, na Itália, em férias, teria cometido “injúria” contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, foi o alvo da vez. A desproporcionalidade da medida judicial, de forma desmedida, procura tratar uma situação banal, sem relevância penal alguma, como se um crime hediondo fosse. Óbvio que ofensas e insultos não podem ser aceitos em hipótese alguma, contra quem quer que seja, mas tratar como criminosos violentos pessoas que supostamente injuriaram um ministro do STF é um enorme exagero, algo que não dá para jamais concordar.

Não custa lembrar que o Código Penal Brasileiro, em seu artigo 140, classifica como injúria a ofensa à dignidade ou ao decoro de alguém, estabelecendo pena de 1 a 6 meses de detenção. É um crime de menor potencial ofensivo, que nem prisão em flagrante cabe. Se o autor for primário, cabe inclusive a chamada transação penal, quando a ação penal sequer é iniciada.

Por isso, ver uma megaoperação policial realizada para apurar uma situação sem nenhuma relevância penal, na verdade, o crime imputado à família Mantovani é daqueles classificados como de menor potencial ofensivo, conforme já acima repisado. Portanto, estamos, muito provavelmente, diante de um covarde abuso de autoridade, cujos responsáveis não podem sair ilesos.

Vale registrar que a estada de Alexandre de Moraes na Itália ocorreu em virtude de uma palestra que o referido ministro proferiu em Roma, organizada, promovida e patrocinada por uma faculdade brasileira sediada em Goiás, que inclusive foi recentemente condenada por fake news.

Diante disso tudo, é impossível assistirmos silentes a esse show de horrores que ultimamente temos assistido. Enquanto o Congresso Nacional, notadamente o Senado Federal, continuar fazendo de conta que está tudo bem, temos o dever de seguir denunciando as arbitrariedades perpetradas por aqueles que têm a obrigação de proteger o estado democrático de direito em nosso país.

Por Ubiratan Sanderson


Gentil e reaça 
Ao falar de reacionários, vinham à mente tipos específicos de pessoas. Encontrávamos adesivos por voto impresso colados em camionetes de chassi erguido, dirigidas por sujeitos de meia-idade, enganados de sua vulnerabilidade por uma ansiedade impositiva. Já não nos surpreendíamos com arroubos de ódio por clichês baratos. O que nos fez cair da cadeira, nos últimos tempos, são irrompes inescrupulosos por pessoas extremamente afáveis.

Falamos daquela gente que nunca se furta a prestar favores, sem pedir nada em retorno, e com um sorriso no rosto (e, quem a conhece, sabe que a cortesia é sincera). Quando falhamos com ela, não há ninguém mais compreensível, deixando de lado qualquer cobrança (ao ponto de ficarmos constrangidos enquanto não repararmos o erro). E se precisarmos desabafar, podemos contar com ela. Não nos referimos só ao senhorzinho amigo da vizinhança, que pegamos acampado na frente de quartéis, mas também do “brother” do grupo do futebol (ou do crossfit), do colega de faculdade, do parceiro de games, entre tantas outras figuras.

Quando menos esperamos, eles bufam, do nada para lugar nenhum, sua decepção com a tentativa de golpe da extrema-direita, profetizam o apocalipse da ordem cívica econômica com a eleição de “comunistas” ou os flagramos em corrupções mal-arranjadas, que já sabemos não serem meros “jeitinhos”. Não os encontramos apenas numa das extremidades da bitolagem política, também testemunhamos achaques em sentidos opostos para manter a polarização viva.

É arbitrário classificar pessoas por suas personalidades e despropositado perfilhar causas para posturas peculiares. Ao investigar um tipo de pessoa, uma simplificação representativa, fixa-se um instrumento analítico para propor diferenças e identificar caracteres atuais relevantes.

No nosso caso, e contra as análises conjunturais, precisamos distinguir a disposição, algo entre índole e estado de ânimo, do discernimento da pessoa observada. A moralidade vulgar encobre essa diferença ao associar serenidade com prudência. Não esperávamos que indivíduos pacíficos esbravejassem absurdos. Performance expressiva nada diz respeito à razoabilidade da reclamação, e é esta última que nos importa.

Não podemos dizer que nosso exemplo seja a de novos Eichmanns, organizando o holocausto de dentro da repartição burocrática, afinal, naquele está o clamor contra a impunidade e contra a corrupção, seus cânones. Há uma demanda jurígena, mesmo que virulenta, que o afasta da pura apatia. Talvez esses falsos pacatos não saibam do que falam, mas, certamente, alimentam uma frustração séria com o estado de coisas, especialmente em relação a configurações institucionais.

É legítimo numa democracia alimentar opiniões discordantes, bem como discordar dos mecanismos de diálogo ou de decisões coletivas já tomadas, mas sempre em respeito ao “jogo”. Todo jogo centra-se no aprofundamento da interação dos jogadores, não no tabuleiro, nem nos movimentos das peças sobre este. Nessa alegoria, debatemos e deliberamos pelo que se debate. A performance pode ser envolvente, mas ela é secundária.

É a performance, no entanto, que se ostenta, nunca as razões dos jogadores. Confundidas disposição e prudência pela moralidade vulgar, nosso pacato talvez acredite que sua gentileza lhe justifica em seus absurdos (quando o mito do cidadão de bem fecha seu circuito), contudo, no frigir dos ovos, não é a gentileza que está em jogo. Aquela frustração reflete o entendimento destas pessoas de que elas não estão sendo mais consideradas.

Nossos falsos pacatos engendram uma questão política de primeira ordem, o desinteresse no jogo limpo. Jogadores habituais são aqueles que sabem transitar entre as casas, usando as regras em seu favor. Para alcançar a perícia que não têm, os pacatos deixam de seguir as regras para manipulá-las – ao menos assim tentam. Não há um interesse em se divertir com jogar, isso é para amadores. Sempre existiram jogadores habituais nos corredores palacianos, principalmente os bajuladores. 

Nossos pacatos querem trapacear, levados a erro pela moralidade vulgar, sem distinguir disposição de prudência, pouco importa se fazem isso de forma amável. Não só a expressão perde relevância, o significado expresso deixa de ser ouvido. Mesmo que não valha a pena discutir com idiotas, é preciso denunciá-los. Não sorria de volta.

Ribas de Lima é advogado, especialista em processo civil, mestre em direito constitucional e autor do livro Faces públicas do julgamento (Kotter Editorial)


A importância de votar para os Conselhos Tutelares 

As eleições para os Conselhos Tutelares de todo o país, a serem realizadas no próximo domingo, constituem um momento importante para a sociedade exercer a sua cidadania e, sobretudo, seguir garantindo a proteção e a promoção dos direitos de crianças e adolescentes. 

Criado em 1990, com a publicação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069), o Conselho Tutelar é um órgão municipal permanente e autônomo, não jurisdicional, que tem como objetivo de zelar pelo cumprimento dos direitos previstos naquela lei – como o direito à educação, o acesso à saúde, o direito ao brincar e a uma vida familiar e comunitária sem qualquer tipo de discriminação, entre outros. 

Também representa, dentro da rede de proteção da infância e da juventude, um dos principais canais de contato entre a população e as autoridades. São os conselheiros tutelares que recebem pedidos por vagas em creches, notificações sobre estudantes em situação recorrente de faltas escolares (o que pode, por exemplo, indicar casos de negligência familiar), queixas de falta de atendimento a alunos com deficiência, além de denúncias de maus-tratos e violência contra o público infantojuvenil. Se necessário, cabe a eles requisitar serviços públicos, acionar o Judiciário e o Ministério Público, bem como cobrar dos governos o cumprimento do ECA.

Além de criar a instância dos Conselhos Tutelares, a Lei 8.069 também os dotou de uma característica altamente relevante: os membros do órgão precisam ser eleitos pela comunidade, por meio do voto direto e facultativo. Se esse processo dá à sociedade o poder de escolher aqueles que serão responsáveis por atender, amparar e proteger nossas crianças e adolescentes, ele também deve sua legitimidade ao envolvimento efetivo da população. Por isso é tão importante participar das eleições que se avizinham. 

A votação, que ocorre apenas de quatro em quatro anos, abarca mais de 30 mil Conselhos Tutelares espalhados por todos os municípios do país –sendo eles os responsáveis por manter o órgão em pleno funcionamento. Uma de suas características mais valiosas é a exigência de que os candidatos ao cargo residam nas regiões onde pretendem atuar. Trata-se de uma via de mão dupla. De um lado, isso faz com que os eleitos e eleitas tenham uma noção mais profunda das questões de cada comunidade e, dessa forma, atuem de maneira mais qualificada. De outro, permite que os moradores de cada região conheçam os seus representantes e possam cobrá-los para que o órgão cumpra as funções para as quais foi criado.

Neste ano, pela primeira vez, as votações terão o apoio dos Tribunais Regionais Eleitorais, o que deve conferir a elas mais eficiência. Basta comparecer ao local de votação de sua região portando um documento com foto ou o e-título. É um ato que não só fortalece a democracia em nível local como ainda colabora para uma sociedade mais justa e menos desigual.

Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


O Brasil escolhendo seus conselheiros tutelares 

No Brasil, o cuidado com a Infância e Juventude não é um compromisso apenas das famílias: conforme o artigo 227 da Constituição, é também da sociedade e do Estado. Em 1990, ao aprovar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Congresso Nacional também detalhou as obrigações de cada agente social, como famílias e cuidadores.

Mães, pais ou responsáveis têm o dever de sustento, guarda e educação. Tendo também direitos, deveres e responsabilidades iguais e compartilhados no cuidado e na educação das crianças. Os cuidadores também devem se encarregar por transmitir suas crenças e culturas, sem o uso de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante, além da atualização da carteira de vacinação, da matrícula na rede regular de ensino e acompanhamento escolar, entre outros direitos e obrigações.

Ao Estado (poder público) cabe assegurar políticas públicas que deem conta do acesso universal aos direitos estabelecidos na Constituição e detalhados no ECA e em outras leis, com absoluta prioridade, desde o atendimento em saúde pré-natal, perinatal e pós-natal, acesso à Educação Infantil, ao Ensino Fundamental e Médio, apoio às famílias para o cuidado de suas proles até atendimentos especiais para crianças e adolescentes neurodivergentes ou com deficiência física, além de acesso ao Ensino Superior.

À sociedade cabe apoiar as famílias e, sempre que necessário, diretamente as crianças e adolescentes, lhes alcançando apoio, refúgio e oportunidades, a partir de redes de vizinhança, trabalhos voluntários e também comunicar ao Conselho Tutelar os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra crianças ou adolescentes.

À sociedade cabe ainda escolher quem deve integrar os Conselhos Tutelares, um importantíssimo ato de cidadania, de extrema relevância para garantir e zelar pelos direitos das crianças e adolescentes previstos no ECA. Este órgão também tem o desafio de, em nome da sociedade, auxiliar que esses direitos cheguem às crianças e aos adolescentes, independentemente de seu local de nascimento, moradia, crença religiosa ou qualquer outra condição.

No próximo dia 1º de outubro, em todos os municípios do país, estamos – enquanto integrantes da sociedade – convocados a participar da escolha das pessoas que comporão os Conselhos Tutelares pelos próximos quatro anos. É uma oportunidade de transformarmos queixa em ação, escolhendo pessoas qualificadas para nos representarem nessa importante missão de cuidado social.

José Carlos Sturza de Moraes é cientista social e coordenador do Instituto Bem Cuidar (Aldeias Infantis SOS)


Os Tribunais de Contas e o sancionamento de quem contrata com a administração 

Um dos temas mais candentes a respeito das competências dos Tribunais de Contas trata da possibilidade de aplicação de sanções às empresas contratadas pela Administração Pública para a execução de obras, serviços e fornecimento de bens. 

Tradicionalmente, as Cortes de Contas costumam aplicar multas aos gestores envolvidos em contratações irregulares ou que tenham causado danos ao patrimônio público por meio do sobrepreço, superfaturamento ou desídia na fiscalização da execução do ajuste. Trata-se de uma competência exercida com fundamento no inciso VIII do art. 71 da Constituição Federal, segundo o qual, é atribuição de tais órgãos de controle “aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário”. 

Além dessa atuação já consolidada, parece-me também possível estender a fixação de penalidades às empresas que transacionam com o Poder Público. A questão gira em torno de definir os limites da jurisdição dos Tribunais de Contas sobre os particulares contratados, o que demanda a análise teleológica da legislação, a partir da regra constitucional acima transcrita. 

Com efeito, no âmbito do TCE-SP, a Constituição Estadual e a Lei Orgânica da Corte (Lei Complementar n. 709/1993) fixam, entre as competências do Órgão de Controle, aquelas para: (i) julgar as contas daqueles que derem causa à “perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário” (art. 33, II, CE; e art. 2º, III, da LC 709/1993); e (ii) “aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei” (art. 33, IX, CE; e art. 2º, XII, da LC 709/1993). 

As sanções que podem ser aplicadas estão previstas nos artigos 101 e 104, inciso II, da LC 709/1993, que determinam:

Artigo 101 - O Tribunal de Contas poderá aplicar aos ordenadores, aos gestores e aos demais responsáveis por bens e valores públicos, as multas e sanções previstas neste Capítulo.  
Artigo 104 - O Tribunal de Contas poderá aplicar multa de até 2.000 (duas mil) vezes o valor da Unidade Fiscal do Estado de São Paulo (UFESP) ou outro valor unitário que venha a substituí-la, aos responsáveis por:  
(...) 
II – ato praticado com infração à norma legal ou regulamentar; 

A análise dessas normas leva à expansão da figura do responsável para fins de aplicação de sanções pelo TCE-SP, pois ele pode ser identificado como o agente público ou o particular que pratique ato com infração à norma legal ou regulamentar, além daquele que execute ação que cause prejuízo ao Erário. Em outras palavras, o termo responsáveis abrange os agentes públicos envolvidos e as pessoas físicas e jurídicas privadas que mantenham relacionamento com o Estado. 

Acrescento que, no âmbito dos ajustes administrativos, especialmente na fase de execução, ainda que não existam, no momento, indícios de atos de corrupção - o que pode demandar investigações dos órgãos competentes - ou de favorecimento à contratada, é possível a responsabilização dela, em virtude do descumprimento dos deveres legais decorrentes da probidade e da boa-fé que rege as relações contratuais. 

Assim, o art. 66 da Lei n. 8.666/1993 (correspondente ao art. 115 da Lei n. 14.133/2021) determina que o “contrato deverá ser executado fielmente pelas partes, de acordo com as cláusulas avençadas e as normas desta Lei, respondendo cada uma pelas consequências de sua inexecução total ou parcial”, regra que é complementada pelas disposições de direito privado e da teoria geral dos contratos, de acordo com o art. 54 da mencionada norma (equivalente ao art. 89 da Lei n. 14.133/2021).  

A integração das normas de direito privado aporta ao tema a disposição do art. 422 do Código Civil, segundo o qual “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.

É dentro desse quadro de normas que a responsabilidade das empresas contratadas deve ser analisada, uma vez que a boa execução dos ajustes firmados com o Poder Público deve ser objeto de análise não apenas da entidade contratante, mas também da sociedade e dos Tribunais de Contas a quem compete fiscalizar a regularidade dos gastos realizados pela Administração Pública.

Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


O problema do carreirismo político 

Em A Arte de Escrever, Arthur Schopenhauer aborda sua visão sobre vocação e distingue aqueles que seguem ciência ou arte por amor e prazer daqueles que o fazem por ganho financeiro. Assim que li o texto, meu cérebro automaticamente substituiu “ciência ou uma arte” por “carreira política”, o que me levou a fazer buscas nos escritos de Max Weber (1864–1920).

Weber diz que somos todos políticos ocasionais. Quando tomamos lado, seja por meio de algum protesto ou aplauso a determinado agente político, ou até mesmo nas democracias modernas, mediante o voto, agimos de forma política. De um modo ou de outro, influímos na ocupação dos espaços de poder nas estruturas políticas.

Há também os “políticos profissionais”, que, conforme Weber, surgem com o Estado Moderno. O modelo observado por ele contrasta com o “político diletante”. O texto de Weber confronta o modelo de carreirismo político, característico no Brasil.

Não levo a ideia de diletantismo para a política ao extremo, a ponto de imaginar que políticos devam trabalhar de graça, apenas por “amor”. Isso é utopia. Nas democracias modernas, políticos têm bons salários. Mas no Brasil, o carreirismo político tornou-se uma alternativa de sobrevivência – e esse problema dialoga com o conceito de político profissional de Weber.

Os adeptos a essa linha de vida geralmente não conseguem sucesso na iniciativa privada. Com isso, entram na política para sugar, não para somar. Surge assim um problema moral. O político carreirista, como não tem outro modo de sobrevivência que não a própria política, “vende a alma ao demônio” para manter seu cargo ou mandato.

O Brasil precisa sair do terceiro-mundismo e avançar em seu sistema político. Nossa Constituição, por exemplo, foi construída ao molde parlamentarista. Parlamentarismo com voto distrital puro seria ideal. A cobrança ao político eleito aumenta nesse sistema e isso causa desconforto ao político carreirista, aquele que não tem vocação política e pensa apenas na sobrevivência (ou até no enriquecimento).

Em seu livro “Cartas a um jovem político”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disserta sobre as motivações do indivíduo ingressar no meio político. Segundo ele, a vocação é princípio fundante para isso. Ele adverte que se “não for possível guardar um certo idealismo, então para que entrar na política?”. Sendo esta uma das atividades mais desmoralizadas do país, complementa, alguém precisa ocupar os espaços e a tarefa de governá-lo. Do contrário, sublinha – e com razão –, os medíocres ocuparão esses espaços.

Reafirmo que não é errado buscar uma carreira política, ou até mesmo (sobre) viver dela. O trabalhador é digno do salário. A questão é a vocação. Ou seja, almejar uma carreira na política e um sustento precisa ser subsequente à vocação e ao idealismo.

Ianker Zimmer é jornalista e autor do livro “A Mente Revolucionária” (Almedina Brasil)


Não devemos nada à Maria?

Certa vez, em um diálogo sobre fé com um senhor de determinada igreja evangélica, ouvi a seguinte afirmativa: “Não devemos nada à Maria”! Confesso que, naquele momento, não consegui responder, fiquei calada, em um misto de tristeza e indignação. Na verdade, eu não queria responder de forma impensada, em que parecesse um confronto, em uma discussão acalorada, fundamentalista, e que não levaria a lugar algum. Costumo respeitar as pessoas, suas crenças, religiões, pensamentos, mesmo que não concorde.

Mas aquela frase ficou ressoando em minha mente durante muito tempo. Assim, decidi redigir este texto com base nas Sagradas Escrituras, após estudos e em oração, argumentando de forma respeitosa e assertiva. Caberá ao leitor o veredito final.

Não tenho expectativas, nem presunções de convencimento, pois eu mesma, durante muito tempo, também tive dúvidas sobre a fé Católica em Maria, e me questionei se não praticava a idolatria. Cresci na fé Católica de meus pais, porém, frequentei durante muito tempo igrejas Protestantes, evangélicas, assisti a diversos Cultos, palestras, ou seja, conheço bem as críticas recorrentes, os argumentos contrários.

Creio que as críticas mais ferrenhas acontecem pelo fato de Maria ser venerada pelos católicos como intercessora, em que é saudada na oração da “Ave-Maria” como a mãe de Deus em que também os católicos são acusados de idólatras, devido às imagens.

Vou começar pela figura de Maria. Para compreendermos sua importância no plano de salvação de Deus é necessário rememorarmos o papel da Arca da Aliança, retratada no Antigo Testamente. Analisando os textos sagrados veremos que ela foi construída com construções específicas reveladas por Deus, desde a madeira nobre, a medida, os anjos adornando a arca. Ela representava o encontro da humanidade com Deus. A Bíblia fala que para onde o povo caminhava, a arca ia à frente, como sinal de aliança. No templo de Salomão, quando a Arca entrou, o lugar ficou tão inundado pela presença de Deus que as pessoas não conseguiram permanecer lá dentro, tiveram que sair, diante de tanta luz. A aliança estava dentro da arca, que era o receptáculo para comunicar a presença de Deus, pois, onde ela estava, a glória de Deus se apresentava.

Para a vinda do Salvador, seria diferente? Como poderia o próprio Deus vir ao mundo, nascer, habitar em um lugar que não fosse santo? Não teria como. Deus não escolheria habitar em um lugar que não fosse santo também para vir ao mundo.

Assim, Ele escolheu, preparou a Virgem santa para receber a nova aliança. Ela não é a aliança, mas a arca que nos trouxe a aliança. E assim como os querubins estavam sob a arca, também o arcanjo Gabriel veio sob a casa de Maria, para a Anunciação e a sombra do Senhor a cobriu.

Ela foi preparada como um vaso santo, para receber em seu ventre o Emanuel, o Messias. Por isso foi concebida sem pecado – é a Imaculada Conceição. Ela representa a nova Arca da Aliança. Pelo sim de Maria toda a humanidade pode receber a salvação. Por Maria o paraíso nos foi estendido. Por isso ela é venerada como a rainha de todos os anjos, a mulher do Apocalipse que pisa a serpente, representada com as doze coroas, em referência às doze tribos de Judá. Ela é a nova Eva e Jesus o novo Adão.

É evidente que Deus poderia ter vindo ao mundo sem precisar de ninguém. Ele é Deus! Mas escolheu a mais humilde criatura, a mais santa para abrigar e trazer ao mundo o Salvador. O céu inteiro esperou pelo sim de Maria. O sim dela ao Arcanjo Gabriel representou não somente um ato de humildade, mas de fé, consentimento, obediência e amor a Deus. Assim, por meio dela a humanidade recebeu Jesus.

Mas ela é a mãe de Deus? Ora, se Jesus é Deus, então ela é a mãe de Deus! Mas não no sentido de estar acima de Deus, pois ela foi criada por Ele. Ela não tem poderes por si só. Somente Deus tem o poder. Ela não é onisciente. Só Deus tem a onisciência. Mas Maria ocupa um lugar sagrado: o sangue de Maria faz parte do corpo humano de Jesus. Veja que Jesus é humano e divino. A humanidade de Jesus vem da parte de Maria.

E a veneração dos católicos à Maria, ou aos santos, pois adoramos somente a Deus, remonta aos primeiros cristãos, logo após a morte de Jesus. Eles reconheciam que tanto a Virgem como os santos e mártires estavam em união com Deus, sendo, portanto, intercessores. Mas não porque tivessem poderes próprios, pois nenhum deles tem. Contudo, por estarem unidos a Deus, ou seja, mediados por Cristo, pela ação do Espírito Santo podem interceder por nós.

A oração de intercessão à Virgem, aos Santos, remonta à tradição cristã da Igreja, na Comunhão dos Santos. Repare que, em diversos textos da Bíblia, há relatos de que pessoas santas curavam, como os ossos de Elizeu, em II Reis, ou como aparece no Novo Testamento, em que a sombra de Pedro curava as pessoas, assim como o manto de Paulo também curava. Mas não porque os objetos ou as pessoas tivessem poderes próprios, mas sim porque estavam cheios do Espírito de Deus. Ou seja, por meio de Jesus podiam curar.

Reconhecemos também, assim como os protestantes, que Jesus Cristo é o único mediador. Todavia, acreditamos que unidos a Deus, pelo poder do Espírito Santo, podemos pedir, interceder por todos os que amamos, que necessitam de oração, mesmo pelos que já morreram.

Todavia, não podemos negar a presença de idolatria entre muitos católicos, por pessoas que desconhecem a doutrina, e, na ignorância, agem com demonstrações que ultrapassam a fé, em direção à superstição, ao fanatismo ou até mesmo ao fundamentalismo. A própria Igreja já reconheceu que, por ignorarem o Catecismo (doutrina católica), muitos acabam colocando Maria no lugar que pertence a Deus. Sabemos que o único mediador é Jesus Cristo. Mas reconhecemos a Virgem Maria como nossa advogada, intercessora, como mãe, justamente por ter carregado em seu ventre o próprio Deus!

Um fato importante que gostaria de compartilhar, pois muitas igrejas protestantes ou evangélicas desconhecem é que o próprio Martin Lutero, ainda no século XV, venerava também a Virgem Maria, todavia, com o passar do tempo (mais de cinco séculos), diferentes igrejas começaram a surgir após a criação do Protestantismo, com novas separações e surgimentos de inúmeras outras, inclusive com o aparecimento de muitas seitas, que modificaram grande parte da doutrina que Lutero acreditava e defendia.

Existem atualmente mais de 30.000 denominações protestantes, sendo que muitas desconhecem a doutrina do próprio fundador. A partir do momento que há a cisão e outra igreja protestante surge, e novamente a separação e a criação de outras igrejas, com o passar do tempo as ideias de Lutero foram sendo esquecidas.

Caso o leitor deseje comprovações deste fato, pode procurar nos diversos sermões de Lutero. O discurso a seguir elucida bem a questão:

“Ela com justiça é chamada não apenas de mãe dos homens, mas também a Mãe de Deus…é certo que Maria é a Mãe do real e verdadeiro Deus”. (Sermão Concórdia, de Martin Lutero, vol 24. p. 107).

No texto que segue, de um dos sermões de Lutero, o leitor poderá avaliar por si mesmo e poderá encontrar mais textos que apoiam a doutrina da Igreja Católica:

“Maria é a maior e a mais nobre joia da Cristandade logo após Cristo […] Ela é nobre, sábia e santamente personificada. Jamais conseguiremos honrá-la suficientemente.” (Lutero, Sermão do Natal de 1.531).

Pelo texto acima podemos perceber que ela foi honrada mesmo após a Reforma Religiosa.

E o respeito que dirigimos à Maria está documentado no Novo Testamento:

“Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador” […] Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações”.

E por que rezar a Ave-Maria? Ora, em Lucas, 1,27-41, aparece a saudação de Izabel, revelando que ela estava cheia do Espírito Santo. Como também quando o anjo do Senhor apareceu a Maria:

“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Perturbou-se ela com essas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?” Respondeu-lhe o anjo:

“O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. […] Então disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Podemos ver a saudação de Isabel, reconhecendo que Maria era mãe do Senhor, ou seja, mãe de Deus:

“Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.” “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!”

Pela saudação do Anjo e pela revelação de Isabel, temos a composição da Ave-Maria:

“Ave-Maria, cheia de Graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre: Jesus”.

Onde está a blasfêmia? Esta oração foi retirada do Evangelho de São Lucas. Na continuação vemos:

“Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte amém. No Rogai por nós? Ora, mas pedimos que ela rogue por nós, isso devido à tradição oral praticada pelos primeiros cristãos, desde quando Jesus entregou Sua mãe aos cuidados de João. Jesus a entregou ao discípulo colocando ele como filho, justamente porque Maria não tinha mais filhos, era viúva, e, portanto, na tradição judaica ela deveria ser entregue a uma figura masculina para que tivesse os cuidados e a proteção necessária, como era o costume na época. Desta forma, Ele entregou Sua Mãe a toda a humanidade.

O leitor pode se perguntar o porquê então de aparecer na Bíblia que Jesus tinha mais irmãos. Mas isto se explica pelo fato de que na língua hebraica a palavra irmãos significa primos ou parentes próximos.  Podemos ver o caso de Abraão, que era tio de Ló, porém chamava-o com a designação de irmão. Isso porque não existe variedade de palavras hebraicas para designar a parentela. Em vários textos aparecem a palavra irmão para designar até mesmo pessoa da mesma tribo. Mas o leitor poderá também encontrar, nas próprias palavras de Lutero, a explicação para o sentido da palavra irmão:

“Agora, a questão sobre a qual que temos que nos debruçar é sobre como Cristo poderia ter irmãos, se Ele era o filho único da Virgem Maria, e a Virgem não teve outros filhos além dele. Alguns dizem que José foi casado antes de seu casamento com Maria… Mas eu estou inclinado a concordar que ‘irmãos’ realmente significa ‘primos’ aqui, pois a Sagrada Escritura e os judeus sempre chamam os irmãos de primos.” (Luther’s Works, Vol. 22 – p. 214-15).

Também o texto do Evangelho de João, em que Jesus faz seu primeiro milagre na vida pública, mostra o poder de intercessão de Maria, em que fica evidente que Jesus atendeu o pedido de Sua mãe. Ele afirmou que não havia chegado a Sua hora, mas, diante do pedido, da intercessão de Maria, transformou a água em vinho. Ou seja, Ele honrou Sua mãe, e nós O imitamos honrando-a também. E ela nos ajuda a amá-lO, a adorá-lO. (Que filho não ficaria feliz ao ver a mãe ser honrada?).

Veja que, no passado, o povo judeu colocava a Arca da Aliança como sinal de fé, na frente das procissões. Na atualidade Maria é a nova Arca. Deus quis nos ofertar as Suas Graças por meio de Maria.

Portanto, vai contra o Cristianismo considerar que Maria foi uma mulher escolhida aleatoriamente, de tal maneira que Deus poderia ter escolhido outra pessoa qualquer. Ela não foi escolhida a uma certa altura da história: ela foi criada e preparada para receber o Senhor. Sabemos que a Arca da Aliança teve que ser escolhida, desde o princípio de sua criação, com os critérios de Deus, com perfeição, seguindo instruções, pois seria o veículo, a mediação para a Glória de Deus. Também Maria foi predestinada por Deus. Quem recebe Maria, recebe também Jesus Cristo, o Verbo encarnado. Por isso Isabel estremeceu diante de Maria, a criança em seu ventre pulou, pois Maria carregava a Glória. Por isso foi e é considerada bem-aventurada.

Quando os magos foram procurar pelo Messias encontraram o menino Deus nos braços de sua mãe. Aquele que não cabia em nenhum lugar do universo escolheu ser adorado por meio da humilde Virgem Maria. Benditos os que entendem esta revelação.

A devoção à Virgem Maria ou aos santos possibilita caminharmos com aqueles que perseveraram em Deus, de que é possível buscar a santidade quando pedimos pela Graça, pois sozinhos não conseguimos, somos humanos. Precisamos da ajuda de Deus. Pela força do Espírito Santos somos transformados. Haverá a união entre a oração e a caridade. Fé e obras no bem. Não somente pela fé, conforme a doutrina Protestante, nem somente pelas obras, segundo o Kardecismo, praticado pelos Espíritas, mas fé e obras, segundo a Doutrina Católica.

Se veneramos, se honramos os lugares sagrados em que Jesus viveu, passou, em que foi sepultado, porque não veneraríamos as pinturas que retratam Nosso Senhor e tantas obras sacras?

Considerando novamente que a imagem de Deus jamais havia sido representada desde a criação do mundo, mas tornou-se visível por meio da pessoa de Jesus Cristo. O Verbo encarnado precisou esvaziar-se de toda a Sua Glória para poder nascer como um humilde menino. Como não retrataríamos, veneraríamos essa imagem Sacra de Nosso Senhor? Como não reverenciar a figura do menino Jesus e de sua mãe?

A imagem é um memorial. Veneramos as imagens por respeito ao que representam. Elas nos recordam os sofrimentos de Nosso Senhor. A oração do “Terço” representa rezarmos e rememorarmos a história de Jesus, Seu Calvário, Paixão e Ressurreição, em ato de súplica, de amor a Deus.

O pecado da idolatria consiste em divinizar as coisas mundanas e as realidades incapazes de manifestar a transcendência, usurpando o lugar de Deus. Idolatria é colocarmos todas as nossas esperanças nas coisas terrenas. As imagens santas, ao contrário, refletem a presença e a bondade divina, ajudando-nos a recordar, a todo momento, a responsabilidade e a missão que compete a cada um de nós.

São o registro de que é possível – apesar de nossa humanidade – alçar ao céu!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

Referências Bibliográficas
AQUINO, Tomás São. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2004.
BÍBLIA SAGRADA. 209ª ed. São Paulo. S.P.: Editora: Ave-Maria Ltda, 2016.
FARIA, Jacir de Freitas. O medo do inferno e a arte de bem morrer. Petrópolis, R.J. Editora Vozes, 2019.
SCOTT E KIMBERLY, Hahn. Todos os caminhos levam à Roma. Lorena, S. P. Editora Cléofas, 2002.


Os 10 anos da Lei Anticorrupção

A aprovação em 2013 da chamada Lei Anticorrupção (nº 12.846), cujos 10 anos se comemoram no mês de agosto, constituiu um verdadeiro marco no combate às diversas práticas lesivas ao patrimônio público.

Até aquele momento, a legislação sobre o tema tinha em mira apenas um dos lados dessa atividade ilícita – o agente estatal corrupto. Com o novo dispositivo, tornou-se enfim possível fechar o circuito de malfeitos contra o erário, já que seu objetivo é responsabilizar, civil e administrativamente, as pessoas jurídicas corruptoras - que superfaturam contratos, fraudam licitações e pagam subornos. 

Tanto uma resposta da classe política às manifestações de junho de 2013 como uma consequência de acordos internacionais firmados anteriormente, a nova lei colocou o Brasil no rol dos países com legislação mais avançada contra a corrupção, além de impulsionar mudanças nas estruturas administrativas das empresas, popularizando a cultura de integridade, ou compliance, algo até então praticamente inexistente por aqui.

Os números alcançados pela norma são eloquentes. Nesses dez anos, foram instaurados 1.664 processos e aplicadas multas no valor de R$ 1,3 bilhão, segundo a Controladoria-Geral da União.

Dentre as inovações trazidas pelo diploma, certamente a mais conhecida são os acordos de leniência. O instrumento, uma espécie de delação premiada do setor privado, facilitou a reparação dos prejuízos causados aos cofres públicos. A empresa que admite sua participação em atos ilícitos e colabora com as investigações ganha, em contrapartida, a possibilidade de ter suas penas amenizadas, de pagar multas menores e de continuar participando de licitações públicas. Os 25 acordos de leniência já fechados permitiram a recuperação de R$ 18,3 bilhões.

Outra novidade importante introduzida pela lei foi a responsabilização objetiva das pessoas jurídicas, na qual as empresas podem ser punidas por atos de corrupção independentemente de dolo ou culpa –inclusive se praticadas por terceiros.

O sucesso conquistado pelo diploma nesse primeiro decênio também pode ser medido por uma pesquisa conduzida recentemente pela Transparência Internacional com executivos de compliance de 100 das 250 maiores empresas do país. Nada menos que 95% deles consideram seus efeitos benéficos. 

Apesar da avaliação positiva quase unânime e dos muitos avanços trazidos pela lei - na mesma linha dos implementados pela Lei da Ficha Limpa e pela Lei de Acesso à Informação - sem dúvida resta muito a ser feito e aperfeiçoado. O mesmo levantamento revela que, para 91% dos entrevistados, os sistemas de integridade das empresas ainda se mostram imaturos e pouco capazes de balizar comportamentos. A lei também influenciou pouco a adoção da cultura de compliance entre as pequenas e médias empresas do país, que compõem a esmagadora maioria do setor privado. 

No que diz respeito à regulamentação do diploma, embora a lei não a requisite como condição de eficácia para os Estados e Municípios, é preocupante que sete estados (Bahia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Piauí e Sergipe) ainda não tenham dado esse passo necessário à celeridade da aplicação dos dispositivos. Na mesma situação encontram-se quase 60% dos municípios do país, de acordo com estudo recente do Banco Mundial e do Conselho Nacional de Controle Interno.

Ainda, de pouco vale uma boa lei se sua aplicação é falha. Assim, é certamente motivo de apreensão que, para 72% dos executivos ouvidos pela Transparência Internacional, a capacidade das autoridades de aplicar sanções pelo descumprimento da lei, o chamado “enforcement”, tenha estagnado ou diminuído nos últimos cinco anos. 

Recuperar a vitalidade dos órgãos de combate à corrupção e avançar na regulamentação em estados e municípios se impõem, portanto, como tarefas cruciais para que a lei siga ampliando o seu poder de coibir a prática da corrupção.

Dados os bons resultados colhidos nesses dez anos, contudo, prefiro olhar o copo meio cheio – o que não significa, claro, que ele não precise ser preenchido.

E os Tribunais de Contas com tudo isso? Ainda que o Supremo Tribunal Federal tenha vedado ao Tribunal de Contas da União impor sanção de inidoneidade às empresas que firmam Acordos de Leniência, esses pactos não obstam totalmente a atuação do órgão de controle externo federal. Como bem ressalvou o Ministro Nunes Marques, as instituições devem atuar de forma coordenada para evitar conflitos que decorrem da “intersecção do microssistema legal de anticorrupção” (MS 36.173-DF).

Desse modo, as Cortes de Contas estão habilitadas a perseguir a reparação integral do dano ao erário, nos termos do art. 16, 3º, da Lei 12.846, bem como sancionar dirigentes e administradores empresariais, uma vez que a responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilidade individual das pessoas naturais.
Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


Brasil: Inovador, Verde e Justo

A Inclusão Social representa uma transformação essencial na estrutura de uma sociedade: barreiras sociais são equalizadas, as causas da exclusão são diminuídas e são construídas estruturas sociais sustentáveis, inclusivas e justas. Essa evolução surge da profunda compreensão da individualidade como identidade e personalidade inata a cada ser humano, enriquecida pelas experiências vividas na coletividade.

Nesse contexto, a individualidade só atinge seu potencial máximo por meio da emancipação digna de cada pessoa, proporcionada pela educação, trabalho, empreendedorismo, valores morais sólidos e uma disciplina constante. A busca pela inclusão social é, na verdade, a busca pela harmonização das relações entre os indivíduos e a sociedade, eliminando as desigualdades que, muitas vezes, são causadas por preconceitos, falta de oportunidades e acesso limitado a recursos. 

A inclusão não é apenas a integração superficial de grupos marginalizados, mas sim a criação de condições em que todos tenham acesso equitativo a direitos, oportunidades e recursos, independentemente de suas origens, condições ou características. Promover a inclusão social não trata apenas de corrigir injustiças históricas, mas também de construir um ambiente propício para o desenvolvimento coletivo. 

A diversidade de perspectivas, culturas e experiências enriquece a sociedade como um todo, permitindo maior troca de ideias, maior potencial de criatividade e inovação. Quando indivíduos diversos são incluídos e valorizados, as soluções para os desafios da sociedade se tornam mais abrangentes e eficazes, e as externalidades positivas geradas reverberam em toda a comunidade. 

O cerne da inclusão social reside na concepção de que cada indivíduo é único e possui contribuições valiosas a oferecer. Através da educação, as mentes são abertas, o conhecimento é disseminado e as habilidades são cultivadas. O trabalho e o empreendedorismo não apenas garantem meios de subsistência, mas também proporcionam um senso de propósito e realização. Os valores morais sólidos, enraizados na alteridade e no respeito pelo outro, criam um ambiente de cooperação e colaboração.

No entanto, a jornada em direção a uma sociedade verdadeiramente inclusiva não é isenta de desafios. Requer esforços contínuos para identificar e superar as barreiras que perpetuam a exclusão. Requer uma conscientização constante sobre a importância da igualdade e da justiça. Requer uma transformação cultural que celebra a diversidade e valoriza a contribuição de todos.

Em suma, a inclusão social não é apenas uma aspiração nobre, mas sim um imperativo para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável. Ao reconhecer e abraçar a individualidade de cada ser humano, aliada às experiências vividas na coletividade, podemos forjar um futuro em que a criatividade, a inovação e o progresso social floresçam de maneira harmoniosa.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social, e mestre em Economia Política. É também comendador cultural, escritor, professor e palestrante


Ainda é possível aplicar a Lei nº 8.666/93, a Lei do Pregão e o RDC?

Com queda da MP 1.167/23, administradores devem buscar orientações dos organismos de Controle Externo e Interno e de Consultorias e Procuradorias Públicas

Direito e Política se retroalimentam. Nas democracias representativas, as leis – objeto primordial das ciências jurídicas – são gestadas, alteradas e extintas no ambiente político-partidário. 

Essa realidade nem sempre contribui para a racionalidade do ordenamento positivo. A prática demonstra que agremiações partidárias congregam os mais variados interesses e representam as mais diversas correntes ideológicas, de modo que a síntese do jogo político resulta, vez ou outra, em normas que podem parecer desapegadas da coerência idealizada para o direito. 

São os custos do pluralismo democrático. Longe de ser uma externalidade negativa, essa contingência foi sopesada quando da arquitetura das instituições, encontrando solução em órgãos jurisdicionais e administrativos com competência para orientar a interpretação correta das leis e preencher vazios normativos.

A tese acima é comprovada pela recente caducidade da medida provisória que ampliava a vigência temporal dos antigos diplomas de licitações e contratações públicas. 

Contextualizando, recordo que a Nova Lei de Licitações, a Lei nº 14.133/21, previa que, após dois anos de sua publicação, a legislação anterior esgotaria sua vigência. Ou seja, a partir de 01/04/2023, só seria possível aplicar a nova norma. 

Mas, atendendo ao pleito de inúmeros gestores e administradores públicos, que mesmo após dois anos não se sentiam seguros quanto às novidades introduzidas pelo novo marco legal, o Chefe do Executivo Federal editou, às vésperas da derrogação, a Medida Provisória 1.167, que prorrogava, até 30/12/2023, existência jurídica das Leis 8.666/93,10.520/02 (Lei do Pregão) e dos arts. 1º a 47 da Lei nº 12.462/11, o Regime Diferenciado de Contratações – RDC. 

Ocorre que o Congresso deixou de apreciar e votar esse expediente normativo de natureza temporária, tendo ele perdido seus efeitos pelo decurso do prazo, em 28/07/2023. Desse modo, além de constatar que controvérsias político-partidárias resultam em questionamentos jurídicos importantes, é preciso dar uma resposta institucional adequada aos questionamentos decorrentes da caducidade da medida provisória, esclarecendo as possibilidades de incidência das normas revogadas pela Lei nº 14.133/21.

Ressalto ainda que no curso da vigência da Medida Provisória 1.167, foi sancionada a Lei Complementar n° 198/23, que, de igual maneira, prolongou, até 30/12/2023, a validade das Leis nºs 8.666/93, 10.520/02 (Lei do Pregão) e do RDC. 

Logo, a alteração promovida pela citada lei complementar encampou, de modo definitivo, o texto da medida provisória, de modo que continua sendo possível aplicar a antiga legislação de contratações públicas até o penúltimo dia do exercício de 2023. 

Resta, entretanto, um obstáculo a ser superado. 

A medida provisória especificava, na redação conferida ao art. 191 da Lei nº 14.133/21, as condições que permitiam a ultratividade das leis revogadas. Contemplava, portanto, que o certame e os contratos poderiam ser regidos pela Lei do Pregão, RDC ou o diploma da 8.666/93, mesmo após o fim de suas vigências, desde que houvesse opção expressa por essas leis até 30/12/2023 e a publicação do instrumento convocatório ou do ato autorizativo da contratação direta ocorresse até 29/12/2023. 

Ao contrário, a redação original do art. 191, repristinada pela perda de eficácia da medida provisória, não detalha os requisitos que autorizam a continuidade da eficácia dessas leis, após a revogação.

Diante desse cenário de incerteza, devem ser resgatados os precedentes e pareceres técnicos expedidos anteriormente à edição da medida provisória e que ofereciam uma resposta à possibilidade de efeitos intertemporais das legislações pretéritas. 

Na esfera da União, cito o PARECER n.º 00006/2022/CNLCA/CGU/AGU, que facultava a escolha do regime jurídico de licitações e contratações públicas desde que essa opção fosse exercida na fase preparatória e em data anterior à revogação da legislação aplicável.

No mesmo sentido, o Acórdão 507/2023, de 22/03/2023, do Plenário do TCU, segundo o qual a eleição do regime antigo poderia ser feita até o termo final de vigência das leis previsto no art. 193, II, da Lei nº 14.133/21, devendo a publicação do Edital ser materializada até 31/12/2023. 

No caso do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, ainda que em orientação interna, constato a adoção de entendimento semelhante. No Ato GP nº 11/23, publicado em 29/03/2023, a possibilidade de licitar ou contratar com base nas Leis nºs 8.666/93, 10.520/02 e RDC poderia ser exercitada até a data de revogação dessas leis, sendo que as publicações fossem efetivadas até 29/12/2023. 

Nesses termos, buscando maior segurança jurídica para os gestores públicos, compreendo que as dúvidas e questionamentos ocasionados pela perda de eficácia Medida Provisória 1.167 devem encontrar resposta nas orientações pedagógicas e técnicas dos organismos de Controle Externo e Interno e das Consultorias e Procuradorias Públicas. 

Os Tribunais de Contas, por sua vez, não podem se esquecer da obrigação imposta pelo art. 173 da Lei nº 14.133/21, uma vez que “deverão, por meio de suas escolas de contas, promover eventos de capacitação para os servidores efetivos e empregados públicos designados para o desempenho das funções essenciais à execução desta Lei, incluídos cursos presenciais e a distância, redes de aprendizagem, seminários e congressos sobre contratações públicas”. 

Finalizo, assim, prestando contas, pois no exercício de 2022, período em que presidi a Corte de Contas Paulista, foram promovidos seis encontros técnicos visando esclarecer e orientar os gestores sobre a Nova Lei de Licitações. Esses eventos foram realizados em São Paulo, Araraquara, Registro, Presidente Prudente, Bauru e São José dos Campos, contando com a presença de milhares de pessoas. O conteúdo ficou disponibilizado nos canais virtuais da Escola Paulista de Contas Públicas e continua a ser acessados por todos aqueles que buscam se capacitar para melhor compreender e aplicar corretamente a Nova Lei de Licitações.
Dimas Ramalho é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


Caminho: a Beleza é Enxergar!

Sou Defensor Público Federal, Conselheiro do Chaverim - grupo de assistência às pessoas com deficiência intelectual e psicossocial, e atuo também em diversas outras organizações voltadas à Inclusão Social. Muito prazer! Acredito na Cultura, na Educação e na Proteção Social como ferramentas essenciais à Emancipação Individual e Coletiva. E foi pensando nisso que resolvi contar algumas memórias da minha vida no livro “Caminho: A Beleza é Enxergar”, que será lançado virtualmente no próximo dia 24, para inspirar as pessoas, a partir da minha trajetória de superação após o acidente automobilístico que sofri aos 19 anos.

Toda a renda obtida com a venda do livro será doada para instituições vinculadas ao desenvolvimento social sustentável, inclusivo e justo. Com isso, quero criar um maior envolvimento social com a Cultura de Doar e com a Filantropia. 

No livro conto sobre o acidente, que me deixou 45 dias de coma, 6 meses sem andar e com sequelas motoras; e sobre as reflexões que me trouxeram um novo olhar diante da vida. Convido às pessoas à leitura prazerosa e desinteressada, mas também a um estudo mais atento e à releitura, por meio de diferentes camadas de entendimento.

Logo no início, há um verdadeiro “abrir de cortinas”, como que batidas nas portas desse novo caminho. Metaforicamente ainda envolto às trevas do coma, vou retomando a Luz... Passo a relembrar. De onde vindes? Quais as minhas raízes? Quais perfumes, sabores e sons me acompanham? 

Quem vem lá? É a segunda questão. Passo a recordar a minha individualidade, a identidade sendo constituída desde a infância, a minha personalidade, ora inata, ora moldada por minha família, minhas amizades, minhas experiências... Faço uma dura, porém essencial, digressão, e conto do acidente que sofri. As minhas memórias são como sementes que afloram mostrando que a coletividade é essencial à Individualidade.

O que trazeis? É a terceira questão que minhas memórias tentam responder. Reflexões sobre Superação das pedras que encontrei durante meu caminho. Cantos de Inspiração, baseados na Disciplina, filha da Força; na Perseverança, broto da Beleza; e na Alteridade, a mais bela flor da Sabedoria. 

O que vindes aqui fazer? É a quarta questão apresentada. Representa nosso dever primordial. É a indicação de que nossa dignidade individual molda a estrutura social, e, nesse sentido, o nosso caminho deve ser de celebração da diversidade, de enaltecimento das características individuais únicas. 

Só assim, com Inclusão, Educação e Trabalho, nosso caminho produzirá estruturas sociais Justas, criativas e inovadoras: essa é a resposta à última questão de nossa consciência. 

O que desejais? Construir estruturas sociais sustentáveis, inclusivas e justas. 

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social, e mestre em Economia Política. É também comendador cultural, escritor, professor e palestrante


Dor de garganta: em crianças, é preciso redobrar a atenção! 

Dor de garganta é algo comum, sim. Todos nós temos. E com as crianças é ainda mais recorrente e jamais pode ser ignorada. Especialmente na faixa etária entre 5 e 15 anos, é importante ter atenção a certos aspectos, como dor ao engolir, presença de pus na garganta, aumento dos gânglios nessa região, febre e desconforto.

Isso porque, mais do que sintomas clássicos de faringite e amigdalite, esses podem ser indicativos de infecção por estreptococos. Ou seja, algo bem mais grave e que pode abrir portas para o desenvolvimento de doenças como febre reumática, glomerulonefrite e síndrome Pandas.

Essas doenças, em princípio, também se caracterizam pela inflamação da faringe e amígdala, mas têm potencial de danos bem maiores quando não tratadas, por serem causadas pelos estreptococos beta-hemolítico do grupo A, também chamado de Piogenes. É um tipo de bactéria bastante nociva e que está presente em qualquer ambiente.

Dessa forma, os pais devem ficar atentos aos quadros que envolvem inflamações. Geralmente, de início, muitos ignoram as queixas das crianças por pensarem se tratar de algo comum, que pode ser facilmente tratado em casa – e só depois que o caso evolui é que procuram ajuda profissional. Daí a importância da avaliação clínica tão logo os sintomas sejam identificados.

Nesse contexto, sempre é recomendável avaliar alguns aspectos relacionados aos sintomas, que são diferenciais importantes para o diagnóstico. Casos de resfriado, que não são graves, sempre vêm acompanhados de tosse, coriza e congestão nasal, associada à dor de garganta. Esse é um ponto importante a ser observado, pois afasta bastante a possibilidade de ter relação com a infecção por estreptococos.

Isso porque, esse tipo de bactéria tem uma ação muito restrita à garganta e se manifesta principalmente por meio do aumento de gânglios, febre, desconforto grande, dores no corpo e na cabeça – e não apresenta reações típicas de resfriado.

Quadros com esses sintomas devem ser investigados o quanto antes. Até porque, se confirmada a infecção por estreptococos, será necessário iniciar de imediato o tratamento à base de antibióticos - o que só pode ser feito por meio de prescrição médica. A urgência deve-se, sobretudo, às consequências danosas que esse tipo de infecção pode causar no coração, nos rins e até mesmo no sistema nervoso.

A mais grave é a febre reumática, síndrome caracterizada por cardite, ou seja, inflamação do coração, o que provoca falta de ar, dispneia, sopro e arritmia. Além disso, pode ocasionar também artrites, que são inflamações nas articulações do corpo e coreia (movimentos involuntários resultantes da inflamação do sistema nervoso por estreptococos), assim como lesões de pele avermelhadas, que costumam ter o centro da lesão em tom mais claro.

Embora o advento dos antibióticos tenha reduzido muito a incidência de febre reumática em escala mundial, cerca de 3% dos casos de faringoamigdalite por infecção de estreptococos evoluem para esse tipo de complicação por falta de tratamento adequado.

Nesse contexto, é fundamental reforçar a necessidade de se prevenir contra tais enfermidades, haja visto as consequências tão danosas. Quando há sintomas de faringite e amigdalite, nunca se deve deixar para depois. Tem que investigar, passar pelo médico, examinar.

Hoje em dia, o diagnóstico não é difícil. Há testes rápidos colhidos a partir da secreção da garganta, ou mesmo a cultura de bactérias, que também permite a identificação. O tratamento, por sua vez, é feito com antibióticos. Quanto antes iniciar, melhor!

Dra. Cristiane Adami é médica otorrinolaringologista do Hospital Paulista, especializada em patologias e cirurgias nasais


Não coça o olho menino! Parte II

No artigo anterior prometi falar de um caso de resolução mais difícil da conjuntivite alérgica. Existe um tipo de conjuntivite chamada conjuntivite “vernal” que é bem grave, leva a um olho vermelho crônico e bastante desconforto ao paciente. Nesses casos um tratamento mais intenso com colírios de corticoide e anti-histamínicos se faz necessário. Essa doença tende a se resolver após a adolescência assim como a asma.

O problema é que nesse meio tempo o menino coçou, coçou e coçou os olhos e desenvolveu uma doença chamada ceratocone.

O ceratocone, nada mais é, do que a mudança do formato da parte mais externa do olho (a córnea). Ela vai tomando um formato de cone igual a esses que simalizam as estradas por aí. Quando isso acontece o astigmatismo aumenta e a visão fica desfocada, embaçada e não melhora com o uso de óculos.

Nesse momento precisam atuar em duas frentes:

Parar a progressão do ceratocone; 

Reabilitar a visão com lente de contato ou cirurgias.

Na parte III dessa série de artigos vou falar melhor sobre os tratamentos do ceratocone. Aguardem!

Dr. Walter Meira Médico especialista em Oftalmologia com ênfase na subespecialidade de Segmento Anterior (Catarata, Córnea, Glaucoma e Cirurgia Refrativa) pela UNESP. https://drwaltermeira.com.br/


Um novo modelo de paternidade 

Quando o Dia dos Pais foi instituído no início do século XX nos EUA, ser pai significava apenas conseguir gerar muitas crianças, mas a coisa mudou gradualmente e esse papel ganhou novas nuances sociais.

Carmem Miranda cantou no “Dia dos Pais de Família” em Nova Iorque, em 1939. Como destacava a reportagem da revista O Cruzeiro na época, os estúdios de Hollywood já não consideravam um “segredo horrível” o fato de galãs serem também pais orgulhosos. 

A figura do pai começava a ganhar charme! Início de um processo de humanização do masculino, talvez. Quem se lembra do gesto de Bebeto em homenagem ao filho recém-nascido ao comemorar um gol na Copa de 1994? 

De lá para cá, as expectativas em relação à paternidade só cresceram. Não basta mais ser o provedor ausente. Nem mesmo o pai participativo ficou livre das críticas. Como Fábio Júnior deixou claro na letra de “Pai”, espera-se que pai e filho sejam “muito mais que dois grandes amigos”. 

Um pai precisa demonstrar genuíno envolvimento emocional. A demanda afetiva, porém, compromete a imagem idealizada do “pai herói”. Visto de perto, suas falhas ficam todas aparentes e as vulnerabilidades que o tornam mais humano enfraquecem sua autoridade. Daí o dilema do pai contemporâneo.

O papel tradicional do pai é ensinar o caminho entre as coisas do mundo e se assegurar de que o filho ficará bem. Contudo, em tempos que mudam muito rapidamente, o pai não tem mais competência para orientar (melhor contar com o ChatGPT para isso). Ele perde assim sua autoridade paterna original. Seu papel passa a ser, então, o de uma mão na hora que o filho tropeçar. 

Portanto, o dilema apresenta sua própria solução: a nova paternidade se funda sobre vínculos de afeto. A autoridade baseada na competência se transforma em autoridade baseada no cuidado. Nesse caminho, talvez o papel do pai tenha ficado mais parecido com o da mãe. 

Assim, o pai se torna merecedor de um dia em sua homenagem não porque sabe de tudo e não deixa faltar nada, mas porque se importa com seu filho e está disponível para acolhê-lo sempre que for preciso. Feliz Dia dos Pais então para aqueles que se importam e acolhem!

Marcia Esteves Agostinho é doutoranda em História das Emoções e autora do livro “Por que Casamos” (Editora Almedina, 2023), disponível na Amazon: https://a.co/d/euNxQ7h


Por que a cibersegurança deve ser uma prioridade para as empresas? 

A cibersegurança tornou-se uma prioridade para as empresas de tecnologia nos últimos anos. Isso se deu a partir da aceleração dos processos de digitalização que a maioria das marcas tiveram de passar para se adequar às novas formas de trabalho, como o home-office, e também por conta da importância de dados empresariais e pessoais que transitam diariamente.

O Brasil é conhecido por ser um dos países que mais sofrem com ataques cibernéticos no mundo. Segundo levantamento feito pela Apura Cyber Intelligence, houve um crescimento no número de senhas vazadas no país, visto que a média mensal de usuários que tinham algum problema com vazamentos de senhas era de 6 milhões em 2022, enquanto em 2023 o número saltou para, em média, 9 milhões.

A segurança digital é um item essencial tanto para a rotina do usuário comum, quanto para as empresas de pequeno, médio e grande porte que estão constantemente recebendo dados de clientes.

Mesmo com a evidente importância da questão para o futuro da sociedade, o Brasil ainda caminha a passos lentos para um progresso satisfatório. De acordo com dados do Índice de Defesa Cibernética do MIT Technology Review Insights, o país ficou entre as cinco nações com progresso mais lento e desigual no quesito de cibersegurança.

Aliado ao progresso lento, a falta de profissionais para ocupar as diversas vagas que surgem se apresenta como um outro problema. Segundo o ISC (International Security Conference & Exhibitions), o Brasil tem um déficit de 441 mil profissionais em cibersegurança.

É importante que os órgãos e as empresas apoiem também a formação de profissionais qualificados que possam auxiliar o mercado no combate aos diversos ataques diários presenciados.

Problemas antigos ainda persistem 
O ano de 2022 continuou a demonstrar a fragilidade do país quanto à questão da cibersegurança. Grandes empresas sofreram com ataques cibernéticos, deixando seus clientes expostos e, muitas vezes, os sistemas inoperantes.

De acordo com o estudo da BugHunt, plataforma brasileira que recompensa a identificação de falhas, mais de um quarto das empresas brasileiras participantes do levantamento foram vítimas de ataques cibernéticos no ano passado, um crescimento de 8% comparado a 2021.

Ataques cibernéticos podem prejudicar não somente o lucro de empresas, mas também a visão que o mercado possui quanto a mesma. Deste modo, é vital que as marcas entendam cada vez melhor este problema e busquem maneiras de diminuir este tipo de ataque, por meio de profissionais capacitados e investimento em infraestrutura.

Por Nimrod Riftin, CEO global da Belago Technologies


Reforma tributária poderá aumentar as desigualdades e onerar ainda mais os pobres

Caberá ao Senado fazer alterações para evitar desequilíbrios

Tributarista Ives Gandra da Silva Martins afirma “a reforma tributária proposta poderá aumentar a desigualdade e onerar ainda mais os pobres”.

Para contextualizar suas preocupações com a atual proposta de reforma tributária em tramitação no Senado Federal, o Professor Ives Gandra da Silva Martins ressalta alguns riscos que essa reforma traz:

“Não é obsessão, como alguns têm colocado, voltar repetidas vezes às minhas preocupações com a reforma tributária.

Quando vejo economistas do porte de José Serra, Everardo Maciel, que foi secretário da Receita Federal, e professores como Paulo de Barros Carvalho, Roque Carrazza, Humberto Ávila, Marcos Cintra, enfim, economistas e professores do mais alto nível no campo do direito tributário, todos conhecedores profundos do tema, também preocupados com a proposta que ora tramita no Senado Federal, estou convencido de que não é uma obsessão voltar a falar sobre as minhas preocupações com a reforma tributária.

Aqueles que viveram e que conhecem o direito tributário sabem perfeitamente os riscos que essa reforma traz; se for aprovada sem alterações.

Alerto aqui para apenas alguns desses riscos e para o que deverá acontecer com a proposta no Senado:

1 - Há risco de as exceções aumentarem com o que a alíquota padrão será mais elevada para todos os setores não excepcionados.

2 - Há riscos de o Conselho Federativo não ser constituído por entidades federativas com base na sua população, como aprovado na Câmara, mas por unidade federativa. Estados com população pouco superior a 1 milhão de pessoas poderão ter a mesma força de Estados com 20, 30 ou 40 milhões de habitantes.

3 - Há risco de todos os setores não excepcionados serem de tal forma taxados, principalmente nos serviços, que ficaremos estagnados em nível de competitividade no mundo.

Essas são algumas das razões pelas quais se está solicitando ao relator que peça ao Executivo todos os textos da legislação complementar, ordinária, assim como as projeções dos impactos em cada entidade federativa.

O certo é que, até 2033, o contribuinte terá que continuar com todo o sistema atual, que só desaparecerá neste ano, e mais o novo sistema.

Quando perguntado se a reforma tributária proposta poderá aumentar a desigualdade e onerar ainda mais os pobres, afirmo:

Sim, na medida em que haverá um aumento da carga sobre a agropecuária, apesar de um IBS menor, dos serviços e do comércio e uma desoneração maior da indústria. Estados e Municípios ganharão. Outros perderão. No que perderem serão compensados pela União. De onde sairão tais recursos? Do endividamento público ou do contribuinte?

São essas, algumas das minhas preocupações. Preocupações de um cidadão que trabalha apenas há 65 anos com direito tributário e que talvez não conheça tão bem o tema, como aqueles que votaram a proposta em 24 horas.”

Ives Gandra da Silva Martins


Paternidade: uma jornada rumo ao desconhecido

Quando minha esposa engravidou, uma onda de emoções conflitantes me invadiu. Embora tentasse parecer confiante, a verdade é que a paternidade despertou dúvidas e temores em mim.

Eu questionava se estava preparado para ser pai e se era o momento certo. Medos em relação às novas responsabilidades e mudanças na dinâmica familiar me atormentavam. Sentia uma invasão em minha esfera pessoal e me culpava por não ser tão generoso quanto gostaria. Tudo isso me causava vergonha.

Durante algum tempo, escondi essa agitação interna, mas em uma noite, decidi ser sincero e expor meus medos à minha companheira de vida. Confessei que não tinha certeza se estava preparado para ser pai, devido à falta de tempo e às demandas que um filho traria. Estava disposto a aceitar a ideia de ter filhos, contanto que ela assumisse a maioria das responsabilidades.

Essa confissão desafiou nossa dinâmica como casal. Sempre acreditei em um casamento igualitário, onde minha esposa tivesse as mesmas oportunidades de carreira que eu. Valorizava seu impacto positivo nas pessoas ao seu redor e estava disposto a dividir as tarefas domésticas. Porém, ao perceber que teríamos mais responsabilidades com a chegada dos filhos, senti-me sobrecarregado. Sabia que transferir todas as responsabilidades para ela seria prejudicial ao relacionamento.

Em uma conversa franca, ela me questionou e deixou claro que eu também deveria assumir minha parcela de responsabilidade na criação dos filhos. Suas palavras tocaram meu coração. Percebi que tinha medo, mas desejava ser um pai presente e participativo. Ela também me tranquilizou, segurou minha mão e compartilhou suas próprias inseguranças em relação à maternidade. Compreendi que precisava fazer minha parte. Essa conversa marcou uma virada em nossa jornada.

Percebi, então, que se não estivesse casado com minha esposa, teria mais tempo para mim mesmo. No entanto, não trocaria um minuto ao lado dela por nada. Compreendi que o tempo que ela exigia de mim valia a pena, e isso me fez refletir sobre como seria com nossos filhos.

Essa conversa trouxe à tona a verdadeira essência de nosso relacionamento. Embora minha esposa demandasse tempo, amava cada minuto que passávamos juntos. Agora conseguia imaginar que sentiria o mesmo amor e gratidão com nossos filhos. Eles certamente exigem o meu tempo, mas estou certo de que cada momento ao lado deles é uma dádiva.

René Breuel é um escritor paulistano que mora em Roma, na Itália. Autor da obra Não é fácil ser pai (Mundo Cristão), possui mestrado em Escrita Criativa e em Teologia. É casado com Sarah e pai de dois meninos, Pietro e Matteo


Não coça o olho menino! 

Quem nunca ouviu a frase acima da mãe ou da avó quando era criança? Acredito que quase todo mundo ouviu, e muitos não deram bola.

Porém, elas estavam certas: coçar os olhos pode trazer prejuízos à visão a longo prazo de fato.

Ainda vamos chegar nos grandes prejuízos à visão nos próximos artigos, mas por enquanto gostaria de descrever um pouco as causas desse prurido nos olhinhos dos pequenos.

A principal delas é a conjuntivite alérgica. Sabemos que essa conjuntivite é uma reação imunológica de hipersensibilidade do tipo I, mediada por IgE e degranulação de mastócitos. Em outras palavras, há uma reação exagerada do sistema imunológico a determinados antígenos ambientais que causa coceira e vermelhidão ocular. É muito comum em crianças com rinite, urticária, asma, etc. Olha, eu vou confessar para vocês: é um problema que incomoda muito. Eu mesmo sou médico, tenho mais de 30 anos e vez ou outra tenho que conviver com os sintomas de atopia: coriza, espirros, coceira nos olhos, etc., Mas, recentemente, eu procurei um colega alergologista para realizar um tratamento imunoterapêutico, contratei um serviço de desacarização dos colchões e travesseiro e pude sentir a melhora, na prática. O ácaro, sem dúvidas, é o grande vilão para os alérgicos.

Por isso, recomendo sempre aos meus pacientes procurarem um alergologista, realizar o controle ambiental dos colchões, travesseiros, poeira nos quartos, brinquedos de pelúcia, além de usar colírio lubrificante e shampoo neutro para lavar os cílios e pálpebras.

“Mas doutor, faço tudo isso e meu filho continua coçando os olhos; quais prejuízos ele poderá adquirir na visão?” Vou responder a essa pergunta no próximo artigo. Acompanhe aqui!

Dr. Walter Meira Médico especialista em Oftalmologia com ênfase na subespecialidade de Segmento Anterior (Catarata, Córnea, Glaucoma e Cirurgia Refrativa) pela UNESP. https://drwaltermeira.com.br/


O autista é a "vítima perfeita" para o bullying 

A prática do bullying, apesar de fortemente condenada, ainda é comum em todo o mundo. Infelizmente, o autista se destaca como a “vítima perfeita” para esse tipo de abuso. Isso porque o autismo não é uma deficiência visível, como a Síndrome de Down. Especialmente nos níveis mais leves, ele se manifesta a partir de nuances que não são tão fáceis de identificar. Uma das principais características, porém, é a dificuldade em interagir socialmente, o que pode transmitir a imagem de um indivíduo soberbo ou arrogante.

Justamente pela falta de habilidades sociais, o autista pode ser considerado a “vítima perfeita”. Na maioria das vezes, ele não consegue identificar uma série de situações de violência simbólica ou não sabe o que fazer para evitar essa violência. Sou autista e vivi situações terríveis na infância e adolescência em diferentes escolas. Meu filho, também autista, sofreu os mesmos abusos de colegas de classe na primeira infância e só posteriormente passou a ser protegido pela turma, quando as deficiências dele se tornaram mais notórias, o que não acontece nos casos de autismo leve.

O bullying, veja bem, não se caracteriza por uma criança que xinga a outra, um adolescente que briga com o outro. Como professor, já presenciei esses atritos muitas vezes em sala de aula. Esses casos não costumam escalar, sendo resolvidos facilmente pelos próprios envolvidos. O bullying tem como raiz ataques coordenados e contínuos, muitas vezes praticados coletivamente, com a intenção de humilhar, ofender e magoar. Quem é agredido, por estar sozinho ou se sentir impotente, não consegue revidar na mesma proporção.

Essa perseguição constante afeta os autistas de forma mais pungente. Dados mostram que as taxas de depressão e ansiedade são muito maiores em pessoas com autismo leve que naquelas com desenvolvimento típico. Eles também são mais propensos ao suicídio, até nove vezes mais comum nesse público. Então, esse é um problema que só conseguiremos resolver coletivamente, olhando com mais atenção para essa parcela da população.

Para enfrentar o bullying, principalmente da pessoa com autismo, precisamos trilhar dois caminhos. Primeiro, é preciso trabalhar a conscientização por meio de um calendário fixo de debates sobre deficiência. A sociedade precisa saber o que é o autismo e conhecer essas diferenças para respeitá-las. Outro caminho é incentivar o treino de habilidades sociais do autista, capacitando-os para reconhecer, enfrentar e denunciar situações de bullying. O ideal é que ambas as alternativas sejam realizadas concomitantemente, é o que possui os maiores e mais sustentáveis resultados de pesquisa.

É imprescindível refletirmos sobre o impacto devastador dessa forma de violência e agirmos coletivamente para combatê-la. Somente através da união de esforços e da construção de uma cultura inclusiva e respeitosa, poderemos proteger os autistas e garantir que todos vivam em um ambiente seguro, acolhedor e livre de discriminação. Juntos, podemos fazer a diferença e promover uma sociedade mais empática e justa para todos.

Lucelmo Lacerda é Doutor em Educação e autor do livro “Crítica à Pseudociência em Educação Especial”


A evolução do mal...

Há muito tempo venho tentando compreender o início do mal no interior das pessoas, já escrevi sobre esse tema, sobre a progressão da maldade, mas, neste artigo, gostaria de compartilhar algumas reflexões que me vieram à mente após reler a carta de Paulo aos Romanos:

“Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são nadas comparadas à glória que em nós há de ser revelada […] Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, Na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus”.

Paulo, dentre outras revelações, afirma que a criação ficou sujeita à vaidade. Repare como isso parece espelhar um cenário atual de nossa sociedade. Estamos sujeitos à vaidade na medida em que nos submetemos e aderimos aos prazeres e conquistas mundanas. Ressaltando que estamos constantemente expostos, principalmente pelas mídias sociais, ao consumismo, ao prazer imediato e, de um modo geral, o egoísmo é profusamente validado na busca pela “felicidade” imediata.

O apóstolo evidencia a condição de escravo daquele que se deixar levar pela servidão da vaidade. Estarmos sujeitos à vaidade representa também estarmos propícios ao mal, recordando que o mal em si não foi uma invenção humana, mas sim angelical. Por isso é tão difícil lidarmos com a maldade.

Mas como se inicia a maldade em nosso interior? Reconheço a complexidade do tema, contudo, dentre outros fatores, quero destacar o pecado da soberba. Repare como o orgulho, a arrogância, remete, em alguns casos, ao anjo decaído retratado nas Sagradas Escrituras. Confesso que sempre achei difícil entender como um Anjo de Luz, feito com amor, ornado com as mais belas pedras preciosas, pôde recusar o amor de Deus e se decidir pelo mal. Todavia, analisando a progressão do mal na humanidade sob diversos aspectos, seria importante destacar que pode ocorrer ou ter ocorrido conosco traços dessa mesma recusa em diversos momentos de nossas vidas.

Repare como há, de um modo geral, uma busca frenética pelo reconhecimento do ego, por status, riqueza, poder, em um consumismo frenético, na propagação e incentivação dos vícios, tais com bebedeiras, embriaguez, uso de drogas, dentre outros. Esses comportamentos anestesiam o grau de consciência, escravizam e nos afastam dos planos de Deus.

Paulo admite que nossa natureza humana, pecadora, está sujeita à vaidade, porém, exorta que podemos nos libertar de nossos pecados, inclinações, tendências, se buscarmos pela Graça, se mirarmos o que nos aguarda: o céu.

Difícil? Certamente. Cada um de nós enfrenta um tipo de prova particular. Mas precisamente nos momentos difíceis, como diante da morte de quem muito amamos, nas doenças, injustiças, enfim, nas provações é que precisamos nos lembrar quem somos (cidadãos celestiais) e para onde caminhamos. Porque a todos é ofertada a Graça, assim como a virtude da fé. Todos recebem essas dádivas, a diferença (o pulo do gato) é que nem todos as aceitam – preferem confiar nas próprias forças, seguir por caminhos em que a presença de Deus não está incluída.

Creio que a evolução do mal, dentre outros fatores, acontece lentamente, por vezes sem que tomemos consciência da mudança provocada em nós mesmos. Acontece diante das decisões egoístas que fazemos, da validação do ego, em que permitimos que o orgulho sobressaia, em que não exercitamos a humildade, não ofertamos o perdão, em que não nos dispomos a acolher o outro.

Repare como essas escolhas é que fazem o diferencial na vida das pessoas. Veja que não é somente o tempo que nos modifica, como também as decisões que tomamos, assim como as renúncias que fazemos em prol do bem. E essas escolhas podem nos transformar a ponto de ficarmos irreconhecíveis.

Conheço pessoas que se tornaram infinitamente melhores com o passar do tempo, expressam amabilidade, bondade, e perto delas sinto a presença de Deus, tenho o desejo de ser melhor também. Algumas, infelizmente, já faleceram, mas continuam a me inspirar, como meus avós e meu filho Marcos. Penso que a providência divina nos cerca com pessoas que exalam até mesmo santidade, diante do grau de bondade, de amor que há nelas. Outras, no entanto, parecem despertar o que há de pior no ser humano, e, por vezes, nem sequer as reconheço, diante da dureza de coração, da constância em atitudes desrespeitosas e que expressam mesquinharias.

Creio que somos testados em nosso convívio diário, diante das circunstâncias, de pessoas (difíceis) e principalmente, por aqueles que fazem parte da nossa família. Para todos seria importante praticarmos a caridade, em todos os sentidos que esta palavra possa abranger, porém, mais ainda para os familiares próximos, e são justamente eles que podem revelar quem somos de fato.

Será que conseguimos perceber com clareza as mudanças operadas em nós mesmos, tanto para o bem como para o mal? E como não sucumbir à fogueira das vaidades?

Diversas respostas poderiam ser apresentadas, entretanto, gostaria de compartilhar uma frase que ouvi certa vez e que, ao menos para mim, define bem o que tanto buscava e no que acredito:

“Jesus nos constrange com Seu amor”.

Para avançarmos em nossa luta particular, para não aderirmos pouco a pouco ao mal, é necessário mirarmos e compreendermos a dimensão do olhar de Jesus! Abraçarmos a Sua causa. E, nessa adesão voluntária, pedirmos por sabedoria, prudência – por caridade. Para que nossas atitudes não sejam expressões de egos feridos, de pessoas mesquinhas, mas, de filhos de Deus.

E, nessa condição, tendo, constantemente, o olhar de Cristo, envolto em Seu amor, ficarmos tão constrangidos ao ponto de não querermos mais ofender Àquele que a quem tanto amamos.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Carta à sociedade: existimos, ouça-nos "Nada sobre nós, sem nós" 

A Constituição Federal de 1988 ensina que um dos fundamentos do estado democrático de direito é a dignidade da pessoa humana, sendo esta fundamentada e pautada em seu artigo 1º, inciso III, desta maneira a dignidade se caracteriza como qualidade inerente a cada individuo, considerando todos, dignos de respeito por parte do estado e da sociedade, preservando assim, a valorização do ser humano. 

O Estatuto da pessoa com deficiência, lei 13.146/2015, está completando 8 anos de existência. O que é, o que diz o estatuto? Garantia de direitos para pessoa com deficiência de forma abrangente como um instrumento para a promoção da dignidade da pessoa com deficiência. A sua função primordial é garantir que a pessoa com deficiência exerça, em sua plenitude, todos os direitos que lhe são deferidos que permitem condições plena de vida.

O Estatuto, ao conceituar o indivíduo com deficiência, coloca a pessoa em primeiro plano e agora tratado como “pessoa com deficiência”, lança nova perspectiva sobre a inclusão da pessoa com deficiência ao abrir caminhos e novas perspectivas em todos os aspectos, pois a pessoa com deficiência quer ter o seu espaço e o seu protagonismo. 

Será que ainda somos vistos com olhares de reprovação? Não podemos isso, não podemos aquilo, não podemos, pois uma escada nos impede. Não podemos, há obstáculos que não permitem seguir em frente. Além disso, ainda há os obstáculos invisíveis, que de uma forma velada, camuflada e até comedida, mas machuca e fere.

As nossas diferenças, todas elas, nos faz único. Cada pessoa é o que é, seres humanos moldados em sua própria essência.  A deficiência não está acima da pessoa, à pessoa é o sujeito, constituído de valores e virtudes e toda a sua condição humana.

A importância do Estatuto da Pessoa com Deficiência está na sua capacidade de transformar a realidade dessas pessoas, que muitas vezes são excluídas e têm seus direitos violados. É importante falar sobre esse assunto, falar sobre a lei, pois a sociedade precisa ouvir e a pessoa com deficiência precisa ser ouvida. É preciso romper cada vez mais as barreiras da invisibilidade. 

Da integração a inclusão, passando pela conscientização e a sensibilização. A inclusão se dá pela ocupação dos espaços, isso nos faz visíveis. Para romper as barreiras e quebrar o ciclo de exclusão é necessária uma série de ações afirmativas. Assim, é inquestionável que a mencionada lei, é considerada um marco importante na defesa e proteção da pessoa com deficiência; tendo como finalidade a efetivação da inclusão social e da cidadania, por meio de mecanismos legais direcionados a assegurar e fomentar o exercício de direitos e liberdades fundamentais. 

Políticas públicas de inclusão social com conscientização e sensibilização de todos os setores da sociedade. Dessa forma, vislumbra-se que a lei é um dos mais importantes instrumentos de emancipação civil e social para essa parcela da sociedade, pois consolida leis existentes e avança nos princípios da cidadania. Princípios esses, que nos coloca em condições de igualdade, mesmo tendo consciência que ainda somos visto como minorias. Por isso temos que fazer valer todos os direitos que a lei 13.146 nos concede.  

As políticas públicas são necessárias para garantir a efetivação de direitos. É direito da pessoa com deficiência viver em um ambiente em que possa desenvolver suas habilidades, desenvolvendo sua autonomia e independência. Essas garantias são formuladas e implantadas por meio de políticas públicas. Com a participação popular e o comprometimento do poder público é possível implantar uma política pública que atenda toda a sociedade, principalmente a parcela da sociedade que mais precisa.

Nesses 8 anos que o estatuto está em vigor, é possível notar a sua importância. Os direitos à participação plena da pessoa com deficiência em todos os aspectos, em todos os setores. Partindo desse pressuposto, pode-se afirmar que essa lei é perfeita? Se a sociedade não é perfeita, tudo que emana do ser humano tem a sua imperfeição e precisa ser aperfeiçoado. Assim é a lei, ela precisa ser conhecida, estudada e passar a fazer parte no dia a dia das pessoas.

No caso específico da lei 13.146 que contempla a pessoa com deficiência em seu pleno direito de cidadania. O que há na lei que o poder público ainda não detectou? Nós, como sociedade reivindicamos os nossos direitos, em boa parte cumprimos o que é de nós cobrado. O grande déficit, se pode chamar assim, é do Estado e do Poder Público que emperra em suas próprias engrenagens.

Estatuto da Pessoa com Deficiência e Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. 
 “Nada sobre nós, sem nós”.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 5 livros, entre eles o mais recente - Húmus Ser


Agora é que são ELAS! 

A bola vai rolar na Austrália e na Nova Zelândia a partir do dia 20, naquela que a FIFA está chamando de “a Copa das Copas”! As majestosas esquadras nacionais competirão para levar para casa a grande taça. É a paixão nacional, tão humana e de profunda beleza, que animará as torcidas a levantarem suas cores numa profunda ciranda: a mandala da inclusão, a imagem da sociedade alegre, festeira e criativa! 

No meio de tantas palavras femininas, soa muito estranho, e até fora de lugar, que o futebol, a essência brasileira, seja palco de tanto machismo, homofobia, racismo, capacitismo, e diversos outros nojentos preconceitos. Por isso que são louváveis iniciativas como a “Respeita as Mina”, do Corinthians, que, aproveitando a crescente visibilidade do futebol feminino, busca combater o assédio e a violência de gênero. Também, as “Gaivotas da Fiel”, torcida organizada LGBT que luta contra a homofobia e as outras diversas formas de violência e exclusão. 

Para não ficar só enaltecendo os corintianos, também é válido citar a “Autistas Alviverdes”, torcida palmeirense extremamente inclusiva. Também o Vini Jr., que depois de tanto sofrer com agressões racistas, começou a liderar uma campanha mundial contra o racismo no futebol! 

É por isso que prestigiar a Copa Delas é tão importante. Como paixão que é, o futebol tem a capacidade de estimular os melhores (e, lamentavelmente, os piores) sentimentos e atitudes humanas. Se o amor pela bola fez o menino Gui, de 8 anos, com uma doença rara, vencer o coma para visitar seu time do coração (juro que quase virei vascaíno, de tão emocionantes que foram as cenas!), o que será que ele pode fazer por nossa sociedade? 

Ou seja, torcendo pelas meninas tornaremos o futebol mais inclusivo e acessível para todos e todas. E, a partir disso, a construção de estruturas sociais mais inclusivas e justas será, cada vez mais, naturalizada.

O futebol é o sorriso da gente! A partir dele continuaremos firmes em nossa permanente viagem rumo à Utopia!

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política


Como ser um líder no dia a dia 

Um dos grandes desafios de um líder é manter um bom ambiente de trabalho para os colaboradores, de forma a ter colaboradores motivados e aliados com a cultura da empresa. Quando o ambiente de trabalho não é adequado, podem surgir problemas relacionados à saúde física e mental. É dever do líder manter um ambiente seguro e em que se demonstre confiança no funcionário. 

Há alguns pontos que um líder deve estar atento na hora de exercer a liderança. Dentre eles, destaco: realizar ações de forma integrativa; ter valores como respeito e honestidade; conhecer a sua equipe e saber que cada um possui suas especificidades. Também mantenha uma escuta e comunicação atenta, empática, clara e objetiva. 

Comportamentos que ajudam a criar um ambiente melhor são dar feedbacks construtivos, ser amigável e acessível, mostrar atitudes positivas, demonstrar foco e organização em sua rotina e trabalhar pensando em um bem maior. Para ser um bom líder não é correto ter atitudes egoístas e egocêntricas. Foque sempre em servir o seu time. 

Também há alguns comportamentos que são ruins e devem ser evitados dentro de um negócio. Dentre eles, destaco a liderança sem escuta ativa, que é quando o funcionário precisa lidar com problemas e altas demandas e não pode contar com o apoio da liderança. Friso também que feedbacks negativos não devem acontecer em ambientes com outros integrantes da equipe para não constranger o colaborador. 

Esteja atento também para não gerar competição excessiva entre membros do time, para que não aconteçam conflitos. Observe para que não haja cobrança incorreta e falta de reconhecimento de forma que isso não desmotive o time. Evite fofocas e comentários inapropriados. Situações como essas costumam causar intrigas, além de tornar o ambiente de trabalho pesado. 

Aprender a liderar é algo que deve ser consolidado dia após dia através da prática, além é claro de estar atualizado em relação ao tema. Lembre-se que a liderança pode ser exercitada e aperfeiçoada. 

Costumo dizer que liderança é gerir pessoas, tocar o coração servindo, educando, mentorando, acolhendo, encantando e inspirando.

Leonardo Chucrute é Gestor em Educação, CEO do Zerohum, Professor de matemática, ex-cadete da AFA e autor de livros didáticos


A transformação das emoções conjugais 

Em uma sala de estar, um sofá de veludo verde acolhe o casal que responde às perguntas da entrevistadora. Em nome das leitoras de uma revista feminina, ela quer saber como ter um casamento feliz. O ano era 1973 e Ingmar Bergman expunha aos expectadores da TV sueca a intimidade do casamento de Marianne e Johan.

50 anos se passaram e Cenas de um Casamento mais uma vez aparece nas telas, desta vez no streaming da HBO. Agora, porém, o sofá de veludo verde acomoda Jonathan e Mira, cujo equilíbrio conjugal é examinado pela estudante de doutorado interessada em como normas de gênero afetam casamentos monogâmicos.

A adaptação produzida pelo diretor Hagai Levi traz a relação conjugal para o século XXI. Novas normas de conduta, novos anseios... velhas emoções? O inevitável paralelo entre as duas versões da série, separadas por meio século de profundas transformações sociais, leva à seguinte questão: emoções conjugais têm história?

Tomando a ficção como espelho da realidade, no período entre as duas versões, o ideal conjugal passou da felicidade, definida como “contentamento” para Marianne, ao “equilíbrio” na divisão de tarefas, fundamental para Mira. Com o ideal, mudam as bases para um casamento bem-sucedido.

Marianne acreditava que “o amor é tão raro que quase ninguém o vivencia” e, que, portanto, “gentileza, afeto, humor, amizade e tolerância” podem fazer um casamento feliz. Jonathan, décadas mais tarde, dirá que “casamento é uma plataforma que permite desenvolvermos como indivíduos”.

Na versão de 1973, Johan se autodefinia como “inteligente, bem-sucedido e sexy”, enquanto Marianne se via apenas como “casada com Johan, com quem tinha duas filhas”. “Não consigo pensar em mais nada”, justificava. Não surpreende que a infidelidade que pôs fim ao casamento tenha vindo do marido.

Na série da HBO, Levi subverte a estereotípica relação de gênero entre os binômios poder/traição e cuidado/lealdade ao fazer de sua personagem feminina, Mira, aquela que provê e que trai. Cabe ao marido, Jonathan, cuidar da família e ser leal ao compromisso conjugal.

Apesar da troca de scripts entre os papéis feminino e masculino refletir as possibilidades de arranjos matrimonias atuais, a estrutura dos binômios permanece intacta. Isto é, quem trai é quem tem poder e quem cuida permanece leal. Será sempre assim?

Até que ponto emoções como amor, orgulho, compaixão e lealdade interagem entre si? Essas emoções se transformam ao longo do tempo? Este é o tipo de pergunta que historiadores apenas começam a formular, mas que já apontam o potencial da História das Emoções para lançar luz sobre os dramas contemporâneos.

“Vejo pessoas que desabam sob o peso de exigências emocionais fantasiosas”, lamentava Mira. Talvez o fardo se torne mais leve quando os casais descobrirem que não o carregam sozinhos. Exigências emocionais tendem a ser coletivas, já que respondem ao contexto histórico das experiências individuais.

Aprender sobre como as emoções conjugais se transformaram nos ajuda a entender os desafios e alegrias do casamento do presente.

Marcia Esteves Agostinho é autora do livro “Por que casamos” (Editora Almedina, 2023)


Desigualdade Social: a maior barreira! 

Pesquisa recente feita a partir de dados de autorizações de internações hospitalares (AIHs) do Ministério da Saúde revelou dados alarmantes sobre as vítimas da violência armada, que deixou um rastro de amputações por todo o país. Amputados fisicamente, em consequência de armas e explosivos, e traumatizados emocionalmente, essas pessoas vêm enfrentando graves problemas causados pela presença precária do Estado, potencializados pela desigualdade social e pela pobreza. A ausência estatal se mostra como a raiz de diversas estruturas sociais excludentes, que se tornam as principais barreiras a serem superadas e equalizadas pelo trabalho social.

Sempre que discutimos a questão das pessoas com deficiência, é fundamental compreendermos que a deficiência não está nelas. A deficiência reside no ambiente, na sociedade. Quando essas pessoas interagem com barreiras sociais, são impossibilitadas de experimentar a verdadeira inclusão social.

É interessante observar também que, atualmente, as pessoas mais afetadas pelos eventos extremos do clima, no Brasil e em todo o mundo, são aquelas historicamente excluídas ou precariamente incluídas socialmente. Isso nos leva a refletir que a sustentabilidade ambiental não pode ser uma justificativa para a reprodução de estruturas sociais excludentes. A superação da chamada “emergência climática” deve priorizar os indivíduos e a construção de uma sociedade estruturalmente inclusiva e justa.

Para alcançar essa inclusão, é essencial privilegiar a educação, o trabalho e o empreendedorismo. Ao incluir pessoas diversas e plurais, estimulamos a criatividade e as inovações sociais. Afinal, o que é a bioeconomia se não aquela que coloca a vida plena em seu cerne? Devemos caminhar em direção a uma sociedade que valorize a verdadeira igualdade de oportunidades e reconheça a diversidade como uma força para o progresso.

Combater a desigualdade social e superar as estruturas sociais excludentes são desafios fundamentais para a construção de um futuro mais justo e inclusivo. É responsabilidade do Estado, da sociedade civil e de cada indivíduo empenhar-se nessa busca pela equidade. Somente por meio de ações concretas e políticas inclusivas poderemos proporcionar às pessoas excluídas, muitas vezes amputadas fisicamente e traumatizadas emocionalmente, a chance de construírem suas vidas com dignidade e encontrarem o seu lugar na sociedade.

Precisamos romper com a ideia de que a deficiência está no indivíduo e reconhecer que ela está na falta de acessibilidade, nas estruturas sociais que perpetuam a desigualdade. Somente assim estaremos verdadeiramente lutando pela inclusão social plena e pela valorização da vida em sua totalidade. É um desafio que exige a união de todos os setores da sociedade, mas que, ao ser enfrentado, trará benefícios incalculáveis para uma sociedade mais justa e igualitária.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política


Como começar um negócio inovador do zero? 

O empreendedorismo inovador nos dá um propósito, que está para além do crescimento econômico, ainda que intimamente relacionado. Mais do que uma solução ou um produto, ao realizar essa ação de forma pensada você estará arquitetando uma concepção de mundo. Com isso, é possível impactar a vida das pessoas. E engana-se quem pensa que ter um desígnio para seu negócio é algo necessariamente gigantesco.

Em um ranking que avalia a Taxa de Empreendedorismo Total (TTE), entre 47 nações, o Brasil ocupa a quinta posição, subindo para o quarto lugar quando analisados apenas a América Latina e Caribe. O empreendedorismo inovador é mexer nas pequenas engrenagens do mundo, a partir de soluções inovadoras, gerando bem-estar social e econômico. E para isso, existem métodos bastante eficazes, como o Caminho Empreendedor.

Introduzindo o Caminho Empreendedor
Para poder introduzir o estágio Explorar do Caminho Empreendedor, é necessário revisitar alguns conceitos básicos. O primeiro deles é o de inovação. O que é inovação para nós? É resolver problemas reais, com soluções de mercado, em contextos com altos níveis de incerteza. E aqui, há três elementos importantes: identificar problemas reais, construir soluções de mercado e em ambientes com altos níveis de incerteza.

Um dos instrumentos para se fazer inovação são as startups, ou seja, uma organização temporária que está em busca de um modelo de negócio viável.

Se uma startup busca um modelo de negócio viável, isso quer dizer que ela está lidando com o desafio de diminuir as incertezas, posto a sua finalidade. O resultado dessa lógica, portanto, é a diminuição dos riscos inerentes à atividade empreendedora.

É importante entender: uma startup deve ser gerenciada exatamente como uma empresa maior? Não. E isso se dá por suas características e pela mentalidade empreendedora que orienta quem deseja se envolver no processo. Diante disso, as metodologias de gestão também são diferentes.

Um outro jeito de fazer as coisas
O ecossistema empreendedor brasileiro tem características próprias, apresentando diferentes níveis de maturidade, seja do negócio ou das pessoas envolvidas. A cultura que envolve o empresariado no país ainda é muito fechada. Nesse sentido, inovar ainda não é tido como uma prioridade – ainda que haja movimentos de mudança mais recentes.

Além disso, o que se pode dizer a respeito da nossa predileção às startups está ligado, por exemplo, à capacidade inovadora de brasileiros e brasileiras em um cenário de necessidade.

Com isso, cada etapa do Caminho Empreendedor tem um objetivo claro e alcançável. No estágio Explorar, o grande objetivo é encontrar uma missão, isso significa: conseguir encontrar um problema efetivamente relevante e olhar para uma possibilidade de resolução desse problema. 

Muito do que percebemos, em milhares de consultorias realizadas, é que cuidar da formação do time de fundadores desde o início, e ter pelo menos mais uma pessoa compondo-o, aumenta as chances de sucesso do negócio. Ou seja, independente do tamanho de uma empresa, as pessoas, começando pelos fundadores, são sempre o principal ativo.

Por César Costa, Sócio-Diretor de Produtos da Semente, administrador pela UFRGS, Mestre em Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade pelo PPGA/UFRGS. Estudou management na Lund University, Strategic Management & International Business na University of La Verne, e Disruptive Strategy na Harvard Business School. É Coach Profissional e Analista Comportamental formado pelo Instituto Brasileiro de Coaching. Já apoiou dezenas de startups em diferentes estágios de maturidade e desenvolveu projetos de inovação em diversas organizações. É autor da metodologia Corporate-up, visando tornar organizações estabelecidas mais inovadoras


Indicação de Zanin ao STF atende interesse pessoal, algo proibido pela CF/88 

Num sistema republicano, o Brasil adota esse sistema, não se permitem relações de amizade ou de compadrio como critério para ocupação de cargos ou funções públicas. A nossa Constituição, aliás, é bastante clara nesse sentido.

Infelizmente, no Brasil, o atual presidente da República parece nunca ter lido a Constituição. Se porventura leu, só pode estar agindo de má-fé ao atacá-la tanto. Estaria Lula atuando de má-fé ou dolosamente ao indicar seu amigo e advogado particular Cristiano Zanin para a vaga de ministro do STF?

Ao levar o nome de Zanin para o Senado, Lula fere de morte os princípios da moralidade e da impessoalidade, cravados pelo legislador constituinte na nossa Carta Magna justamente para evitar situações como esta.

Parentes, amigos, sócios, compadres, parceiros, entre outros agregados, não têm a isenção e a imparcialidade necessárias à judicatura. Daí vêm os dispositivos constitucionais vedando o compadrio no âmbito da administração pública.

Cabe lembrar que em uma república democrática ninguém está acima da lei. Aos administradores públicos, especialmente, não há margem para escolher cumprir ou não cumprir mandamentos constitucionais ou legais. O descumprimento implica necessariamente na anulação do ato administrativo, bem como na responsabilização administrativa, civil e criminal do agente público que o autorizou. Por isso, aos agentes públicos impõe-se a subordinação não só ao princípio da legalidade, mas também aos princípios da moralidade e da impessoalidade, voltados à ética pública, à boa-fé, à honestidade, à lealdade e à probidade na administração.

Para o presidente da República, inclusive, de modo específico, o descumprimento dessas determinações pode configurar crime de responsabilidade passível de interrupção do mandato via processo de impeachment.

Note-se que o advogado Cristiano Zanin, cujo sogro é compadre e amigo de longa data de Lula, ficou conhecido a partir do momento em que assumiu a defesa do então ex-presidente Lula, envolvido numa série de escândalos de corrupção e lavagem de dinheiro que o levaram à cadeia.

Apesar de já ter sido amplamente divulgado pela imprensa, não custa lembrar que o escritório do advogado Zanin recebeu R$ 1,7 milhão por serviços de consultoria jurídica prestados ao Partido dos Trabalhadores, cujos pagamentos mensais de R$ 46,9 mil ocorreram entre setembro de 2019 e agosto de 2022, conforme dados registrados no TSE. Além disso, o escritório também teria recebido R$ 1,2 milhão para atuar na campanha eleitoral de Lula.

Ainda que o Presidente da República tenha prerrogativas para indicar brasileiros natos, com notável saber jurídico e reputação ilibada, para ocuparem o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, de caráter vitalício — requisitos que Cristiano Zanin em tese teria (em tese, porque não sei se efetivamente possui notável saber jurídico) — o chefe do Poder Executivo também deve respeitar as hipóteses legais moralmente admissíveis. Em um sistema republicano, não existem poderes absolutos ou ilimitados, pois isso seria contrário ao próprio Estado de Direito, que vincula a todos.

Além disso, sobre o suposto notável saber jurídico de Zanin, destaca-se que o advogado associado a Lula não foi capaz de evitar a condenação e nem mesmo a diminuição da pena de seu cliente. Lula foi condenado em 1º grau por corrupção e lavagem de dinheiro, e teve suas penas aumentadas pelos desembargadores do TRF 4ª Região em Porto Alegre, que unanimemente rejeitaram as razões do recurso promovido por Zanin.

Caberá ao Senado Federal homologar ou não a indicação de Cristiano Zanin para ocupar um cargo vitalício e de enorme importância. Um presidente da República possui poderes consideráveis, porém, não tem o poder de desobedecer os mandamentos constitucionais da impessoalidade e da moralidade. No caso em questão, esses mandamentos estão sendo desrespeitados para atender não ao interesse público, mas para atender a um interesse nitidamente pessoal, algo que é amplamente reprovável pela sociedade brasileira.
Por Ubiratan Sanderson


Eu só cuido de mim quando cuido do outro! 

Vivemos em uma época de extraordinário avanço tecnológico, em que a inteligência artificial vem se desenvolvendo rapidamente. No entanto, frequentemente esse progresso tem sido mal interpretado, resultando em uma competição desenfreada e no declínio do tempo de ócio criativo. 

Infelizmente, tais consequências têm afetado negativamente nossa saúde emocional. Por outro lado, o autocuidado, que deveria ser uma prática enriquecedora, tornou-se uma mercadoria que amplia o individualismo, minando os laços sociais e a identidade pessoal. 

A individualidade é uma parte intrínseca de cada ser humano. Ela representa nossa essência, nossa identidade e personalidade. No entanto, quando essa individualidade é infectada pelo vírus do egoísmo, surge o individualismo, que nos desconecta dos outros e nos conduz à solidão e a problemas emocionais profundos. 

Qual é a melhor vacina para combater esse mal que tem assolado a humanidade neste século? É a Alteridade, uma palavra que expressa a capacidade de enxergar com a alma os dramas e as alegrias alheias. A alteridade nos permite nos enriquecer com a essência do outro, compreender sua perspectiva e experiência de vida. É por meio dessa visão empática que somos capazes de transformar a nós mesmos, desenvolvendo sensibilidade e aprendendo a unir emoção e razão. 

Ao olhar para o outro e enxergar sua singularidade, ampliamos nossa própria compreensão e vivência do mundo. Cada interação com o próximo nos oferece uma oportunidade valiosa de crescimento pessoal. Através da alteridade, aprendemos a valorizar as diversas capacidades que nos tornam humanos, reconhecendo a riqueza de nossa pluralidade.

Cuidar do outro não é apenas um ato altruísta, mas uma forma de cuidar de nós mesmos. Ao estendermos a mão ao próximo, fortalecemos os laços humanos que nos mantêm conectados e, assim, encontramos um senso de pertencimento. É no encontro com o outro que descobrimos nossa própria humanidade e o poder transformador que a empatia exerce em nossas vidas. 

Portanto, em meio a esse admirável desenvolvimento tecnológico, é essencial não perdermos de vista a importância da alteridade. Devemos resistir à tentação do individualismo e abraçar a empatia como uma forma de resistência e cura. Somente assim poderemos reverter os danos causados à nossa saúde emocional e construir uma sociedade mais equilibrada e humana. 

O verdadeiro autocuidado, portanto, é a alteridade, o olhar empático para o outro, que nos permite crescer e nos reconectar com nossa própria humanidade. Cuidar do outro é, portanto, cuidar de nós mesmos, e ao adotar a alteridade como um valor essencial, trilharemos um caminho de equilíbrio e harmonia em meio às maravilhas tecnológicas do nosso tempo.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política


A estadania sob o governo Lula 

Julho se aproxima com o governo Lula correndo em ares de cruzeiro, visitando países, sendo este último, a França, viagem marcada para os próximos dias. Ares de cruzeiro, nesse caso, têm relação com o novo avião que Lula quer comprar, um equipamento mais potente e confortável que o atual aero-Lula, aliás, comprado por ele em idos tempos. 

Correr o mundo, sim, para tirar o atraso perpetrado pelo genioso polêmico governo Bolsonaro, para quem parcela das democracias ocidentais virou as costas. Lula vai ficar devendo viagens pelo Brasil, o que ocorrerá na emergência de coisa nova a apresentar, pois, convenhamos, a administração tem pouco a exibir na vitrine de inovações. A verdade é que o governo Lula – e aqui não há nenhum julgamento de valor, apenas constatações – envelhece de modo precipitado, como se fosse canção batida em nossos ouvidos. 

Essa é a sensação extraída de uma lupa que flagra os experimentos da administração federal, onde a tônica é a negociação política nos velhos padrões. Faz-se hoje o que se fizera ontem ou antes de ontem. Arthur Lira, o presidente da Câmara dos Deputados, é o personagem que dá as cartas no baralho político. Com ele, à moda da linguagem nordestina, não tem “pirrepes”, é preto no branco. Ou vem cargo e verba ou pumba, nada feito. 

A articulação política, feita aos moldes da velha política, além de reforçar a cara carcomida do governo, reforça a impressão de que Lula aprofunda as amarras que ligam o país ao atraso. Ou seja, Lula finca estacas nas cercas da cultura estatizante que caracteriza nossas tradições político-culturais. Lembro, a propósito, o acadêmico José Murilo de Carvalho, que nos apresenta o conceito de estadania. 

Carvalho parte do coronelismo do ciclo agrícola que castigava o livre exercício dos direitos políticos. Os velhos coronéis da Primeira República (1889-1930) consideravam os eleitores como súditos, não como cidadãos. Criavam feudos dentro do Estado. A autoridade constituída esbarrava na porteira das fazendas. 

A herança colonial imprimiu fortes marcas no painel da cidadania brasileira. O País herdou a grande propriedade rural, a escravidão (abolida em 1888, e que teima em se fazer presente) e, sobretudo, um Estado comprometido com o poder privado. Como se pode aduzir, “o coronelismo” era uma barreira ao desenvolvimento dos direitos civis. 

O povo, como lembra o historiador em Cidadania no Brasil era avaliado “como incapaz de discernimento político, apático, incompetente, corrompível, enganável, e não havia sentimento pátrio comum entre os habitantes”. 

A ideia de Pátria emerge, lentamente, a partir da Independência (1789), mesmo assim com certa ambiguidade, eis que os políticos da época usavam a expressão “minha pátria” para se referir aos Estados em comparação com o Brasil, apresentado como o “Império”. O advento da República (1822) aponta para o fortalecimento das províncias, eis que se implantou, no País, o federalismo ao modelo norte-americano, que deu impulso aos governos estaduais. 

Mas o povo, seja no Império, seja na República, continuava a não ter lugar no sistema político, assistindo, distante, desconfiado, temeroso, os eventos cívicos. O ano de 1930 é um marco divisor, na medida em que nele se fixa a base dos direitos sociais, a partir de vasta legislação trabalhista e previdenciária.

Nesse ponto, convém assinalar interessante característica de nossa modelagem política. Carvalho observa que, entre nós, a cultura do Estado prevalece sobre a cultura da sociedade. Os direitos políticos apareceram antes dos direitos sociais, gerando uma sobrevalorização do Estado. Ou seja, houve uma inversão da lógica descrita por Thomas Marshall, em Cidadania, Classe Social e Status. 

O sociólogo lembra que as nações democráticas, a partir de seu País, a Inglaterra, implantaram, primeiro, as liberdades civis, a seguir, os direitos políticos e, por último, os direitos sociais. Portanto, por aqui, o Poder Executivo, operando as ações públicas, eleva-se no conceito das pessoas por simbolizar o distribuidor de ‘benesses’. Direitos são vistos como concessões, e não como prerrogativas da sociedade, criando uma ‘estadania’ que sufoca a cidadania. Um processo de tutela amortece o ânimo social, dificultando sua emancipação política. Não por acaso, critica-se a força avassaladora do nosso presidencialismo de cunho imperial. 

Não é à toa que o assistencialismo, como dádiva, corre nos desvãos das três esferas da administração pública. Para reforçar o poder de manipulação, os atores apropriam-se das conquistas das sociedades urbanas, entre elas, as linguagens das mídias, principalmente dos meios audiovisuais, e passam a exercer um controle social sobre as massas, atraídas mais pela estética das imagens do que pela força da razão. 

Ora, a rede assistencialista de Lula, a partir do Bolsa Família, cola o eleitor no mapa do Estado, não lhe dando alternativas para sair do sistema estatal.

Pois bem, para arrematar a marca de um governo que padece de envelhecimento precoce, o ministro da Justiça, Flávio Dino, comete a imperícia de comparar Cristiano Zanin, o advogado de Lula na Lava Jato, ao portentoso ministro Vitor Nunes Leal, autor de o clássico Coronelismo, Enxada e Voto. Zanin provou que é competente e o presidente Lula tem todo o direito de nomeá-lo para ocupar uma cadeira no STF. Mas fiquemos por aí no terreno das comparações.

Que Lula, em seu périplo internacional, medite sobre seus atos. Aprofundar a estadania será um retrocesso. O presidente pode até dar uma olhada no retrovisor. Mas sem querer conduzir o Brasil com o espelho mostrando apenas o passado.

Gaudêncio Torquato é escritor, jornalista, professor titular da USP e consultor político


Jurídico: vilão ou aliado da área de negócios? 

“Está com o meu Jurídico”. “O Jurídico mexeu no documento”. “Meu Jurídico não autorizou seguir” … Certamente você já ouviu (ou falou) essas e outras frases de cunho semelhante, em diversos tipos de situações. Porém, o que passa desapercebido para muitas pessoas é que quando o Jurídico faz suas colocações ou até mesmo dá uma recomendação mais incisiva, na verdade ele está trabalhando junto à área de negócios e não contra ela.

Para entender se o Jurídico é, de fato, um vilão ou um aliado, precisamos conhecer brevemente a trajetória do direito e da advocacia no Brasil. Nossa primeira Constituição Federal vai completar 200 anos em 2024 e muitos de nossos Códigos também tiveram sua primeira versão em séculos passados. Assim, não é exagero dizer que a advocacia existe no país há séculos, tendo enraizada, inevitavelmente, algumas características mais conservadoras. Feita esta breve contextualização, retornemos aos dias atuais.

Hoje em dia, quando um cliente (interno ou externo) demanda o apoio do Jurídico, ele não busca somente se resguardar de eventuais futuros problemas, ele espera mais do que isso. O cliente busca um aconselhamento jurídico, alguém que lhe oriente sobre qual a melhor forma de atingir seu objetivo, dentro da lei, assegurando seus direitos e garantindo que seus deveres sejam exigidos na extensão do necessário.

O advogado do século XXI não pode ser aquele que simplesmente “caneta o contrato” e diz ao seu cliente que não dá para seguir como proposto. Além das recomendações jurídicas, o advogado deve entender o negócio como um todo, possuir visibilidade geral da operação para então poder recomendar seu cliente assertivamente. O Jurídico hoje deve ser visto como um parceiro do negócio e não (mais) como uma área que simplesmente gera custos e atrapalha a concretização de operações.

De alguns anos para cá, as empresas vêm se conscientizando de que o advogado é alguém que aconselha, que caminha lado a lado, e não somente aquele que você aciona quando tem um problema concreto. É certo que em muitas vezes o papel do advogado é, de fato, remediar determinada situação, mas, ainda assim, quando se é parceiro do negócio, é possível orientar o cliente e encontrar a solução mais benéfica, ainda que em um cenário adverso.

A importância do Jurídico enquanto conselheiro – seja na posição de um advogado generalista consultivo ou através da atuação de um advogado contencioso estratégico – tem crescido no Brasil e muitas empresas passaram a abrir headcounts que antes inexistiam para a criação de uma cadeira (quando não uma estrutura) jurídica dentro das corporações.

Isto porque, pouco a pouco – lembre-se que a advocacia existe há praticamente dois séculos no país e o estigma do “juridiquês” e a cultura do aconselhamento jurídico ainda pesam – as empresas têm finalmente entendido que vale investir em um aconselhamento prévio, capaz de enxergar a operação de uma forma macro, do que depois ter que se socorrer a um suporte inevitável (e na maior parte das vezes mais caro) para gerenciar contingências.

Se o Jurídico for visto realmente como um parceiro do negócio, ele será capaz de realizar seu trabalho de forma mais abrangente, de recomendar sem impedir, de aconselhar sem vedar, mas, acima de tudo, de entender o objetivo da empresa em determinada operação e avaliar quanto ela é importante para o seu crescimento, compreendendo as horas de trabalho depositadas para tirar um projeto do papel e a importância de contribuir para sua construção. 

Quando o advogado é integrado ao time do negócio, aconselhando-o e fazendo considerações desde o início, o resultado tende a ser mais efetivo. Os possíveis problemas que poderiam surgir lá na frente muitas vezes são mitigados no início, pois pode ser criado um planejamento para o enfrentamento de situações adversas.

Assim, à medida que o Jurídico conquista a posição de uma área estratégica, participando ativamente da tomada de decisões, seu papel acaba por transcender o aconselhamento jurídico, passando a englobar, muitas vezes, temas relacionados à Governança Corporativa e Compliance, proporcionando às empresas uma atuação ainda mais ampla, auxiliando na observância das diretrizes internas, trabalhando em conjunto com outras áreas.

Ao ter reconhecida a sua importância, o Jurídico deixa de ser visto como um vilão e passa a ser um aliado efetivo do negócio, onde todas as áreas saem ganhando.

Priscilla Perez Bastos é advogada na TMB Advogados, integrante do time de Contratos e Societário, graduada pela PUC-Campinas, pós-graduada em Processo Civil e com especialização em Direito Administrativo


Saúde Mental e Alteridade

A alteridade é um conceito importante quando falamos sobre saúde mental. Significa enxergar no outro não apenas alguém diferente de nós, mas também alguém que pode contribuir para o nosso próprio crescimento e realização pessoal. É perceber que ao conviver com pessoas diferentes, podemos aprender e nos enriquecer como indivíduos. 

Quando enxergamos alguém com os olhos da alma, estamos indo além da simples visão física. Estamos reconhecendo o valor humano presente em cada pessoa. Enxergar dessa forma é sentir empatia, é se importar com o outro e valorizar a sua individualidade. É perceber o outro como a chave para o autoenriquecimento. Alteridade é, portanto, se alterar com a experiência da convivência. 

A diversidade é um conjunto plural de pessoas com características, origens e experiências distintas. É importante reconhecer essa diversidade e respeitar as diferenças entre as pessoas. Porém, só a diversidade não é o suficiente. Precisamos garantir a inclusão, ou seja, trazer todas essas pessoas para posições de destaque e protagonismo. Ao promover a convivência e o aprendizado mútuo, a alteridade possibilita que cada pessoa compartilhe suas experiências e práticas, enriquecendo o todo. Cada indivíduo tem algo valioso para oferecer, e é por meio da colaboração entre as diferentes individualidades que o progresso acontece. 

Nesse contexto, é fundamental desenvolver a sensibilidade humana. Isso significa compreender que o progresso não está na competição desenfreada, mas na colaboração entre as pessoas. Quando valorizamos a diversidade e trabalhamos em conjunto, temos a oportunidade de construir caminhos para o sucesso e criar uma sociedade mais justa. Esse é o espírito da coletividade: a exaltação das individualidades, unidas, para construir caminhos para o sucesso. 

Vivemos em uma era maravilhosa de inovação e avanços tecnológicos, em que a inteligência artificial assume muitas tarefas técnicas. No entanto, a criatividade e a inovação continuam sendo atributos exclusivos dos seres humanos. A essência criativa da humanidade não pode ser reduzida a algoritmos. 

Portanto, a inclusão é essencial para o progresso social. Ela impulsiona a criatividade e as habilidades de interação entre as pessoas. Para construir uma sociedade sustentável, inclusiva e justa, é necessário que todos nós nos unamos nesse propósito. Juntos, podemos criar estruturas sociais que valorizem a diversidade, promovam a inclusão e permitam que cada pessoa seja protagonista de sua própria história.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política


A virtude da Coragem

Eu não havia refletido sobre a virtude da coragem, de ser ela uma das maiores, até entrar em contato com as obras de São Tomás de Aquino. Tenho profunda admiração por tudo quanto se refere a ele, desde sua trajetória de vida, como da grandiosidade de suas obras. Vou descrever um pouco sobre a vida do filósofo, a forma como sua história me impactou, para depois comentar sobre o valor da coragem. 

São Tomás foi um moço quieto, tímido, introspectivo; vivia debruçado nos livros, dedicando seus dias a estudar e a tentar compreender mais sobre as coisas de Deus. Devido a essas características seus colegas o apelidaram de Boi mudo. Confesso que isso me causou indignação, pela forma jocosa com que o trataram, penso que justamente por ele não se encaixar nos padrões do senso comum, por se destacar por sua singularidade e inteligência. Creio que desconheciam que estavam diante de uma alma sensível, determinada, e que caminhava com o Senhor.

Ele nasceu na Itália, em uma família rica e era o mais novo entre nove filhos. Relata-se que aos cinco anos de idade foi enviado a um monastério para estudar com os monges beneditinos (que dó, tão pequeno) e permaneceu até aos 13 anos, pois, seus pais queriam que ele se tornasse culto, rico, que tivesse prestígio. Sua família não imaginava que ele seguiria a vocação religiosa e não queria que se tornasse um dominicano, devido ao fato de que pediam esmolas e viajavam para evangelizar.

São Tomás usou os pensamentos de Aristóteles para explicar os fundamentos da fé cristã, argumentando que a lógica e a fé se complementam, que podem trabalhar juntas (precisamos muito disso, principalmente no contexto do cotidiano). Acreditava que a “Revelação” poderia guiar a razão e ajudar na prevenção de erros; a razão poderia esclarecer e desmistificar a fé, para que não fosse cega. 

Na Suma Teológica ele explica como a reconciliação do ser humano com Deus se torna possível por meio de Cristo. Ele descreve Deus, Sua existência; examina a natureza e o ser humano, com questões como o propósito nosso na Terra, os tipos de leis, vícios, a importância das virtudes, como a prudência, a justiça, a coragem e a temperança, dentre outras. Ele faz a distinção entre virtudes morais, intelectuais e teologais.

Virtudes são hábitos bons, adquiridos na prática do dia a dia, não resultam do acaso, mas sim do empenho individual, da busca constante em agir no bem. Algumas virtudes servem para auxiliar em nossas condutas, como a prudência, que é uma virtude moral e intelectual ao mesmo tempo. Ela é indispensável para que o ser humano aja corretamente, com boas decisões morais, tendo conhecimento das situações, da realidade, com uma análise lógica da mesma, sem precipitações ou impulsividades. 

Nas virtudes teologais o próprio Deus vem em nosso auxílio; elas têm a função de orientar em questões que ultrapassam o entendimento humano – ultrapassam a razão, pois pertencem à esfera espiritual.

Vou me deter na virtude da coragem, que me causou espanto quando São Tomás descreve também como fortaleza, e que possui uma dimensão dupla: o lado sobrenatural, vinda de Deus, como um dom, como vemos nos mártires e também seu aspecto natural, como uma virtude que podemos almejar. Coragem é quando não desistimos diante do medo, dos perigos, quando não deixamos o medo nos dominar, paralisar, pois temos um propósito maior, com as ações no bem. Ou seja, na fortaleza existe uma coragem aplicada de nossa parte, para que enfrentemos dores, sofrimentos, provações, sem desistir, mas, há o suporte da Graça, dando-nos força para agirmos, para enfrentarmos com fé e esperança (virtudes teologais).

A virtude da coragem pode nos ajudar a refletir sobre o comportamento humano, a forma como agimos e atuamos em nosso dia a dia, diante das provações, tribulações, para direcionarmos o nosso agir. Sem a coragem, fica difícil agir dentro da justiça, com ações que promovam o bem comum, pois, ficamos presos na intenção – os atos não se concretizam. Por outro lado, veja que a coragem sem medida, sem justiça, deixa de ser corajosa e é meramente ousadia ou temeridade ou mesmo impulsividade ou burrice. Em alguns momentos precisamos realmente da coragem para agir, em outras, sabedoria para a aceitação.

A coragem resulta também de uma lógica, do uso da razão. E muitas vezes precisamos de muita coragem para fazer prevalecer o bem, para não paralisarmos pelo medo, para não nos adaptarmos aos padrões estabelecidos, não nos acomodarmos diante das injustiças, sofrimentos. Ter coragem significa enfrentar com perseverança, voluntariamente, em função de um bem maior – decisão que implica uma grandeza de alma, daquele que age na magnanimidade – no altruísmo.

Coragem é o que tiveram os heróis bíblicos, os profetas, tantos santos e mártires, em que abdicaram de suas próprias vidas por uma causa, com um propósito maior.

Coragem é o que teve minha avó ao perder seu caçula em um desastre fatal, e, mesmo com o coração dilacerado, não reclamou, não desistiu, ao contrário, levantou-se (marchou), seguiu cuidando de todos, mesmo quando foi tomada pela dor lancinante do câncer, que finalmente a levou.

Coragem é o que teve meu marido Roberto ao ver a morte levar nosso amado filho Marcos, e, mesmo diante da dor esmagadora, não desistiu, não desiste: continua a fazer o bem, a cada dia, com pequenos atos de amor e dedicação aos outros.

Creio que em muitos momentos necessitamos da virtude da coragem. Coragem para prosseguir, mesmo quando perdemos a quem muito amamos; quando o caos se instala a nossa volta; quando nos sentimos solitários em nossas lutas pessoais, sem conseguir vislumbrar o que nos aguarda... 

A virtude da coragem é maior do que imaginamos. Resulta da decisão em agir no bem, de caminhar com determinação, constância, rumo a um destino que transcende o entendimento humano, pois, tem como suporte o inenarrável auxílio da Graça.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Ecossistema de inovação: entenda por que é importante ser uma startup com opções sustentáveis

Não é de hoje que as notícias sobre as demissões em bigtechs têm ganhado espaço nas páginas de jornais de todo o mundo. Grandes empresas como Google, Meta, Amazon, Microsoft e Twitter estão entre aquelas que precisaram anunciar a demissão de um alto número de colaboradores.

Tudo isso devido à necessidade de se ajustar para lidar com uma crise econômica que tem sido uma causa direta do frequente anúncio de cortes no quadro de funcionários, principalmente da área de tecnologia. Inclusive, de outubro de 2022 até janeiro de 2023, pelo menos 70 mil trabalhadores foram impactados por esses cortes, segundo os portais de notícias Reuters e CNBC.

Diante deste cenário, algumas pessoas podem estar refletindo se existe alguma forma das empresas do segmento de tecnologia e inovação estarem resistindo a esta contínua onda de layoffs. A resposta é: sim! Afinal, a partir do momento que estas organizações decidem se apoiar em investimentos sustentáveis, por exemplo, elas conseguem se manter de pé por muitos anos e fugir das crises macroeconômicas.

Mas o que são esses investimentos sustentáveis? Basicamente, trata-se das aplicações internas focadas em ações para a contratação de pessoas na equipe, em um aprimoramento contínuo e em tecnologias que os ajudem a se destacar no mercado de atuação.

Não é por menos que as startups consideradas bootstrapping, por exemplo, têm ganhado espaço durante esse período turbulento em que vive o ecossistema de inovação. Afinal, elas optaram por crescer “sozinhas”, de uma forma mais orgânica, com capital próprio e, consequentemente, têm disposto de um maior controle de gastos internos.

Além de crescerem seus níveis de lucratividade e share de mercado, startups que adotam a estratégia bootstrap e crescem em ritmo de empresas aportadas por venture capital conseguem oferecer mais segurança e inovação aos clientes, dado a estabilidade de negócios que asseguram.

Nesse sentido, podemos concluir que as startups e demais empresas do mercado de tecnologia, que se preocupam com a organização interna e se atentam às práticas de governança, estão mais propensas a crescerem de forma estruturada e, ainda, podem não ser impactadas pela crise que vem afetando o mercado.

Thiago Campaz, é CEO e co-fundador do VExpenses. Trabalhou por 6 anos assessorando grandes empresas do agronegócio na otimização de suas estruturas de capital, em processos de estruturação de dívida, acesso a mercado de capitais e fusões. Participou da captação de mais de R$ 1bi em financiamentos


Qual o papel do RH na sustentabilidade?

A sustentabilidade não é um modismo ou uma tendência, é uma responsabilidade que deve ser levada a sério. Ela pode ser definida como a capacidade de atender às necessidades da geração atual usando os recursos disponíveis, sem causar problemas às gerações futuras em atender às suas próprias particularidades.

A sustentabilidade é mais eficaz quando integrada à estrutura estratégica de uma empresa, em vez de criada como um exercício de bem-estar ou uma linha separada em uma tática corporativa. Implementada corretamente, pode impulsionar os resultados financeiros, apoiando o argumento de que os programas ambientais devem ser proeminentes e alavancados para atrair e reter talentos e fortalecer a marca de uma organização.

Não há dúvida de que todos nós temos um papel a desempenhar em viver nossas vidas de uma forma que provoque a sustentabilidade. Nesse sentido, os profissionais de RH têm um papel crítico a desempenhar para garantir que os líderes seniores tenham as ferramentas e o treinamento certo para apoiar suas equipes em uma jornada que promova a sustentabilidade como parte da visão e dos valores corporativos.

Tecnologia a favor da sustentabilidade
Os modelos de trabalho remoto e híbrido oferecem a oportunidade perfeita para mudar fundamentalmente como as organizações pensam sobre sustentabilidade. Permitir que os funcionários trabalhem remotamente algumas vezes por semana não apenas significa que eles podem desfrutar de maior flexibilidade, mas também ajuda as organizações a reduzir drasticamente sua pegada de carbono.

Está claro que a sustentabilidade terá que ser incorporada à forma como as pessoas trabalham. A chegada das tecnologias de nuvem significa que é possível e plausível que os departamentos de RH conduzam grande parte de seu trabalho on-line, tornando todo o processo de recursos humanos sem papel de ponta a ponta.

Diminuir o uso de papel, digitalizar registros e implementar assinaturas eletrônicas não são apenas ecologicamente corretos, como também mais eficientes. Os documentos digitais são mais acessíveis e permitem maior compartilhamento e colaboração. Eles exigem menos espaço de armazenamento físico e ajudam os funcionários remotos a serem mais eficientes com acesso mais fácil aos principais documentos.

Menos papel, mais sustentabilidade
A digitalização do RH pode contribuir diretamente para a adoção de uma estratégia paperless. E esse pode ser o primeiro passo para que o RH contribua para incutir uma cultura de sustentabilidade por toda a organização.

Em média 3% do lucro de uma organização é gasto com papel. Além disso, segundo a consultoria Gartner, cada funcionário gasta cerca de 10 mil folhas de papel por ano. Para completar o cenário desfavorável, 50% do desperdício das empresas está relacionado exatamente com o papel.

Segundo a WWF (World Wide Fund for Nature), é possível reduzir em mais de 20% o uso de papel no escritório, e em alguns casos até eliminá-lo totalmente. Ao migrar diversos processos para o meio digital, como materiais de treinamento, processos de seleção e contratação e documentos dos funcionários, o RH reduz a necessidade de coletar e compartilhar essa papelada.

Cada vez mais, os empregadores estão fazendo com que a sustentabilidade e a responsabilidade social sejam valores fundamentais para seus negócios. Para alcançar metas e compromissos frequentemente declarados publicamente, os líderes seniores contam com um alto nível de envolvimento dos funcionários. O RH tem um papel fundamental nesse processo.

Em resumo, os líderes de RH devem garantir que os sistemas, processos e políticas do setor apoiem a agenda de sustentabilidade. O setor de Gestão de Pessoas continuará na vanguarda como impulsionador da mudança, à medida que as empresas avançam para um futuro ainda mais competitivo, construindo culturas e ecossistemas que impulsionam essa medida.

Inon Neves, é vice-presidente sênior da Access Latam


A Força da Ancestralidade

Chegamos a Vila Verde no final da tarde. Era mês de abril, final dos anos 80. Fazia um friozinho gostoso. Depois de um dia inteiro dirigindo desde Lisboa, finalmente estávamos perto do nosso destino. No hotel, falei com a gerente sobre o motivo da nossa viagem: busca pela ancestralidade.

- E qual é a sua família? – perguntou-me a moça, muito educada.
- Fonseca. Tenho aqui uma lista com os nomes dos irmãos do meu avô.
- Deixe-me vêire, pediu-me, modulando a voz em delicioso sotaque de fado.

Concluímos que o avô dela era irmão do meu avô, ambos já falecidos. Apenas meia hora nos separava das nossas origens. Não deu para esperar o dia seguinte. Eu, minha mulher, minha irmã e meu cunhado deixamos o cansaço de lado e fomos assim mesmo, já começando a escurecer.

Na Freguesia de Paçô, entramos no primeiro bar, falamos sobre o motivo da nossa viagem e o nome da família. Um homem que estava ali perto ouviu nossa conversa e veio até nós. Era o marido de uma prima do meu pai. A partir daí foi tudo festa e emoção. Para nós e para eles. Tinham até fotos nossas, que a minha tia havia enviado nas suas correspondências.

Conhecemos vários parentes, estivemos no quarto onde o meu avô nasceu, em maio de 1888, mês e ano da Abolição, por coincidência. Tiramos fotos em frente à igrejinha onde ele foi batizado e onde também se casou com a minha avó.

Atravessamos o Atlântico, rodamos vários quilômetros. Quantos de nós já fizemos aventura semelhante? É a força da ancestralidade que nos move e nos faz sentir orgulho de sobrenomes, que muitas vezes são comuns, como o nosso. Mas é nosso, parte de uma cadeia de afetividades bem definida na linha do tempo. São os laços de família, bem apertados, bem identificados.

Tempos depois, já no Rio de Janeiro, li no jornal um artigo do Nei Lopes, compositor e estudioso das culturas africanas, em que ele observava que os afrodescendentes brasileiros não têm sobrenomes africanos, mas portugueses. É que os escravizados acabavam sendo identificados pelos nomes dos seus senhores, como um certificado de propriedade. E os seus descendentes têm que carregar esses sobrenomes pela vida afora. Como é que eu nunca tinha pensado nisso antes?

Os negros eram capturados em regiões diversas da África, com culturas, religiões e línguas diferentes, mas quando chegavam aqui viravam uma coisa só: mão de obra, sem passado, sem futuro, sem história. Misturados, apartados das suas famílias, vendidos separadamente dos filhos, mulheres, maridos, amigos.

Os seus nomes de origem eram trocados por outros, muitas vezes com requintes de crueldade, usando o mesmo nome do traficante que os vendeu.

Lembrei-me da minha viagem a Portugal. Talvez tão sofrido quanto a perda da liberdade seja a privação da ancestralidade.

Felizmente, muitos dos nossos irmãos afrodescendentes já perceberam que, agora que o sobrenome é seu, podem, com sua dignidade, fazer dele um motivo de orgulho e não de dor. Honrar esse sobrenome será uma homenagem aos seus antepassados e não aos senhores deles.

Conhecer um pouco da história ainda é o melhor caminho para compreender, respeitar e exercitar a empatia em relação aos nossos irmãos afrodescendentes.

Chico Fonseca é escritor e arquiteto, autor do livro “Amores, Marias, Marés”, publicado pela Editora Pensamento


Você sabe qual o tipo de manicure ideal para você? 

“Uma mulher com as unhas impecáveis não quer guerra com ninguém”. Você certamente já ouviu essa frase ou leu algo semelhante nas redes sociais. A brincadeira é bastante comum logo após a mulherada passar por uma sessão de manicure. É possível que você mesma já tenha falado ou pensado isso em algum momento. Mas, qual é o ‘preço’ que você paga para ter as suas unhas bonitas? Não falo de valor monetário, mas sobre a saúde e integridade das suas unhas naturais. Já parou para pensar sobre isso? 

Atualmente, existem cinco tipos de manicure: aquela em que não há remoção da cutícula, a manicure em que a cutícula é removida com o uso de produtos químicos, a manicure com remoção da cutícula por corte, a manicure combinada (corte + aparelho) e, por fim, a manicure feita 100% com aparelho.

Entre todas essas versões disponíveis no momento, a menos invasiva e a mais adequada do ponto de vista da saúde é a manicure em que não há a remoção da cutícula. Você provavelmente já ouviu muitos médicos e dermatologistas falando que a cutícula funciona como um selo protetor, que ao ser removido abre caminho para a entrada de microrganismos que podem causar danos à saúde. Fungos e bactérias podem invadir a pele lesada pelo alicate e se alojar entre as lâminas da unha ou abaixo dela. 

No entanto, mesmo sabendo disso, a maioria das mulheres dá preferência aos tipos de manicure que entregam como resultado o embelezamento das unhas. Neste caso, passam por procedimentos em que a remoção das cutículas pode ser realizada de diversas formas. A maneira é, muitas vezes, escolhida pela própria profissional de manicure, que opta pelo tipo de remoção com a qual se adapta melhor e, por vezes, com a opção de menor custo, visto que são as próprias manicures que arcam com a compra dos insumos utilizados no trabalho. 

No caso da remoção química, o uso de cremes e líquidos conhecidos como “removedores” são aplicados sobre a cutícula e, depois de alguns segundos, desprendem o tecido com o auxílio de uma espátula. O que pode parecer uma ótima e prática opção, é na verdade uma técnica muito perigosa devido à composição altamente agressiva desses produtos, que frequentemente causam graves alergias e enfraquecem as unhas. 

Já na manicure por corte, quem entra em ação é o alicate. Mesmo as manicures que manuseiam esse instrumento com extrema habilidade, dificilmente deixam de tirar alguns “bifes” de suas clientes. Além da dor, outro problema da técnica por corte é a necessidade de umedecer os dedos. Essa prática traz consequências indesejadas. Isso, porque o ambiente úmido favorece a proliferação de doenças, a esmaltação é feita sobre a placa ungueal dilatada e, como os tecidos ficam encharcados, inviabilizam que a profissional enxergue detalhes com precisão, o que aumenta o risco de lesões. 

Na sequência, temos a técnica combinada, que surgiu junto com os primeiros aparelhos elétricos voltados à manicure. As profissionais começaram a substituir algumas etapas da manicure de corte pelo uso do aparelho, criando uma técnica transitória, com avanços para as clientes, porém ainda dependente da tesoura para a remoção da cutícula. 

Por fim, na manicure feita 100% com o aparelho, a cutícula é processada por microdermoabrasão, ou seja, é feita uma leve esfoliação da cutícula por meio da ação de fresas especiais, produzidas com materiais nobres e com diferentes funções e níveis diferentes de abrasividade.

De todos os tipos de manicure que existem hoje em dia, a técnica realizada 100% com aparelho é a mais segura. Inclusive, essa é a escolha no método russo original de cuidados com as unhas, que existe há mais de 50 anos e é um dos que mais cresce em toda a Europa e nos Estados Unidos. O procedimento é totalmente indolor, não oferece risco de contaminação e ainda promove a redução do ritmo de crescimento das cutículas. Como não há cortes, o sistema imunológico não é ativado. Então, é possível ver, a cada sessão, uma redução do volume desse tecido.

Quando a manicure com aparelho é associada a outras técnicas, como a de esmaltação de alta precisão, também utilizada no método russo, por exemplo, os resultados estéticos se tornam absolutamente incomparáveis. As unhas ganham acabamento perfeito, com muito mais brilho. Além disso, não há necessidade de uso de químicos para a remoção dos excessos, porque a pele ao redor das unhas não fica lambuzada com os esmaltes, o que consequentemente também evita reações alérgicas. E, como o procedimento tem durabilidade maior, as unhas naturais crescem mais fortes e mais saudáveis. 

Tendo conhecimento sobre cada um dos tipos de manicure que existem atualmente, fica mais simples de escolher o procedimento mais adequado e mais seguro para você. Qual é a sua opção favorita?

Olga Radionova é a maior autoridade no método russo original de cuidados com as unhas no Brasil, diretora da RNSA School e responsável por formar as especialistas que atuam na Bela Russa – 1ª rede de franquias de estúdios especializados no método russo original de cuidados com as unhas


Dia da Enfermagem: compromisso com a saúde e a vida humana 

No dia 12 de maio, comemora-se o Dia da Enfermagem, data instituída em meados dos anos 40, em homenagem a dois grandes personagens da enfermagem: Florence Nigthingale e Ana Néri, esta, enfermeira brasileira e a primeira a se alistar voluntariamente em combates militares. A profissão tem origem milenar: enfermeiro era uma referência a quem cuidava, protegia e nutria pessoas convalescentes, idosos e deficientes. Há séculos, a enfermagem vem formando profissionais em todo o mundo, comprometidos com a saúde e o bem-estar do ser humano.

O profissional de enfermagem utiliza a ciência, a arte, a ética, o conhecimento técnico científico, ações sistematizadas e interrelacionadas no processo de promoção, manutenção e recuperação da saúde, por meio da assistência e com o objetivo de ajudar as pessoas a viver mais saudáveis, como também no apoio, quando necessário, para superarem os efeitos das doenças.

Como sociedade, devemos reconhecer o protagonismo que a enfermagem exerce nas organizações de saúde público ou privado, na gestão dos serviços, na coordenação das atividades dos técnicos e auxiliares de enfermagem, na docência e na pesquisa acadêmica, e promover condições para desempenhar seu papel com qualidade e segurança, para agregar valor.

Em todo o mundo, a enfermagem trabalha incansavelmente para superar os desafios existentes e luta contra as adversidades, com muita dedicação, coragem e capacitação profissional, para promover o cuidado seguro, e atenção às pessoas, onde quer que elas estejam.

O profissional de enfermagem é o responsável pela promoção do bem-estar em todas as etapas do processo de saúde e de doenças. Isso se estende desde a coleta de informações do paciente por meio de uma entrevista ou conversa, obtenção de sinais vitais, administração de medicação, alimentação, entre outras funções. Como é possível perceber, a profissão é indispensável, e muito ampla em suas funções, tendo em vista que atua em diversas áreas como, saúde da criança, do idoso, da mulher e da gestante.

Em nível pessoal, a valorização da carreira extrapola uma simples apreciação e atinge um estágio muito mais profundo de respeito e encantamento. Acredito que, assim como todos os cidadãos, nos sentimos ainda mais gratos pelos profissionais de enfermagem no período de pandemia. Desempenharam o papel de “verdadeiros anjos”.

Sobre esta nobre carreira, o conhecimento técnico científico é importante, e considero uma das premissas para a atuação profissional. Suas habilidades vão além do mercado de trabalho e se expandem para a arte do cuidado, amor genuíno, compaixão, dedicação e resiliência, que são elementos primordiais, pois sempre cuidamos do amor de alguém. E, no caso, este pode ser seu filho, seu pai, sua mãe, seu sobrinho e até mesmo você.

Mas como podemos homenagear os profissionais da enfermagem neste mês tão especial? Gratidão! É sentimento que enche o coração ao pensar em todos os profissionais de enfermagem, símbolos de acolhimento, amor e cuidado ao próximo. Profissionais que merecem toda valorização e respeito, fundamentais na área da saúde. Meus sinceros agradecimentos a todos, e em especial para meu time do Hospital Dona Helena.

Tenho orgulho imenso de ser enfermeira, e poder contribuir para que, cada dia mais, a enfermagem seja protagonista para uma assistência segura, agregando valor à vida das pessoas e ao sistema de saúde.

Patrícia Grabowske Correa, gerente assistencial do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC)


A devastação interna desencadeada pelo sentimento de culpa 

O sentimento de culpa é um velho companheiro de muitas pessoas. Essa sensação causada pela culpa, pode alojar-se na mente de quem cometeu um equívoco ou um erro, sem intenção de fato, ou seja, não sendo de fato culpado, porém fica estigmatizado no inconsciente, como uma culpa velada e recorrente.

E como esse sentimento se manifesta ao longo da vida? E como se dá o ciclo da culpa?

A culpa traz uma carga negativa de crenças, afetando todos os pensamentos do indivíduo e influenciando como ele pensa a respeito de si mesmo. Trazendo para nosso cotidiano, ao invés de buscar alternativas e possibilidades, a culpa faz com que você fique apenas se lamentando e se sentindo mal.

Como consequência, o indivíduo não aprende com suas falhas ou fraquezas e pode apenas ficar reproduzindo as mesmas atitudes. É preciso aprender a lidar com essas falhas e aceitar que não somos perfeitos.

Algumas reflexões são importantes. Vamos lá: você deixa de amar alguém apenas porque essa pessoa errou? Tenha em mente que você não é mais aquela criança que tinha que ser perfeita e não podia errar para ser amada: todas as pessoas erram, e nenhum erro é intencional.

E qual a diferença entre Culpa e Responsabilidade? A responsabilidade é uma escolha que traz emoções positivas, faz com que você se perceba como potente, ativo e motivado.

A culpa, por sua vez é uma emoção negativa que paralisa e faz com que você fique voltado para o passado. A culpa surge do anseio à perfeição. Quanto melhor uma pessoa querer ser, menos ela admitirá erros.

Também pode ser compreendida como um delírio de grandeza. Faz com que a pessoa acredite que pode controlar a vida e, quando algo sai de uma forma inesperada, este indivíduo busca respostas para aquela situação e, então, acredita que algo que fez causou o acontecimento ruim. 

A pessoa que carrega o mundo nas costas, o excesso de culpas, torna-se prisioneira de uma ideia fixa. Deixa de ser quem é para se tornar o crítico de si mesmo. Culpa é o sentimento originado da ideia de que as coisas têm que acontecer como a pessoa quer. Responsabilidade é assumir que você é responsável por suas atitudes.

É preciso ter a consciência exata da origem do seu sentimento de culpa. Explore um pouco mais sobre o que gerou em você a culpa. Comece perguntando-se:

O que me faz sentir culpa? 

De não ter sido amado? 

Ter sido rejeitado, abandonado? 

Ter acreditado que recebia amor, quando na verdade recebia apenas o que acreditava ser amor? 

Ter sido vítima de maus tratos e abuso sexual ainda criança? 

Terem me ocultado a verdade, o que me obrigou a acreditar e conviver com a mentira? 

De não ter sido amado?

Faça uma lista de todas as culpas que você sente, por maior que possa ser a lista, faça! Isso o ajudará a compreender melhor seus sentimentos e conflitos gerados pela culpa.

Enfim, as consequências da culpa são muitas. Mas o mais indicado é saber identificar o que é responsabilidade e o que é culpa. Afinal, apenas olhar como culpa para determinadas situações, só alimentará estagnações, repetição de padrões, sem proporcionar mudanças e crescimentos.

Após essa reflexão, faça uma auto análise de como está seu momento em relação às culpas que carrega e quais consequências estas culpas trazem para sua vida. Onde as coisas poderiam ser diferentes se não fossem as chibatadas que você dá em si mesmo e se auto pune para aliviar uma dor inconsciente.

Dra. Andréa Ladislau / Psicanalista


Sopro cardíaco é motivo de preocupação? 

“Devo me preocupar?”. Na rotina que vivo dentro da cardiologia, esta é uma das perguntas que mais escuto dos pacientes quando chegamos a um diagnóstico de sopro. Porque existe um entendimento geral de que o sopro cardíaco não é exatamente um problema, mas algo a ser monitorado de vez em quando e olhe lá. Porém, trata-se de uma condição que pode, sim, ser perigosa e que deve ser acompanhada por um cardiologista com frequência.

Basicamente, o sopro cardíaco é um som anormal gerado pelo fluxo de sangue dentro do coração. Em geral, essa anormalidade pode ser detectada por um estetoscópio durante um exame físico do coração, e pode ser um sinal de que há algum problema com o funcionamento do órgão. Por outro lado, há duas variações de sopro cardíaco, e é a isso que devemos atentar.

Um sopro cardíaco “inocente”, também conhecido como sopro funcional ou fisiológico, é um som cardíaco anormal se comparado ao de um coração sem sopro, mas que não é causado por uma doença cardíaca subjacente. Esse tipo de sopro é comum em crianças – cerca de 90% dos casos – e jovens adultos saudáveis e, geralmente, não é perigoso. De qualquer forma, a avaliação de um cardiologista é fundamental para afastar de vez a preocupação. Só esse profissional é capaz de avaliar corretamente o quadro completo, que considera idade e características específicas do som.

Mas existe também o sopro cardíaco causado por uma doença das válvulas cardíacas ou por uma doença congênita. Nestes casos, o sopro é, sim, um problema mais complicado, que pode se tornar grave e que requer avaliação médica e tratamento adequado para não evoluir.

A principal diferença entre um sopro cardíaco “inocente” e um sopro cardíaco causado por uma doença é que o primeiro não está associado a outros sintomas ou anormalidades no coração, enquanto o segundo pode apresentar sintomas como falta de ar, fadiga, palpitações, inchaço nas pernas ou tornozelos, além de outros sinais de insuficiência cardíaca.

Se o seu médico detectar um sopro cardíaco durante um exame físico, ele pode encaminhá-lo para a realização de exames adicionais para avaliar a causa do sopro e determinar se é necessário tratamento.

Os exames mais comumente utilizados nesses casos são o ecocardiograma, o eletrocardiograma (ECG) e a radiografia de tórax. O ecocardiograma é o melhor exame para avaliar a anatomia e função cardíaca, bem como para verificar o funcionamento das válvulas e o fluxo sanguíneo no coração. O ECG pode ajudar a identificar anormalidades no ritmo cardíaco ou outras alterações na atividade elétrica do coração. Já a radiografia de tórax pode ser usada para avaliar o tamanho do coração e a presença de outras condições que possam afetar o coração ou os pulmões.

Em casos mais complexos, outros exames também podem ser necessários, como a ressonância magnética cardíaca, o cateterismo cardíaco ou outros testes de imagem. O médico avaliará a necessidade desses exames com base na suspeita clínica e nos resultados dos exames iniciais.

Por fim, o sopro pode não ser preocupante, e não é, pelo menos na maioria dos casos, mas somente um médico cardiologista apoiado pelos exames adequados pode chegar a essa conclusão. Assim, estabelecer uma rotina de consultas é o melhor caminho para manter em dia a saúde do coração.

Tiago Bignoto é cardiologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa


A derrota de Lula 

Já se sabia, e agora está confirmado: o governo não controla a Câmara dos Deputados

O governo Lula e a esquerda radical que controla o seu governo acabam de sofrer uma derrota maciça na Câmara dos Deputados — a maior, possivelmente, de todas as que já tiveram. O cidadão médio não está sendo informado disso. Para a maioria dos analistas, especialistas e jornalistas que pensam em bloco, e sempre do mesmo lado, aconteceu mais uma obra de “engenharia política”, de “habilidade” e de “realismo” do gênio do presidente Lula e de seu servidor-mor na Câmara, o deputado Artur Lira. Imaginem só: iam perder uma votação essencial, e na última hora conseguiram evitar a derrota deixando de entrar em campo. Genial, não é? Só que não é assim. O governo perdeu: queria, e jogou tudo nisso, impor ao Brasil a lei da censura – e não conseguiu o que estavam querendo. O nome disso é derrota. Já se sabia, e agora está confirmado: o governo Lula não controla a Câmara dos Deputados. Gastou fortunas, nos últimos quatro meses, comprando apoios. Mas não conseguiu criar uma maioria obediente e eficaz para aprovar tudo aquilo que o governo exige que se aprove.

Em circunstâncias normais de temperatura e pressão, Lula e o seu Sistema iriam procurar alguma mudança de rota. Levaram um susto com a rejeição do projeto de censura por parte da opinião pública; deveriam, em consequência, pensar de novo no seu objetivo e negociar maneiras de obter a aprovação, no futuro, de algo na mesma linha. Mas as condições de temperatura e pressão não são normais no Brasil de hoje. O governo, em parceria plena com o Supremo Tribunal Federal, quer um novo regime para o Brasil: deixou, na prática, de trabalhar com a hipótese de que vai sair do poder um dia, e está construindo um estado policial neste país. A divergência está proibida; pode até ser crime. As prisões se enchem, dia após dia, e os que são jogados lá não têm a proteção da lei e da justiça. Qualquer repartição pública, controlada pelo PT ou por extremistas de esquerda, pode impor multas alucinadas e sabotar setores inteiros da economia.

Por conta disso, a reação à derrota na Câmara dos Deputados foi um surto de repressão que o Brasil não vê desde os tempos da ditadura militar. A censura pode não vir pela lei que o governo queria, mas vai continuar sendo aplicada pelo STF, sem possibilidade de recurso a nada e a ninguém. O Ministério da Justiça, que pela lei não tem o direito de julgar absolutamente nada, mandou o Google tirar de circulação um texto com críticas ao projeto da censura e obrigou a colocar outro, a favor. Um assessor do ex-presidente Bolsonaro foi preso; seus advogados receberão o mesmo tratamento de todos os que estão defendendo presos políticos, ou seja, não serão atendidos em nada e o seu cliente vai ficar na cadeia por quanto tempo o STF quiser. (Neste momento não estão soltando ninguém, mesmo doentes em estado grave.) O próprio ex-presidente sofreu uma operação de “busca e apreensão” da Polícia Federal, que funciona cada vez mais como uma KGB do governo e do STF; estavam atrás do seu cartão de vacina e dos cartões de familiares, como se tomar ou não tomar vacina fosse uma questão de polícia – ou da Suprema Corte do país. Não vão parar por aí.

(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 3 de maio de 2023)


Ditadura a caminho 

O Brasil encaminhou, em mais uma dessas trapaças que colocam as mesas do Congresso entre as coisas mais desmoralizadas da sociedade, um projeto de censura

O Brasil acaba de dar um dos passos fundamentais que o manual para a montagem de ditaduras apresenta já na sua primeira página — encaminhou, em mais uma dessas trapaças que colocam as mesas do Congresso entre as coisas mais desmoralizadas da sociedade brasileira, um projeto de censura. Não perca seu tempo achando que não é bem isso, porque é exatamente isso. Dizem, é claro, que se trata de uma lei para “combater a desinformação”, acabar com “notícias falsas”, banir as “mentiras da internet” ou do “noticiário”, e outros disparates. É pura tapeação — aí sim, notícia falsa em estado integral. O projeto, no mundo dos fatos concretos, cria e entrega para o governo um mecanismo de censura no Brasil; através dele, o “Estado” passa a dar ordens a respeito do que o cidadão pode ou não pode dizer na internet, ganha o direito de punir quem se manifesta nas redes sociais e transforma num conjunto de palavras inúteis, para todo e qualquer efeito prático, o artigo da Constituição Federal que estabelece a liberdade de expressão neste país.

A lei que se propõe para aprovação não quer “pôr ordem nessa baderna da internet”, proibir que as pessoas “mintam” ou reprimir a imprensa — ela se destina a calar o cidadão que quer manifestar o que pensa através das redes sociais. Não pune, como em toda sociedade civilizada, os atos que uma pessoa pratica — como em toda ditadura, reprime o que ela pensa. Não tem o propósito de tornar a sociedade brasileira mais limpa, ou mais justa, ou mais organizada, nem de combater os crimes que podem ser cometidos através da palavra livre. O seu único propósito é entregar ao governo uma ferramenta de repressão, para censurar a circulação de pontos de vista ou informações que ele, governo, não quer que circulem. Não tem nada a ver com a ideia de ordem.

Essa ordem já é plenamente garantida pelo Código Penal e outras leis em vigor, que punem todos os delitos que podem ser praticados com o uso da liberdade de expressão — calúnia, difamação, injúria, golpe de Estado, incitação ao crime, racismo, nazismo, ameaça. Está tudo lá; não há nada de fora. O cidadão brasileiro é responsável, sim, por tudo o que diz em público, e não só do ponto de vista penal. Está sujeito, o tempo todo, a pagar indenizações e a ressarcir prejuízos, se a justiça assim decidir. É falso, simplesmente, afirmar que “a liberdade de expressão não pode ser exercida sem limites” ou “ferir o direito de outros” — ela tem limites claramente marcados na lei, e pune quem violar quaisquer direitos do demais cidadãos.

A lei dá a si própria o título de “Lei da Liberdade (…) na Internet”, o que já diz tudo. Todas as vezes que se faz alguma lei sobre a liberdade, sem exceção, a liberdade acaba ficando menor do que era, ou some de vez; todas as ditaduras, de Cuba à China, estão repletas de lei sobre a “liberdade”. No caso brasileiro, não há no projeto uma única palavra que sustente objetivamente a liberdade de expressão; é o exato contrário, o tempo todo. O fato essencial é que a nova lei cria um “Conselho”, a ser formado por 21 membros da “sociedade civil”, com o poder explícito de fazer censura — uma aberração que nunca houve no Brasil, nem no tempo do AI-5. Alguém acha que esse Conselho, a ser montado pelo governo Lula, vai buscar a verdade, ser imparcial e garantir “a liberdade na internet”?

(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 26 de abril de 2023)


Até o You Tube está com medo do Projeto da Censura 

Plataforma de vídeos argumenta que a aprovação do texto vai provocar mudanças sem precedentes na internet brasileira

O Projeto de Lei (PL) 2630/2022, que visa a instaurar a censura nas redes sociais, já causa desconforto nas big techs. O YouTube, por exemplo, publicou um artigo contra a medida. Intitulado “Como uma legislação apressada pode impactar os criadores do YouTube”, o texto mostra que a aprovação do projeto deve provocar mudanças sem precedentes na internet brasileira.

“Embora apoiemos uma legislação para enfrentar os desafios atuais, como a desinformação, o discurso de ódio, os ataques à democracia ou o extremismo na internet, estamos preocupados que um processo legislativo apressado signifique que não houve tempo suficiente para todas as partes — incluindo os criadores de conteúdo — expressarem suas preocupações”, diz o texto.

O YouTube considera que o Projeto da Censura apresenta trechos ambíguos, que ainda não foram amplamente debatidos. A aprovação do texto resultaria em sérias consequências não intencionais, segundo a plataforma de vídeos.

“Alguns criadores de conteúdo estariam isentos de obedecer às nossas regras sobre desinformação ou, até mesmo, dar ao governo autoridade máxima sobre o que pode ou não estar no YouTube”, argumentou a big tech. “Aprovar esse Projeto de Lei por meio de um processo acelerado tornará muito mais difícil resolver problemas como esses e evitar um resultado desastroso.”

No artigo, a plataforma cita seus três principais motivos de preocupação: (1) o projeto pode criar exceções para a aplicação das políticas do YouTube, gerando desigualdades entre os criadores; (2) o governo teria poder para controlar os aspectos centrais da plataforma sem um conjunto claro de regras; e (3) o YouTube pode ser forçado a remover grande quantidade de conteúdo legítimo para evitar ser soterrado por ações judiciais.

Por que o YouTube está preocupado?
Na terça-feira 25, a Câmara dos Deputados aprovou a urgência do Projeto de Lei da Censura. Por determinação do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), a votação não precisou de maioria absoluta, apenas simples — 192 deputados votaram contra o PL. Com isso, o texto não terá de passar por nenhuma comissão da Câmara e será votado diretamente no plenário.

O Projeto de Lei da Censura, de autoria do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), recebeu aprovação do Senado em 2020. A versão mais recente do PL 2630/2022 prevê que os políticos não podem bloquear os seguidores em seus perfis nas redes sociais e que aplicativos de mensagens precisam limitar a distribuição em massa de conteúdos.

A matéria ainda impõe uma multa entre R$ 50 mil e R$ 1 milhão — por hora — para empresas que não cumprem as decisões judiciais para a remoção imediata de um “conteúdo ilícito”. Quem divulgar supostas fake news deve ser punido com até três anos de prisão.

Mas não para aí. O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também quer fazer adendos ao projeto.

(Edilson Salgueiro,
Colunista da Revista Oeste)


Vamos retomar a cultura de paz nas escolas 

Os casos recentes de ataques em escolas nos mostram que é urgente discutir o enfrentamento das causas que produzem a violência na sociedade civil. Os espaços escolares precisam colocar a cultura da paz como parte do currículo, como fazem alguns países. A escola é o lugar mais importante de transformação social que nós temos, lugar onde vamos construir a possibilidade de viver com os outros.

Diante desta epidemia de violência e desagregação social, precisamos pensar em vacinas de encantamento na pedagogia das virtudes, com noções de solidariedade, ética, entretenimento saudável, clima de paz e coletividade fortalecida. O pânico é desagregador, por isto é preciso haver uma resposta coletiva centralizada pelo poder público.

É legítimo sentir medo neste momento, mas se trancar em casa não vai resolver, pois segurança tem a ver com produzir pertencimento e acolhimento para as pessoas, construir uma rede comunitária para confrontar esta narrativa de ódio.

Quanto às redes sociais, é preciso cobrar das empresas de tecnologia sua responsabilidade no ambiente digital. A Constituição Federal e o ECA já impõem a todos a obrigação prioritária de zelar pela saúde e educação de crianças e adolescentes, assim como protegê-las da exploração e opressão, portanto também incluídas as corporações que ganham milhões à custa do engajamento de crianças e adultos em suas plataformas.

O Código de Defesa do Consumidor estabelece outras obrigações aos fornecedores de serviços, por exemplo, a proibição de publicidade voltada ao público infantil, cuja promoção é considerada crime porque é abusiva. 

Estas empresas não podem se esquivar do debate citando um artigo do Marco Civil da internet que atrela a obrigação de retirar uma publicação à ordem judicial. Se eles criaram o problema e faturam alto com tal venda de espaço para publicidade, é óbvio a necessidade de usarem seu poderio algorítmico para manter o espaço livre de abusos.

Neste momento, a mensagem mais importante é: não compartilhe publicações que incentivem os ataques, denuncie. Há espaços como o www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura criado recentemente para reforçar esta rede de monitoramento e segurança, mas instituições como a SaferNet existem há anos para receber denúncias e orientar sobre casos de crimes cibernéticos. 

Mesmo na dor, é importante mudar o foco para algo positivo e construtivo. Escolas de todo o Brasil estão se mobilizando para celebrar o dia 20 de abril como Dia da Compaixão, do Amor e da Gratidão no Ambiente Escolar. A ideia é favorecer espaços saudáveis para que crianças e adolescentes compartilhem histórias positivas e reflitam sobre motivos pelos quais são gratos. É uma maneira de trazer a paz novamente para a escola e estendê-la para cada casa deste país.

Sandra Regina Cavalcante é professora de Direito do Trabalho e Direito dos Vulneráveis e autora da obra coletiva “ECA - Entre a Efetividade dos Direitos e o Impacto das Novas Tecnologias” (Almedina Brasil)


A Nova Lei de Licitações e as práticas ESG 

Enviromental, Social and Governance, do inglês, é o que significa essa sigla que tem revolucionado o modo com o qual as empresas estão operando dentro do mercado. O conjunto de padrões advindos destes termos assegura que as operações empresariais deixem de visar o lucro a qualquer custo e passe a ponderar uma atuação mais sustentável e socialmente consciente. Face aos desastres de ordem ambiental em âmbito nacional e os escândalos de corrupção de se irromperem nos últimos anos o tema ESG ganhou ainda mais relevância, o que levou a engrenagem legislativa se mover no sentido de preconizar mecanismos de mitigação de riscos como fator determinante para atração de capital, bem como, levou o mercado financeiro a ter um olhar mais atento a performance de empresas quanto critérios de sustentabilidade.

A lei 14.133/2021, a lei de licitações, como exemplo do que foi dito supra, trouxe em seu corpo importantes aspectos pertencentes a agenda da ESG. Desta forma, proporcionou ao ambiente de contratações públicas de aspectos típicos de empreendimentos ESG.

Em seu artigo 18, §1, a lei de licitações destaca na fase preparatória a necessidade da empresa licitante informar quais serão os impactos ambientais decorrentes daquela contratação, e consequentemente, as medidas mitigadoras que serão tomadas. Demonstrando assim a sua preocupação com os aspectos da ESG, tornando a contratação mais sustentável.

Como já dito, a lei de licitação manteve o desenvolvimento sustentável como um dos objetivos do processo de licitação, bem como, passou a preconizar a possibilidade de a Administração exigir de seus contratados a adoção de programas de integridade, a atribuição de vantagem competitiva às empresas que promovem ações de equidade de gênero no ambiente de trabalho ou que possuem programas de integridade efetivos, a garantia de preferência, em caso de empate, às empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento tecnológico no País ou comprovem práticas de mitigação ambiental, dentre outros.

E esse fator, como visto, pode ser uma diferencial chave para a atração de recursos para projetos estratégicos, de forma que nenhuma empresa pode ficar alheia a essa nova realidade.  

Sobre a autora: Thaina de Jesus Câmara Advogada, graduada com menção honrosa pela Universidade São Judas Tadeu -USJT, Pós-Graduanda em MBA em Gestão Tributária pela Universidade de São Paulo - USP. Especialista Jurídica Junior com atuação à frente do setor de licitações do Vigna Advogados Associados.

Sobre o escritório: Fundado em 2003, o VIGNA ADVOGADOS ASSOCIADOS possui sede em São Paulo e está presente em todo o Brasil com filiais em 15 estados. Atualmente, conta com uma banca de mais de 280 advogados, profissionais experientes, inspirados em nobres ideais de justiça. A capacidade de compreender as necessidades de seus clientes se revela em um dos grandes diferenciais da equipe, o que permite desenvolver soluções econômicas, ágeis e criativas, sem perder de vista a responsabilidade e a qualidade nas ações praticadas.


Entenda por que a creatina é o suplemento queridinho dos atletas 

Especialista em Nutrologia esportiva explica os benefícios da substância e desmistifica riscos

Quem frequenta academia, em algum momento, já ouviu alguém comentando que consome suplemento de creatina. A substância, naturalmente presente no corpo humano, auxilia no aumento da capacidade de produção energia durante exercícios de curta duração e alta intensidade, como levantamento de peso e sprints. Além disso, a creatina também pode ajudar na recuperação muscular pós-treino, diminuir a fadiga e melhorar a capacidade de treino de resistência.

O especialista em Nutrologia Esportiva, Dr. Cristovam Miguel Neto, explica que a creatina é encontrada em pequenas quantidades no fígado, rins e pâncreas, além de ser obtida a partir da dieta, principalmente de fontes animais como carne vermelha e peixe.

“Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a suplementação da creatina não traz riscos renais e hepáticos e diversos estudos recentes comprovam isso. Contudo, como todo suplemento, é necessário ter o acompanhamento de um profissional qualificado, que indique as quantidades adequadas para cada composição física e objetivos. Acima de 5g por dia, por exemplo, não há sentido no consumo, pois o corpo não consegue sintetizar além disso”, afirma o médico.

Além dos benefícios para os atletas profissionais e amadores, Dr. Cristovam destaca o importante uso clínico do suplemento de creatina, já que o ganho de tônus e capacidade muscular são evidentes em quem faz o uso da substância. “A creatina é frequentemente utilizada para frear a perda muscular (ou a sarcopenia), principalmente em idosos e indivíduos na UTI. É fundamental pensarmos que a massa muscular está atrelada à qualidade de vida e à capacidade de exercermos as atividades cotidianas. Pensarmos no cuidado com os músculos é importante em todas as fases da vida”, destaca o especialista em nutrologia esportiva.

O Dr. Cristovam Miguel Neto ressalta ainda que, além de todos os benefícios para o corpo, mesmo para quem tem objetivos diferentes, o suplemento de creatina tem ótimo custo-benefício, o que o torna acessível para a maior parte das pessoas.

Sobre Dr. Cristovam Miguel Neto: Formado em escolas de medicina conceituadas, como a Universidade de Taubaté, PUC SP e Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, e com mais de 20 anos de experiência em medicina, o Dr. Cristovam Miguel Neto tem olhar atento e focado não apenas na saúde, mas também no bem-estar de seus pacientes. A especialização em Nutrologia Esportiva proporcionou ao médico um olhar diferenciado, voltado à performance física e ao emagrecimento, atuando diretamente com: Preparo físico e orientação para prática de esportes amadores e de alto rendimento; Implante intradérmico (“Chip da Beleza”); Modulação hormonal; Performance física.


O que domina você?

Consegue dominar seus pensamentos, sentimentos, ou você é dominado por eles? Qual o efeito da ansiedade em sua vida? Consegue ouvir as pessoas, estar presente, com tempo para acolhê-las? Consegue desfrutar das pequenas (grandes) coisas da vida?

Começo com essas questões porque durante muito tempo fui dominada pelos pensamentos, emoções, em vez de estar no comando delas sinto que vivia no piloto automático. E eu achava, sinceramente, que ouvia as pessoas. Reconheço que sequer conseguia silenciar minha própria mente. Tinha pensamentos acelerados, vivia agitada, com pressa, como que medindo o quanto fazia por dia!

Repare que, quando estamos ansiosos, a calma, a tranquilidade, não permanece. Ficamos agitados, ruminando pensamentos, presos, e talvez, paralisados diante dos problemas. Sem falar no nível de cortisol em nosso organismo e as doenças que tudo isto acarreta em nosso corpo. Comigo não foi diferente: desenvolvi “Transtorno de ansiedade”, culminando em 2009 com a “Síndrome do Pânico”. Felizmente, isso faz parte do meu passado, pois procurei ajuda, tanto na psicoterapia como em leituras que me ajudassem a compreender o que vivia. 

Há uma trajetória importante para aprendermos a estar no comando de nossas ações. Envolve a fé, a espiritualidade, mas envolve também conhecermos os mecanismos que podem nos trazer a paz interior, a serenidade, a virtude da prudência, temperança: da mansidão. Para tanto, precisamos do autoconhecimento. Quando nos conhecemos profundamente, podemos entender o porque do gatilho mental que nos levou a determinadas atitudes, compreender o que se esconde em nosso subconsciente e como confrontar esses gatilhos, reorganizando a mente.

Como sempre tive muita fé, achava que somente com a oração poderia me livrar tanto da ansiedade como do pensamento acelerado, de complexos de inferioridade, do sentimento de abandono, de emoções que surgiam após algum gatilho emocional, que brotavam em um rompante, e eu nem sequer entendia o porquê. Não que Deus não tenha o poder de nos curar. Ele pode tudo! Acontece é que temos a nossa parte no agir. Em nossa condição humana, precisamos aprender a nos conhecer, a dirigir os pensamentos, emoções. A estarmos centrados no que realmente importa. Porque os pensamentos podem nos iludir, nos cegar momentaneamente ou até mesmo para a realidade.

Em diversos versículos bíblicos encontramos a revelação de que Deus está no comando de tudo (Ele nunca dorme!), mas que temos que cumprir com nossa parte, na decisão do agir. Quando Jesus curou a menina Talita, quando a ressuscitou, vemos que ordenou para que ela se levantasse, mas, em seguida, pediu que dessem comida a ela. Também na morte de Lázaro, quando foi ver o amigo, que já estava morto por quatro dias, Jesus fez o milagre, ordenando que ele voltasse à vida, porém, em seguida, pediu que retirassem os panos que envolviam seu corpo. Ou seja, Deus oferece a cura, mas nós temos que fazer a parte que nos compete.

Deus quer caminhar conosco, está ao nosso lado, sempre, mas há um caminho que devemos trilhar, no presente, hoje, em busca da paz. Veja que paz não é a ausência de problemas, dores, mas sim que, tendo conhecimento do que lhe compete fazer, sua confiança estará em Deus, sua atenção estará focada no Senhor e na sua capacidade para não se deixar dominar. Não haverá excesso de preocupações, nem desespero. Sempre haverá problemas, mas, mesmo diante de sofrimentos, adversidades, podemos caminhar fortalecidos, sem ansiedade, na paz. O ato de se preocupar retira a confiança em Deus.

Todavia, como permanecer na paz, como ficar sem a ansiedade ou o medo que paralisa, sem as aflições, o desânimo?

Treinando a mente e procurando intimidade com o Senhor. O pulo do gato é: orar sem cessar, vigiar os pensamentos, estar atento em sua capacidade de duvidar dos pensamentos, buscar pela paz mental e espiritual e colocar sua confiança totalmente em Deus.

Veja que Deus não está presente no passado de seus pensamentos. Nem na preocupação do futuro. Ele está presente no agora. Então, só por hoje você vai se decidir por fazer uma coisa de cada vez, com a atenção plena (Mindfulness), focado em sua capacidade de não se deixar guiar por pensamentos que não estão em consonância com a Sagrada Escritura. Rechaçar os pensamentos que são negativos, autodestrutivos, que lhe prendem ou trazem sofrimentos, culpas – que retiram a paz. Os pensamentos nem sempre são a voz da consciência, ou a voz de Deus. Você pode se autossabotar por meio de pensamentos destrutivos, doentes. E a pessoa que estiver em depressão certamente terá pensamentos de autopunição, que pregam a incapacidade, a inferioridade, a culpabilidade pelas coisas ruins que lhe acontece.

Deus não nos quer ansiosos. Ele veio para que todos tenham vida e a vida em abundância! A mente prega peças. Por vezes, nossos pensamentos não correspondem ao melhor para nós. O cérebro provoca reações químicas em nosso corpo, cria pensamentos que não são verdadeiros, que podem nos confundir ou adoecer.

Creio que o cérebro é como uma máquina, um HD, colocado em nosso corpo. Quem deve comandar o corpo não é a mente, mas sim o espírito, que está acima. Somos seres espirituais, todos temos a capacidade de nos colocarmos acima de nossos desejos, impulsos, pensamentos, pois temos o espírito que está acima do corpo, e, o melhor: acima de nós está Deus.

Os pensamentos sadios não vem naturalmente, ao contrário, precisamos buscar por eles e rechaçar os que causam limitações, sofrimento, culpa. E precisamos proferir palavras de cura. Não podemos impedir os maus pensamentos, nem nos culpar por eles, mas, podemos substituí-los: temos o poder de escolha.

A decisão por não se deixar dominar é que determinará o início da cura.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Empatia: o que não fazer com crianças autistas 

A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou a data de 2 de abril, em 2007, como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. O dia e o mês têm como intuito levar informação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), visando assim diminuir discriminação e preconceito. Se você convive ou mesmo se não é próximo de uma criança com TEA é importante saber quais comportamentos e condutas não devem ser feitos com elas. 

Vale ressaltar que algumas condutas, mesmo que bem-intencionadas, realizadas por pais ou pessoas próximas podem desencadear problemas emocionais, cognitivos e prejuízos no desenvolvimento. 

A desinformação é ainda o maior empecilho para que a criança com TEA se desenvolva da maneira mais saudável possível, pois as pessoas que não compreendem suas particularidades ou desconhecem as questões sobre o autismo, podem acabar afetando negativamente a vida dela através de condutas equivocadas. Além disso, existem algumas intervenções que podem interferir no tratamento por divergirem da lógica terapêutica. 

Algumas dicas do que não fazer e como ter empatia com essas crianças implicam em não querer que a criança deixe de ser autista. O autismo é uma condição e não tem cura. Apesar de não ser uma doença em si, o autismo é um transtorno que apresenta alguns desafios que variam de pessoa para pessoa e predispõe a desajustes sociais por inadequações de convívio. Assim, além do manejo clínico, o TEA possui tratamentos que visam a melhoria da qualidade de vida através da prática de hábitos positivos e da promoção do desenvolvimento da cognição infantil.

Saber lidar e estimular a criança e pessoas em sua volta traz vários benefícios. Portanto, pressioná-lo só fará com que ele se sinta ameaçado, podendo, inclusive, causar estresse, medo, ansiedade e outros fatores que são negativos para o desenvolvimento de suas habilidades sociais. 

Outra dica é evitar rotinas estressantes e exageradas. As pessoas com TEA geralmente não possuem o mesmo limiar de tolerância em comparação com as que não são autistas. Além disso, em meio a tratamentos, intervenções terapêuticas e obrigações escolares, a rotina do pequeno tende a ficar estressante. Organizar uma rotina bem estruturada e definida, que se adeque às necessidades biopsicossociais, é fundamental para evitar a sobrecarga emocional e sensorial. 

Respeite as sensibilidades da criança com TEA. O autista pode apresentar hipersensibilidade ou hiposensibilidade a ruídos altos, luzes fortes, cheiros, sabores, texturas, dentre outros. Além disso, quando for conversar ou explicar algo, evite usar ironias, expressões com duplo sentido e termos abstratos, pois muitos não entendem ou tendem a relacionar algumas expressões ou termos de forma literal. Opte por estabelecer um diálogo direto e objetivo. 

Lembre-se que ele não pode ser ignorado e deve ter um acompanhamento realizado por profissionais capacitados a fim de solucionar ou diminuir os possíveis déficits. Familiares, escolas, professores e terapeutas devem estar alinhados e trabalhando em equipe com o objetivo de tratar os prejuízos causados e promovendo uma maior qualidade em sua rotina. 

A última dica é divirta-se com seu filho. O autismo não faz com que seu filho deixe de ser criança, pelo contrário, ele também gosta de brincar e se divertir como qualquer outra. Logo, é indispensável preencher o espaço dele com entretenimento e lazer na vida. Promova jogos, brincadeiras e momentos de diversão, estimule-o a participar dessas atividades de modo que elas sejam relaxantes e a compartilhá-los. Essas ocasiões são grandes oportunidades para que você se aproxime do seu filho e para isto você deve saber dos seus interesses e preferências. 

Sejamos empáticos! Saber o que deve ou não ser feito com crianças autistas é de suma importância para que seja possível ofertar um ambiente saudável e agradável para elas, fazendo-as se sentirem seguras e confiantes.

Luciana Brites autora de livros sobre educação e transtornos de aprendizagem, pedagoga, palestrante, especialista em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UniFil Londrina e em Psicomotricidade pelo Instituto Superior de Educação ISPE-GAE São Paulo, além de ser Mestra e Doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento pelo Mackenzie e CEO do Instituto Neurosaber (https://institutoneurosaber.com.br/)


Dia da Conscientização sobre o Autismo 

O dia 2 de abril, tanto em âmbito nacional como internacional, é marcado como Dia de Conscientização sobre o Autismo. Também conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), é um transtorno do desenvolvimento neurológico que afeta a comunicação, a interação social, o comportamento e o processamento sensorial. 

As pessoas com autismo enfrentam diversas barreiras em seu dia a dia, entre as quais podemos destacar as de comunicação e interpretação, interação social, processamento sensorial (hipersensibilidade ou hiposensibilidade), preparo no ambiente escolar, acesso ao mercado de trabalho e acesso a serviços de saúde. 

Por outro lado, essas pessoas têm potencialidades e habilidades únicas que podem ser exploradas e valorizadas, como concentração, pensamento lógico e sistemático, e criatividade. É o caso, por exemplo, de Temple Grandin, autora, palestrante e professora universitária americana, conhecida por seu trabalho em design de instalações para animais de criação. Também, Anthony Ianni, ex-jogador de basquete universitário americano e defensor dos direitos das pessoas autistas; ou Stephen Wiltshire, artista britânico autista, conhecido por sua habilidade extraordinária de desenhar paisagens urbanas inteiras a partir da memória. 

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, portanto, é uma data essencial para aumentar a visibilidade sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e promover a inclusão e a igualdade de oportunidades para as pessoas autistas. 

A conscientização sobre o autismo é fundamental para reduzir o estigma e a discriminação associados ao transtorno, e para promover a aceitação e a compreensão das diferenças individuais. Além disso, a conscientização sobre o transtorno pode ajudar a promover políticas públicas inclusivas e a melhorar o acesso das pessoas autistas a serviços e recursos essenciais, como educação, saúde e trabalho. 

Ao reconhecer a importância da convivência entre pessoas diferentes e do respeito às diferenças individuais, podemos promover a emancipação coletiva de todos, autistas ou não, estimulando-as a desenvolver suas habilidades e talentos, de acordo com suas capacidades e limitações.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Sociais, Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às Pessoas com Deficiência


Cuidado com o novo golpe do empréstimo consignado!

Existem vários tipos de golpes para tomar o dinheiro das pessoas e hoje vamos falar de um que afeta diretamente os pensionistas e aposentados. Se você já se deparou com um valor na sua conta, já teve descontos nas parcelas do seu benefício sem saber o porquê ou até mesmo já recebeu uma ligação “milagrosa” avisando que você tinha valores a receber, é hora de prestar atenção! 

Na maior parte dos casos, o golpe faz com que seja descontado do benefício do pensionista ou aposentado um empréstimo que ele nunca pediu. Mas como isso pode acontecer? E a principal resposta é: pela falsificação da assinatura da vítima do golpe, sobretudo nos correspondentes bancários. Vamos entender mais um pouco. 

Muita gente sabe que, para cuidar de assuntos bancários, nem sempre é necessário ir ao banco, de fato. Existem muitas empresas ou instituições que podem realizar operações bancárias (como consulta de saldo, saques e empréstimos). É isso que chamamos de correspondentes bancários, mediadores que facilitam o acesso da população ao crédito. 

E o que isso tem a ver com o nosso tema? Acontece que esse golpe tem se repetido muito nas negociações que envolvem os correspondentes bancários, quando a pessoa com má intenção falsifica a assinatura do aposentado ou pensionista e começa a descontar do benefício da pessoa um valor que ela nunca solicitou, entre outras formas de abusos. 

Mas é possível se proteger, Dr. Felipe? É sim! Se você já pegou o papel e a caneta, a hora de anotar as dicas é agora:

1) Se possível, instale o aplicativo MEU INSS no seu celular ou de alguém de sua família que possa lhe ajudar. Por lá, você consulta seu extrato sempre que quiser.

2) Quando cair um valor estranho na sua conta, NÃO MEXA NO DINHEIRO. Procure um profissional para te orientar, pois é possível cancelar o contrato não solicitado, receber de volta o que foi cobrado do seu benefício e até mesmo indenização por danos morais. 

3) Fique atento a “propostas milagrosas”, como ligações ou abordagens dizendo que você tem um dinheiro para receber. 

Proteja seu benefício e não caia mais nesses golpes! Ficou com dúvida? Envie sua mensagem para o jornal.

Dr. Luiz Felipe D’Ávila
Gerotto e D’Ávila advogados



Perspectivas do mercado de saúde e benefícios em 2023 

Resiliência e criatividade têm sido duas características críticas para as organizações nestes últimos três anos. As equipes de Recursos Humanos tiveram que aprender a orientar os funcionários quanto às novas formas de trabalho e fornecer suporte contínuo para mantê-los seguros e saudáveis, tudo isso enquanto lidavam com as incertezas financeiras.

O tema pandemia já ganhou uma distância significativa da nossa vida cotidiana e das discussões corporativas. Agora há uma nova priorização que é o cenário macroeconômico. As questões políticas atuais afetam as perspectivas dos empresários e, consequentemente, influenciam nas estratégias com foco nos empregados.

Neste ano de 2023, os líderes enfrentarão o desafio de sobreviver ao ambiente incerto e, ao mesmo tempo, fazer com que a experiência de empregados e clientes seja algo cada vez mais benéfico. Soma-se a isso a necessidade de atrelar o tema de custos, que volta a ser uma preocupação prioritária quando falamos de um aspecto primordial nas empresas: saúde e benefícios.

Há uma perspectiva importante sobre a severidade nos custos e os impactos da inflação médica. As discussões entre rol taxativo e rol exemplificativo pressionam ainda mais as questões sobre custos, perenidade e estabilidade financeira. Operadoras, empresas e consultorias estão se desafiando para criar caminhos inteligentes e seguros frente às incertezas que impactam o dia a dia dos segurados. A missão é encontrar o equilíbrio financeiro e a melhor experiência do empregado e, com base nisso, a WTW vem desenvolvendo uma série de pesquisas e estudos para ajudar as organizações a entender e se adaptar a cada ambiente e nos diversos cenários de negócio.
O ESG (environmental, social and governance) ganhou força no Brasil e está embarcado como estratégia de negócio, aportando novas perspectivas sobre soluções, serviços e dinâmica de produtos, convergindo em uma agenda prioritária e vital aos negócios.

À luz de ESG, o papel social dos benefícios se fortaleceu muito nestes últimos três anos. O seguro de vida, por exemplo, antes era visto como uma commoditie por ter um baixo custo quando comparado ao seguro saúde. Agora, esse produto se tornou de alto valor na perspectiva social ao garantir cobertura de morte por invalidez, auxílio funeral e doenças graves.

Ainda na visão de bem-estar social, a diversidade se tornou uma questão cada vez mais importante na atração de talentos. Diante disso, as seguradoras passaram a viabilizar produtos mais coerentes com essa diversidade. Há demandas para transição de gênero e congelamento de óvulo, por exemplo.

A saída tem sido criar soluções mais integradas de proteção e que levem em conta o perfil dos públicos. Esse trabalho tem sido feito em conjunto e envolve as consultorias, que estão muito bem-posicionadas e entendem essas variáveis novas, as seguradoras e as empresas que perceberam que precisam se diferenciar oferecendo uma experiência do empregado mais eficaz. Há um engajamento cada vez maior da alta diretoria nas questões relativas à saúde e benefícios e isso tem facilitado em tomadas de decisão muito mais assertivas. 

As abordagens de saúde e benefícios mais eficazes são incorporadas à governança e cultura corporativas. Para isso é preciso uma boa estratégia com revisões e melhorias contínuas. Isso vale para qualquer momento, mas é ainda mais necessário no cenário de incertezas que vivemos atualmente. Nestes tempos sem precedentes, as empresas precisam do máximo possível de dados e insights de alta qualidade para tomar decisões informadas e garantir que sua força de trabalho se sinta segura, saudável, apoiada e produtiva.

Cláudio Pepeleascov é/ líder da área de Saúde e Benefícios da WTW Brasil


Warren Buffett mandou recado aos donos da Americanas? 

O mais bem-sucedido dos investidores escreveu uma carta segundo a qual práticas agressivas de contabilidade criativa são ‘nojentas’ e uma ‘vergonha para o capitalismo’

É tradicional. O norte-americano Warren Buffett, o mais bem-sucedido dos investidores no mundo, faz uma carta aos investidores da sua Berkshire Hathaway todos os anos. Como ele é um dos homens mais ricos do mundo e fez fortuna com o mercado acionário, todo investidor — e até quem só se interessa pelo tema — aguarda e presta atenção nas palavras que ele escreve. Em 2023, Buffett foi direto, fez duras críticas, logo no início da carta, ao destacar a sua conduta de tolerância zero com administradores antiéticos, manipulações de números e fraudes. Segundo Buffett, práticas agressivas de contabilidade criativa são “nojentas” e uma “vergonha para o capitalismo”. “Somos compreensivos com erros de negócios, mas nossa tolerância para más condutas pessoais é zero”, escreveu.

Warren Buffett não citou empresas nem executivos, mas desde a noite de sábado, quando a carta anual foi divulgada, o mercado levantou apenas uma questão: Buffett mandou um recado para os donos da Americanas, os brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, o trio de acionistas majoritários que está com a imagem bastante arranhada desde 11 de janeiro, quando o mundo descobriu um rombo na varejista brasileira de mais de R$ 40 bilhões?

Buffett, afinal, conhece o grupo há anos. Em 2013, o investidor fez sociedade com a 3G Capital, quando eles formaram um gigante global de alimentos, a Kraft Heinz. Buffett e Lemann, inclusive, se conhecem desde o fim da década de 1990, quando ambos eram do conselho da Gillette.

Bruno Meyer, jornalista e escritor com experiência na área de negócios


O aumento de diagnóstico de Autismo (TEA) em adultos 

Psicanalista alerta que diagnóstico tardio provoca sofrimentos

Durante muitos anos, o TEA – Transtorno do Espectro Autista foi considerado um tipo de transtorno restrito à infância, mas esse cenário vem mudando a cada dia.

Pesquisas revelam que, no ano de 2004, 1 em cada 166 pessoas adultas apresentavam sintomas de Autismo. Em 2007, essa proporção era de 1 em cada 54 pessoas e em 2021 (no auge da pandemia), esse número chegou a ser de 1 em cada 44 adultos acometidos pelo transtorno.

Dados que mostram a necessidade de uma maior aceitação, divulgação sobre a definição da doença, sintomas e tratamento proposto. 

O Autismo é um tipo de transtorno que pode trazer prejuízos em qualquer etapa da vida, por isso quando não tratado em idades iniciais, pode acarretar problemas na comunicação, socialização, aprendizagem cognitiva e interações humanas.

Mas é importante deixar claro que o Autismo não chegou com a vida adulta, ele sempre esteve lá. Acontece que, quando criança, esse adulto pode não ter sido acompanhado e não ter recebido um diagnóstico na infância por apresentar sintomas mais leves, que podem ser mais difíceis de reconhecer. A criança autista cresce e esse adulto continua sendo autista.

Além disso, um adulto quando não diagnosticado, pode desenvolver ansiedade e depressão, pois não entende os motivos de ser diferente das outras pessoas, já que muitos sintomas ficam camuflados e misturados aos desafios da vida adulta, descaracterizando seus sinais e sintomas. 

Buscar um diagnóstico de TEA quando adulto pode ser desafiador por vários motivos: as crenças e preconceitos em relação à saúde mental e o medo de ser julgado, rotulado e descriminado socialmente.

Os sintomas do TEA adulto mais comuns são:
· Dificuldade de interação ou manutenção de amizades mais íntimas;
· Desconforto durante o contato visual;
· Dificuldade no gerenciamento das emoções;
· Hiperfoco em um assunto específico;
· Falar repetidamente sobre um determinado tema; 
· Hipersensibilidade a cheiros, sons e texturas que parecem não incomodar aos outros;
· Piadas, sarcasmo ou expressões de duplo sentido não são compreendidas;
· Interesse limitado em atividades; preferência por atividades solitárias;
· Falta de compreensão e reação diante da emoção do outro;
· Expressões faciais e linguagem corporal não compreendidas;
· Dificuldade em absorver mudanças de rotina;
· Ansiedade social e falta de malícia nas relações interpessoais;
· Desconforto no toque humano; utilização de linguagem direta e objetiva que beira a grosseria; entre outros.

O mais comum é que pessoas na fase adulta, diante de alguns destes sintomas, venham a receber muito outros diagnósticos.

O diagnóstico tardio pode provocar o sofrimento desse indivíduo ao longo da vida, com críticas em função de seu comportamento atípico e tentativas em se encaixar no meio social em que vive. 

Portanto, o diagnóstico correto, no tempo exato é fundamental para proporcionar ao autista adulto, uma melhor qualidade de vida e bem-estar.

Adultos que suspeitam que podem ser autistas e gostariam de um diagnóstico fechado devem buscar um acompanhamento multidisciplinar com um médico neurologista, psiquiatra e psicanalista, que poderá fornecer, através de ferramentas e técnicas específicas, um resultado confiável, considerando o nível do transtorno. 

Ou seja, é preciso abortar o autodiagnóstico, compreender e se conscientizar, através do autoconhecimento que, somente um profissional de saúde mental pode fechar o diagnóstico corretamente e indicar as melhores terapias.

O quanto antes esse tratamento se iniciar, melhor para que se consiga eficácia no desenvolvimento mental, físico, motor, sensorial e emocional do autista. Autismo não é uma sentença. É uma realidade que necessita acompanhamento profissional frequente e adequado.

Dra. Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro. Instagram: @dra.andrealadislau 


Um grande gestor sabe gerir conflitos 

Os conflitos fazem parte da natureza humana. Cada um tem um modo de pensar e, com isso, é comum acontecerem oposições de ideias. Incompatibilidades na vida pessoal já são complicadas, imagina quando elas acontecem na vida profissional? Nesses casos, cabe ao gestor entender e saber gerir da melhor forma, e com equilíbrio, os desentendimentos para minimizar os impactos.

É fundamental saber lidar com a situação. Isso é o que define se o momento será prejudicial ou benéfico aos envolvidos. Situações conflituosas, se bem administradas, podem apresentar oportunidades de crescimento, mudanças e aprendizado. Como gestor em Educação, lido com diversos interesses: de professores, colaboradores, de políticas governamentais, interesses dos alunos, dos pais dos alunos e interesses nossos.

Vale lembrar que impasses e discordâncias são normais entre pessoas. Porém, em uma instituição, devemos estar atentos e identificar quando esse tipo de situação demanda uma ação mais incisiva dos gestores.

A melhor prática é sempre a prevenção. Buscando prevenir conflitos, sempre indico que a comunicação interna esteja aberta, que sempre existam feedbacks contínuos e empáticos, que os líderes sejam inspiradores e mediadores, que a cultura organizacional seja positiva e que exista cuidado com o bem-estar dos colaboradores. Outra forma muito eficaz é dar autonomia para as equipes. Assim, elas acabam tendo mais diálogo e resolvendo conflitos entre si.

Devo reforçar algo que parece óbvio, mas lembre-se que cada situação vai exigir uma abordagem específica para a resolução de conflitos e existirão momentos em que o líder será chamado. Nesse momento o gestor deve ter conhecimento dos fatos, ouvir os envolvidos, deixá-los à vontade para falar e expor suas opiniões, além de identificar soluções que sejam equilibradas e justas para todas as partes.

Na gestão de conflitos deve haver imparcialidade. Aliás, esse é um pré-requisito para que a mediação funcione. Não basta o líder ser imparcial, ele precisa ser visto como imparcial. Além disso, a gestão de conflitos é o processo em que um gestor atua na mediação de cenários onde há divergência entre duas ou mais pessoas dentro de uma empresa.

O mais importante e o maior desafio nesse momento é escolher a melhor estratégia de resolução para cada caso, levando em consideração o que for importante, escutando todas as partes e sendo empático com elas. Quando você busca aumentar os efeitos construtivos e minimizar os destrutivos, promovendo o bem-estar entre as pessoas e o desenvolvimento da organização, você se torna um gestor que sabe resolver conflitos e conquistar o respeito da equipe e dos envolvidos.

Leonardo Chucrute é Gestor em Educação, CEO do Zerohum, Professor de matemática, ex-cadete da AFA e autor de livros didáticos.


O aniversário de uma guerra que não quer esfriar 

Com o aumento das tensões entre Estados Unidos e Rússia, e uma ameaça nuclear
que paira no horizonte, podemos dizer que a Guerra Fria, de fato, nunca acabou

Vivemos os fortes ecos do fim da Guerra Fria. O presidente russo, Vladimir Putin, por exemplo, anunciou em 21 de fevereiro de 2023, num discurso sobre um ano da guerra na Ucrânia, a suspensão da participação do seu país no tratado Novo Start, o acordo global de controle de mísseis nucleares vigente. O cenário atual de conflito entre Rússia e Ucrânia coloca novamente o mundo em alerta. Parece que estamos voltando ao tempo de antes da queda do Muro de Berlim, e que esta divisão global agora se instalou na fronteira da Rússia com o mundo Ocidental.

Esses acontecimentos têm repercussões inclusive no Brasil, assim como a Guerra Fria teve influência por aqui desde seu nascimento, em 12 de março de 1947. Neste aniversário de 76 anos, é importante revisitar uma época cruel e aterrorizante não apenas para a Europa, mas para todo o mundo.

O período após o fim da Segunda Guerra Mundial foi caracterizado por uma corrida armamentista, agressiva e cara entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS). O então presidente dos EUA, Harry S. Truman, proferiu diante do Congresso Nacional um forte discurso. Afirmou ele que os países capitalistas deveriam se defender da ameaça socialista. Para Truman, os estadunidenses tinham a obrigação de liderar a luta contra o avanço do comunismo no continente europeu e no mundo.

A chamada Guerra Fria, que de fria nada tinha, culminou na separação do mundo em dois grandes blocos: o comunista (liderado pela União Soviética) e o capitalista (liderado pelos Estados Unidos). Uma das consequências mais marcantes desse período foi a construção do Muro de Berlim, em 1961, uma cooperação entre Alemanha Oriental e União Soviética para impedir a fuga de sua população para o lado Ocidental.

Após 40 anos do famoso discurso de Truman, em meados da década de 1980, a vida atrás da Cortina de Ferro havia mudado. Revoltas democráticas se infliltraram nas nações do bloco soviético, e a própria URSS lutava contra o caos econômico e político. A queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, durante a Revolução Pacífica, marcou uma série de eventos que precipitaram a queda do comunismo na Europa Central e Oriental, precedida pelo Movimento Solidariedade na Polônia.

Em 1991, a União Soviética havia perdido a maior parte de seu bloco para revoluções democráticas e o Pacto de Varsóvia foi formalmente dissolvido. Mikhail Gorbachev, o último líder da URSS, abriu o país para o Ocidente e instituiu reformas econômicas que enfraqueceram as instituições que dependiam de bens nacionalizados. Em dezembro de 1991, a URSS foi dissolvida em nações separadas.

A Guerra Fria continua a afetar a geopolítica dos nossos tempos. Estados Unidos e Rússia, bem como a China e a Europa, ainda têm interesses divergentes, grandes orçamentos de defesa e bases militares internacionais. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ainda exerce grande poder político. Cresceu para incluir 30 estados-membros e agora se estende até as fronteiras com o maior país do mundo.

Desde a década de 1990, a Rússia vê a expansão da Otan para o leste como uma grave ameaça à sua segurança. Alguns especialistas compararam a crise atual com o início de uma nova Guerra Fria, ou mesmo a extensão daquela que nunca esfriou. Por isso, vale a pena revisitarmos essa época fundamental da nossa história para compreender como chegamos à situação atual.

Edvaldo Silva é Mestre em Artes e Multimeios pela Unicamp, e autor do romance de suspense “Além da Fumaça” (Editora Labrador), que tem como pano de fundo a Alemanha e o Brasil do final dos anos 80


Nada substitui o livro de papel 

Quando foi a última vez que você comprou um CD, DVD ou Blu-ray? Eu mesmo não lembro, mas tenho a impressão de que não faz tanto tempo assim. Com a chegada do streaming, que passou feito um furacão nesse mercado, nossos hábitos e, infelizmente, as nossas escolhas mudaram. Muitos filmes fantásticos não constam nas Netflix e Primes da vida e nosso catálogo de opções ficou mais limitado.

Agora, veja que interessante, há exatos 30 anos surgia o primeiro livro digital. Ao contrário do streaming, essa mídia empacou, atingindo apenas 20% de público nos Estados Unidos, 15% na Europa e meros 4% no Brasil. Essa foi uma das pouquíssimas inovações para a qual as pessoas deram uma “banana”. 

Explico este fenômeno: é que o livro possui presença perene e senso de pertencimento em duas vias, a do leitor para o livro e do livro para o leitor. Um caso de paixão e transformação. Livros são formadores de cidadania e a melhor defesa intelectual. As pessoas não são bobas quando preferem o livro de papel, que não está em um espaço virtual e sim num lugar físico, na cabeceira da cama, talvez nosso cantinho mais íntimo. 

Infelizmente, o hábito de leitura é uma realidade para apenas 52% da população brasileira. Tem cabeceiras demais que estão vazias. Se quisermos avançar no desenvolvimento humano, temos que pensar muito nisso. A começar pela educação básica e no hábito de levar nossas crianças até a biblioteca do bairro ou livrarias.

Essa série de pequenas reflexões talvez nos ajudem a entender a falência de grandes livrarias, seus motivos e desdobramentos. Embora seja ruim o fechamento de qualquer livraria, no caso das gigantes, isso não representa o fim do mundo, mas o surgimento de algo novo. 

Talvez o que esteja acabando seja o modelo de megaloja. Durante anos, o setor foi muito concentrado e isso é ruim. Quando o mercado está na mão de poucas livrarias, a oferta de títulos tende para o produto mais comercial possível. Temos a ilusão de escolha, mas, na verdade, o que chega nas prateleiras já é limitado. 

Quer agora uma notícia boa? A chegada de novas livrarias, pequenas e pulverizadas, favorece a diversidade na oferta, fortalece editoras menores, possibilita que editoras independentes tragam coisas inovadoras e, principalmente, abre espaço para escritores estreantes, que foram tradicionalmente ignorados pelos megagrupos.

No caso das livrarias, o grande rei parece estar morto. Vivam os novos reis: pequenas livrarias, cheias de gente apaixonada pelos livros, físicos de preferência.

R. Colini é escritor, autor de ‘Entre as chamas, sob a água’ e ‘Curva do Rio’


A Evolução Tecnológica e os Desafios na Formação dos Professores 

A pandemia mudou o mundo. A forma de nos comportar, interagir, trabalhar, tudo ganhou um novo modus operante. A relação das pessoas incorporou uma grande quantidade de padrões e recursos tecnológicos. O que era tido como característica de uma geração jovem, que se adequou ao uso de tecnologia de maneira mais natural, agora é um padrão social importante para todas as pessoas, de todas as idades, de todos os padrões sociais e de todas as áreas de conhecimento.

O uso de recursos tecnológicos, como as ferramentas de Inteligência Artificial, tem sido intenso no mundo dos negócios, na relação do homem com a análise de dados. As interfaces reconhecem comportamentos dos usuários e se adequam aos desejos. Temos ferramentas que ajudam a elaborar apresentações, já com objetos de aprendizagem animados, que permitam interação dos usuários.

E isso interfere diretamente na educação, nos trazendo uma grande preocupação. Será que os nossos professores, atuais e futuros estão preparados para esta novidade tão fluida, tão integradora?

Com a tecnologia tão presente e ativa na educação, não basta apenas inseri-la no dia a dia, é preciso um novo olhar na forma de educar, modificar as metodologias de ensino, buscar meios em que seja realmente útil inserir recursos tecnológicos, onde as crianças podem de fato explorá-las de maneira inteligente e produtiva. Os professores também precisam ser preparados para que possam desenvolver planejamentos estratégicos que incorporem a tecnologia na sala de aula, nos diferentes contextos disciplinares, além de ter o domínio completo destas ferramentas. 

Sendo a docência uma carreira pouco atrativa, pelos baixos salários e pela percepção errada de que o professor é um mediador do que se aprende e o que não se aprende, ter um profissional de educação qualificado metodologicamente e com visão e vivência tecnológica tem se tornado um dos maiores desafios da história da educação.

A trajetória da formação de professores na educação superior do país está caminhando para abrir um ângulo de 180º entre a formação do docente e a real demanda do mercado quanto ao uso de metodologias que estimulem os alunos e também que vinculem o aprendizado a vida real.

Avançamos em regulação, trazendo ao ensino médio uma proposta de menor visão genérica e ampliação de um aprofundamento de área com as trajetórias formativas, mas como aplicar esta realidade a 7 milhões de brasileiros se não temos professores preparados para trazer esta condição: a Educação Contextualizada e com Finalidade.

À medida em que a tecnologia é incorporada na rotina ampliando a forma de educar em um modelo híbrido, é preciso, ainda, que se pense em como a estratégia de uso de tecnologias pode engajar os alunos e transformar os professores de forma que estejam preparados para esta nova realidade. 

Experiências fantásticas de uso de simuladores para amarrar e integrar a teoria com os experimentos práticos, a proposta de atividades lúdicas, com materiais simples para que o uso Ciência seja um show devem orientar o plano de formação dos professores. Formar bem, formar com felicidade, formar com recursos tecnológicos pode vir a ser a solução para atrair talentos para a carreira de docentes, dado que o propósito é e será por muito tempo mais importante do que o valor da remuneração.

Medicina cuida da Saúde, a Educação cuida do Psicológico, do Emocional, do Caráter, das diversas dimensões de um ser humano saudável!

Francisco Borges é mestre em Educação e consultor da Fundação FAT em Gestão e Políticas Públicas voltadas ao Ensino


No Brasil o futuro é incerto e o passado é duvidoso! 

Empreender no Brasil não é para amadores, pois não basta gerar empregos, girar a economia, já que o Estado busca o seu quinhão com altos impostos desestimuladores. 

No último dia 8/02 o STF, de maneira unânime, reafirmou a impossibilidade de que decisões em matéria tributária contrárias à Constituição Federal se perpetuem e causem, indefinidamente, injustos desequilíbrios à ordem econômica e à livre concorrência. Dessa forma concluiu o julgamento do RE 949.297 e do RE 955.227 (Temas nº 881 e nº 885 de repercussão geral, respectivamente), pela cessação da eficácia da coisa tributária em razão de precedente do STF em sentido contrário.

A tão repercutida decisão do STF é inteligente do ponto de vista econômico, porque há desequilíbrio concorrencial, pois existem empresas que recolhem a contribuição e outras não, mas do ponto de vista jurídico gerou incertezas, já que o STF não modulou os efeitos, ou seja, não disse a partir de qual data será validada, deixando, assim uma brecha para que a União possa fazer a cobrança de forma retroativa e não somente a partir do dia 08/02.

Logo, até mesmo os contribuintes que tenham decisões favoráveis transitada em julgado terão mais insegurança jurídica ao já fragilizado e complexo sistema tributário brasileiro.

O impacto para muitas empresas será alto até porque ninguém está preparado, não costumam fazer provisão para pagar mais impostos de forma retroativa. 

Contudo, a PGFN divulgou em nota que: “Com o advento de precedente do STF em sentido contrário, há uma alteração do suporte jurídico e a decisão (norma jurídica concreta) passa a não ser aplicável aos novos fatos jurídicos dali em diante, por isso não há flexibilização, desconstituição ou relativização. Há, simplesmente, cessação da eficácia da coisa julgada, já que os fatos futuros passam a ser regidos pela norma do precedente”. 

Tal afirmação da PGFN pode ser um suspiro de conforto ao medo da insegurança jurídica instaurada.

Outro ponto obscuro na decisão é que se caso houver cobrança retroativa, se ela será com incidência de correção monetária, juros e multa, dando ensejo a uma propositura de recurso de embargos de declaração, o que ficará para as cenas dos próximos capítulos.

Juliana Bueno é Advogada Tributarista na JBueno Consultores e Advogados, Consultora Tributária na Lucro Real Consultoria Empresarial, especializada em Direito Tributário, ex-assessora do Tribunal de Contas e da Procuradoria Geral do Estado de MT. Contato: juliana@jbuenoadvogados.com.br


A tecnologia 5G e as cidades inteligentes 

Os municípios brasileiros começam a avançar com o uso mais intensivo da tecnologia, permitindo conectar as pessoas e os equipamentos urbanos - oferecendo serviços públicos eficientes e de qualidade -, bem como facilitando e democratizando o seu acesso pela população. A chegada da tecnologia 5G começa a ser instalada no país e vai promover a expansão dessas ferramentas de forma exponencial.

Uma Cidade Inteligente tem como um dos pilares uma forte gestão de dados, que vai garantir o sucesso de políticas públicas. Um dos exemplos é o Observatório Jundiaí, um portal que criamos com 300 indicadores vinculados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), formulados pela ONU (Organização das Nações Unidas). Nele, o morador tem acesso a informações das áreas de Saúde, Educação, Transporte, Segurança, Economia, obras em tempo real, entre outras. Fizemos ainda uma atualização, agregando 100 indicadores voltados à primeira infância, incluindo dados sobre a cobertura de vacinas, saúde bucal, internações e matrículas escolares.

Os munícipes têm ainda uma ferramenta de gerenciamento inteligente do Plano Plurianual (PPA) da cidade e podem observar os avanços dos programas e dos investimentos previstos para o município de forma mais transparente. Além disso, o App Jundiaí traz mais de 130 funcionalidades nas mais variadas áreas como segurança, cultura e saúde, bem como 45 opções de serviços da prefeitura.

O investimento em tecnologia, ao contrário do que pode parecer, humaniza o atendimento à população. Uma gestão mais eficiente, capaz de diagnosticar eventuais gargalos e rotas a serem corrigidas, oferece serviços de melhor qualidade. Na economia, uma pesquisa internacional mostra que as cidades inteligentes serão responsáveis por 60% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2025. Mas esse é apenas o começo de um desafio fascinante para as administrações municipais.

A tecnologia 5G prevê a implantação de sensores de Internet das Coisas (também conhecida como IoT). Se na tecnologia 4G vivenciamos a jornada da “internet dos aplicativos” com a conectividade de celulares mais rápida, agora, as portas se abrem para uma rede de alta velocidade e baixa latência, garantindo uma conexão muito mais rápida dos dispositivos. O poder disruptivo do 5G está apenas engatinhando e traz oportunidades de gestão e negócios ainda sequer imaginados.

Para o administrador público, é a oportunidade de utilizar ferramentas que ajudarão no planejamento urbano. Já é possível entender como a população se movimenta e os horários de picos do transporte público. Com isso, podemos ampliar a oferta de ônibus, estimular o uso de bicicletas e colocar na mão do munícipe a melhor alternativa para locomoção, utilizando inclusive mais de um modal. De acordo com pesquisas internacionais, será possível reduzir fatalidade no trânsito e de violência entre 8% e 10% e queda de 30% na criminalidade com o uso de dispositivos conectados à rede 5G. 

Na área da saúde, as soluções devem garantir um atendimento transversal dos cidadãos. Com os dados, podemos analisar as informações da população de um determinado bairro e quais os serviços públicos mais adequados. Por exemplo: em uma localidade com um grande número de pessoas com diabetes, a prefeitura poderá instalar equipamentos para estimular atividades físicas e a implantação de empresas de produtos saudáveis, bem como treinar equipes de saúde para atendimentos específicos.

Já os bairros com um maior número de jovens, a administração municipal pode adotar políticas públicas de estímulo à leitura, com bibliotecas, incentivo às atividades esportivas, com quadras, entre outros equipamentos.

Esse é o momento que começamos a descortinar um futuro de muitas possibilidades para uma administração pública com serviços de qualidade e transparência. É um desafio estimulante, que acontecerá com uma rapidez surpreendente e que precisamos estar preparados para esse momento.

Luiz Fernando Machado é prefeito de Jundiaí (SP)


As Moradas do Castelo Interior 

“Há almas tão doentes e voltadas para as coisas exteriores que não têm remédio nem parece que possam penetrar em si mesmas, pois, já se acostumaram tanto a lidar com os parasitas e as feras que estão em torno do castelo, que já se assemelham a elas.”

Demorei para redigir este texto. Na verdade, achei complicado escrever sobre as “Sete moradas”, de Santa Teresa D’Ávila, diante da profundidade do tema, da beleza ímpar da obra. A leitura se mostrou mais do que interessante (inebriante mesmo), parecia que ia desvelando um mundo espiritual, um tesouro escondido há muito guardado, apresentado para aqueles que o desejem conhecer.

Santa Teresa revela que a porta de entrada para o castelo é a oração, a conversão, a mudança de vida, o desejo de estar próximo do Senhor. Sem este ponto de partida não será possível entrar nas outras moradas. O mais curioso é que ela não se achava digna de escrever sobre o tema, mas, foi convocada para esta tarefa, para dar o conhecimento às irmãs Carmelitas, que vivem enclausuradas. E, para este trabalho, ela recorreu, em todos os momentos, ao Espírito Santo.

Veja que a santa, em sua simplicidade e humildade, jamais imaginara que sua obra seria conhecida por muitos no futuro, que receberia o título de Doutora da Igreja, diante da magnitude de seu trabalho.
Para essa jornada espiritual é fundamental a decisão de se decidir por Deus, de desejar estar em Sua Presença, trabalhar pela virtude, pelo bem. Esse é o caminho para entrar na primeira das sete moradas, é o portal de entrada na vida espiritual.

 Teresa compara a nossa alma como sendo o lar de Deus. Ela usa o recurso da metáfora do castelo, das moradas, que representam a jornada espiritual que fazemos na medida em que nos aproximamos mais e mais de Deus, em que avançamos na fé, na oração, nas ações no bem. Ela se refere a Deus como “Sua Majestade”, como “Rei”, que nos aguarda no palácio escondido em nosso interior (última morada).

Somos conduzidos às moradas diante da mudança de comportamento, do desejo por ouvir o Senhor, na quietude, no silêncio, na oração interior. Mas a santa deixa claro que não somos nós quem entramos nessas moradas, mas sim que somos conduzidos por Cristo para cada uma delas, como um lindo e precioso presente.

Ela ensina que nas primeiras moradas não chega quase nada da luz de Deus, pois a alma está de certa forma escurecida que não consegue enxergar quem se encontra nela. Também explica que diante de tantas coisas ruins que já entraram nessa morada, como: “cobras, víboras e coisas peçonhentas”, a pessoa já não consegue perceber a luz do Senhor.

“Assim me parece que deva ser uma alma que, embora não esteja em mal estado, vive tão imersa e tão mergulhada nas riquezas e negócios, como venho dizendo, que por mais que desejem de verdade enxergar e desfrutar de sua beleza não conseguem desvencilhar de tantos impedimentos.”

Interessante também o que Teresa revela sobre a pessoa que avança para as moradas, em que a característica principal é a humildade, o desprendimento e, acima de tudo, de agir na caridade. E que aquele que julga estar nas últimas moradas certamente não se encontra nelas, pois quem é verdadeiramente humilde jamais se achará merecedor de tão grande graça, nem falará aos outros sobre isso. Ela reflete de forma contundente sobre o pecado da soberba, que é sinal do afastamento de Deus.

Ensina que desconhecemos o que há no interior de nosso castelo, e, se não entramos nele, ficamos perdidos, sem conseguir se desvencilhar dos impedimentos deste mundo, vivendo em um mundo ilusório, sem atentar para o que é real. Fora da morada não percebemos o lugar maravilhoso que nos aguarda quando encontrarmos verdadeiramente Deus em nosso interior.

“Há muitas almas que estão em torno do castelo, que é onde estão os que o guardam, e que não se interessam em entrar nele, nem sabem o que existe naquele lugar tão precioso.”

Para continuarmos a entrar nas moradas seria necessário abdicarmos de coisas e negócios desnecessários, de diversos prazeres mundanos, de questões particulares que denotam mesquinharias, e que nos afastam de Deus.

Outra frase marcante de Teresa é:

“Pode haver mal maior do que o de não estarmos em nossa própria casa?”

Ela reflete que ficaremos sem esperanças, sem sossego, se nosso interior não nos oferecer paz, tranquilidade, acolhimento, quietude, se estivermos sem a presença de Deus. Por isso a necessidade de buscarmos o autoconhecimento, de conhecermos nossas fraquezas, vulnerabilidades, e de nos empenharmos no bem, de buscarmos a paz em Deus, a quem se refere como Sua Majestade, de estarmos unidos a Ele.

À medida que a pessoa avança nas moradas sentirá que o desejo de amar é mais intenso; ao receber uma vida nova, aos poucos perderá antigos pontos de referência e as seguranças em que estava acostumada. Por isso a necessidade de escolhermos de preferência aquilo que mais nos desperte para o amor e de nos dedicarmos a fazer tudo, desde as coisas pequenas, que chegam a parecer insignificantes, com muito amor e dedicação, pois:

“O Senhor não olha tanto para a grandiosidade das obras quanto para o amor com que são feitas”.

À medida que formos avançando nas moradas, haverá uma dilatação ainda mais profunda do coração e do desejo de estar com Deus. Compreendemos então que a pior das misérias é viver sem Deus, é desconhecer a imensidão de Seu amor por nós, a imensidão de dádivas com que Ele nos presenteia quando O encontramos. Desta forma, nada perturbará o coração, a alma estará em paz, mesmo diante de sofrimentos e adversidades, pois o Senhor caminhará com ela, lado a lado.

A sétima morada (confesso ter devorado as páginas do livro para chegar a esse final), representa o ponto máximo e só é concedida a quem Deus quiser. Para tanto, Teresa indica veementemente o caminho da humildade, a desvencilhar-se da vanglória (a soberba nos desfigura, nos destrói), a praticar o desapego, empenhar-se na oração e nas boas obras. Essa morada representa o momento em que Deus passa a viver dentro de nós. Assim, não estaremos mais sós. Há um encontro, uma transformação total. O Senhor vem nos visitar e permanece conosco. E Ele não permite que o mal nos toque.

Sua Majestade nos oferece a Pax vobis, que é a paz que receberam os discípulos após a Sua Ressurreição.

Nós, seres tão ínfimos, pequenos, em nossa condição e natureza humana não conseguimos alçar as moradas sozinhos, pois não há merecimentos dignos de tão precioso presente, mas Deus, em Sua grandeza, em Sua Misericórdia, vem nos transformar, como a fênix renovada. Mas não significa que deixaremos nossa condição humana, que deixaremos os nossos compromissos terrenos, nossas responsabilidades, que perderemos a consciência. Não é isso. “Deus permanece sempre Deus e a alma permanece sempre a alma”.

Significa que, diante de um amor tão imenso, seremos transformados e, estando na última morada não desejaremos ofendê-Lo, seremos caridosos no trato com os outros, em todos os sentidos que representa a caridade, para não entristecer o Senhor.

Nesta morada, receberemos inefáveis bênçãos, como consolos inexplicáveis, em uma felicidade jamais sentida, em uma paz que excede o entendimento, amparados e abraçados pelo próprio Deus.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


A desconsideração da personalidade jurídica pelos Tribunais de Contas 

O Supremo Tribunal Federal, em outubro de 2022, concluiu o julgamento do Mandado de Segurança nº 35.506/DF. O Acórdão proferido tem implicações relevantes na interpretação e no alcance das atribuições constitucionais do sistema de controle externo brasileiro.

A decisão do Supremo confirmou as competências do Tribunal de Contas da União para determinar, cautelarmente, a indisponibilidade de bens, bem como proceder à desconsideração da personalidade jurídica das empresas, responsabilizando, diretamente sócios e administradores no intuito de coibir o abuso de direito, práticas fraudulentas e garantir a recomposição do erário.

Ressalto que essas competências não encontram previsão expressa na Constituição e, no caso da desconsideração da personalidade jurídica, sequer há norma infraconstitucional que contemple a previsão desse instituto na esfera processual das Cortes de Contas. Todavia, ao denegar a segurança, a maioria dos Ministros buscou fundamento na conhecida Teoria dos Poderes Implícitos, segundo a qual os órgãos estatais podem dispor de atribuições instrumentais que assegurem o pleno exercício de seus objetivos constitucionais, ainda que estas não estejam positivadas no ordenamento jurídico.

Em relação à desconsideração da personalidade jurídica, argumento, também, que esse instituto tem origem jurisprudencial, ou seja, foi concebido independentemente da existência de lei em sentido estrito. Recordo o célebre precedente Salomon x Salomon & Co., julgado na Inglaterra do século XIX, preconizando que o empresário responderia com seus bens pessoais, em caso de uso fraudulento de companhia comercial. 

Igualmente, no Brasil, muito antes da positivação definitiva da desconsideração da personalidade jurídica, no Código Civil de 2002, os Tribunais já assentiam que, presente o ilícito ou o desvio de finalidade da autonomia empresarial, os bens particulares dos sócios e administradores poderiam ser alcançados pelos credores em eventual ação judicial.

Com maior razão, mesmo sem lei específica, os Tribunais de Contas não poderiam renunciar à possibilidade de buscar, diretamente, o patrimônio privado dos sócios, administradores e empresários individuais, subtraindo-lhes da proteção negocial conferida pela pessoa jurídica quando esta é usada para defraudar a Administração Pública e provocar prejuízo ao erário.

Até porque, as pessoas jurídicas são entes ficcionais. Na verdade, as pessoas físicas que as comandam são quem praticam os atos erráticos que podem revelar o abuso de direito ou desvio de finalidade. Considerada essa perspectiva, sócios, gestores e administradores de empresas contratadas pela Administração não escapam à jurisdição dos Tribunais de Contas, podendo responder de maneira direta, nos termos da parte final do art. 71, II, da Constituição, pelo qual cabe aos Tribunais de Contas julgar qualquer pessoa, física ou jurídica, pública ou privada, que der causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo aos cofres públicos.

Ainda, a responsabilização pessoal daqueles que dirigem a entidade empresarial é medida de equidade. Costumeiramente, a atuação dos Tribunais de Contas acaba se concentrando nos agentes públicos. Todavia, com a desconsideração da personalidade jurídica, as competências típicas do controle externo poderão alcançar mais facilmente as pessoas físicas que atuam em nome e por conta de empresas contratadas que, eventualmente, venham a lesar à Administração. Nesses casos, comprovado o abuso da personalidade jurídica, empresários e sócios podem responder em igual proporção ao agente público que concorreu para o ilícito, em prestígio ao princípio da isonomia.

A doutrina especializada indica que ao descortinar o véu da figura empresarial para censurar seus gestores e sócios, os Tribunais de Contas devem observar algumas condicionantes. Em primeiro lugar, requer-se prova inequívoca do desvio de finalidade ou abuso de direito da pessoa jurídica, e, em segundo, cabe observar o contraditório e a ampla defesa, ainda que em momento diferido. Por fim, necessário atender o princípio da intranscendência de modo que a responsabilização recaia somente sobre os sócios e gestores faltosos ao imunizar aqueles que não concorreram para as práticas lesivas.

Logo, se bem aplicada pelos Tribunais de Contas, a desconsideração da personalidade jurídica é importante instrumento de efetividade da atuação dos órgãos constitucionais de controle externo e, por consequência, de preservação do patrimônio público.

Dimas Ramalho é Presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP)


Literatura para o reencantamento da vida 

Que ler é condição básica para o exercício da cidadania, ninguém tem dúvida, mas reconhecer a importância da leitura literária, da subjetividade e da fantasia, na formação do ser humano, ainda não é entendimento da maioria. Poucos percebem a literatura como uma linguagem simbólica capaz de revelar as diferentes dimensões do sujeito.

A literatura favorece o reencantamento pela vida. Existem livros que nos transformam e nos fazem pensar de uma forma como não tínhamos pensado antes. Permitem conhecer camadas da realidade desconhecidas até então. Livros que provocam alterações na nossa forma de ver, pensar, sentir e estar no mundo. Alteram as decisões, escolhas e mudam nossa vida.

Portanto, cabe a nós leitores, pais e amigos, dimensionar e revelar os efeitos e afetos da literatura na vida das pessoas. Esta ação, que se inicia na sensibilização para a escolha do livro literário, dificilmente ocorre sem o papel de um mediador.

Promover a leitura literária é tarefa para uma pessoa já sensibilizada por ela. Este mediador é quem vai indicar os caminhos e compartilhar o prazer em ler. Formar leitores não é uma tarefa fácil. Exige do sujeito-leitor, um trabalho contínuo e dedicado, a fim de desvendar os meandros do texto na busca dos significados.

Para esta tarefa pede-se a intervenção de um sujeito-promotor-construtor-de-vivências-com-literatura, capaz de colaborar para a formação de outro, o sujeito-leitor-crítico-e-atuante. Ao promove-la, compartilha o que tem de mais raro: seus sentimentos e experiência de vida. Ao ler ou contar histórias para o outro, abrimos o coração e nos tornamos cúmplices, seja daquilo que a história quer dizer, seja dos afetos provocados no ouvinte.

É tempo de olhar para a leitura literária e reconhecer que, a dimensão do sensível ativada por ela, é fundamental para o ato do conhecimento. Através das histórias descobrimos que sofrimento e prazer, alegria e tristeza, não são prerrogativas de poucos, de uma época ou cultura. Esses sentimentos nos lembram, que a busca pela paz e pela liberdade é universal, e que todos nós ansiamos por uma vida de amor, confiança e coragem, livre dos conflitos e dores. Para isto, têm as histórias, para isto, existe a literatura.
Cléo Busatto é finalista do Prêmio Jabuti em 2016 com o livro A fofa do terceiro andar artista da palavra, com mais de 40 obras lançadas que venderam em torno de 415 mil exemplares, autora do livro A última livraria da minha rua.


Criança cuidando de crianças 

Uma das pautas prioritárias das gestões estaduais e federal, recém-eleitas, é a Educação – tema foi recorrente na maioria dos governos municipais no pleito realizado há dois anos. É prioridade de inícios de mandato porque, em regra, não é prioridade de Estado real. Apesar de tratar-se de um direito previsto na Constituição Federal, a Política de Educação não tem sido bem encaminhada pelos governos. 

Além disso, a Educação não é uma ilha e depende de fatores externos às políticas educacionais. O rendimento escolar, muitas vezes, também está ligado ao contexto socioeconômico dos estudantes e de seus familiares. As classes C, D e E, por exemplo, enfrentam o tema absurdo e persistente de crianças e adolescentes cuidando de outras pessoas da família, normalmente irmãos mais novos, em vez de focar sua atenção aos estudos. 

Pesquisa publicada pelo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), realizada em agosto de 2022 e que ouviu 1.100 meninas e meninos de 11 a 19 anos de todas as regiões do Brasil, constatou que 11% não haviam voltado às escolas após o isolamento social provocado pela pandemia. O dado representa uma evasão escolar de mais de dois milhões de estudantes no país. Entre as causas apontadas pelos ex-alunos, 28% destacaram o fato de terem que cuidar de familiares em suas casas. Dos 21% que seguiram estudando, mas que pensaram em desistir da escola nos três meses anteriores à pesquisa, 19% trouxeram este mesmo motivo. 
 
A falta de creches e pré-escolas e de ensino em turno integral, especialmente para estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental, explica a maior parte dessa realidade preocupante. Um misto de exploração do trabalho infantojuvenil “invisibilizado”, aliado à fragilização do cuidado familiar, por vezes expondo crianças a ações arbitrárias das agências de proteção, como a retirada de crianças de suas famílias por negligência ou abandono, mesmo sendo essa negligência claramente do Estado e não das famílias. Também as crianças estão expostas a riscos de acidentes e negligências diversas, em vez de usufruírem do direito constitucional à Educação. 

Perante essa realidade, é impossível se pensar no Direito à Educação sem o apoio às famílias em maior situação de vulnerabilidade. Ainda mais quando essa vulnerabilidade tem relação direta com o não atendimento adequado da própria Política Pública de Educação como é o caso da falta de vagas na Educação Infantil, tanto de creches quanto de pré-escolas, e da baixa oferta de turno integral nas escolas brasileiras.

José Carlos Sturza de Moraes é cientista social, mestre em Educação e atualmente coordena o Instituto Bem Cuidar (IBC), uma iniciativa da Aldeias Infantis SOS.


O que você precisa saber sobre a psoríase 

No verão, com tantos corpos mais expostos em razão do clima quente nos lembrando sobre a os cuidados com a saúde da pele, é um bom momento para abordar a importância da conscientização a respeito da psoríase. 

Trata-se de uma doença que atualmente atinge 2,5% da população mundial – dessas pessoas, cerca de 10% desenvolvem artrite psoriática cujos primeiros sinais são inchaço, rigidez e dor nas articulações assim que a pessoa acorda, cerca de 10 anos após o início dos sintomas cutâneos. Em geral, a psoríase se destaca muito na pele, acabando por causar afastamento social dos portadores em razão do seu aspecto marcante. O que muita gente não sabe, porém, é que ela não é contagiosa – ou seja, esse isolamento dos portadores da doença não tem outra razão de ser que não o puro preconceito.  

Como professor do curso de Medicina da Unisa, tive a oportunidade de, juntamente com os alunos do 7º semestre, reunir uma documentação completa sobre o tema. A seguir, algumas informações sobre a psoríase, que são parte dessa documentação e constituem um conhecimento de grande importância para a população. 

A psoríase é uma doença crônica do sistema imune. Ela aparece com vermelhidão, espessamento e descamação da pele, e causa coceira. Isto faz com que a nova pele nasça muito rapidamente (levando apenas dias, em vez de semanas), então ela permanece sempre delicada e frágil, facilitando o surgimento de feridas. A psoríase pode ser hereditária e se desenvolver em qualquer lugar do corpo. Assim, caso a pessoa com eventuais sintomas tenha alguém na família com psoríase, é importante informar ao médico. 

Há diversos tipos de psoríase. A psoríase em placas apresenta manchas elevadas de pele cobertas por escamas prateadas, comumente encontradas em cotovelos, joelhos e parte inferior das costas; a psoríase em couro cabeludo é parecida com a anterior, mas localizada no couro cabeludo, o que pode fazer com que ela seja confundida com caspa; a psoríase gutata ou em gotas causa pequenas manchas redondas e vermelhas que podem aparecer de repente, sempre após uma infecção (como a de garganta); a psoríase pustulosa apresenta pequenas bolhas de pus na palma das mãos ou na planta dos pés, que podem ser dolorosas; já a psoríase eritrodérmica, menos comum, é um tipo severo da doença que causa vermelhidão intensa e espalhada, além de descamação da pele. Em todos os casos, alguns fatores externos podem piorar o quadro, como estresse, infecções de garganta, clima frio, pele seca, traumas emocionais recentes, uso de lítio ou medicamentos para o coração. 

Ainda sem cura conhecida, a psoríase geralmente se manifesta em ciclos, alguns mais gerenciáveis, outros mais complicados. Mesmo quando as placas somem, elas podem retornar, então é importante continuar o tratamento para manter a doença sob controle. Normalmente, esse tratamento varia de acordo com a gravidade, mas pode ir desde a aplicação regular de cremes tópicos (corticóides) e uso de medicações via oral (metotrexato e acitretina) até a aplicação de agentes biológicos em casos mais graves. 

Embora sejam personalizados para cada caso e tenham o objetivo de controlar os sintomas, nenhum tratamento é efetivo para todos os portadores, cabendo ao dermatologista a análise do que deve ser feito. O que ajuda todos os portadores é evitar coçar, sempre prevenir o ressecamento da pele com banhos curtos e mornos, além do uso constante de hidratante – de preferência, sem fragrância – e manter as unhas curtas e limpas. 

A psoríase pode ser tratada pelo SUS e, em caso de sintomas suspeitos, é fundamental agendar uma consulta com um dermatologista, seja da rede pública ou da rede particular. O objetivo de qualquer tratamento disponível é o controle da doença. Também é importante salientar que a psoríase pode apresentar um aspecto desagradável na pele, causando afastamento social do portador. Contudo, como afirmei antes, a doença não é contagiosa e é essencial que a sociedade esteja ciente disso, pois muitos portadores, vítimas de preconceito, acabam por não procurar atendimento médico adequado e desenvolvem quadros mais graves. A artrite psoriática, por exemplo, é potencialmente incapacitante se não tratada da forma certa. 

Assim, se você ou um familiar possui algum dos sintomas mencionados antes, é importante buscar atendimento médico e, em caso de confirmação, já dar início ao controle e tratamento da doença.

Dimitri Luz é dermatologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa


A virtude da Temperança e o Advento

Não havia prestado atenção sobre a importância da temperança. Diante de tantas outras virtudes cristãs, acho que pensei que ela não fosse tão importante, como a fortaleza, a justiça ou a prudência. Isso sem mencionar as virtudes teologais: fé, esperança e a caridade. Mas, sobre a temperança, especificamente, não havia refletido com profundidade.

A temperança, segundo São Tomás de Aquino, representa o autodomínio, o autocontrole, saber renunciar, dizer não para tudo que for excesso ou que possa nos afastar das coisas de Deus. Significa sublimar as paixões, moderar os impulsos e apetites. Essa virtude ensina o desapego, a modéstia. Para que possamos agir com cautela, com consciência e responsabilidade, na razão, pois temos constantemente diante de nós as seduções mundanas, os prazeres, enfim, estamos expostos ao consumismo desenfreado, à maximização da felicidade.

Mas, como adquirir a virtude? São Tomás ensina que as virtudes humanas são adquiridas por hábitos bons, realizados constantemente, ou seja, no nosso dia a dia. A virtude é o aperfeiçoamento das atitudes humanas para o agir correto, dentro da moral, no bem.

A temperança é a virtude que modera a fascinação, o desejo que temos pelas coisas, bens, prazeres, para trazer o equilíbrio de nossas ações, para que não fiquemos como carros desgovernados, seduzidos por tudo e todos, sem o controle de nossas ações.

Ela nos auxilia a sermos pessoas melhores, dizendo não aos excessos, seja ele qual for: na comida, não cometendo a gula, no consumismo, evitando comprar coisas supérfluas, para que não acumulemos coisas, bens, sem lembrarmos dos irmãos menos favorecidos, de tantas pessoas que vivem em situação de miséria e precisam de nossa ajuda.

Enfim, cada um refletirá sobre o que lhe domina, o campo que lhe parece mais difícil… Vencendo nossas inclinações, ou mesmo, os vícios, podemos oferecer a Deus, como um gesto de amor, de gratidão. Principalmente no período em que nos encontramos, com o advento do Natal.

Creio que nessa época, seja importante relembrar o papel das virtudes, sobre o significado real do Natal. E, por mais que vejamos pessoas agitadas, iludidas pela correria de final de ano, presas em intermináveis compras, presentes e coisas do tipo, podemos presenciar, também, aqueles que vivenciam o advento do Salvador, que esperam a celebração do nascimento do Menino Jesus.

Confesso que fico muito emotiva nesta época do ano (choro mesmo). Mas não choro pela ausência de meus amados que se foram, como meu doce filho Marcos, que morreu tão moco, ou pela ausência de meus pais, avós, sobrinhas, enfim, tantos familiares e amigos queridos que se foram.

Certamente que toda essa ausência aflige meu coração, mas, nessa época, precisamente no dia de Natal, quase não me permito chorar de tristeza. Choro mais de alegria, de gratidão mesmo. Por saber que um Deus tão grandioso, tão poderoso teve a incomensurável humildade de vir até aqui por nós, nascendo como um frágil bebê. 

Veja a grandeza, a riqueza deste acontecimento: Ele precisou se esvaziar de toda a Sua Glória para poder nascer como um menino. Aquele que não cabia em lugar nenhum do mundo se fez pequeno para habitar entre nós. Veio por um amor que sequer temos condições de avaliar: um amor inexplicável – inimaginável!

Por isso, todos os que somos cristãos rememoramos os passos de Jesus, desde a Anunciação, quando o Anjo Gabriel visitou a Virgem Maria, a forma doce e obediente com que ela disse sim a Deus, estendendo, desta forma, a possibilidade do céu a toda humanidade.

Gostaria de compartilhar uma última reflexão, pensando em todas as virtudes, no modo como nos comportamos: há em mim, em minhas ações, semelhanças com Cristo?

Se não há, preciso de conversão. E a conversão não acontece do nada: precisamos renunciar, saber dizer não aos excessos, a tudo que pode nos afastar de Deus.

E, se porventura ainda não conseguimos (muitas vezes não consigo), podemos pedir pela Graça. Graça não é algo, é alguém: é a pessoa de Jesus Cristo! Não existe uma fórmula para a conversão, mas, certamente, os que foram tocados por Ele agem de forma diferente, pois se assemelham Àquele que tanto amam.

Viva o Menino Deus!

Feliz Natal
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Verão, praia, piscina e os cuidados com os pequenos 

Com a maior exposição a ambientes externos e ao sol no verão, devemos dar mais atenção aos cuidados relacionados à exposição solar para evitar problemas sérios e até doenças. Muitos adultos sabem que devem usar protetor solar e evitar passar muito tempo sob o sol, mas quem cuida de crianças deve ter a atenção redobrada, pois elas ainda não entendem o quanto o sol pode ser perigoso. Falamos disso todos os anos, mas se trata de um tema relevante, que precisa ser discutido a cada verão. 

Embora a incidência de câncer de pele em crianças seja baixa se comparada com a de pessoas adultas, ela existe – de 1% a 3% dos casos de câncer infantil, trata-se de câncer de pele. E justamente pelo fato de ser rara, a doença tende a ser diagnosticada tardiamente, impactando no tratamento e na cura. Além disso, o calor, a umidade e a exposição solar podem causar outras condições bem chatas de lidar e doloridas para os pequenos. Portanto, entre dezembro e janeiro, precisamos relembrar a população a respeito das medidas preventivas ao surgimento de câncer de pele, queimaduras, brotoejas, infecções cutâneas e dermatoses.     

O câncer de pele é resultado dos efeitos da exposição solar em médio e longo prazo e pode aparecer a partir do surgimento de lesões pigmentadas – conhecidas como pintas ou nervos melanocíticos, os quais podem evoluir ou não para um quadro maligno durante a vida. Ele aparece em adultos, crianças e adolescentes, pois nossa pele tem “memória” e acumula os danos solares ao longo da vida.  

O grande problema é que, em média, as crianças se expõem três vezes mais ao sol do que as pessoas adultas, e a maior parte da radiação UV (ultravioleta), cerca de 80%, vai se acumulando na derme durante a infância e adolescência. A maior preocupação é esse dano solar crônico, que vai acontecendo progressivamente como resultado da exposição solar diária sem proteção em qualquer atividade ao ar livre, como na escola e no carro, sem a devida prevenção – o que ocorre durante todo o ano, não somente no verão. Além disso, outro fator de atenção é a hereditariedade: quando há histórico de melanoma na família, é essencial tomar todos os cuidados preventivos possíveis. E, mais uma coisa: queimaduras solares na infância aumentam as chances de o adulto desenvolver câncer de pele. 

Sobre as outras condições que surgem no calor, mães e pais conhecem bem as chatinhas brotoejas, dermatoses e infecções diversas. No calor elas tendem a aparecer mais e a incomodar mais também. Depende de nós, mães, pais e cuidadores, estarmos atentos a alguns cuidados importantes que vão deixar as férias mais prazerosas e ajudar a evitar a possibilidade de câncer de pele no futuro. 

· Evite levar bebês menores de um ano à praia ou piscina. Se levar, mantenha-o sempre à sombra, protegido com chapéu de abas largas, bonés. Tem também aquelas roupinhas que protegem contra raios UV, algumas da cabeça aos pés. Aposte nelas, desde que tenham certificado de eficiência. 

· Crianças devem aproveitar o sol da manhã, até as 10h, e do final da tarde, a partir das 16h, evitando o pico de incidência de radiação ultravioleta B, principal responsável por queimaduras e alterações que podem levar ao câncer de pele; 

· Lembre-se de proteger bem (com protetor solar e acessórios) rosto, o couro cabeludo, as orelhas, o pescoço, os antebraços, e as mãos; 

· Evite deixar as crianças com roupas úmidas por muito tempo, lembrando sempre de secar bem partes como virilha, vão dos dedos, pescoço e outras regiões do corpo com dobrinhas de pele. 

· O filtro solar precisa ser de marcas reconhecidas por sua eficácia, com proteção contra radiação UVA e UVB. Aplique-o sempre à sombra, pelo menos 20 minutos antes da exposição ao sol. Reaplique a cada duas ou três horas. E atenção, se a criança ficar mais de 5 minutos na água, o ideal é reaplicar o produto novamente na pele seca logo em seguida. Lembrando que menores de 6 meses não podem usar protetor solar químico pela fragilidade da pele e somente protetores de barreira como roupas e chapéus. 

· Ofereça bastante líquido para evitar a desidratação e peça orientação ao pediatra sobre quais cremes utilizar; 

· Fique atento aos dias nublados. Superfícies como areia, água e concreto refletem os raios solares e aumentam o risco de queimaduras; 

· Mantenha a hidratação das crianças, isso é fundamental. Ofereça também frutas ricas em líquidos, como melancia, melão e mamão;

· Cuidado com o consumo de alimentos perecíveis com armazenamento duvidoso, como aqueles vendidos em praias e parques. A incidência de doenças diarreicas no verão é comum e pode levar a quadros de desidratação e internação. 

Na dúvida, não deixe de procurar seu pediatra ou dermatologista de confiança. Ele é a melhor pessoa para indicar os produtos mais adequados à pele de seus filhos e orientar quanto aos cuidados com o sol e o calor. 

Claudia Lopes é pediatra e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa


Futebol e inclusão 

O futebol é o esporte mais popular do mundo e move paixões que assumem caráter exponencial sempre que envolve polêmicas, resultados de jogos, clubes e torcidas. Seja por se assemelhar aos dramas, e às delícias da realidade, tudo o que diz respeito ao esporte bretão é carregado de emoção. A visibilidade, o exemplo, a superação dos jogadores e até mesmo os obstáculos encantam e até mesmo motivam as pessoas a atuar na vida de modo mais disciplinado e com maior perseverança.

E nesta época de Copa do Mundo, esse charme do futebol conquista definitivamente todo o planeta. É nesses dias que as minorias, grupos populacionais que encontram-se subjugados em suas relações de poder, podem ganhar destaque a partir das posturas sociais de atletas, torcedores e demais personagens, assumindo posições de real protagonismo de que tenham sido historicamente alijados.

Como exemplo, destacamos o papel das mulheres, que estão ganhando progressivamente maior visibilidade neste universo e vêm conquistando posições de destaque nas torcidas e até mesmo como árbitras, comentaristas, jornalistas esportivas e narradoras. O mesmo fenômeno vem se concretizando em relação a outras minorias, sejam elas sexuais, étnico-raciais, ou simplesmente sociais: a transmissão em tv aberta da final da Taça das Favelas é mais um indício desses contínuos progressos.

A final olímpica do Futebol de Cinco, modalidade paralímpica para pessoas que tenham deficiência visual, transmitida pela tv aberta, é mais um desses exemplos que vêm ganhando destaque na atualidade. Claro que ainda há muito a ser feito! A seleção brasileira de futsal down, ainda que seja a atual bicampeã mundial, é pouco conhecida. Entretanto, a movimentação em favor de estruturas sociais inclusivas vem ganhando maior relevância.

Aliás, é fato sabido e facilmente observável, que, geralmente, seleções mais diversas e plurais, em que os diferentes jogadores se sintam pertencentes a um todo maior, costumam ter mais sucesso. Times mais inclusivos possuem até mesmo maior capacidade criativa para superar obstáculos advindos dos jogos e campeonatos.

Nessa esteira, as pessoas com deficiência, ou seja, todas aquelas que sofrem problemas estruturais com a inclusão social, podendo ser aquelas com diversidade funcional ou as pertencentes a quaisquer outros grupos minorizados, ganham maior visibilidade através do futebol e de outros esportes!

É assim que as paixões suscitadas pelo futebol podem, e devem, ser canalizadas para a edificação de uma sociedade brasileira que se desenvolva de acordo com os pilares da sustentabilidade, igualdade real de oportunidades e Justiça!

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Sociais. Escritor, professor e palestrante


Alimentos orgânicos x convencionais: Qual é a melhor opção?

Nos últimos anos, o interesse pelos alimentos orgânicos aumentou consideravelmente, criando um novo paradigma baseado na promoção de um estilo de vida saudável. Muitas vezes, quando compramos produtos “orgânicos”, nos perguntamos o que eles realmente são e se existe diferença entre o orgânico e o convencional. 

De uma maneira geral, temos de um lado, a agricultura convencional que visa produzir frutas e legumes com uma aparência perfeita: o mesmo tamanho e volume, a melhor cor, a aparência impecável e a qualidade nutricional. Por outro lado, temos os alimentos orgânicos, que são identificados por especialistas, como aqueles que se preocupam com aspectos como a seleção natural das espécies e que garantem os ciclos reprodutivos, o patrimônio genético e a saúde do solo. 

A saúde é um dos principais argumentos a favor do consumo de alimentos orgânicos e um dos aspectos mais controversos. Algumas pessoas pensam que têm maior teor de nutrientes, são mais gentis com o meio ambiente e são mais saudáveis do que os alimentos tradicionais. Mas será isso mesmo? O senso comum que está associado ao alimento orgânico é o fato de não usar insumos químicos, sugerindo que o uso de fertilizantes e defensivos agrícolas tornam o alimento menos saudável.

Alguns anos atrás a Food Standards Agency (FSA), agência de segurança alimentar do Reino Unido, publicou um relatório detalhado sobre os alimentos orgânicos. Suas conclusões foram como uma bomba: “Não há evidência de diferença na qualidade nutricional entre os alimentos da agricultura orgânica e os da agricultura convencional”. Portanto, os resultados desta pesquisa, que se baseia na revisão de 55 estudos relevantes realizados ao longo dos últimos 50 anos, não validam os produtos orgânicos como mais nutritivos. 

Em contrapartida, o mercado orgânico vem se expandindo anualmente nos últimos 20 anos. E para se ter uma ideia, esse crescimento representa aproximadamente 25 bilhões de dólares em termos de faturamento global. Além disso, são produtos mais caros e representam uma pequena parcela no mercado total de alimentos. O público “típico” da agricultura orgânica costuma ser composto principalmente por mulheres e idosos. Esses critérios demográficos são encontrados em segmentos da população com bom acesso à saúde e que tem uma preocupação maior com o tipo da alimentação. 

O sucesso desse segmento deve-se, em grande parte, à crença de que, ao evitar o uso de defensivos agrícolas e fertilizantes minerais (erroneamente conhecidos como fertilizantes químicos), aumenta a qualidade nutricional dos alimentos. No entanto, sabemos que esse pensamento pode ser infundado.

A revisão sistemática da literatura sobre agricultura e alimentação vem a confirmar o que muitos defendiam há muito tempo. Isso permite que os consumidores possam optar por alimentos da agricultura convencional ou por alimentos orgânicos, pois eles atenderão às necessidades nutricionais das pessoas. 

Podemos, ainda, levantar alguns pontos importantes deste estudo. Por se tratar da revisão mais abrangente sobre as características dos alimentos orgânicos, alguns itens podem ter sido negligenciados, como é o caso da medição de antioxidantes e resíduos de defensivos agrícolas.

Nesse sentido, as discussões de comparação entre os orgânicos e convencionais podem ser totalmente inúteis, segundo a pesquisa. Apesar de algumas críticas à agricultura convencional pelo uso excessivo de fertilizantes minerais, no entanto, muitas propriedades orgânicas utilizam uma quantidade considerável de adubos orgânicos que, em altas doses, podem se tornar tóxicos, pois contém em sua composição mais poluentes do que os fertilizantes minerais. 

Ao longo das últimas décadas, outros estudos foram realizados, gerando resultados bastante significativos que mostram a qualidade dos dois alimentos. Desta forma, os consumidores podem escolher os dados que respaldam suas crenças. Os defensores da agricultura orgânica podem citar, se quiserem, um relatório de 2007 da Universidade de Newcastle, mostrando que os produtos orgânicos contêm acima de 40% mais antioxidantes do que os produtos convencionais.

Já os defensores da agricultura convencional podem se apoiar em um estudo do ano 2000, no qual não foi encontrada nenhuma diferença nos teores de fenóis saudáveis em morangos e mirtilos orgânicos. Eles também podem apontar para um relatório de níveis mais altos de toxinas naturais em produtos orgânicos porque esses produtos foram cultivados sem o benefício de fungicidas sintéticos. Todos esses resultados são baseados em evidências científicas.

Desta forma, antes de resolver qual é o melhor alimento, convencional ou orgânico, deveríamos nos preocupar em incentivar as pessoas a consumir as cinco porções diárias de frutas e vegetais (o mínimo recomendado). Qualquer que seja o tipo de alimento, é sempre aconselhável escolher produtos frescos da época, de acordo com as suas possibilidades. Isso irá ajudar a comer mais saudável e de forma mais sustentável.

Valter Casarin


Quem tem fome, tem pressa! 

O Brasil se arrasta de crise em crise, passando por curtos soluços de bonança, em grande parte devido ao seu modelo econômico desigualitário. O paradigma de crescimento nacional é estruturalmente excludente, privilegiando uma minoria em detrimento de uma maioria marginalizada e despossuída. Esse modelo, agravado a cada passagem de penúria econômica, é determinante para que uma parcela enorme do povo brasileiro, inaceitavelmente, ainda passe fome!

Simplificando, é forçoso destacar que o modelo de crescimento econômico brasileiro gera crescente desigualdade. E esse desenvolvimento de estratos sociais tão diferentemente atendidos pelo Estado brasileiro determina o esgarçamento do tecido social: aqueles grupos incluídos socialmente passam a perceber, cada vez menos, os dramas sofridos pelos excluídos, e vice-versa. Essa fratura social gerada pela desigualdade faz com que cada comunidade se feche, progressivamente, em sua homogeneidade.

A falta de diversidade, portanto, determinada pela desigualdade social, exponencia a ignorância acerca das peculiaridades e potencialidades existentes em cada indivíduo. Com coletividades cada vez mais homogeneizadas e desvinculadas de outros diferentes grupos, cada uma delas passa a ser encarada como “solução”, enquanto as “outras”, como problemas. Esse sentimento de desvinculação com outras coletividades e realidades é um fértil adubo para o crescimento do autoritarismo. “Se eu e meus iguais temos a solução, basta-nos eliminar os diferentes...”, dizem.

Ora, cada grupo, então, na luta pela sobrevivência social, acaba por tentar capturar parcelas dos recursos públicos, aliando-se a diferentes setores políticos. Essa predação do orçamento, em que se ignora o interesse público em favor de interesses, mais ou menos justificados, setorizados, fomenta a conflituosidade coletiva e a violência estrutural. Resumindo: a desigualdade degenera a nação brasileira em um campo de guerra de todos contra todos.

O cenário de luta social determina um marco institucional inseguro e completamente disfuncional. Em um palco como esse, todos os investimentos, nacionais ou estrangeiros, são desincentivados, levando a um baixo crescimento econômico e, assim, a um crescente déficit nas contas públicas. O crescimento econômico medíocre determina o aumento da exclusão social, a piora da qualidade do capital humano, e, consequentemente, da produtividade de toda atividade econômica. A baixa estrutural de produtividade, portanto, determina menores receitas tributárias, insuficientes para cobrir o rombo das contas públicas.

A desigualdade social, dessa maneira, leva a um crescente aumento estrutural da tributação! Já a opção pela responsabilidade social, ao diminuir a conflituosidade institucional, melhora os investimentos e, na medida em que favorece a emancipação individual, aumenta a produtividade, determinando a responsabilidade fiscal.

Em suma, é totalmente adequado dizer que o combate à fome, à miséria, às mazelas sociais e à inaceitável desigualdade brasileira, além de ser um imperativo ético, constitui-se como a mais adequada alternativa para a retomada da responsabilidade fiscal no Brasil.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Sociais. Escritor, professor e palestrante


O manto da Padroeira 

A Seleção Brasileira, que este ano lutará pela conquista do hexacampeonato mundial nos gramados do Catar, tem uma relação holística e transcendental com seu uniforme, para o bem ou o mal. Há episódios antológicos, nos quais o traje, como se fosse mais um jogador, ganha forte identidade como protagonista ou vilão.

Uma dessas passagens ocorreu há 72 anos, na chamada “tragédia do Maracanã”, quando perdemos, de virada, a final da Copa do Mundo de 1950 para os uruguaios. Poucos se lembram, mas o goleiro Barbosa não foi o único responsabilizado pela derrota por parte da imprensa e a opinião pública. A camisa branca com golas azuis também foi sumariamente condenada, sob a acusação de que não era “suficientemente nacionalista”. Expressando tal sentimento da torcida, o jornal carioca Correio da Manhã publicou editorial criticando-a pela “falta de simbolismo moral e psicológico”.

Oito anos depois da frustração pela perda do título no Rio de Janeiro, nossa seleção, já com a tradicional indumentária amarela, ganhou sua primeira Copa do Mundo, na Suécia, em 1958. O traje da finalíssima, embora improvisado, foi um dos protagonistas da vitória: alguns dias antes da partida, houve um sorteio para decidir a cor da camisa dos times, pois os adversários, os donos da casa, também vestiam amarelo. Perdemos. Por isso, foi necessário comprar às pressas um lote de camisetas azuis para a decisão.

A mudança parecia afetar os jogadores, já acostumados a jogar com a jaqueta canarinho. Percebendo o risco dessa reação emocional, o chefe da delegação, Dr. Paulo Machado de Carvalho, o Marechal da Vitória, reuniu o elenco antes do jogo e enfatizou: “Eu quis que vocês jogassem de azul porque é a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida, que está conosco”. O resultado todos conhecem! Sob as bênçãos da Padroeira, a seleção passeou no gramado do Estádio Rasunda, na cidade de Solna, batendo a Suécia por cinco a dois. Foram dois de Pelé, dois de Vavá e um de Zagalo. Desde então, o azul foi oficializado como segundo uniforme da seleção.

Transcorridos 64 anos da histórica conquista e às vésperas de tentarmos ganhar o sexto título mundial, é importante entender que, mais do que nunca, o uniforme tem significativos efeitos no desempenho da seleção. Aliás, não apenas da nossa, mas de todas as que participarão da Copa do Catar, assim como da grande maioria dos times de futebol profissional e demais esportes. Agora, a influência não tem apenas fatores emocionais, psicológicos, supersticiosos ou religiosos. Estamos falando de tecnologia!

O notável avanço dos equipamentos industriais, materiais, fios, fibras, tecidos e confecção resultaram em trajes de competição que reduzem a resistência do ar e da água nas disputas do atletismo e da natação e nos jogos de futebol, basquete, vôlei e outras modalidades. São mais leves, não retêm o suor, não irritam a pele, garantem plena ventilação, aumentam a microcirculação sanguínea, retardam a fadiga muscular e aceleram a recuperação, podendo até mesmo monitorar eletronicamente a performance.

Exemplo dessa evolução é o uniforme do futebol. Até o início dos anos 80, o material utilizado retia o suor. Um jogador perde de dois a três quilos durante o jogo. Metade disso ficava na camisa. Aí, veio outro tipo de fibra, utilizado pela primeira vez pela Seleção Brasileira na Copa do México, em 1986. Porém, o suor permanecia retido, agregando peso e esfriando o corpo do atleta. A partir dos anos 90, surgiram novos materiais, fibras e tecnologias de acabamento e fabricação. Tecidos inteligentes absorvem o suor e propiciam rápida evaporação. Hoje, 24 anos depois do primeiro modelo desse tipo de camisa, a atual é 13% mais leve e tem passagem de ar 7% mais efetiva.

A melhor notícia é que esses avanços também beneficiam os consumidores, pois são aplicados na produção regular do vestuário. Entretanto, os uniformes que vestirão as seleções no Catar, assim como as roupas de nosso dia a dia, não chegaram ao limite da evolução tecnológica. Estão em curso a Manufatura Avançada e o desenvolvimento de novas fibras e acabamentos, e o setor têxtil e de confecção brasileiro é um dos protagonistas desses avanços.

Cabe, ainda, uma redentora reflexão. Em plena era do conhecimento, da informação e da tecnologia, é preciso, finalmente, fazer justiça histórica, inocentando o goleiro Barbosa e a camisa branca, que obviamente não podem ser condenados pela derrota de 1950. Algo, contudo, permanece inabalável para milhões de brasileiros: a fé em Nossa Senhora Aparecida!

Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)


Direitos do trabalhador temporário

O fim do ano está se aproximando e, com ele, chegam novas oportunidades para os trabalhadores brasileiros, principalmente aos comerciários desempregados, que podem se beneficiar das vagas para trabalho temporário. Existe, neste período, uma demanda para atender feriados, promoções do tipo Black Friday (25/11) e datas importantes para o comércio, como Natal e Ano Novo. 

As primeiras previsões já começam a aparecer e são animadoras: a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) calcula que mais de 109 mil vagas temporárias serão abertas no Brasil durante este final de ano. Com a confirmação desse número, 2022 será marcado como o de maior oferta de trabalho dos últimos nove anos. No Estado de São Paulo, se concentram 30% do total de contratações previstas. 

Previsão positiva também foi divulgada pela Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), segundo a qual as vagas oferecidas até a virada do ano por todos os setores da economia no País, incluindo o comércio, devem passar de 565 mil vagas. 
 
Varejo
Representado pelos supermercados, o varejo deverá ser o responsável pelo maior volume de contratações, com mais de 45 mil vagas temporárias no País, segundo a CNC. O setor de vestuário aparece em segundo lugar, com 26 mil novas vagas. 

As previsões da Confederação têm como base os dados divulgados mensalmente pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). 

O faturamento em dezembro deste ano deve crescer quase 35% em comparação com novembro. Já os salários devem crescer, em média, menos de 3%, variando de Rÿ 1,6 mil a Rÿ 2,3 mil, segundo a entidade.

Direitos 
É bom lembrar que trabalho temporário não significa trabalho precário. Está previsto na Lei Federal 6.019/74 e no Decreto nº 10.060/2019: é prestado por pessoa física contratada por uma empresa de trabalho temporário que a coloca à disposição de uma empresa tomadora de serviços ou cliente. 

A lei determina que o empregado temporário tem quase os mesmos direitos previstos do trabalhador com contrato por tempo indeterminado, com carteira assinada. A contratação é somente para atender à necessidade de substituição transitória de pessoal permanente ou a demanda complementar de serviços. 
 
Sindicato 
A duração do contrato de trabalho máxima é de até 180 dias, com a possibilidade de ser prorrogado (uma única vez) por até 90 dias corridos, independentemente de a prestação de serviço ocorrer em dias consecutivos ou não. É válido estar atento a esse prazo, que deve ser contado de forma corrida, considerando a contagem também dos intervalos contratuais, e não apenas os dias efetivamente trabalhados.

A geração de novas vagas é uma boa notícia. Mas os trabalhadores devem ficar de olho em seus direitos trabalhistas, não abrindo mão da segurança sanitária, segurança no trabalho, duração da jornada de trabalho e quais as possibilidades e critérios para efetivação, após as festas de fim de ano. Em caso de dúvidas, procure o sindicato dos comerciários mais próximo.

Luiz Carlos Motta é Presidente da
Fecomerciários, da CNTC e Deputado Federal


Leitura: uma conexão entre pais e filhos

Imagine... Era uma vez... O que vem a sua mente, ao ler essas frases? Parece que elas são mágicas e preparam o nosso cérebro para se abrir para um mundo cheio de possibilidades. Se isso aconteceu contigo, é porque alguém o fez sonhar, viajar e mergulhar no fantástico mundo da leitura. Se elas exercem um poder imaginativo em ti, é inegável o impacto positivo que a leitura traz para uma criança. Você é a prova viva disso! 

Por isso, eu te pergunto, caro leitor: quem marcou a sua história por meio das histórias? Parece uma pergunta redundante, mas não é. Então, me diga: quem é essa figura que construiu contigo memórias afetivas, sensações, cheiros, paisagens e sentimentos? Sim, a leitura possibilita também a construção de memórias, nos leva a lugares “nunca antes navegados” e nos ajuda a encontrar respostas para aquilo que não cala no coração. Quem alimentou de sonhos, criatividade e viajou sem sair do lugar com a criança que ainda está aí viva (talvez, um pouco espremida) dentro de você? Pensou?  

Agora, pergunto-lhe: quem é essa figura para o seu filho? Você é o protagonista, o coadjuvante ou não é um personagem dessa história no mundo dele? Saiba que, antes do espaço escolar, é no seio familiar que se deve iniciar o contato com a literatura, que pode ocorrer desde o ventre materno.  

Como diz a frase, de autor desconhecido, “a palavra convence, o exemplo arrasta”. Sendo assim, quando você lê para uma criança, principalmente nos anos iniciais, além de estreitar laços com ela, tranquilizá-la e estimular seu desenvolvimento em diferentes aspectos, tais como: cognitivo, linguístico, criativo... tem com ela um momento especial e potente na construção de um referencial leitor afetivo. 

Qual referencial quer deixar para ele ou ela? Saiba que navegar pela literatura com seu filho não só o ajudará na escola, mas na vida! O hábito de leitura expande seus horizontes e amplia o seu olhar de como se vê e sente o mundo. As palavras tem um poder mágico, sabia? Nos torna mais humanos, empáticos, solidários, respeitosos, dispostos a ouvir, auxilia a lidar com suas emoções, desperta o sentimento de pertencimento, traz segurança, autoconhecimento e autoconfiança. 

Um texto com mais perguntas do que respostas, não poderia terminar se não provocando uma pergunta final: quais memórias afetivas e leitoras você tem construído com seu filho? Pense nisso, chame-o, dê-lhe um afago, pegue um livro, revisite a sua criança interior e construa hoje com seu filho uma linda história. Cative sempre boas leituras!

Liliane Mesquita é pedagoga, psicopedagoga, orientadora educacional, dinamizadora de leitura e escritora de livros infantis – autora de “O desaparecimento do Senhor Abraço”, “Onde é o lugar de Dandara?”, ”Qual é a sua forma?” e “Poesia no futebol”. 


'Orçamento secreto' é coisa do passado

Ele passou a ser chamado de ‘emendas do relator’, 
no linguajar oficial dos jornalistas, depois da eleição de Lula

Menos de uma semana depois de ter sido declarado vencedor das eleições presidenciais de 30 de outubro, e ainda a dois meses da posse, o ex e novo presidente Lula já entregou a primeira grande realização do seu governo — acabou com o “Orçamento secreto”. Todos se lembram dele. Como a saúva e outras maldições nacionais, o “Orçamento secreto” era um dos maiores problemas do Brasil. Há dois anos, ele apareceu em toda a imprensa brasileira como um grave crime contra “a democracia” por parte do governo Bolsonaro — segundo se repete desde então, o presidente teria dado aos deputados, em troca de apoio, o poder de gastar verbas orçamentárias por sua conta, quando e naquilo que lhes desse na telha. Durante a campanha eleitoral, foi um dos argumentos mais enfurecidos da campanha do PT— Lula tinha de ser eleito, diziam, para salvar o povo do “Orçamento secreto”. Bastou passar a eleição e o Brasil, segundo informa a mídia, foi salvo por Lula: o Orçamento secreto sumiu. Quer dizer, ele continua a existir exatamente como era antes — mas agora se chama “emendas do relator”, na linguagem oficial dos jornalistas. Caso resolvido.

O “Orçamento secreto” nunca foi Orçamento, nem secreto e nem criado pelo presidente Bolsonaro — foi apenas uma das maiores fraudes já executadas na vida política do Brasil com o objetivo de criar um crime que não existiu e jogar a culpa em quem não o cometeu. Agora, como não serve mais para acusar o presidente, o tal Orçamento sumiu do mapa — continua intacto, para ser desfrutado pelos políticos, a começar pelos do PT, mas mudou de nome. Os fatos são muito claros. Cerca de dois anos atrás o Congresso aprovou uma lei que inclui no Orçamento despesas para financiar projetos de parlamentares — da compra de ambulâncias à reforma da escola municipal. É lei; não foi um decreto do presidente. A única coisa que se pode fazer a respeito é cumprir o que foi legalmente estabelecido — até porque o STF autorizou a aplicação da lei, depois de ter tentado anular a sua entrada em vigor e recuado por razões de seu interesse político. É isso, e só isso, que sempre existiu. Agora vai continuar existindo, mas a mídia, a esquerda e o PT vão chamar a coisa de “emendas do relator”. Era, até a eleição, uma monstruosidade de lesa-pátria. Agora, com novo nome, é apenas um elemento da paisagem.

J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 3 de novembro de 2022


Por que voto em Jair Bolsonaro?

Em 2002, buscando alternância social, votei no candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Ante a substituição do presidente Fernando Henrique Cardoso, mereci charge, de Paulo Caruso, na revista "IstoÉ", de 27 de maio de 2002. Nela, estou na porta de um restaurante, com a faixa presidencial no peito e vem chegando, com mala de viagem com etiquetas "Spain" e "Italy" o titular da Presidência. Tabuleta anunciando o cardápio "HOJE FRUTOS DO MAR — LULA". O título "Avenida BRASIL", subtítulo "em... INTERINIDADE INDIGESTA". Nela foi lançada dedicatória, de próprio punho: "Ao amigo Ministro Marco Aurelio, com abraço do amigo Lula, 29/10/02".

Renovei o voto na reeleição, em 2006.

Em julho de 2017, fechei seminário de verão na Universidade de Coimbra (POR) e discorri sobre a tendência mundial de eleger candidato populista de direita. Falei sobre o perfil, mencionando Polônia, Hungria e Estados Unidos. Disse temer pelo Brasil — eleger presidente de República, nas eleições do ano seguinte, o deputado federal Jair Bolsonaro que fizera a caminhada batendo em minorias. Página hoje virada, ante a mudança de postura, para o bem, no exercício da Presidência da República, persistindo os arroubos de retórica. É conferir os Anais da Universidade de Coimbra.

Nas eleições de 2018, votei no candidato Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores.

Nestas eleições, anunciei que votaria em quem estivesse, nos levantamentos, em terceiro lugar. O voto foi, no primeiro turno, em Ciro Gomes, candidato que tão bem conhece, como poucos, as entranhas brasileiras. A apuração desaguou na atualidade. Bolsonaro, na busca da reeleição, segundo colocado, e Lula em primeiro lugar, sem alcançar a maioria exigida constitucionalmente — metade mais um dos votos válidos.

Com pureza d'alma e tendo a coragem como síntese de todas as virtudes, norte de 42 anos em colegiado julgador, recorde que dificilmente será batido — iniciei o oficio de juiz em 1978, no Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, chegando, em 1981, ao Tribunal Superior do Trabalho, com idade mínima de 35 anos, e ao Supremo em 1990, sendo alcançado, em 2021, pela expulsória dos 75 anos, venho dizendo que, no segundo turno, próximo domingo, votarei no atual presidente.

Indaga-se, a razão da guinada. É simples, muito simples: como ex-juiz não posso subscrever o nome de quem, durante oito anos foi presidente da República e teve o perfil político manchado pelos célebres casos "MENSALÃO" e "LAVA JATO". Que veio a ser condenado a substancial pena de reclusão, executada em parte. Dir-se-á que o Supremo anulou os processos-crime. No julgamento fui, com outros colegas, voto vencido.

Nos bancos da Nacional de Direito, e acredito ter sido bom aluno, aprendi que incompetência relativa preclui, ao contrário da absoluta, exemplo a em razão da matéria. A territorial é, sabidamente, relativa. Foi sepultada com o término dos processos-crime relativos a delitos contra a Administração Pública — corrupção e lavagem de dinheiro. Mas o Supremo, na voz da sempre ilustrada maioria, bateu o martelo, vindo a ressuscitar, politicamente, o candidato Lula, gerando polarização que inviabilizou terceira via. O Absolveu? A resposta é desenganadamente negativa.

Em Habeas Corpus, via instrumental afunilada, assentou, por maioria, a existência de direito líquido e certo de ser julgado pela Justiça Federal não do estado do Paraná, mas da capital do país, Brasília. Deu o dito, pelo não dito, ficando em segundo plano a dinâmica e a organicidade do Direito. Em colegiado, órgão democrático por excelência, há somatório de forças técnicas e humanísticas distintas. Nisso, os integrantes complementam-se mutuamente.

Vence a maioria e proclamado, no Pleno, o resultado do julgamento, esgotada a fase dos embargos declaratórios, cabe a observância. O fato não afasta a consciência do eleitor, na análise da vida dos candidatos. Eis as razões pelas quais, no domingo, 30 de outubro de 2022, embora aos 76 anos de idade o voto não seja obrigatório, cumprirei o direito-dever de eleger o representante maior, sufragando o nome do candidato Jair Messias Bolsonaro, que vem de obter expressiva vitória nas eleições para a Câmara dos Deputados e Senado da República, com vários ex-ministros eleitos, destacando-se a figura ímpar do vice-presidente Hamilton Mourão, senador pelo brioso estado do Rio Grande do Sul.

O fato sinaliza o bom trabalho desenvolvido. Com a palavra os eleitores. O eleito há de ser diplomado, tomar posse e entrar em exercício, atento às mazelas nacionais que tanto nos envergonham. Que assim o seja, com avanço cultural, mediante a constante busca de dias melhores para a sofrida República retratada pelo Brasil.
Marco Aurélio Mello é ministro aposentado do Supremo Tribunal
Federal e presidente do Instituto UniCeub de Cidadania


Face a Face ... 

Por diversas vezes li essa expressão, porém, não havia refletido com profundidade sobre o que representa estar, verdadeiramente, Face a face com Deus. O que me trouxe a essa questão foi Ignácio Larrañaga, Frei franciscano, autor de vários livros e da “Oficina Oração e vida”, ministrada em várias cidades do Brasil e do mundo. 

Em um de seus textos ele ensina que rezar é diferente de orar. Rezar pode ser recitarmos textos sagrados, novenas, terços, ladainhas, fazermos pedidos, intercessões, mas, orar, significa colocar-se diante da Presença de Deus e permanecer em silêncio, em adoração. Não é necessário palavra alguma. É quando nosso coração busca e sente o Amor do Pai. E ouve o que Ele tem a dizer. Face a Face. 

Não sei se o leitor já teve essa experiência, de colocar-se diante da Presença, sem pressa, sem pensar nos afazeres, compromissos, preocupações, dores. Permanecer nesse Amor inexplicável, incomensurável… como um repouso, em um abraço que acolhe a alma.

Creio ser esse repouso no Espírito a que Jesus se refere no Evangelho de João: “Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja.”

Reconheço que não é um exercício fácil a escolha de parar tudo, desligar-se da correria do dia a dia, de todas as ocupações, das seduções mundanas – seduções estas que nos convidam aos prazeres diversos, que roubam nosso tempo, sem que por vezes sequer percebamos… 

Frei Ignácio propõe que separemos pelo menos 30 minutos por dia para estar em oração, rezarmos pedindo a iluminação do Espírito Santo e meditarmos a leitura da Palavra, para termos intimidade com Deus.

Talvez não seja fácil separarmos esse tempo diariamente, diante das prioridades que nós mesmos elencamos. Reconhecendo também a dificuldade em procurarmos intimidade com Deus, rodeados que estamos por pensamentos e mensagens pagãs, ideias da Nova Era, evidenciadas e propagadas nas mídias sociais, com frases de efeito voltadas ao poder do “universo” (universo é criação de Deus, não tem poderes), do poder interior, em que pode-se alcançar a evolução, a iluminação, sem precisar de um Salvador.

É uma visão que dessacraliza Jesus, que retira Sua Majestade, pois, Deus, passa a ser apenas um “governador do planeta”, um avatar, um mestre, como tantos outros que aqui passaram.

Há um movimento de retorno ao paganismo. Pensamentos, crenças, filmes, superstições que exaltam o poder individual de galgar a perfeição (perfeito só Deus), crendo em reencarnações, dispensando a Graça. Mas veja que a Graça é a força, o poder que vem de Deus, é o Amor que nos capacita, nos transforma, para que possamos vencer as tentações, pecados, vícios, enganos. Sem ela, somos apenas humanos, pecadores. Nossa visão é limitada. Nosso amor é pequeno, seletivo. Precisamos da Presença, da ajuda de Deus em nossas vidas.

Nos Evangelhos, nas Cartas de Paulo, e tantos outros textos sagrados, fica claro a divindade de Cristo:

“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos sejam soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por Ele e para Ele”.

Seria muita presunção de minha parte achar que minhas palavras levarão, ou devolverão a fé em Jesus. Não posso. Mas o Espírito Santo sim. Ele pode tirar as escamas de nossos olhos. Revelar a Verdade: o próprio Deus desceu à Terra, abdicou de toda a Sua glória, e entregou-Se a morte de cruz, com o único propósito de nos salvar – pela imensidão de Seu Amor.

E é esse Espírito Santo que age em nós para modificar o nosso olhar, para dar-nos mansidão, sabedoria, bondade. Para agirmos na caridade, não por querermos alcançar a evolução, iluminação (como sugere a Nova Era); nem para estar em conformidade com alguma religião ou nem mesmo por medo do inferno, se assim posso dizer. Ser bondoso não por temor, mas pelo amor misericordioso que nasce do Cristo Ressuscitado.

E veja que muitos santos, mártires, abdicaram da própria vida para defender, para justificar a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Com o Deus de Abraão, de Isaac e Jacó, com todos os santos e profetas, contemplo as palavras de Jó:

“Com estes mesmos olhos verei o meu Salvador”.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Populismo e Insustentabilidade 

Populismo costuma ser entendido como o conjunto de práticas e condutas políticas em que o líder da Nação estabelece uma relação direta, imediata e desinstitucionalizada com as massas populares, em contraste e contrapondo-se a uma suposta elite. Em resumo, o líder populista aposta no aprofundamento da conflituosidade entre os incluídos (“nós) e os excluídos (“eles”), transformando esse atrito em retórica justificadora de políticas públicas exclusivistas.

O poder de sedução inerente ao populismo reside nesse fato. Como o líder se apresenta como um integrante comum do povo, assume-se como verdadeira a aparência de que ele compreende os problemas sociais e os pode solucionar. Acontece que decorre do próprio pensamento populista o imediatismo, já que problemas estruturais e complexos são reduzidos a questiúnculas simples e menores que ainda padecem de solução por exclusiva falta de vontade. Daí saídas curtoprazistas e desplanejadas para as graves mazelas sociais.

Contrapondo-se ao charme sedutor do populismo, políticas públicas que efetivamente resolvam as questões da sociedade são aquelas racionalmente planejadas, que, geralmente, não dão frutos imediatos. Ao contrário, questões complexas são solucionadas por medidas igualmente complexas, que só produzem efeitos com a continuidade, no longo prazo. Ou seja, são políticas que, ao revés de seduzir e apaixonar, devem convencer.

Esse convencimento daquilo que efetivamente soluciona os problemas deve ser buscado pela ampliação do diálogo, por meio da pluralidade de ideias e da inclusão. Cada indivíduo, portanto, de acordo com suas características intrínsecas, experiências pessoais e relações com as diversas coletividades, deve participar do debate público no sentido de construir as políticas que verdadeiramente superem as deficiências sociais.

Só assim, pelas luzes da razão e oposição às trevas das paixões e do populismo, será possível caminhar para além de práticas cosméticas que, ainda que perpetuem injustiças, são atenuadas enquanto soluções definitivas.

Nesse sentido, governos de matiz populista são completamente inábeis a construir políticas sustentáveis, que atendam aos requisitos e aos valores do paradigma “ESG”. Muitas vezes, para o florescimento de políticas sustentáveis, a inclusão, a pluralidade, e a fermentação planejada ao longo do tempo se fazem necessárias. A análise de diversos pontos de vista é fundamental ao desenvolvimento de atitudes sustentáveis. Dessa forma, a democracia liberal, enquanto potencializadora da institucionalidade social, é essencial à sustentabilidade. Por outro lado, o populismo, ao preconizar uma série de benefícios efêmeros e imediatos, é insustentável.

Seja pelo projeto do “Green New Deal” nos Estados Unidos, que visa à retomada econômica e ao fortalecimento do mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que opções produtivas ambientalmente sustentáveis são privilegiadas; seja pelo programa de transformar a França em uma Nação Ecológica proposto por Macron em seu discurso de vitória; seja pela transição energética anunciada pelo Japão e pela Alemanha, que visa cambiar a dependência do gás russo por opções mais limpas, encabeçadas pelo hidrogênio “verde”; percebe-se que uma política harmônica à conservação do patrimônio natural só pode ser construída harmonicamente por uma ação democrática e liberal, que, entre outras práticas, favoreça a concertação internacional, objetivando o aprofundamento da globalização.

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, o governo do Reino Unido encomendou à Universidade de Cambridge, sob coordenação do Professor Sir Partha Dasgupta, um relatório sobre as potencialidades econômicas da sustentabilidade, em que foi concluído que a degradação ambiental, ao afetar o acesso à água, à alimentação e aos serviços públicos de qualidade, aprisiona os seres humanos na armadilha da pobreza ambiental.

Resumindo: enquanto as alternativas populistas são ambientalmente nocivas, socialmente precarizantes e governativamente opacas, as opções liberal-democráticas provam que desenvolver os valores “ESG” é, em última análise, cuidar das pessoas.

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos
Humanos e Sociais. Escritor, professor e palestrante


Sabemos ouvir as urnas? 

A Democracia é, como se sabe, o governo do povo. Dito em outras palavras, é a construção de políticas públicas de acordo com os desígnios da maioria, respeitada a dignidade das minorias, sempre com a finalidade de concretização dos Direitos Humanos. Esses não constituem a panaceia aparelhada por certos grupos políticos que tanto desgastam seu próprio conceito. Na verdade, eles podem ser conceituados como a estruturação de iguais oportunidades, a partir das quais, mediante esforço individual, cada pessoa tem a livre oportunidade de desenvolver suas capacidades.

Importantíssimo, portanto, para o bom funcionamento democrático, que cada recado depositado nas urnas, na forma de votos, seja devidamente decifrado. O bom andamento democrático deita seus fundamentos, portanto, na decodificação da função comunicativa inerente a cada escolha eleitoral. Essa, assim, só poderá ser bem entendida por aqueles setores que se mantiverem relacionados à realidade popular, e nunca por aqueles que, descolados do contexto fático nacional, tentam impor agendas e ideologias importadas e pouco eficientes (ainda que, para esses grupos sociais, elas sejam altamente sedutoras).

O povo não suporta a arrogância! O povo envia recados pelas urnas: cabe aos atores políticos de sucesso decifrá-los. Culpar o cidadão pelo “voto errado” é uma maneira confortável de ampliar a desconexão entre aqueles setores que se arvoram de iluminados e ilustrados e os setores realmente populares. Vale lembrar que a vida cotidiana acontece longe das redes sociais, dominadas pelo “bom-mocismo de conveniências”, pelos “tribunais inquisitoriais da opinião pública” e pelo descolamento com a realidade.

O clamor proveniente das urnas foi claro: Nada sobre nós, sem nós, disseram os eleitores! Os cidadãos demandam ser atores ativos na construção de estruturas socialmente livres, inclusivas e justas, e não meros espectadores, passivos e tutelados por poucos iluminados, divorciados do contexto popular real. O recado foi nítido: não ao artificialismo de narrativas impostas e contrárias aos afetos populares.

Todo liame com a população deve estar firmemente vinculado ao mundo real e às dificuldades cotidianas. Os valores da Educação, Trabalho, Liberdade, Inclusão e Justiça devem ser concretizados à luz da comunicação democrática saída das urnas. Vale dizer que se o mundo político estiver, efetivamente, buscando a satisfação das demandas populares, ele deverá ter em mente que as reais políticas públicas inclusivas são originadas e oriundas da iniciativa privada.

Só com a escuta atenta de cada necessidade individual será possível a estruturação do desenvolvimento nacional livre, inclusivo e justo!

André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos
Humanos e Sociais. Escritor, professor e palestrante


Descubra quem você é para transformar o mundo ao seu redor

A transferência de culpa ao coletivo é uma armadilha cada vez mais eminente e que pode arruinar times, empresas e famílias. Em minha própria vida fui percebendo que, diante de um mundo cada vez mais caótico e volátil, era fácil me tornar um especialista em identificar problemas, em reclamar e criticar a “sociedade”, a “equipe”, a “empresa” e até a “família”.

Mas, repare nas palavras destacadas entre aspas. Vê algo em comum entre elas? Todas se referem a um coletivo! Com isso, é possível entender com clareza como cada um de nós se posiciona acima da “coletividade”, o que nos leva a assumir cada vez menos responsabilidades, uma vez que tendemos a terceirizá-las para um “todo” que supostamente não nos representa.

A validação estatística dessa percepção é muito bem colocada pelo economista, professor e autor Eduardo Giannetti, que cita estudos nos quais uma amostra de brasileiros foi submetida à algumas perguntas sobre o indivíduo e o coletivo (·). Por exemplo, perguntou-se para um grupo de pessoas “você se considera racista?”, de modo que 98% respondeu “não”. Para essa mesma amostra de pessoas, então, fez-se uma segunda pergunta: “o brasileiro é racista?” a que 80% respondeu “sim”.

Esse tipo de contradição nas respostas mostra que individualmente as pessoas não se reconhecem nas deficiências que veem no mundo ao redor delas. Ainda que todas elas juntas, sejam exatamente o que acontece no mundo. Como escreveu o filósofo francês La Rochefoucauld: cada um de nós descobre nos outros as mesmas falhas que os outros descobrem em nós. E este é o caminho de entrada pelo qual começamos a perder as rédeas de nossas vidas e deixarmos de lado o protagonismo de nossas carreiras.

A solução é retomar a ênfase na responsabilidade individual, afastando-se da culpa do coletivo. Afinal, não se muda um conjunto senão modificando as peças que o compõe.

Logo, qualquer evolução, projeto ou batalha, não há outro ponto de partida senão o próprio indivíduo. E é para estruturar estas bases de entendimento que a metodologia da Autoliderança Antifrágil foi criada. Ela propõe expandir a consciência individual, trazendo cada pessoa para dentro de si mesma antes que se projetem ao mundo, entregando ferramentas, métodos e o passo-a-passo para reestruturarem-se, reorganizarem-se e reposicionarem-se, alcançando, o desenvolvimento de si e do ambiente que as circundam.

Os 5 pilares fundamentais da metodologia são: (1) Autoconsciência, que ensina a ter clareza de quais são suas forças, seus potenciais, além de como ter controle sobre as circunstâncias; (2) Autorreflexão, para descobrir sua função no mundo e determinar os valores guias da jornada; (3) Autorresponsabilidade, para te dar as bases e ferramentas na construção de compromissos, empenho e senso de dever; (4) Autoignição, que propõe programar a mente para se entregar, agir e viver sua melhor versão; e (5) Autorregulação, estruturando a forma de monitorar e controlar não apenas as suas escolhas, mas também as consequências delas, ajustando a rota quando necessário.

Assumir a responsabilidade e ser a referência de si mesmo, fortalecer indivíduos para evoluir coletivos. Algo que Mahatma Gandhi descrevia como “seja a mudança que você quer ver no mundo”. Autoliderança Antifrágil é sobre isso!

·  Estudos citados em sua palestra que pode ser acessada em: https://www.youtube.com/watch?v=FoiUvQ-YA9I&t=3250s

Victor de Almeida Moreira é engenheiro de produção, com MBA em Engenharia de Custos,
 gestor de projetos da Mineração Rio do Norte, a maior mineradora de bauxita do país, 
e autor do livro (Auto)liderança Antifrágil, publicado pela Editora Gente


Cuidado ao olhar para o abismo ...

Há um bom tempo li um texto de Nietzsche que gostaria de compartilhar com o leitor:

“Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E, se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.” 

Recordo que, ao me deparar com essa leitura, fiquei tanto intrigada quanto assustada, pois, além de querer entender mais sobre o tal abismo, queria também perceber se em algum momento de minha vida teria eu me transformado naquilo que tanto temia, ou, combatia. (E confesso que isso mexeu comigo!).

Não conseguirei aprofundar o texto aqui, pois há diversas interpretações para os questionamentos do filósofo, todavia, a mensagem que gostaria de destacar é que aquele que luta com (ou contra) monstros deve tomar cuidado para não tornar-se também um monstro! Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha de volta para você. O perigo está em, sem que se perceba, nos tornarmos iguais àquilo que tanto criticamos ou abominamos…

No campo da psicologia há o termo espelho, que define que conseguimos ver nas pessoas comportamentos que não gostamos em nós mesmos, que não aceitamos, mas que, de certa forma, não conseguimos perceber, pois está oculto ao nosso olhar. Por exemplo, uma pessoa controladora, agressiva, acusadora, conseguirá perceber essas falhas no outro, porém, dificilmente compreenderá que comunga do mesmo comportamento, da mesma atitude que tanto critica. 

A questão do abismo vai além, são inúmeros os temas a serem refletidos, contudo, o que me chama a atenção é a forma como agimos (ou reagimos) quando estamos diante de dificuldades, tormentas, sofrimentos (como a morte de quem muito amamos). O que ocorre em nosso interior, a forma como nos comportamos quando a vida, abruptamente, nos confronta, inevitavelmente.

Porque, se não tomarmos consciência, poderemos nos transformar justamente naquilo que tanto recriminamos (ou odiamos), caindo nas profundezas do abismo…

Muitos são os monstros com os quais podemos nos deparar. Situações de injustiças, indiferenças, de falta de caridade (ou maldade mesmo), porém, creio que o mais importante não seria descrevê-las, mas, deixar ao leitor a possibilidade de examinar a si mesmo, entender o que ocorre em seu interior, a atitude que expressa diante das contingências do dia a dia, que podem também revelar quem somos de fato…

Veja que, por vezes, recebemos algo que consideramos não merecer, que cremos ser injusto, todavia, sob outro olhar, poderá haver queixas a nosso respeito, com um ponto de vista oposto. Podemos, em algum momento, sermos também responsáveis por infligir dor, causar sofrimentos em pessoas, mesmo que não tenhamos consciência. Porque somos humanos, passíveis de erros (por isso costumo rememorar a mim mesma que existe a misericórdia, virtude acima da justiça). 

Creio ser importante o autoconhecimento, buscarmos entender a forma como agimos ou reagimos (a reação é involuntária, fica no inconsciente), para que os ciclos não se perpetuem.
Difícil. Mas não impossível. Temos a capacidade de refletir, de corrigir rotas, de não aceitar o inaceitável e, caso não consigamos fazer as mudanças necessárias, podemos, ao menos, não ficarmos parecidos com o que tanto rejeitamos.

Assim, creio que o abismo não nos olhará de volta!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Saúde mental é o que interessa 

Com a retomada da vida pós-Covid, o novo normal não nos parece assim tão normal. A questão sobre o que é voltarmos ao que era antes é muito subjetiva e depende do significado que a pandemia teve para cada um. Se por um lado conseguimos entender melhor alguns sentimentos, por outro o isolamento social nos trouxe problemas e emoções mal digeridas.

A pandemia foi um estressor crônico que desarranjou o sistema nervoso. No lado profissional, altas demandas e carga horária sem limites. No pessoal, ela nos forçou a olhar para dentro e perceber quais são as áreas da vida que estão em desequilíbrio. Com funções diversas acumuladas e com as cobranças internas e externas, a adaptação nos trouxe exaustão, angústia e cansaço. Por conta destas situações, alguns transtornos mentais surgiram e outros pré-existentes ficaram mais intensos.

Segundo pesquisa do Instituto Ipsos (2021), encomendada pelo Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros declararam que o bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmam que o Brasil tem a maior prevalência de transtornos de ansiedade nas Américas, com 9,3% da população, bem como a ansiedade, relatada por 5,8% dos brasileiros. Os dados ainda mostram que a cada ano cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida. No Brasil, ocorrem cerca de 32 mortes diárias por suicídio. 

Com estes dados percebemos que a piora na saúde mental da população brasileira é um fato. Um problema real, não uma ‘frescura’. No meu livro “E agora? Como ficam nossas emoções após a pandemia” trato os temas citados acima. Junto com um time de especialistas, como Maryana com Y, Izabella Camargo, Joel Jota, Camila Magalhães, Daiana Garbin, Thiago Godoy, Cinthia Alves e Cláudia Tenório, falamos ainda sobre o transtorno ligado ao esgotamento profissional, ansiedade alimentar e até mesmo a ansiedade financeira.

Neste mês, a campanha Setembro Amarelo aborda questões relacionadas à saúde mental, especialmente o suicídio. Os temas discutidos ainda são considerados tabus pela sociedade, mas a ideia é conscientizar as pessoas de que elas não estão sozinhas, podem procurar apoio e ajuda médica para um tratamento eficaz.

Este movimento é de fundamental importância, pois reforça não somente o debate em torno do problema, mas também alerta a população para as devidas soluções. Como resultado, a campanha colabora para o desenvolvimento de uma sociedade mais sadia e civilizada.

Como a grande maioria dos transtornos é de controle, com os que são crônicos, precisamos ter um enfoque de cuidado. É importante deixar claro e difundir a ideia de que recuperar o equilíbrio interno é possível com a ajuda de especialistas, medicamentos e técnicas comprovadas cientificamente, como a psicoterapia, a meditação, os exercícios físicos, a gratidão e, porque não, o bom humor.

Temos à disposição dois elementos transformadores, a resiliência – a habilidade para superar adversidades nos momentos difíceis – e a empatia para se colocar no lugar do outro. Com eles, podemos melhorar nossas relações e, diante de toda a complexidade do mundo, nos tornar aptos a criar uma vida melhor.

Ana Paula Peña Dias é neurologista, palestrante e autora do livro
 “E agora? Como ficam nossas emoções após a pandemia”.


Onde iremos?

Em nossa vida temos necessidade de fazer escolhas. Jesus teve que escolher o caminho da fidelidade ao Pai quando tentado no deserto. Os discípulos de Jesus também tiveram que fazer a escolha: seguir o mestre ou abandoná-lo. É disso que trata o relato do Evangelho de João 6, 60-71, que nos coloca algumas questões: Você realmente escolheu Jesus em sua vida? Essa escolha é assumida? Você a vive? 

Este relato evangélico mostra-nos Jesus, no auge de sua missão. É famoso e todos esperam que ele seja um Messias glorioso, guerreiro, vitorioso como os conquistadores deste mundo, que se impõem pela força e astúcia. Jesus, porém, mostra que não é este o caminho. Isto vai gerar uma crise. 

Jesus diz que as glórias e conquistas terrenas (carne) de nada servem, sem o espírito (vida na fé). Precisamos de um impulso que venha de fora de nós, é a fé, dom de Deus que devemos acolher. A exigência da fé é radical, torna o seguimento de Jesus radical. 

Jesus afirma sua condição divina: veio do Pai e para Ele voltará, por isso, tem poder de ressuscitar os mortos, diz ser alimento, “pão” para a vida do mundo. Jesus quer dizer que Ele não é um Messias materialista, mas é o Filho de Deus e tem poder de dar a vida eterna. Quem quiser esta vida, deve se alimentar Dele, de suas palavras, ou seja, viver Dele que é a vida, segui-Lo por que é o caminho e aceitar sua doutrina porque é a verdade. 

A encarnação de Jesus e a Eucaristia são a pedra de toque de nossa fé cristã, e a adesão a Ele, nos obrigam a nos posicionar. Ou nós aceitamos ou nos afastamos Dele. Muitos O abandonam! Jesus decepcionou muita gente que acreditava em Deus só para levar vantagem, pensando somente em si. Achavam que podiam amar a Deus sem amar o próximo. 

Jesus não prometeu glória mundana, nem prosperidade material para ninguém (teologia da prosperidade). Ele prometeu sim, vida plena para todos, vida que não tem fim e ensinou a conseguir isso: amando o próximo, entregando a vida no serviço, sendo “pão” para os irmãos. A realeza de Jesus consiste em amar e servir. Jesus ensina que vida é para ser partilhada e não egoisticamente. 

Judas é o tipo da pessoa que no seu egoísmo não entendeu que a vida é para ser vivida no amor. Ele escolhe entregar as pessoas à morte e por fim entregar-se à morte por orgulho. Ou escolhemos seguir Jesus e assim chegamos ao Pai que é vida eterna, ou abandonamos Jesus e abraçamos os projetos que levam à morte.

Muitos abandonam Jesus e Ele pergunta aos doze apóstolos: “Vocês também querem ir embora?” Pedro diz então: “Aonde iremos? Só tu tendes palavras de vida eterna” (Jo 6,68). Os que permanecem reconhecem que Seus ensinamentos conduzem à vida.

Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André


Resquícios de algum momento 

Semeio o meu silêncio nas noites escuras para colher o sol no seguinte. Leio o meu livro, poetizo alguns versos e a fome é insaciável. Eis um texto, leia e interprete como lhe convém: Subtraí os extremos e atraí todas as lassidões de um caos momentâneo e cães ferozes a morder os calcanhares. Diz-me da incompreensão perfazendo em ecúleo o súbito espírito nas masmorras dos míseros que insultam a verdade em tácitos momentos. 

O trem já partiu, a estação ficou no passado mergulhado em recentes memórias em ávidos momentos. Metamorfoseando o absurdo, absurdamente absurdo. Um café e o gélido frio de outrora. Um convite para uma festa, não posso ir, tenho compromisso. Hoje não almocei e o jantar está esfriando. Espero um dia calmo para escrever alguma coisa, talvez para impressionar os leitores. Vou continuar lendo nas entrelinhas do absurdo. 

Caminham por aí em grandes tentações perturbando os inócuos momentos dos instantes prazeres do balbuciar das infâmias e das injurias em dias tediosos.  A essência das coisas ruins, sob o descaminho desiludido das infindas noites de lua passageira. E palavras indecifráveis sobre o dissabor dos dias em estilhaços, ungidos aos fluidos nas aventuras dos tortuosos caminhos. 

Mas o mundo abandona o próprio mundo. E sob as tempestades nascem os girassóis. E ainda o tempo insiste que existe algo mais do que a simplicidade de uma existência e a profundidade da dor. Teimosamente avançam os ponteiros das incertas horas e o tempo se faz areia e o deserto nutri à alma.

Tão só como a solidão. Como um momento que fez instante e se perdeu. Como um olhar que insiste em olhar e esqueceu. Esqueceu a suavidade e o sorriso que não sorriu. Lembra-me o silêncio de uma tarde próximo ao jardim. Ainda um sonho insiste em sonhar e um olhar a me olhar. Na penumbra em um pouco de ternura, tão só como a solidão. Tece a noite o fio da lua num brilho de uma estrela qualquer. Diz as palavras em simples versos em uma estranha poesia que busca suas rimas no simples e no complexo, e na profundidade da existência.

Insana inquietante e muitas vezes cega. Mesmo assim seria dos meus momentos, um tempo que está por vir. Os últimos instantes de um desejo vil. Não seria assim, não seja tolo, apenas seja alguém. Alguém para falar e para ouvir. Ainda que pudesse ver não seria, não seria possível, não seria o tempo e não há. Insana, inquietante e absolutamente vazia. Tão pouco e muito menos ainda, algumas vezes sim em outras vezes não. Inquietante e lúcida, lúcida e às vezes insana. As noites frias de inverno querem para si todo o calor momentâneo dos dias que passam sob os resquícios de algo inimaginável. 

O gosto amargo do amargo gosto que escorre pelas faces do absurdo. Um pouco do gosto de qualquer gosto. Do doce amargo do amargo gosto. Nas noites efêmeras sob os quiméricos momentos que passam por entre as frestas da imaginação em outros instantes de um momento que se fez. Fez o momento e do momento fez um instante e do instante fez a imaginação para imaginar a si mesmo. Um livro para ler o mundo e depois caminhar por caminhos nunca antes imaginado. 

Em minha frente um abajur quebrado. Livros na estante e palavras caladas. No silêncio, os resquícios de luzes. E pedaços de cristais em fragmentos de pensamentos. Papéis amassados, revistas, jornais, canetas, letras, palavras, frases, versos, poesia e poemas. E um vento curioso entra pela fresta da janela suavizando as palavras, oxigenando a consciência. 

Um dia talvez um sonho me acorde de repente. E os momentos serão intermináveis. As lágrimas florescerão um jardim de esperança. Um dia talvez o mundo seja melhor. Talvez o ópio, o tormento e um sonho entre as noites escuras. E nos labirintos da vida, entre as curvas no acaso, o sossego das manhãs entre os raios de sol. 

Palavras de um texto distante e a hermenêutica dos momentos. Suave e serena é à noite. Abençoadas sejam a estrela e a lua e o sol de todas as manhãs. Suave é a brisa a afagar a face humana do mundo e enxugar as lágrimas do homem. Hoje conversei com a lua, visitei o sol e tracei a linha do horizonte.

Essência. Existência. Insistência. Persistência. Ciência e sapiência. Consciência e complacência. Paciência, ousadia, sintonia, empatia e utopia. A flor é a essência. A flor é a existência. A flor é a resistência. A flor é a insistência. Depois das rimas, o frio do inferno e vem chegando a primavera. Deixe a flor florir, o sorriso em riso, o dia amanhecer, a noite chegar e a semente germinar. Tracei o meu horizonte e desenhei outras manhãs. 

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Eleitos ou escolhidos pela Presciência? 

Sempre me pareceu um mistério ler na Bíblia que Deus tinha, e tem, os seus eleitos. Recordo que ficava intrigada, querendo compreender, conhecer essas pessoas que conseguiram agradar a Deus... Confesso que desconhecia o sentido de eleição. Certamente que Deus não faz distinção de pessoas, não escolhe alguns e pretere outros. Ocorre é que em Sua Onisciência, conhece o futuro, sabe quem são aqueles que lhe serão fiéis, que O amarão, até o fim! E, sabendo de antemão o que ocorrerá com cada um de nós, Ele elege os seus amigos (quero muito!).

Como bem esclarece a Palavra: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, [...] escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus”

E há um trecho do Livro de Êxodos que toca profundamente meu coração: “O Senhor falava com Moisés face a face, como alguém que fala com seu amigo”. (Face a face. Nem consigo representar em palavras o que sinto quando leio). 

Creio que Deus, desde o início, desejou a companhia amiga do ser humano, pois fomos criados para estar com Ele, por Amor. Vemos, em Gênesis, que Deus passeava pelo jardim do Éden para conversar com Adão; queria a companhia dele. Mas Adão, todavia, optou pelo orgulho e desobediência, afastando-se de Deus. 

E como podemos ser amigos de Deus? (quero muito). 

Na Sagrada Escritura, por diversas vezes aparece as virtudes dos eleitos: obediência, amor incondicional, adesão ao bem, oração e infindáveis exemplos de como agradar a Deus. Mas, creio que, para ser amigo de Deus, é necessário um primeiro e importante passo: a decisão, a escolha por estar na companhia do Senhor, por desejar, do fundo do coração, ser amigo de Deus. Querer estar com Ele. Procurar agradar a Deus. Silenciar a alma. Colocar-se em adoração. Adorar não é dizer palavras e rezas intermináveis, mas, aquietar o espírito: colocar-se diante de Deus: Face a face. Talvez sem pronunciar palavra alguma, mas, em silêncio, ouvir o que o Senhor tem a dizer. 

Não existe uma fórmula para ser eleito, mas, certamente, os que o são agem de forma diferente, pois se assemelham Àquele que tanto amam. Os eleitos se evidenciam por seu comportamento, pelo empenho no bem. 

E, me desculpe pela inexatidão e simplicidade das palavras, mas me parece que Deus se sente sozinho, pois sofre a nossa ausência, anseia pela nossa companhia. A impressão que me dá é que, mesmo tendo criado milhões e milhões de pessoas, não são tantos os que desejam estar em Sua Presença. 

Para finalizar, gostaria de compartilhar a leitura de duas orações que tocaram profundamente minha alma, do livro “Encontro”, de Frei Larrañaga:

“Parar”: 
Como é bom parar! Senhor eu gostaria de parar agora mesmo. Por que tanta agitação? Para que todo esse frenesi? 
Já não sei parar. Esqueço-me de rezar. Fecho agora meus olhos. Quero falar contigo Senhor. 
Porque tanta pressa? Por que tanta agitação? Eu não posso salvar o mundo! [...].
Não estou fazendo nada, não estou com pressa. 
Simplesmente: estou diante de Ti, Senhor. 
E como é bom estar diante de Ti!
Amém.

“Face a Face”: 
Dia após dia, Senhor de minha vida, fiquei diante de Ti. Face a face. 
De mãos postas, ficarei diante de Ti, Senhor de todos os mundos. Face a face. 
Neste mundo que é teu, em meio às fadigas, ao tumulto, às lutas, à multidão agitada, 
hei de manter-me diante de Ti. Face a face. 
E, quando estiver acabada minha tarefa neste mundo, ó Rei dos reis, só e em 
silêncio, permanecerei diante de Ti. 
Face a face!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


No sossego de uma tarde vazia 

Apego-me aos momentos e sigo a linha do horizonte. Entre as frias noites o bocejo da lua e as estelas em exuberância. Um pouco de saudade em memórias já esquecidas. Ouça, ouse e declame uma poesia ao infinito. Qual será o sentido da frase dita por Jean-Paul Sartre quando disse que “O inferno são outros”. O que ele quis dizer? “Tudo vale a pena se a alma não for pequena”, Fernando Pessoa.

Talvez seja os próximos instantes de um tempo qualquer se disfarçando em sonhos só para viver os próximos momentos. Tudo em si para ser outro em outras noites, em outras estrelas só para brilhar outra vez. Como é bom sentir o fluir de tudo, o fluxo que me faz fluir toda a fluidez humana. São o versos carregados de sentimentos e carregando em si mesmo todo o sentimento do ser. A essência exala o hálito de Deus como um perfume que suaviza a vida. O poeta, a poesia, os versos e as veredas dos ávidos caminhantes. 

Trouxe-me a noite em uma mão, em outra trouxe-me o sol. Semeou a semente e floriu a vida com as cores da imaginação. Cansado, sentou-se às margens do caminho. Dormiu por um instante e acordou em outros momentos entre as incógnitas do acaso. Alguém conta uma história e mais um dia que passa. O que o dia de hoje me ensinou? O que fiz que não senti o dia passar? Será que o tempo está passando rápido demais?

Era outro dia. Era outra noite. Era a lua, eram as estrelas. Trouxe-me a noite e deixou o sol esperando na outra esquina, próximo a um lugar qualquer. Trouxe-me algo e soprou o vento e levou-me para longe de mim. Não sei, não conheço esse lugar, nunca estive aqui. 

Platão e o mundo das ideias. Sócrates e os sofistas e a ética Aristotélica. Mergulho no mais profundo enigma, não sei explicar, tudo parece inexplicável. “Conhece-te a ti mesmo”. O ser humano é mal por natureza, é o lobo de si mesmo, afirma Thomas Hobbes. O ser humano é bom por natureza, a sociedade que o corrompe, afirma Jean-Jacques Rousseau. O ser humano está condenado a ser livre, provoca-nos Jean–Paul Sartre. Nós estamos condenados a ser livres? Como? Para Sartre, a liberdade não é uma escolha, é uma condição da própria existência humana. 

Uma mão afaga o momento, enquanto a outra se despede dos instantes. Trouxe-me os versos e poetizou o sol para em seguida se perder nas noites escuras. Quem é você? O que te inspira?  O arco-íris tem sete cores. A imaginação é multicolorida e o tempo está passando rápido demais. A poesia do acaso. A crônica do absurdo. O conto da meia-noite e as cantigas de ninar. A fome, a sede e a busca de si mesmo. 

Um dia sem fim, apesar da infidelidade do tempo. Uma crônica ao longo dos intermináveis momentos e o planeta se equilibra num fio de esperança. Os dias amanhecem, todos os dias amanhecem. E o voar de um pássaro nas extremidades dos distantes jardins sob o afago das flores no sossego de uma tarde vazia.  

Uma nuvem, não sei, mas parecia que ela queria tê-la consigo apenas um verso. Um verso para alimentar esse profundo silêncio. Não culpo a natureza pelo seu silêncio. Também não vou culpar a poesia por me alimentar com esses cortantes versos poetizando o silêncio e nele se encontrar. O silêncio me convida para sempre estar ao seu lado. Por vezes, me sinto por inteiro. Em outras vezes, algo suscita em mim alguns versos que querem-me como refém. O silêncio que mora em mim. É o silêncio dessas tardes vazias e das manhãs cheias de mim que me querem transbordar-me. É o silêncio que me aconselha quando o barulho em mim é algo perturbador. Apego-me aos seus zelos e refugio-me na profundidade desse sublime silêncio e em seguida afagar a vida na intensidade desses longos versos.

A existência e a essência degustam um cálice de esperança ao sabor da desventura humana. Extasia-se com a beleza de ser e bebe o vinho da sabedoria e brinda a plenitude de um dia feliz. Para sempre não há, só por agora, o instante que transpassa o momento e perfaz os sonhos na suavidade sublime de uma vida cheia de esperança. O amor em sublime canções e em cortantes versos como poetizou Luís Vaz de Camões: “O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é contentamento descontente, é dor que desatina sem doer”.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


A fronteira entre o nada 

A noite está escura, mas tudo está esplendidamente claro e calmo. Entre a fronteira de um pensamento, um sentimento precisando seguir em frente, mas não sabe qual direção seguir. A fronteira entre o nada, e nada pela frente. Talvez um caminho cheio de curva ou um jardim esplendoroso. Talvez um pensamento cheio de dúvidas, duvidando de si mesmo.

O que quer de mim a dúvida? Num canto da vida, o inexplicável, a lógica da vida é extremamente a ilógica de tudo. O caminho nem sempre nos leva ao paraíso. E assim, se desfaz o dia e se faz a noite, dando vida ao novo dia e em tudo que está por vir. Na busca de sentido, tem-se a sensação que tudo passa a não fazer sentido. Nos quintais da vida, flores e essência e um pouco de paz para ver o novo dia. 

E um olhar se perde na imensidão do nada. Nada é para sempre, suporte essas dores, é só por esse momento. Tudo aos poucos se ajeita e essas lágrimas não são por acaso. Assim, o fluxo do mar, e assim, ao que tudo indica a marcha do sol, e o sonho da humanidade. E assim o silêncio entre absurdos e absurdo se faz em um pouquinho de qualquer coisa escondido entre a fronteira do nada ao sabor dos dias que estão por vir.

Do outro lado, um olhar em lágrima e um coração ferido, ferindo-se a si mesmo. Como se tivéssemos em nós o lado mais doído de uma dor que nos alimenta. Alimenta o caos e se equilibra nos vagos pensamentos que levam para outra margem para desbravar o lado desconhecido do mesmo caminho.

Um caminho, então segue, mesmo não sabendo onde quer ir. “Para quem não sabe onde quer ir qualquer caminho serve”. O que nos espera na próxima esquina? E o amanhã pode nos preocupar? Não quero pensar no amanhã, quero o hoje e todos os momentos que faz ser quem sou. Um pouco de um tempo para desfazer e refazer em outros dias. Em outros momentos as águas de outros rios irrigando os desertos da vida. Tanto faz, a terra quer um pouco de sol e as tardes podem ser todas iguais.

A existência humana e toda a nossa potência e ao mesmo tempo toda a nossa impotência diante de toda a grandeza que nos cerca. Quem somos nós frente a tamanhos desafios que possibilita e impossibilita o desenvolvimento da humanidade como um todo? Somos seres totalmente vulneráveis e nossas relações são tão frágeis. Frágeis ao ponto de não suportarmos e nos destruímos uns aos outros pela nossa própria arrogância e prepotência. Somos profundos, mas preferimos navegar nas superficialidades. Somos naturais, mas apostamos que é melhor viver na artificialidade. 

Falando um pouco de tudo, sobre o nada e sobre o todo. Sobre coisas que nos dizem respeito. Os erros e os acertos, a mentira e a verdade e a ilusão de todos os dias. A literatura humana e o paradoxo do mundo no paradigma do conhecimento. O texto e o contexto, o fazer já se desfazendo perpassando o escuro em um feixe de luz. 

A fronteira entre o conhecido e o desconhecido, entre a certeza e a incerteza e tendo a dúvida como ponto de partida. Imaginar o conhecimento e inventar outra imaginação, imaginando outras dúvidas. A fronteira entre a chegada e a partida. Entre o sonho e o pesadelo. Entre a fome e à saciedade.  A fronteira do eu desconhecido e o ser entre o nada e toda busca de nós mesmos. 

Nutre os sentimentos e alimenta o acaso que rasga a pele no avesso da alma. São todos os sentimentos vagando entre versos e palavras em busca de refúgio, se escondendo de si mesmo. Um sonho sonhando e a esperança de um dia para sempre, entre flores em agonia e versos em dores e nas dores que choram as vidas ceifadas pelas rudezas dos corações embrutecidos.

As mãos que esmola na próxima esquina nutre as migalhas que alimentam a nossa mesquinhez. Anda cabisbaixo por entre ruas estreitas, rastejando por um pouco de dignidade. Desce do pedestal e anda pelas ruínas dos castelos e mansões nos jardins de ilusões. Farta a fome de espírito para depois bradar o seu poder sobre tudo. Em seguida, junta tudo e guarde ao lado, próximo ao um lindo jardim nutrido pela ignorância com um pouco de arrogância ao sabor da insanidade. 

A faca cega e os olhos que tudo veem. O corte exposto, o sangue e a veia e um dia inteiro para se fazer noites em pedaços. Sonhos em fragmentos em tolos sentimentos e fluídos de pensamentos. Na penumbra da noite, vejo as flores no deserto sob os enfáticos olhares que me olham. E o caminhar entre o nada e chegar à próxima estação. Ainda há versos em noites frias, ainda há sorrisos na face tímida da inocência. Ainda há melodia tocando o silêncio dos corações. 

Um alento ao tempo e as águas fluem formando outros rios, desertificando corações e mentes. Há muito ainda a ser feito e muito ainda para ser dito. Os ministérios do mundo, por favor, não me decifre que eu te devoro. As ruas das grandes metrópoles, a solidão em meio à multidão e um sonho nômade que não quer acordar nas frias manhãs de inverno. Inverno que aquece a poesia nos versos que se humaniza e se entrelaçam em plena imperfeição. 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


A apatia Estoica 

Conhece? Tem aparecido em várias correntes de pensamentos, em doutrinas, na educação, de um modo geral. São mensagens que apregoam a atitude estoica, mas que não corresponde fielmente ao estoicismo da antiguidade. De forma breve, vou descrever o significado, apesar de ser um tema complexo, que exigiria maiores reflexões.

O estoicismo surgiu na Grécia, em Atenas. Zenão foi o impulsionador da doutrina; acreditava na felicidade humana com base no abandono da emoção, na ideia de que tudo é comandado pelo destino e nada do que façamos alterará o percurso dos acontecimentos. O estoico é aquele que permanece inabalável perante o sofrimento, injustiças, desgraças, apresenta-se sempre imperturbável, insensível.

Você pode se questionar: mas isso não é bom? Sim e não. É importante aprendermos a controlar as emoções, estar no comando das ações. Há uma leitura interessante a respeito: “Meditações”, de Marco Aurélio, em que ele ensina o caminho da virtude, do controle das paixões. O problema é quando esse controle excessivo gera a ataraxia (falta de sensibilidade extrema), quando a insensibilidade deixa a pessoa desprovida de sentimentos, compaixão ou mesmo: na ausência da caridade.

O mundo estóico tem a visão determinista (também chamado de destino), em que não existe o livre arbítrio, não podemos mudar as causas, efeitos, acontecimentos, mas, apenas aceitá-los, com resignação e conformação, e, o mais grave: na autossuficiência.

Repare que quando contamos somente com nossas próprias forças, quando acreditamos que não podemos transformar a realidade e que não há mais esperança, não é apenas a resignação ou a adaptação que se instala, como também a apatia, a paralisação e até mesmo o suicídio, preconizado fortemente nesta corrente, como mecanismo de escape ao sofrimento.

O estoico aprende a se conformar com as situações, sejam injustiças graves, tristezas e, dentro desta visão é possível dar cabo da própria vida, caso considere-a insuportável demais.

Ora, mas a desistência da vida é justamente o contrário do que prega o Cristianismo, que não ignora nem evita o problema do sofrimento, mas, antes, ensina sobre o propósito de nossa existência, em que o Cristão tem o suporte no próprio Deus. Um Deus que se fez menino, resgatando-nos por meio do sofrimento terrível da Cruz!

O estoicismo está presente na educação quando pais deixam de exercer a autoridade e permitem que seus filhos vivam no hedonismo, na maximização da felicidade, em que o direito prevalece e supera o dever. Assim, em uma educação apática, permissiva, filhos aprendem a agir de forma inconsequente, insensível, no egocentrismo, pois sabem que a impunidade os protegerá.

Muitas famílias permanecem insensíveis, inabaláveis diante de situações que exigiriam a correção, reparação e, no mínimo, o pedido de desculpas. Fingem que nada de grave está ocorrendo, minimizando o erro, mesmo que estejam diante de uma situação problemática, que poderá gerar sofrimento ou mesmo a morte de alguém.

Assim, muitas crianças agem de forma irresponsável porque não aprenderam a se responsabilizar pelos erros. A consequência são seres insensíveis, ingratos, na expressão de birras ou no desamor, e, dificilmente aprendem a ter resiliência.

Não quero dizer que é para nos abalarmos com tudo, para repreendermos a todo instante, como críticos punitivos diante de questões corriqueiras, mas, sim, que devemos mostrar às crianças que atitudes erradas precisam de correção, do reconhecimento do erro e da reparação, seguida, impreterivelmente, do pedido de perdão. Isso denota humildade, compaixão, gratidão, caridade - valores talvez um pouco olvidados.

A educação tem essa responsabilidade. Razão e sensibilidade. Correção e amor. A história ainda não foi escrita. Nada está determinado. Há, ainda, muitas possibilidades...

Em um devir: histórico, ontológico, e, acima de tudo: espiritual!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


A imensidão do vazio 

Os detalhes de um dia sob a visão enigmática do acaso que dorme nas calçadas à espera do inesperado. Andam por aí entre sonhos e pesadelos, passos desalentados em caminhos descaminhados sob afago da desilusão desiludida. O tempo e a voracidade do cansaço e as estranhezas dos momentos que dorme ao sabor do acaso. Às noites contemplam as estrelas e o sol entre nuvens aquece os versos e faz brotar a poesia nos quintais da existência.   

De um lado a imensidão do imensurável vazio e as perturbadoras incógnitas que sacia o caos na faminta voracidade que alimenta o corpo e não nutri a alma. Do outro lado, outros caminhos alimentam os passos que devaneiam em absurdos e desenham o precipício entre o horizonte e o infinito e toda a contradição da nossa condição humana. Seguem adiante, lobos e ovelhas cultivando a civilidade, bebendo a água podre de um poço sem fundo. 

Entre muros e quintais, o lixo exposto e as moscas saboreiam a liberdade. Pensamentos que vagueiam e se perdem em si mesmo, desfazendo o caminho no próprio caminhar. Ouça, escute e desfrute as balburdias sob noites escuras e olhares distantes. Dorme, pois as noites são longas e não se preocupe quando o dia amanhecer. O barulho, o silêncio e as pessoas em busca de algo para satisfazer momentaneamente a fome de si mesmo.

Num restinho de dia, um pouco mais, um pouco menos ou mais ou menos, não importa. Sob o tempo um vento suave leva consigo muitas histórias. Antes de uma tarde qualquer esperando à noite em um momento qualquer. Depois das lágrimas tudo se aquieta e um novo dia amanhece para contar novas histórias. Sob o tempo às margens nessas estreitas veredas em passos incertos pelos caminhos do mundo.  

Hoje faz um lindo dia. É de manhã, beirando mais ou menos as seis. O despertador já me avisou que é hora de acordar. Enquanto isso, um sonho sonhando esperando que tudo de bom aconteça. Todas as pessoas querem ser felizes e buscam a todo o momento a tão esperada e aguardada felicidade.  

Na verdade eu não sei, não sei, mas isso não me preocupa. Imagino tudo se fazendo e se fazendo. Imagino um dia de chuva em pleno sol do meio dia. Contam-se os dias, passam-se as horas, compõem-se outros versos e se perdem nos mesmos caminhos. Não sei contar histórias, mas tento nas escuras noites contar as estrelas que apagaram o seu brilho.

Imagino-me como um barco à deriva sobre águas calmas, ou como um pássaro na imensidão do infinito. Quem sabe eu ainda seja uma criança brincando no quintal da existência, olhando para o infinito numa brincadeira de faz de conta. Olho para o nada e caminho nas veredas do infinito olhar e vislumbro o horizonte em distantes paisagens.

Talvez o arco-íris e as cores dos sonhos na penumbra de uma tarde qualquer. Ou talvez a vitrine do tempo em inconstantes pensamentos e estilhaços de ilusões e flores ausentes em um distante jardim, chorando as dores dos espinhos. Os dias querem contar novas histórias e a noite dorme em seu sono profundo. A imaginação imagina o inimaginável e mata a sua sede com as lágrimas do tempo. A chuva de ontem molhou o sentimento, encharcou a solidão e poetizou o silêncio.

Livros que leem o mundo. Palavras e frases e carta de despedida. Poesias e versos, versos em canção. Visão de um mundo em formação. Vento da transformação. Ontem, hoje e amanhã. E depois da chuva o sol aqueceu o horizonte. Um sonho que sonhou um sonho impossível. A imaginação que imaginou inimaginável. Flores, dores, pudores e alguma coisa que nunca existiu. 

Beber dessas fontes é livre arbítrio. Pode tudo, e ao mesmo tempo não se pode nada. Tudo flui, conflui, faz, se desfaz, refaz, diz e contradiz. Somos a face dissimulada e acariciada pelas mesmas mãos que colhem flores e espinhos. Que afaga e machuca.

Na contradição humana, a maldade se manifesta sobre as belas formas. A distância entre o amor e o ódio não é um abismo como se pensa. Amor e o ódio andam lado a lado. Na contradição humana, a vida caminha sobre paradoxo, é a própria contradição caminhando em mão única. 

Caminham por aí em grandes tentações perturbando os ímpetos momentos dos instantes prazeres no balbuciar das infâmias e das injurias em dias tediosos. Um coração latente e um tempo para si mesmo e o mesmo desgosto perfaz ansiosamente o mesmo ritmo ao desalento de um dia qualquer em impetuosos momentos na voracidade de tantos clamores. Assim segue seus passos, seus olhares e tudo que ainda está por vir. E essa chuva mansamente encharca o chão e faz em ilusão todos os momentos. Entre o instante e o momento, não era mais o mesmo eu.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Mensagem ao meu Pai 

Cada instante, cada momento são eternas lembranças que vivi e revivo a cada nuance que faz lembrar-me da simplicidade e da humildade de quem tinha um único só propósito, viver a vida. 

O amor que doa. Amor que cuida, um amor celestial, fraternal e transcendental. Pai, o oásis em paisagem, um olhar simples como a simplicidade. 

Meu olhar desliza e fixa em uma réstia de sol que transpassa a fresta da janela e invade o todo que em mim se extasia. O dia de ontem foi bom, vivi e vivenciei cada momento dos longos versos que percorreram cada instante sob o sol até chegar a noite. E a noite, ah, a noite. Estrelas e canções sob o brilho da face do meu Pai.

Sob o vento, o silêncio, o silêncio dos dias que amanheceram em mim entre a ausência e a saudade. Ausência e presença, presença na ausência. Os dias continuam amanhecendo, os ponteiros do relógio marcam as horas. As horas que compõem os meus dias. As horas que marcam o meu tempo, o tempo em que escrevo esse texto em sua homenagem.

E assim o dia se fez em toda a sua completude e plenitude. E a suavidade poética cultivava em cada instante, poetizando cada momento que se fazia na gratidão no próprio existir. Em tudo que existe, há o sopro divino do Criador. A condição de ser, ser o amor na ilógica da vida, que se faz a vida na lógica do amor. Mesmo aleatoriamente a condição humana se faz em cada ser, se converge para ser em si mesmo em tudo que há. O Deus do todo que está em cada um e faz de cada um a mais pura perfeição. Não se vê o imperfeito, toda a imperfeição é própria perfeição por natureza. 

O que é o amor para dizer e fazer em si mesmo tudo que há. Tudo que ainda há e tudo que ainda existe e existirá. Tudo é eterno, se faz eterno e diz eterno na eternidade de um sorriso, no calor de um abraço e na intensidade de um olhar. 

Pai, passos já cansado em caminhos caminhado e marcas profundas do peso do próprio caminhar. E ao caminhar abristes caminhos para o meu caminhar. Os seus passos fincados no chão da esperança querem chegar mais longe, mesmo em meio a tantos obstáculos e incertezas do caminhar.

Nos seus braços me refugio e em seu âmago adormeço e acordo momentos depois para contemplar um pouquinho mais da vida. Um pouquinho mais que há em cada amanhecer. Talvez hoje eu entenda as suas palavras, elas eram poucas, mas o suficiente para dizer muito.  

Talvez esse texto seja superficial e no universo das palavras procuro fartar a fome de significado para adjetivar o superlativo e fazer do amor a poesia do viver. Na pobreza das palavras que frequentam o meu universo, vou escrevendo com o que tenho e compondo versos com o todo que me alimenta.  

Um dia nasceu o sol. Em uma noite apareceram as estrelas e a lua quis ser presença e as noites preferiram ser poéticas. O amor, o pai e a ternura. Ternura de tê-lo, mesmo na ausência. Na ausência que se faz presença. Os dias já se passaram, já foram tantos dias, tantos dias não foram o suficiente para esquecer. 

Mesmo que fosse possível esquecer, não há motivo para esquecer. É impossível esquecer o que está em mim. É impossível esquecer o que é parte de mim. Na imensidão imensurável dos sentimentos e nas dores doídas dos dias difíceis. Nas mãos seguras que ainda me segura, a firmeza dos passos do seu caminhar, fizeram os meus.

As manhãs sublimes e as noites serenas sob o silêncio que se faz em mim a mais bela canção. O ser, a essência e tudo que somos. Talvez essas palavras, essas frases sejam repetidas e se forem tudo bem, elas sempre dizem algo que precisamos ouvir. O amor, a paz e a vida. A vida em sua plenitude.

Nos sublimes versos e na poesia dos momentos e nas sutilezas dos instantes as sublimes lembranças como o brilho das estrelas em uma noite escura. Um sentimento eleva a alma e pacifica o espírito.  A paz, o amor e a vida e tudo que nos envolve como gestos sagrado que nos faz e nos refaz e apascenta os corações. Corações humildes e singelos e uma mensagem de paz e uma canção para suavizar a alma.

Nas entrelinhas do silêncio, a brisa suave em cada amanhecer e um canto melodioso ao cair das tardes sob a miragem do olhar. E no olhar os infinitos se cruzam sob diferentes olhares que contemplam o milagre da vida sob as mãos que afagam os corações que amam abundantemente. Pai, amor e paz. Paz nos dias que virão, Pai nos dias para sempre e para sempre o sempre será presente.

Quero um verso, somente um verso. Quero os momentos para reviver os instantes e vivenciar a saudade em sua eterna lembrança. Canções ao vento em dias de paz. Canções de amor e um sublime afago na alma dos momentos que estão em mim.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


O que se esconde sob o sarcasmo?

Sempre quis entender os motivos de algumas pessoas escolherem esse mecanismo de linguagem. Acho difícil admirar essa habilidade e destreza com as palavras, pois, apesar de aparentar um elevado grau de inteligência, demonstra a incapacidade que o sarcástico tem em se comunicar respeitosamente, além de diversos problemas que pode causar nas pessoas com sua “habilidade” em ferir.

A pessoa que usa de sarcasmos, tendo consciência ou não, tenta encobrir seu desprezo (rancor, raiva) ao outro por meio de insultos que ferem, mas, em uma linguagem camuflada, em que, por vezes, sequer conseguimos reagir (eu não consigo), pois os insultos aparecem como “brincadeiras” inocentes, zombarias casuais (mas altamente calculadas para ferir, depreciar, humilhar). 

Representa também um tipo de bullying, com características de comportamento passivo agressivo e costuma ser aceito nas relações cotidianas, talvez por conveniência ou para se evitar problemas, pois o sarcástico geralmente consegue se dar bem diante de confrontos, acaba por intimidar as pessoas. E talvez nem mesmo tenha consciência dos danos que sua linguagem pode causar, pois possui uma deficiência emocional, na incapacidade de estabelecer diálogos respeitosos, pois não possui empatia, vive em embotamento afetivo, com a necessidade de dominar, subjugar o outro, sem se importar se isto fere, deprecia, causa mágoas ou sofrimentos.

Mas, afinal, como surge esse comportamento? Não existe uma resposta pronta, mas podemos fazer algumas reflexões. Geralmente é um comportamento aprendido, vivenciado no ambiente familiar. Crianças que convivem com sarcasmos tendem a criar mecanismos de defesas, podem na idade adulta desenvolver uma atitude passiva, fingir que nada aconteceu e inclusive sorrir diante de sérias ofensas; outras aderem ao sarcasmo para se defender.

Porém, há os que escolhem o sarcasmo por diversão. Simplesmente se sentem bem na posição agressiva, talvez por carência afetiva, ausência de valores morais, de falta de caridade mesmo, pois a arrogância costuma ser a marca registrada dessas pessoas.

Creio que seja importante entendermos como barrar o sarcástico (inclusive para mantermos nossa sanidade mental).

Quem precisa conviver com pessoas sarcásticas pode acabar se acostumando, não reagindo, ficando em uma situação vulnerável e penosa, que pode trazer diversos problemas emocionais, psíquicos e físicos. 

E tem como se defender de pessoas sarcásticas? Sim (ufa). É necessário conhecermos algumas formas de tentar barrar esse comportamento, limitando as ações do agressor e também para que não sejamos cúmplices desses abusos emocionais que tanto machucam.

Em primeiro lugar, não ficar passivo diante do sarcasmo. Tentar estabelecer um diálogo respeitoso e acolhedor, mostrando o quanto as palavras ferem. Esclarecer que não aceitará sarcasmos, indicando que sabe o que isso verdadeiramente representa. Importante lembrar que, geralmente, estamos diante de uma pessoa muito habilidosa com as palavras, mas carente no domínio das emoções. Assim, procurar expressar com tranquilidade, de forma gentil, que não entende o motivo do sarcasmo, que não concorda e não aceitará. Falar de forma assertiva, explicando a importância de um relacionamento respeitoso, no diálogo amável, em que a harmonia trará benefícios e paz a todos os envolvidos.

Certamente que não é um caminho fácil, pois o sarcástico costuma ser também uma pessoa de difícil convivência. Dependendo do grau de intimidade, poderá ser discutida a possibilidade da pessoa procurar um tratamento médico, com a ajuda de psicoterapia comportamental. Diversos profissionais poderão ajudar na melhora gradativa, mas é importante que o agressor compreenda, tenha consciência de suas atitudes e deseje a mudança (o que é raro).

Por último, creio ser importante não desistirmos, principalmente se somos cristãos e, se a pessoa sarcástica, em questão, é alguém que você muito ama. Onde a medicina se vê impedida, Deus ainda pode operar. 

Ele tem o poder de fazer novas todas as coisas, de transformar o que parecia impossível!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

Admirável novo velho mundo

O mundo sentado à beira do caminho em busca de sentido em seu próprio caminhar. Por onde ir e que direção seguir? Segue essa direção, mas será que essa é a direção certa? Que certeza temos? Por que temos que ter certeza? Deixemos essas perguntas para depois. Depois que o mundo acordar. 

A sociedade é perfeita? Quem é a sociedade? E nós que peso temos e qual a nossa função nesse todo que nos envolve? Uma sociedade constituída de pessoas perfeitas, pessoas iguais, pessoas obedientes a uma única só ordem. Uma sociedade perfeita, harmoniosa e feliz, mesmo que tudo isso fosse artificial. Uma distopia, como um filme de ficção ou uma obra literária, como o Admirável mundo novo de Aldous Huxley. 

Uma sociedade perfeita em que as pessoas fossem obrigadas a serem felizes. E hoje será que as pessoas se sentem obrigadas a serem felizes? O que produzimos, o que consumismo nos faz mais felizes?  Necessidades e desejos consume-nos a todo o momento. As nossas pequenas guerras de todos os dias e as nossas distopias cotidianas.  

As guerras e os conflitos de todos os dias alimenta e nutri a insanidade humana. O avanço tecnológico, o desenvolvimento cientifico e o progresso da humanidade. O mundo dividido entre países ricos e países pobres, colonizadores e colonizados. O grupo dos oito países que detém o poderio econômico (G8). Os grandes conglomerados econômico, o mercado financeiro e o sobe desce das bolsas de valores. A cotação do dólar, a valorização do euro e a desvalorização do ser frente ao ter.  

O céu ainda é azul, mas a fumaça cinzenta nos esconde entre os vis sentimentos. A solidão em meio à multidão e o medo de nós mesmo nos consome entre as mesas fartas e as migalhas jogadas aos porcos. O sol quer amanhecer emerso a neblina e o tempo que ainda dorme entre os vendavais e as torrentes chuvas que invadem os quintais e levam consigo vidas e sonhos.

A fome de pão e a miséria de si mesmo encantam as noites escuras e vomita em nós toda a nossa mesquinhez. Caminham por aí passos desalentados e olhares que enxergam o futuro procurando sonhar o amanhã sob o pesadelo do presente. O homo sapiens e a inteligência artificial desenha a alma humana envolto aos prazeres que se eternizam nas futilidades momentâneas.  

Os donos do poder e o poder revestido pela própria podridão. A lama e o caos e banalidade institucionaliza e o cão raivoso morde os calcanhares da indecência. A guerra dos homens mata o próprio homem e alimenta a impunidade de um mundo cruel. Nas margens da loucura e as flores morrem nos desérticos jardins. Colhe os frutos nos quintais baldios e consume um suprassumo das distorções humana. 

A artificialidade alimenta a superficialidade e a imobilidade bebem as lágrimas da chuva ácida que correm corações e mentes. 

O mundo das nossas ambições e da nossa incessante busca de ser e ter o que está exposto na vitrine de nossa estupidez. Diante de tanta “felicidade artificial”, tantas manipulações e tantos condicionamentos contemporâneos, cabe perguntar: O que queremos? Sabemos o que queremos ou somos manipulados?

O doce amargo e toda a doçura que se faz a acidez melancólica nos caminhos tortos entre curvas e retas da existência humana. O sonho dos anjos e as flores murchas sob os mesquinhos olhares que enxergam a si mesmo se desfazendo em si mesmo. A busca que se perde na própria busca. O ser se corrompendo com a própria essência.

Ainda estava um pouco escuro e um filete de luz transpassava o imenso silêncio que emergia daquela vasta solidão. A noite, a lua, as estrelas e os sonhos incrustrados naqueles dias que parecem que ainda não se findaram. O desejo de nossos dias, as necessidades que temos e os sonhos que alimentamos. Ainda se ouve a lírica melodia dos bons momentos que já se foram. E sob a ternura da face oculta, o suave afago das mãos que semeiam esperança nos férteis terrenos da vida. 

O mundo e toda a loucura, a nossa humana loucura e a nossa total desarmonia com o todo. O caos, o cosmos e as mãos que afaga a terra e semeia a semente para germinar tudo que está em nós. Numa suave e serena manhã nasceu o sol, depois de uma longa e profunda noite sono.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio

 

Quando os netos são a cura 

O envelhecimento biológico é contínuo, irreversível e inevitável. Conforme o tempo passa nós adquirimos experiências e carregamos, nas linhas criadas pelas rugas, histórias que não caberiam em um livro. Portanto, envelhecer significa passar por desafios, principalmente na questão da saúde física e mental.

Uma das dádivas existentes na vida, que cabe como um elixir para terceira idade, é a família. Nesta fase, ter os netos alegrando os dias é fortalecer o espírito e até mesmo o sistema imunológico. Durante meus estudos sobre a Gelotologia (ciência que estuda o humor e o riso) foi identificado que cinco minutos de riso gera 45 minutos de bem-estar através do hormônio serotonina (conhecido como o “hormônio da felicidade”). O bom humor intensifica a funcionalidade do sistema cardiovascular e imunológico diminuindo dores. Dentre os participantes das pesquisas realizadas foi questionado o que fazia uma participante feliz e rir. A resposta foi: minha neta! Ela me faz rir sempre!

Em uma experiência pessoal, quando minha avó estava internada acometida por um adenocarcinoma moderado (câncer) localizado no intestino, sendo este metastático, durante o período de internação a mesma esbanjava felicidade e risos quando meus dois sobrinhos, crianças, estavam presentes para visitá-la. Pouco se queixava de dor, pouco questionava procedimentos e muito expressava felicidade. O mais incrível foi o efeito positivo, em uma fase mais avançada da doença, quando meu tio mostrou o bisneto por foto de celular e um lindo sorriso da minha avó se deu como resposta.

Os netos são como medicações naturais, não invasivas e sem contraindicação. Eles promovem exercícios ao chamar o vovô ou a vovó para brincar. Promovem risos com as peripécias feitas, frases engraçadas, falas e palavras ainda em sua fase de desenvolvimento e construção que proporcionam muitos risos e acima de tudo: muito amor!

O processo de aplicação da Gelotologia em idosos pode e deve ser utilizado de muitas formas, entre elas, os netos e netas que tanto divertem e facilitam maior liberação de serotonina.

Já abraçou seus avós hoje?

Allan Mazzoni é professor do curso de Enfermagem do IBMR, especialista em enfermagem oncológica, saúde mental e gerontologia, mestre em Enfermagem e doutor em Ciências


Politicando 

A política, o político(a) e os seus privilégios. Vamos fazer política? O que é isso? Entendi, política é aquela coisa que as pessoas que foram eleitas fazem. Mas, fazem o quê? Fazem leis que beneficiam o povo e como beneficiam. O que elas fazem? Não sei, talvez as leis que diz pra gente o que fazer. As leis dependem da política? Justiça social, meritocracia e política. 

A política é suja? Não. A política é uma ferramenta que pode construir ou destruir, depende das mãos que a manipulam e a intenção pela a qual ela é usada. Maquiavel já havia afirmado, no século XVI, que a política tem pelo menos duas caras: A que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores do poder.

O que Maquiavel escreveu lá no século XVI move a política até os dias hoje. Os interesses são os mesmos, os políticos ou a classe política, fazem política para obter o poder e para se manter no poder. Promessas mirabolantes norteiam as cenas políticas e desenha um país ideal, mas depois de eleitos, resta a realidade. O realismo político de Maquiavel. 

A política como deveria ser. Platão aponta para o alto, o mundo das ideias, das coisas perfeitas. O ideal humanista, a perfeita sintonia entre o que é, e o que deveria ser. O idealismo político, o bem comum, a política da divergência, divergir para convergir. O ideal da política, o objeto da política é promover o bem comum.

Maquiavel não me deixa quieto, cada vez mais aguça a minha inquietude a ponto de acreditar que a política é um jogo. Um jogo marcado pela sordidez em que as regras sempre favorece quem detém o poder. Ética? Moral? Não sei, se é descrença minha, mas atualmente essas duas palavras não fazem parte da política. Será que sempre foi assim?

Pensando na política em nível federal, são 513 deputados (as) e 81 senadores (as). Acompanho os jornais e aquelas cenas de homens engravatados e mulheres bem vestidas decidindo o destino do país que interferem diretamente em nossas vidas. Isso é só na Capital Federal, sem contar com as assembleias legislativas estaduais e as câmaras municipais que compõe os 5.568 munícipios brasileiros.

Até parece que no brasil exercer um cargo político é ter alguns ou muitos privilégios. Privilégio pouco é bobagem. Quem paga por esses privilégios? Lembrando que esse ano tem eleições. Dentro de alguns dias começa o horário eleitoral gratuito. Gratuito? Será? E o fundo partidário pra que serve? Assistir ou não assistir? 

Política? Indiferente? É isso mesmo. Enquanto o fanatismo toma conta de grupos extremados que idolatra os seus ídolos e mitos, a política continua sendo simplesmente política. Depois que passa esse período de afagos e abraços, ídolos e mitos e o pedestal da soberba misturado com hipocrisia, a arrogância e mesquinharia. 

A política como é de fato e não como deveria ser, Maquiavel nos ensinando que sempre somos enganados, acreditamos do que deveria ser e ignoramos o que de fato é. A política sem ética e sem escrúpulos é a verdadeira arte da enganação. Políticos, para que tantos privilégios? Infelizmente, os privilégios são legais, mas são imorais. 

Do realismo maquiavélico que reveste a política de todo o cinismo, não que Maquiavel seja o culpado por descrever e mostrar o lado podre da política e dos políticos que pratica a má política. Ele apenas mostra o quão vil e mesquinho é o ser humano e ainda mais quando é revestido pelo poder. 

Política, essa nossa política? Maquiavel continua descrevendo como o político deve fazer a sua política e tudo que for possível para se manter no poder. São os ensinamentos de Maquiavel, muitas vezes escondidos dos discursos entre as palavras cheias de efeitos e ludibriantes sentidos, que mostra na prática toda a sordidez e mesquinhez da nossa hipocrisia cotidiana. Não pensem que eu sou um pessimista, não só dos maus políticos que vive a nossa política. Como esse assunto é fascinante e vasto, volto em outro momento com esse mesmo tema, tentando mostrar o outro lado da política. A política como ferramenta na busca do bem comum.


Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Risco fiscal e os alertas do Tribunal de Contas 

A Lei de Responsabilidade Fiscal, a LRF, é, sem dúvida, uma lei pedagógica. Extrai-se de seu corpo normativo um objetivo estruturante que exige dos gestores públicos uma ação planejada, transparente, capaz de prevenir riscos e voltada ao equilíbrio entre receitas e despesas.

Assim, embora esse diploma legal contemple dispositivos sancionatórios, o núcleo central da LRF compõe-se de preceitos prudenciais e preventivos que impõe deveres acautelatórios relativos à observância de metas e resultados e à obrigação de reconduzir as contas públicas aos patamares limítrofes fixados na legislação.

Por sua vez, os órgãos de controle, notadamente os Tribunais de Contas, são chamados à vigilância permanente, cabendo-lhes alertar e advertir os responsáveis ante mera possibilidade de riscos fiscais.

Com base nessa missão, nos termos do art. 59, § 1º, da LRF, o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo expediu, recentemente, o Comunicado GP nº 24/2022 no qual alertou as Câmaras Municipais e as Prefeituras do Estado de São Paulo sobre o possível comprometimento da gestão financeira e orçamentária.

Pelos levantamentos realizados, analisando os dados do primeiro bimestre de 2022, 85% dos municípios sob a jurisdição da Corte de Contas paulista apresentaram distorções que podem, no futuro, afetar o equilíbrio nas contas públicas.

Detalhando os números, constata-se que a arrecadação de 99 municípios ficou abaixo da meta bimestral fixada, bem como 79,81% das Prefeituras fiscalizadas pelo Tribunal não alcançaram, no período, o resultado primário estabelecido nas respectivas Leis de Diretrizes Orçamentárias, as LDOs.

Nesses casos, afastando a hipótese de erros técnicos na estimativa de receitas, a LRF impõe que os Poderes devem adotar, compulsoriamente, estratégias de contingenciamento de gastos no intuito de assegurar a consecução das metas fiscais.

Acentuo a importância de manter a realização de receitas dentro da previsão consignada na LDO, pois o êxito no cumprimento das metas de arrecadação e de resultado primário é um dos pilares da responsabilidade fiscal, sem o qual não é possível conceder benefícios tributários, criar, expandir ou aperfeiçoar a ação governamental, muito menos majorar despesas de caráter continuado e implementar políticas públicas.

Um outro vetor de risco apurado pelo Tribunal de Contas – e que constou dos alertas – refere-se à probabilidade de transgressão do limite de despesa com pessoal. Segundo a LRF, a despesa laboral nos municípios não pode exceder a 60% da receita corrente líquida, devendo o Tribunal de Contas expedir o alerta quando o gasto total com pessoal chegar a 90% do limite. Nessa situação estão apenas 3,72% dos municípios paulistas.

Apesar de ser um número reduzido, esse dado é relevante, pois o percentual limite é calculado com base na receita corrente líquida, de modo que a baixa performance na arrecadação pode ter consequências diretas na definição do montante máximo destinado à despesa com pessoal.

Os efeitos da inobservância desse teto de gastos são particularmente graves, o que inclui a proibição de contratar operações de crédito e o não recebimento de transferências voluntárias.

Observo que muitos municípios constroem suas políticas sociais e assistenciais com o lastro financeiro de repasses voluntários encaminhados pela União e pelos Estados. Portanto, obstar o recebimento de tais recursos traria considerável prejuízo às populações locais.

Mas ressalvo que todo o quadro revelado pelos alertas da Corte de Contas paulista traduz um prognóstico momentâneo, uma vez que o curso da execução orçamentária poderá reverter, positivamente, o cenário que agora se apresenta.

Todavia, é preciso cautela. O horizonte futuro parece pouco favorável.

Sem entrar no mérito das discussões sobre desonerações e isenções tributárias incidentes sobre as operações com combustíveis, verifico que a União pretende abrir mão de impostos e contribuições cuja arrecadação deveria ser partilhada, por mandamento constitucional, com os entes subnacionais.

Nessa perspectiva, ainda que o Governo Central tenha proposto compensar os Estados e Municípios em razão das perdas de receita, é recomendável que os gestores se orientem com maior precaução, reforçando as medidas de planejamento em vista de cenários adversos que se avizinham.

Um bom caminho a ser seguido está na própria LRF que traz solução ajustada para momento. Constatado o risco de descumprimento das metas de resultado fiscal impende, com urgência, a redefinição das despesas prioritárias, bem como a intensificação da cobrança dos haveres públicos, através de programas criativos e eficazes para evitar fraudes tributárias.

Por fim, quanto ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, reforço que este ente de controle externo, dentro de suas atribuições constitucionais, está pronto a contribuir não só com a emissão de alertas, mas também com o constante diálogo e com a promoção de cursos que podem oferecer subsídios técnicos àqueles que almejam contribuir com o aperfeiçoamento da gestão pública.

Dimas Ramalho
é Presidente do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo



Sob caminhos e versos 

A tarde de um dia qualquer. Quantas tardes que já passaram pelos meus dias. E quantos dias que o tempo parou para contemplar a beleza e a sublimidade de cada momento. Cada sentimento que nos compõe. Cada passo, cada sorriso, cada olhar por mais imperceptível que seja, compõe tudo que há em nós e querem dizer um pouco de nós. 

Tudo se esvai, na perene perplexidade do tempo, não adianta ter asas, a liberdade não quer voar.  Não há sonhos depois do horizonte e nem arco-íris depois da tempestade. O sentimento apagou o sol no silêncio de um instante que se acabou.

De repente, vem o vento e me leva para estranhos lugares em longínquas paragens. Imagino-me como um barco à deriva sobre águas calmas, mas estranhas. De repente sou uma criança e o lúdico passa a ser o meu mundo. 

A imaginação faz das palavras um mundo com inúmeras possibilidades. Aí a gente para e o texto continua nas entrelinhas e o infinito perpassa em distantes olhares. O tempo sentando nas curvas da imaginação voa em asas soltas plainando o infinito na artimanha do pensar e na inquietude do sentir.

Para falar da vida nos mais profundos dos sentimentos. Para falar da vida e tudo que é sublime. Tudo perpassa o tempo e perfaz minunciosamente tudo que está por vir. Tudo que foi e transpassa o fio da imaginação conectando o todo em busca da totalidade. 

É profunda, extremamente profunda a essência do ser na busca do próprio ser. Caminhar pelos caminhos nunca antes caminhados e adentrar por estreitas passagens. Não há lágrimas no olhar que fita o vazio da existência. Não há voz que se cala diante do absurdo. Não, não há paz na miséria, não há luz para iluminar o acaso, não há escuridão que se perpetue.

Seguindo o caminho do sol, tentando chegar às alturas calcando os degraus da imaginação. É só um dia e depois outra vez para diz lindas palavras em outros momentos que ainda não foram vividos. Segue por caminhos em passos lentos, levando consigo somente o resto de solidão e um pouquinho de saudade. Vez ou outra se perde o gosto, o sabor e a essência das flores entre os espinhos. Dias assim em outros tempos dizem o que pensam e vagueiam em estranhas paragens, e sente o teor melancólico das infindas noites sob a sublime melodia do silêncio.

Semeiam as mesmas sementes nos mesmos férteis terrenos para colher os novos velhos frutos. Indignos todos os dias, ingratos todos os momentos, insensíveis todos os sentimentos. São os olhos da alma cegos a todas as dores, indeléveis a todos os amores. Há tempo no tempo que se perdeu e o tempo perde-se em si mesmo em tudo que está por vir. Tudo está em si e se esvai na ausência do próprio tempo. 

A chuva que cai e a terra encharcada e a noite que chega entre o clarear da lua e o brilho das estrelas. Cada verso deslumbra um pouco de si e seduz de forma absurda, o absurdo que se desfaz em um vazio cheio de sentido.

Ausente às feridas abertas, o silêncio alentado e ferindo a essência das flores aflitas. Deem-me das mãos o sagrado, o sacrifício inaudito e o sufrágio em liberdade. Voam palavras, versos indelicados sublimando em suaves canções. Deixa fluir! Por um instante é eternidade, silencia-me. Degusta os mesmos instantes e consome o que fortalece. Depois os mesmos sonhos em outros tempos, contempla um novo olhar entre as frestas do infinito.

Vívido e lúdico navego em outros mares em busca da imaginação que se perdeu.

Por ora, o sonho voa e quer pousar em um lugar qualquer, em algum lugar. E o infinito quer um pouquinho do seu olhar. E sob suas carícias descansar no silêncio da imensidão que preenche todo o ser. Assim se faz o todo, e se fala de amor e poetiza os insensíveis sentimentos. O momento em que escrevo e o momento em que sonho, o tempo que dura um sonho, pode ser apenas um momento, pode ser uma vida aclamando por mais vida.

O mundo e todos os seus percalços, todo poder e toda a forma de poder. Quebra-se a vitrine do tempo, entre dúvida e certeza, junta-se o que sobrou e diz que há outros caminhos, segue em   frente. Segue que a chegada é logo ali. Na busca de sentido, nada faz sentido, a flor perde a essência, a vida perde o sabor, onde está o amor? E as láureas se esvaem em plumas esfuziantes ao encontro dos anjos benevolentes de asas feridas que infinda o alvorecer de um ínfimo instante. E uma canção brota da alma e rompe o infinito trazendo a vida em uma sublime melodia de esperança ou em um verso de uma profunda poesia.

“Um belo dia nascemos e, depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido! É fumaça a respiração de nossos narizes, e nossos pensamentos, uma centelha que salta do bater de nosso coração.” Sabedoria 2:2
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


O risco para as empresas em negligenciar a segurança cibernética 

As empresas brasileiras têm registrado, nos últimos anos, impactos relevantes nos negócios por conta dos recentes ataques realizados por criminosos cibernéticos. Na Região Sul não é diferente. Recentemente, instituições públicas da localidade também foram alvos de ataques deste tipo e tiveram que suspender as atividades para o público até que o acesso pudesse ser restabelecido.

Contraditoriamente, é uma realidade que as áreas de tecnologia e segurança da informação, de modo recorrente, têm a necessidade de solicitar e demonstrar à direção das empresas a importância de investimentos nesses itens estratégicos. Algo um tanto óbvio e natural para a proteção da própria organização, dos negócios, clientes, consumidores e o mercado acaba sendo objeto de negociação interna. 

O aporte de recursos nesse campo parece que só deixa de ser negligenciado até a empresa sofrer um ataque virtual. Em especial, quando se trata de algo tão danoso, é importante ter plena consciência do problema e das consequências deste. Nesse sentido, o primeiro aspecto é saber que nenhum ambiente é 100% seguro. É necessário criar controles e mecanismos de monitoramento para tornar possíveis respostas rápidas a eventuais incidentes.

Também é prudente lembrar que os hackers são ardilosos e sorrateiros, como todo criminoso. A partir do momento em que invadem o sistema de uma empresa, ficam cerca de duzentos dias no ambiente virtual, até armar o ataque que poderá gerar maior impacto e lhes propiciar resultados mais expressivos. No ano passado, o tempo médio para se identificar uma ameaça passou para 212 dias, sendo necessários mais 75 para tratar uma violação. 

A forma mais comum para testar a segurança do ambiente é por meio de invasões simuladas. Há diversas ferramentas disponíveis no mercado que possibilitam implementar controles detectivos e preventivos de incidentes. Algumas, por exemplo, têm a capacidade de avaliar as 23 famílias de ransomware, tipo de malware de sequestro de dados, feito por meio de criptografia.

Globalmente, a média semanal de organizações afetadas por uma tentativa de ataque de ransomware é de uma a cada 53. No Brasil, no primeiro trimestre deste ano, foi uma em cada 61, significando aumento de 45% em relação a igual período de 2021, quando a proporção foi de uma em cada 89 organizações. Hoje, o país está entre os dez mais atacados. A Região Sul também é uma das mais afetadas no Brasil por tais incidentes.

No país, os setores mais visados são o comércio eletrônico, varejo e governo. A criptografia das bases de dados com pedidos de resgate e a exigência de altos valores por bitcoin (moeda virtual) é o ataque mais comum, atualmente, apesar de os criminosos estarem buscando outras formas de recebimento, tendo em vista que alguns caminhos de pagamentos em criptomoedas já possibilitam rastreio.

Para que o prejuízo de um ataque seja reduzido, é preciso desligar computadores e servidores e tentar, aos poucos, identificar o tamanho dos danos. Enquanto isso, são paralisadas todas as operações de vendas, faturamento, compras e pagamentos, dentre outros procedimentos. Portanto, os impactos são relevantes nos negócios, sem contar o montante eventualmente pago aos hackers pelo sequestro de dados e chave da criptografia. Por isso, é preciso ter um plano de contingência para a continuidade mínima das atividades e do processo interno e externo de comunicação.

Há diversos casos, em empresas grandes, nos quais as perdas chegam a milhões. Nos últimos meses, na região sul, uma empresa do setor do varejo e outra de educação e saúde tiveram impactos relevantes nas operações decorrentes de ataques cibernéticos, tendo que paralisar as atividades por alguns dias, impactando de forma relevante o atendimento a clientes e a operação interna da empresa. Hoje, globalmente, o impacto financeiro médio para as organizações está no patamar de 4,5 milhões de dólares. No Brasil, supera mais de um milhão de dólares. Esses valores consideram os custos para tratamento do caso, perda de negócios e eventual resgate de dados ou valor pago ao agressor.

A falta da cultura de compartilhamento de informações entre as instituições e empresas atacadas no Brasil prejudica uma atuação preventiva mais eficaz. Em alguns países, as empresas, ao identificarem uma tentativa ou serem atacadas, compartilham o fato e os dados para que outras do mesmo setor e ramos distintos possam prevenir-se, monitorar atividades, fazer leituras de determinados tipos de ameaça e até mesmo adotar medidas e controles para mitigação dos riscos.

Ante a realidade dos crimes cibernéticos e o imenso prejuízo que causam, é imprescindível investir em segurança, tecnologia de proteção e talentos humanos capacitados a reduzir as ameaças e lidar com a situação. Todo cuidado é pouco para proteger as empresas, os negócios e o ecossistema do qual fazem parte.

Aldo Cardoso Macri é sócio-diretor de clientes e mercados na Região Sul e
Klaus Kiessling é sócio de segurança cibernética da KPMG para a região Sul


A urgência do verde na vida das crianças no pós-pandemia

Após dois anos extremamente desafiadores, as aulas presenciais foram retomadas em todo o Brasil. O retorno às salas de aula, que vinha sendo gradual e desigual por causa das diferenças socioeconômicas e epidemiológicas em cada localidade do país, deve ser comemorado como símbolo de uma reconstrução necessária. Além de toda a importância da escola para a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, reativar os espaços de convivência e as relações sociais tão prejudicadas pelo isolamento social imposto pela pandemia torna-se uma questão-chave para o nosso futuro.

Crianças, adolescentes e jovens foram afetados de forma muito singular nesses últimos anos. Segundo o estudo “Situação Mundial da Infância 2021”, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o impacto da Covid-19 na saúde mental e bem-estar desse público ainda será sentido por muitos anos. Segundo a pesquisa, ao menos um em cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos vive com algum transtorno mental diagnosticado. Além disso, um em cada cinco adolescentes e jovens de 15 a 24 anos afirma que, muitas vezes, se sente deprimido ou tem pouco interesse em fazer alguma atividade.

Esse cenário deveria estar no centro das preocupações de toda a sociedade neste momento. Afinal, é fácil imaginar que o futuro da nação pode ser comprometido por causa das consequências dos transtornos emocionais dos profissionais e cidadãos que estão em formação. Por isso, a Unicef pede que a promoção da saúde mental de todas as crianças, adolescentes e também dos cuidadores sejam priorizadas nos próximos anos.
O momento é oportuno para enfrentar alguns desafios que já estavam presentes antes mesmo da pandemia, mas que foram agravados com o isolamento social. Um exemplo é o chamado déficit de natureza, que vem aumentando muito nas últimas gerações e revela mudanças de hábitos prejudiciais à saúde mental de toda a população e, de um modo especial, da infância. Em média, as crianças passam até 44 horas por semana na frente de uma tela e menos de 10 minutos por dia brincando ao ar livre.

Especialistas do mundo todo já alertam sobre os diversos riscos causados pelo excesso de telas, como barreiras ao desenvolvimento cognitivo; prejuízos em áreas da linguagem, memória e atenção; além do aumento da ansiedade, irritabilidade e obesidade, entre outros problemas. Os sinais estão claros e precisamos urgentemente criar oportunidades de interação e aprendizagem ao ar livre, pois mesmo um curto período de tempo por dia em atividades externas ajuda as crianças a se concentrarem no aprendizado.

Segundo estudo do “Child Mind Institute”, dos Estados Unidos, uma criança gasta atualmente menos de sete minutos por dia em brincadeiras não-estruturadas. Isso é dramaticamente menor que qualquer geração anterior. Mas é importante lembrar que as crianças aprendem muito pelo exemplo e são reflexo dos pais e cuidadores. Portanto, a reflexão vale também para os hábitos das famílias.

A ideia não é estimular um sentimento de culpa nos adultos, mas, ao contrário, mostrar que é possível reconectar as famílias com a vida que pulsa lá fora, para além das áreas fechadas e protegidas e, principalmente, das telas. As famílias têm muito a ganhar se puderem se reaproximar da natureza, dentro das possibilidades e limitações de cada um. A situação é particularmente desafiadora no Brasil, pois segundo estudo da Lenstore Vision Hub, do Reino Unido, somos o terceiro país em que as crianças mais preferem utilizar dispositivos eletrônicos a realizar atividades ao ar livre, atrás apenas dos Emirados Árabes e dos Estados Unidos. 

É natural que pais e professores estejam preocupados com a recomposição e recuperação das aprendizagens defasadas, mas podemos aproveitar o contexto de saída da pandemia como oportunidade para reforçar a conexão entre a escola e as famílias para uma vida mais saudável. Não faltam subsídios científicos para sustentar essa mudança de hábitos e busca por uma educação integral que coloque a conexão com a natureza como prioridade.

Um esforço nesta direção é a Coleção Meu Ambiente, que disponibiliza gratuitamente materiais paradidáticos e vídeos de orientação para professores, com propostas de atividades para agregar o estudo do meio ambiente no cotidiano dos alunos do Ensino Fundamental de forma lúdica e interdisciplinar. O material mostra que é possível abordar temas ambientais de forma transversal, refletindo também sobre um futuro mais sustentável. No entanto, além de conhecimento teórico, precisamos proporcionar vivências que promovam a reconexão com a natureza desde a primeira infância, sempre com o apoio das famílias.

Por mais que a tecnologia faça parte da nossa rotina, não há nenhum aplicativo ou jogo virtual capaz de substituir o sentimento de conexão e descoberta que a criança tem ao vivenciar uma experiência na natureza. Certamente, as crianças não conseguirão lembrar qual foi o seu melhor dia em frente ao Youtube, mas terão na ponta da língua uma vivência especial e divertida na natureza.

Thaís Machado Gusmão é gerente de Educação e Engajamento da Fundação Grupo Boticário


A gente não tem mais idade pra isso

Em uma sociedade em que a convivência de várias gerações se torna uma rotina,
é inconcebível práticas discriminatórias que imputem aos mais velhos
a condição de decrepitude, incapacidade, inconveniência

É comum ouvir que somos seres inacabados, que estamos sempre em construção. Essa constante formação individual revela muito da nossa essência. Somos na velhice a continuação do que fomos a vida inteira. Recentemente, li uma reportagem que me fez refletir sobre esse curso da vida. Eram considerações a respeito do último álbum da cantora Madonna, que, nos dizeres da crítica, havia "perdido a mão" por causa da idade.

Desde a mocidade, em tempo mais conservador, a cantora aborda assuntos como feminismo e sexualidade. O passar dos anos confirmou a construção desse edifício disruptivo e ousado. Será que poderíamos esperar algo diferente agora? Penso que não. Todavia, os comentários referentes ao lançamento do seu último álbum evidenciam um comportamento preconceituoso que precisa ser enfrentado... Etarismo.

Como críticos, é aceitável não gostar do estilo musical dela. Como consumidores, podemos certamente recusar a produção artística da Madonna. Mas como gente, é inconcebível descredibilizar quem ela é por causa da idade. Se aceitarmos algo assim, submeteremos diversas pessoas à discriminação etária. Só para contextualizar: Nelson Mandela assumiu a presidência da África do Sul aos 76 anos; Jonh B. Goodenough ganhou o Prêmio Nobel de Química em 2019 aos 97 anos; Cora Coralina publicou seu primeiro livro aos 76 anos; Paul McCartney, aos 78 anos, continua emocionando seu público; Ângela Merkel, uma das mulheres mais poderosas do mundo, hoje tem 67 anos.

Em uma sociedade em que a convivência de várias gerações se torna uma rotina, é inconcebível práticas discriminatórias que imputem aos mais velhos a condição de decrepitude, incapacidade, inconveniência. A doutora Becca Levy, Ph.D. e pesquisadora da Universidade de Yale, após mais de 30 anos de pesquisa, comprovou que uma sociedade preconceituosa em relação à idade é capaz de impactar significativamente na expectativa de vida, já que a sobrevida diminui 7,5 anos. Mais do que isso, a pesquisadora ainda identificou que o aparecimento e a gravidade de várias doenças estão ligados à percepção depreciativa da velhice. Estima-se que a discriminação, estereótipos negativos de idade e autopercepção negativa do envelhecimento levam a US$ 63 bilhões em gastos anuais excedentes em condições de saúde.

É nesse contexto que a modificação da estrutura demográfica exige a implementação de uma cultura acolhedora em relação ao envelhecimento e seus desafios. O combate à discriminação etária, também conhecida como ageismo, etarismo ou idadismo, deve ser feito de forma intencional. A criação de espaços seguros para a promoção do envelhecimento é um ato de compreensão da vida em sua plenitude. Dessa forma, iniciativas que trazem à discussão práticas etaristas podem colaborar com a conscientização social, jogando luz em falas e comportamentos que foram normalizados, mas que constituem violação de direitos. É urgente, pois, uma atenção especial a esse assunto.

Vale mencionar que o mundo está envelhecendo, mas o Brasil segue essa tendência de forma bastante peculiar, em face da velocidade desse fenômeno. Até 2032, Brasília terá mais idosos que jovens. É no sentido de assumir seu protagonismo na promoção da Justiça, que o TJDFT, por meio da Central Judicial do Idoso, tem atuado. A publicação de material a respeito do avanço demográfico e suas complexidades encontra amparo na Meta 9 do CNJ (Agenda 2030/ONU), além de atuar em consonância com a agenda das Nações Unidas, que instituiu recentemente A Década do Envelhecimento Saudável 2021-2030.

E, para disseminar informações a respeito do Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2006, o TJDFT lança a cartilha Quem Nunca? neste 15 de junho. Somente desmistificando situações corriqueiras de práticas discriminatórias se pode promover a dignidade na velhice. A normalização de estereótipos negativos em relação ao envelhecimento não corresponde às pesquisas científicas mais recentes, que evidenciam a consistência dos benefícios decorrentes da longevidade.

Não é à toa que o mundo envelhece... Não é à toa que precisamos ressignificar a velhice. Não é possível permanecermos preconceituosos em relação ao envelhecimento. A gente não tem mais idade pra isso...

Monize Marques - Juíza e coordenadora da Central Judicial do Idoso
(CJI) do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT)


Os filhos da Acídia...

A primeira vez que li sobre esse tema fiquei intrigada, pois desconhecia essa “família” da acídia, vulgarmente conhecida como preguiça. Confesso que desconhecia a forma como podemos entrar nestes estados, descritos tão bela e profundamente por São Thomas de Aquino, na Suma Teológica. 

Desespero: gera o abatimento, em que a pessoa perde a esperança, deixa-se controlar pelo medo excessivo, ficando sem comandar as ações, paralisada. Creio que muitas pessoas têm entrado nesse estado, talvez pelos efeitos da Pandemia ou pela falta de fé. O desespero representa a falta da confiança em Deus, pois vai contra a fé e a esperança, contida na virtude da fortaleza. Nesse estado, a pessoa fica com a visão distorcida, sem governar suas ações e, não raras vezes, deixa de cumprir com o sentido de sua existência. Representa também a fuga diante do Sacro. Quando o ser humano perde a fé ele fica abalado pela própria finitude, passa a ver os acontecimentos da vida somente sob a ótica humana, centrado no ego, no imediatismo, nas coisas efêmeras.

Pusilanimidade: que é a covardia, a falta de ânimo, de coragem para agir, para trabalhar, intervir nos acontecimentos, mudar o que precisa ser mudado, agir no bem.

Divagação da mente: quando o ser humano abandona as questões espirituais e vive para os prazeres efêmeros, esquecendo sua condição terrena e o propósito interior.

Torpor: o estado de abandono em que a pessoa ignora a própria consciência, fica com os sentimentos embotados, no tédio, sem atentar para o que é real e imediato, para o que lhe compete fazer.

Rancor: representa também uma doença da alma, em que se fica preso a comportamentos alheios, desprezando as ações de bondade, sem gratidão; no ressentimento contra aqueles que agem no bem.

Malícia: desprezo aos bens espirituais, resultando em uma escolha consciente pelo mal.

No estado de torpor, há o embotamento da consciência, cegando o coração para o que é realmente importante, permanecendo em um estado ilusório. O mais grave é que há o abandono do sentido da vida, gerando a paralisação, a procrastinação. Assim, a pessoa não assume a responsabilidade que compete a cada um perante a vida, e, representa, também: uma adesão ao mal. 

Creio que o estado de torpor não nos permite enxergar a dor do outro, pois ficamos (estamos) presos no egoísmo, centrados em nossos problemas, interesses particulares. Repare como o tédio (uma misteriosa tristeza que parece rondar as pessoas) tem também sua raiz mais profunda na acídia, na falta de esperança e na inatingibilidade do grande amor. Refere-se a um “estado de alma” em que se manifesta o desânimo, a letargia. É uma tristeza que deprime o ânimo da pessoa, de modo que nada parece lhe agradar, pois não vê sentido nas coisas, na vida em si. Esse tipo de sentimento causa um grande mal na pessoa e em seu redor, pois não há fé, nem esperança, podendo afastar de todas as boas obras. 

São Tomás afirma que o homem triste não pensa em coisas grandes e belas, pois permanece na tristeza. A preguiça é, portanto, o torpor da mente em começar um ato bom. E, na realidade, além de trazer consequências, gera tristeza, ficamos incompletos, pois limita nossa visão, nos impede de ver a grandeza de nossas vidas, não nos permite alcançar a excelência (gera a mediocridade).

A Sagrada Escritura apresenta um antídoto contra esses estados da alma: resistir ao mal, estar em oração, crer nos bens espirituais, na missão que compete a cada um de nós. 

E, pela virtude da fortaleza compreendemos, e temos, a razão de nossa esperança, fundada no Senhor. Sabendo que há coisas que dependem somente de Deus, mas, existe também, a parte que nos compete fazer, o que se espera de cada um de nós.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


O Príncipe de Maquiavel 

Maquiavel é considerado um dos mais importantes da história da filosofia política. Nessa obra ele fala como é a política e como os governantes pensam a política. A política como ela é de fato e não como deveria ser. A política que é praticada nos bastidores do poder, longe dos olhos da população. A política e tudo que envolve a nossa vida queiram ou não. 

O Príncipe, obra escrita por Nicolau Maquiavel no século XVI ainda continua muito atual. Pode-se dizer que essa obra foi escrita como um manual que ensina os governantes a conquistar o poder e se manter no poder. A obra se baseia em duas coisas principais: a conquista do poder e a manutenção do poder.

Os fins justificam os meios, frase erroneamente atribuída a Maquiavel, pois não aparece em nenhum de seus livros. Mas é a frase que melhor resume essa sua obra. A política está acima da moral, o importante é conquistar o poder, não importa de que forma isso aconteça. O fim é o seu objetivo e os meios são as ferramentas utilizadas para alcançar tais objetivos.  

Maquiavel ensina a conquistar o poder, mas, o mais importante e mais difícil do que a conquista do poder, é se manter no poder. Para conseguir esse feito, o governante precisa ter pulso forte, precisa dominar o seu povo.  Maquiavel trabalha com a ideia de que o ser humano é imprevisível e mesquinho, você não sabe o que esperar dele, ele pode trair a qualquer momento. 

Então para Maquiavel esse governante precisa extremamente ser inteligente e extremamente habilidoso para se manter no poder. Para Maquiavel o governante precisa ter a força de um leão para dominar e defender o poder com bravura. O político, o governante precisa extremamente ser irracional no momento que ele precisa ser irracional e agir com inteligência com astúcia e a habilidade de uma raposa. A força e a coragem de um leão e a habilidade e a astúcia de uma raposa. 

Um político precisa ser ardiloso, hábil e saber negociar. Há dois aspectos nesse quesito: A virtú e a fortuna. Virtú é a capacidade que o governante deve ter e desenvolver para compreender, articular e manejar o jogo político. É de sua competência saber atuar com as forças políticas dentro do cenário político entre e os seus respectivos interesses, conseguir liderar o seu povo e impedir o conflito político. A boa estratégia é o pragmatismo. A fortuna não é dinheiro, riqueza, e sim o acaso, a boa sorte, a má sorte e saber aproveitar as oportunidades. Segundo Maquiavel, o bom governante é aquele que sabe unir esses dois aspecto, a inteligência, a habilidade e a perspicácia para aproveitar a oportunidade e agir com estratégias definidas.

Maquiavel reconhece que a política é dinâmica e muda muito rápido, por isso um o governante deve estar sempre atento e atuar assim que for necessário. Um governante também deve ser firme, capaz de manter a segurança do país que lidera, mesmo que para isso seja preciso entrar em conflitos e guerras. 

Em sua obra, Maquiavel recomenda que um governante precisa ser temido ou amado, o ideal seria os dois, temido e amado, caso isso não seja possível, que seja temido. Outra característica que Maquiavel recomenda nessa obra é que os governantes estão da moral e da ética. 

O político, o governante não precisa ser bom, tem que parecer ser bom, não precisa ser honesto, mas parecer honesto. E nesse sentido, a lógica política não tem nada a ver com as virtudes éticas e morais dos indivíduos em sua vida em sociedade. Um político, um governante, tem a sua própria ética. E nesse caso, os absurdos, as mentiras, as falcatruas estão dentro da normalidade. O que poderia ser imoral no ponto de vista da ética, poderia ser uma decisão política.

Maquiavel também ensina aos governantes que as medidas impopulares devem ser feitas tudo de uma vez, pois as pessoas esquecem e logo assimilam tornando essas medidas normais. E quando as medidas forem benéficas, devem ser feitas pouco a pouco para dar a sensação que o governante realmente pensa no povo e governa para o bem de toda a sociedade, pois sempre está fazendo algo que beneficia o povo.

Entender Maquiavel é entender relações de poder. Pode-se dizer que é extremamente atual esse método de Maquiavel para a política mundial, inclusive para o Brasil, logicamente guardadas as devidas proporções. Entender Maquiavel e trazer essas ideias para política do Brasil dentro de suas características é entender a política brasileira em tudo que ela representa.

O príncipe tenta passar uma visão realista da política e não idealista. A política como ela é, não como deveria ser. Entender que nem sempre as leis estão do lado da ética. Entender Maquiavel, é entender como se dá o jogo político, as negociações, as trocas de favores e tudo que se passa nos bastidores do poder.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Um rio que passava ao lado 

No sopro do vento fluem todos os sentimentos. Na aurora dos tempos as sublimes lembranças acalentam as dores com o bálsamo sagrado que afaga o coração para florir a vida. A essência em um cálice que se quebrou ao tocar o absurdo e as feridas do tempo doendo a cada momento. 

Sob as folhas secas nas margens dos diferentes caminhos, passos descompassados e desalentados seguem em longínquas paragens. A tarde chega e os pássaros em algazarras querem o descanso, querem a noite para sonhar a liberdade. Logo é manhã e todos os sonhos do mundo sob os raios do sol. Ainda sob o sonho que encantam todos os momentos e os milagres de todos os instantes. 

Quero escrever a poesia dos instantes e guardar no fundo de alguma gaveta, esperando que o tempo esqueça. Além dos momentos, dos instantes, quero algo mais: Quero as minhas lágrimas refazendo os meus olhares. E sob os vestígios de silêncio, o sol entre palavras, sentimentos e toda a sublimidade do ser.

Um instante depois, próximo ao momento seguinte entre tudo que existe e existirá sempre há o inesperado. Não é isso, nem aquilo, são apenas resquícios dos velhos caminhos, nuances do tempo. Tem a beleza sublime que a natureza esculpiu. Sonha junto ao jardim entre margaridas e jasmins e toda a exuberância e a simplicidade do viver. Hoje é noite estrelada e a lua me convida para a eternidade desses líricos momentos. Aquieta-me e depois me inspira, resta-me o silêncio e nele tudo que é sublime, tudo se aquieta.

Como se fôssemos um canto sublime a entoar louvores glorificando a esperança suplicando pela vida. E nesse momento tudo de repente se desfaz em nada, nos desafiando a todo o momento. As nossas virtudes, os nossos vícios e tudo mais que está em nós.

Os mistérios da vida, a dádiva sublime do ser e a leveza da alma e o espírito de bondade. Tudo é inspirador e perfazem os momentos que tecem a vida. A paz de todos os dias, o amor semeado dos jardins da vida, o fruto, o alimento, o sustento nessa dura caminhada. Entre abraços e despedidas, encontros e partidas, tudo se unifica. 

Tudo ao mesmo tempo vai se arranjando e se conectando. Em algum momento algo me apreende e me faz ver além dos olhares, além da própria imaginação. O imaterial, o subjetivo e a concretude do inatingível. O mundo visto com um único olhar, o olhar que me olha. A alma me olha e me observa de longe e cada vez mais me aproxima do invisível, do imensurável e do indizível. 

Nos longos versos recitados as lamúrias dos dias inacabados. Entrecortando os ventos que abarcam em momentos hostis e as dores que sangram os pés descalços, e os sinais nas faces aborrecidas. Num lampejo poético, o infinito retrata as faces esquecidas entre os sonhos nunca sonhados.

Buscam-se novos sentidos, rejuvenesce o tempo em uma bela manhã de inverno ou em uma tarde de primavera. E uma noite só para contar estrelas.  Deixe as belas manhãs seduzir, mesmo que seja em tempos rudes. Se o peso e as dificuldades do caminho lhe causar tanto cansaço, não siga as regras que foram impostas, não desista em sonhar o seu sonho. 

O extraordinário, o esplêndido e o inexplicável. A vida acontecendo, e tudo sintonizando com o todo. Tudo é tão fascinante, é um vislumbre que perpassa a sublimidade do viver. É o colorido do arco-íris, a aquarela do infinito e a brisa suave das quiméricas tardes. 

Deleita o sabor dos inesquecíveis momentos e saboreia os instantes nos versos que perfazem a infinitude do ser. No amor que inspiram esses versos. E nos versos que poetiza o amor em todos os momentos. Extasiado, oh alma minha, presságio ao amanhecer. Encanta-me nas intermináveis profusões de versos inquietantes em sentimentos que transpassa e transcende tudo que existe. Em minha face, vi os meus instantes cultivando as incertezas em um belo amanhecer. “Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre”. Albert Einstein.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


O momento e a sua completude

Em volta da vida, à liberdade como um vento suavizando as faces da dor e as lágrimas sublimam os olhares num brilho que ainda existe. Mesmo nas frias manhãs e na dureza do caminhar, a vida vai seguindo o seu ritmo. Nas margens do pensamento, um pensamento cansado que não sabe de onde veio e nem para onde vai.

Aproveite o dia. Aproveite o momento. Viver o hoje, o agora, o momento, o instante. Aproveite o seu dia. Então respire, inspire, o universo congratula com o todo. Viver o dia de hoje, o ontem se fez passado e o amanhã ainda não existe. O hoje, o momento e a sua completude.

E a felicidade, em que tempo está? Será que o tempo de um momento de tristeza dura o mesmo tempo de um momento de alegria? A felicidade é absoluta ou é relativa? Qual é o critério que eu uso para classificar o que é absoluto e o que é relativo? Talvez essas questões, essas interrogações pareçam um pouco inconvenientes. Será que as pessoas estão preocupadas com isso?

A chuva que molha a terra faz brotar sentimentos que nutre o espirito, sacia o corpo e eleva a alma. O horizonte observa em verso e prosa a mensagem poética do infinito além dos olhares. A mente viaja, segue rumo ao desconhecido trilhando as trilhas nunca antes trilhadas. Segue os versos e contempla a vida sob a sombra dos girassóis. 

No terreno baldio, nascem as flores e brota esperança e a vida viceja em plenitude. Sementes de esperança semeadas em todos os cantos colhidas pela simplicidade e pela singeleza. As canções nas infindas noites e as estrelas que encantam os olhares. A lua quer o sol e o sol busca o luar para sublimar todos os momentos na doçura dos instantes. Na avidez das palavras, a dureza do caminhar, o alivio, a beleza e o sentido da vida.

A existência humana e toda a nossa potência e ao mesmo tempo toda a nossa impotência diante de toda a grandeza que nos cerca. Quem somos nós frente a tamanhos desafios que possibilita e impossibilita o desenvolvimento da humanidade como um todo? 

Somos seres totalmente vulneráveis e nossas relações são tão frágeis. Frágeis ao ponto de não suportarmos e nos destruímos uns aos outros pela nossa própria arrogância e prepotência. Somos profundos, mas preferimos navegar nas superficialidades. Somos naturais, mas apostamos que é melhor viver na artificialidade.

Alimentamos de esperança e na esperança caminhamos na concretude do ser. As forças contrárias insistem em puxar para outros caminhos, onde impera o poder da arrogância, a ganância do ter e a ignorância. Ao contrário a tudo isso, há pessoas que acreditam no poder da partilha e da solidariedade como a única forma do bem comum. A dimensão profunda do coração humano e a gratuidade da vida, no amor que nos envolve e nos desenvolve como pessoas, como indivíduo que se conduz pelo caminho da vida.

Para falar da vida nos mais profundos sentimentos. Para falar da vida em tudo que é sublime. Um sentimento único, um olhar profundo e a totalidade que nos faz e nos completa como ser humano. O amor que nos humaniza, e nele nos irmanamos em profunda espiritualidade. O simples, o profundo, o humano e o sagrado. Tudo está em nós. Somos o sonho plantado do coração de Deus, a esperança espalhada como sementes de amor no seio da humanidade.

São tantos os obstáculos que nos impedem de ver o que realmente é o essencial. O que realmente nos importa. Muitas vezes, o que nos importa é deixado de lado, ou porque não queremos ver ou porque não nos interessa. Será que estamos dando importância para algo que realmente importa? O profundo e o superficial, o simples e o complexo. 

O sonho e a realidade, a vida e tudo que nela possa existir. A vivência e a sobrevivência e tudo que nos envolve e nos desenvolve como seres humanos. Os instantes que tecem a beleza da vida que contempla o que há de mais singelo em tudo que existe. A coragem para enfrentar e a fé que nos impulsiona que nos compromete com o todo como protagonistas de nossos sonhos. 

O medo pode até nos inibir, mas a coragem de seguir sempre em frente, desbravando a beleza da vida no duro chão da esperança. A dor não nos diminui, muito pelo contrário, a dor nos faz humano. Se a dor nos torna fraco, a superação nos faz fortes. Depois da chuva uma tarde silenciosa. Meu ser existe e há entre tudo um pouco que ainda resta. 

“Como a ave que, atravessando o ar em seu voo, não deixa qualquer traço de sua passagem: O ar leve, ferido pelo toque de suas penas com a impetuosa força do bater de suas asas, atravessa-o e logo nem se nota indício de sua passagem”. (Sabedoria 5: 11)

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Depois da imaginação 

Em um cantinho estreito e escuro, uma escada que leva ao topo da imaginação. De repente, não sei, não ouço o que dizem e não penso como seria o mundo, se o mundo fosse fruto da imaginação. 

Posso pensar em tantas coisas. E tantas coisas me fazem pensar. Como agora nesse momento que estou começando a escrever esse texto e não tenho nenhuma ideia como vou terminar. Isso não importa e não impede que eu escreva o que eu bem entender. O caminho é livre e por ele segue a imaginação. Segue imaginando o mundo e toda a sua grandeza. 

Um dia sem fim, apesar da infidelidade do tempo. Uma crônica ao longo dos intermináveis momentos e o planeta se equilibra num fio de esperança. Os dias amanhecem, todos os dias amanhecem. E o voar de um pássaro nas extremidades dos distantes jardins sob o afago das flores no sossego de uma tarde vazia.  

Posso imaginar o mundo e imaginando o mundo de forma que eu sinta algo além de mim, independente de qualquer outro sentimento. Não sei se é possível que alguém tenha uma tristeza em especial. 

Posso pensar o mundo sob um dia de sol ou um dia nublado, frio ou chuvoso. Ouço barulho entre o silêncio e talvez às noites escondam os seus medos e a verdade quer do mundo um pouco de sanidade. 

Era uma bela manhã de um dia qualquer, o ar sereno e um vento leve pairava sobre aquele dia que apenas estava começando. Depois eram os pensamentos tentando se encontrar e sempre se desencontrando. Eu não sabia e ainda não sei quantificar as coisas de uma forma comum, não sei explicar, mas mesmo assim parece que tudo tem um sentido. 

A vida é cheia de incertezas e dúvidas. Entre as estrelas, um sorriso atroz e a teoria da imaginação percorrem outros infinitos. Semeiam as mesmas sementes nos mesmos férteis terrenos para colher os novos velhos frutos. Indignos todos os dias, ingratos todos os momentos, insensíveis todos os sentimentos. 

São os olhos da alma cegos a todas as dores, indelével a todos os amores. A todo tempo perde-se em si mesmo um pouco ainda sob esse céu cinzento. Tudo está em si e se esvai na ausência do tempo. A espontaneidade, o sublime que envolve o existir e tudo mais que possa sentir. A beleza está nos olhos que olham e a tristeza na face escondida de uma manhã ao sabor do acaso. 

A simplicidade que faz a existência fluir a essência, e nela contempla a beleza do existir. É tão imenso tudo que nos envolve e tão profundo tudo que faz viver. Não podemos parar o tempo, não poderia ser assim, não faria sentido. Se as flores sorriem, o mundo não pode chorar. Se o mundo for capaz de sorrir, as flores estão em todos os jardins. Se a alma é leve, o mundo sorri e o vento se faz entre dúvidas e certezas. 

Entre flores e essências, vícios e virtudes e tudo mais que possa existir. Sob os raios do sol, a dor perpassa a alma e perfaz o caminho sobre as ilusões da verdade. E as quimeras que tecem o caminho que leva por estranhos lugares tudo que caminha entre as veredas da imaginação.  

O momento mendiga ao tempo suas migalhas e repousa em si os seus desejos. As dores que estão por aí, doendo em todos os corações. Nas próximas esquinas em outros momentos ou em qualquer estação. Andam por aí perdidos pelos caminhos do mundo, errando os mesmos erros e tropeçando nos mesmos obstáculos. 

“Um belo dia nascemos e, depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido! É fumaça a respiração de nossos narizes, e nossos pensamentos, uma centelha que salta do bater de nosso coração.” Sabedoria 2:2

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio



A face sublime do amor

Quando tiver alguma dúvida sobre amor, lembre-se da pessoa que te alimentou. Lembre-se da cantiga de ninar. Como a chuva que sente o sorriso das flores ao afagar as suas pétalas. Como alguém que afaga a face da vida e declama uma poesia a cada amanhecer e sente a poesia no próprio amanhecer. 

O sentimento nos humaniza e congratula com o mais nobre e sublime sentimento. Uma criança sorri, o seu sorriso faz aquecer o sol. O vento quer o tempo para aconchegar em seus braços e dizer belas palavras em versos em prosas.   

Uma mensagem para perfazer esse dia, que se estenda para o sempre. Mesmo que seja uma simples palavra. Tudo em si perfaz e transpassa tudo que existe. Uma mensagem ao vento que transpasse o tempo. Um supro divino, um suspiro de vida e uma inspiração para o mundo. 

Uma poesia falando de amor e tendo a mãe como sinônimo dos mais profundos sentimentos. Mãe, amor que nos humaniza. Como fruto da terra, nasce o coração, no coração de mãe. O fruto e o sabor. O amor semeado no imenso jardim faz florescer a vida. A vida que por si mesma é abundante e cheia de vida.

Um dia, uma vez e muitas outras vezes. Era o silêncio e do silêncio brotou o amor e do amor nasceu a mãe e da mãe o mundo conheceu o verdadeiro sentimento que move toda a humanidade. 

Era noite de estrelas e lua e o escuro sedia o seu lugar para luz. E a luz iluminou o todo e tudo se planificou na bondade, na paz e na verdade. Era o fruto e o sublime sabor da vida. Vida e mãe. Mãe é vida, o sabor que saboreia o viver.

Tudo resplandece, todo dia é dia de mãe. E toda mãe não vive apenas o seu dia, não vive apenas para si, vive para todo o sempre. A eternidade que se eterniza na imagem de mãe. E a vida transborda em seu amor. E em tudo se completa na completude do todo. As mães choram e suas lágrimas irrigam o coração da humanidade. Suas lágrimas são lágrimas da chuva que mata a sede dos rios e faz florescer gente e flores no imenso jardim da existência. 

As mães sofrem e como sofrem. As mães choram, choram as dores dos seus filhos, o desamparo e o abandono. A fome de mãe farta as bocas famintas de um mundo sem compaixão. Sim, as mães choram o frio das calçadas, as noites vazias e a solidão das flores nos gélidos corações que não sabe o valor do verdadeiro sentimento que só as mães conhecem. As mães sempre choram, porque são mães e porque amam demasiadamente. 

Amam o amor de uma vida cheia de boas aventuranças. Bem-aventuradas as mães que amam sem medida. Bem-aventuradas são as mães que doam e se doam, pois o doar é dom de mãe. Bem-aventuradas são as mães, pois são semeadoras de vidas no duro chão da esperança. Bem-aventurado o amor de mãe, como noite de estrelas e luar. Bem-aventurado o amor de mãe, que acolhe, não julga, apenas perdoa. 

Mãe, palavra sublime. Tão sublime, simplesmente mãe. Mãe, versos ao vento, flores ao tempo, momento e sentimento. Mãe, tudo inspira amor. Amor que doa. Amor que cuida. Mãe, um amor celestial, umbilical. Mãe, o oásis em paisagem e um olhar simples como a simplicidade de uma vida vivida, vivenciada com todo o seu amor. 

Mãe, a seiva da vida, das dores e das flores. Mãe, a face feminina de Deus. Mãe, a face que perfaz o olhar no olhar de Deus. Mãe, o amor que faz eterno na eternidade de um sorriso. As mães são sublimes. As mães são sublimes como uma suave canção de esperança, esperançando a vida.  

Mãe, a teimosia de acreditar quando tudo parece perdido. Quando nada parece fazer sentido. Um olhar de mãe ressignifica o sentido da vida. A fé como compromisso e a vida vivenciada em toda a sua plenitude. Nos jardins e quintais, bálsamo e essência e um sorriso de paz nas faces das manhãs.  Mãe, sinônimo de paz. Uma frase no contexto da vida, um verso à procura de uma poesia. O tempo consume os meus dias, a noite dorme o meu sono no suave colo da vida sob o meigo e sublime olhar de mãe.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio



Você conhece a C.N.V. - Comunicação não violenta? 

Fiquei extremamente surpresa e intrigada ao ler a obra de Marshal B. Rosenberg, pela proposta que o autor apresenta, em que busquei conhecer com profundidade. É um processo que enfatiza a importância da comunicação compassiva, respeitosa, acolhedora, em uma atitude de nos colocarmos no lugar do outro, na alteridade. Ele descreve como situações rotineiras do cotidiano podem se transformar em discussões, desentendimentos, separações, ou mesmo agressões, com o uso de violência, sem que os interlocutores percebam o motivo. Na realidade, muitos problemas começam pela forma agressiva de se expressar.

O que chamou minha atenção nessa comunicação foi a forma em que podemos tentar reverter uma comunicação agressiva, na medida em que formos questionando o interlocutor, de forma respeitosa, acolhedora, na tentativa de entender os motivos, sentimentos do outro, deixando que se expresse.

A comunicação não violenta se apoia na busca de aprendermos a dialogar de forma gentil, sem recursos que promovam: medo, vergonha, culpa, acusação, coerção, ameaça ou agressão. Um princípio-chave da C.N.V. é a capacidade de se expressar sem usar julgamentos, sem determinar o que está certo ou errado. A ênfase é colocada em expressar sentimentos e necessidades, em vez de críticas, juízos de valor ou acusações.

O autor apresenta uma série de exercícios em que compreendemos a diferença entre: observação e juízos de valor, opinião e sentimentos, pedidos e ameaças. Por vezes, os conflitos podem ser causados mais pela forma como expomos (impomos) nossas ideias do que propriamente pelas diferenças de opinião.

Nesse sentido, é um processo que ensina a prestarmos atenção na forma como nos comunicamos, seja no círculo familiar ou nos diversos relacionamentos. Essa percepção ajuda a evitar confrontos desnecessários, discussões, brigas, promover o diálogo respeitoso, no entendimento, em que poderá ocorrer mudanças positivas nas relações do cotidiano.

Muitas vezes, as pessoas não querem compreender o ponto de vista do outro, seus motivos, mas apenas contra-argumentar, em uma busca cega pela afirmação do ego, na imposição das ideias: na arrogância. Mas, na atitude compassiva, podemos dizer como nos sentimos, sem buscar culpados ou entrar em mecanismos de defesas, em uma atitude que busque realmente o diálogo. A abertura para falarmos sobre nossos sentimentos, o que nos causa desconforto, seja tristeza, angústia, mágoa, mostra, também, nossa humanidade. O diálogo respeitoso contribui para revermos nossas atitudes, oportunizando aos outros que expressem também seus sentimentos, emoções, e quiçá, mudança de atitudes.

Pode parecer, à primeira vista, que a CNV silencie as pessoas diante de ofensas, agressões, mas, ao contrário, promove a comunicação honesta, transparente, não limitando as relações de acordo com a visão pessoal de cada um ou interesses particulares. Dessa forma, evitará ressentimentos, em que a pessoa pode se sentir sufocada, paralisada por não poder expressar seus sentimentos, agindo dentro da reação (a reação vem do inconsciente).

Usar o princípio da comunicação não violenta, por vezes, não é uma tarefa fácil, depende, além do conhecimento, de disposição, de um desejo de melhorar a si mesmo e os relacionamentos. É um exercício, um aprendizado, para que prestemos atenção na forma como nos comunicamos e que pode mudar as relações, convivências.

Reconhecendo, todavia, a dificuldade de diálogos nos casos de pessoas com problemas emocionais, psíquicos (doentes), que provocam tumultos, desentendimentos, ou mesmo agressões gratuitas, em que qualquer comunicação fique comprometida.

Considerando também que a polarização em que vivemos em nosso país, no antagonismo de ideias políticas, em que podemos presenciar (até mesmo entre familiares) discussões acirradas e desrespeitosas, na imposição do melhor candidato político ou partido social, deixa evidente que, seria de bom tom, melhorarmos nossa forma de comunicação. Exercitar a capacidade de se expressar sem julgamentos, acusações, entendendo que não precisa haver opositores, em que não precisamos tentar vencer os debates, impondo opiniões e julgamentos (caracteriza soberba).

Creio que, quando oferecemos ao outro a oportunidade de se expressar, de pensar diferente, sem confrontos ou acusações, abrangemos, também, a esfera da caridade.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Rolam as pedras

Rolam as pedras, deixem as pedras que rolem. Para Drummond, tinha uma pedra no meio caminho. No meio do caminho tinha uma pedra. Deixe as pedras que rolem ou deixe a pedra no meio do caminho. E se a pedra for um obstáculo, ultrapasse e segue vislumbrando novos horizontes, desbravando novos caminhos.

Em algum lugar por alguma fresta do infinito respinga as lágrimas de um olhar qualquer. Amanheceu outra vez e outra vez o desejo de ter o mundo, de ser o mundo ou distanciar do mundo aflora o existir. 

O admirável, o extraordinário e o senso comum. O décimo sétimo sol e as outras margens de outros rios sob o universo submerso em outras esferas em olhares delirantes. Caminham por aí perdido em algum lugar, tentando se encontrar. Tento imaginar outras histórias romanceando o imenso vazio da própria existência. As mesmices ditam regras, e a exceção aos fatos levam à loucura a normalidade. Depois da chuva, a semente quer germinar e desertificar corações e mentes em um sonho interminável.

O tempo não queria o mundo imaginário, não sabia quanto durava o tempo de um sonho. E a imaginação sem saber que o sonho podia dar a vida  imaginava à poesia em uma tarde silenciosa com os seus versos acariciando as suas faces envolvida em  toda a plenitude  

É apenas um dia comum. Um dia comum, como assim? Quando a gente sabe que um dia é comum? Eu não sei, não sem explicar. Não sei me explicar. Talvez eu desconfie, nada de extraordinário tenha acontecido. O que deveria acontecer de tão extraordinário para ser extraordinário? Olha não sei, francamente, eu não sei. Eu deveria saber? Saber o quê? As estações do ano, a direção dos ventos, as estações da chuva e a hora e o momento que o sol nasce e se põe. 

Eu devia saber fazer versos. Talvez eu pudesse compor uma poesia. Eu não sei. Sei que escrevo. Escrevo sobre o nada, sobre o vazio, sobre tudo que envolve e que me envolve. Escrevo sobre o escrever. Poesia? É, não sei. O não saber para mim é fascinante, acirra em mim todo o meu querer, não de ser mais de que ninguém. O querer e o saber, tudo é possível. Talvez na próxima semana eu faça uma poesia. Será que é possível? 

Será que o que nos resta é tudo que temos e o que somos? Será que sabemos o que temos e o que somos? E o que vale a pena? “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, assim poetizou Fenando Pessoa.

O heliocentrismo, o antropocentrismo e tudo o que envolve o que se move o todo nesse imenso conglomerado de seres visíveis e invisíveis aos nossos olhares. As leis que tudo regula e o próximo passo além de nós mesmos. Nós nos encontramos e aos tempos nos desencontramos e não damos conta da nossa própria potencialidade.

A poesia do absurdo e o voo rasante sobrevoam as margens da imaginação. A poesia do universo, um verso para se fazer e caminhar sobre o infinito. Os asteroides e os planetas e a luneta de Galileu num longínquo paraíso. A bondade humana, o ser humano e toda a sua lassitude. 

Alguém conta uma história para ilustrar uma conversa e depois ri de si mesmo. No diálogo com a solidão, vislumbro outras palavras sem saber qual o sentido e que sentido tem o próprio sentido. Não adianta apontar para outras direções se não sabemos caminhar ou talvez nem exista caminhos. E aí vem o poeta espanhol Antônio Machado e nos diz que o caminho se faz ao caminhar.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


A política e o cotidiano 

Como que a política interfere no nosso dia a dia? O custo de vida, o poder aquisitivo, a educação, a saúde, inflação, juro, são diretamente influenciados por decisões políticas. Essas decisões podem ser benéficas ou não para a população. Quem está ocupando um cargo público, tem a chave do cofre público, mas é o dono do cofre.

É como ouvir, eu detesto política. No atual momento que passa o país, e a classe política insiste em manter seus privilégios, legislando em causa própria. Não quero generalizar, há exceções. Mesmo assim, acredito que seja compreensível o descrédito da população com a política. O descrédito é com a política ou com a classe política? 

A nossa participação na sociedade, vivendo e convivendo em sociedade é feita de relações políticas. Estamos sempre tomando decisões que direta ou indiretamente influenciam a nossa vida como sociedade, como comunidade. 

Será que política é apenas um conceito de poder? E que poder? Quem é servido por esse poder? E Quem se serve desse poder? Já citei essa frase de Maquiavel em outra coluna nesse mesmo espaço, mas vou citar outra vez, afirmou Maquiavel: “a política tem pelo menos duas caras, a que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores do poder”. O que se esconde por detrás do poder e o que o poder esconde de nós? 

A política nos manipula, ou melhor dizendo, o poder é manipulando pela política. Será isso? Ou talvez os políticos manipulem, usem como uma ferramenta que obedece as ordens preestabelecidas? Será que somos manipulados, será que somos ingênuos? A política e o poder. A política e o poder da política. Eu político, imagina? Meu universo é outro. Qual é o seu universo? Você precisa se sustentar e de onde vem o seu sustento? Você trabalha, todos nós precisamos trabalhar para nos mantermos. Acredito que nisso todos e todas estão de acordo.

Bertolt Brecht, dramaturgo, romancista e poeta alemão, falava que O pior analfabeto é o analfabeto político. “Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.”

E nosso desinteresse pela política interessa muito aos nossos políticos. Por que não há interesse da sociedade pela política? Será que a sociedade, ou parte dela, enxerga a classe política como superior e com todos os poderes para resolver os nossos problemas? Sem generalizar, mas há pessoas que pensam assim: votei, já cumpri o meu dever de cidadão ou cidadã. O que depende de nós será que está ao nosso alcance? Nossos representantes nos representam? 

Se para Aristóteles o “politiko” era o cidadão que participava da vida pública, essa palavra tem outro sentido hoje em dia. A sociedade atual é composta por um número muito maior de pessoas e, consequentemente, de problemas e necessidades muito mais complexos. E acredito também com menos participação e menos interesse. O nosso desinteresse nos enfraquece como sociedade. Alguém pode até me questionar e com razão que a nossa participação é irrelevante diante de tanto desmando. 

Alguém também pode me questionar dizendo que mesmo diante de todo esse desmando, que a nossa participação como sociedade tem grande e expressiva relevância. O que acredito que não podemos fazer é ficar apático, desinteressado e repetir frase como: eu não gosto de política, a política é suja, pra mim tanto faz, nada vai mudar mesmo. Em outubro temos a oportunidade de mudar. É a nossa chance. “A política é a melhor forma de fazer caridade”. Papa Francisco.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Como nossos dias 

Um vento de qualquer direção que move sentimentos. Solidários momentos que eternizam e confraternizam à espera de um novo tempo. A vida que inspira, partilha e compartilha sentimentos na singeleza do ser. Inspira-se a própria inspiração na contemplação do todo. Um vento que não quer as folhas secas, leva consigo as lágrimas de todos os olhares e as dores do mundo que dói em um mundo de dor.  

A exuberância dos dias e o transcorrer dos momentos que se esvaem e leva um pouco dos dias que estão por vir. Um sonho imaginando como nasce o sonho e como germina as sementes e nasce a esperança. Depois de alguns momentos, não sei, não sei o que virá. 

O gosto que a vida tem, o saber e o sabor e a alma na tenacidade do ser. Meu jardim envolto em poesia, meu pedaço de mim perfaz por inteiro, faz de mim em toda a sua totalidade. O admirável admirando a sublimidade de um dia qualquer, de um momento qualquer e de algo que preencha o todo.

Chegam até a encruzilhada, duas setas, duas direções encravadas na alma e na mente. Imaginando o pensamento que deixou de pensar, ou que não quis pensar. O pensamento se foi antes de ser pensado e nunca voltará. Calado, o silêncio se faz ouvir por todos que querem escutar. Tudo ainda está por fazer e o desfaz de cada momento se faz a todo o instante. Uma palavra solta em um texto distante, em um tempo quase indo embora ou se desfazendo na própria existência. 

Vislumbra ao longe a imaginação do horizonte sob um olhar já cansado. O céu pode ser azul. Vislumbram-se entre as nuvens um pouco de imaginação para imaginar um outro mundo possível. Vislumbra o sol em um dia nublado. E a chuva que molha a solidão e encharca os sentimentos. Não, eu não quero poetizar o absurdo e fazer da tristeza apenas mais um lamento. Vou ficar aqui alimentando as minhas quimeras, nutrindo o meu silêncio e esperando um novo amanhecer. 

O mundo e os seus lamentos. A imbecilidade e a mediocridade de mãos dadas perambulam pelos jardins da mesquinhez, envenenando flores e frutos num surto de grandes aberrações. Palavras ditas e não ditas, verdades e inverdades e um pensamento que foge antes mesmo de ser pensado. Pelos diferentes caminhos em diferentes caminhar e o mundo perdido na próxima curva, e o medo se esconde logo ali na próxima esquina.

A estupidez no olhar e a maldade humana. Sentado à mesa na fartura do poder sob as migalhas famintas, morre um pouquinho a poesia na fome do ser. Então, caminhe e siga os rastros da própria existência. Siga os vestígios que alimenta a consciência e depois descanse entre o caos e a espera.

Será que no caminho havia uma pedra? Se pedra houver quem a colocou? Na selva de pedra ainda pode germinar sementes, e poetizar a dureza do caminhar. Na selva de pedra, o capitalismo é selvagem e o homem se perde em sua mesquinhez, corroendo-se na própria arrogância, destilando o seu próprio veneno. Governa-se, governo e governabilidade, a nata do poder e os ratos que fazem políticas. 

O mundo bate à porta do próprio mundo e não há mais como escapar, como fugir. Ataram as nossas mãos, vendaram nossos olhos, não há como enxergar o horizonte. Nômades no nosso próprio jardim. As flores estão fugindo, ficaram somente os espinhos.

Contam-se boas histórias. Poetiza-se a vida e planta no quintal do mundo alfazemas, folhas e frutos para alimentar o futuro. O admirável e tudo que é belo. O admirável e tudo que é bonito. O admirável que há para admirar em tudo que se faz em um só sentimento. O admirável velho novo mundo e a esperança sob o silêncio do amanhã.   

O chão da gente, a Terra que habita todos os seres vivos. A Mãe Terra, Gaia, Pacha Mama. O respirar o hálito da vida e a água da fonte para germinar a semente de um novo tempo. Um sonho adormece e a utopia para nascer em outros dias. 

O admirável ser, o humano sagrado e a imagem e semelhança com o Pai Celestial. O humano, humanamente frágil e todas as nossas contradições. Tudo nos envolve e tudo está em nós, somos nós. É o silêncio que está presente, se faz presente e resplandece nos mais profundo sentimento que compõe, faz, refaz e perfaz o humano que nos humaniza e quer se humanizar e confraternizar com o todo.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


"Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam" 

Todas as vezes que leio o Evangelho de São João me emociono, especialmente o trecho destacado no título. João, o discípulo que Jesus amava, (segundo a tradição) define quem é Jesus de fato. E é difícil escrever sobre Ele. Jesus estremece minha mente, alma, espírito. Como pode Deus se esvaziar de toda a Sua Glória para se fazer menino e assim  cumprir com Seu plano de Redenção? Somente um Amor incomensurável!

Quando releio e medito os textos sagrados, que antecipam a vinda do Messias, fico em sentimento de gratidão e ao mesmo tempo em contemplação diante de um Amor tão imenso. Sua vinda foi profetizada muito tempo antes do Seu nascimento na Terra. A Sagrada Escritura faz menção a um Messias que nasceria entre nós para nos libertar do mal, do pecado e vencer a morte.

O Verbo veio até nós. Esteve aqui. Creio que faltarão palavras para exprimir a pessoa de Jesus (penso que somente em espírito, em adoração compreenderemos). Os Evangelhos narram que veio pela imensidão de Seu amor, para morrer por nós: para nos salvar. 

E, se você tiver dúvidas, basta ler os documentos do Antigo e do Novo Testamento, que estão entre as fontes mais confiáveis da Antiguidade, devido a inúmeras provas históricas. O Cristianismo não foi um embuste forjado por mentes simplórias, fantasiosas, mesmo porque, antes da crucificação e morte de Jesus os apóstolos fugiram com medo. 

Pedro o negou três vezes por temer o sofrimento e a morte. E, após a morte de Cristo, os apóstolos se esconderam, negando a fé.

Qual a explicação para, após ver seu Mestre sofrer e ser morto, os apóstolos decidirem sair pregando e enfrentar até mesmo a morte de Cruz? O que aconteceu com aqueles pescadores tímidos, ignorantes, que haviam fugido, e, por medo, estavam trancados, permanecendo escondidos? Qualquer pessoa, mesmo sem fé, verá que algo extraordinário aconteceu com os apóstolos, para que eles, após a morte de seu Mestre, proclamassem que é Jesus verdadeiramente Deus! Veja que, o apóstolo Pedro, após sentenciado, pediu para ser crucificado de ponta cabeça, pois não se sentia digno de morrer como Cristo… E a morte de cruz é considerada a pior de todas as mortes, o sofrimento mais cruel. 

Enquanto Jesus estava vivo eles O negaram, se esconderam, mas, depois da morte do Mestre, aceitaram todo sofrimento. Sofreram açoites, foram apedrejados, maltratados, desprezados, enfrentaram até mesmo a morte para defender Cristo. Por quê? Porque eles viram Jesus Ressuscitado. Estiveram com Ele. Tocaram Seu corpo, cearam com Ele. 

Receberam o Espírito Santo. Por essa força é que conseguiram pregar o Evangelho.

Com certeza, a única explicação plausível para essa coragem dos apóstolos é que tiveram um encontro real com Jesus após Sua morte. Ninguém em sã consciência defenderia uma pessoa morta, derrotada, correndo o risco de também perder a vida e enfrentar a morte. Aqueles homens tímidos e introvertidos passaram a anunciar a “Boa nova”, cheios dos dons do Espírito Santo, de fé, coragem e esperança – virtudes teológicas do cristão. Ninguém dá a vida por algo que não acredita, por alguém que já morreu. Eles passaram a testemunhar o que viram: Jesus, o Messias!

Em Cristo as profecias se cumpriram: é o Messias esperado. Estava predestinado a morrer, mas não por um determinismo aleatório, mas, por escolha, destinado a invalidar o mal – em uma humildade incomensurável. O céu chorou Sua morte. Os anjos testemunharam um amor jamais visto, incondicional, inimaginável!

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam. O Verbo era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem. Estava no mundo e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam”

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

A contemplação do ser 

A porta entreaberta deixava entrar um filete de luz. Uma réstia de sol me observava e parecia querer me tocar. Ainda era manhã, não sei ao certo qual era o dia da semana. Isso pouco importava, lembrar ou esquecer faziam parte daquele ou daqueles momentos. Era sempre assim, os pensamentos que aos poucos se esvaiam sem ao menos se despedir dos bons e velhos momentos. 

Do outro lado alguns metros de distância, borboletas multicoloridas bailando sob a área à beira de um pequeno riacho de água cristalina.  A natureza em sua mais plena exuberância retratada na mais pura e profunda beleza de todos os seres que contempla a essência do existir. 

As vistas alcançam a trazem para juntos de si holisticamente o todo que nos compõem, que nos fazem de nós quem somos. Tudo que aí está, é parte de nós e uma mosca sobrevoa o lixo exposto. As mesmices ditam regras, e a exceção aos fatos exibidos nas vitrines a preços incomensuráveis levam à loucura a normalidade.

Às margens do caminho pequenos arbustos, formigas no seu intenso vai e vem levando pequenas folhas para alimentar a sua existência. Insetos em seus voos rasantes povoam o seu pequeno universo. Entres as estreitas margens, a vida segue o seu fluxo, os dias seguem sempre recomeçando e o ser humano em sua interminável busca de si mesmo e ao mesmo tempo se perdendo em seu próprio esconderijo. 

Às margens do sentido, mendigando um pouco de atenção, procurando entender as coisas como elas são e porque são assim. A verdade não sei, a mentira está por aí em qualquer lugar. As incessantes guerras e o mundo sempre em chamas. Os conflitos civilizacionais e as barbáries dos confrontos nutrindo os nefastos poderes. Quem alimenta a maldade, nutre o caos e semeia o ódio e destruição. 

A noite é serena e dorme em si mesmo os sonhos do mundo e os pesadelos dos nossos dias. Antes da verdade a mentira já fez a sua morada. Os acenos dos gentis e o sorriso de uma noite escura sob as mãos dos maléficos que roubam a essência e petrificam os jardins.

E agora o que fazer? O que fazer diante do poder da tirania? Estupido, humano demasiadamente estupido. Pobre humano, miseravelmente ensandecido, consumindo a própria podridão. O ódio semeado no jardim da estupidez, alimentam a ganância, a ignorância, a arrogância e a mesquinhez humana.  

O que pode o poder dos humanos e o que pode o poder diante da própria fraqueza? O que faz o ser humano fazer o que faz? A inteligência humana na rota da sua própria destruição. Quem inventou a guerra? A inteligência cria os seus próprios mecanismos, financia a própria destruição. A quem interessa tanta estupidez? O que sustenta o poder?  

E um anjo triste entre sorrisos de crianças num quase encantamento, tudo é tão frágil, tão distante e ao mesmo tempo tão próximo que parece afagar-me por um momento. O que fazer diante de tantos absurdos, de tantos poderes corroídos? 

A nossa história, a história de cada um. Os sonhos e os pesadelos de todos os dias. A vida dói na miséria, na fome de pão e na fome de justiça. Nas ruas o silêncio das multidões e a sujeira no mundo na prepotência e na ignorância do ser humano. Tudo está a nossa inteira disposição, mas diz o bom senso para usar com responsabilidade para não perecer mais tarde. Ao mesmo tempo em que tudo parece tão fácil, tudo se torna tão difícil. A nossa pequenez alimenta a imbecilidade na cegueira de cada dia.  

Num lampejo de sabedoria, desfaz a mentira e refaz a verdade sobre os voos que só querem voar e depois pousar na tranquilidade que descansa entre os lírios do campo. O mundo e suas dores em toda a intensidade em eternos conflitos. A paz na terra, a paz da boa vontade. Desfaz o pesadelo e pela fresta do horizonte um sonho ainda cambaleante, mas sedento de esperança em um novo amanhecer. A paz, somente a paz e tudo que nasce e quer viver. Tudo em si é vida, é a contemplação do ser. O humano, o húmus ser e o sonho da criação.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Frases soltas em um texto qualquer

Percebe-se que o mundo a sua volta, volta para si mesmo, os mesmos olhares e os mesmos sentimentos das mesmas dores. Abre-se o livro do tempo e procura sua história encravada ao longo de suas páginas. Assim falou ao seu mundo, o mundo é de todos, não há um mundo em mim, não entendeu a mensagem e partiu para uma viagem sem fim. Não roube as estrelas que as noites poderão ser infinitas. Cantem todos os cantos ao sorriso do sol e ao sabor de todas as manhãs.

À beira do caos apanhando flores em um jardim petrificado. Segue em frente, mas cuidado que o abismo está próximo. E a água ácida sacia a sede e nutri a nossa estupidez. Distante muito distante, um solitário horizonte entre olhares perdidos e campos de girassóis. E um tempo que está por vir desafia tudo e em tudo que se acredita.

A verdade e a mentira, a vitória e a derrota, a virtude e o vício e a liberdade cai por terra diante de tantos absurdos e tantas barbáries.

Antes do antes e depois do depois e o agora é um sentimento que abraça em meio a solidão entre os olhares do mundo. Entre um acordo e outro se esquece tudo que foi dito, nada mais importa diante de tantas superficialidades. No jogo de poderes, tudo é válido, o que interessa é manter os privilégios.

O horizonte pode levar ao infinito, mas não dá para seguir por esse caminho e muito menos por aquele. Amanheceu outra vez e outra vez o desejo de ter o mundo, de ser o mundo ou distanciar do mundo aflora o existir. Novamente o refúgio e o escuro da lua e as infindas noites. E o sonho escorre por entre os dedos e os anjos levam flores aos desérticos jardins.

Entre vencidos e vencedores, o herói se exila em si mesmo num combate imaginário. Um instante se faz em um momento que se desfaz na incessante busca de algo no oásis da existência. A consciência desacelera e uma flor murcha sobre o escaldante sol do meio dia.  Em uma mão o vazio da existência, em outra mão um punhado de esperança e sonhos entre as estrelas extasiadas em essência.

A ilusão desiludida frente ao sonho que fez pesadelo num encontro desencontrado. Sob a noite o fel em poucas doses embriaga o sono que se esvai nos próximos segundos. Soa o silêncio no vazio de um instante em pleno amanhecer de um dia qualquer e um instante de eternidade. O bem é mais e um pouco de alguma coisa para preencher um simples momento que esconde o mal no subterrâneo da existência. 

Nos caminhos das desventuras, escravos de um pensamento padrão, cuja futilidade é a máxima doutrinária. Ensandecidos pelo barulho infernal, o silêncio se refugia e cala-se diante de tantos absurdos.   O tempo se foi, o vento já passou e o sonho segue seu caminhar alimentando a essência dos sábios que habitam um tempo qualquer. E nas entrelinhas do caminhar, um transeunte em distantes veredas fugindo de si mesmo refém dos próprios pensamentos.

E as pedras falarão quando os homens se calarem e o silêncio falará ao infinito o segredo guardado as sete chaves. A seta ponta para outros nortes depois da outra margem de outros rios. E sob os resquícios de ilusão a odisseia do tempo em versos e prosas entre os encantos dos dias que virão. A mente aturdida não parava de viajar, entre sonho e realidade busquei abrigo no ínfimo momento de um instante que se apagou em um tempo que nunca existiu. 

A tarde chega e a noite engole o dia e a lua soberana perpetua a sua luz num oásis perdido em que me encontrei depois de uma manhã. Na mente, o exílio e a paisagem equidistante de um paraíso devastado. E sob os resquícios da tempestade, estilhaços de algum dia que ainda não passou. 

Às margens do sentido, mendigando um pouco de atenção, procurando entender as coisas como elas são e porque são assim. A verdade não sei, a mentira está por aí em qualquer lugar. 

O tempo parece eternizar em algum momento, não sei, talvez seja bobagem, coisa que não faz o menor sentido. Entre frases soltas de um texto qualquer, um resto de alguma coisa, algo que sobrou. Talvez em algum lugar, não sei, mas imagino que haja alguém querendo ensinar outro caminho, além do caminho das pedras.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Espectador do acaso

Imagino um dia calmo, céu azul e os raios de sol entre os olhares. E mais um dia que passa e eu aqui observando e tendo a impressão que algo me observa. Talvez o inesperado, ou talvez seja apenas uma sensação que me envolve por alguns momentos suplicando por um pouco de atenção. 

Mas nem sempre estamos disposto a ouvir, estamos muito ocupado. Não nos olhamos e tampouco nos enxergamos, estamos acostumados com as mesmas coisas que compõe o nosso pequeno mundo. Não vemos ou não queremos ver a sujeira embaixo dos nossos pés. É mais um dia e nós nos acostumamos com o que somos e a indiferença é a nova regra que permeia o nosso viver. 

Um dia a mais e um sorriso triste entre os olhares do acaso. E em uma tarde vazia um vento sob o silêncio e as feridas do nosso tempo em dores profundas. 

No mistério sem fim se equilibra os momentos no desfazer de um pensamento que ainda pensa, quer e deseja a liberdade que está no próprio de pensar. Observando o acaso como espectador de si mesmo, sentado às margens da imaginação, observando o futuro pelo retrovisor da memória. 

Como espectador do momento em que tudo se faz minunciosamente e tudo passa a ser imperceptível aos olhos. Uma folha que se movimenta ao leve toque do vento. E nada disso precisa fazer sentido. Não é assim que pensamos, para nós tudo precisa fazer sentido, caso contrário não terá o mínimo valor. 

A nossa voracidade pelo ter, por ter sempre mais e cada vez mais. Qual é o sentido do ter? Qual é o sentido do ser? Precisamos ter sempre mais, mais e mais. Mas nada nos satisfaz, as nossas necessidades são insaciáveis. Enchemos os nossos dias de cansaço e esperamos a esperança para nos encher de felicidade. E assim vivemos dias frustrantes esperando algo que nunca chega. Guardamos todas as expectativas para dias melhores no futuro, enquanto passamos pelo presente como se nunca estivéssemos existidos. 

Abordamo-nos diante dos mais profundos sofrimentos e muitas vezes sem forças para seguir, estacionamos em nós mesmos. Perdemos a coragem e tentamos a todo custo achar o significado e o sentido para tal desventura. Por que precisamos buscar sentidos para justificar tudo que fazemos? 

Observando o acaso e como espectador de tudo que nos faz, nos refaz, nos envolvem e somos envolvidos. Na matemática da vida muitas vezes não sabemos quais operações são as mais propícias para cada momento. Será que o acaso nos observa e quer nos orientar? Qual será a nossa atitude? E como sabemos? As coisas não são fáceis, mas se ao invés de ficarmos reclamando e apontando o problema, olhássemos para as possíveis soluções, as coisas se tornariam muito mais fáceis. 

Somos espectadores de nós mesmo e no palco da vida nem aplausos e vaias nos fazem piores ou melhores que ninguém. Somos o que somos e podemos ser melhores como seres humanos, se essa for a nossa decisão. Ser melhor a cada dia e oferecer sempre o melhor de nós para sermos melhores como seres humanos.

E muitas vezes nos espantamos com tal atitude e tornamo-nos reféns de nós mesmo. Falamos aquilo que pensamos, mas muitas vezes não pensamos, apenas falamos sem pensar nas possíveis consequências. Será que somos o que pensamos? Será que temos consciência do que somos ou vivemos de falsas aparências? Até que ponto somos influenciados por outras pessoas? Como se vivêssemos na caverna de Platão. 

Meu pensamento aportou em outros dia e em uma bela manhã perguntou para si mesmo: Quem sou eu? E depois saiu por aí entre as madrugadas da vida tentando encontrar o início do caminho. Entre as margens da vida se equilibrando em meio ao medo e a coragem e se perdendo entre as mentiras do acaso. E depois um novo dia amanhece só para ver as noites e afagar as faces da lua. Ainda há algo além de tudo que os olhos vislumbram em outros horizontes que contempla outros olhares. Ainda é cedo, fique um pouco mais para contemplar o que está por vir.

O que queres? O que será do futuro? Antes do futuro uma indagação: como estamos vivendo o nosso presente? O momento, o instante e o agora. Será que estamos aqui? O que façamos, façamos com consciência. Sejamos nós mesmos se aventurando na busca de nós mesmo. Observando tudo que nos envolve nesse ínfimo milionésimo de segundo que compõe o tempo do tempo que tenho ou penso que tenho. Envolvidos entre palavras, pensamentos, sentimentos que nos dizem ou quer nos dizer algo indecifrável. Dá a impressão que estou vendo o pensamento em pleno exercício de pensar e o sentimento se solidarizando com todas as dores do mundo.

Dê-me um aceno, só para dizer que está aí. Não atire moedas aos porcos e nem jogue aos leões aqueles que julgamos derrotados. Sentado na beira de um riacho de água cristalina contemplo o todo e visualizo o olhar do tempo como espectador do acaso.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Sob o sol de uma intensa manhã 

A mente aturdida não parava de viajar, entre sonho e realidade busquei abrigo no ínfimo momento de um instante que está por vir. Então é assim que tudo passa fazer sentido. Vi o amanhã entre os sonhos e saí por aí sob o clarear do dia em busca de algo para fazer sentido. Ainda não sabia e nem sequer entendia, para ser sincero, não sei se queria entender. Era quase noite e o, silêncio entre o vazio sob os fluidos aromatizante que preenchiam aquela imensa imaginação. 

A tarde vazia se fazia distante. E assim chegava a noite e logo tudo se aquietava sob a sublimidade de um longo silêncio. O dia seguinte e a lua soberana perpetua em outras noites todos os desejos que perfazem sonhos e realidades. 

Na mente, o exílio e a paisagem equidistante de um paraíso devastado. E sob os resquícios das tempestades, estilhaços de um sonho qualquer emersos nos escombros da verdade. A noite adentra o universo das palavras em que a liberdade ainda pulsa na incessante busca de sentidos quando nada mais parece fazer sentido. 

Sob a sombra da imaginação escondo-me do sol entre as inquietações que sempre me quer por perto. Logo que um novo dia amanhece e logo se envelhece entre o escuro da noite. E assim se vai longe e ao mesmo tempo que se pensa do cansaço das longas caminhadas entre as margens da imaginação. 

Às vezes a solidão me alimenta, em outras vezes faço da solidão a minha mais profunda inspiração. Os livros me fazem bem, e é neles que viajo para os mais distantes lugares. E ao mesmo tempo me dá a sensação de pertencimento, não sei ao certo o que me fascina se é a simples presença de ser e estar inteiramente integrado com o todo. 

As belas canções, os mais profundos versos de uma profunda poesia. Eu não sei dizer, mas algo me encanta, sempre me encanta. Talvez eu esteja próximo ou talvez esteja muito distante que me perdi de mim. As mais belas, fascinantes e encantadoras de todas as vezes que estive só durante uma breve sensação de uma profunda ausência.

Passos desalentos seguem rumo incerto em busca da plenitude. Vire a página e leia o próximo parágrafo. Sinta a leveza das palavras e aprecie o sabor dos intermináveis momentos. Não há como apressar o tempo, deixe a fugacidade preencher essas tardes vazias. Não conto o tempo, não sei quanto tempo tem o tempo e quanto tempo ainda me resta.

 No outro lado, outro mundo e outras ilusões se desfazem perfazendo os mesmos rituais, sob o sol de uma intensa manhã. Alguém em algum lugar, em algum lugar há alguém à espera de algo sem saber o que é e quando chegará.

Depois das lágrimas o arco-íris colore o horizonte e perfaz um novo olhar. Ouço a melodia do tempo nas canções da vida sob versos do acaso. Outras vezes em outros momentos e para falar ao vento o segredo do acaso. 

As longas paragens e os desejos flutuam sobre asas feridas, mesmo assim insiste em voar nas asas da liberdade e na busca do sossego nas madrugadas vazias sobre a ternura ao amanhecer.

Antes do antes e depois do depois e o agora e aquele olhar que eleva, não sei explicar o tempo. Não precisa explicar, deixe o tempo, deixe o vento.  O horizonte pode levar ao infinito, mas não dá para seguir por esse caminho e muito menos por aquele. Amanheceu outra vez e outra vez o desejo de ter o mundo, de ser o mundo ou distanciar do mundo aflora o existir. 

A semente do acaso semeada nas margens da existência, florescem os sonhos na esperança de germinar um novo amanhecer. Talvez haja alguma coisa para dizer outras verdades. Talvez seja apenas uma ilusão desiludida perdida no vazio do próprio existir. 

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Entre as utópicas esperanças 

O ser humano e sua história. O ser humano em sua história. Sapiente e demente em busca de si mesmo e se perdendo em si mesmo. Será que nos conhecemos? Quem é o nosso inimigo? Consumimos o que nos alimenta, o que nos humaniza e tudo que está ao nosso alcance. O que nos alimenta nos humaniza? Consumimos o tempo ou somos consumidos pelo tempo? 

Os traços deixados de lado, lápis e pincéis e o contorno da fragilidade humana no painel do imaginário. Sonha um dia uma manhã debaixo das sombras do mundo, ouvindo histórias dos primórdios da humanidade. Sonhando ainda o mundo e suas aflições nos becos e favelas num romance sobre os vendavais. 

Percebe agora a força que move e ao mesmo tempo essa mesma força paralisa e age sem obedecer qualquer ordem, impulsionando tudo que vem pela frente, devastando campos e cidades. Semeiam flores à beira do caos para enfeitar as cicatrizes da alma. O sol quer uma fresta e pede licença para brilhar em meio a tempestade, sua luz aquece mentes atrofiadas e corações dilacerados.

O mundo imaginado entre planícies e montanhas dos cegos que olham e não conseguem enxergar. Distante caminhar e o caminho segue o rastro do arco-íris e depois do sol e o oásis. E entre lágrimas e flores a tristeza nos olhares e as dores de um mundo ferido.

Nômades nesta terra de hipocrisia, de luxuria, fome e injustiça. Agora o sentimento, depois as paixões e quem sabe ainda haja amor.  A ampulheta se perdeu sobre as areias do deserto e não viu o tempo que já passou e a fenda que se fechou.

A solidão machuca e a dor é silenciosa. E o menino anda pelas ruas sem saber o que procura, sem saber de onde saiu e sem saber aonde vai chegar. Chora uma lágrima no escuro de um olhar, e a rua é a casa, a calçada é cama e a lua não cansa de clarear. O sonho sob os raios de muitos sóis enquanto adormece a criança nos braços da esperança que caminha sob as flores entre espinhos e essências. 

Tememos pelos nossos erros e quando erramos se apequenamos diante do que pensam de nós. O erro é parte de qualquer processo, o que não podemos é culpar o outro pelo nosso erro ou fracasso. A soberba, a arrogância, a hipocrisia desfaz a essência e desvirtua toda e qualquer virtude. Entre meio a tudo isso, morre a humildade, perfazendo qualquer caminho e de mãos atadas buscamos as estrelas, mas elas estão além do alcance, desvirtuamos o nosso caminhar, perdemos nosso porto seguro, desnorteamos o nosso próprio ser. 

Uma manhã silenciosa e um vento suave e uma sombra à beira de um riacho de água cristalina e a mente sob os fluidos de um distante pensamento. Enquanto meus olhos se perdem na imensidão que em mim delineia os próximos passos de uma longa imaginação. 

 Em meio a toda essa crise em que vive o nosso mundo, aliás, em que vive as pessoas. São as pessoas que estão em crises. Nós somos o mundo, nós estamos no mundo e somos partes de toda a sua maldade. Somos capazes de inventar, transformar e sonhar. Também somos capazes de destruir e transformar sonhos em pesadelos.  

Ao sabor do tempo, voam asas em liberdade e infinitas verdades a povoar as mentes insólitas que ainda sobrevivem, apesar da soberba e a arrogância a acampar ao ar livre. O caos e o oásis aos olhos de nuvens passageiras e a acidez das torrentes chuvas que enche mares e rios inundando os sertões. 

Segue as veredas em diferentes direções e abismos que nutri o cume da ignorância e alimenta a nossa estupidez. Nos campos e desertos, a fome e a sede e toda a nossa insensatez. 

Ao tempo um segredo, só peço que não conte a ninguém. Não sei em que momento o mundo vai encontrar a paz. Não sei se algum dia te encontro sorrindo entre às estrelas apanhando flores no jardim secreto sob suaves melodias e noite enluarada.

Ainda lembro não faz muito tempo um sentimento viajando em insólitos pensamentos desembarcando na solidão dos jardins.  Envolto as alfazemas, perdi-me entre os olhares do mundo e não me encontrei. E o meu mundo se faz logo ali além do horizonte, entre resquícios de cristais e sob as asas de um pássaro sonhador que voa sob planícies verdejantes entre as utópicas esperanças.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Os olhares que contemplam a beleza do amanhecer

É só sonhar um pouco mais. É só caminhar e seguir sempre em frente em direção do sol. Os olhares buscam a exuberância que há em tudo que em mim retrata algo que possa me preencher. Em algum lugar, e em muitos outros lugares, há muito de mim que ainda é pouco explorado. Talvez ainda esteja um pouco escuro, não sei, mas ainda há algo para ser decifrado, algo que possa dizer alguma coisa, caso contrário, cale-se pelo menos por alguns momentos.

Então, as águas jorrarão e o tempo seguirá o seu fluxo. E sob as incógnitas um pouco mais do que ainda será, embora não se sabe nada do que existirá depois. Depois dos próximos momentos, os próximos capítulos de uma nova história. O que acontecerá depois dos próximos momentos será um segredo guardado entre o tempo e o silêncio.

Mas o vento suave e emblemático me leva para outras margens de outros rios. E deflagrando de um momento de silêncio deixo-me levar por alguns instantes para além de mim. Mas o mundo em minha volta não me deixa dormir e os anjos velejam estrelas no quintal do paraíso.

Cale-se e deguste um cálice de virtude sob o dissabor dos próximos momentos. Alguém quer dizer algo, ouça e se delicie com as estranhas palavras e as impurezas impregnadas nas faces imaginadas que se esconde em um tempo qualquer. Cale-se e ouça o vento logo ao amanhecer, e não tente decifrá-lo, apenas ouça o som dos instantes sob a melodia do acaso.

Em meio a tudo isso, há um processo em curso e na extensão de tudo que pode ou poderá acontecer, mas ainda existe a possibilidade de nada existir. São vagos pensamentos que pode servir para preencher o vazio do próprio vazio do próprio existir.

O que eu quero satisfaz os meus desejos por alguns momentos, mas não sacia-me por inteiro. O que me satisfaz talvez possa não alimentar o meu eu e nem nutrir o meu ser.

Um alento do tempo ao próprio tempo e as águas fluem formando outros rios, desertificando corações e mentes, semeando flores no caminho da esperança. Depois das lágrimas, o arco-íris colore o horizonte sob um olhar entre as sete cores. Ouço a melodia do tempo nas canções da vida, nos versos e nas palavras que sempre querem me dizer alguma coisa. Não se incomode é apenas o silêncio querendo me ouvir.

O tempo que passa ao resvalar do vento e tudo que fica em sorriso ausente. De momento em momento faz-se o inexplicável. E entre um momento cabe um instante e o imponderável fala ao acaso os segredos do próprio silêncio.

A dureza do caminhar atiça a coragem e a verdade parece distante, assim como sol e a terra. Glorifica os vitoriosos e os derrotados jogam aos leões, ousam-se fugir dos castelos em ouro e prata enfrentando as fúrias dos dragões e dos vendavais. Criam-se monstros e fantasmas nas insólitas noites para assustar o dia e assombrar os sentimentos. O mundo e seus conflitos. Aflições e tormentos. A guerra em busca da paz.

As longas paragens e os desejos flutuam sobre asas feridas, que mesmo assim insiste na busca de sossego nas madrugadas vazias sobre a ternura ao amanhecer. Sob a fúria do vento, sonhos e esperança alimentam as aventuras humana. Distante daqui, o sol desenha os seus raios entre olhares distantes e sob as luzes que aquecem os gélidos corações esconde-se os encantos entre as faces do imaginário. 

Distante muito distante, um solitário horizonte entre olhares perdidos e campos de girassóis. Tudo parece que está ao alcance das mãos, e um tempo que está por vir desafia tudo em tudo que se acredita. A verdade e a mentira. A vitória e a derrota. A virtude e o vício. E a liberdade entre as amarras da ilusão se perde entre tantos absurdos e tantas barbáries.

Tudo está a nossa inteira disposição, mas diz o bom senso para usar com responsabilidade para não perecer mais tarde. Ao mesmo tempo em que tudo parece tão fácil, tudo se torna tão difícil. E o mundo continua como sempre, nas ruas a fome e a solidão numa caminhada sem fim.  A nossa história e a história de cada um.

Intuído de boa vontade e com propósitos de sempre praticar o bem.  O bem nos humaniza e nos faz melhores. Tudo se desenvolve, se transforma, cria e recria. Numa interligação conectando o mundo ao submundo, sonhos e realidades, imaginação e conhecimento.  Mesmo que distante vislumbra o todo e a sua vasta exuberância. Entre o nada, há apenas uma lágrima e os olhares do infinito que contempla a beleza do amanhecer.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Sapiência

Falar do mundo e do que nos move. O que nos move nos dias de hoje? Os grandes conglomerados no mundo dos negócios que ditam as regras e faz girar a roda num ritmo consumista em uma visão totalmente mercadológica. O lucro a qualquer preço, não importa os meios, o que interessa são fins. 

Qual é a ideia ou a mensagem dessa crônica? Vou falar de economia, de mercado, de negócio e algo mais. Alguém vai ler isso e pode pensar que é isso mesmo. Como cidadão eu tenho as minhas responsabilidades, tenho a minha opinião, assim como todos podem opinar sobre o que quiser.

Eu preciso entender ou pelo menos ter uma noção do que está acontecendo ao meu redor. Em que os acontecimentos do mundo me envolve e interfere no meu dia a dia. Qual é a minha responsabilidade?

O que eu entendo sobre inflação, e qual a relação com o nosso salário? Segundo os economistas, a inflação afeta mais as família com baixo poder aquisitivo. A explicação é simples: A inflação aumenta os preços dos produtos, diminuindo assim o poder de compra dos consumidores. O reajuste do salário mínimo não representa um ganho, e sim apenas uma equiparação salarial. Para que haja ganho, o reajuste teria que ser acima da inflação.  

O nosso país é um dos mais desiguais do mundo. E o que está sendo feito para mudar essa realidade? Nessa semana houve um corte de mais 3 bilhões de reais no ministério da educação e ministério do trabalho e previdência social. Esses cortes afetam também a área da saúde e assistência social, só ressaltando, corte de verbas na saúde em plena pandemia. Enquanto isso o presidente sancionou o fundo eleitoral de quase 5 bilhões de reais. 

Parece que um forte, turbulento e ao mesmo tempo manso e suave silêncio repousam sobre a tarde que debruça sua face nos ombros da imaginação. E de repente vem o vento e me leva para estranhos lugares. Como mensageiro do meu tempo, imagino o tempo todo, se eu pudesse dominar o tempo. 

Imagino-me como um barco à deriva sobre águas calmas e sem perceber logo sou uma criança e o meu quintal passa a ser o meu mundo. Logo ali entre os emaranhados de tudo que parece se perder no imenso vazio que alimenta e nutre as manhãs nos mais ávidos momentos que retrata a face sublime de um novo tempo.

Então, as águas jorrarão e o tempo seguirá o seu fluxo. Em silêncio contemplo as estrelas das noites futuras e as lágrimas nos olhares do mundo. A exuberância da vida e toda a essência que perfaz a vida na virtude do bem viver. Mas o vento suave e emblemático me leva para outras histórias e nelas viver outras aventuras. 

Diante do espelho o reflexo da alma e as lágrimas buscam outros olhares nos labirintos da noite.  E as luzes sob os vestígios do nada, tateando a imagem em fragmento sobre os escombros da verdade. Com as mãos vazias, a fome de pão e a sede do mundo na secura de todos os corações. Abraça-me num instante qualquer e vomita o coração da humanidade num hiato de ternura e complacência.

Nós e o mundo. Nós somos o mundo. E o nosso país diante de tantos desafios, conflitos e desalentos. Tantas vidas vividas em pleno sofrimento. A miséria do país e a ostentação do poder. O descanso e a paz nas serenas manhãs na completude do ser.

Nas nossas mentes e em nossos corações o que já foi e o que ainda é, e o que está por vir; e o que já foi feito e o que está por fazer. Esperança e sonhos se abraçam, sob as lágrimas dos olhares perdidos, que trazem nas mãos as flores do amanhã.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Política: Situação X Oposição 

Na coluna de hoje, vou retomar e reescrever o texto que foi a minha estreia nesta coluna. O referido texto falava de política, convenhamos que o assunto é muito rico e suscita acaloradas discussões. Não é esse o meu intuito, apesar que nos dias de hoje, isso é quase impossível, pois, a polarização política tomou conta do país. Esquerda, direita, oposição e situação. Não sei o que os leitores pensam, se é possível ser imparcial, quando se fala de política nos dias de hoje. 

Naquela ocasião era um texto em que eu brincava com esses dois lados, oposição e situação. O texto se iniciava dizendo que política é um jogo em que todos pode ser perdedores. Analisando essa frase, hoje eu não usaria a palavra jogo, pois um jogo sempre vem à mente que alguém venceu, se alguém venceu, e então alguém perdeu.  

A política não pode ser vista assim. Quem vê a política como um jogo, faz dela um negócio em que, um quer sempre levar vantagens. E não é difícil ver isso, principalmente nos dias hoje, não que antes não tinha, é que hoje temos mais acesso as informações. Hoje vejo que não podemos analisar a política como jogo. A política não é para favorecer uns e desfavorecer outros.

É possível perceber que há políticos que agem com convicção naquilo que acredita, fazendo da política um instrumento em prol de melhoria para sociedade. E há aqueles que agem apenas com interesses, interesse ao seu favor e ao seu grupo político. Entre um conchavo e outros, uma “negociata” aqui, outra acolá, e assim a política passa a ser uma barganha, algo que seria inegociável, mas infelizmente hoje tudo tem um preço e paga-se muito alto. E o pior de tudo, é que se paga com o dinheiro público. 

A situação governa e a oposição, posso dizer que ela faz crítica. A oposição joga pedra, porque sabe que o governo tem “teto de vidro”, pois, a oposição de hoje, já foi governo ontem e conhece toda a sistemática do poder. Hoje a oposição faz crítica, dizendo o que precisa ser feito, mas quando era governo não fez o que hoje critica. 

Governo e oposição, dois lados da mesma moeda que dificilmente caminham na mesma direção. O interesse de um, desinteressa o outro, e assim, governo e oposição, verdades e mentiras, tudo é verdade; tudo é mentira. Em tempo de eleições a situação (governo) fala o que fez e a oposição fala o que faria se fosse situação, mas quando a oposição passa a ser situação esquece tudo que falou quando era oposição.

Até que ponto a crítica é intriga da oposição? Na nossa política, é muito comum atribuir os erros ao antecessor. Sempre quem assume, assume “a herança maldita” termo usado muitas vezes para eximir-se de responsabilidades, temos ouvido muito isso nos dias hoje, sendo falado pelo poder executivo federal. É bem mais fácil atribuir os nossos erros a outros. A oposição que era governo não fez o que hoje critica. A crítica não deve ser vista como uma perseguição. A crítica política é a ferramenta da oposição, e ela usa de acordo com as suas conveniências.  

Infelizmente, a política é visto como um jogo, e jogar bem ou jogar mal faz toda a diferença. Nesse caso, os beneficiados são sempre os mesmos, pois a política é feita em benefício próprio. Legisla em causa própria. Os vencedores são sempre os mesmos. 

O que fazer? Será que a política é suja? Será que todas as pessoas que entram para a política são desonestas ou ficam desonestas? Qual é a nossa responsabilidade? Temos responsabilidades? Os políticos que lá estão, lá estão, porque nós o pusemos. Então, a responsabilidade também é nossa. 

Temos o direito ao voto, escolher os nossos representantes. Votar também é um dever, uma responsabilidade. Somos responsável por aqueles e aquelas que nós elegemos. Não é somente em ano de eleições como esse que devemos falar de política. Pelo contrário, a política faz parte no nosso dia a dia e deveria ser ensinada em nossas escolas. 

A política é suja? Não. A política é uma ferramenta que pode construir ou destruir, depende das mãos que a manipulam e a intenção pela a qual ela é usada. Maquiavel já havia afirmado, no século XVI, que a política tem pelo menos duas caras: A que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores do poder.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Resquícios de um dia qualquer  

Um dia, qualquer dia em qualquer situação. São coisas que acontecem que muitas vezes não sabemos o que e porque algo aconteceu. Mas isso não tem a menor importância, nenhuma relevância. Em todos os momentos alguma coisa está acontecendo, independente da nossa vontade. 

Qual é a minha vontade nesse momento? É uma discussão à toa, depois que passa a gente vê que nada daquilo tem ou tinha importância. Confesso que não perco o meu tempo por assuntos irrelevantes. Vamos falar de política? Senta aqui e vamos conversar. 

Olha, não quero falar especificamente de política, não que eu não goste desse assunto, não é isso. Então deixe eu falar do que vier na mente. São tantas coisas que vem à mente que eu não dou conta, não consigo escrever tudo. Talvez seja melhor..., não sei o que é melhor. 

Esses dias, esses momentos, e em um dia qualquer. Como assim? Não sei. Qual é a pergunta? Também não sei. Quero dialogar com o nada. Mas o nada não está disposto a conversar. Estou aqui escrevendo alguma coisa, algo que vem à mente. Talvez escrever sobre tudo ou talvez escrever sobre o nada. 

Uma busca constante. Um sorriso, uma lágrima e um adeus. E outros dias seguem o mesmo ritual. O mesmo lugar parecia tão diferente e os dias tinham a sensação que eram intermináveis. 

E assim se passaram os dias em uma história ainda não contada. Nada mais faz sentido, dizem alguns. Enquanto outros afirmam que o sentido está no próprio existir. A existência diz quem é, embora eu não queira ouvir esse algo que quer me interrogar. Em meio a tudo isso, há um processo em curso e na extensão de tudo que pode ou poderá acontecer, mas ainda existe a possibilidade de nada existir. São vagos pensamentos que pode servir para preencher o vazio do próprio vazio do próprio existir. 

O sentido das coisas são as coisas sem sentidos, tudo que quiser está aí. Se quiser falar, fale, talvez alguém possa lhe ouvir. Caso isso não aconteça, tudo bem, me apego aos resquícios de um dia qualquer. 

Dialogam debaixo de uma frondosa árvore, a paz, a justiça, a solidão e a felicidade, todas em busca de sentido para o próprio existir. O futuro é incerto, mas mesmo assim tenha a certeza que o tal futuro chegará. 

Um pouquinho de sol para aquecer o inverso da alma. Doces são os dias e as horas sem se incomodar com os segundos que se fez ontem. Em frente, sempre em frente até chegar ao sol e sucumbir-se em si mesmo. Penso assim e por aí flui a névoa cinzenta que vai ao encontro das estrelas e beija a face da lua. Saiu em uma bela amanhã à procura do sol, mas o dia estava nublado.

Voam para bem longe, para além da imaginação. E depois voltam para apanhar as flores no mesmo jardim. Para bem longe oura vez, um estranho em si mesmo. Talvez ainda não conheça, é apenas o desconhecido, a ponte para outra margem. 

As águas de outros rios e as lágrimas de outros e diferente olhares sob os mesmos horizontes. Amanhã não sei, ainda não conheço o caminho. Sempre em frente em busca de novas possibilidades. Sentir, pensar e ver o tempo passar. Nada é estranho, tudo é conhecível e o passar do tempo me faz bem. Voei até as alturas e o infinito estava na solidão e o horizonte se encontrava distante. 

Quero voltar aos mesmos jardins e abraçar as flores e saciar a sua beleza. Assim diz um estranho ao adentrar o jardim e extasiar com a exuberante beleza: Dê-me um pouco de essência, preciso alimentar o meu espírito. E partiu para uma distante viagem.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


Nutre-me a esperança ao sabor da poesia do amanhã

“Um novo tempo apesar dos perigos e da força mais bruta. Da noite que assusta, estamos na luta” (Ivan Lins). O que será em 2022? Todo o início de ano somos envolvidos por singelos propósitos que nos felicitam e nos congratulam por bons fluídos, com as mais belas mensagens de paz. Idealizamos um mundo perfeito. O ano será melhor, acredite.  Será que o mundo que eu quero está ao meu alcance? O mundo é uma crônica, é uma poesia, é um conto. Poesias, versos, palavras, narrativas, enfim, tudo cabe nessa epopeia humana. 

Crônica, poesia, romance, conto e a face humana retratada sob as águas cristalinas de um rio que inunda a nossa existência. O início de uma nova imaginação preenche o vazio do próximo amanhecer. Início de novas brincadeiras no jardim da nossa eterna infância. 

A poesia quer fazer chover e entre os seus pingos declamar os versos que molha os sentimentos e germina o nosso viver. É janeiro, verão, é início de ano. O tempo sob o sol e o vento suave aquieta as manhãs. Acalenta esses sentimentos e diz para si mesmo o que sentimos nesse breve sentimento que perfaz esse longo momento. 

E a extensão do tempo e a distância entre o início e o fim. Entre tudo que há, ainda há os velhos medos e um dia que vai se passando entre verdade e mentira, e a liberdade que nos aprisiona. 

Alguém diz alguma coisa, ninguém ouve, ninguém escuta. Nada lhe interessa, nada o que foi dito e do que está sendo dito nos interessa. Tudo está barulhento e as ruas escuras dorme às noites vazias. E o silêncio se escondeu entre as frestas da imaginação para contemplar outros brilhos de outras estrelas. 

Em meio a toda a essa inquietação, um sonho querendo acordar. Um sonho, apenas um sonho e tudo mais que possa me aquietar nessas frias noites de verão. Será que a poesia sobrevive à miséria humana?

Nas margens da imaginação, a sede e a fome e a loucura humana que devoram as flores nos jardins da vida. Uma crônica das manhãs e de todas as imundícies que corroem a essência e faz morrer um pouquinho de nós a todo o momento. Então me abraça e diz que sou o seu sonho em uma noite enluarada e que os dias que estão por vir sejam cheios de contemplação e de vida em abundância. 

A poesia dos momentos, a crônica dos instantes e o conto de uma noite sob o sublime cantar dos anjos e dos arcanjos. Amanhã são outros versos que poderão doer mais ou menos, isso não importa. A porta está sempre entreaberta e o infinito quer adentrar e fazer a sua morada. 

Há um horizonte entre um olhar que se fechou e as lágrimas do mundo querem que todas as dores sejam aliviadas. Há esperança entre os escombros da imaginação. A esperança que sonha, e o seu sonhar sempre será uma estrada, um caminho para um mundo melhor. Nutre-me a esperança ao sabor da poesia do amanhã. As belas canções, os mais profundos versos e o sublime amanhecer dos dias que estão por vir. 

Ouvir o silêncio e imaginar o quão dócil é a face da vida. Antes que alguém fale que a vida é dura e viver é difícil, eu não vou discordar, apenas direi: a vida está aí, ela pertence a você e só você sabe a melhor forma de vivê-la. Ter esperança é bom. A esperança nos humaniza. 

Esse é o primeiro texto do ano, estou falando de esperança e não é por acaso. Eu sou esperançoso, pois ela me faz acreditar que sempre precisamos de algo. Todo o início precisa de um ponto inicial, de um passo, e a esperança é isso, sempre acreditar que o próximo passo será melhor. Não podemos caminhar sozinho, bebendo a nossa solidão e se afogando nas nossas amargas lágrimas. Somos dependentes, por vezes carentes, embora não aceitamos tal fraqueza. A nossa mesquinhez, a nossa soberba, a nossa estupidez e a nossa arrogância mostra o nosso lado mais sombrio e alimentam os corações petrificados.

Semeamos o nosso jardim para colher flores e frutos. Colhemos o que semeamos. E em numa bela manhã, sair por aí escrevendo novas histórias, poetizando os instantes para viver os próximos momentos. Filósofo da Grécia Antiga já dizia que tudo flui, tudo se transforma, tudo passa e que um rio não bebe a mesma água. 

O sentimento que nos humaniza. As flores de todos os jardins e o coração da humanidade num enlace cósmico. Abraçam-se lua e estrelas, dia e noite e todos os olhares vislumbram os novos horizontes e um verso embevecido em êxtase contempla a sublimidade da vida em uma bela canção de esperança.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP, integrante do Projeto essência - Capão Bonito/SP e autor de 4 livros, entre eles o mais recente - A lucidez do silêncio


A imensidão passa a ser o meu quintal  

Vamos brincar de fazer poesia? Qual é a receita, o passo a passo para compor uma poesia? Tudo é muito simples. Não precisa preparar o ambiente, achar um local que seja aconchegante. E como escolher as melhores palavras  e formar as frases? Será que é só isso? Como começar? Qual é o caminho?

Vamos formar as frases que queiram fazer parte dessa poesia. Talvez frases não seja o termo adequado, quando se refere a poesia. E ao invés de formar frases, vamos ter inspiração, criação e dar vida aos versos que vão alimentar essa poesia. 

Então, qual é a receita? Não tem receita. Não precisa preparar nenhum ambiente, nenhum local específico. Apenas uma exigência, permita-se ser tudo e ao mesmo tempo ser nada. Dê asas a imaginação e permita-se voar e voar plainando liberdade de ser e sentir a si mesmo.

Os versos estão em todos os lugares. Olhando o todo e se aventurando com tudo que há. E assim vislumbrando o horizonte e imaginando a imensidão e tudo que ainda há para ser desbravado. Há um verso na íris dos seus olhos. O verso é azul e a abóbada celeste é a poesia. As nuvens são coloridas e colore o olhar sob os pingos da chuva que molha os sentimentos da terra.

Há poesia em mim e ela está em você. Você quer um verso para inspirar o seu dia. Um dia alguém dirá que a poesia é o próprio ato de respirar. Não se prenda, permita ser o ser que há em você. Não espere pelo amanhã, levante, ande e caminhe. Caminhe, pois é no caminhar que se encontra a leveza do próprio caminhar. 

Que versos são esses? Onde ele estava que veio rapidamente alimentar esses momentos e nutrir todos os instantes. Estou poetizando essa belíssima tarde ao som de uma suave melodia e inspirado pelo gosto gostoso do viver. Esse dia está repleto de poesia, agora já é noite nesta terça-feira, 14 de dezembro de 2021. Noite de estrelas e de versos ao luar.

Um silêncio para ouvir o som da imaginação e ver a face do nada. Como se tudo fosse apenas um querer. As estrelas querem brilhar à noite inteira. E a lua timidamente se esconde no escuro da noite. Alguém quer falar alguma coisa, ouça, escute e absorva se fizer bem. 

Tudo ao redor é poesia. Há um verso poetizando o meu silêncio e quer para si tudo que há em si. Tudo que está em mim se refaz a todo o momento e perpassa o meu ser e nutri a minha alma.

Se você quer um verso, sinta-se à vontade, aprecie os seus momentos e saboreie o gosto do silêncio. Queira ser o sol e invadir as noites e compartilhar o luar da lua e o brilho das estrelas. Queira ser o novo tempo, a poesia nas entrelinhas do amanhã. O suor, as lágrimas, os sonhos que semeiam o amanhã. Eu sei que tanto o sol como a chuva às vezes tende a nos maltratar, mas a culpa é toda nossa e da nossa ambição. Estamos destruindo os versos e acabando com a poesia. 

A poesia não me pertence. Gosto sempre de estar ao seu lado. Mesmo quando ainda não a conhecia eu já era parte dela. Não há receita. Não tem nenhuma receita. Apenas a inspiração que a todo momento me convida para viajar. E aí tudo se faz, tudo se materializa. E a imensidão passa a ser o meu quintal.

Sou um amante da vida. O sonho é o meu alimento. E sonhar é deixar que a vida me abrace. Sonhar mesmo nas dificuldades que o mundo me apresenta. O lirismo poético também faz doer. Os versos também me machucam e as feridas podem ser doloridas. 

E o tempo o que diz sobre a poesia? O olhar da poesia e enxergar o tempo como aliado. Poetiza-se o tempo minuciosamente entre os momentos e entre os instantes. O som do silêncio tem o seu tempo. Os períodos que compõe o dia, são os parágrafos de um texto ou os versos de uma poesia. É de manhã, daqui a pouco é tarde e em seguida chega a noite. Assim os versos alimentam a poesia e a vida segue sempre em frente. Os versos não envelhece e a poesia é eterna. 

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


A "Janela de Johari"

Por vezes podemos enfrentar situações que revelam um lado nosso que desconhecemos, diante de situações em que reagimos (reação vem do inconsciente) aos acontecimentos, quase sem pensar na forma como nos comportamos. Segundo os psicólogos Joseph Luft e Harry Ingham, o comportamento humano é como uma janela com quatro compartimentos, denominada “Janela de Johari”.

A primeira janela é aquela área da vida que envolve a personalidade, se refere ao comportamento, emoções; aquilo que é conhecido para mim e para as outras pessoas.

São realidades que eu não consigo esconder, que são aceitas por mim e que as pessoas conhecem. Esta é a primeira parte da janela, representa uma área que é conhecida tanto para nós mesmos como pelos outros.

A segunda janela consiste daquela parte da personalidade que é conhecida somente por nós mesmos, não é revelada aos outros. Trata-se do nosso íntimo, pensamentos individuais, emoções, inclinações, ou seja: nossos defeitos. É aquela parte que tentamos esconder – é obscura para os outros, pois não as revelamos.

A terceira janela é mais preocupante, pois representa a área da personalidade que é conhecida para os outros mas que eu mesma não reconheço, pois é oculta para mim – eu nem sequer percebo que ela existe. Segundo os autores, não somos abertos a aceitar o que realmente somos. Os outros conhecem nossos distúrbios, mas, para a pessoa, é uma área que ainda não foi revelada (interessante isso, não?).

Pense naquela pessoa chata (difícil) que você conhece e por vezes tem que conviver (ai, ai), mas que acredita ser adorável. Acho que talvez cada um de nós tenha casos de pessoas que se encaixam nesta terceira janela. Um exemplo é você se relacionar com alguém que se acha o máximo em termos de bondade e justiça, que pensa ser amado e admirado por todos, mas, na realidade, é um egoísta esnobe que azeda qualquer ambiente e afugenta as pessoas. Se você disser a essa pessoa sobre seu comportamento arrogante, suas atitudes egocêntricas, provavelmente não aceitará, jogando a culpa nos outros. Reagirá com um forte mecanismo de defesa. Todos sabem quem de fato é esta pessoa (o quão chata ela é) mas ela mesma não reconhece, pois esta parte está oculta para ela.

Segundo os psicólogos, a terceira janela representa na verdade nossos distúrbios mentais. 

A quarta janela é a área desconhecida tanto para nós mesmos como para os outros. Potencialidades positivas ou negativas estão ocultas, não foram reveladas. Tanto os carismas, dons, como fraquezas, medos. Isso até o momento em que certas circunstâncias se apresentem e revelem esta área escondida. A pessoa nem sabe como agirá (ou reagirá), pois desconhece esta janela, não lhe foi revelada. (Percebi isso em minha atitude quando fui assaltada e a forma como tratei o ladrão… Eu me surpreendi!).

Assim, em todos nós existem os quatros aspectos da personalidade. Se quisermos melhorar, sermos pessoas livres, sadias, seria necessário compartilhar nossas falhas, defeitos, inclinações. Quanto mais abrirmos a primeira janela, mais nos sentiremos livres; as outras janelas não poderão nos aprisionar, pois passamos a reconhecer nossas limitações, vulnerabilidades, pecados. 

Neste sentido, creio ser importante a ajuda médica, dos psicólogos, psiquiatras, terapeutas; o conhecimento, a ciência, tem muito a oferecer. Mas é importante também renovarmos nossa mente, buscarmos a transformação plena por meio da fé: da Graça.

Confesso que tenho buscado a renovação da mente, do espírito, meditando a Palavra.

Cura-me Senhor e serei curado. Salva-me e serei salvo. Porque sois a minha Glória”. (Jer. 17,14).

O Apóstolo Paulo, na carta aos Romanos, falava livremente de seus pecados, não os encobria. Tratava suas inclinações, erros, com reconhecimento e humildade. Era visto como um modelo e nem por isso usou de arrogância ou soberba, ao contrário, colocou seus defeitos na frente de todos (abriu seu coração): “Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” (Rm 7,14-23). 

Ele admitiu e assumiu a sua humanidade; pediu pela cura. Desta forma, ficou livre.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


 Há um sorriso que afaga e alimenta a minha imaginação

Hoje estou sem inspiração para escrever. Não sei explicar, não consigo encontrar as palavras, até parece que elas estão fugindo ou querendo se esconder. Vou tentar escrever alguma coisa. Vou imaginar o horizonte em seguida quero ver se consigo chegar até o infinito. E quem sabe ver a lua e extasiar com o brilho das estrelas. Tudo isso numa só jornada, vou dar asas para minha imaginação.

 Mensagem em verso prosa sob o clarear da noite em um lirismo poético cheio de nuances. Entre sonhos, utopias e metáforas; caminhos e caminhantes e um longo dia para se cansar e depois uma noite inteira para contar histórias.

Os dias são mesmo assim. Os momentos querem seguir só, como as frases de um texto sem sentido. Não sei mais nada, só sei que os pensamentos me invade e quer de mim o que não há, não existe. Um pensamento vagando em busca talvez de si mesmo. 

Imagino um texto, sei lá, talvez uma prosa se disfarçando entre o lirismo de uma profunda poesia. É um pouco de tudo, é meio tudo, é meio nada, é sem sentido.  Eu não sei, assim como não sei escrever esse texto, não estou inspirado hoje. Mesmo assim, vou escrevendo aleatoriamente tudo que vem à mente. Hoje é terça-feira, 07 de dezembro de 2021. Já passam das 16 horas dessa tarde um pouco fria. 

Assim vou pensando e conectando tudo que está ao meu redor e formulando frases e alimentando esse texto. Olho para o horizonte e não sei dizer o que vejo, o céu é cinza e um vento frio em um quase fim de primavera. Meus pensamentos voam e se perdem em si mesmo. Não me encontro, não me acho e não vejo o invisível, mas talvez em alguns momentos ouço o silêncio. 

A tarde invade o final do dia esperando a noite que está chegando. Da janela do meu quarto, observo o vento entre as folhas das árvores e sinto um pouco de mim distante por alguns momentos. Alguns momentos depois, depois dos próximos instantes entre as palavras e tudo mais que há em uma imensa imaginação. 

Daqui a pouco é noite e as luzes da cidade entre os enfeites multicoloridos nas fachadas das casas anunciando a proximidade do Natal. Estamos findando 2021, daqui alguns dias é 2022. Deixa isso pra lá, não vou entrar nesse assunto agora. 

Na verdade eu não sei se já é o momento de fazer um balanço desse ano. Rever o planejamento que foi feito para esse ano, e ver o que deu certo, o que foi feito e o que se deixou de fazer. Rever os conceitos e tudo que foi planejado para esse ano. Não, eu não quero fazer isso agora. Não era para esse texto seguir esse caminho. Tomei o caminho errado, entrei por um atalho e me perdi em meus pensamentos. 

O intuito desse texto era apenas ser um texto e nada mais. Às vezes me vem à mente alguns resquícios de mensagens inseridas em alguns sentimentos que em algum momento me alimentou e nutriu o meu espírito. 

Gosto de ficar horas e horas lendo um livro. Gosto de ler e sentir os sentidos das palavras, embrenhar em seus sentimentos e mergulhar nas profundezas e emergir tempo depois cheio do inexplicável. Gosto de escrever e de ver as palavras se ajuntando em busca de uma frase. Gosto dos dias de chuva, dos dias de sol e das noites que dorme em mim um pouquinho de todos os momentos. 

Não consegui escrever esse texto do jeito que queria. As palavras não querem fazer sentido e as frases parecem dona de si, caminham por si mesma. Na verdade as palavras não me pertence, seria soberba da minha parte tomá-las como propriedade. Quero tê-las comigo como amigas, como companheiras e como conselheiras.  

Está na hora de terminar esse texto. Estou procurando as palavras certas, mas quais palavras são as palavras certas. Não é bem isso que eu quis dizer, todas as palavras estão aí à disposição de quem quiser utilizá-las da melhor forma possível. Vou ver se consigo terminar esse texto de uma forma simples ou também posso terminar com um verso de Fernando Pessoa ou com uma frase de uma música da Legião Urbana. 

Nem Fernando e nem Legião Urbana. Vou terminar com alguns versos do meu 3º livro que tem como título: Semeando sentimentos no jardim da esperança, que está na página 64, que diz assim: A beleza entre as faces, e o absurdo entre os olhares. A minha fome alimenta migalhas e farta as mãos vazias.  Meu terreno é fértil e germina uma vaga imaginação. Nos restos que ainda há, nos poucos momentos há um sorriso que afaga e alimenta a minha imaginação.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Dia Internacional da Pessoa com Deficiência

Todo Mundo Junto. Inclusão mais perto: Cultura como forma de inclusão. Esse foi o tema e o lema da VI Virada Inclusiva Municipal. Esse evento que aconteceu no dia 30 de novembro de 2021 em celebração do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência que será comemorado no dia 03 de dezembro. E marcou o encerramento da VI Virada Inclusiva Municipal.

O que é uma Pessoa com Deficiência? A Lei 13.146/2015 diz que pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

A pessoa com deficiência ainda é construída no imaginário de uma parte da sociedade como um grupo negativo, incapaz e inferiorizado. A desinformação leva a conformação e a acomodação colaborando para que tudo continue como está. Para contrapor a isso e ajudar a construir novas percepções na formação de uma cultura inclusiva, se faz necessárias as ações de políticas afirmativas na valorização e na importância da pessoa com deficiência na construção da cidadania e uma cidade democrática e inclusiva.

A Virada Inclusiva Municipal é realizada desde 2016 com implantação do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Qual é a importância da virada inclusiva? A importância é dar visibilidade a essa população. Hoje o nosso Município tem 4.098 pessoas com deficiência grave e moderada, isso representa aproximadamente 10% da população do Município.  

Esse evento que há 6 anos vem sendo realizado, esse ano foi realizado de uma forma diferente dos anos anteriores. A virada inclusiva teve a sua abertura na Escola Padre Alindo Vieira, com a realização do esporte inclusivo, com a participação da equipe de goalball da cidade de Itapetininga e o vôlei sentado, a capoeira e a dança.  A 2ª etapa foi na Escola Municipal. Profa. Maria da Conceição Lucas Mieldazis, virada educacional. A inclusão é direito de todos. 

O encerramento da VI Virada Inclusiva Municipal aconteceu no dia 30 de novembro, no Centro Educacional, Cultural e Esportivo Paulo Freire com o primeiro encontro que abordou a cultura como fator de inclusão. Cultura e inclusão como proposta de promover à pessoa com deficiência a ocupar o seu espaço de forma integral. Evento promovido pela Prefeitura Municipal e o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência e com a participação de representantes dos municípios da região, e a participação da secretária dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, Célia Leão e Toninho Macedo, Diretor Cultural da Abaçaí – Cultura e Arte de São Paulo. 

A inclusão se dá em todos os lugares, e em todos os dias. Sabemos a importância da escola, a importância da educação no desenvolvimento humano. A educação como fator primordial para formação de uma sociedade inclusiva. A inclusão é um direito de todos, pois todo a sociedade tem o compromisso de promover a inclusão, respeitando as diferenças e eliminando o preconceito. É a estupidez que alimenta a ignorância e nutre o preconceito. 

É preciso ter em mente que antes da deficiência vem o ser humano. A pessoa está além da sua deficiência, pois essa pessoa é um ser humano, dotado de todos os preceitos como qualquer pessoa. A pessoa em primeiro lugar, o SER HUMANO e não a sua deficiência. Não é a deficiência que nos limita, é preconceito que ainda nos aprisiona. 

Precisamos semear a cultura inclusiva e cultivar as diferenças por justiça e paz. Bradar para o mundo que somos todos iguais que temos o nosso lugar, o nosso espaço. Um pouco mais de nós. Um olhar mais profundo que enxergue as nossas diferenças e todas as nossas individualidade e potencialidades e não um olhar com a indiferença que segrega e exclui. Um olhar para acolher e não para julgar. Respeito às diferenças, políticas públicas e direitos iguais. Direitos às diversidades e inclusão social. As diferenças dizem quem somos e olha-nos como somos. Somos o que somos e tudo que somos é a totalidade que está em cada um de nós.

Eu gosto de sonhar. O sonhos alimentam e sustentam todo o ser. O sonho me faz acreditar que o amanhã será melhor, mesmo que o hoje me ofereça alguns aborrecimentos. Gosto do sonho e de ouvi-lo entre os instantes. O que me encanta no sonho é a sua ousadia. O sonho não escolhe o tempo e nem o momento, o sonho por si é o sonho e o resto, o resto também pode ser sonho. Vamos sonhar que a inclusão é uma realidade. Eu gosto dos dias que estão por vir, pois sempre há um sonho e nele o mundo é mais sublime.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Crônica de uma imaginação

Um caminho reto e o horizonte na próxima esquina. Logo em seguida o infinito. Como é belo o infinito. Como é sublime olhar para o nada e ver as maravilhas do todo ao longo de um olhar, que mesmo perdido segue em frente. Do outro lado em outra margem, vislumbro outra imaginação seguindo as curvas do infinito. 

É de manhã e já faz sol. O sol que aquece e acorda a imaginação. Talvez a noite passada foi curta demais e o sono não dormiu o suficiente para dizer bom dia. O dia está aí, convidando para viver intensamente todos os seus momentos. Sonhar, imaginar e se desfazer entre os momentos e depois ser refazer entre os instantes. 

Olhe, apenas olhe. Olhe um pouco mais, talvez enxergue o próprio pensamento se materializando ou fluindo na plena extensão do absurdo. Imagine uma tarde imaginando o que fazer quando a noite chegar. Quando a lua encontrar as estrelas e depois de um longo abraço, muitas histórias para contar. Essa noite é longa, imagino o sono dormindo e um sonho pedindo licença para sonhar. E o dia acorda para vivenciar toda a intensidade em tudo que há.

Hoje faz um lindo dia. É de manhã, beirando mais ou menos as seis. O despertador já me avisou que é hora de acordar. Enquanto isso um sonho, sonhando esperando que tudo de bom aconteça. Todas as pessoas querem ser felizes e buscam a todo o momento a tão esperada e aguardada felicidade.  

O tempo está passando rápido demais, será que é apenas impressão ou somos nós que estamos imersos a tanta ansiedade, esperando que alguma coisa aconteça. Será que devemos nos preocupar com isso? O que podemos fazer para atenuar a voracidade do tempo? Na verdade eu não sei, se é o tempo que está passando rápido ou somos nós que estamos agoniados pelo futuro e esquecemos que o que nos importa é o presente, o hoje, o agora.

Se analisarmos a nossa condição diante de tudo que acontece, será que chegaríamos as mesmas conclusões? Nos preocupamos com algo que está fora do nosso alcance, que não depende de nós para acontecer. Os momentos passam, os dias passam, as previsões chegam e tudo aquilo que vislumbramos, nem sempre é o que parecia ser.

O que me diz as próximas palavras, as próximas frases e o próximo parágrafo? O que quer dizer esse texto? Como será o próximo pensamento? E o que pensam os que não pensam? Será que é possível não pensar?

Uma outra frase insignificante em outro texto para dizer a mesma mensagem com outras palavras. Qualquer palavra para dizer alguma coisa, para falar e depois calar-se. A mensagem em silêncio quer se calar para ser ouvida em outros momentos. Não sei o que diz ao silêncio sob uma tarde de um dia qualquer esperando que alguma coisa aconteça. Não sei ouvir o silêncio, não sei se conseguiria entender tal mensagem. 
  
Uma crônica de um momento qualquer para falar de um dia qualquer e depois silenciar-se entre os próximos momentos. Parece estranho tudo que escrevo, mas tudo é fruto de pensamentos. Não quero sentimento, essa crônica é pura racionalidade. Talvez meu pensamento queira descansar. Não sei bem o que quero falar e se o que falo tenha algum sentido. Não estou em busca de sentido, e não importa se o que escrevo tenha algum sentido. A única coisa que me importa é a liberdade, a liberdade de escrever e de escrever-me.  

A liberdade para escrever sobre a própria liberdade. Liberdade de discordar de mim mesmo. As palavras são livres, mas estão trancafiadas em um texto qualquer. A liberdade das palavras para dizer quantas vezes for necessária. Mas esse texto está sentindo um pouco sufocado. As janelas estão fechadas, trancaram as portas e jogaram as chaves fora. Será que há outra saída? O que dizer ao vazio que percorre as margens da existência? É bom não dizer nada, se não há o que dizer, deixe o silêncio, ele é soberano. 

Amanhã é outro dia, em outras palavras, em outras frases e em outros textos. Não vou escrever os momentos, não tenho mais o que escrever. Não sei qual ou quais palavras deverei usar para falar do amanhã. Para dizer para mim mesmo que esse dia foi bom. E a tristeza que alimentou-me, alegrou-me um pouco mais.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Deixo o tempo responder por mim

Depois de outros momentos, novos instantes em outros sonhos e toda a suavidade e um silêncio para se aquietar. Em uma tarde, não sei, não me lembro. Talvez fosse uma manhã ou talvez fosse um dia inteiro que se aquietava entre o vento que soprava mansamente sob aquela imensa imaginação. 

O dia nasceu entre o frio e o sol daquela manhã. E ao longo do caminho flores expostas ao um vento suave que afagava as faces de uma quase imaginação que os olhares insistiam em deslumbrar. E aquele dia seguiu como se fosse independente de tudo que poderia acontecer. O que poderia acontecer? Não importa o que poderia acontecer, o que importa é que a vida segue sempre em frente.   

Aqui nesse lugar, os dias parece ser todos iguais. As manhãs acordam sob o pleno e sublime silêncio que encantam todas as manhãs. Aqui se faz poesia ao acaso, o acaso em sensibilidade acolhe todos os sentimentos. E os dias se desfazem e se refazem ao seu bel-prazer. Harmoniosamente os momentos se entrelaçam e os instantes se retraem. 

A vida vai se refazendo. A vida é um eterno refazer. Aqui nesse mundo um pouco nostálgico tudo vai se indo, tudo vai acontecendo. E nas flores há espinhos, por isso tenho todo cuidado. Mas não vou dar valor aos espinhos e desvalorizar as flores e as suas essências, só por causa dos espinhos. Não vou desistir de caminhar por causa dos obstáculos. Os rios contornam os obstáculos e segue suavemente o seu percurso. 

O que faço com aqueles dias cheio de aborrecimentos?  Não se faz nada, apenas vive. Assim como os rios contornam os seus obstáculos e segue o seu destino, assim somos nós. Os problemas sempre existiram e sempre existirão. Nem todas as manhãs são felizes e nem todos os ventos são suaves. Dias nublados, dias ensolarados, todos os dias é dia de viver. Há tristeza em mim e ela me humaniza, assim como a alegria é humana. 

Aqui vou escrevendo sobre tudo que me envolve. A vida me envolve. E em uma noite quero tecer estrelas e depois se perder em tudo que há entre o nada. Assim vou poetizando o admirável que faz o desconhecido, que quer dizer algo sobre mim, mas não sabe quem eu sou. E se eu soubesse, faria em mim uma poesia sobre o desconhecido que habita em mim.

Assim vou poetizando o dia de hoje e todos os dias que em mim amanhecem e anoitecem. Vou poetizando a vida em profundos sentimentos e se fazendo em versos para dizer à poesia que esses versos são meus, eles estão em mim e respiram por mim. Vou sonhando nas belas noites de luar. Vou sonhando entre o brilho das estrelas. Meus dias querem as minhas noites para juntos ver o infinito em cada sentimento que quer de mim um pouquinho dos meus dias para fazer em mim toda a noite sob o clarear da lua.

Mais um dia e mais uma noite. Vou seguir assim, a poesia quer me poetizar e os caminhos querem de mim um novo jeito de caminhar. Então a caminho, sempre em frente, desbravando esse desconhecido eu que sempre quer ao meu lado. Não sei se é uma poesia ou se é um simples texto tentando dizer o que não sabe, querendo ser eu em outros momentos e se disfarçado entre os instantes. 

Por vezes penso muito em mim. Em outros momentos vivo intensamente todos os sentimentos que vive em mim. Em outras vezes penso que esse mundo é uma invenção. Se for invenção ou fantasia, pouco importa, o que é importa é o sentimento e os versos líricos de uma sublime poesia que perpassa esses extáticos momentos. 

Esses versos que corta esse profundo silêncio e vive na periferia de uma distante poesia. É essa poesia que faz fluir a essência e florir as flores mesmo no mais longínquo jardim.

Estou aqui com a alma poética degustando o novo que há de vir. Estou aqui sonhando com as madrugadas da vida bebendo a poesia num rio de água cristalina. Olhando as faces das manhãs como miragem dos novos tempos.  

Se alguém me diz algo, dizendo que tudo isso é uma bobagem, não vou me indignar, apenas deixo o tempo responder por mim. E peço ao vento que fale outra coisa, algo que inspire-me mesmo na ausência de mim. Olhe ao seu redor e tente ver alguma coisa. Não sei se comportar diante da estranheza dos estranhos momentos que passou e findou-se entre os instantes que aos olhos da noite passou como passam todas as noites. 

Um profundo sentimento envolve versos e palavras. Assim se fez as lágrimas e semeou os olhares, olhou para o jardim e viu a vida entre as pétalas e raízes na imensidão que perfaz o todo e faz nascer a imaginação em uma longa manhã para compor outros versos e viver em outra poesia. 

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


É possível ensinar a bondade? 

Durante muito tempo eu me fiz esta pergunta (e ainda não desisti dela). Confesso que lá se vão quase duas décadas desde a primeira vez em que me entreguei a esta questão… Recorri a diversos livros, autores, como também em pessoas bondosas, na esperança de entender como ocorre a propagação do bem, e por outro lado, a evolução do mal. 

Reconheço que não existe uma resposta pronta, mas podemos refletir que há um caminho importante a ser percorrido para que a virtude brote nos corações. A bondade ou a maldade não ocorrem ao acaso (costumo dizer isso aos pais de alunos), pois ninguém nasce santo ou bandido. Dentre diversos fatores, a educação familiar certamente tem um papel fundamental. E confesso que estou sempre a me cobrar, fico refletindo se fiz tudo o que poderia pelos meus três filhos … Sei que não podemos voltar no tempo, sei também que dediquei muito amor aos três. Mas reconheço que poderia ter feito outras escolhas …poderia ter feito melhor!

Creio que a falta de amor vivida na infância, de cuidados, orientações, pode deixar marcas profundas no adulto. As crianças precisam da presença dos pais, e principalmente, do afeto maternal. A pessoa que não foi cuidada na infância poderá carregar na alma marcas profundas de rejeição, carregar a dor da criança ferida. E como cuidar dos outros quando não fomos cuidados?

Isso sempre foi revelador para mim. Penso que vemos mais facilmente os defeitos, erros, que ocorrem com os outros, mas encontramos dificuldades em compreender o que se passa conosco, nossas falhas, atitudes, a forma como reagimos (a reação vem do inconsciente). Mas creia, podemos reconstruir uma nova vida – sem laços pesados. Há um campo da ciência, Neuroplasticidade, que vem estudando os mecanismos da mente, a forma como podemos renovar os pensamentos, criar conexões, ressignificar os sofrimentos, traumas, em busca de uma vida equilibrada, saudável. 

E, veja que este conhecimento está detalhado nas páginas das Sagradas Escrituras há muito tempo, em diversos livros. O apóstolo Paulo exorta na Carta aos Romanos: “Transformai-vos pela renovação de vossa mente”. Ensina também que precisamos do auxílio da Graça.

Costumo rememorar as atitudes de pessoas que fizeram o bem, a forma como ensinaram sobre a caridade, não por palavras, mas pela forma gentil e generosa com que acolheram outras pessoas, independentemente se são boas ou não. Algumas ainda tenho em minha caminhada, outras já partiram para o lar celestial há vários anos.

Penso que muitas vezes convivemos com anjos disfarçados de pessoas. Elas são diferentes, parecem destoar da maioria ... exalam um perfume de virtude (de santidade mesmo). Infelizmente, por vezes não as reconhecemos na caminhada em vida. Talvez, somente após a passagem dos anos compreendemos quem era aquela pessoa (maravilhosa) que esteve ao nosso lado e que tanto nos ensinou sobre o amor, o perdão, a caridade.

São pessoas que estão sempre a sublimar a ofensa recebida, a perdoar as falhas alheias, em atitudes que revelam a constância no bem, na coerência do compromisso cristão. Elas quase não se deixam moldar ou influenciar pelas circunstâncias, ao contrário: transformam o ambiente em que se encontram. 

Toda essa divagação me veio à mente esses dias, após conversar com um familiar muito querido: King. Ele me relatou o quanto aprendeu com meu filho Marcos, que morreu aos 21 anos de idade. Disse, entre lágrimas, o quanto sentia sua falta, que jamais tinha visto ele reclamar, discutir ou brigar com alguém. Era sempre muito respeitoso; havia nele: doçura, alegria, paz - bondade.

Isso responde aos meus questionamentos (aquece meu coração de mãe). Porque nada do que possa ter feito por meu filho terá a dimensão, a magnanimidade da virtude, da expressão no Bem. 

Creio que a bondade caminha ad infinitum.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

Às margens do ser nessas estreitas veredas 

Nietzsche disse que “a esperança é o pior dos males, pois prolonga o tormento do homem”. O que seria da vida sem a esperança? Como diz o dito popular, “a esperança é a última que morre”. Mas como seria a vida se não houvesse a esperança? A esperança é sempre algo que se espera. O grande pensador e educador Paulo Freire dizia que é preciso esperançar. Citei o Nietzsche, mas prefiro ficar com o Paulo Freire. Esperançar é caminhar, é viver o hoje com o que se tem e sempre acreditando que o amanhã será melhor, o hoje no faz caminhar.  

Sob o tempo um vento suave leva consigo muitas histórias. Antes de uma tarde qualquer esperando a noite em um momento qualquer. Depois das lágrimas tudo se aquieta e um novo dia amanhece para contar novas histórias. Sob o tempo às margens nessas estreitas veredas em passos incertos pelos caminhos do mundo.  

Pela fresta da janela uma réstia de sol e um convite à vida, pulsando incessantemente. E no silêncio que se faz, perfaz em si mesmo toda a profundidade do ser. Como se todos os momentos fossem único e toda a sua intensidade ao transpassar e transpor todos os obstáculos que de uma forma ou outra nos impedem de sermos nós mesmos. 

Algo que fica num canto qualquer, talvez qualquer coisa, talvez um sonho tentando esquecer a realidade e se escondendo por entre o vazio do nada. De repente, o transcendente desfigura em minha frente, e deslumbra o paraíso. Volto em mim mesmo e refaço todos os momentos na eternidade de um instante, na louca loucura de um sonho interminável.   

Na mente apenas lembranças, resquícios de momentos, vestígios de um instante que se faz presente na ausência de um sonho que não se concretizou.  Mas o mundo não para, para repor e recompor os instantes que fez passado no simples piscar de olhos. Não adianta consertar o que se quebrou, o tempo não se refaz, e as feridas não cicatrizadas pode doer com o tempo. 

Tudo se esvai, na perene perplexidade do absurdo. E o sentimento apagou o sol no silêncio de um instante que se acabou. Quem são os autores da “divina comédia humana”? Algo está se desfazendo, o tempo quem sabe querendo sonhar o sonho impossível, sonhando na impossibilidade de tudo se acabar sem ao menos ter começado.

E o sonho não quer sonhar e a noite parece uma eternidade, mas os olhos querem sentir e as mãos acariciar a face das manhãs. Mas, a dor perpassa a alma e perfaz o caminho sobre as curvas nessas intermináveis veredas. É um pouquinho de mim que se desfaz para compor o eu e acariciar o ser na sublime esperança do amanhã.  

Ainda que haja respostas para tudo, haverá perguntas sem respostas. E não adianta dar velhas respostas para novas perguntas. Não será possível explicar o acaso, não sabemos ler o enigma do tempo. Não adianta vir com meia verdade, pois na batalha humana ela é a primeira a ser derrotada. 

A mente aturdida em busca no inalcançável mesmo sabendo que o céu é o limite. Não, não vá, fique mais um pouquinho e se delicie com a delícia da doçura das doces lembranças dos dias que estão por vir. 

Ainda há voz, mesmo que seja apenas um murmúrio. Ainda há paz, mesmo estando em mim, parece-me distante. As mãos querem alcançar as estrelas, mas o céu está distante demais e a indignidade impede de aproximá-la. Não fale que não há mais tempo, não me deixe só em meio à escuridão. Envolvido em êxtase, desfaço em silêncio e me embriago nos momentos que me faz inteiro. Não é apenas metáfora e muito menos uma história sem sentido, é a nossa saga humana. Talvez haja outros caminhos, mas há flores mortas e palavras vazias. Mas, o sol ainda aquece e a chuva floresce os jardins e um Deus solidário habita em cada um.  

O transcendente perpassa o ser num momento extático; forma e essência, numa perfeita simbiose. Humanizar o humano que há em nós, é ser um pouco de nós mesmo, em que cada um constrói e se constrói, na construção do todo. 

A nossa experiência e todos os intermináveis momentos vivenciado com toda a vivacidade e intensidade em cada segundo que se eterniza em cada um de nós. A essência não muda e nem acaba, se intensifica. Fluem os sentimentos e a vida quer um pouco mais de nós. Que a esperança seja o amanhecer e nela esteja todos os anseios e suavidade numa sublime canção, mesmo nos dias turbulentos. 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


A lucidez do imaginário 

Depois de uma longa noite de sono, acordou o dia nas suaves e exuberantes manhãs, abriu os olhos e viu o seu reflexo refletido entre as faces de um mundo em lágrimas. Depois de um breve momento sentiu-se só diante da multidão. Não era o que havia sonhado, tudo era diferente, tão distante e nada mais parecia fazer sentido.

Não sabemos nada, vivemos de ilusões alimentamos o amor e nutrimos o ódio. Miseravelmente evoluímos como pobres dementes transeuntes em caminhos tortuosos com pressa de chegar em lugar nenhum. Saciamos a fome do corpo e sucumbimos a alma na dor de cada dia. A terra seca morre tudo que se move e a lua sob o sol escaldante suga as alfazemas corroendo a essência e semeando ervas daninhas pelos quintais do mundo.

Caminham a passos lentos burros, jumentos e dromedários conectados ao vazio, interligando a solidão e a tristeza em uma espécie cada vez mais estranha. Pedimos clemência, clamamos por piedade e imploramos por ajuda e mãos bondosas que acalentem as nossas quedas. Mas essas mãos que oferecem flores são as mesmas que apedrejam. Não adianta dizer que sou da paz, e faço a paz reinar em mim. Eu sou da paz, sou do amor, os outros fazem guerras e espalham ódio. Essa é a sociedade da hipocrisia, os outros plantam ervas daninhas e cultiva joio, eu planto flores e cultivo essência.

E assim continuamos seguindo os mesmos passos de outrora. A primeira impressão é a que fica e “a primeira vez é sempre a última chance”. Enfatizamos os erros, ignoramos os acertos. Pouco importa as virtudes, os vícios são mais atraentes. Vale mais a forma do que a essência. As pessoas que não aceita o diferente, e em nome de um falso moralismo se indigna com aquilo que classifica como imoral, mas normaliza a fome e a miséria e vê com naturalidade pessoas procurando no lixo o alimento para saciar a fome.  

O que pensar do mundo diante de tantos desatinos que muitas vezes nos colocam a mercês de nós mesmos? O que nos torna tão inseguros é a desconfianças que temos em nós mesmos. Tememos o nosso próprio semelhante e não entendemos os motivos, pois estamos em busca dos mesmos propósitos. Não é bem assim, e isso está bem claro no mundo de hoje, no Brasil de hoje principalmente. 

Acompanhamos diariamente os noticiários e o que temos vistos é o retrato de uma parcela da sociedade que quer se sustentar pelo o acúmulo, enquanto muitos lutam para sobreviver.  E ainda há quem defenda a tal de meritocracia em um país tão desigual como o nosso. E também há quem defenda existência de um Estado mínimo, quanto menos o Estado interferir na economia, menos ele atrapalha. 

Numa crise como essa que se agravou com a pandemia, é primordial a interferência do Estado. Nas conversas que se ouvem, o assunto é sempre o mesmo, as coisas não vão bem. O momento é de crise, a situação está cada vez mais difícil. O pior é que não há perspectivas de melhora a curto prazo. 

O mundo e suas transformações mostram um pouco o seu lado sombrio. Parece que não é o sofrimento humano que importa. O que importa é a bolsa de valores, a alta do dólar e o frenesi dos investidores. Enquanto os lucros exorbitantes do mercado financeiro contrapõem com uma legião de desempregados espera na fila da esperança.     

A cúpula dos poderes que regem o mundo e fazem do mundo o seu quintal. Um mundo em que os esforços de uma pequena parcela da população sustentam e mantém o luxo e o privilégio de muitos. Somos partes do sistema, somos peças dessa engrenagem. Por isso temos a nossa importância, alguém tem que alimentar os cães. As sujeiras estão aí e não adianta empurrá-la por debaixo do tapete. As mazelas do passado não podem justificar os erros do presente, mas as consequências são inevitáveis.

O mundo sinaliza por paz, quer a paz e busca a paz. Mas o mundo ainda dissemina o ódio e alimenta o mau, a desordem, a arrogância e a prepotência.  Quando se fala que o mundo é mau e perverso, estamos falando de nós mesmos. Nós, seres humanos somos o mundo. Se o mundo é bom ou ruim, somos nós os responsáveis. Os seres humanos e as flores do jardim sob os olhares em si mesmo traçam os próximos passos e não leva em conta a existência dos jardins e muito menos a essência das flores.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Sob o silêncio dos próximos instantes

Imagino-me como um barco à deriva sobre águas calmas, ou como um pássaro na imensidão do infinito. Quem sabe eu ainda seja uma criança brincando no quintal da existência, olhando para o infinito numa brincadeira de faz de conta. Olho para o nada e caminho nas veredas do infinito olhar e vislumbro o horizonte em distantes paisagens.

Talvez o arco-íris e as cores dos sonhos na penumbra de uma tarde qualquer. Ou talvez a vitrine do tempo em inconstantes pensamentos e estilhaços de ilusões e flores ausente em um distante jardim, chorando as dores dos espinhos.

É somente por esses momentos. Seja lá o que for. Uma flor entre os espinhos e as abelhas em algazarras. As chuvas de ontem irrigaram os sentimentos e depois semearam as sementes para germinar a esperança na chegada da primavera. Os olhares inquietos tentam silenciar antes que chegue a noite. E quando a noite chegar as luzes se acenderão e os olhos ainda querem ver luz do dia e nele se perder. 

O mundo está inquieto e não se encontra, não quer mais ver as luzes nas noites escuras. Tudo agora mesmo, mesmo que seja para depois esquecer em um canto qualquer. De onde vem a esperança não importa, o que importa que ela sempre vem. 

Olha os olhos do mundo e as lágrimas sobre dores e lamentos. Pare por um momento e sinta os instantes preencher o vazio de uma vida existencialmente vazia. Não se assuste com o que está por vir, não tenha medo dos próximos passos. Talvez alguém o encontre em um texto qualquer perambulando entre as infindas veredas que levam a lugar nenhum.

As longas paragens e os desejos flutuam sobre asas feridas, mesmo assim a liberdade insiste na busca de sossego nas madrugadas vazias sobre a ternura ao amanhecer. Minhas quimeras e meus arquétipos e a cronologia do tempo numa crônica poética. Distante daqui, o sol desenha seus raios para aquecer os gélidos corações. E um céu depois outro céu e um infinito após outros infinitos, e a chuva apaga o sol e molha as mentes já cansadas.

A injustiça e a maldade semeiam ervas daninhas no terreno baldio da alma. A fome no olhar e a paisagem perde a cor e o mundo segue a marcha do progresso. Entre números, índices, tabelas e gráficos, a frieza do poder e a pobreza humana nas feridas do mundo.

Os valores se perdem nas efemeridades de uma realidade irreal que alimenta a insignificância e deteriora o ser. As flores de plástico no jardim da artificialidade exala a sua essência petrificando corações e mentes.

Um pássaro que voa só, tem o infinito só para si. Voa só, na solidão do próprio voar, na solidão de si mesmo. No outro lado, outro mundo e outras ilusões se desfazem perfazendo os mesmos rituais sentados à beira do caminho. Alguém em algum lugar, em algum lugar há alguém a espera de algo sem saber o que é e quando chegará. 

Em tempo chega até a montanha ao encontro da solidão em plena desilusão. Encontra bem próximo a sua saída, logo ali onde começa o infinito e encerra o último degrau para o paraíso. Um alento do tempo ao próprio tempo e as águas flui formando outros rios, desertificando corações e mentes, semeando flores no caminho da esperança.

Depois das lágrimas outros olhares sob o silêncio dos próximos instantes. Ouço a melodia do tempo nas canções da vida e nos sublimes versos que poetiza a sutiliza do inesperado. 

Colhe-se as flores em qualquer quintal, apesar dos espinhos e seus arranhões outro dia amanhece. Outras flores em outros jardins, outros espinhos e outras dores para doer depois. Depois, talvez seja tarde. Depois, talvez seja noite, mas logo amanhece um novo dia. Talvez seja uma poesia querendo ter a noite só para si. Será que a lua gosta de poesia? E as estrelas gostam desses versos ou será que é apenas fingimento?

Talvez as manhãs desapareçam com os raios de muitos sóis e a noite sempre chega para abraçar a lua e adormecer sob o brilho das estrelas. Então, fala-me das angústias e das lágrimas sob as faces escondidas. Fale-me do silêncio e dos dias cansados que elevam as condições humanas e todas as formas de fraquezas e contrariedades.

Leve, como é leve o pensamento que quer voar na vastidão desse sentimento. É tão bom tudo que há nesse quase um segundo que ocupa o meu eu por inteiro. Não falo o que eu penso, deixo o silêncio conduzir-me pelos caminhos dos mais vastos sentimentos.

Amanheceu outra vez e outra vez o desejo de ter o mundo, de ser o mundo ou se distanciar do mundo aflora o existir. Novamente o refúgio e o escuro da lua e as infidas noites em suaves canções. Era somente um sonho que refletia as faces em lágrimas dos anjos que levam flores do desértico jardim da alma.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Âmago

De repente um sonho deslumbra novos horizontes sob diferentes olhares. Era como se fosse tocar o céu e afagar as faces da imaginação. Era só sonhar e tudo se materializava como se o sonho fosse realmente uma vida retratada em todas suas dimensões e profundidade. Um convite para vida em uma mensagem impregnada na alma e no coração.

Era apenas uma noite e o dia seguinte era como se fosse novas palavras pedindo para serem decifradas. Não era o caos, talvez um pequeno desiquilíbrio, nada que abalasse as estruturas da difícil realidade mergulhada na desesperança. Mesmo assim, tudo pode ser diferente, basta um sonho e a vida se revigora. 

Entre um momento e outro, um pouco de alguma coisa que se desfaz ao tocar o inatingível e a imensidão do imaginário que compõe o todo.  Ainda um pouco escuro, mas mesmo assim, era possível ver aos olhos d’alma e toda a timidez nas faces do tempo. E sentir todo o sentimento fluindo na plenitude do ser numa sublime quietude.

A liberdade em si e tudo mais se aquietava na suavidade e na plenitude que transpassava os líricos momentos. É tão sublime o tempo que vagarosamente passa e deixa em nós, o inesquecível, o imponderável e tudo que faz de nós o que somos e o que podemos ser. 

Tudo está aí para ser vivido e vivenciado. Parece que existe algo que nos impulsiona e ao mesmo tempo nos aprisiona. Há algo que encanta, que ainda encantam os ávidos olhares e a vida em profundo êxtase. 

A leveza das palavras e a suavidade dos versos por mais ácido que seja o mundo. O amargo do tempo na docilidade dos momentos fluindo entre os instantes que há na intensidade que a vida exige de cada um de nós. O amor amando em sonho, em sonho o dissabor e o amargor das paixões entre o ódio e a indiferença.

Um pouco de dor e a suavidade dos desejos reprimidos no vazio dos dias que estão por vir. Mas tudo de repente se faz em inúteis palavras que fogem ao alcance das mãos nas frias manhãs. Aos poucos se faz os instantes e se diz tudo que pensa e tudo que sente na leveza das palavras e na suavidade dos versos.

Tinha asas e voava. Tinha desejo e desejava. Sonhava a noite em toda a imensidão que aos poucos se reprimia em vagos instantes. Tinha sonhos e não sonhava, caminhava, apenas caminhava. As palavras a procura dos seus sentidos silencia e escuta o vento já com poucas forças e sem saber o norte. Segue a caminho, segue o caminhar e o rastejar dos rudes momentos entre flores e espinhos e a mesquinhez humana.

Dorme entre o medo e a coragem, outro eu querendo ser o que diz as estranhas palavras em conflito com a razão e o desejo debaixo do sol na sombra da sua insignificância. Depois o sol, a chuva e depois aos céus piedade e o sublime azul no olhar sobre as nuvens que passam aleatoriamente seguindo a ordem natural. 

Talvez seja assim mesmo, ver a lua e enxergar as estrelas, sonhar com a beleza e flutuar entre as nuvens. Tinha asas e sonhava, tinha sonho e voava. Entreabertos os olhares e o escorrer das lágrimas sob o sono das manhãs. Flutuam versos e palavras, perdem-se entre outras margens o caos momentâneo. Exalta o ser e solta às feras para enganar o sonho e inebriar as ilusões.

Semeiam os campos e caminha entre as flores. Instiga os sentimentos e acorrenta a alma. Diz para si mesmo palavras sem sentidos. Mas o que é o sentido? Absurdos me fazem pensar, então saio pelas portas do fundo. Nada faz sentido. Um pouco de dor e o alívio aos poucos perfaz a essência e refaz os tortuosos caminhos entre as flores de qualquer jardim. O ser e a essência e um coração quase sem sentimento vaga ao relento tentando o refúgio nas entrelinhas do próprio caminhar.

Um pouco, somente um pouco e tudo passa a ser o que jamais se foi. Tudo está em algo que pode ser um sentimento solto, torpe, sem nada a dizer, tudo fica, tudo está e já foi. Dúvidas e incertezas sedimentam esse longo caminhar. Diz a alma: dê-me um pouco de paz. Entre flores e espinhos, um pouco de alma e pouco mais do ser que em mim habita. Um pouco de tudo que me faz bem, somente um pouco mais.

E o amor abraça um pouco mais e contempla o silêncio entre bálsamos, lírios, margaridas e girassóis. Vem ao encontro do desconhecido e depois deixe levar por oásis nutridos em utopias. Sonha um pouco mais e mais adiante se livra das asas. Distante, logo ali, os mesmos olhares, os mesmos sorrisos e as mesmas lágrimas. Resta-me um cálice de silêncio sobre o escuro olhar que aos poucos se faz em verdades como um sinal de liberdade que perfaz o contorno de mim.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Da utopia à distopia

O mundo está mal? Qual é a nossa contribuição para melhorar o mundo? Nós, seres humanos somos parte do mundo. Temos as nossas contribuições. Somos responsáveis pelas nossas ações. Como entendemos o mundo e como nos colocamos diante de tudo que está acontecendo? 

E o que nós seres humanos estamos fazendo para melhorar? Vamos falar da vida e toda a sua complexidade. Todos os erros, todos os acertos, todas as verdades e todas as mentiras. O mundo precisa de sonhos. Como podemos pensar o mundo diante de uma realidade tão distante do mundo desejado e ansiado. Os anseios e os nossos sonhos de viver em um mundo em que todas as pessoas tenham o básico para viver. 

Que as políticas postas em práticas sejam para melhorar a vida, e melhorar a vida de todas as pessoas. Ao invés de meritocracia, promover a igualdade de condições por meio de políticas sociais na busca de justiça social. 

Se um programa ou proposta política não tiver como alvo melhorar as condições de vida das pessoas, esse programa ou essa proposta se tornará inviável. O progresso e o desenvolvimento humano não pode ser encarado como uma utopia. Não pode ser utopia para a grande maioria das pessoas e realidade para uma pequena parcela de privilegiados.  

A paz em todos os momentos e os dias seguem nos sonhos a cada amanhecer. O ser humano em sua plenitude desfruta o bem viver. É um lugar logo ali, onde a beleza exuberante colore os ávidos olhares. É um dia que alegra a alma e aconchega os corações envolvidos em ternura. Um pássaro voa e se perde nos confins do infinito. Um rio de água cristalina e tudo ao seu redor inspira e respira o sublime sabor da vida. 

Tudo vai se desenvolvendo na serenidade que se faz em todos os momentos. E a vida vai passando ao sabor do tempo saboreando cada momento na profundidade de cada instante. A sabedoria e a vida em toda a sua dimensão nutrindo toda a totalidade na paz e na compreensão que nos irmana na convivência em busca de um só ideal. 

Das frestas do casebre contempla as faces do tempo e a ternura de um olhar, e um vento suave sossega o corpo já cansado. Mesmo cansada a vida pede por atitudes e não se deixa abater. Um silêncio tece e perfaz o momento que em seguida se desfaz aos gritos ensurdecedores dos bárbaros e insanos que invadem becos e ruas.

É o nosso mundo entre a barbárie e a civilidade. Nada mais assusta, o animal humano sempre surpreende e sobressai. A população mundial já superou a marca dos sete bilhões de habitantes. Desses números, mais de 800 milhões dessa população passa fome. E isso não é por falta de produção de alimento. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), o mundo produz alimentos suficiente para alimentar toda a população mundial. 

Falando especificamente do nosso quintal, o Brasil é o segundo maior exportador de alimento do mundo, dados da OMC (Organização Mundial do Comércio). O mesmo País que produz alimentos para exportação, produz 19 milhões de pessoas que passam fome. Como entender essa lógica? A lógica do lucro, é obter lucro a qualquer custo.

Seria lógico dizer então, que a maior parte mundo é feliz, pois pode ter o suficiente para viver? O ser humano é bem mais profundo e complexo. Talvez isso explique tantas barbáries e banalidades que perfaz a história da humanidade. Mas a fome degrada o ser humano e é um mal que deve ser combatido.

A sociedade escolhe sua casta e o resto, o resto fica aos cuidados da sorte, a fome já passou, ficou para depois. No submundo, uma elite descarada embriagada por milhões sacia a fome e saboreia um drinque com essência de hipocrisia.

Nas mesas a fartura de pão e migalhas à justiça que mendiga um pouco de sapiência por nada poder fazer. Não adianta fazer nada, não há o que fazer o mundo dos homens maus e o silêncio sucumbido entre gritos e gemidos mortos e feridos. O que fazer agora se a lua não quer mais clarear e o sol perdeu o seu brilho e a ferrugem corrói os metais? Lenta é a viagem e a mente desacelera e o pensamento caminha entre jardins abandonados e flores solitárias.

“Os progressos científicos mais extraordinários, as invenções técnicas mais assombrosas, o desenvolvimento econômico mais prodigioso, se não estiverem unidos a um progresso social e moral, voltam-se, necessariamente, contra o homem (Papa Paulo VI no 25º aniversário da FAO).”

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Um Brasil mais inclusivo

No último dia 21 de setembro lembramos o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Além desse dia, temos outras datas que lembram e falam de todas as lutas da pessoa com deficiência. Pode até parecer que esse texto seja repetitivo. Mais uma recorro a nossa Lei máxima, que é a constituição de 1988 para falar dos nossos direitos que é dever do Estado.

No seu artigo 5º estão as garantias dos direitos fundamentais de todos que habitam esse país. Lá não diz que a lei favorece determinada pessoa. Muito pelo contrário, o que lá está exposto diz que todos somos iguais perante a lei. Então por que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo? 

A atual Constituição projeta um país, mas fica apenas na projeção. São pouco mais de 30 anos dessa Constituição que é conhecida por Constituição cidadã com amplas garantias de direitos fundamentais de acordo com que está exposto do artigo 5º da Carta Magna. 

A Constituição de 1988 foi o nascedouro do que temos hoje no que diz respeito aos direitos sociais. É nesse sentido que em 1991, foi criada a lei de cotas para inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. E em 2005 foi oficializado, o dia 21 de setembro como dia nacional de luta pelos os direitos da pessoa com deficiência. E a mais recente, a Lei 13.146 de 2015, que representa um instrumento de suma importância para construirmos um Brasil mais inclusivo. 

A Lei 13.146 define a pessoa com deficiência como sendo “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, com base na Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, é hoje o principal instrumento legislativo que temos para defender os direitos da pessoa com deficiência no Brasil. 

Assim como no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, o artigo 1º da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e a plena cidadania.

Em nosso Município temos o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, instituído em maio de 2016. Nesses 5 anos de atuação, cumprido suas funções que entre elas está a função de zelar pela efetiva implementação de política de inclusão da pes­soa com deficiência e conscientizar a nossa sociedade da importância de uma cidade cada vez mais inclusiva. 

Sabemos o que fazer e como fazer. Perante a Lei temos o apoio dos órgão que fomentam as políticas públicas do Município. Não estamos invisíveis, existimos, tornamos visíveis e estamos aqui para fazer valer os nossos direitos. Ir e vir, sem vergonha de ser o que somos.  

Queremos e precisamos de um Brasil mais inclusivo. Por que é tão difícil? Como promover a inclusão? A nossa participação como pessoa com deficiência como protagonista na elaboração de políticas públicas que garantam direitos promovendo a pessoa com deficiência e dando condições para sejam construtores de sua própria história e sujeito do seu próprio tempo. “NADA SOBRE NÓS SEM NÓS”.  

Para nos fortalecermos cada vez mais temos que alimentar o debate, o diálogo, as discussões e outras formas cabíveis do processo democrático em busca de um Brasil mais inclusivo. E isso acontecerá no dia 02 de outubro de 2021 às 13h30 no Centro Educacional, Cultural e Esportivo “Paulo Freire” com a 1ª Conferência Municipal Dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

O evento terá como tema central – Cenário atual e futuro na implementação dos direitos da pessoa com deficiência. Tendo como subtema – Construindo um Brasil mais inclusivo. 

Um Brasil mais inclusivo exige de cada um de nós, um pouco mais de nós. Um olhar com diferença que enxergue as nossas diferenças e todas as nossas normalidades e não um olhar com indiferença que segrega e exclui. Um olhar para acolher e não para julgar. O desconhecimento, a ignorância e a estupidez alimentam o preconceito. Conhecer para combater e sentir parte do todo como algo que está em cada um. Conscientizar, acolher e incluir. A empatia nos faz sentirmos a dor do outro que dói em todos nós. Abra o coração e sinta a leveza da alma num abraço fraterno. O brasil precisa de UM BRASIL MAIS INCLUSIVO. 

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Fausto: inferno e redenção

Há muito tempo desejava ler a grande obra-prima, “Fausto”, do poeta alemão Goethe. Mas, diante de tantos livros, acabei me esquecendo. Dias atrás, porém, visitando minha querida filha Andressa, na cidade de São Paulo, encontrei-o na biblioteca de sua casa. Fui surpreendida por encontrar, no exato instante em que puxei o primeiro livro da estante, o poema de Fausto. E, para minha imensa alegria, fui presenteada por ela com este tesouro inenarrável (os livros representam isso para mim).

O livro tem por base uma lenda medieval, conhecida e muito propagada, porém, na introdução aparece também a indicação de que pode ter sido inspirado em uma história real (achei isso curioso e assustador). Na trama, o autor revela a decadência do espírito humano, constantemente seduzido pelo prazer, poder, riqueza, fama, ou mesmo: pelo mal. Mefistófeles, representando a figura do demônio, age sobre o indivíduo moderno, incitando-o na busca incessante pela satisfação dos seus desejos (qualquer correlação com a atualidade não será mera coincidência).

Vou resumir a história, narrada em belos poemas. Fausto está em busca de conhecimento, melhor aparência, ambicionando ter sempre mais, e, desgostoso com o que tinha, faz um pacto com o diabo (Mefistófeles). Mas eis que um dia ele se depara com a bela Margarida e apaixona-se imediatamente. Pede então a ajuda do demônio para conquistar o coração da moça. Após conseguir seu intento, desejando ficar a sós com a mesma, é induzido por Mefistófeles a dar um sonífero para mãe de Margarida.

Todavia, não sabia que caíra em uma armadilha do mal, sendo um poderoso veneno mortal. Assim, sua amada perde a mãe, e no desenrolar da trama, morre também seu irmão; Margarida vê-se desamparada e ao mesmo tempo perdida, pois está grávida.

Levada ao desespero, temendo a acusação da sociedade, comete o infanticídio. Mas, arrependida, desejando pagar por seus pecados, recorre a Deus, entregando-Lhe sua alma. 

Mefistófeles, ao ouvir as palavras cristãs de Margarida, grita: “Sentenciada!”

Mas, imediatamente os anjos a resgatam, levando-a ao céu. Fausto, todavia está na condição de escravo do mal, preso a Mefistófeles. 

A narração vai caminhando para o final, quando acontece o auge da trama, (trecho belíssimo), em que contemplamos a salvação de Fausto, com a redenção pela intercessão da gloriosa Virgem Maria. Assim, os dois estão unidos novamente no Céu (amo um romance, um final feliz é tudo de bom!). A obra, poética e atemporal, remete também à história bíblica de Jó.

Além de toda a riqueza estética, filosófica, a leitura traz a possibilidade da reflexão sobre o comportamento humano, a forma como muitas vezes nos deixamos seduzir pelas coisas terrenas, bens, acúmulo de coisas … pela cegueira cotidiana e insensibilidade (ou imobilidade) diante da dor alheia. Repare como por vezes somos confrontados com pessoas, ou situações em que temos que (literalmente) escolher entre o bem ou o mal, responder pelo tanto de amor e caridade que há em nosso coração. 

Atentarmos para a perenidade de tudo, as inevitáveis mudanças que sofremos, os revezes inesperados, dores, separações … e a certeza da finitude. Mas, por outro lado, a grandiosidade e a beleza (poesia) da vida, a importância de não cedermos ao mal e, o que considero magnânimo: o incomensurável amor de Deus, que abraça, perdoa e acolhe a toda criatura (basta o arrependimento, e um coração humilde).

Porque fomos feitos (unicamente) para amar e estar com Deus. Creio ser este o sentido da vida. Ele nos fez para estarmos ao Seu lado!

E, se conseguirmos vislumbrar, ainda que com passos tímidos, a certeza da vida além da vida, a dimensão do Amor que nos aguarda, poderemos também compor o mais belo poema, escrito com nossa trajetória pessoal, marcada certamente pelas escolhas que fazemos.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Eu, você, nós e tudo mais que compõe o todo

Em algum lugar por alguma fresta do infinito respinga as lágrimas de um olhar qualquer. A imensidão do universo sob as palavras e sobre as palavras o sentido do existir repousa no sublime silêncio do tempo. Não quero nada mais do que isso, estou brincando no quintal da existência com os anjos e os arcanjos. Não chore, ria pelo menos por um instante, por apenas esse momento que transpassa o dia, desfaz a noite e refaz as manhãs.  

Numa sociedade em que a banalidade atrai os olhares de muitos, valorizando o que não tem valor algum. Promove a evolução e o desenvolvimento das coisas em uma visão economicista que em nada agrega a nossa vida cotidiana. Necessitamos de paz e amor, o resto é comoção popular. Bonito isso, paz e amor, é claro que precisamos de paz e amor. A mesa farta é sinônimo disso. Será? “A gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte.” (Titãs). Tudo bem, empanturramos o corpo e deixamos o espírito e a alma vazia. “Daí pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão.”  

Olhando para o nada procuro ver o invisível e me surpreender com o inesperado. O barco aportou em águas profundas e turbulentas. As asas mesmo feridas insistem em voos cada vez mais alto. 

E o nada se aproxima do eu ausente e algo me observa a distância. Novamente procuro ver o que não consigo enxergar e ouvir o silêncio nas mais profundas e sublimes melodias. É mais um dia como todos os outros. A vida vai passando e a gente vai se acostumando com os mais diferentes acontecimentos.   

Os dilemas do mundo e os caminhos da humanidade. O sistema e à medida que nos mede e nos configura para que caibamos no mesmo pacote. Consumir é uma necessidade e quanto mais consumimos mais necessitamos consumir.

A sociedade do consumo e o consumo nos faz sociáveis. Eu, você, nós e tudo mais que compõe o todo. As 26 letras do alfabeto que formam o universo das palavras, assim como os 118 elementos químicos que formam corpos, lua, estrelas e planeta. E as dores do mundo doendo em profundas feridas. 

O conflito e o confronto. A vida banalizada. Otimistas, pessimistas, empiristas, realistas, a ordem e o progresso entre o abismo e o caos. A hipocrisia e o discurso da moralidade. A culpa é sempre do outro. Dos palanques aos púlpitos, os santos e os demônios de todos os dias. 

Do sol do meio-dia, as chuvas no final de tarde e o sono acordado vê a noite que mansamente vai passando sob a luz quase se apagando. Todos os dias em um só instante. Todas as dores que cabe em uma só ferida. Todas as lágrimas do mundo em um mundo em lágrimas.  

O ritmo alucinante em que tudo acontece e com o mesmo ritmo desaparece como se nada tivesse acontecido. Mesmo com a rapidez que tudo acontece, tudo passa, ficam-se os rastros, as lembranças e os sinais de que algo passou por aqui. A razão não sabe para onde vai, enquanto há fé e esperança na vida eterna, o paraíso.

Nada mais faz sentido, dizem alguns. Enquanto outros afirmam que o sentido está no próprio existir. A existência diz quem é, embora muitas vezes não queiramos nem saber e muito menos ouvir. Em meio a tudo isso, há um processo em curso e na extensão de tudo que pode ou poderá acontecer, mas ainda existe a possibilidade de nada existir. São vagos pensamentos que podem servir para preencher o vazio do próprio vazio do próprio existir.

O mundo está aí à beira da sua porta, por favor, entre sem bater e juntos vamos congratular o sol da manhã, o escuro da noite e o sereno da madrugada. É outro dia, vamos conversar sobre a vida, contar história e rir de nós mesmos. O sentido dá sentido ao próprio sentido, a vida carece de sentido, ao amanhecer, ao anoitecer e ao sentimento sublime de sentir o sentido da vida.

A vontade de querer e ter mais do que possamos ter. O ter nos diz quem somos e a nossa imagem estampada na artificialidade de um mundo de aparência. É a estupidez que nos faz indiferentes e o comodismo que nos deixa inerte diante de tantos absurdos. 

O mundo não é um paraíso, nós não somos uma ilha. Somos corpo e alma, somos filhos da terra, da terra que alimenta homens, animais e tudo que nela se move. Da terra a semente, folhas e frutos. A vida e a paz. Na terra a fome de pão que desnutre o corpo. Na terra a fome de espírito e a vida em desdém. O amor em solitárias veredas em difíceis caminhadas. O ódio e a indiferença. E as flores estão por aí, à procura de campos e jardins. Dê-me a sua mão, levantai e segue pelo caminho das flores.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


21 de setembro - Dia Nacional de
Luta das Pessoas com Deficiência

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º garante os direitos fundamentais a todos que habitam esse país. Em 1991, a lei de cotas para inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.  E em 2005 foi oficializado, o dia 21 de setembro como dia nacional de luta pelos direitos da pessoa com deficiência. E a mais recente, a lei 13.146 de 2015, que representa um instrumento que nós como sociedade deveríamos conhecer com mais profundidade.  

A pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, é isso que diz a Lei 13.146. 

A Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, com base na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, é hoje o principal instrumento legislativo que temos para defender os direitos das pessoas com deficiência no Brasil. Isso justifica-se, pois reúne em um só documento, as diretrizes de acessibilidade e conduta que atendem todos os tipos de deficiência. 

Temos que lembrar e comemorar esse dia como uma conquista. Não estou de forma alguma afirmando que a situação, a realidade está uma maravilha. O que estou tentando contextualizar é que temos esse instrumento a nosso favor. Cabe a nós, membros do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, a função de conscientizar a nossa sociedade da importância de uma cidade cada vez mais inclusiva.

A inclusão não vai acontecer somente em função das datas comemorativas, como no dia 21 de setembro. Tudo faz parte de um todo, é um processo. É parte de um processo que se inicia com o conhecimento. Conhecer a realidade e saber que nela vive pessoas diferentes, e aceitar essa diferença não como parte de uma minoria, mas de uma parcela importante da sociedade, que como sociedade é parte integrante dessa mesma sociedade.   

A Lei 13.146 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), no art. 34 discorre sobre o direito da pessoa com deficiência ao trabalho e de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. E a mesma lei em seu art. 35 diz que “é finalidade primordial das políticas públicas de trabalho e emprego promover e garantir condições de acesso e de permanência da pessoa com deficiência no mercado de trabalho”. 

Diante de todos esses aparatos legais, e nesse contexto no qual estamos inseridos, cabem aqui muitas indagações que provocam reflexões. A finalidade é uma só: A INCLUSÃO.  Por que é tão difícil? Como promover a inclusão? Não há uma resposta pronta e muitos menos uma fórmula mágica. Cabe a todos nós como sociedade, mesmo diante de todas as dificuldades, não nos deixar se abater pelas dificuldades e morosidade do poder público. Temos o amparo na legislação que nos protege, por isso, é preciso fazer valer os nossos direitos.  A lei ao nosso dispor, debates, discussões sobre políticas públicas e tudo mais que atendam a nossa demanda, que resume no seguinte: fazer valer a Lei. 

O art. 34, que se refere ao trabalho nos oferece todo o amparo para o ingresso no mundo do trabalho. O trabalho não tem apenas o sentido de promover o sustento de uma pessoa, mas mostrar que deficiência é sinônimo de EFICIÊNCIA. 

É através do trabalho que a pessoa exerce o seu protagonismo e o seu papel na comunidade e na sociedade. A função social da lei que através do trabalho tem como objetivo promover a vida e a dignidade. Reafirmo, é preciso dar ênfase a pessoa e não a deficiência. Não é a deficiência que tem uma pessoa, mas a pessoa que tem uma deficiência. 

E o ambiente de trabalho como deve ser preparado? Quando falo em ambiente, pode se pensar em espaço de trabalho, o local de trabalho. Não é somente isso, é bem mais amplo, não se trata apenas do espaço físico. Será preciso se sentir à vontade. Porque vai ter o sentimento de diferenciação, de desconfiança. Já tive esse sentimento, já passei por essa experiência. 

Tenho muito cuidado quando escrevo sobre temas ou assuntos delicados como esse. Não estou aqui romanceando a deficiência, estou apenas dizendo que a pessoa está acima da sua deficiência. Ainda nós, pessoas com deficiência, somos visto como deficiente e não como pessoa, é preciso inverter essa lógica, ver a pessoa e não a sua deficiência.  Não é o deficiente que tem que ser respeitado e sim a pessoa, a pessoa com deficiência, sem estigma e sem qualquer rotulação que afaste do convívio em sociedade.  

Inclusão, acolhimento, aceitação, sensibilização e empatia. O sentimento de sentir o outro nas suas dificuldades e se colocar no lugar do outro. Ser diferente é normal, o anormal é ser indiferente. 

A nossa luta é todos os dias. É preciso comprometimento, organização e conscientização para combater o preconceito e a estupidez. Inclusão, democracia e cidadania.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Sobre os momentos que deleitam os instantes

Abrem-se as portas e adentra os fluídos em um distante amanhã sentado à espera do futuro. Ainda o sol da manhã entre as folhagens, pétalas e raízes. Tudo está aí ao bel-prazer, comam, bebam e se regozijem os próximos momentos que serão passado. 

A poética e a métrica bebem em seus próprios versos. A liberdade entre os versos, só quer caminhar mesmo sabendo que é possível voar. Quero costurar a minha rede com as linhas do horizonte e depois nela descansar para colher sonhos em outras estações. 

É tão sublime os momentos que passam sob o afago dos olhares. E a melodiosa voz do acaso entre o silêncio que em mim repousa. É tão consolador esse meigo olhar que me olha só por olhar. Mesmo que seja só por hoje. Mesmo que chova o dia inteiro e o sol dê um tempo para o seu descanso deixando a chuva regar a semente do por vir.

Imaginando uma tarde de primavera entre os livros que ainda não li. Talvez seja teimosia. Talvez seja birra mesmo, coisa de criança brincando com a própria inocência. A inocência entre as flores e um sorriso rindo do próprio sorriso. É só pra dizer que a vida é bela e guardar um segredinho não faz mal pra ninguém.  

Onde se esconde o vento? E as nuvens se enchem de água só pra matar a sua sede. Talvez esse momento não exista. E as pedras querem falar, talvez o vento não queira ouvir. Será que as flores temem os seus espinhos? Pra onde leva esse caminho? A primavera está chegando, gosto da primavera. Assim como gosto dos dias nublados, desses dias cinzentos e de palavras caladas.

Há um pouco de cada coisa para se fazer o que ainda não existe. É uma história, é uma poesia em uma aventura desventurada. Pra lá do muro não é escuro. A noite deve ser clara e a lua enamora o sol. Os pingos da chuva, poeira e lama. O sol quente derrete o asfalto e queima os pés descalços. 

É um vento que sempre sopra, levando consigo as folhas mortas. Tudo se esvai na calmaria e no sossego que dorme ao som do silêncio. Um pouco que se mistura com quase nada. É o caos e o cosmos, a ordem e o equilíbrio. É a desordem e o desiquilíbrio sob os olhares do caos. É um frio que trinca os ossos. É o prego no podre da madeira. É a madeira de corte, é a lenha e o carvão. É a dor doída da ferida esquecida. É a pedra dura que fura a água mole. 

É um grito suave. É o silêncio ensurdecedor. É uma noite solitária e uma mão solidária. É uma flor de plástico exalando essências artificiais. É uma dor superficial em um corte profundo. É a fogueira da vaidade aquecendo a nossa mesquinhez. 

Brisa, neblina, céu de açaí. Azul do mar, olhar assim. Corpos ao vento, cacos de marfim. Nuvem suave, estrela da manhã. Flores e frutos, sabor de maçã. Mãos que elevam e flores que ri. É verde, azul, amarelo, vermelho. Cacos, estilhaços, faces e espelhos.

Livros que leem o mundo. Palavras e frases e carta de despedida. Poesias e versos, versos em canção. Páginas em branco, olhar na escuridão. Visão de um mundo em formação. Vento da transformação. Ontem, hoje e amanhã. E depois da chuva o arco-íris e as cores no olhar. Um sonho que sonhou um sonho impossível. A imaginação que imaginou inimaginável. Flores, dores, pudores e alguma coisa que nunca existiu. 

É segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo e outros dias que o tempo terá para descansar. O sol na cabeça, a lua aos pés e as estrelas em busca de um olhar. Um jardim sem flores. Uma casa vazia. Um copo cheio e outro meio vazio. Um dia de sol e de repente a chuva apaga o sol. 

É salgado, é doce, é amargo, é o vazio cheio de alguma coisa. Num canto escuro do quarto uma taça de silêncio, aprecie com moderação. A sintaxe e o contexto do imaginário. O paradoxo e as palavras à beira do abismo. Os olhos bebem as lágrimas e nitri a alma e acalenta os corações aflitos. 

A filosofia. Pensar é preciso. Talvez proibido seja o não pensar. E vida é um instante, é um momento. A vida é o que ela é. Pensar a vida ou pensar na vida. O que importa? Perguntas e respostas. Perguntas sem respostas. Qual é o problema?

A incansável busca pela perfeição, desagua no rio da imperfeição. Embevecendo na poesia de Fernando Pessoa, mergulhando na profundidade dos versos de Camões ouvindo Legião Urbana à exaustão. O tempo só quer passar e aí ele se segmenta entre momentos e instantes, mas é o próprio tempo se disfarçando para não ser notado.

Uma poesia poetizando o vazio entre o tudo e o nada. Uma crônica dos próximos dias sob os pingos da chuva em uma tarde qualquer. Qualquer coisa pra dizer uma coisa qualquer. Qualquer verso de uma poesia qualquer. Uma vez um texto fora de contexto e um pretexto para não dizer nada. 

É a viagem da mente. O ser e a essência. A vida e toda as suas nuances. A abelha que faz o mel. A poesia que ainda não nasceu. O começo e o recomeço. O que faltou e o que sobrou e a semente que não germinou. Uma música para ouvir e dela se deleitar. O sono que chega e abraça o cansaço de um dia inteiro. Quando será o fim? Não sei, só sei que é apenas o começo.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Seu cérebro pode estar te enganando 

Por que muitas vezes somos levados a escolhas que não queremos, ou, pelo menos, achamos que não queremos, em que nos vemos impulsionados a comprar coisas desnecessárias, e que podem levar à acumulação? Por que muitos compram produtos anunciados por celebridades, e chegam a viver de acordo com esses padrões de moda e beleza? Por que as pessoas brigam (até mesmo com familiares) para defender políticos?

Essas escolhas envolvem a nossa “inteligência perceptiva” (I.P). O médico Brian Boxer Wachler, um especialista em visão e percepção, em seu livro:  “Mentes manipuladas”, explica a forma como nosso cérebro é enganado, e isso até mesmo para quem tem um alto nível de I.P. E, confesso que isso me deixou intrigada, curiosa mesmo, porque por vezes fui na contramão dos ditames, modismos, assim como em outras me senti conduzida por interesses ideológicos, ou afetada por emoções momentâneas ...

O autor avalia o comportamento humano, as atividades políticas, as interações cotidianas, a forma como muitos são seduzidos, imitando tendências ou outros comportamentos, em um processo mimético (imitação), principalmente por meio das mídias sociais (que arrebata e ilude muitos). Mas, o que creio ser interessante compartilhar é que podemos aprimorar a nossa I.P. por meio do pensamento crítico, do autoconhecimento, do autocontrole, aprendendo a não ser manipulado, tentando confrontar as imagens, fatos, a não nos deixar levar por imagens, momentos, pessoas. Aprender a ter o domínio das ações; como o cérebro pode mudar sua percepção das coisas.

Certamente esse é um debate filosófico discutido há muito tempo (dominar as paixões, em Aristóteles), todavia, tem também um sentido biológico, pois a razão pode ser nossa aliada, para tentarmos distinguir a realidade da ilusão. A “inteligência perceptiva” refere-se ao modo como as pessoas interpretam as suas experiências, a forma como lidam com os sentimentos, emoções, apelos midiáticos. Os indivíduos têm diferentes níveis de I.P, mas também é uma habilidade, pode ser desenvolvida por meio da prática consciente. Você é capaz de mudar a sua forma de ver o mundo? Ou sua I.P está condicionada à tradição familiar, rotinas, ciclos, vivências da infância ou padrões estabelecidos?

Repare como muitas vezes somos iludidos também pela tradição familiar, a forma como fomos criados, por pensamentos e rotinas, em que dificilmente as pessoas rompem o padrão estabelecido. Também as campanhas publicitárias, épocas do ano, tais como Natal, Páscoa, em que a empolgação leva a gastos impensados, como no momento em que as pessoas saem de férias, em que a I.P está no modo relaxado (inconsciente), podendo ser influenciada mais facilmente para gastos e excessos. Considerando também que muitos políticos de sucesso têm acesso a esse conhecimento, e usam para a manipulação dos resultados, para favorecimento pessoal. Veja que, quanto mais as pessoas estão imersas na mente de massa, do senso comum, mais facilmente serão manipuladas, principalmente no que se refere à resposta sobre questões políticas, com respostas automáticas, irrefletidas, acompanhando a manada, podendo inclusive romper com pessoas queridas para se manter em uma posição idealizada (para defender determinado político!).

Creio ser importante aprendermos a avaliar nossos sentimentos, emoções, relacionamentos, assim como os mecanismos de manipulações nas mídias. Confrontarmos informações, avaliarmos as fontes, ter acesso às leituras externas, de outros países, para refletirmos de forma imparcial, acessar a realidade em que vivemos, sem tendências ou massas de manobras. 

Porque, no lugar em que estamos inseridos, dificilmente conseguimos ter a real percepção dos fatos, sem sermos iludidos pelas circunstâncias, pensamentos, emoções, ideologias.

Porém, veja também que nem todas as pessoas se deixam conduzir por manipulações diversas; o autor classifica como sendo um diferencial: um alto nível de Inteligência Perceptiva. São pessoas que parecem estar na contramão da maioria. Já se sentiu assim?

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Algo mais que possa nos saciar

“Se a isca não foi abocanhada, a culpa não é minha, Não havia peixe” ... (Nietzsche). Bebemos da antiga fonte de um distante passado de um mundo em constante evolução. E assim somos nós caminhantes por esses caminhos, vezes complicamos em outras vezes descomplicamos e assim é o nosso caminhar. Do outro lado da outra margem, o mesmo lugar parece ser muito diferente.

Parece estranho o que está acontecendo, aliás, nada é estranho. O estranho está na maneira de como vemos as coisas. Nada daquilo que parecia ser realmente é o que pareça ser, o sentido perde o sentido diante da efemeridade de um mundo que está aí. Somos partes do mundo. Somos o progresso e somos o retrocesso. Somos a civilidade e somos a banalidade.  

Num momento estou sóbrio em outros momentos sou refém dos meus desejos. Falo de poesia e de política e de coisas que vai além do imaginário. Muitas vezes o tédio me corrói e nutre-me por alguns instantes. Logo em seguida, refugio-me no meu mundo, no mundo que me acolhe.

Não sei se esse mundo está em mim ou eu estou no mundo. Não sei se voo ou caminho, se escolho caminhar não sei se contemplo a paisagem ou sinto o perfume das flores ou ainda se devo me preocupar com os espinhos. O meu sentimento é um mundo paralelo, quando a realidade me machuca viajo no subterrâneo das palavras e deparo com a beleza da vida e com a magia do viver. Em seguida volto ao mundo real e vejo a vida acontecendo na simplicidade de cada momento que perfaz cada amanhecer, como se fosse um único momento.

Cada um vê as coisa à sua maneira ou à sua conveniência. A compreensão das coisas se dá a partir da realidade de cada um e lê o mundo conforme a sua compreensão. ”Ler significa reler, compreender e interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” (Leonardo Boff).

O que temos são superficialidades que são atraídos pelos olhares que alimentam o corpo, mas não nutrem a alma. Em tempos rudes e raivosos em que os corações estão um tanto embrutecido e as dores e as feridas perfaz a nossa mesquinhez em meio as lágrimas e lamentos.  

Entre muitas preocupações. Preocupo-me com muitas coisas, mas a única coisa que não me preocupa é o que as pessoas pensam de mim. Viver nas intempéries desse mundo com toda a intensidade, com toda a mansidão e sem se deixar se abater pelos ruídos que nos invade a todo momento e tenta nos roubar de nós mesmos. 

Deixe os versos tecer a vida numa suave e lírica poesia. Deixe esse algo desconhecido, essa poética que invade o ser e eleva a alma, mesmo nos inquietos momentos. Deixe o tempo levar, deixe esse vento soprar, é só por esse momento e esses inquietantes e sublimes versos. 
Sinta os fluídos das manhãs e contemple a vida que vai passando ao longo da existência. Talvez seja solidão, mas tudo bem, nada é pra sempre. Como cantou Renato Russo, “o pra sempre, sempre acaba”.  

O mundo multifacetado emaranhado por números e índices estatísticos em uma noite escura iluminado com luzes de neon. A saga humana e os capítulos  que ainda serão escritos e o discurso do rei no alto do seu trono e os novos caminhos que ainda não foram desbravados.

Por que somos o que somos? Somos racionais, mas também somos emocionais. Somos permeados por momentos alegres e momentos tristes. Que sentimentos nos move? Dúvidas, certezas, incertezas e algo mais que possa nos saciar. “O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito” (Fernando Pessoa).
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


As mãos que colhe flores e espinhos

Penso no mundo, nos mistério da vida e no vasto universo. A fome quer ser saciada, a sede quer um gole de água para germinar a semente e nutrir a próxima estação. E depois sair por aí recitando os versos da vida como se fosse um grande milagre ter a noite a lua para compartilhar os dias de sol. 

Os momentos que perfazem o tempo que sucumbem à própria vontade. De repente um silêncio. Não se assuste, não se hesite, não é nada demais. É que já acostumamos com o nosso barulho de cada dia e toda essa busca que está sempre fora do nosso alcance. Como se fosse um alimento que quanto mais comemos mais a fome nos consome. Talvez pareça um pouco estranho um silêncio arrebatador em meio a toda a essa algazarra e a voracidade efêmera do tempo.

A maldade se esconde em qualquer canto, se disfarça em várias faces e nos mais diversos formatos. A face do mal e a face humana, o mal está em nós, somos corrompidos a todo o momento, deixamo-nos corromper. Muitas vezes inconsciente ou não, praticamos pequenos atos, que elevam ou não a nossa condição humana. Mas isso não tira a nossa humanidade. Não importa o tamanho do delito, só o fato de praticar e ferir o semelhante, já diz que as condições humanas mergulham nas fontes do bem e do mal.

Beber dessas fontes é livre arbítrio. Pode tudo, e ao mesmo tempo não se pode nada. Tudo flui, conflui, faz, se desfaz, refaz, diz e contradiz. Somos a face dissimulada e acariciada pelas mesmas mãos que colhe flores e espinhos. 

Na contradição humana, a maldade se manifesta sobre as belas formas. A distância entre o amor e o ódio não é um abismo como se pensa. Amor e ódio andam lado a lado. Na contradição humana, a vida caminha sobre paradoxo, é a própria contradição caminhando em mão única. 

Diz o dito popular: “querer é poder”. O filósofo inglês fundador do método indutivo de investigação científica Francis Bacon nos provoca, afirmando que “saber é poder”. Sapiência e demência e a banalização em todo canto, em todos os meios, muitas vezes ditando a regra do jogo, como se viver fosse apenas um jogo. 

O homem é o lobo do homem, afirma o filósofo Thomas Hobbes. No contexto civilizatório, essa afirmação não deixa nenhuma dúvida. O homem usa sua imensa capacidade e potencialidade tanto para construir como para destruir. As duas guerras mundiais e os inúmeros conflitos que marcam o nosso tempo confirmam essa afirmação. O homem é o seu próprio inimigo.

A incapacidade de ver e perceber o que acontece ao nosso redor ou enxergar apenas o nosso umbigo. No jogo do poder, o poder é de quem joga sujo. E nesse campo pelo o que se vê os vícios superam as virtudes, e as flores morrem no silêncio dos jardins, sob os sepulcros dos ignorantes.

São olhares virtuais na tela do imaginário, e o que acontece do lado de lá é puramente entretenimento, um jogo que não há vencido e nem vencedores, todos são perdedores. E as mãos sujas sujarão o corpo inteiro, e não há água o suficiente para limpá-lo. 

Caminho em silêncio, contemplando os meus passos, disfarçando a minha solidão. Nesse instante me perco nos momentos que envolvem segundos antes do silêncio que ousa sentir a minha solidão. Traçando palavras, perfaço outros caminhos, invento outro eu para refazer minhas metáforas. Na lucidez dos meus dias, um sonho se perde entre quimeras, ludibriando a poesia entre o tempo e a espera.

Jean-Paul Sartre na profundidade de suas palavras, entre muitos de seus pensamentos filosóficos tem um que particularmente eu tomei emprestado, diz Sartre: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Repetidamente ouço essa frase: “O mundo esta cada vez mais difícil”. Será que algum dia foi fácil?  O caminho pode ser longo e cansativo, os passos podem ser lentos. O que você vai fazer? Continuar caminhando ou desistir diante das dificuldades? 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


"É tempo de transformar conhecimento em ação"

O título dessa coluna é o tema da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla que se realizará de 21 a 28 de agosto. Instituída pela Lei 13.585 de 26 de dezembro 2017, a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla tem como finalidade conscientizar a sociedade sobre as necessidades específicas de organização social e de políticas públicas em benefício dessa população, promovendo a inclusão social e o combate ao preconceito e a discriminação.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) de 06 de julho de 2015, Lei 13.146. É um instrumento que dá visibilidade à causa e faz que a inclusão seja legítima. Promover direitos de quem ainda sofre preconceito e discriminação, essas são as finalidades dessas duas Leis. É de nossa inteira responsabilidade divulgar e fazer chegar a toda a população e cobrar de toda a sociedade e do poder público que essas leis sejam respeitadas.

Direito a igualdade de oportunidade, em uma sociedade como a nossa em que prevalece a competição. Precisamos usar a força da Lei e fazer que ela seja aplicada. A deficiência não faz da pessoa com deficiência incapaz. É a própria sociedade que tira a capacidade da pessoa, impondo toda a forma de barreiras e obstáculos. 

O art. 3º da Lei 13.146, considera acessibilidade como: a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida. 

“É tempo de transformar conhecimento em ação” esse é o tema proposto para ser discutido na semana de 21 a 28 de agosto. Temos o conhecimento da Lei, como a 13.146 já com 5 anos de vigência. Como transformar conhecimento em ação? Como transformar exclusão em inclusão? Como transformar preconceito e discriminação em aceitação e acolhida?

A Lei Brasileira de Inclusão apresenta propostas, mas muito mais que propostas, ela aponta caminhos e indica ações a serem tomadas. Ação como identificar e valorizar a pessoa com deficiência e a sua atuação na sociedade. Discutindo e debatendo diferentes agendas de políticas públicas na saúde, na educação e na assistência social com uma efetiva inclusão.

As políticas públicas são necessárias para garantir a efetivação de direitos. É direito da pessoa com deficiência de viver em um ambiente em que possa desenvolver suas habilidades sem depender de terceiros, desenvolvendo sua autonomia e independência. Essas garantias são formuladas e implantadas por meio de políticas públicas, formulada pelo poder público e pela sociedade civil. Com a participação popular e o comprometimento do poder público é possível implantar uma política pública inclusiva, que valorize a pessoa em toda a sua totalidade.

A inclusão social é a palavra-chave, é esse impulso que coloca todos num vetor de desenvolvimento que despadronize essa visão de “produção em série” como engrenagem de um sistema padrão. A vida nos provoca e nos convoca a viver esse lento e ao mesmo tempo essa voracidade que se coloca à frente de nós mesmos. A nossa atitude e a nossa falta de atitude desenham um novo cenário, e nós como sociedade diante de tantos problemas que nos provocam e nos levam a refletir em que sociedade estamos vivendo e que tipo de sociedade estamos construindo. 

As leis e resoluções, que dão as definições e as dimensões e regem as nossas atitudes e o nosso agir em prol de uma sociedade mais associável e civilizada. As barreiras e todos os obstáculos ao bel prazer de uma sociedade que luta e debate entre si, tentando encontrar saída, e se perdendo em seu próprio labirinto de poder e desmando.  

“É tempo de transformar conhecimento em ação”, por isso, expor toda essa realidade, provocar a reflexão e o debate são importantíssimos para a sociedade se conscientizar e solidarizar com essa parcela da população que precisa ser acolhida e respeitada. É proporcionando visibilidade a essa população, trazendo à luz da realidade todos os desafios que precisam ser superados.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


Corações e mentes

Assim, a vida refaz a cada momento e cabe num instante que se eterniza no olhar que me faz ver o quão frágil é; e ao mesmo tempo tão valiosa. Ame e viva com toda a intensidade. E assim navegamos em águas bravias, no duro chão da realidade. E nesse contexto inserimos nossas vontades, nossas verdade, e as nossas conveniências. 

“Um belo dia nascemos e, depois disso, seremos como se jamais tivéssemos sido! É fumaça a respiração de nossos narizes, e nossos pensamentos, uma centelha que salta do bater de nosso coração.” Sabedoria 2:2.

Como são lindos esses dias mesmo sem graça, passar por ele e seguir outro norte. Um pouco depois chega até o momento seguinte tentando ouvir o silêncio na solidão do olhar. 

Às vezes sinto o vento roçar o meu rosto. Às vezes sinto as lágrimas a afagar a minha face. Em outras vezes ouço o silêncio em forma de poesia. Em outros momentos adormeço para sonhar outros dias. Esses versos ocupam todos os momentos. Bebem toda a essência para depois saciar em sabedoria. E nas noites escuras imploram as estrelas o seu brilho. Tímido e um pouco sem graça refugia em si os seus segredos. Há um pouco em mim que não mais existe. Escondido entre o existir e o viver, talvez um sonho ou a realidade em plena lucidez. 

De momento em momento faz-se o inexplicável, entre um momento cabe um instante e o imponderável. Dorme ao lado a fome, olhares assustados e a miséria do homem alimentam o próprio homem. Preenche o vazio e foge a solidão solitária nos campos de trigais e ervas daninha envenenando corações e mentes. 

O que nos espera na próxima esquina? E o amanhã pode nos preocupar? Não quero pensar no amanhã, quero o hoje e todos os momentos que faz ser quem sou. Um pouco de um tempo para desfazer e refazer em outros dias. Em outros momentos as águas de outros rios irrigando os desertos da vida. Tanto faz, a terra quer um pouco de sol e as tardes podem ser todas iguais.

Muitas vezes escrevo frases em palavras estranhas com sentidos absurdos. Sinto o sol nascer nas solitárias manhãs e um vento perdido em diferentes nortes. A verdade cai por terra sobre as asas feridas da liberdade machucada que mesmo assim insiste em voar. Algo que fica e qualquer coisa que se esvae ao vento. Bebe a água da fonte para regar as flores da existência.

O amor demasiadamente humano nos faz mais humanos. Nos caminhos suportando as dores dos espinhos, não cansamos de caminhar. Mesmo em meio ao escuro, há um filete de luz e uma réstia de esperança. Mesmo nas contradições, há um sentimento, há um olhar e tudo se humaniza. Não me olhe com esse olhar de superioridade, não seja tolo, estamos todos no mesmo barco. É o mesmo sol que nos aquece.

Mergulha-me e submerge em essência para que se faça em mim um só sentimento. Floresceu os jardins da vida e semeou os momentos para florir em outros versos. Depois das flores, outro dia para compor a vida e sonhar outras manhãs. A dádiva da vida se presenteia no suor do trabalho e em tudo mais que possibilita ser o que somos.

Esse sentimento que repousa no aconchego de um momento qualquer, não sente o abandono destas tardes vazias. Essas lágrimas que insiste, mesmo sabendo que esses olhos não querem. A miséria machuca a alma e apequena a nossa humanidade. O dia é um sonho e a tristeza se fez alegria. E a alegria em muitas outras vezes, e assim se fez em si e o mundo acordou e sonhou outras vezes, e muitas outras vezes. E um vento logo ao amanhecer.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


Amor, paz e pai

Meu eterno amigo mestre e companheiro das mais diferentes jornadas e nas mais difíceis caminhadas. Nos encantos que ainda encantam, como uma noite enluarada. Noites dos poetas nos infindáveis versos e uma estrela em uma longa estrada para sonhar. 

Nos seus braços me refugio e em seu âmago adormeço e acordo momentos depois para contemplar um pouquinho mais da vida. Um pouquinho mais que há em cada amanhecer. Talvez hoje eu entenda as suas palavras, elas eram poucas, mas o suficiente para dizer muito.  

vida cheia de vai e vem de encontros e também de tantos desencontros. De chegadas, partidas, abraços e despedidas. Um mundo de sonhos e também de pesadelos, tudo isso é parte de um todo, que querendo ou não somos envolvidos e estamos envolvidos.

Nas entrelinhas do silêncio, a brisa suave em cada amanhecer e um canto melodioso ao cair das tardes sob a miragem do olhar. E no olhar os infinitos se cruzam sob diferentes olhares que contemplam o milagre da vida.

Um dia de paz, um dia feliz e um dia para sempre. Um dia como outros dias. Vamos combinar uma coisa, esse dia não é um dia comum. Esse domingo, segundo domingo do mês de agosto, pai esse é o seu dia. Mesmo sabendo que todos os dias são seus, pois a todo o momento chamamos o seu nome, pai. 

Pai, palavra sublime. Tão sublime; simplesmente pai. Pai, versos ao vento, flores ao tempo, momento e sentimento, tudo inspira amor. Amor que doa. Amor que cuida, um amor celestial, fraternal e transcendental. Pai, o oásis em paisagem, um olhar simples como a simplicidade. 

Pai, a força e a serenidade como a seiva da vida. O vento, a brisa, a vida em plenitude. Pai, a face divina do Criador, a face que perfaz o olhar no olhar de quem insiste em olhar, somente olhar. 

O que é o amor para dizer e fazer em si mesmo tudo que há. Tudo que ainda há e tudo que ainda existe e existirão. Tudo é eterno, se faz eterno e diz eterno na eternidade de um sorriso, no calor de um abraço e na intensidade de um olhar. 

Pai, passos já cansado em caminhos caminhado e marcas profundas do peso do próprio caminhar. E ao caminhar abristes caminhos para o meu caminhar. Os seus passos fincados no chão da esperança querem chegar mais longe, mesmo em meio a tantos obstáculos e as incertezas do caminhar. Mesmo muitas vezes entre as incertezas, sempre há um horizonte para sonhar. Mesmo nos infortúnios momentos, suas mãos sempre a me amparar. 

Nos sublimes versos a poesia dos momentos e nas sutilezas dos instantes as sublimes lembranças. Um sentimento eleva a alma e pacifica o espírito.  A paz, o amor e a vida e tudo que nos envolve como gestos sagrados que nos faz e nos refaz e apascenta os corações. Corações humildes e singelos e uma mensagem de paz e uma canção para suavizar a alma. 

Em nome do Pai, o amor incondicional e a paz de todos os momentos. Paz na terra para semear, florir, partilhar e compartilhar. Meu Pai! Meu silêncio quer ouvir a sua voz em eternas lembranças. Ao tempo eternizam em mim os seus olhares e aos céus as minhas súplicas. 

Entoam palavras, o sutil e a leveza que afagam a face em uma lírica poética ao sabor do por vir. Deus, pai dos pais, ilumina-nos e ajuda a caminhar e ao fraquejar que seja a força, a tua força a apoiar-nos. Todos os dias é dia de pai, paz. O amanhecer de todos os dias são momentos de paz, pai. Todos os instantes se eternizam no incondicional amor que somente pode vir dos corações que amam profundamente, Pai.

Dialogo com o mundo, converso com as estrelas, me aconselho com a lua, viajo no infinito do teu imenso amor e velejo estrelas na tranquilidade do seu olhar. Pai, o tempo se eternizou em suas sábias palavras. Pai, eterno amigo. Uma lágrima ao amanhecer e outras muitas lágrimas na perenidade de todos os momentos. 

A vida em si quer a sua força, e se faz forte na tenacidade de acreditar que os dias serão melhores. A essência primordial de um Pai Celestial que cuida de pais e filhos e molda com seu eterno e sublime amor. Pai, uma súplica ao silêncio e uma suave canção de esperança. Amor, paz e pai.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


Os encantos de cada momento

Mesmo com muitos assuntos dos mais variados tema para ser desenvolvido. Não consigo digerir tudo que vem a mente e expor como um texto coeso e com certa definição. Então recorro à imaginação, não que a realidade não tenha importância, muito pelo contrário, mas a imaginação é uma fonte inesgotável. Não estou fugindo e nem tampouco fingindo, estou apenas me nutrindo dos indeléveis momentos. “Como a ave que, atravessando o ar em seu voo, não deixa qualquer traço de sua passagem: O ar leve, ferido pelo toque de suas penas com a impetuosa força do bater de suas asas, atravessa-o e logo nem se nota indício de sua passagem” (Sabedoria 5: 11). 

E o vento chega mansinho e espanta o silêncio, trazendo consigo as boas novas de um novo tempo. Como se fosse um instante perdido em um breve momento e para depois recitar a vida num pouco de cada dia como se fosse um verso de qualquer poesia.

Qualquer que seja a poesia, sempre há um sentimento se refazendo em todos os momentos. Como se todos os dias fossem apenas um ínfimo silêncio percorrendo a extensão de um instante. A vida em versos e prosas segue caminhos diferentes em suaves passos ou em tortuosas veredas. O coração do mundo transpassado em golpes profundos, expondo toda a ferida e toda a nossa estupidez. 

Caminham por aí em grandes tentações perturbando os ímpetos momentos dos instantes prazeres do balbuciar das infâmias e das injúrias em dias tediosos. Um coração latente e um tempo para si mesmo e o mesmo desgosto perfaz ansiosamente o mesmo ritmo ao desalento de um dia qualquer em impetuosos momentos na voracidade de tantos clamores. Assim segue seus passos, seus olhares e tudo que ainda está por vir. E essa chuva mansamente encharca o chão e faz em ilusão todos os momentos, fantasias e miragens.

O desejo límpido e tendenciosamente refeito ao relento esperando que tudo aconteça assim tão de repente. Ausente todos os instantes, quem sabe uma eternidade. Daquilo que eu sentia, talvez nada mais seja lembrado. E se me lembro não sei o que é. Talvez haja resto de alguma coisa em algum lugar, não sei. Talvez sejamos nós, a plena mentira de nós mesmos.

Abrem-se todas as portas, caem por terra todas às fronteiras e o horizonte se aproxima mesmo estando distante. A imaginação faz das palavras um mundo com inúmeras possibilidades. Aí a gente para e o texto continua nas entrelinhas e a imaginação voa nas asas solta e plena, plainando o infinito na artimanha do pensar e na inquietude do sentir. Sob o olhar vão-se as lágrimas, enquanto enxugam-se as faces no calor que afaga e no silêncio que acalma. São os versos da alma na poesia da vida e o instante se faz em momento, no olhar que insiste em olhar, apenas olhar a beleza de tudo que é belo, a divina criação e a profundidade do ser. 

Tolice pensar no vento, na amargura das frias noites e nas insólitas horas implorando migalhas ao tempo. Sonhos caminhantes em distantes quimeras. Olhares perdidos em solitários horizontes. Em distantes jardins flores feridas na ilusão desiludida e o sol do dia seguinte. Os olhares sob a penumbra e a essência artificial no vazio da alma e nas trincheiras do desconhecido.

Vazios são todos os dias. Inconstantes são todas as horas. Um dia talvez um sonho me acorde de repente e os momentos serão intermináveis. As lágrimas florescerão um mundo de esperança. Um dia talvez o mundo seja melhor. Talvez o ópio, o tormento e as incertezas nos mostrem uma nova possibilidade e a gente se perca por tortuosos caminhos e não se encontre mais, ainda que os vestígios, os resquícios e os rastros nos sigam.

Às vezes os textos não fazem sentidos em outras vezes é um amontoado de palavras e frases soltas querendo se encontrar e sempre se desencontrando. Noite e dia entrelaçados em momentos angustiantes que parece distante e ao mesmo tempo tão próximo e visível aos olhos que vislumbra o amanhã tecendo a teia da vida.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


A sociedade é deficiente

A desigualdade tem como umas das causas, o preconceito. Nenhuma forma de preconceito faz da sociedade eficiente, pelo contrário, faz dela deficiente. O caminho que nos apresenta é tortuoso, mesmo assim é preciso caminhar. Inserção, inclusão, diferentes em busca de igualdade de oportunidade e de direito de exercer a plena cidadania.

Em vigência desde janeiro de 2016, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, completou 06 anos de sua promulgação, instituída em 06 de julho de 2015. Por que é importante divulgar essa lei? Para o conhecimento, não apenas das pessoas com deficiência que serão beneficiadas, pois é importante que as pessoas tenham esse conhecimento. Como já foi publicado nesta coluna em outras edições sobre esse assunto, segundo o senso de 2010, o Brasil tem aproximadamente 46 milhões de pessoas com alguma deficiência, ou 24% da população. 

É importante falar sobre esse assunto, falar sobre a lei 13.146 divulgá-la a exaustão. As pessoas com deficiência precisam romper cada vez mais a barreira da invisibilidade. A inclusão se dá pela ocupação dos espaços, isso nos faz visíveis. Lembro daquela máxima, que quem não é visto não é lembrado. Para romper as barreiras e quebrar o ciclo de exclusão é necessária uma série de ações afirmativas. Além das políticas públicas, será preciso o esforço de todos os setores da sociedade.

Percebe-se que a pessoa com deficiência ainda é visto com olhares piedosos. Não é por aí, mas infelizmente é assim que acontece, e isso está enraizado nas pessoas que trata o deficiente como incapaz. A questão física da pessoa com deficiência e a sua falta de aptidão e a incapacidade por não fazer parte da construção social dos padrões criados pela sociedade que está incrustada do nosso cotidiano, no nosso jeito de falar, de pensar e de agir.

A pessoa com deficiência ainda é construída no imaginário de uma parte da sociedade como um grupo negativo, incapaz e inferiorizado. A desinformação leva a conformação e a acomodação colaborando para que tudo continue como está. Para contrapor a isso e ajudar a construir novas percepções na formação de uma cultura inclusiva, se faz necessárias as ações de políticas afirmativas na valorização e a importância da pessoa com deficiência na construção da cidadania e uma cidade democrática e inclusiva.

Palavras, imagens e tudo que as pessoas sem deficiência pensam antes de agir perante a pessoa com deficiência.  Eu já ouvi muitas vezes expressões como essas: coitado deve ser penoso para ele ser assim. Vou ajudá-lo, tenho dó, vou fazer a minha parte. Essa é imagem que muitas pessoas têm da gente. Hoje isso tem diminuído muito, mas ainda há pessoas que nos vê com inferioridade e com esses estigmas. 

É preciso ter em mente que antes da deficiência vem o ser humano. A pessoa está além da sua deficiência, pois essa pessoa é um ser humano, dotados de todos os preceitos como qualquer pessoa. A pessoa em primeiro lugar, o SER HUMANO e não a sua deficiência. Não é a deficiência que nos limita, é preconceito que ainda nos aprisiona. 

“Quem me dera ao menos uma vez acreditar por um instante em tudo que existe. Acreditar que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes”. Assim escreveu Renato Russo. Que essas palavras nos inspirem e nos faça ver e enxergar em cada gesto de ajuda, um gesto de reconhecimento e acima de tudo, um gesto de respeito. E nesses gestos tão simples, mas de grande singeleza que nos torna mais perfeitos ou menos perfeitos, isso não importa o que é importante é a perfectibilidade.

Somos seres inacabados em permanente construção e se fazendo e se refazendo a todo o momento. Em nós a capacidade de nos aperfeiçoarmos como seres humanos, como seres inteligentes e nessa inteligência, entender que somos diferentes e nessas diferenças crescermos como seres humanos.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Nas entrelinhas da imaginação

Sinto-me esgotado e tenho a sensação que não vou conseguir escrever do jeito que eu queria. As palavras parecem que querem fugir e vão escapando pelas frestas, sei lá, de um pensamento talvez. Assim escrevo as minhas sensações, os meus sentimentos, os meus pensamentos e tudo que compõe os meus momentos. Mas, nem sempre consigo escrever da forma em que planejei. 

Tudo bem, não há nenhum problema, encaro tudo isso como uma coisa normal, talvez essa seja a forma natural que encontro para expor algum pensamento ou algum sentimento. Não sei dizer, basta-me escrever.

Essa vontade de escrever é como saciar a fome, a fome das palavras que loucamente quer uma fresta entre o infinito e o horizonte em busca de seu aconchego. O mesmo se passa com um verso qualquer que quer uma poesia para fazer a sua morada. Palavras e versos, às vezes ficam soltos vagando de parágrafos em parágrafos, de estrofes em estrofes tentando se encontrar, mas sempre desencontrando.

Há muito ainda a ser feito e muito ainda para ser dito. Os mistérios do mundo, por favor, não me decifre que eu te devoro. As ruas das grandes metrópoles, a solidão em meio à multidão e um sonho nômade que não quer acordar nas frias manhãs de inverno. Inverno que aquece a poesia nos versos que se humaniza e se entrelaçam em plena imperfeição. 

Lembre-me amanhã de manhã se o despertador não despertar e o sol não acordar, terei o dia inteiro para sonhar. Meus dias serão inteiros e os meus momentos serão intensos. Não penso quando esses momentos se findarem, apenas sinto os momentos que passam devagar, sob os olhares de quem quer ver mais longe. 

Há momentos que tenho tanto para escrever. E em outros momentos parece que estou só entre o vazio existencial das míseras palavras. Mesmo assim tento escrever, escrevendo por linhas imaginárias sob o amargor e a docilidade e as extremidades da vida. Fecho os olhos e vejo as palavras distantes, caminhando em outras margens, colhendo flores em outros jardins. 

Às vezes fico sem saber, fico assim como uma lágrima longe do olhar. Lá depois do silêncio e um pouquinho de mim fazendo poesia nas inquietudes dos intermináveis versos. 

Imagino o inimaginável e a possibilidade de não imaginar o quão é solitário a poesia entre os absurdos. E o sonho não quer sonhar e a noite parece uma eternidade, mas os olhos querem ver e as mãos querem acariciar a face das manhãs. Entre os sonhos procuro não sentir o pesadelo e fico à espera do tempo para eternizar tudo que há e tudo que poderá vir a ser, mesmo nos tortuosos caminhos e nas noites escuras.

Finjo que não estou aqui, escondi entre os instantes para encontrar-me nas entrelinhas dos momentos. As páginas de um livro a espera de novas histórias, quem sabe de um país querendo se encontrar, querendo ser feliz. Entre algo que se esperava e que não aconteceu e se aconteceu passou despercebido e não registrou no álbum da memória. 

É bom saber, o sabor da vida, o saber que está em mim que me desconstrói para reconstruir-me e depois deixar desbravar novos caminhos e seguir em frente. 

Uma vez e em muitas outras vezes em diversas aventuras e desventuras que perfaz cada passo que compõe a vida ao sabor das derrotas e das vitórias nessa longa saga humana. 

As quatro estações, os quatro ventos e a lua cheia. Os pontos distantes, erros e acertos e as verdades dos tempos entre os moinhos de ventos. É muito mais que isso, a beleza é o vazio das flores sob a dor da alma fatigada, sedenta e cheias de clamores. Depois da suavidade, o balbuciar do silêncio num lampejo de um instante que sai de si e se esvai em pleno desejo, entre margaridas, girassóis e todas as flores feridas em infindáveis conflitos. 

Artífice dos novos tempos dos poetas da vida e dos profetas da esperança. Ainda se ouve nas margens do absurdo o ranger das engrenagens carcomidas pela ferrugem de um mundo hostil. Dos dias de hoje, o futuro do futuro e a caixa de pandora se abre ao acaso e a maldade entre Sapiens e Demens em uma aventura civilizacional. 

Como se fosse o último momento, ainda resta algo para dizer que tudo valeu à pena. Na impossibilidade, a força do ser. Um instante, apenas um instante. Silêncio e complacência, tudo se faz para sermos apenas um.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Inefável

Nas palavras que se calam ainda pode ouvir os seus clamores. Ainda pode contemplar a intimidade dos seres. Em nome do amor, uma mensagem aos filhos da Terra. Aos que semeiam sentimentos e cultiva flores nos jardins da vida. E suas lágrimas são as lágrimas do mundo, fluindo e aliviando as feridas e consolando os corações aflitos.

Diz ao mundo as suas angústias e aos olhos que buscam novos olhares e aos seres humanos que anseiam por liberdade. E para depois dizer ao sonho que o mundo ainda é um lugar fértil de esperança. As palavras vagas se perdem em seu próprio sentido se desfazendo em flores as paisagens desérticas. O sentimento mesquinho inerte a pluralidade emocional que destrói as flores bebendo o fel.

E você o que quer? Chama o silêncio de seu amigo e diz para ele a sua verdade. Escreva o seu nome na terra seca desse chão para depois caminhar em passos lentos em caminhos desconhecidos.

Então, as mãos se entrelaçam e como irmão não pode dizer sim a quem mata a terra e destrói a vida. Não, não são vocês os algozes, a voz que cala e o silêncio que fala a dor que transpassa o coração e perfaz a alma.

Um passo adiante. Dá a sensação em que vivo vários momentos. Esqueci por um instante, posso lembrar mais tarde. Posso estar longe nos próximos momentos.

Posso estar aqui, mesmo estando ausente. Tenho dúvidas em expor meus sentimentos, não me apego a qualquer pensamento. Mas me perco na próxima esquina. Não sei aonde me leva o próximo caminho. Estou chegando a algum lugar.

Não consigo medir a distância entre o sonho e a realidade.

Talvez tenha passado por algum momento que aos olhos da alma enxerguei-me um pouco além. Busquei algo em diferentes lugares. Vi flores entre os olhares e a face sublime dos olhos que me veem e o coração que me escuta. E afeição inefável que nutre o espírito e o sacrifício de todos os dias que me faz caminhar mesmo que o caminho seja lento e às vezes parecendo um descaminhar.

A faca cega e os olhos que tudo veem. O corte exposto, o sangue e a veia e um dia inteiro para se fazer noites em pedaços. Sonhos em fragmentos em tolos sentimentos e fluídos de pensamentos. Na penumbra da noite, vejo as flores no deserto sob os enfáticos olhares que me olham. E o caminhar entre o nada e chegar à próxima estação. Ainda há versos em noites frias, ainda há sorrisos neste devasto paraíso. Ainda há melodia tocando o silêncio dos corações.

Nutre os sentimentos e alimenta o acaso que rasga a pele no avesso da alma.

São todos os sentimentos vagando entre versos e palavras em busca de refúgio, se escondendo de si mesmo. Um sonho sonhando e a esperança de um dia para sempre, entre flores em agonia e versos em dores e nas dores que choram as vidas ceifadas pelas rudezas dos corações embrutecidos.

E o mundo se fez em silêncio só para ouvir a sublime melodia da alma. Sob o sol de outras manhãs, os olhares líricos perpassam a invisibilidade do ser. Toma consigo todas as dores do mundo e tenta aliviá-la com bálsamo e alfazema. Acaricia todas as faces e depois enxuga todas as lágrimas para chorar em outros olhares. Por enquanto, o sol e o clarear dos dias, enquanto for o amor à única forma de ser, enquanto o sentimento manifestando-se em nós na gratuidade e na concretude da vida que se faz o todo.

As mãos que esmola na próxima esquina nutre as migalhas que alimentam a nossa mesquinhez. Anda cabisbaixo por entre ruas estreitas, rastejando por um pouco de dignidade. Desce do pedestal e anda pelas ruínas dos castelos e mansões nos jardins de ilusões. Farta a fome de espírito para depois bradar o seu poder sobre tudo.

Em seguida junta tudo e guarde ao lado, próximo ao um lindo jardim nutrido pela ignorância com um pouco de arrogância ao sabor da insanidade.

O sentido das coisas são as coisas sem sentidos. Um alento ao tempo e as águas fluem formando outros rios, desertificando corações e mentes. Em outra margem, os sonhos semeando flores no caminho da esperança. Depois das lágrimas o arco-íris colore o horizonte, trazendo em si a magia das cores e a melodia do tempo nas canções da vida. Versos e palavras e o pleno silêncio. O tudo, o nada e o infinito entre os olhares.

Sou eu, sou você, sou alguém e sou ninguém. Sou um pássaro que voa à procura da sua morada. Meu grito poderá ser o seu grito. Minha dor será a sua dor.

Minhas lágrimas são de todos os olhares. Minha dor dói em todos os corações. O cio da terra e as margens dos rios nas serenas manhãs e no silêncio das águas. São as mãos divinas e o sopro do Criador. A sua voz, o seu clamor e a sua oração. A sua voz parece um canto silencioso a embalar milhões sonhos em um único instante. De repente um silêncio, tudo se acalma e tudo suaviza. A face do mundo e a miragem do paraíso no momento em que a poeira cegou os meus olhos, e não consegui ver por inteiro o horizonte que se aproximava. Tudo se perdeu diante de nós e até o céu chorou ao ver a terra ferida.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


As nossas alegrias voam nas asas de um pássaro triste

As dificuldades desse momento de turbulência contrastam com o leve voo de uma borboleta que pousa na areia nas margens de um riacho. Suas leves e coloridas asas plainam o infinito espaço que compõe o seu mundo em um olhar enfático para nós humanos que não sabemos aonde levam os próximos passos. 

O seu voo suave é um convite, algo que parece nos interrogar. Perdido em pensamentos tentando descobrir os segredos do mundo em busca de algo que lhe faça feliz. Nas asas imaginárias de um pensamento infortúnio que pousa sobre as nossas dúvidas, duvidando da felicidade e das formas como buscamos incessantemente essa tal felicidade. 

As nossas alegrias voam nas asas de um pássaro triste, voando contra o vento à espera de uma suave brisa que o acolha entre as neblinas. Entre o bater das asas, há um tempo para nos acolher. Momentos, instantes e um longo caminho entre dúvidas, incertezas, alegrias, tristezas e tudo mais que está ao nosso alcance. Os sonhos fogem entre os resquícios das vãs palavras para alimentar nossos medos e nele nos alimentarmos. 

“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos um coração sábio” (Salmo 90.12). Ensina-nos a semear a serenidade e a paciência para compor os nossos dias. Ensina-nos também a partilhar os nossos dias, nossas alegrias, nossas tristezas e tudo o que há de bom em nós. Precisamos aprender a olhar o mundo com os olhos da compaixão e enxergar em cada ser humano um sinal de Deus para o mundo.

Se alguém me perguntar no que eu penso, penso em muitas coisas, mas de modo especial, o silêncio diz o que eu penso. Penso em tudo que está acontecendo, penso nos dias de chuva, no barulho da chuva ao tocar terra seca, o cheiro da terra molhada e o aroma da vida. Penso na noite e no diálogo das estrelas sob o clarear da lua. Penso no dia amanhecendo iluminando as faces das manhãs. 

Os olhos já não veem o horizonte que se aproxima. A voz emudece e o silêncio sublime contempla as verdades em meio às mentiras entre os horizontes que findam os nossos olhares. As mãos querem o céu, os mares as marés, à noite a lua; estrela e depois um pouco mais do que ainda há. Alivia esses momentos para depois seduzir outros dias em outros sonhos para sonhar outras vezes. 

Diz outras palavras, inventa outros dias e nos inspira por mais momentos de esperança para sorrir os novos tempos. O sublime silêncio e o cantar da cigarra suaviza o vai e vem das formigas. O mundo foge do homem, o homem se perde em seus passos, desequilibrando entre suas demências. O ouro roubado dos castelos de ilusões e as feridas de todos os dias eternizam-se entre os próximos instantes. 

Marcham por aí sonhos nômades em busca da terra prometida. Nos mares da vida a nau em turbulência mergulhando sob os sonhos dos anjos e o paraíso em um só olhar. É tarde outra vez e uma noite inteira para esconder as minhas profundas inquietações. Deixei o pesadelo para depois, o sonho me quer por inteiro. Acordo por um instante só para apreciar o silêncio e sentir suas nuances. Quero sair, mesmo que os obstáculos me impeçam, não tenho medo da queda. 

Trouxe-me o infinito em meio às palavras não decifráveis, não sei o que é não consigo entender, não vejo sentido. Não sinto o sentimento aflorar e as paixões avassaladoras roubam-me o equilíbrio e joga ao caos. De repente tudo acontece outra vez e um coração ferido e o ser em êxtase espera na próxima esquina, logo ali onde o sol se põe. A vontade quer saciar seu desejo e pede um pouco de paciência. Um pouquinho de um instante, o mínimo que faz o momento; a folhagem, flores e floral. Um vento que passa distante, perdão, piedade e misericórdia.

Às vezes sinto o vento roçar o meu rosto, em outras vezes sinto as lágrimas a afagar a minha face. Em outras vezes ouço o silêncio em forma de canção ao encontro de outros momentos para refazer e reviver em muitas outras vezes. 

Perfazendo a beleza na inquieta imperfeição, procuro entre os resquícios de sentimentos, mesmo no rabisco, no rascunho e nas palavras tortas. Sonha porque sonha o sonho, tudo me envolve. Envolve-me e depois arranca as flores pelas raízes e planta no jardim da alma, perfuma-me. Dissolve a seiva sagrada e destila entre corpo e alma. Deixe o tempo que passe, não se preocupe, descanse um pouco; quem sabe o sonho rouba-me por um instante, só por um instante. Na insistência dos instantes, a insistência dos momentos nas incessantes buscas para ser feliz só por hoje. A face do mundo, a exuberância, a essência e a vida em plenitude. Aconchega-me o espírito e solidifica o meu caminhar.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


Era apenas uma manhã

Guardei para os dias de chuvas todos os meus sentimentos e para os dias de sol guardei as incertezas que flui o meu caminhar. Trago comigo meu par de sandálias e o desgaste da caminhada. A face, o semblante e um sorriso ao ar livre. O mundo e a beleza suja com as mãos vazias e as palavras submissas nas amarras do imaginário. A pureza indecente e o cão raivoso sobre a corrente da ignorância. A sede e o copo d’água à milhas de distância. Fluem as essências e perfumam os jardins e depois tudo se esvai e o silêncio contempla um pouco de paz.

Era apenas uma manhã. O dia apenas estava começado e o sol despontava vicejante, como se fosse um convite de boas vindas. Os pássaros que voava na extensão do olhar desapareciam entre as montanhas que preenchia toda aquela imensa imaginação. É o mundo das indecifráveis palavras, em que as frases perambulam tristemente entre os estranhos caminhos levando consigo o medo e a coragem. 

Indelevelmente sopram os novos ventos como arautos dos novos tempos. Um pingo de chuva inunda um coração, alegrando as flores que sorri dando graças ao céu numa súplica louvação. E ai a poesia se encanta com as estrelas e os sorrisos da vida. Logo nos próximos momentos, nos próximos instantes e nos próximos degraus que levam ao infinito. 

E os pássaros ainda voam sob os olhares enfáticos do tempo. Resta o olhar e a lembrança, e aí tudo se esvai. O horizonte é um rabisco, um traço do imaginário e o aroma que aguça o paladar. Aceita as suas dores e fere a alma para depois dizer aos céus que as estrelas estão distantes. Regue as flores do seu jardim e nutre a noite para florir os sonhos em outras manhãs. 

Assim faz o medo em um pouco de coragem que desfaz o silêncio desencadeando em mim algo que passa a ser desleal. Nas tempestades se faz o tempo nas margens do absurdo. Morrendo a fome do eu e o ser nas inquietas paragens sob sol na derradeira lágrima de um olhar já cansado. Ainda existe, insiste e nas longas noites desfaz uma gota de fel. 

Juntei os meus sonhos e plantei no quintal da minha inocência. Acordei no meio da noite e colhi flores antes da primavera. Sem saber que o dia já amanhecia, saí em busca das estrelas sob o clarear da consciência. Andei veredas afora, feri a minha vontade e guardei as minhas armas. Mas o dia seguinte trouxe flores para aquecer o inverno da alma e alimentar as minhas quimeras. 

Alguma coisa acontece e sol diz bom dia. Um dia, uma utopia e um mundo ao avesso sob as lágrimas dos tristes olhares que choram as dores das feridas não cicatrizadas. Alguém diz palavras bonitas e lindo sorriso. Alguém pode machucar, dizendo as mesmas palavras com um lindo sorriso. 

A vida vasculhada pelo o acaso que se diz dono de si. E quando a noite chega, foge ao desespero para curar as suas velhas feridas. A alma e os sonhos desventurados dos amores desejados, das empáfias e da sordidez. Do mundo as dores e a palidez no olhar. Alimenta a alma na fome do olhar e acalenta a dor por mais um instante.  

É por um momento, só por esse momento em que a vida se refaz dos sonhos não sonhados que se desfez depois do pôr do sol. Vomita os estilhaços do tempo e constrói castelos em areia movediça. Semeiam migalhas entre os pingos da chuva para nascer às flores do amanhã. A ferida que não cicatriza e a dor busca o alívio, a serenidade e a paz sublime. 

E aí surge o infinito, cantando canções de ninar e adormecendo logo depois ao lado das estrelas para sonhar outros sonhos em outros distantes lugares. Talvez o mundo ainda possa dizer a paz à beleza da paz. A paz deseja ter paz e a boca faminta pede um pouco de pão. O pão na mesa e um lindo sorriso e um bom dia. Gentilmente os dias passam e o tempo não diz o que queres. A paz perfaz o tempo, num abraço que abraça. Tudo bem? Como vai utopia? Vamos sonhar um novo dia?


Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


Simplesmente o essencial

Contemplando os momentos, os belos momentos em que a vida diz para si mesma que tudo ficará bem e que a vida somente quer ser vivida. O simples que se faz o todo na totalidade que está em tudo. A essência da vida que é mais do que pareça ser e que está inteiramente impregnada e intrinsecamente embevecida no âmago do ser. 

O essencial é invisível aos olhos”, O pequeno príncipe, Antoine de Saint-Exupéry. Nada lhe pertence, tudo pertence ao todo. O universo (uni-verso), uma linha imaginária desenhada nas esferas do todo invisível. Um verso entre o multiverso e a existência de tudo na coexistência do todo. Uma fresta entre as partes que compreende o todo. 

O essencial aos olhos do mundo e os olhos que veem as suas dores nas dores do mundo. O que falta, nada falta e as nossas necessidades estão sempre famintas. Nenhuma palavra poderia ser tirada, nenhum sentido fica subentendido. E nada mais precisa ser dito, apenas algo que fica no submundo da imaginação. 

O essencial, a existência e tudo que está entre o todo que advir. A poesia do vazio e os versos cheios de sentimentos alimentam o silêncio de uma tarde inteira. O que não pode ser esquecido será lembrado em tudo e consequentemente no todo, no ápice do por vir. E se roubassem o essencial, morreríamos. 

A substância do corpo e a essência e o êxtase de cada momento que se concretiza em todos os instantes. O coração sorri e o poeta abraça e contempla a sua essência. Saudações, congratulações e o universo acolhem todas as sensações na sensibilidade que inspira o essencial no humano amor que amorosamente nos humaniza.  

O encontro inesperado e os momentos em que a gente sente de súbito a presença da eterna harmonia. Em tudo que se é apresentado dá a impressão que existe um sentimento claro, indiscutível e porque não dizer, um sentimento absoluto. Num súbito momento deparamos com a natureza e inteiramente estamos submersos a tudo que nos alimenta. 

A memória ainda em êxtase na sublimidade e na docilidade dos ternos e ínfimos momentos que se eternizaram em tão grande e sublime alegria. Os quatro elementos fundamentais: a água, a terra, o ar e o fogo, em que os filósofos antigos reduziam o essencial. Não sei o que pensavam eles, talvez pensassem que estavam fazendo um estudo do universo ou compondo poesia de si mesmo. Não sei, mas a meu ver estavam desvendando o segredo da alma. 

Somos feitos de infinitos e de infinitas possibilidades, amamos, odiamos e estamos sempre em busca de algo que nos satisfaça. Nas profundezas da imaginação algo inimaginável corta o silêncio entre as portas entreabertas sob o som melodioso e  dele me pego a pensar na impossibilidade de imaginar o mundo sem que eu não sinta tudo que eu possa sentir, sem nenhuma tristeza em especial. 

A chuva que cai, o sol que ilumina e aquece. A lua que clareia as noites escuras e as estrelas na intensidade de seus brilhos sob as águas cristalinas que mata a sede. E as flores nos incansáveis momentos de florir e os frutos para saciar e a vida, em fim triunfar. 

Nessa longa saga humana não posso imaginar um barco na solidão do mar sem o vento para as suas velas soprar. Imagina o mundo sem os pássaros, os campos sem a relva e a mata sem as cores vivas. De onde brota toda a exuberância e o mistério deste mundo, nossa casa, nosso lar e a beleza que envolve o todo. 

A vida que se apresenta nas mais diversas formas nos mais inóspitos lugares. A essência e o essencial camuflado ou exposto entre e a incerteza e o inesperado. A vida precisa de simplicidade. Das palavras que querem dizer alguma coisa em meio à algazarra dos momentos que pede enfaticamente um pouco de silêncio. Mesmo assim é possível ouvir as vozes do mundo, embora muitos não queiram ouvir. 

O essencial, a essência, a poesia e os versos se maravilhando com a vida se engravidando em êxtase. A vida quer ter sentido, procura e busca por mais sentidos. Doendo por tanto doer, mesmo assim, apesar de estar assim, tudo pode ser exuberante na exuberância e na essência que se faz si a própria essência.  

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


Como uma onda no mar

“Nada do que foi será do jeito que já foi um dia”, assim são os nossos oceanos. Hoje, longe de serem como antes, encontramos uma onda de dejetos, extremamente poluídos – o desrespeito à natureza – uma lástima! 

O Dia Mundial dos Oceanos foi proposto em 8 de junho de 1992 durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a ECO-92. Tinha por objetivo colocar os oceanos no centro das discussões científicas e políticas intergovernamentais relacionadas ao aquecimento global e às mudanças climáticas. Formalmente reconhecido pela Organização das Nações Unidas em 2008, o Dia Mundial dos Oceanos é um movimento social global empenhado em aumentar nossa consciência sobre a necessidade de proteger a biodiversidade marinha e os habitats costeiros. 

Os oceanos abrigam a maior biodiversidade do mundo e recursos naturais essenciais, de relevância econômica e estratégica, além de serem imprescindíveis na regulação do clima, fundamental para manutenção da vida na Terra. 

As águas dos oceanos e mares são contaminadas e poluídas, principalmente, pelos dejetos introduzidos pelos rios que, em sua maioria, deságuam no litoral, desse modo, a poluição pode ser emitida em grandes distâncias, porém seus reflexos são percebidos em áreas costeiras. A poluição oceânica é oriunda principalmente de esgotos e produtos químicos e tóxicos, além do petróleo. 

A grandiosidade da costa brasileira e do mar territorial, bem como a riqueza dos recursos naturais neles contidos e o dinamismo das atividades envolvidas nessas áreas, demandam alto grau de profissionalismo e dedicação, perante os desafios enfrentados para a organização, normatização e fiscalização.

“Somente quando for cortada a última árvore, poluído o último rio, pescado o último peixe, é que as pessoas perceberão que não podem comer o dinheiro” (Greenpeace).

Maria Zélia Dias Miceli é educadora da Liga Solidária,
em São Paulo, organização social sem fins lucrativos


A desventura de um texto

Todas às vezes, todas as vozes, todos os gritos e todas as dores do mundo cabem em um único momento que preenche os corações de sentimentos que ainda espera por um gesto de esperança.  Sempre falo de esperança em quase todos os textos que escrevo. Ter esperança é alimentar o que temos de mais precioso em nossa vida, que é nada mais do que viver os momentos bons com profunda alegria e confiar que os momentos tristes não são para sempre. 

Entre as estreitas veredas, flores, espinhos e passos alentados seguem em busca dos sonhos de dias melhores. Sinceramente, mesmo movido pela esperança, há momentos que bate uma angústia e a desesperança me abate.   

Era uma vez e assim se inicia essa curta historinha que narra à façanha de duas palavrinhas tentando sobreviver no reino desencantado. Sozinha e abandonada na solidão daquela longa imaginação. Elas saíram à procura do reino das palavras, mas se perderam ao tomar um atalho. Mas tinha consigo a esperança que jamais o abandonará. Será que no reino desencantado ainda mora a esperança? 

E agora tristes e sozinhas sem um norte para seguir. Ao menos alguma coisa, algum barulho, mas nada se ouve. E assim seguiu dias após dias, noites após noites e nada de encontrar o tal reino. 

O reino que se chamava, reino desencantado era conhecido como, o reino das palavras. Desencantadas estavam elas, aos ver que os livros estão empoeirados numa estante qualquer. As palavras só querem voar nas asas solta de um texto, num verso instigante, inquietante e exuberante de uma poesia.  

Uma criança ri. Um sorriso ao sol para contemplar os dias de chuvas. Uma noite escura para não ver estrelas. Um dia inteiro para passear entre os momentos. Uma casa cheia de sorriso e um silêncio indo embora.

Um dia frio e um livro para ler e se perder entre as suas páginas e se encontrar em meio às belas palavras. Alguém pergunta ao silêncio, mas não espera para ouvir a reposta. Todos os sentimentos embrulhados num papel colorido e cheio de brilho. Todas as estrelas coloridas cheia de luzes jogada ao vento entre as brancas nuvens. A beleza além das palavras e nada mais para dizer, além do que já foi dito. O silêncio me convida para um diálogo franco e sincero.  

O sublime entre os olhares e a contemplação do infinito e todas as cores do arco-íris pintando os vários horizontes. Alguns versos entre muitos que povoam o mundo num mundo criado, imaginado, encantado, desencantado. Eis os versos:

O sorriso dos momentos transpassa o silêncio dos instantes.

Os olhares das manhãs e o orvalho entre as relvas.

O sono de uma noite e os sonhos dos dias de sol.

O sentido de tudo e a beleza entre o vazio que preenche os próximos instantes.

Tudo ao mesmo tempo e uma luz para clarear o dia, alheio a nossa percepção.

Esses versos não têm rimas, tudo bem, eu não busco rimas, apenas palavras para dizer alguma coisa e alimentar esse texto. Esse texto é completamente sem sentido, cheio de frases soltas e frestas entre as paredes. É lógico que isso é de propósito, é só para entrar sol e aquecer o silêncio que dorme levemente o sono dos transeuntes nas calçadas do mundo.

Sonhos que ri, ri dos meus versos e uma criança brincando sob os olhares da esperança. Ri da minha falta de bom senso, dos meus desencontros e da maldade que machuca e dói em todos os corações. Dias e mais dias correndo ao encontro de algo inalcançável e depois uma sombra para descansar. Meu sonho me deixou, não vejo o sorriso entre as faces esquecidas, não sei se o vento levou ou se apagou com a chuva que encharcou as madrugadas dessas frias manhãs. Essas noites às estrelas estão ausentes e a lua não apareceu para clarear o reino desencantado das palavras desventuradas. A lua quer um verso triste para sorrir e a noite quer que o dia amanheça para iluminar a esperança nos olhares de uma criança.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu



A polêmica redução da maioridade penal

No Brasil o mesmo jovem que possui maturidade para escolher
aqueles que vão criar e mudar as leis do país não pode ser
punido pelas leis instituídas por representantes que escolheu

A cada vez que os índices de criminalidade aumentam ou quando acontece um crime bárbaro envolvendo a participação de menores, o tema da redução da maioridade penal volta à tona e certamente durante as eleições presidenciais o assunto ganhará vida e voz pelas ruas de todo o Brasil. 

Diante de tantas polêmicas, faz-se necessário lançar uma visão técnica sobre a questão, que nos aponta para duas perspectivas distintas: 

- Primeiro, o critério de maioridade cronológica aos 18 anos. Adotado pelo sistema brasileiro, admite que o menor infrator é incapaz de responder por seus atos até seus 17 anos e 364 dias. ‘Misteriosamente’, no dia seguinte, ele passa a ter consciência, podendo ser punido como adulto. Apenas um dia pode mudar por completo o ‘critério-hora’ estabelecido.

Outro fato importante a ser lembrado é que no Brasil é possível votar aos 16 anos. Ou seja, o mesmo jovem que possui maturidade para escolher aqueles que vão criar e mudar as leis do país não pode ser punido pelas leis instituídas por representantes que escolheu. Esta, por si só, já é uma grande contradição.

Reduzir a maioridade penal para 16 ou 14 anos não soluciona o problema da violência. Vai sim, aumentar drasticamente a população do já falido sistema carcerário, pois esta medida servirá de incentivo para que criminosos recrutem indivíduos ainda mais jovens, com 13, 12, 11 anos, para engrossar suas fileiras, uma vez que estes não poderão ser punidos como adultos.

- A segunda perspectiva, que se apresenta como mais lógica e racional, endossada por inúmeros especialistas e estudiosos da segurança pública, é a maioridade psicológica. Neste sistema, Peritos Psicólogos, Psiquiatras e Psicanalistas poderiam realizar análise individual do menor e atestar, cientificamente, se ele possui ou não consciência dos atos praticados, para responder por seus crimes. Neste caso, a idade não importaria. Desta forma somente seriam punidos os casos em que realmente exista a consciência e mente criminosas. Tais indivíduos seriam reclusos em presídios preparados para atender às necessidades de recuperação, impedindo o contato com criminosos adultos.

Seja qual for a vertente defendida, o importante é que o fator determinante seja a consciência técnica e o profundo estudo desta dinâmica, e não uma simples mudança motivada por aspectos emocionais.

Prof. José Ricardo Bandeira - É Perito em Criminologia e Psicanálise Forense,
Comentarista e Especialista em Segurança Pública, com mais de 1.000 participações para
os maiores veículos de comunicação do Brasil e do Exterior. Presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina e Presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil, membro ativo da International Police Association



Ode ao tempo

As narrativas consentem as diferentes ideias enraizadas nos tempos atrozes que ainda povoam mentes e corações. O tempo rei e o trono vazio entre as alucinações e as grandes batalhas em dias temerários. A noite clareia um tempo distante que se faz entre versos e poesias nessa grande epopéia humana. A imensidão do tempo e o espaço entre a sapiência e a demência numa narrativa civilizacional. 

O ser humano e o tempo e as perfídias que perfaz em si mesmo. O tempo cronometrado, o tempo em sua cronologia e o progresso da humanidade. O calendário e os ponteiros imaginários do relógio do tempo que mede a nossa loucura e deixa em nós um pouco de lucidez. 

O tempo sentado à beira do caminho aponta para nós a próxima encruzilhada. Os olhares perdidos e a bússola apontam em outras direções ao encontro de si mesmo exilado na cápsula da memória. Adentra no âmago do ser, o estranho, o irreconhecível e o incognoscível que o habita. 

Anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos. O tempo do calendário e os ponteiros do relógio, à hora exata dos momentos e os segundos que se esvai. Os números que medem o tempo, o tempo que cabe num punhado de história que se embriaga em um cálice de silêncio. 

Quanto tempo o tempo tem. E nessa aventura de brincar com o tempo, inventar histórias de um tempo que se desfaz entre tudo que há daquilo que já foi contado; e em tudo que já se fez, se refez e se desfez. A metade de um tempo já percorrido e o tempo todo que compreende o todo que perfaz a totalidade. 

Quanto tempo eu tenho? O tempo que mede o pensamento e o tempo que perfaz os sentimentos que suaviza e alivia as dores que humaniza. O tempo para sonhar e depois sair à procura de algo que faça acreditar na bondade humana mesmo em meio a tanta incredulidade.

O tempo quer me interrogar, não sei o que ele quer comigo. Sempre travamos boas conversas e diálogos riquíssimos. Quero contar essa intimidade, falar um pouco desse relacionamento. O tempo, esse sujeito que parece muitas vezes ser o meu mais fiel amigo. Em outras vezes se comporta como um terrível inimigo que passa sem ao menos tecer qualquer consideração. 

Mas nesse momento, talvez eu não tenha tempo para o tempo, estou escrevendo sobre o tempo, tentando desvendar as suas nuances. Não quero pensar no amanhã, quero o tempo de hoje, quero o tempo do agora para saciar a fome dos momentos que me consome e beber as águas da imaginação para embevecer os próximos momentos.

É estranho e constrangedor, pois muitas coisas acontecem sem a gente ao menos saber e sem aviso prévio. Acredito que isso que faça dos nossos dias algo sublime. Como uma tarde serena que se prepara para despedir do astro-rei. E depois deixar cair à noite para contar estrelas. Não quero que o tempo acorde, quero apenas repousar sob a lua sonhando por um novo tempo.  

Quanto tempo leva para pensar em algo e depois esquecer? Quanto tempo leva para não pensar em nada? O que é não pensar em nada? O nada consome o meu tempo que enche o sentido de algo que ainda não foi imaginado e que transborda em um rio de possibilidades. 

O tempo que sabe que é hora de um novo dia nascer ou da noite chegar. O brilho das estrelas e a lua e o seu clarear tem o seu próprio tempo e entende o momento de aparecer e quando se esconder. 

A flor conhece o seu tempo por isso não desperdiça o tempo que tem. As folhas caem das árvores, pois sabem que o seu tempo já findou. Os frutos saboreiam o tempo que percorreu até o seu amadurecimento com gosto de um tempo que passou. As águas percorrem o seu percurso, muitas vezes calma e caudalosa em outras vezes furiosas e impiedosas.  

O tempo da chuva molhando a terra seca reconhece que é tempo de florir. O tempo de uma lágrima que se desfaz entre os olhares numa avassaladora alegria ou em uma profunda tristeza. O tempo do tempo que se esvai deixando rastros e vestígios nas trilhas da memória. Talvez o tempo e a palavra entre um texto. Talvez entre a flor e a raiz haja um tempo, um tempo para contemplar o próprio tempo. Agora vejo o tempo pelas frestas do infinito e contemplo um distante olhar ao longo do sol. Tanto nos instantes como nos momentos, um pouquinho a mais do que sempre foi.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Metáforas do eu


O desencanto com a política

O capítulo IV da Constituição Federal de 1988, assegura expressamente os nossos direitos políticos. Mas infelizmente, muitos cidadãos e cidadãs ainda não conhecem, talvez por falta de interesse, decepção ou descontentamento. Será que não acreditam na política? Será que temos razão para tanto? É comum ouvir pessoas demonizando e rotulando o meio político como impróprio para pessoas honestas. 

Quem elege os nossos políticos? Os políticos que nos representam, fomos nós que os escolhemos. Existe corrupção na política, não podemos negar isso é fato. Podemos nos perguntar: A sociedade é corrupta? Será que os nossos políticos é o espelho da sociedade? 

Por que a sociedade precisa da política? Onde nasce a política? Eu sou político? E você o que pensa sobre política? A política como forma de organizar a sociedade é um instrumento pelo qual buscamos o entendimento de forma civilizada para combater a barbárie. 

A política como instrumento de promoção do bem comum concede a cada cidadão e cidadã a responsabilidade e o compromisso de fazer valer os direitos que a Constituição nos outorga e concomitantemente sendo cumpridores dos nossos deveres. 

Tenho desprezo pela política, não tenho posição partidária, tanto faz o político A ou político B, ninguém faz nada mesmo. É comum ouvir esse tipo de comentários, pessoas que não têm o menor interesse pela política. Na Grécia Antiga quem não se interessava por política, não participava da vida pública era chamado de idiota. Hoje esse termo tem outro significado. 

O que se constata hoje, é que a política como instrumento para promoção da cidadania com o intuito de mudar, transformar uma realidade está cada vez mais em descrédito. Quem quer ser político? Eu sou político, o ser humano é um ser político segundo o filósofo grego Aristóteles. 

Então nós seres humanos, somos político por natureza. A política é algo que tem que ser bom, e esse bom para ser bom tem que beneficiar toda sociedade sem distinção. Partindo desse pressuposto, pode-se afirmar que a essência da política é o ser humano. Nós seres humanos, somos seres sociáveis, dotados de inteligência e artífices da nossa própria história. Organizamos em comunidades, vivemos em sociedades e precisamos um do outro para viver.

Como se vê, no Brasil parece ser diferente, temos os profissionais da política e os profissionais na política. Os nossos políticos ou grande parte deles fazem da política algo que gere privilégio, para isso usa sem o menor pudor a política com a única finalidade de promover o bem pessoal ou de seu grupo de apoio. 

Beneficiam-se grupos privilegiados em troca de apoio, em troca de favores. Assim, a política aos poucos foi perdendo a sua essência e deixou de ser o instrumento, cujo objetivo é a promoção do bem comum, para a prática do descaso com o bem público e com a população que mais precisa. O que se vê nos dias de hoje são políticos legislando em causa própria.    

A nossa política é caracterizada pelo fisiologismo político, que é essa relação promíscua do poder político nas decisões de favorecimento de grupos ou da base aliada em troca de favores entre interesses privados em detrimento do bem comum. Essa prática está enraizada em nossa política, é um jeito de fazer da política uma negociata que já é de praxe em nossa política. 

O toma lá da cá na política continua fazendo parte da vida cotidiana da nossa política como sempre fez. O que isso tem de ruím, sempre foi assim? Infelizmente sempre foi assim e pelo o que parece vai continuar sendo assim. Isso ficou nítido na última eleição que elegeu o atual presidente do congresso nacional e do senado federal.

Mesmo com tudo isso que representa ou que nos representa, temos que acreditar que as coisas vão melhorar. Não dá para negar que estamos vivendo dias difíceis. O aumento do desemprego e consequentemente a perda de renda e com isso o flagelo da fome. Não podemos desacreditar em dias melhores. Como diz o Frade Dominicano Frei Betto: “Guardemos o pessimismo para dias melhores”.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Para semear o amor e cultivar esperança

Acordando a realidade que sonhava com o mundo depois de todas as dores e sofrimentos. Mesmo acordado permanece sonhando, sonhando com os versos de uma poesia que ainda não existe. Ainda não há como dizer, pois não se sabe o que dizer. Somente sente o sabor amargo e as dores constantes que os dias se encarregam de aliviar. 

Escrevem no muro das memórias, frases insuflando por liberdades semeadas nos quintais imaginados em verdades aprisionadas. Uma vez nas margens dos olhares, uma lágrima tentando sobreviver. Pensando e ao mesmo tempo sentindo todo o peso e a leveza e a subjetividade de todas as certezas e a objetividade das nossas incertezas.

Ainda há sonhos que insiste em sonhar. Nossos medos, coragens e toda audácia que reveste a nossa condição humana. As verdades e todas as mentiras que permeiam as vitórias e as derrotas e toda a trama humana. Outra vez é manhã em outras noites e outros dias para refazer outros momentos, perfazendo todo o sentimento nos instantes que ainda resta. 

Aqui no silêncio do meu microcosmo vendo a lua pela fresta da janela, penso em tudo que fomenta em mim qualquer atitude. O fluxo que se dá em cada momento, inspira-me a viver os próximos instantes. Alguma coisa me impulsiona a escrever sobre tudo ou sobre qualquer momento que esteja inteiramente imaginado no imaginável exercício de imaginar.

Um texto, uma poesia e uma lírica canção para suavizar a alma. Apascenta e acalma os corações, acalma e deixa o silêncio perfazer cuidadosamente todo o ser. Não se apresse, apenas dê o próximo passo, não, não se importe com a distância. O caminho pode ser longo, nem por isso não deixe de caminhar. As flores e os olhares sob o sublime afago dos eternos momentos. 

A noite silenciosa acalenta sonhos e sorrisos sob a lua enluarada e as estrelas na eternidade de seus brilhos dormem no colo da esperança. A afetividade e a ternura acariciam as faces da vida no amor que ama incondicionalmente. A poesia sentada ao lado da flor alimenta os versos e fluem as lágrimas dos olhares no encanto que aconchega a ternura nos braços da vida. No aconchego que abraça sob a suave canção de ninar a embalar os sonhos no compasso dos corações que só querem amar. 

Os dias amanhecem e anoitece, assim virão outros dias e outras flores para exalar as suas essências e rabiscar o horizonte com todas as cores da vida. A vida, o sonho, a utopia e a esperança. 

Fraternos momentos entrelaçados na partilha e na compartilha, na paixão e na compaixão e na comunhão de um mundo que ainda está por vir. Tece os sentimentos na vivacidade que compõe pouco a pouco o todo que se faz nessa longa jornada que nos desafia a todo o momento. 

Os mistérios da vida, a dádiva sublime do ser e a leveza da alma e o espírito de bondade. Tudo é inspirador e perfazem os momentos que tecem a vida. A paz de todos os dias, o amor semeado dos jardins da vida, o fruto, o alimento, o sustento nessa dura caminhada. Entre abraços e despedidas, encontros e partidas.

E uma lágrima se faz verso só para dizer que a vida é poesia. Uma frase no contexto da vida, um verso à procura de outras poesias para satisfazer toda a plenitude do ser. O tempo consume os meus dias, a noite dorme o meu sono.

Para falar da vida nos mais profundos sentimentos. Para falar da vida em tudo que é sublime. Um sentimento único, um olhar profundo e a totalidade que nos faz e nos completa como seres humanos. O amor que nos humaniza, e nele nos irmanamos em profunda espiritualidade. Deus está em nós e nós estamos em Deus, pois Ele é o amor que se fez humano e se encarnou entre nós. O simples, o profundo, o humano e o sagrado. Tudo está em nós. Somos o sonho plantado do coração de Deus, a esperança semeada como sementes de amor no seio da humanidade.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma



Por que o acolhimento aos alunos
é primordial no retorno às aulas?

A Pandemia trouxe um cenário diferente para o mundo todo. De um momento para o outro fomos obrigados a enfrentar o isolamento social; famílias foram separadas, distanciadas. Todos, de alguma forma, tiveram que enfrentar situações inusitadas, mas creio que o mais terrível, além do desemprego, da fome, e diversos tipos de sofrimentos, seja a dor da perda de quem muito amamos. Muitos alunos podem ter perdido entes queridos, próximos. A criança enlutada precisa ser acolhida, cuidada, assim como seus familiares.

Muitas famílias viram suas vidas transformadas. Isso tudo modificou comportamentos, abalou psicologicamente crianças e jovens, assim como aos adultos. Ocorreu uma mudança brusca na rotina dos estudantes. A necessidade de estudar em um ambiente diferente do escolar, a falta de contato pessoal com os colegas e muitas vezes a falta de condições das famílias ajudarem seus filhos nas tarefas, causou um impacto direto no desempenho. Muitos pais, apesar de trabalharem em casa, por diversos motivos não conseguiram dar a atenção e a ajuda necessárias aos filhos. Isto sem falar nos casos extremos de desemprego, fome, sofrimentos... Não sabemos o que ocorreu de fato com cada uma das famílias, nem como retornarão essas crianças à escola, por isso, devemos nos preparar para acolhê-las.

A escola, toda a equipe escolar, mas principalmente os professores, com a retomada das aulas presenciais, precisarão lidar com diversas dificuldades. O medo da contaminação ainda é um fato; o retorno, o encontro na escola também pode causar apreensão, instabilidade emocional, medos ou até mesmo transtornos. A escola deverá se preparar para esta nova realidade. O fator psicológico, o estado emocional dos pais também pode influenciar os filhos. Por isso a necessidade de acolhermos também os pais, familiares,

A escola, entre inúmeras funções, tem também o papel de acolher. Por isso a importância de ajudar os estudantes a lidarem com os próprios sentimentos, com o olhar sensível, estético (conceito), com amorosidade, em que o como educamos será ainda mais importante.

Os alunos passaram muito tempo sem frequentar a escola, talvez retornem com problemas emocionais nas aulas presenciais. Outros talvez tenham enfrentado sérios abusos, maus tratos, e isto deverá ser olhado com muito cuidado e atenção; qualquer problema identificado deverá ser comunicado aos gestores, para avaliação, orientação ou mesmo a comunicação ao Conselho Tutelar, se for o caso. Também pode ocorrer das crianças necessitarem de algum auxílio social, diante do problema da fome, e precisem da intervenção dos gestores perante os órgãos competentes, com a ajuda necessária.

Dentre as diversas medidas que precisam ser adotadas para este retorno, podemos considerar zelar pela segurança e saúde, obedecer as medidas sanitárias, segundo as diretrizes e protocolos oficiais para a reabertura da escola, com o devido distanciamento, mas é necessário também o ato da escuta, dedicar tempo de qualidade aos alunos, com respeito e amor. Essa escuta também é importante para entender o que cada aluno está passando e como podemos ajudá-lo.

Por isso a promoção de ações de interação, de rodas de conversas, de jogos lúdicos é tão importante. Propor momentos de conversas, de escuta individual, para acolher os alunos e ainda proporcionar união na volta às aulas presenciais. Isto representa a oportunidade para as crianças falarem sobre suas experiências, sentimentos, dores, tristezas ou alegrias.

Esses momentos podem abranger os conteúdos, o currículo, mas podem também ter um caráter interdisciplinar, como tema transversal, colocado de forma a acolher, aproximar os estudantes, após tanto tempo de isolamento. A arte é um ótimo recurso. Propor diversão, riso, é importante, salutar. Os alunos precisam reconhecer a escola como um lugar agradável, divertido para aprender, acolhedor. 

A pandemia trouxe um contexto diferente, mas podemos, apesar de tudo, possibilitar outras aprendizagens, abrir caminhos talvez esquecidos, colocar na pauta valores como respeito, altruísmo. Podemos mostrar aos alunos que a vida ainda pode ser bela (é bela), apesar de tudo. Com a possibilidade de despertar nos alunos a solidariedade, exercitar as virtudes, mostrar que todos temos um propósito, somos importantes e podemos fazer a diferença. Sempre.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Sentimentos e metáforas

A folha em branco muitas vezes me assusta e me apavora. Fico tímido diante das palavras e me perco no subterrâneo dos sentidos. Tento me convencer pela lógica e a racionalidade, mas não consigo me impor e sou levado por torrentes sentimentos. Muitas vezes as palavras negam os seus sentidos, não querendo ser boa e nem má. Ou às vezes se escondendo entre as metáforas com medo de se machucar.

Preciso escrever algo que em mim me implora e ao mesmo tempo algo em mim me devora. Não sei ao certo dimensionar o quão é incerto e indefeso esse jeito de agir, essa suposta superioridade. Muitas vezes superestimamos e nos deixamos nos levar por falsos preceitos e agimos como se fôssemos insubstituíveis. Construímos e destruímos tudo ao nosso bel prazer.

A folha em branco implora para ser saciada, quer para si todas as palavras e todas as frases para construir o seu texto e nele se esconder. O texto imaginado não quer o mundo imaginário, não quer ser apenas algo que passou e sucumbiu em si mesmo. 

Olha o mundo em lágrimas, chorando o vazio existencial e se perdendo nas curvas desconhecidas de um longo caminho. O que nos machuca e o que pode sempre nos machucar? O nosso egoísmo e o nosso altruísmo, as faces e os semblantes de um olhar vazio contemplando o mundo num anseio de esperança.   

A geopolítica, a economia global entre a fome e a miséria e todas as agruras do mundo. O que desejamos para o mundo talvez seja que nos move. O que nos move será que fará o mundo melhor? O que é um mundo melhor? Se soubermos a resposta, podemos fazer outro questionamento ou uma justificativa, justificando a nossa incapacidade. 

O mundo sempre alimentou os seus conflitos e confrontos produzindo guerras e terror, movidos pelas supostas superioridades. O ser humano teme o próprio ser humano e nessa corrida egocêntrica contempla a sua própria derrota, celebrando a ignorância. Somos capazes de construir castelos e mansões e também somos capazes de produzir a fome e a miséria.

Que tal é o mundo em que vivemos? Somos livres e vivemos presos. Presos em nossas crenças, em nossos ritos, em nossos prazeres e desejos. Vivemos esperando dias melhores, dias de plena felicidade.  

Será que nós nos conhecemos de fato? Nossos pensamentos e nossos sentimentos e tudo que nos envolve que muitas vezes não entendemos, não compreendemos. Nossas buscas? O que buscamos? O que queremos? As respostas parecem lógicas e faz todo sentido. Será? Como sabemos que as nossas buscas fazem sentidos? 

Nossa ignorância, nossa arrogância e toda a nossa hipocrisia. Queremos ser melhores, queremos sempre o pódio. Alguém ganha e outros perdem. O que está em disputa? Ganhar de quem e perder para quem? Para alguns o mundo é um jogo e a única coisa que interessa é a vitória a qualquer preço. 

No momento como esse que estamos vivendo, há pessoas que se beneficiam das dores do outro num misto de falta de empatia e desumanidade. As pessoas que agem assim são seres humanos, a maldade é parte do ser humano. Somos capazes de produzir maravilhas que nos encantam e eleva a alma e ao mesmo tempo somos capazes de cometer atrocidades que nos apequena como seres humanos.  

A nossa busca é frenética por algo que nos satisfaça e para isso mergulhamos na superficialidade e nos afogamos na profundidade do nosso ego. E nessa busca perdemos a oportunidade de viver a felicidade, deixando a felicidade esperar por dias melhores. Buscamos na artificialidade o que só encontramos na profundidade. Temos por hábito conceituar a vida como algo complicado e complexo. Podemos até ter essa conclusão, mas é na simplicidade que a vida se concretiza e se completa. É no amor que ultrapassa os preconceitos, ritos e crenças que a vida faz sentido. Quero uma folha em branco para escrever os meus sentimentos e poetizar a singeleza da vida.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma



A coragem em São Tomás de Aquino

A razão da existência humana é a união e amizade eterna com Deus - a felicidade
perfeita que experimentamos ao presenciarmos Sua essência

Confesso que não havia pensado no valor da virtude da coragem, de ser ela uma das maiores, até entrar em contato com as obras de São Tomás de Aquino (nossa, eu amo a vida dele). E recordo que senti um aperto no coração ao ler que foi apelidado por seus colegas de Boi mudo, por ser quieto e introspectivo (desconheciam que estavam diante de uma alma sensível, pura, cheia de determinação). Ele nasceu na Itália, em uma família rica, e era o mais novo entre nove filhos. Relata-se que aos cinco anos de idade foi enviado a um monastério para estudar com os monges beneditinos (que dó, tão pequeno...). Ele permaneceu até os 13 anos, pois seus pais queriam que ele se tornasse culto, rico, com prestígio (que triste ilusão ...). 

Sua família não contava que ele seguiria a vocação religiosa; não queria que se tornasse um dominicano, vocação desprovida de prestígio na época, já que pediam esmolas e viajavam para evangelizar. Tomás chegou a viajar escondido para Roma, para um mosteiro dominicano, pois queria trabalhar com os pobres. Foi capturado por um dos seus irmãos em Paris e ao retornar ficou cerca de um ano preso dentro de casa.

Ele usou os pensamentos de Aristóteles para explicar os fundamentos da fé cristã, argumentando que a lógica e a fé se complementam, que podem trabalhar juntas (precisamos muito disso). Acreditava que a Revelação poderia guiar a razão e ajudar na prevenção de erros; a razão poderia esclarecer e desmistificar a fé (para que não fosse cega, como presenciamos muitas vezes...).

Na Suma Teológica ele explica como a reconciliação do ser humano com Deus se torna possível por meio de Cristo. Ele descreve Deus, Sua existência; examina a natureza e o ser humano, com questões como o propósito nosso na Terra, os tipos de leis, vícios, fala sobre as virtudes, como prudência e justiça, coragem e temperança, dentre outras.

A virtude da coragem (fortaleza) e prudência, pode nos ajudar a refletir sobre o comportamento humano, a forma como agimos e atuamos na sociedade, principalmente nesta Pandemia, diante de tantas aflições, misérias em que muitos padecem, em que falta também, creio eu, um pouco da fortaleza, e do uso da razão.  Sem a coragem, a justiça, as ações no bem ficam só na intenção, não se concretizam. E a coragem sem medida, sem justiça, deixa de ser corajosa e é meramente ousadia ou temeridade (ou mesmo impulsividade ou burrice). A coragem resulta também de uma lógica, do uso da razão. E muitas vezes precisamos de muita coragem para fazer prevalecer o bem... (mas veja que ousadia difere de coragem). Ter coragem significa enfrentar com perseverança, voluntariamente, em função de um bem maior - decisão que implica uma grandeza de alma, que age na magnanimidade.

Coragem é o que tiveram os heróis bíblicos, os profetas, tantos santos e mártires, assim como diversas pessoas anônimas, que arriscam e doam suas vidas em prol de outros, de um bem maior. (Coragem é o que teve minha avó ao perder seu caçula em um desastre... e mesmo com o coração em frangalhos não demonstrou desânimo, ao contrário, levantou-se, seguiu cuidando de todos, mesmo quando foi tomada pelo câncer que finalmente a levou... mas sem reclamações ou revoltas). Coragem é o que vemos em tantos profissionais da saúde, e em diversas áreas, lutando para salvar vidas diante da COVID.

A virtude da coragem, da fortaleza, é maior do que imaginamos – é resultado de uma busca, da prática no bem, de caminhar com determinação, rumo a um destino que transcende o entendimento humano e tem como suporte o auxílio da Graça.

E veja que os que buscam verdadeiramente entender e ver a Deus irão necessariamente amar o que Ele ama, um amor que requer moralidade e aparece nas escolhas cotidianas que fazemos.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Depois de um sonho o dia amanheceu ensolarado

Depois de um sonho o dia amanheceu ensolarado e olhou para o mundo e viu-se envergonhado de si. As raízes apodrecidas e as pétalas ainda avivam o sabor do viver. O tempo acolhe os nossos temores e ameniza as dores cotidianas. Os olhares e as lágrimas e os clamores dos nossos dias. A essência humana e um sentimento que nos fazem seres iguais, mas há aqueles que se sentem superiores. Toda a nossa hipocrisia moldada no senso comum. Nos palcos e nos altares, toda a demagogia e toda a acidez humana. Castelos e mansões e a miséria humana retratada nas faces do mundo. 

Ainda há tempo. Preciso do tempo, mas o tempo sempre se esvai. Não quero que o tempo pare, apenas quero conhecer um pouco melhor. Mas quem sou eu para fazer que o tempo pare? Muitas vezes sem saber sou um tolo. Pareço-me grande, dono de mim mesmo, senhor das minhas atitudes. Pareço tão pequeno que não me enxergo diante da grandeza da minha estupidez. 

A profunda tristeza, a angústia e toda a mesquinhez humana frente a nossa incapacidade de compreender a nossa fragilidade diante de nós mesmos.  A vida banalizada entre tantos absurdos. Parece que há algo mais importante do que a vida. A imbecilidade e a tolice propagandeiam todo o tipo de maldade sem o menor pudor.

Somos sociáveis ao ponto de nos destruirmos uns aos outros em nome da civilidade. A banalidade se faz presente em meio à normalidade e a legalidade que legitima o caos. O que esperar de nós? E o que estamos fazendo? E como pensamos em melhorar como seres humanos? A nossa forma de ver o mundo nos limite e sem ao menos perceber estamos limitados nos nossos próprios limites que nós mesmos nos impusemos. 

Vivemos tempos difíceis, dias angustiantes e cheios de incertezas. Dois assuntos, dois temas importantes que faz parte do nosso dia a dia. Estou me referindo à política e a religião. Dizem que política e religião não se discutem. Vamos pensar a política dentro do que ela é, e a sua função na sociedade como um instrumento na promoção do bem comum.

Quando se pensa em política vem à mente um monte de siglas partidárias e logo nos distanciamos de tudo isso. Sabemos por que isso acontece com muitas pessoas, pois elas imediatamente ligam a política com a corrupção e todos os seus malefícios. Mas a política não se refere apenas a política partidária que é importantíssima, apesar do excesso de legendas partidárias existente hoje. 

Mesmo sabendo que vivemos em um regime democrático, porém acredito que todos concordam com o elevadíssimo número de partidos políticos, sabemos quais são os reais motivos. Se não gostamos da política partidária, podemos muito bem participar da política sem sermos filiados a partidos políticos. A nossa atuação como sociedade exige de cada um de nós responsabilidade e compromisso com o bem comum. 

O ano de 2020 foi muito difícil, o Brasil em crise econômica e a crise política que piorou com a pandemia, isso todos já sabem. O que eu não sei se todos sabem, é que em 2020 em plena crise, o Brasil ganhou 11 bilionários. Como assim, se o país estava em crise, famílias sobrevivendo com o auxílio emergencial e pessoas enriquecendo? É claro que isso não foi notícia nos grandes telejornais. Em meio à crise econômica e aprofundada pela pandemia o Brasil ganhou 11 novos bilionários na lista da revista forbes. Enquanto a fome cresce no Brasil. Orgulho ou vergonha?  

O que fazer com o tempo que temos? Quanto custa o seu tempo e como nós mensuramos o nosso valor? Competir, jogar o jogo, vencer ou vencer é isso que importa. O sistema econômico, o sistema político e o sistema financeiro, compõem o mesmo sistema, o sistema de poder e o sistema do poder. Uma engrenagem que acolhe os fortes e suga dos fracos a pouca força que tem.  

Nas mesas a fartura de pão e migalhas à justiça que mendiga um pouco de sapiência por nada poder fazer. A sociedade escolhe sua casta e o resto, o resto fica aos cuidados da sorte, a fome já passou, ficou para depois. No submundo, uma elite descarada embriagada por milhões, sacia a fome e saboreia um drinque com essência de hipocrisia. 

A mensagem parece ser num tom pessimista, mas não é. O momento exige de nós um comportamento realista, mas sem perder a ternura e nem a essência que nos humaniza. Imagino o mundo melhor, onde todas as pessoas sejam respeitadas. E que a solidariedade e a compaixão sejam nutrientes de esperança que nos faz suportar todos os nossos medos e as nossas incompreensões. Que essa esperança sustente toda a fé, todos os credos, todas as religiões e todas as pessoas que insistem e persiste em acreditar em dias melhores.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma



Quanto custa a falta de água?

A água é um recurso natural muito valioso, não só para economia mundial como também para toda a sociedade civil. Cuidar da água está intimamente ligado à sustentabilidade, já que não há futuro sustentável se tivermos desabastecimento. A presença ou falta dela têm impactos sociais, ambientais e econômicos imensuráveis, por isso a necessidade urgente de medidas de preservação.

Vivemos em um país em que 35 milhões de pessoas não possuem acesso à água potável e outros 100 milhões (quase metade da população) não têm o seu esgoto tratado. Isso tem um impacto gigantesco na qualidade de nossos rios e reservatórios e na oferta de água limpa, o que causa mais custos no tratamento e disponibilização para a população.

Segundo cálculos do Ministério da Economia, até 2033 cerca de R$ 700 bilhões devem ser investidos para mudar esse panorama, graças ao novo marco legal do saneamento. A meta é nos próximos 12 anos universalizar o abastecimento de água e atender 90% dos brasileiros com esgotamento sanitário.

Mas ampliar o acesso não pode ser a única frente de trabalho nessa jornada. Educar pessoas e empresas a transformar a sua relação com a água é outra demanda urgente.

Por meio da redução do desperdício, o fim do descarte incorreto e uso racional, podemos criar uma nova era pautada pela sustentabilidade, que vai nos ajudar a garantir o futuro equilibrado de todas as nossas atividades. Afinal, não podemos nem sequer imaginar o quanto custaria a todos nós não ter mais acesso à água.

Portanto, a afirmação “água é vida” resume bem o tom de conscientização que todos nós devemos ter. 

Leo Cesar Melo - CEO da Allonda, empresa de engenharia com atuação em soluções sustentáveis



Um momento de lucidez

Sob o sol de um dia qualquer uma chuva ao final do dia. Inquietações, sonhos e devaneios enfeitam os jardins em uma longínqua noite de inverno. Amanheceram outros dias depois de uma leve tempestade que fez da vida um oásis de tranquilidade. A simplicidade conta longas histórias e declama sublimes versos. Fez-se a aliança entre o céu e a terra e de repente o arco-íris coloriu o horizonte. Depois da chuva, um vento suave, o sol, o aconchego e a vida em toda a sua plenitude. 

Quero ler o mundo e fugir para algum lugar. Vou caminhando, sem pressa de chegar. Quero um livro para ler o mundo e depois sair por aí contando histórias. Espere um pouco, preciso de um ar, preciso respirar, preciso de muitas coisas, mas ao mesmo tempo, preciso então somente do necessário. Talvez alguns sentimentos, que muitas vezes já estejam em mim, mas eu ainda não consigo sentir. Para ser sincero, desconheço o caminho e não sei para onde estou indo. Quem sabe eu ainda não conheça os meandros e as peripécias das aventuras humanas.

Vou caminhando, vou voando, necessariamente não sei, vou existindo e vou vivendo. Quem sabe pretendo ter tudo, e ao mesmo tempo não pretendo ter nada. Talvez eu seja um nada ou talvez seja um pensamento pensando em pensar. Quem sabe seja um grão de areia nos desertos que a vida por algum motivo me impôs. Nada sobre tudo e acima de tudo o céu sobre nossas cabeças. Quero ler a vida nas páginas de um livro.

Uma noite e um sonho para simplesmente dormir e acordar no próximo parágrafo. Deixar o cansaço e as preocupações dormir o meu sono, mesmo que as noites sejam escuras. Há um imenso vazio cheio de silêncio e há um silêncio entre o vazio tentando preencher as lacunas da existência. 

O invisível é parte do visível e o todo é parte do nada. O que há a mais em tudo que possa existir, de tudo que precisa existir. É noite outra vez e há um livro para clarear o escuro e preencher o imenso vazio das palavras desconfortadas. 

Você pode ler esse parágrafo? Veja se consegue voar, se não conseguir tente ao menos caminhar. Alguém pode me perguntar qual é o significado desse texto, dessas palavras, que me parece um pouco sem sentido. Não sei quantas curvas há nesse caminho. Às vezes me pergunto se é mesmo preciso caminhar tão rápido. Será que basta apenas caminhar? São perguntas e eu não me incomodo com as respostas. Perguntar me faz bem. As inquietações nascem e florescem nas mesmas estações.

Pode ser que você tenha razão, mas nada nisso me importa. Toda a palavra faz sentido. E todo sentido cabe em qualquer coisa, até mesmo nas coisas sem sentidos. Todas as palavras têm o seu próprio sentido. E a vida tem sentido. Qual é o sentido da vida em meio a tantas dores? Confesso que não sei a resposta. 

Quero somente um texto para fugir ou para fingir, mesmo que seja por um momento. Acredito que um momento seja suficiente para chorar um pouquinho e sentir o sabor das próprias lágrimas. Eu sei que está doendo, dá para sentir as dores e se humanizar com tantos sofrimentos. 

O que são belas palavras entre dores e tristezas? Não busco respostas e nem proponho a responder. Eu não sei o que será do mundo quando o mundo acordar. Quem é o responsável pela sua liberdade? Você diz o que pensa e acredita que isso é ser livre. E se eu disser que sim, isso vai convencer você? 

Abra um livro e se aventure em suas páginas, voe até onde a sua imaginação alcançar. Não se preocupe com a altura, mas não olhe para baixo. Eu não quero imaginar o mundo, me deixe ficar com o meu mundo imaginado. Por favor, não peça para eu contar sobre o meu mundo, eu ainda não conheço. Caminhar entre as margens de um riacho de água cristalina. Sonhar, voar, caminhar e parar para contemplar o tempo em uma dessas madrugadas da vida. 

A vida em seus vários momentos. O ser humano envolto em si mesmo embriagado de si mesmo, corroído pela estupidez e apequenando em sua própria arrogância. A cabeça girando com os pés na terra e o coração partido nos quatro cantos do mundo. O ser lambuzado em essência conduzido por vícios e virtudes e tudo que há entre o bem e o mau. 

Quero ler um pouco mais e depois voltar para o mesmo lugar e ver se enxergo alguma coisa diferente. Há tantas coisas para serem ditas e muitas dores para serem sentidas. Às vezes penso em algo, mas em meio a toda a essa turbulência fica tão vago que não vale a pena dizer. Eu vou por outro caminho, tropeçar em novos obstáculos, afagar outras faces e depois descansar sob a sombra da existência.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Os perigos do lado bom da alma...

“Quando alguém se julga muito capaz, seu ego toma
o lugar de Deus e envereda pelo caminho da exaltação”.

Imagino que o leitor esteja tão intrigado com o título deste artigo quanto eu estive, ao deparar-me com o livro de Dong Yu Lan. Não escondo de ninguém que sou fascinada por livros, e este caiu em minhas mãos por acaso, na verdade estava como descarte (ai que tristeza). Assim que vi o título fiquei imediatamente interessada em saber do que se tratava, diante de algo tão inusitado (eita, que raio de assunto era esse, uai).

E qual não foi a minha surpresa ao constatar reflexões importantes (apesar de algumas ressalvas) sobre nossa alma, identificada também como ego. De forma simples: temos nosso corpo (mente, cérebro, fazem parte); temos a alma, a qual todo ser vivente recebe ao nascer (ego, personalidade) e temos o espírito, o qual está acima dos outros dois, e pelo qual podemos nos comunicar com Deus. Pelo espírito podemos dar comandos à nossa alma, mente, direcionando nosso agir. E é também pelo espírito que podemos receber o Espírito Santo (isto que faz toda a diferença no comportamento das pessoas).

O perigo do lado bom da alma representa colocarmos nosso ego acima do espírito; quando estamos tão cheios de nós mesmos (inflados, cheios de ar), quando enxergamos somente nossos direitos, desejos e não deixamos espaço para o crescimento do espírito - não deixamos espaço para Deus! E o autor descreve o que ocorreu com Lúcifer, um querubim protetor, com poder e autoridade sobre muitos anjos, mas que se corrompeu pelo orgulho. Ele se achou com poderes do próprio Deus, na autossuficiência, buscando a própria exaltação. (Não seria esta atitude comum hoje em dia?).

Repare como muitos se modificam ao trilhar o caminho do sucesso; creio que dificilmente conseguimos ver essas mudanças em nós mesmos. Busco não me deixar moldar pelas circunstâncias, mas confesso que é difícil; nossa visão fica comprometida frente a problemas, sofrimentos. Vemos parcialmente. 

E parece haver um movimento (Nova era) que leva muitos a acreditar que por si só conseguirão fazer o bem, que suas competências e atitudes os levarão ao grau de perfeição, de bondade, sem necessitar da ajuda de Deus. 

O autor reflete sobre a história de Jó, que revela um homem diferente dos demais, íntegro, bom, justo, e fiel a Deus. E mesmo perdendo tudo o que tinha, continuou a louvar o Senhor. Mas apesar de toda a sua bondade havia nele a arrogância, que estava todavia mascarada. Ele só descobriu quando foi provocado por seus três amigos, que o acusavam de merecer tais sofrimentos. Na intenção de se justificar, Jó começou a se colocar acima de Deus, amaldiçoando até mesmo o dia em que nasceu. Mas então o Senhor lhe respondeu: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Onde estavas tu quando eu lançava os fundamentos da terra? Jó 39, 1,4. (Acho este texto belíssimo. Quem pensamos que somos...).

Há um orgulho escondido dentro de todos nós, e que por vezes nem sequer percebemos. E penso que esta soberba seja impedimento para ouvirmos o outro, para aceitarmos as diferenças, opiniões contrárias, questões religiosas ou políticas; o orgulho próprio cria divisões, contendas, separações. Nas pequenas ocasiões do dia a dia é que revelamos o estado de nosso ego (arrogância).

Veja que Jó, ao perceber em si a soberba, imediatamente se arrependeu, reconheceu seu erro e em sinal de contrição passou a louvar a Deus: mostrou gratidão. E muitas vezes as pessoas justificam seus erros, em vez de pedir perdão. Mas a verdade é que ao reconhecermos nossos pecados, ao pedirmos perdão, acessamos a paz – o Espírito Santo.

Em uma última reflexão, creio que somos tocados (na alma e espírito) quando encontramos pessoas que se desvencilharam do ego, em que constatamos, tanto nas palavras, como nas ações, a presença de Deus.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Aos utópicos e sonhadores

Saiu em uma bela manhã à procura de si mesmo seguindo o sol que não apareceu para desejar bom dia. Em frente, sempre em frente até chegar ao ponto e encontrar consigo mesmo. É complicado pensar pela perspectiva que um dia encontra-se um mundo de paz. Os nossos dias são desalentados e a paz parece cada vez mais distante. Acostumamo-nos com todas as mazelas cotidianas e nem damos contas que somos partes de tudo que nos envolve. Seremos melhores depois que tudo isso passar. Em nome dos utópicos e sonhadores. 
Inicia-se o quarto mês de dois mil e vinte um, é outono no hemisfério sul. Ainda um pouco sonolento depois de um longo sonho do mundo em uma intensa noite escura. Os dias são cansativos que parece uma sucessão de eventos repetidos. Homens e mulheres se acotovelam num frenesi sem fim. Quem sabe tudo isso que estamos vivendo nos fortaleça como seres humanos e nos conscientize que o mundo é a casa de todos e todos precisam ser acolhidos. Em nome dos utópicos e sonhadores. 

E entre a multidão pessoas caminham ao passo da sua própria solidão, mesmo estando sempre acompanhados. Estão trancadas em seu próprio mundo, não veem e nem percebem o que acontece do lado de fora. A frieza dos corações e as ruas fervorosas e acaloradas contrastam com as luzes artificiais. Semearam erva daninha em vez de bálsamos e flores. Nas palavras que se calam ainda podem ouvir os seus clamores. Ainda é possível ouvir a suave melodia da vida acalmando os corações aflitos. Em nome dos utópicos e sonhadores. 

Uma mensagem aos filhos e filhas da Terra. Aos que semeiam sentimentos e cultivam a esperança nos desertos da vida. E suas lágrimas são as lágrimas do mundo que aliviam as dores das feridas abertas e consolam as dores do mundo, pois nas dores do mundo está o nosso mundo de dor. Em nome dos utópicos e sonhadores.
 
A dor que transpassa o coração e perfaz a alma. Sou eu, sou você, sou ninguém, sou alguém. Meu grito poderá ser o seu grito. Minha dor será a sua dor. Minhas lágrimas são de todos os olhares. Minha dor dói em todos os corações. O cio da terra e às margens dos rios nas serenas manhãs.  São as mãos divinas e o sopro do Criador. A voz do mundo e o clamor pela vida. Em nome dos utópicos e sonhadores.

A verdade e a mentira; a vitória e a derrota; a virtude e o vício e a liberdade que abraça. Entre a cruz e a espada, o herói se exila em si mesmo num combate imaginário. Um instante se faz em um momento que se desfaz na incessante busca de algo no oásis da existência. Amanheceu outra vez e outra vez o desejo de ter o mundo, de ser o mundo ou distanciar do mundo que aflora o existir. Novamente o refúgio e o escuro da lua e as infindas noites. E o sonho escorre por entre os dedos e os anjos levam flores aos desérticos jardins. Em nome dos utópicos e sonhadores.

Mensagem para o mundo de um sonho destemido que acredita no ser humano. Acredita que a esperança está em cada um de nós, embora muitas vezes um pouco adormecida. Mensagem para um mundo dividido entre a riqueza e a pobreza, fartura e miséria. Em um mundo em que o poder de uns está acima de tudo e assim produz as suas próprias mazelas. E pelos caminhos da vida, flores e poesias, versos e canções e o aconchego dos utópicos e sonhadores. 

O transcendente perpassa o ser num momento extático; forma e essência, numa perfeita simbiose. Humanizar o humano que há em nós, é ser um pouco de nós mesmo, onde cada um constrói e se constrói, na construção do todo. Fazer o bem e não esperar recompensa, fazer e praticar aquilo em que se acredita não por recompensas do alto, sim por acreditar. Acreditar que todas as pessoas precisam de cuidado.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Tu c'hai donato la vita. Speranza dell'umanitá

Recordo quando menina e minha mãe, cristã fervorosa, aguardava piedosamente a chegada da Páscoa, cheia de oração, penitência e jejum. Veja que na infância aprendemos valores que ultrapassam o tempo... Lembro que a semana santa era realmente vivenciada com muita sacralidade, fé, em recolhimento mesmo. Mas confesso (com dor no coração) que durante um bom tempo isto ficou distante de mim... não sei se pela correria dos dias, no frenesi das ilusões terrenas... E me parece que, a busca pelo conhecimento, diplomas, títulos, poderes, parece despertar, inerentemente, uma cegueira espiritual, se não atentarmos para valores essenciais como a sabedoria, com a coragem (a mais importante das virtudes) de não se deixar levar pela autossuficiência, pelo maior de todos os engodos já revelados: a arrogância! (E que pode nos afastar de Deus).

E pensando um pouco sobre o momento de Pandemia em que vivemos, com a ameaça que paira sobre a humanidade, o sofrimento de muitos - não seria isto um correlato da experiência vivida por aquele que foi diagnosticado com uma doença grave, que recebeu uma sentença de morte, ou mesmo para quem está diante da morte de alguém a quem muito ama... Veja que, precisamente nestes momentos, revelamos quem somos de fato, e como que obrigados a ver além das aparências, das exigências sociais e comportamentos padronizados... a enxergar além da vida - e da morte!

Repare como diante da morte, seja a nossa própria ou de quem muito amamos, todas as coisas parecem se tornar pequenas... sejam lutas, conquistas, desejos, alegrias, ou mesmo tristezas, desentendimentos - tudo toma outra dimensão. Tenho para mim que nesse exato momento a única coisa que importa é expressar, verdadeiramente, o amor. Mas veja você que as coisas continuam as mesmas, as pessoas são as mesmas, mas seu olhar é que se torna diferente diante de tudo, de todos - pela experiência que você está vivendo. Então, questiono: não deveríamos também, diante dos acontecimentos, sofrimentos, problemas, olhar a vida de outra forma, oferecer aos outros a mesma generosidade, acolhimento, perdão, que ofereceríamos se soubéssemos estar vivendo nosso último dia, ou o último da pessoa amada? Se fosse realmente nosso último e derradeiro encontro teríamos ainda os mesmos sentimentos, pensamentos, atitudes?

Talvez eu não seja a pessoa mais apropriada a escrever sobre a Páscoa, porque sinto que quase sempre estou à contramão de tudo. E já confessei em textos anteriores que sofro de uma sensibilidade aguçada - sensibilidade esta que por vezes me faz ir além das aparências, do que não foi dito... Mas ouso escrever, principalmente diante dos sofrimentos de muitos, daqueles que perderam seus entes queridos, que apesar de tudo que enfrentamos, recebemos também a dádiva de recomeçar a caminhada. Porque: “Tu c’hai donato la vita, Speranza dell’umanitá” - Você nos deu a vida, Esperança da humanidade!

E como perder a fé diante desta certeza? Creio que o sofrimento imposto à Virgem Maria, diante do que passou ao ver seu único filho enfrentar todo o abandono, sofrimento e a pior de todas as mortes – a crucificação... ao compreender que fora morto pela maldade, ganância, inveja - pela dureza de coração, e que não poderia nem ao menos consolá-lo no pior momento de sua vida... certamente tem muito a nos revelar. Recorro a um texto que remete à profunda reflexão, que recebi de minha querida irmã Teresa, durante o tempo quaresmal:

Imaginemos que junto com a divina Mãe presenciamos a crucificação de Jesus Cristo. Eis que, plantada já a cruz, o Filho de Deus está neste patíbulo infame, suspenso em suas próprias feridas, e sofre tantas mortes, quantos momentos durou aquela longa agonia. ...os soldados arrancaram-lhe as vestes, pegadas ao corpo todo chagado e dilacerado, e com as vestes arrancaram-Lhe também pedaços da carne... Afirma São João Bernardo que na crucificação de Jesus os algozes se serviram de pregos sem ponta, para que causasse dor mais violenta. O som das marteladas ressoa pelo monte e chega aos ouvidos de Maria, que se achava perto acompanhando o filho. – Ó mãos sagradas, que curastes tantos enfermos... Ó pés sacrossantos, que vos cansastes tantas vezes na busca das ovelhas perdidas, que somos nós, porque vos pregam com tanta dor neste patíbulo?

Creio que, assim como Maria ficou em pé ao lado de Cristo, devemos continuar a caminhada, independente do que estejamos passando, porque: Tu c´hai Donato Colui che farà di questa terra uma casa! (Você nos deu Aquele que fará desta terra um lar). E neste vislumbre, caminhar na certeza da Páscoa, porque veio ao mundo:
La Speranza dell’umanitá!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Para os nossos dias

O que esperar para os dias que estão por vir? E para o dia de hoje o que resta de nós? O que pode e o que poderá acontecer? Aconteça o que acontecer que prevaleça a vida. O mundo e todos os seus percalços, todo poder e toda a forma de poder. Quebra-se a vitrine do tempo, entre dúvida e certeza, junta o que sobrou e diz que há outros caminhos, segue em frente.

O que nos deixa desconfortável? O que pode nos causar tanta ira? Nosso individualismo e a nossa mesquinhez e a falácia da meritocracia em um país desigual. São tantos absurdos acontecendo que até fica difícil enumerá-lo. Essa é a nossa realidade, não tem como ficar inerte a tudo que nos entristece e nos deixa um pouco mais pobre. Um monte de coisa passa pela cabeça, muitas perguntas e poucas respostas. Aonde chegamos? Será que tudo isso está perto do fim? E como será quando tudo isso acabar?

Mesmo no duro chão da realidade plantei o meu sonho e reguei a minha esperança. Não me dei conta de tanto sofrimento e as dores sentidas era tão doída que parecia não haver consolo. Mas o sonho era mais forte e a única saída, talvez nem fosse à única, mas em meio tantos desalentos, parecia à única tábua de salvação.

Então o sonho me pegou em seus abraços e acordei entre estranhas palavras em uma infinda poesia. Em um lugar qualquer, em qualquer momento busquei no horizonte as minhas inquietações. Aquietando-me, vislumbrei o infinito e descansei sob o silêncio. Embriaguei entre os instantes ao sabor dos estranhos momentos. 

Em cada palavra, em cada verso, tudo era um só encanto. E na suavidade de tudo que parecia me encantar como se todos fossem um sorriso de criança, a plena pureza da inocência. Então me dê um sorriso, que eu faço verso e construo o meu barco para velejar os mares da vida. Meu ser busca a essência e imagina outro mundo em cada sentimento. São as flores e o sol em meio aos temporais. O que há no mundo que dói em você?

Onde estão os versos de amor que foram guardados? A poesia que falava do amor esqueceu-se de viver, semeou o jardim e não cuidou, morreu entre a fome e a loucura. Se for assim, morrer por morrer é uma ingratidão. Não vale a pena viver e morrer sem saber, não vale a pena à verdade se não vive a verdade. 

É impressão minha ou a verdade é um desafio que ao que parece nos desafia o tempo todo? Mas como estamos sempre ocupados não percebemos e muito menos nos importamos com as mentiras que pairam sobre as nossas cabeças. Contar uma mentira e fazer com que as pessoas acreditem, passou a ser uma atividade bem competitiva nos dias hoje.

Quiméricos sentimentos entre adeus e saudade. A vida suave resiste os mais devastos momentos. Um dia e um sentimento de adeus. E são tantos sentimentos de adeus que compõe os nossos dias. Um país assolado, machucado e apequenado. As chamas de um tempo que mesmo que se apague continuará queimando. Será que podemos conversar? 

O que dizer para vida em um momento tão fora do comum, em que toda a fragilidade humana nunca esteve tão frágil? Não fale nada, apenas silencie e dialogue com a vida. Fale desse silêncio, dos versos de amor, das canções ao luar e do mundo a sua volta. É esse sentimento que faz do Sol um brilho eterno. Eterno, intenso e a noite chega esconde o seu brilho. A vida está em cada instante, que se faz e se refaz em toda a sua fragilidade. 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Trajetória e Desafios - o papel da gestão
jurídica como fonte de evolução

Em 2021, o escritório Aparecido Inácio e Pereira Advogados Associados está completando 30 anos de história, lutas e muita dedicação. Esta data vem consolidar uma trajetória que firmou seu nome como uma das principais referências junto aos trabalhadores do serviço público do estado de São Paulo. No entanto, marca, também, um novo período de renovação institucional, reforçando o nosso compromisso de nos solidificar ainda mais como um escritório referência, em constante aperfeiçoamento, capaz de propor soluções jurídicas eficazes para satisfação dos nossos clientes.

A estrada que nos permitirá continuar nesta trajetória de sucesso começou a ser percorrida ao longo dos últimos anos. No período, novos passos foram dados no sentido de estabelecer uma sociedade participativa, capaz de se manter em constante renovação e nos direcionando cada vez mais a um sólido e estruturado crescimento.

Embora ingressando em nossas bodas de pérola, temos plena consciência sobre a importância de nos mantermos diariamente atualizados. Seja no aspecto legal do serviço jurídico oferecido por nossa sociedade, ou pela constante e indispensável aquisição de novas ferramentas tecnológicas que contribuam com a melhoria contínua da qualidade do trabalho prestado.

No entanto, mesmo com a certeza que a tecnologia é uma peça importante para o desenvolvimento dos mais altos padrões de excelência na gestão jurídica, confiamos que a harmonia e a sintonia de toda nossa equipe de colaboradores é, sim, a peça fundamental para a perpetuação do sucesso. Valorizar a equipe é compreender que seu bem-estar será o constante alimento de sua motivação, refletindo diretamente no alto desempenho das atividades.

Temos a convicção que o desenvolvimento de uma visão sistêmica da sociedade torna mais eficientes e eficazes o trabalho de toda equipe. É possível de se destacar como a principal ferramenta de aprendizado organizacional, capaz de melhorar e criar valor a prestação de serviço realizada.

Visando garantir a segurança dos nossos procedimentos internos, possuímos uma área de controladoria jurídica responsável pelo suporte à equipe técnica de advogados. Tal respaldo estabelece critérios de padronização e parametrização de toda produção jurídica, tendo como principais objetivos o controle da qualidade dos serviços prestados, o alinhamento de todos os fluxos e procedimentos do escritório, e o mapeamento de eventuais situações de risco que se contraponham ao planejamento estratégico do escritório.

Nesse sentido, para a equipe de gestão, o desafio acaba sendo ainda mais acentuado, devido à necessidade de constante busca de novos conhecimentos voltados a educação corporativa. É necessário transcender de uma formação técnica jurídica para questões multidisciplinares como gestão de pessoas, finanças, marketing, planejamento estratégico, governança corporativa, entre outras inúmeras necessidades capazes de manter uma organização trintenária plenamente atuante num cenário cada vez mais desafiador.

Quando falamos de dificuldades e desafios, precisamos pensar em alguns números ligados à atual advocacia brasileira. Hoje, no país, temos aproximadamente 1.200 mil faculdades de Direito injetando anualmente no mercado centenas de novos advogados – atualmente contamos com mais de 1 milhão de advogados no Brasil. Esses números por si só já demonstram a enorme concorrência (quase sempre desqualificada), que explica o motivo de mais de 30% dos escritórios fecharem no primeiro ano de existência. A situação é algo que, logicamente, enaltece ainda mais os escritórios que conseguem se manter em pleno crescimento após décadas de existência.

Assim, diante de todos os fatos que compõem o cenário atual do nosso país, e principalmente as dificuldades enfrentadas junto ao poder judiciário, temos a certeza que a equipe do escritório Aparecido Inácio e Pereira Advogados Associados, está plenamente preparada para enfrentar todos os desafios. Seja na constante qualidade dos serviços prestados, ou principalmente, na melhora constante dos nossos resultados. Que venham muitas outras décadas pela frente!

Dr. Carlos Feliciano é Sócio-Controller do escritório Aparecido Inácio e Pereira
Advogados Associados. É bacharel em Direito pela Universidade Paulista


Uma réstia de sol

Nas palavras que se calam ainda pode ouvir os seus clamores. Ainda pode contemplar a beleza e na sublimidade dos seres. Em nome do amor, uma mensagem aos filhos da Terra. Aos que semeiam sentimentos e cultivam flores nos jardins da vida. Nas tenebrosas sensações, o silêncio sepulcral. Florestas devastadas em flores fulgentes. Das noites atrozes, estrelas sem brilho e resto de luar sobre as flâmulas da ilusão.

Cada verso deslumbra um pouco de si e seduz de forma absurda, o absurdo que se desfaz em um vazio cheio de sentido. O infinito quer um pouquinho de algo desconhecido para se aventurar no encanto de cada instante. E sob suas carícias descansar no silêncio da imensidão que preenche todo o ser. Assim se faz o todo, fala da vida e poetiza os insensíveis sentimentos.

A dádiva da vida nos presenteia a cada amanhecer e perpassa o todo que faz imprescindível no viver e no conviver, pois tudo nos humaniza. O amor demasiadamente humano nos faz mais humanos. 

O gosto suave de um cálice de sabedoria numa tarde fria e chuvosa e as palavras entre as lacunas silenciosas. Palavras sem sentidos e a maledicência de ser em frases dissonantes. Ainda se ouve o som do silêncio nos corações descompassados. Quebram-se os cristais e se esvai com o tempo tudo que sobrou. Sobrou um grande vazio nos corações atribulados.  E ainda há os sinais nos olhares perdidos entre as feridas do tempo.  

As mãos atadas insistem em tocar as faces escondidas entre as lágrimas e os sorrisos do amanhã. Escondido entre o viver e o sonhar, o ser e o ter.  Um tempo depois, uma lágrima e um olhar enquanto as palavras semeando sentimentos para colher a paz. 

Uma pausa se faz necessária e as palavras já não precisam ser ditas. Somos todos e apenas um, somos todos filhos da terra. Os jardins se petrificam e germina as sementes. Assim como as águas inundam os desertos irrigando os corações. 

Os olhos vislumbram uma miragem de um mundo construído em palavras. E o acaso se fez em ilusões. E imaginou o sol clareando a noite no escuro de um olhar. Um tempo, um momento e um instante e tudo mais que passa ser algo inexistente. De momento em momento faz-se o inexplicável, entre um momento cabe um instante e o imponderável fala ao coração: Basta-me, tudo é só sentimento.

Entre tudo que existe, há um tempo para pensar o mundo. Constrói armas e bombas e destroem vidas. Terra de ninguém, homo sapiens e a aldeia da solidão. Poluem o mundo, a fumaça respira o meu ar. Um estranho adentra as portas abertas, invade a poesia e insulta o meu silêncio. Entre os instantes a estranheza dos momentos na fluidez das palavras, o mundo em poesia foge do caos. 

Mas, o que dizer para o mundo quando tudo está errado? E a verdade parece não fazer mais diferença. O que dizer para o mundo quando tantos ainda mendigam um pedaço de pão? E há os que dizem que tudo vai bem, o mundo é assim mesmo. E a verdade parece não fazer sentido diante de tantos absurdos.
 
O que dizer para o mundo sobre paz, se a guerra ainda mata tantos inocentes? O que dizer para o mundo quando a cor da pele diz o tamanho da intolerância, e a estupidez nos reveste como dono da verdade? E a verdade se perde entre o medo e a mentira. O que dizer para mundo quando o deserto invade os jardins, quando a dor da alma dói nas feridas do mundo? E a voz se cala por um instante e fala ao silêncio: ainda há sonhos.

O que dizer para o mundo? Diga que a essência não se esvai assim com o vento aos olhos do mundo, mesmo assim o coração quer bem próximo para cuidar e amar incondicionalmente.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Onde está sua esperança...

Recordo a primeira vez em que li a Carta de Pedro, ainda menina, e apesar da pouca idade senti a força da Palavra: “Estai sempre preparados para responder sobre a razão de vossa esperança”. E tenho feito esta pergunta, por vezes retoricamente... em diversos momentos de minha vida, principalmente quando percebo a ausência de fé, seja nas convivências, mídias sociais, ou diante de um grande sofrimento. E diante do momento de pandemia que vivemos, esse quadro se agravou, pois tenho a impressão de que o medo (companheiro da falta de fé) vem se apropriando de muitas pessoas, gerando: preocupação excessiva, ansiedade, perturbação, animosidade, contendas... E este retrato de nossa sociedade revela a ausência de Deus.

Talvez um pouco de medo seja realmente necessário, ajuda a enfrentarmos os acontecimentos, mas em dose maior acaba por paralisar, cria o pânico, instala o terror, e dominados pelo medo dificilmente conseguiremos ter a sanidade mental que precisamos, não somente pela saúde em si, como para poder apreciar tantas coisas boas que a vida nos oferece. Costumo recordar esta mensagem de Pedro, pois creio que precisamos estar preparados para a resposta que se esconde em nosso interior: ela se reflete em como pensamos, sentimos, agimos. A razão de nossa esperança moldará a forma como vemos os acontecimentos, como nos comportamos, o tanto de paz que há em nosso coração, se a temos estendido aos outros, e se temos conseguido sorrir, apesar de tudo que passamos... 

Tenho meditado também as Cartas do apóstolo João, como ele agiu diante das tormentas, sempre na obediência e constância em seu amor a Cristo, principalmente no momento derradeiro, em que presenciou o inenarrável sofrimento do Senhor com a morte na cruz - considerada o pior sofrimento. A história de João é mais que inspiradora; foi o único dos discípulos que permaneceu, que ficou aos pés de Jesus, junto à Maria, e outras mulheres, até o fim, quando todos os outros foram embora. A Bíblia narra que ele era o discípulo que Jesus amava. Agora entendo o porquê desse amor: Jesus sabia que João não O abandonaria. (Ele é onisciente)

 E o ato de permanecermos na esperança não significa que não sofreremos mais, que não haverá mais tristezas, dores. Não é isso. Significa que, mesmo com tudo que vivemos, seja a ameaça da Covid, o luto por quem muito amamos, o desemprego, a fome, enfim, mesmo diante do sofrimento, ainda assim seremos capazes de continuar, pois estaremos amparados por Nosso Senhor. 

Creio que quando Pedro fala sobre esperança é para nos mostrar que nada, absolutamente nada no mundo pode ser maior do que a certeza do amor do Pai, do lar celestial que nos aguarda. Pedro traz a Palavra viva, é um relato de quem esteve com Jesus. A Sagrada Escritura registra o momento em que o Cordeiro humilde se esvaziou de toda Sua Glória, suportou a pior dor do mundo, enfrentou o abandono, e carregou em si todos os nossos pecados, culpas, sofrimentos. No Horto das Oliveiras Ele suou e chorou lágrimas de sangue… E tudo isto por Seu amor, pelo plano de salvação, de redenção.

É a esta esperança que tenho recorrido, em todos os momentos difíceis, e no pior de todos eles: quando vi meu filho Marcos morrer. Creio que quando estamos diante da morte de quem muito amamos, precisamente neste momento, a vida nos cobra, inexoravelmente, um posicionamento. 

Tenho consciência de meus defeitos, erros, vulnerabilidades, e apesar do que possa estar vivendo, em todos os momentos, digo sempre a mim mesma: tudo vai ficar bem. Porque sei quem eu sou, para onde vou e com quem caminho!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Apenas um texto

Calo-me e o silêncio me quer por inteiro. Desço pelas escadas imaginarias com íngremes degraus simplesmente para ver o sol do dia seguinte. Encorajado, desafio-me a embrenhar por abruptos momentos. Toda ansiedade saciada por um breve momento e todo o sentimento para alimentar o sossego de uma tarde vazia. Para sempre aquele tempo de paz que infiltrou entre nós e fez do mundo um lugar de vida plena.

Talvez a minha insanidade e a lucidez me induzam e me seduzam à causalidade momentânea do caos internalizados do inconsciente coletivo. O paradigma humano e todos os seus efeitos, malefícios e benefícios que interagem com o ente imaginário num conflito interminável.  

Os nossos ideais e as fronteiras do pensar sob os novos paradigmas. O liberalismo e o estado ausente alimentando o sistema, fomentando a desigualdade. Quem manda é quem tem o poder, é inútil lutar contra o sistema. O rebanho domesticado e a ordem estabelecida. Não ouse pensar, não questione, apenas siga as setas. O mundo é uma fina casca em um leve contato que tende a eclodir. 

Contam-se novas histórias ao raiar dos dias que estão por vir. Desvendam segredos de um tempo heróico perdidos entre quiméricas desventuras de um mundo em rota de colisão. 

O ar pesado e a chuva fria fazem germinar a dor, o odor e o pavor. Os genocidas estão de plantão e a calamidade dos tempos hostis. O futuro do ontem sob as lágrimas em faces esfaceladas e a palidez no olhar. Palmas aos vencedores e aos derrotados restam às margens do progresso. 

Buscam-se novos sentidos, rejuvenesce o tempo em uma bela manhã de inverno. E uma noite só para contar estrelas.  Deixe as belas manhãs seduzir, mesmo que seja em tempos rudes. Se o peso e as dificuldades do caminho lhe causar tanto cansaço, não siga as regras que foram impostas, não tema em sonhar o seu sonho. A verdade e a pós-verdade, a mentira da verdade e a ignorância a todo custo. 

E a poesia mesmo machucada não silencia diante de tantos absurdos. Corta o coração e sangra a terra no entorpecente amanhecer dos nossos dias. O cheiro da empáfia num misto de hipocrisia e arrogância. Não é o acaso a causa de tantos sofrimentos. Quem cuida nos animais na selva? A água jorra das límpidas fontes para que ninguém tenha sede e da terra o alimento para a fome saciar.

O sonho do mundo à beira do precipício. O que sonha o mundo? A vida quer o pão para saciar suas dores e a paz mergulha num gole de água. Atenua esses momentos e suaviza as dores do mundo. Pergunte, apenas pergunte, talvez encontre as respostas. Todo o dia é dia de viver. E todo o dia pode ser feliz, mesmo entre os absurdos. Uma criança brinca na inocência de ser criança e o seu mundo é uma brincadeira, uma brincadeira de ser criança. 

Viver a brincadeira só por viver. Sonhar uma vida de felicidade só por sonhar. O percurso é longo e as margens são estreitas. Deleito um novo amanhecer e dedico à vida a eternidade dos seus momentos. Viver semeando sonhos, mesmo em tempos difíceis. Mesmo que a brincadeira de sonhar seja uma criança. Mesmo assim as sementes semeadas germinam e vive toda a intensidade de sua força. Todos os sabores dos seus frutos, toda a essência do seu perfume e toda a beleza de suas flores. 

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Desenvolvimento e conservação ambiental

Diferentemente do que se imagina, considerar a conservação ambiental como uma perda para a economia brasileira é um pensamento obsoleto. A fim de refletir sobre essa imagem errônea, há algumas causas e consequências relacionando meio ambiente e economia que podem ser revertidas com boas iniciativas. No entanto, é preciso ter consciência da necessidade de promover essa mudança de paradigma.  

Um dos mais graves problemas é a incapacidade de administrar resíduos que, se feito de maneira incorreta, causam poluição do solo e das águas. O gerenciamento de resíduos com base na Economia Circular possibilita o reaproveitamento de materiais que seriam descartados, gerando economia ou até mesmo um novo ativo a ser comercializado.

Outro exemplo, mais ligado a uma realidade brasileira: a redução de áreas preservadas do Cerrado afeta na regularidade das chuvas, o que traz como consequência uma crise hídrica. Dessa forma, a produção de energia hidrelétrica, uma das mais utilizadas no Brasil, cai e os preços aumentam. Se a energia está mais cara, acontece um efeito dominó em todos os preços, impactando na inflação e diminuindo a movimentação da economia.

E não é apenas no mercado interno que negligenciar o meio ambiente causa problemas. A despreocupação ambiental também afeta a negociação entre o Brasil e outros países, pois muitos condicionam a compra de insumos brasileiros ao cumprimento de compromissos ambientais. O enfraquecimento dessas políticas pode acarretar redução das exportações, uma consequência amarga para o PIB.

Estes são apenas alguns exemplos da importância de conciliar os interesses econômicos aos ambientais, de maneira a preservar e enfrentar a crise ambiental e a econômica. Contudo, muitos outros setores também são afetados e causam avassalador impacto na economia.

Leo Cesar Melo – CEO da Allonda, empresa de engenharia com atuação em soluções sustentáveis


Sob a sombra dos girassóis

Quero escrever os meus momentos. Quero escrever da forma mais simples possível. Não quero ser pretensioso, apenas quero escrever. Vou escrever mesmo que as palavras não façam sentido. Quero sentir meus instantes e esquecer meus momentos. Vou guardar todas as lembranças dos momentos que escrevi. Vou escrever cartas falando desses momentos. 

A brisa e o fascínio nas margens dos olhares. O respingo entre o telhado molha o meu sono e acorda a realidade nas trêmulas manhãs. Entre as frestas do absurdo, um pouquinho de saudade para dizer ao momento palavra insignificante.

Quero escrever a poesia dos instantes e guardar no fundo de alguma gaveta, esperando que o tempo esqueça. Além dos momentos, dos instantes, quero algo mais: Quero as minhas lágrimas refazendo os meus olhares. E sob os vestígios de silêncio, o sol entre palavras, sentimentos e toda a sublimidade do ser. 

Sobre lírios e delírios acordou um dia a tristeza na plena certeza que todos os dias são iguais. Mas, o que é a certeza debaixo do sol que assola vidas que perambulam pelas estradas do mundo em intermináveis conflitos? Pés descalços fincam esse chão numa incessante busca. Talvez esse mundo seja uma eterna busca, e por infinitas veredas ficaram sonhos e vestígios em utópicos momentos. Atrai para si mesmo, o mesmo desejo e tudo que há entre o céu e a terra. 

Juntei estrelas numa noite qualquer. Apanhei a lua nas margens da existência. Fugi da minha infância e me perdi. Perdi as estrelas entre os insólitos pensamentos. Caminhei entre nuvens na órbita dos meus sentimentos. Não sei não me lembro, um sonho me quis e o dia amanheceu. 

Em seguida, voltei para o mesmo jardim. Perguntei ao mundo: por que a dor? E o mudo disse ao vento, à resposta que o tempo apagou. Tanto faz para o sol a chuva de todos os dias que molha minha saudade e encharca a minha solidão. A tarde vem chegando trazendo à noite e o sonho volta logo ao amanhecer. 
Juntei meus sonhos e plantei no quintal de minha inocência. Acordei no meio da noite e colhi flores antes da primavera. Sem saber que o dia já amanhecia, sai em busca das estrelas sob o clarear da consciência. Andei veredas afora, feri a minha vontade e guardei as minhas armas. Mas o dia seguinte trouxe flores para aquecer o inverno da alma e alimentar as minhas quimeras. 

O momento é agora! Há um tempo em cada silêncio. E um pouco de alguma coisa perfazendo os instantes ao sabor dos saberes e um gosto de vida. Agora vejo o tempo pelas frestas do infinito e contemplo um distante olhar ao longo do sol. Tanto nos instantes como nos momentos, um pouquinho a mais do que sempre foi. 

Juntei meus momentos, guardei meus instantes. Joguei meus sentimentos pela janela e tranquei a porta do meu eu. Jurei que seria para sempre, apaguei a luz do meu quarto e deixei a lua iluminar o meu ser. Esqueci as palavras, calei o silêncio e ceguei meus olhares. Roubei de você o eu que estava em mim. Sujei suas roupas e suas faces com as cores da ilusão. Juntei estrelas, apanhei flores no seu jardim, limpei o meu céu e jurei à estrela a eternidade de seu brilho. 

O mundo e o submundo e o resto de tudo que ficaram às margens das estreitas passagens dos becos que perfaz as entrelinhas do sentir. Derradeiro momento de um tempo à beira do abismo semeando flores sobre o precipício. Vejo a suavidade e as cores toscamente desfaz o arco-íris ao longo de qualquer momento. Eram tão confusos que as palavras emaranhadas sucumbiam-nos os próprios sentidos. Em todo momento era um azul, logo em seguida um instante cinza e o ar gélido plainava a solidão nos campos em deserto. E a inspiração acordou o sonho que sonhava com a poesia.

O sonho em momento que ri. Diz-me como ri do sonho? Guardei para os dias chuvas todos os meus sentimentos, e para os dias sol guardei as incertezas que flui o meu caminhar. Guardei em mim todos os meus desejos. Despi as impurezas e alimentei a minha vaidade. A beleza suja e as mãos vazias acariciam a face das palavras submissas nas amarras do imaginário. A pureza indecente e o cão raivoso sobre a corrente da ignorância. A sede e o copo d’água à milhas de distância. Fluem as essências e perfumam os jardins e depois tudo se esvai, e o silêncio extático contempla um pouco de paz.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


Os pilares da vida urbana no pós-pandemia

Na indústria das smart cities, conceito urbano que tem sido utilizado com frequência nos últimos anos para diretrizes urbanas focadas em sustentabilidade e funcionalidade, há um ramo focado na interatividade nos grandes centros urbanos. Cidades interativas que propõe uma relação ainda mais próxima com a sua população. Enquanto o conceito smart cities diz respeito à tecnologia aplicada à infraestrutura (trânsito, energia, construções mais sustentáveis, segurança, entre outros), as cidades interativas focam na relação das pessoas com o espaço urbano, colocando o ser humano em primeiro lugar. 
Os próximos anos, motivados pela pandemia que paralisou as nossas vidas por um bom tempo, serão de muita reflexão sobre os nossos valores e, principalmente, sobre o nosso papel na sociedade. A incerteza e a instabilidade nos obrigaram a fazer uma revisão na relação com tudo o que dá sentido as nossas vidas.  Pessoas, trabalho, o que nos faz feliz ou não, e até mesmo a cidade em que vivemos. Analisando todos esses aspectos, dos conceitos relacionados as cidades interativas até o nosso papel social, chegamos aos alicerces que irão nortear nossa vida em grandes centros urbanos no pós-pandemia. 
Uma coisa é certa: A tecnologia será protagonista destas evoluções e a importância de humanizá-la será essencial para reinventar a relação das pessoas com o ambiente urbano. Estimular o reencontro no mundo real, a recuperação da autoestima, a descoberta de coisas que sempre estiveram ali, mas nunca demos muito valor, e por consequência disto tudo, a retomada do comércio, economia e prosperidade de forma socialmente mais responsável. 

1 – Tempo/Conveniência: as experiências trazidas pela pandemia mostram que as pessoas estão buscando ganhar tempo. A conveniência vai ganhar um valor muito forte. As pessoas estarão dispostas a pagar mais por coisas que as fazem ganhar tempo para usá-lo, seja de forma mais produtiva ou no que dá mais sentido às suas vidas. Os aplicativos de delivery, por exemplo, chegaram para ficar.

2 – Raízes/Pertencimento: a pandemia mudou a relação com as nossas raízes. A cabeça estava sempre pensando no amanhã, no que eu podia fazer mais. Desde então, houve valorização de negócios locais, mais conexão com os vizinhos e ampliação do sentimento de pertencimento ao bairro ou à origem.

3 – Esperança/Solidariedade: muitas pessoas adotaram espírito solidário, tentando ajudar mais, ser mais participativo na sociedade. Nós percebemos que nossa atitude implica em tudo aquilo que nos cerca.

4 – Humanidade: houve disposição para usar a tecnologia como um mecanismo para valorizar as conexões humanas, resgatando amigos/pessoas que não eram procuradas há anos, além de uma tentativa de ter mais tempos com a família ou amigos.

5 – Casa: o ambiente onde nós estamos ganhou um valor sem precedentes. Houve uma reorganização maior da percepção da casa em função do home office, já que as pessoas estão passando mais tempo em suas casas. A percepção de valor, de segurança e de importância destes espaços se ampliou. É meu lugar de abrigo, mas também onde trabalho.

6 – Felicidade: as pessoas passaram a buscar aquilo que faz sentido para suas próprias vidas. Tínhamos perdido a conexão com isso. Vivíamos na inércia. Houve uma percepção de que a felicidade está em coisas pequenas ou próximas e haverá mais valorização de fatores que estavam esquecidos.

Paulo Hansted é CEO do MCities (www.mcities.com.br),
startup com foco em inovação, comunicação e inteligência urbana


Retenção escolar: seria essa a solução
as dificuldades educacionais de 2020?

Com o retorno gradual das aulas presenciais, pais e responsáveis começam a se questionar: será que meu filho teve um bom aproveitamento do ano letivo de 2020? Seria a retenção escolar a melhor solução para que as crianças tenham mais tempo para aprender e assimilar os conteúdos passados? Diante da situação atípica do processo de ensino na pandemia, a recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE) é de que se evite a reprovação nas escolas, contudo a melhor solução é levar o dilema para um diálogo entre responsáveis e equipe pedagógica.

Na ânsia de não prejudicar o conhecimento de um filho, muitas famílias acabam optando pela retenção escolar sem levar em consideração o que esse atraso pode significar. Refazer o ano vai ser positivo ou vai apenas reforçar um fracasso que esse aluno teve? Se for uma dificuldade pequena, a criança pode recuperar com aulas de revisão. Já um problema significativo, que vai comprometer os próximos anos, pode exigir mais do que a repetição de ano, mas sim o acompanhamento de um psicopedagogo ou psicólogo.

Ainda que nem todos os estudantes tiveram acesso de forma igualitária ao ensino remoto, o momento pede uma maior confiança por parte da família no professor regente. Afinal, mesmo com os desafios das aulas online, este educador acompanhou a evolução da criança durante o período e está capacitado para fazer uma avaliação assertiva sobre seu desempenho escolar.

Sabemos que a defasagem é realidade. Entretanto, as escolas já estão pensando em estratégias para que os alunos mais afetados pela pandemia possam, ao longo do tempo, desenvolver tudo aquilo que lhes é de direito sob a ótica curricular, com aulas de reforço no contraturno e um planejamento intensivo dos conteúdos. Como especialista, a retenção não me parece a melhor opção, mas a decisão final cabe à família e à coordenação pedagógica.

 Ana Regina Caminha Braga
é psicopedagoga especialista em Gestão Escolar e Educação Especial


Retorno às aulas presenciais, e agora?

Além de todas as incertezas, mudanças, insegurança e medo que o momento atual gerou em grande parte da população mundial, os pais de alunos com idade escolar enfrentam outro dilema nesse início de ano – aula presencial: sim ou não? Decisão difícil a ser tomada imbuída de presenciar o cansaço dos pequenos em estarem em casa e a longa espera para voltarem à escola.

Da mesma forma encontram-se as escolas que novamente se adaptam aos impactos que a sociedade impõe. Marcar os espaços para distância segura recomendada pelo órgão de saúde, calcular quantos alunos podem permanecer em sala de aula, organizar o rodízio de presença na escola, aferir temperatura, clamar pelo uso de álcool em gel e lavagem constante das mãos, vigiar para que não haja contato físico entre as crianças, estes entre tantos outros cuidados passaram a fazer parte da nova rotina.

As escolas neste início de ano tiveram que dar espaço, em suas semanas pedagógicas, para a discussão acerca da prevenção à saúde de toda a comunidade escolar. Além de planejarem as atividades anuais, semestrais, semanais e diárias minuciosamente, pois todo planejamento teve que ter previsões para o que ocorre presencialmente na escola e presencialmente nos lares dos alunos. O ensino híbrido, discutido a tanto tempo nos ambientes de educação, passou a ser realidade em todas as escolas e famílias, gerando ainda mais a certeza de que o aprender se faz em todos os espaços.

Não há dúvidas de que o espaço escolar não é apenas o local para formalizar o conhecimento, é também o local em que se aprende com a interação com as outras crianças e toda a equipe de educadores, mas será que as crianças saberão se portar diante do novo “normal”? Para que possam frequentar a escola presencialmente precisam saber que além de cuidar do lápis e borracha novos, precisam cuidar das máscaras. Sim, agora temos um outro artigo que faz parte do vestuário diário obrigatório, mas este, diferentemente dos demais, requer muita atenção e cuidado. Logo, as famílias e escola agora também ensinam como colocar e tirar a máscara, onde armazenar a que já foi usada e onde encontram-se as limpas.

Enquanto isso os professores se desdobram em cuidados e preocupações. Cuidado com a saúde e aprendizagem dos seus alunos, porém diante de duas realidades: os que estão presencialmente em sala de aula e os que acompanham tudo por meio digital de suas casas. Cabe, então nos perguntar, como está a saúde física e emocional do professor? Quem tem olhado por ele? Indagações para as quais não temos respostas, mas nos cabe a reflexão acerca da sobrecarga emocional e psicológica dos profissionais de educação com a certeza de que merecem todo respeito e apoio ao seu fazer pedagógico.

A única certeza que temos é de que, por enquanto, a escola do abraço dos amigos e dos professores, da troca de lanche na hora do recreio, das brincadeiras em que os corpos ficam próximos, da apresentação no auditório com todos os alunos presentes, entre tantos outros momentos afetivos que ela nos promove, ficarão na memória e permanecem na esperança de que isso tudo possa fazer parte novamente do cotidiano escolar.

Viviane Schueda Stacheski é professora do
curso de Pedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter


O desrespeito continua

Pode? O desrespeito continua. É comum deparar nas vias públicas da cidade pessoas utilizando as vagas destinadas exclusivamente para pessoas com deficiência. O Conselheiro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Sr. Luciano Bernardo de Almeida, mais conhecido como Luciano Baixinho, flagrou um veículo estacionado de forma irregular, pois estava ocupando a vaga destinada para pessoa com deficiência. A foto desse flagrante foi publicada por esse jornal na edição do dia 05 de fevereiro, semana passada.

Talvez as pessoas que cometem essas irregularidades não saibam que estão desrespeitando o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e estão sujeitos às multas no valor de R$ 293,47, além da inclusão de sete pontos no prontuário da CNH pela infração gravíssima. Só uma pergunta: Será que essas pessoas não sabem mesmo o que estão fazendo ou faz isso na certeza da impunidade? Talvez a falta de fiscalização colabore para que fatos como esses aconteçam e passe despercebido aos olhos da população. É o desrespeito e a falta de sensibilidade incrustada no seio da sociedade.

A Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 23, inciso II, que “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios cuidarem da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas com deficiência”.

Será que toda a sociedade sabe o que é uma pessoa com deficiência? O artigo 2º da Lei 13.146/15 define pessoa com deficiência como “aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas”.

É sempre importante lembrar que a liberdade de ir e vir é um direito previsto em lei, ou seja, deve ser assegurado a todas as pessoas. Mas como se vê não é bem assim que a “coisa” funciona. O imperativo da lei não é tão eficaz assim como deveria ser. Acredito que a única forma de se tornar algo eficiente e eficaz é o conhecimento. A Lei Brasileira de Inclusão da pessoa com deficiência está ao alcance de todos, mesmo que seja por curiosidade, seria bom que as pessoas tivessem essa curiosidade. 

A Lei 13.146/15 que no art. 47 nos reporta ao fato citado no inicio desse texto. Vou escrever na íntegra o que diz esse artigo: “Todas as áreas de estacionamento aberto ao público, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias públicas, devem ser reservadas vagas próximas aos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem pessoa com deficiência com comprometimento de mobilidade, desde que devidamente identificados”.

O art. 47 é constituído por quatro parágrafos: O §1º se refere o caput deste artigo que devem equivaler a 2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo, 1 (uma) vaga devidamente sinalizada e com as especificações de desenho e traçado de acordo com as normas técnicas vigentes de acessibilidade. § 2º Os veículos estacionados nas vagas reservadas devem exibir, em local de ampla visibilidade, a credencial de beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de trânsito, que disciplinarão suas características e condições de uso. § 3º A utilização indevida das vagas de que trata este artigo sujeita os infratores às sanções previstas no inciso XX do art. 181 da Lei 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro). § 4º A credencial a que se refere o § 2º deste artigo é vinculada à pessoa com deficiência que possui comprometimento de mobilidade e é válida em todo o território nacional.

O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência está em vigência há cinco anos em nosso município, vem trabalhando na defesa dos direitos da pessoa com deficiência. São cinco anos de atividades do conselho em nosso município. É pouco tempo é muito tempo, essa análise não vem ao caso nesse momento. O que importa é a existência desse espaço de participação democrática com diálogo e discussões sobre políticas públicas que possa melhorar a vida da pessoa com deficiência.

Temos esse espaço, então precisamos de mais efetividade do poder público. Esperamos que nesse ano o executivo municipal institua em nosso município a Coordenadoria Municipal da Pessoa com Deficiência. A coordenadoria tem como intuito fomentar e articular as políticas públicas destinadas às pessoas com deficiência, mantendo uma interlocução com as demais políticas de direito de forma que garanta o acesso à pessoa com deficiência com iguais condições de exercer sua atividade seja ela qual for. Isso não é muito e nem é demais, é apenas o que todas as pessoas precisam para viver uma vida digna. Não sou eu que estou falando, quem está falando é a Constituição Federal que no seu art. 5º nos assegura o direito à vida, à liberdade e à igualdade.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Êxtase da alma


É preciso reaprender a aprender

A frase pode parecer batida, porém mais do que nunca precisamos revisitar o que significa o termo aprender. O futuro da educação como um todo ainda é “perturbador”.

Assim como em todas as outras áreas da nossa vida, a pandemia teve um grande impacto, sobretudo no que diz respeito à digitalização. Vamos usar como exemplo os universitários. Nem todas as universidades estavam prontas para oferecer o ensino digital de qualidade, assim como nem todos os alunos estavam prontos com dispositivos adequados e acesso à internet para conseguirem também se engajarem de maneira ativa nesse ensino. Então aquele gap que já existia, no sentido do que é ensinado em sala de aula estar desalinhado com o que é visto no dia a dia corporativo, se tornou ainda maior.  

Sim, perdemos muito no que diz respeito ao consumo do conteúdo em si e perdemos muito também do convívio e da relação social e da aprendizagem significativa que acontece, sobretudo, por meio desse convívio. Porém, os impactos não foram somente negativos.

Temos um volume gigantesco de conteúdos digitais de qualidade disponíveis para aprendermos. O que precisamos fazer é a correta curadoria dessas informações e termos conhecimento sobre a aprendizagem autodirigida, que é um modelo no qual o próprio indivíduo identifica suas necessidades de estudo e cria métodos para absorver o conteúdo. 

E é claro que a falta de convivência social faz com que no futuro os profissionais tenham mais dificuldades para o engajamento presencial nos ambientes de trabalho. Por outro lado, não podemos ignorar que a falta de convivência social nos levou a aprendermos a nos relacionar por meios digitais.

Para pessoas que vão se relacionar com profissionais que estão em outros países, em outros fusos horários, em outras culturas, existe também um ganho muito grande, por conta dessa grande aprendizagem que tivemos de utilização de novas tecnologias para esse nosso convívio social e o desenvolvimento das soft skills. 

Mas e os danos? Esse é o grande desafio e acredito que todos nós estamos em busca dessa resposta. O que eu posso adiantar é que para reduzir danos precisamos reaprender a aprender. Os ambientes de troca, compartilhamento e crescimento coletivo são importantíssimos nesse processo, porém temos que ter como certeza que o protagonista é o aprendiz. Nós devemos ser os protagonistas dessa mudança. Nós precisamos nos dar conta da importância que esse aprendizado tem para a nossa vida e para as nossas carreiras. Precisamos ser os verdadeiros protagonistas dos nossos processos de aprendizagem. Temos a tecnologia disponível e a informação de toda e qualquer disciplina disponível a custo zero, mas nós como facilitadores temos que ser o guia dessa curadoria e ajudar o aprendiz a descobrir o caminho da aprendizagem autodirigida, de como melhor caminhar nessa trilha de aprendizagem. 

E além de sermos verdadeiros guias quanto à aprendizagem dirigida, nós como especialistas em aprendizagem, também precisamos preparar os profissionais para que saibam criar um ambiente favorável de aprendizagem. Todo momento é momento de aprender. Mas, neste caso, precisamos de um ambiente desafiador e inovador, ao ponto de estimular as pessoas com curiosidade e motivação para continuar aprendendo, sempre!

Por Flora Alves, CLO da SG – Aprendizagem Corporativa e idealizadora do Trahentem®


Ao sabor de um cálice de silêncio

Na beira de um riacho observando o fluir das águas e o voar das borboletas num exuberante colorido. Um insight como uma noite escura, como um caminho sem saída, como tudo que se acaba sem ao menos ter começado. O insondável e o inesperado olhar que somente quer olhar, admirar o admirável e alçar voo até os confins da imaginação.

Tudo ao mesmo tempo vai se arranjando e se conectando. Em algum momento algo me apreende e me faz ver além dos olhares, além da própria imaginação. O imaterial, o subjetivo e a concretude do inatingível. O mundo visto com um único olhar, o olhar que me olha. A alma me olha e me observa de longe e cada vez mais me aproxima do invisível, do imensurável e do indizível.

O inesperado que se faz a todo o momento, um espanto, um instante que passou pelo tempo e se desfez em palavra. Mas a palavra sempre se refaz. Envolve, se desenvolve e tudo muda tudo se transforma. O pêndulo do tempo e o tempo para dizer, por favor, me deem um tempo. Um caminho longo e cansativo, preciso caminhar devagar. Será que alguém me espera? Eu sei que as palavras me esperam, mesmo eu devagar e elas voando.

Vou brincar de escrever. Não quero escrever sobre a realidade. Por isso quero brincar com as palavras. Andar de mãos dadas com as palavras, qualquer palavra. É noite, é dia. Chove ou faz sol. Palavras, frases que tenham sentidos ou não. Não importa, apenas quero brincar com as palavras.

A vida é uma palavra. Qual é o sentido da vida? Não sei, vamos brincar? Brincar com a vida. Como brincar com a vida? A vida é solitária e pode ser solidária, ela é apenas uma palavra. A palavra é o silêncio e no silêncio da palavra a vida se fez. Fez o silêncio e a vida passou por um instante.

Era o silêncio, era a vida e o silêncio se fez em versos e a vida se fez em poesia. Eu só quero brincar de escrever. E as palavras imaginam o mundo brincando no paraíso entre anjos e arcanjos. E de repente o silêncio declama um verso numa lúdica brincadeira de ser poeta. Era o poeta Alcides de Souza declamando seu verso: “O som do silêncio me rodeava e com mais nada me importava”.

E assim seguiu a sublime melodia daqueles versos. Era somente uma brincadeira, eu e as palavras no reino do faz de conta. E tudo ali se misturava: silêncio e palavras, poesias e poetas, vidas em sua mais sublime exuberância. Quero brincar com as palavras, queria brincar com as palavras, mas perdi o controle. Escondi-me de mim e me perdi.

Passaram vários momentos e eu fingi ser eu em outros instantes. Chegou à noite e amanheceram outras manhãs e eu brincando de escrever, tentando ser o que eu era. Desfez a noite sob distantes olhares entre palavras semeadas nos jardins da imaginação. As palavras e o sorriso de criança, sorrindo da vida na plena inocência. Isso é apenas uma brincadeira, uma noite que quer a lua só para si. Brincadeira de fazer chover e pedir para o sol aquecer a terra molhada.

A palavra quer ser vida, quer ter vida e quer caminhar entre tudo o que há. Mesmo sendo uma grande brincadeira, uma aventura por entre vales e montanhas, cavalgando por campinas verdejante ou voando além do infinito sob as asas da imaginação.  Mas essa noite está um pouco escura e as estrelas estão ausentes. O coração do mundo está sangrando, é tanto ódio que as dores são dilacerantes.

Quero apenas escrever, mas às vezes as palavras saem do controle e adentra por caminhos desconhecidos. Eu quero escrever, mas as dores das palavras sutilmente acabam me ferindo. Ao amanhecer de um dia qualquer contemplando tudo que ainda está por vir. Eu queria apenas escrever, mas inesperadamente o sentimento se fez infinito e trouxe-me para junto de mim a vida simples e complexa ao sabor de um cálice de silêncio.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Semeando sentimentos no jardim da esperança


Inspira-me todos os momentos
Inspira-me quando não for possível inspirar-me. Socorra-me quando em mim os versos me sufocarem. Não desista de olhar para o horizonte, mesmo nos dias nublados. Quero inspirar-me nos sonhos que ainda não sonhei e caminhar por caminhos nunca antes caminhados. Não, eu não estou só, o universo conspira ao meu favor e me inspira mesmo na secura de um coração sonhador. A extensão do nada e às margens do paraíso sob os líricos olhares. Acalma-me, alma minha e depois beba da fonte a água da vida.

Agora se for possível deixe a poesia alimentar o meu ser. Deixe-me nesse profundo silêncio. Inspira-me e mostre o caminho, mesmo que esse caminho seja difícil, deixe-me caminhar. Eu sei que muitas vezes preciso me calar para falar ao silêncio tudo que em mim grita. O que diz a poesia em mim faz-me silenciar todo o meu ser. Um cálice que se quebrou ao tocar o silêncio. Uma voz que se ouve e um sentimento doído que ainda quer para si todas as dores do mundo.

Queria ser a inspiração nos momentos turbulentos. A inspiração para abrandar o tempo e acalmar o vento. Queria me inspirar numa canção de esperança, numa balada romântica ou numa música de protesto. Queria a noite escura e da lua o luar e das estrelas o seu encantamento e nos seus brilhos o infinito poetizar.

No mais profundo silêncio, sinto-me nos versos de Fernando Pessoa, “tudo vale à pena se a alma não for pequena”. “O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente”. Queria eu mergulhar nesses versos de Camões. Os versos e as faces em lágrimas num riso risonho que vem me encontrar logo ali envolvido em ternos sentimentos.
 
Às vezes ouço o silêncio e deixo-me levar por lugares desconhecidos. Em outras vezes encontro-me só, alimentando os pombos numa praça vazia. E as chuvas de um dia inteiro molha a minha solidão e germina em mim parcos sentimentos. São noites inteiras sob o pretexto que o amanhã será melhor. Então segura a minha mão e vamos passear pelos quintais da vida, embevecer as manhãs para sonhar depois do horizonte sob os versos esquecidos.

Meu tempo me quer sob os versos e como um sopro de um vento vindo de qualquer lugar, só para soprar um pouquinho mais leve. Quero uma noite de lua cheia para esvaziar em mim o seu bem querer. Quero um caminho de curvas e retas, quero apenas caminhar.

Talvez sonhar e acreditar que sou apenas um sonhador, um poeta que faz caminho no que está em mim. Nos quintais e nos jardins um pouco de mim que ainda não conheço. As flores entre os espinhos, o ódio entre o amor e a estupidez que apequena a vida. Tudo me inspira para ser breve, para ser leve, para ser gente. Tudo me inspira como se fosse um dia que não quer se acabar. Como se fosse um olhar que não cansa de olhar. Como se fosse uma lágrima e o sorriso nos lábios da alma.

Peço a sábia inspiração que entenda e compreenda que às vezes preciso da tristeza não como algo que me machuque, mas como um momento que me faça encontrar-me. Inspira-me a poetizar as rudezas desse tempo e nos versos que em mim quer encontrar a leveza da vida. Quero a simplicidade e o cheiro das manhãs. Quero que seja em mim a minha inspiração, a bondade que se faz no outro e que esse outro seja em mim a concretude do amor.  Inspira-me a vida, não importa o quão sejam doídas todas essas dores.

Quanto mau ainda há, e quantas dores cabem nessas feridas. Inspira-me mesmo nas impossibilidades, mesmo que hajam muitos nãos e apenas um sim. Sob os vestígios de uma bela manhã, a vida me inspira a ser melhor do que ontem. Degusta-me os singelos momentos e sublima-me em tudo que há. Existe algo além da imaginação, talvez seja um pensamento consumindo em sentimento. Há um caminho entre o sonho e a realidade em um mundo imaginado, persiste e segue adiante.

Ainda há o amor mesmo em tempos sombrios. Inspira-me em qualquer estação, em qualquer manhã e em tudo que em mim se desfaz para refazer-me. Um dia entenderá e como se fosse algo inatingível gritando dentro de si. Ouça, ousa, e faça de si o seu caminho.

Um instante depois, próximo ao momento seguinte entre os escombros da verdade. Não é isso, nem aquilo, são apenas resquícios dos velhos caminhos, nuances do tempo. Tem a beleza sublime que a natureza esculpiu. Sonha junto ao jardim entre margaridas e jasmins e toda a exuberância e a simplicidade do viver. Hoje é noite estrelada e a lua me convida para a eternidade desses líricos momentos. Aquieta-me e depois me inspira, resta-me o silêncio e nele a concretude do ser.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro - Semeando sentimentos no jardim da esperança


Suplicando pela esperança
Passado os primeiros dias de 2021. Depois dos singelos propósitos e todas as congratulações, celebrações e euforias. Temos 11 meses e alguns dias pela frente para vivermos esses singelos propósitos conforme as nossas escolhas. A responsabilidade é nossa, o que fazemos e o que deixamos de fazer certamente terão consequências boas ou ruins.

O que desejamos será que são os verdadeiros propósitos ou desejamos o que desejamos apenas por fazer parte do ritual? E depois vida que segue. Cada um com o seu problema. Como diz aquele conhecido dito popular: “cada um por si e Deus por todos”. É exatamente isso, depois da euforia a dura realidade e todos os seus percalços. Fingir ou tentar fugir dos problemas não é a melhor solução, eles sempre farão parte de nossas vidas. Então a única coisa a fazer é resolvê-los.

Feliz ano novo? Estamos caminhando para o final do primeiro mês de 2021. Quais mesmo foram os nossos desejos? Estamos de fato empenhados em realizá-los? Que bom seria se os problemas do ano passado ficassem presos no passado. E os novos problemas seriam do ano novo e com novas soluções.

Vamos imaginar que tudo que aconteceu em 2020 foram apenas sonhos, embora parecesse estar mais para pesadelos. Vamos continuar na esfera imaginária, imaginando que em uma bela manhã acordamos e deparamos com o início da terceira década do século 21.

Acordamos no Brasil e tudo o que parecia pesadelo em 2020 era realidade. Janeiro de 2021 parece que todos os nossos propósitos de paz, saúde e felicidade estão sendo sufocado. O Amazonas está sufocado, falta oxigênio, a vida quer respirar e sobra incompetência. Falta verdade num país mergulhado na mentira. Falta compromisso e coerência, sobra incompetência e incoerência.

A política e a mentira. A política da mentira e a política que desnuda um país. Feliz ano novo esperança, que bom que você nunca nos abandona. Em meio à banalidade, a vida é sufocada na truculência do poder que personaliza o ódio. As chuvas de janeiro como se fossem lágrimas de uma nação à mercê da perversidade.

Como se fôssemos um canto sublime a entoar louvores glorificando a esperança suplicando pela vida. Estou aqui entre o vazio e a solidão saboreando a existência, tentando entender a profundidade da maldade. E nesse tudo que de repente se desfaz em nada, nos desafiando a todo o momento. As nossas virtudes, os nossos vícios e tudo mais que está em nós.

Há um deserto e logo mais poderemos chegar ao oásis. Superando os obstáculos e as dificuldades que a vida nos impõe. Não queremos da vida nenhuma dificuldade e nenhuma impossibilidade. Um caminho reto em que hajam apenas as possibilidades, e a certeza da chegada e a certeza da vitória.  

Se há certeza de tudo, não há sentido, tudo perde o sentido se a certeza nos faz tão certos. As impossibilidades, as possibilidades, as certezas e as incertezas estão inseridas no mesmo caminho. Erros e acertos, certezas e incertezas, são as flores e os espinhos desta longa caminhada.

Todos os nossos desejos e anseios pode ser que seja algo ritualismo, algo que está em nós, faz parte de nós. É a nossa condição humana e toda a sua contradição diante dos cenários que a vida nos apresenta.

Será que foram esses os nossos desejos? Sim, talvez seja. Nada importa, queremos ser felizes. O que é ser feliz e como ser feliz em meio a tanta infelicidade? Notem que eu perguntei o que é ser feliz se há tantos infelizes. Se eu não sei o que é ser feliz, como eu posso afirmar que existam tantos infelizes? Onde está a felicidade? É possível ser feliz na extrema pobreza? Essas são questões profundas e intrigantes.

Esse momento que estamos vivendo com pessoas desassistidas e desesperadas será que é possível ser feliz? A esperança é um canto sublime que transpassa o silêncio, numa suplica suave, semeando os férteis terrenos da vida para colher o sonho de um mundo melhor.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro Metáforas do Eu

2021 e as dores do mundo
Dois mil e vinte um, século 21. Eu sei que não serão dias fáceis. Será que foi fácil algum dia? Muitas coisas acontecendo de forma que ao meu entender, estão seguindo rumos que me deixa um pouco apreensivo. A minha análise ou a minha opinião, assim como meus textos não têm nenhuma pretensão, a única pretensão é escrever sem pretensão.

Gosto de misturar ficção e realidade passeando pela poesia com uma pitadinha de ironia. Uma viagem lúdica, um sonho de criança e uma aventura fantástica. Percorro diferentes percursos, caminho pelas diferentes veredas. Aventureiro das rudes palavras, poeta dos cortantes versos, apaixonado pela vida e aprendiz na arte do viver.

Talvez ainda não conheça o caminho e as dificuldades do caminhar. Meu caminho pode muito bem ser uma palavra, um verso ou apenas um sentimento torpe. Apenas escrevo, o escrever-me completa, dá sentido a tudo. É um diálogo franco comigo mesmo e com os meus anjos e demônios. Às vezes falo, mas eu gosto do silêncio. Gosto do cheiro do livro. Parece que as palavras têm perfume e embriaga-me em sua essência embevecida no silêncio de suas palavras que fala ao sentimento o que o sentimento quer ouvir.

Aprecio as noites escuras, pois vejo o sorriso da lua e as estrela do firmamento. Gosto da chuva depois de um dia de sol, o cheiro da terra molhada e o arco-íris entre os olhares. Que 2021, tenha vários sabores. Sabemos que entre os sabores, há o sabor amargo, não tem como ser diferente. E que predomine o sabor da vida.

Muitas coisas estão em jogo, mas a vida não é um jogo. Essa jornada que está se iniciando, não pode ser encarada simplesmente como um jogo, entre vencidos e vencedores ou todos vencem ou todos nós seremos perdedores. E aí 2021, o que você está preparando para o mundo? O que virá?  E o que você espera que nós façamos?

Eu sou 2021, cheguei e caminho entre vocês. Vou estar com vocês os 365 momentos dessa incrível jornada. Sentirei cada instante, cada respiração, cada inspiração e em cada olhar quero enxergar com mais nitidez. Quero ser fonte de esperança. Quero acreditar mais na humanidade, mesmo com inúmeros motivos para ser incrédulo. O que eu, você, nós podemos fazer? Nada e mesmo muita coisa. Acreditar ou não acreditar, crer ou não crer.

Eu, 2021 não quero ser para o mundo apenas uma carta de intenções. Por isso peço muita responsabilidade, pouca retórica e mais ação. O cuidado e o zelo com a vida tem que permear todas as nossas ações.

Vamos imaginar o mundo como uma grande peça a ser encenada. Os atores e atrizes somos todos nós. Mas não há nada escrito, não há script, não há roteiro. Também não há um cenário. Tudo será feito por nós. Seremos nós os autores e autoras, atores e atrizes. Construiremos os cenários conforme as nossas atuações nessa grande obra a ser encenada em todos os momentos dos 365 capítulos dessa grande obra que é a vida. É bom lembrar que os grandes acontecimentos são constituídos de suor e lágrimas, dores e sacrifícios. A história da humanidade é repleta de grandes tragédias. Mas também de recomeço, de superação. O ser humano e a incrível capacidade de se reinventar.

Pare e sinta o momento. Desfrute desse ínfimo instante. Silencie e tente ouvir o silêncio do seu ser. Não pense nas impossibilidades e nem nas possibilidades, apenas deixe fluir. A tênue fragilidade humana e tudo que envolve esse grande mistério. O som e o silêncio. O som do silêncio e a melodia da alma.  Deixe tudo como está não mude o sentido das coisas. Seja como o rio, contorne os obstáculos, mas nunca deixe de fluir. Não apresse o momento, deixe o sincronismo e a existência emanar com o todo. Não se preocupe tanto, se fracassou, se errou se não conseguiu o que almejava tudo vai passar, calma e aceite tudo isso como aprendizado.

Sentado à beira do amanhã contemplando o vazio na solidão que me abraça e afaga o meu silêncio. Suplico as palavras e quero alcançar as estrelas, mas as noites são escuras demais e o dia ainda demora chegar. Entrelaçando sonhos e esperança nessa poética que nasce do nada para ser o tudo que procuro encontrar.

O queres que eu faça? Ontem já não posso ser, o hoje é o que tenho e o que posso ser e o amanhã é uma página em branco. O que queremos nós? A estrada é longa e a noite logo chega. Eu e as minhas metáforas esperando o novo clarear. Não, eu não quero esperar o novo dia chegar. Vou fazer novo todos os dias. Vou ouvir o canto dos passarinhos e poetizar os mais sublimes versos, sentindo os mais profundos sentimentos e acordando de um sono profundo para sonhar e fazer o melhor de mim.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro Metáforas do Eu


O Ágape
Todas as vezes que encontro pessoas passando por algum problema, sofrimento, ou dificuldades (ou que eu mesma vivencio), recorro aos textos sagrados, aos relatos dos Evangelhos, às cartas de Paulo, Pedro... e busco renovar minha mente, minhas forças, compartilhar a força da Palavra. A Sagrada Escritura está repleta de relatos de pessoas que tiveram uma união extrema com o Senhor, e como isso fez a diferença na vida de todas elas. Talvez tenhamos entrado em contato com o extraordinário muito mais do que temos a percepção ou a coragem de reconhecer.

O Ágape, em grego “áãÜðç”, transliterado para o latim, é o amor mais sublime, mais puro e perfeito: Ele é Jesus. Quando penso no amor mais puro me recordo do amor de mãe... Rememoro os nascimentos de cada bebê que tive, do primeiro encontro do olhar que tivemos, do instante em que segurei pela primeira vez aqueles corpinhos tão pequenos e frágeis, e senti a imensidão, o inexplicável amor de mãe. Hoje mais do que nunca sei que daria minha vida por eles... então compreendo em parte o amor de Deus: um amor incondicional, sem medidas, atemporal e infinito.

Decidi escrever sobre este amor porque percebo que muitas vezes fiquei de tal forma envolvida nas experiências humanas, terrenas, que deixei de contemplar, de realizar todo o bem que poderia. Recordo com melancolia e pesar, que deixei de lado os sonhos de menina, as promessas da jovem que teve seu encontro com Ele, a forma como as palavras dos Evangelhos queimavam meu coração na primeira vez em que as ouvi, e o desejo arrebatador de ser melhor, de transformar o mundo... (ainda quero).

Creio que as escolhas que fazemos, as decisões que tomamos, que não sejam direcionadas ao bem, criam camadas nos corações, vão endurecendo o olhar, embaçando a visão. A cada rudeza da vida, diante da dor provocada por alguém, por violências, ultrajes, sofrimentos, a pessoa recorre a modificações, mesmo que inconscientes; talvez escolha pela revanche, a revolta, mágoa; por vezes o sentimento de ser injustiçado torna-se forte, aos poucos os pensamentos vão se transformando, alterando os sentimentos, as ações. E estas escolhas, com aparência de defesas, não podem ser ignoradas, pois acabam por endurecer a alma, o espírito, e talvez nem nos reconheçamos mais (ou aqueles a quem muito amamos).

Perceba a ilusão a que estamos submetidos constantemente, principalmente pelas redes sociais. Se não atentarmos para as coisas do alto, se não separarmos tempo para oração, para o recolhimento, escuta, para a ação no bem, dificilmente viveremos a experiência do Ágape em nossas vidas. E aquele que vive na fé age de forma diferente. Não significa que nossas dores desaparecerão, que nossos sofrimentos findarão, mas que diante do Ágape será impossível sucumbir: porque Ele nos sustentará. Então tudo o que vivermos, seja o luto do ser amado, o sofrimento do filho que se perdeu, o abandono, injustiças, doenças, dores... tudo que estivermos passando será enfrentado de outra forma, porque estaremos amparados.

E Ele envia pessoas (anjos) para nos dar suporte, para nos socorrer; veja se consegue reconhecer, entre tantos, seja familiar ou não, alguém especial, que fez a diferença em sua vida, (ou ainda faz), que lhe ajudou de alguma forma… Penso que todos temos pessoas assim, que queremos ter sempre por perto (para ficarmos melhores também). Atraímos também as que são parecidas conosco. Se queremos o bem, precisamos modificar nossos pensamentos, nossa maneira de falar, de acolher, e passar a exercitar a generosidade, o perdão, a gratidão.

E apesar de toda a tristeza que possamos estar enfrentando, não podemos perder a capacidade de amar, de começar de novo; acreditar que estamos aqui por um sentido maior. Não há acasos. Há acontecimentos que provocamos, outros que nem sequer entendemos o motivo. Mas há um propósito em nossa vida.

Podemos começar com um pequeno passo a cada dia... um ato de gratidão, um pedido de perdão, o reconhecimento de nossa pequenez, mas crendo na grandiosidade do Amor arrebatador que nos aguarda. Creio que nesta busca, neste desejo sincero de querer o bem, no encontro entre oração e ação: o Ágape se revelará!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Natal, a humanidade se humaniza no Deus que se fez humano
Desejar Feliz Natal é se comprometer com o verdadeiro sentido do Natal. Nascer para o novo, nascer um novo tempo; nascer na esperança de sermos melhores. Num tempo em que tudo parece não fazer sentido. A vida banalizada por tantos absurdos e por nada ela é tirada. Nesse Natal que o espírito natalino nos dê leveza nesse tempo tão pesado e tão obscuro.

Celebrar o Natal como se fôssemos os artífices do nosso tempo. Como a terra que se prepara para receber a semente. Semear, cuidar e colher. Como um jardim em flores. Rios e mares, céu e terra, o fruto que alimenta a vida. As mãos que se entrelaçam a paz entre nós, o amor em nós. O amor entre nós. Entre nós o Natal, o nosso nascer de todos os dias. Natal da Luz, da Luz que está entre nós. O mundo findado em paz. Natal nasceu um menino, o Filho do Altíssimo. Natal de todos os dias. Natal da paz, da paz de todos os momentos, de todos os instantes.

Natal dos sentimentos que humaniza o humano que há em nós.

Natal do Deus vivo que está entre nós. Natal das ruas e a solidão que se acotovelam entre suor e lágrimas. Nossos olhos são engolidos por luzes artificiais que iluminam os momentos e escurecem os instantes. Então é Natal! Natal de todos e para todos. Natal da solidariedade de todos os dias. Natal da ética, da igualdade de diretos do respeito mútuo que nos reveste de cidadania na construção de uma sociedade mais justa.

Natal do amor vivenciado e exercitado nos gestos fraternos que nos humaniza. Feliz Natal como se fosse à plenitude de todos os dias. Feliz Natal com sinceros propósitos de compreender e comprometer com a vida e vivenciá-la profundamente, harmonizando o todo como integrantes e integrados em toda a essa totalidade com os preceitos de se humanizarmos e solidarizarmos com a vida em todas as suas diferenciações.

Feliz Natal como se fôssemos à eterna noite a intensidade do amor que perfaz a paz que tanto precisamos. Feliz Natal como se fôssemos o espírito rejuvenescedor a nos invadir, impulsionando para novos tempos. Feliz Natal como se fôssemos o eterno tempo de infinita harmonia. Feliz Natal como se fôssemos todos os momentos, que cabem em todos os instantes na abundante fartura de vidas, vividas em toda a sua totalidade.

Não é o Natal das noites escuras, dos dias amarrados pelas indolências das pessoas petrificadas, desse ar pesado, faces aborrecidas e sorrisos amordaçados. Não é o Natal dos corações enfermos embrutecidos pela estupidez dos miseráveis que semeiam o ódio e cultivam a maldade. Mesmo que o verdadeiro Natal ainda não seja aceito, o Natal é de todas as pessoas que celebram o dom da vida.

Feliz Natal como se fôssemos uma só canção, cantada em um único refrão, respeitando todos os conceitos de fé, credo e religião. Feliz Natal como se fôssemos partes de um único sonho, o sonho de Deus, do “pão para quem tem fome e fome de justiça para quem tem pão”. Não o pão da esmola, que mata a fome agora, mas e depois? Precisamos do pão da justiça social, da solidariedade, da igualdade que partilha o agora e semeia a semente de liberdade em um horizonte de esperança e fraternidade.

Feliz Natal como se fôssemos todos os dias solidários e semeadores da boa nova e não da loucura dos nossos tempos; Papai Noel consumista desvirtua o verdadeiro sentido do natal, que ludibriados pelo brilho de luzes artificiais somos sedentos de tudo que enfeitam nossas casas, mas não os nossos lares.
Feliz Natal como se fôssemos uma poesia arrancada da alma do poeta com versos e palavras, músicas e canções que se faz, refaz e perfaz a todo o momento no compasso do sino de Belém e no passo do Menino que caminha entre nós e se fez grande e abraçou a humanidade.

 Feliz Natal como se fôssemos belos momentos, infinitos instantes e gestos de ternura dos humildes corações que não desiste de amar, e traz consigo a esperança ansiada no consolo da fé e na fé que nos fortalece e faz sair da nossa mesquinhez para sonhá-lo o verdadeiro natal, que é o “Emanuel, o Deus conosco” (Mt 1:23), que não está acima de nós, e sim no meio de nós, entre nós. Que a vida seja sublime! Que o verdadeiro natal seja de todos em todos os dias. Que o sonho seja infinito e que a vida seja plena.

Feliz natal como se fôssemos todos os dias e como se fôssemos à eterna inocência da criança brincando com o mais valioso presente, a dádiva da vida, o Deus que há em nós, que é por nós. Que neste natal Deus venha transbordando de luz, semeando estrelas em todos os quintais. Sejamos todos semeadores nos campos dos sonhos. Que neste Natal a partilha seja o dom e fonte de novas atitudes. Que perdure em todos os momentos, que nutre todos os instantes.

Sejamos todos artistas na arte do viver, sonhando, o sonho impossível, imaginando o inimaginável. Flertando a lua e enamorando as estrelas. Que neste Natal, Deus faça em nós a sua morada, eternizando em nós o Seu espírito em todos os dias da nossa vida. Que o Seu amor transborde inundando todos os corações. Que sejamos pontes unindo pessoas e derrubando os muros que nos separam. Que sejamos a manifestação da paz no duro chão da realidade e fonte de água viva para irrigar os dias que virão, suavizando os nossos caminhos, florindo corações e mentes. Que neste Natal, possamos acolher o Deus da vida no próximo que precisa de nós e eternizar ao longo de nossas vidas.

Feliz Natal a todos que amam sem medida e acreditam que a lógica do amor é o próprio amor. E no pão de cada dia se fartar de esperança, na mística e na essência, que nos faz o mistério insondável e indecifrável. Que sejamos mensageiros do bem e promotores da paz. Que neste Natal acolhamos o Deus da vida como fonte de inspiração para todos os nossos dias. Acolhamos o natal, a luz que se fez luz, que se faz e refaz, perfazendo a ternura do menino de Belém que habita em nós e quer morar em cada ser humano. “O verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo1, 14)

 Feliz Natal!
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro Metáforas do Eu


O céu inteiro silenciou... 
O céu inteiro esperou pelo sim de Maria. Fico emocionada imaginando a grandiosidade deste momento. Os anjos silenciaram quando o Arcanjo Gabriel foi anunciar a Maria, em nome do Senhor, que ela seria a mãe do Emanuel. O sim da Virgem representou um ato de humildade, de obediência e fé, e este consentimento abriu para toda a humanidade as portas do céu. Por ela o Paraíso nos foi estendido. Acaso Deus não escolheria um lugar também santo para abrigar o Filho do Altíssimo? Certamente que sim. Por isso Maria é cheia de Graça:

“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”. Perturbou-se ela com essas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim”. [...] Então disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Fico tentando perpassar o esplendor, a beleza das cenas: o momento da Anunciação, a delicadeza, fé e graça de Maria, colocando-se como serva de Deus; a perplexidade dos pastores que faziam a vigília noturna e foram surpreendidos pela explosão de luz vinda do céu, com indescritível assombro; a visão e o entendimento dos três reis Magos, indo adorar o Salvador. E o momento mais sublime e terno (indescritível), quando Maria pegou pela primeira vez o Menino Deus em seus braços... sabendo que na verdade acolhia, que ninava o Salvador.

Naquele instante a eternidade interrompeu a história; o relógio freou as horas, o tempo submeteu-se à esfera celestial, adentrou no kairós, no tempo de Deus, e as multidões de anjos vieram para testemunhar, pois compreenderam a imensidão do amor do Pai pela humanidade: o céu viu a Glória esvaziar-se para nascer na manjedoura simples, na forma de um humilde menino. Um Deus que se fez pequeno para expressar a imensidão de Seu amor por nós, em um plano de Redenção inimaginável.

Recorro às belíssimas palavras de Max Lucado: “Jesus é o cumprimento da promessa do amor de Deus. No grande salto que chamamos de Natal, Jesus abandonou os privilégios celestiais e revestiu-se das dores terrenas. “Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo” (Filip. 2,1). Deus procura aqueles que façam o mesmo”.

E quero destacar ainda esta frase do autor: “Ele deixou de comandar anjos para dormir sobre a palha. Deixou de dirigir as estrelas para apertar o dedo de Maria”. Quanta delicadeza, quanta profundidade e beleza nestas palavras; expressa a grandiosidade de um amor inexplicável e infinito.

Que a correria de ano que finda, entre lojas, compras, presentes ... não nos distraia, limite ou cegue a visão para a grandiosidade do momento: o nascimento do Menino Jesus, do Messias.

Que a chegada do Natal renove nossas forças, nossa esperança, na virtude da fortaleza, porque o Salvador veio e está entre nós, e nos ama de tal forma que se o aceitarmos jamais seremos os mesmos... E o céu inteiro espera pelo sim!

Esta noite, em Belém, na Cidade de David, nasceu o Salvador. Sim, o Cristo, o Senhor! E de repente, juntou-se outro grande grupo de anjos, louvando a Deus:

“Glória ao Senhor, nos mais altos céus!

Paz na Terra aos homens a quem Deus quer bem!”
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Contradições humanas
Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? Essas três perguntas clássicas que inquietam a humanidade desde o seu surgimento. Não tenho pretensão pela resposta, também não tenho o mínimo de conhecimento que seja suficiente para tentar pensar em tal resposta. A única coisa que pretendo é brincar com essas três indagações, brincar de maneira séria. Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos? Nascemos, vivemos e morremos. Existir e viver.

A existência humana e toda a nossa potência e ao mesmo tempo toda a nossa impotência diante de toda a grandeza que nos cerca. Quem somos nós frente a tamanhos desafios que possibilita e impossibilita o desenvolvimento da humanidade como um todo? Somos seres totalmente vulneráveis e nossas relações são tão frágeis. Frágeis ao ponto de não suportarmos e nos destruírmos uns aos outros pela nossa própria arrogância e prepotência. Somos profundos, mas preferimos navegar nas superficialidades. Somos naturais, mas apostamos que é melhor viver na artificialidade.

Entrelaçamos em sentimentos, muitas vezes ferimos quem nos quer a nossa proteção. Somos o amor que nos congratula como seres humanos dotados de todos os preceitos. Também somos o lado mau, destilamos o nosso ódio de cada dia. A indiferença e a hostilidade, o amor e o respeito nos compõem e nos completa como seres humanos.

Por que somos maus? O mau causa em nós, tanta dor e tanto sofrimento, que nos apequena diante de nós mesmos. E assim, como se fosse algo que em qualquer momento nos possuísse provocando tanta fúria que parece que desfaz o ser humano que há em nós. O ser humano é o maior inimigo do ser humano. O homem é o lobo do homem, essa célebre frase do filósofo inglês Thomas Hobbes, retrata muito bem as barbáries já vividas e o cenário atual pelo o qual passa a humanidade.

Nesse hiato que separa o nascer e o nosso findar para esse mundo, temos tempos suficientes para sermos o que desejamos ser. Onde me encontro nessa trajetória? Apenas existo? Ou vivo intensamente? O que é viver intensamente? Para uns é aproveitar o máximo o que a vida lhe proporciona. Enquanto que para outros é uma incessante busca de sentido. Mas quem aproveita o máximo que a vida lhe proporciona encontra o sentido para vida? Sim? Não?

Que sentido é esse? Qual é o sentido do sentido? O que eu faço da minha vida reflete o seu verdadeiro sentido? Ou o verdadeiro sentido reflete em minha vida aquilo que eu faço? Como eu estou no mundo? E como eu encaro os dramas e as dificuldades do dia a dia? O sofrimento humano é natural ou é consequência das nossas ações? Onde encontro respostas para tantas perguntas?

O ser humano é um ser pensante, mas pensar é perigoso como escreveu a filósofa Hannah Arendt. Nas margens dessa longa caminhada, pensando o mundo, vivendo sobre fortes tensões que muitas vezes ou na maioria das vezes são conflitantes. Nossos interesses nos aproximam e ao mesmo tempo nos distanciam dos interesses comum. Estar no mundo, ser no mundo, ser o mundo nessa busca insaciável e o sentido da vida em meio a tudo que está acontecendo.

O sentido da vida e tudo que fazemos para protegê-la. Estamos assistindo o quão é mesquinho o ser humano. A crise na saúde, a crise na economia provocada pela pandemia, coloca frente a frente os interesses comuns e os interesses individuais. A arrogância, a prepotência e o poder para manipular e enganar toda uma população. A impressão que se dá é que nós como sociedade estamos perdendo para nós mesmo. A vida virou uma banalidade e o absurdo passou a ser normal.

O que nos faz mais humanos é a nossa própria condição de se indignar diante das contradições humanas. Choramos e nos emocionamos, compartilhamos sentimentos e sofremos com sofrimento humano. Solidarizamos com a vida mediante a sua fragilidade e amamos nas mais diversas condições, pois tudo que é humano nos humaniza.

Voltamos para nós mesmo e mergulhamo-nos mais profundo de nosso ser e nos reencontramos com o que existe de mais sagrados em nós. Há um lugar e há um momento. Um lugar de plena ternura e um momento para contemplar a sublimidade da vida. Como se fossemos bravos sonhadores a desbravar a rudeza que há em nós. O coração humano quer pulsar no ritmo e no compasso que a vida nos conduz. No ápice da bondade, a humanidade no encontro com todos e com o todo sob os olhares do mundo acariciando a face da esperança.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro Metáforas do Eu


Lugar de pessoas com deficiência é onde ela quiser 
Em 1992 a Organização das Nações Unidas (ONU), instituiu o dia 03 de dezembro como o dia internacional da Pessoa com Deficiência. Segundo a ONU, aproximadamente 10% de população mundial tem algum tipo de deficiência. Essa data tem por finalidade conscientizar toda a população à importância da inclusão. Inclusão como prática da plena cidadania.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) de 06 de julho de 2015 é um instrumento que nos dá visibilidade e faz com que a nossa busca por inclusão seja legítima. Promover direitos de quem ainda sofre preconceito e discriminação mesmo tendo uma lei para proteger. É de nossa inteira responsabilidade divulgar e fazer chegar a toda a população e cobrar de toda a sociedade, incluindo o poder público para fazer valer o que está na Lei 13.146.

Em nosso município, como já foi publicado nesse espaço, tem-se desde maio de 2016 o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Há quatro anos que o conselho está em atividade em nosso município. Nós, conselheiros e conselheiras sabemos que esse trabalho não é fácil. Mas esse é o nosso trabalho, provocar e incomodar a sociedade civil e o poder público que nós existimos e estamos aqui para ocupar o nosso lugar.

LUGAR DE PESSOA COM DEFICIÊNCIA É ONDE ELA QUISER. Esse foi o tema da 5º virada inclusiva municipal, que devido à pandemia o evento foi virtual. Isso não tira a importância e a grandeza nesse evento que todos os anos acontecem sempre com a mesma finalidade: conscientizar. Conscientizar a nossa sociedade que somos pessoas como qualquer pessoa com direito de ser e ser respeitada. Simplesmente respeitada. Somos sonhos e sonhadores, inteiramente inseridos no mundo e movidos por tudo que nos move; alma e coração, versos e poesias, horizonte e infinito e a plena imensidão.

A virada inclusiva municipal que aconteceu no dia 03 de dezembro, com diversas participações. A continuidade dessa coluna aborda o tema que foi proposto para 5º virada inclusiva municipal. Essa sequência foi preparada com exclusividade para esse evento.

Olho para mim e não me sinto só. Apenas caminho, mesmo que seja por caminhos imaginários. Não há limites em mim, aprendi com as dificuldades que viver não é se confortar e nem se conformar com o que eu tenho, e sim me respeitar como eu sou. Também aprendi que o sonho nem sempre se realiza, nem por isso deixarei de sonhar. Olho para mim e não pergunto quem eu sou. Não estou só, estou com os meus sonhos, sonhando em versos e palavras sublimando a vida em versos e poesia e canções de esperança. Então caminho, pois o caminho é caminhar, não sou de desistir, por vezes já tropecei em vários obstáculos, e em cada tropeço um aprendizado.

E o meu lugar onde é? E onde está? O meu lugar é aqui, é ali. Como pode ser lá do outro lado da rua. O meu lugar é um coração aberto, um coração cheio de alento e ternura. O meu lugar não pode esconder quem eu sou. O meu lugar é dentro de uma poesia, na extensão de um verso. O meu lugar é entre as palavras, entre tudo o que há, até nas impossibilidades do próprio ser.

O meu lugar é o ir e o vir. O meu lugar é em qualquer lugar. É um lugar que esteja em mim e que nada me impeça de ser eu. O meu lugar é onde eu quero estar, é onde eu quiser. Não queira estar por mim, deixe-me eu querer o que eu quero. Quero apenas o meu espaço, o meu lugar, o meu direito de estar e ser presença.

Eu faço poesia de mim, eu faço poesia em mim. Por esses versos, falo quem eu sou, digo onde estou. E caminho nas dificuldades, entre as possibilidades de ser quem eu sou. De estar onde eu quero estar, não me impõe dificuldades, não tente limitar os meus passos. É meu amigo, eu sei que é difícil, mas quem disse que eu quero facilidade; quero ser e estar no mundo. Não fale aonde eu devo estar. Não pergunte ao vento, ele não pode dizer quem eu sou e nem aonde eu devo ir.

O meu lugar é um profundo sentimento, não impõe em mim o lugar que você quer que eu esteja. O que nos faz diferente? O que nos deixa indiferente? Tornam-nos iguais, em uma sociedade que até tão pouco tempo nos enxergava como diferentes e com indiferenças. Diferentes sim, todos somos diferentes, cada ser humano com as suas peculiaridades, com as suas individualidades e com suas potencialidades. Diferentes e indiferentes. Nas diferenças buscamos a igualdade de direitos, enquanto que nas indiferenças nos apequenamos e nos corroemos mediantes aos preconceitos. Viver brincando de realidade, na legalidade e até mesmo nas impossibilidades. E nas impossibilidades descobrir que as possibilidades estão ao alcance de todos. O alicerce que sustenta todos os nossos anseios, todas as nossas buscas, é a esperança. É nela que colocamos todos os nossos sonhos, os nossos esforços, toda a nossa fé e o amor como gratuidade.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro Metáforas do Eu


Uma só palavra, uma só frase e tudo que nos faz mais humano
Das manhãs e das doces palavras que instigam os dias. Do outro lado do caminho, a beleza entre os olhares e o horizonte bem mais próximo. Entre as palavras há um vazio e um sorriso num pouquinho de tristeza. Mesmo assim, a vida em exuberância e sinceros sentimentos e o convite para vivenciá-la em toda a sua plenitude. Brincam logo ali na próxima esquina, versos e palavras em um misto de saudade. 
Tecem a vida os seus momentos e diz para quem quiser ouvir em alto e bom som a sublimidade do viver. Uma só palavra. Uma só frase. Que belo dia de uma manhã de outrora em sublime afeição. Que profundo sentimento em um simples gesto de ajuda. Há um verso no hiato de uma poesia para compor o dia em toda a sua perfeição.

Que vento é esse que sopra de todos os cantos, trazendo e levando os melhores sentimentos que apascenta os corações aflitos. Quão é belo tudo que está por viver. Por mais difícil que seja o caminhar se sustenta no próprio caminhar. Uma frase para fazer sentido, mesmo fora de contexto, mesmo que isso seja apenas um pretexto.

São palavras, verdadeiras ou falsas contextualizadas ou descontextualizadas, não importa, entendam como quiser. Bebe a água da fonte, curam-se todas as feridas e acalma os corações aflitos. O caminho que leva ao sublime é longo e tortuoso, siga em frente e não olhe para trás.

Alguém declama uma poesia falando da profundidade da vida. Ouça, ousa e brinde a vida ao sabor das aventuras. Eu sei que nada é fácil, não sei se tudo o que acontece é obra do acaso. O que é o acaso? Não importa o que seja. Também não importa a resposta, o que importa são as perguntas. Quero um rio de dúvidas para pescar as minhas certezas.

Uma só palavra e um passo de cada vez. Com um passo inicio uma longa jornada. Para chegar mais longe deixo de lado a pressa e caminho no silêncio dos meus passos. Uma longa frase nas margens das distantes paragens sob as lágrimas das manhãs. Mas é só uma palavra tentando formar uma frase e se perdendo em si mesma.

É uma lágrima, quem sabe é uma poesia. São fragmentos de instantes, quem sabe são momentos, palavras de um texto distante. Pode ser que seja às lágrimas que se perderam na tristeza de um triste olhar. De novo tudo volta a ser palavras e as palavras querem só voar, voar e voar. São apenas frases desconectadas, desorientadas tentando sofrer o menos possível. O que está acontecendo que a poesia está em lágrimas? Quem roubou os seus versos e quer impedir as flores de florir?

Deixe as palavras elas só querem ficar só. Ainda há algo que nos machuca, de tanto machucar, as dores se tornaram silenciosa. Então deixe o vento levar as palavras e delas se alimentar para depois dizer que é somente uma brisa a suavizar as belas tardes junto ao horizonte que aos poucos se esvai ao anoitecer.

Depois vem a noite e mergulha em profundo silêncio só para ouvir a poesia e os mistérios da lua. Do sentido ao sentimento, tudo parece estar fora do lugar. Todos querem o sol, mas ao mesmo tempo, todos brigam pela sombra. Um sonho quer sonhar, mas não sabe o que é o sonho. O que é sorrir quando o mundo desaba sobre as nossas cabeças. A palavra mais linda, a frase mais completa e o caminho mais longo para se chegar ao mesmo lugar. Uma só palavra, uma só frase e tudo que nos faz mais humano.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP
Autor do livro Êxtase da alma e outros


"Ritorniamo a sognare" 
“Quando eu tinha 21 anos contraí uma doença muito grave, tive minha primeira experiência de limitação, dor e solidão. Mudaram minhas coordenadas […] fiz uma cirurgia para remover o lobo superior direito do meu pulmão. Sei por experiência própria como se sentem os pacientes com coronavírus quando lutam para respirar em um respirador”.

Estes são trechos do livro do Papa que será lançado em Dezembro. Confesso que não havia me interessado, mas, por indicação de meu marido, arrisquei uma leitura rápida e qual não foi minha surpresa ao deparar-me com algo tão profundo, e ao mesmo tempo tão cheio de desprendimento, escrito de forma simples, com o coração. E me identifiquei imediatamente com tudo que li. Não somente por haver passado pelo sofrimento real do COVID, mas por outros covids que enfrentei (e ainda enfrento com o luto ininterrupto pela morte de meu filho Marcos).

Creio que todos enfrentamos, em algum momento da vida, grandes perdas, provações, sofrimentos. E hoje consigo entender melhor as mãezinhas enlutadas, assim como tantos outros que vivem a dor do luto. E lendo o texto do Papa, vem à minha mente o momento em que enfrentamos com a Pandemia, e mais precisamente no como estamos vivendo. Porque muitas vezes seguimos a vida no piloto automático, quase sem atentarmos no como temos agido (ou reagido), se aprendemos lições importantes com tudo isso, se conseguimos olhar para as dores e necessidades dos outros, a praticar mais a misericórdia.

Desde a morte de meu filho tenho conhecido pessoas, por meio das redes sociais, que também perderam seus amados. E um trecho específico do livro me fez rememorar o que vivi, o que ainda vivo e escuto, em que o Papa tão bem identificou como os consolos superficiais:

“Daquela experiência aprendi outra coisa: como é importante evitar consolos superficiais. As pessoas vinham me visitar e me diziam que eu ficaria bem, que nunca mais sentiria toda aquela dor: palavras sem sentido e vazias, ditas com boas intenções, mas nunca chegaram ao meu coração. A pessoa que me tocou mais profundamente, com seu silêncio, foi uma das mulheres que marcaram minha vida: Irmã María Dolores Tortolo, minha professora quando criança, que me preparou para minha Primeira Comunhão. Veio me ver, pegou minha mão, me deu um beijo e ficou em silêncio por um longo tempo. Depois me disse: “Você está imitando Jesus”. Não precisava dizer mais nada. Sua presença, seu silêncio, me deram um profundo consolo”.

Repare como as pessoas que aquecem nosso coração são as que, mesmo sem dizer nada, retribuem com um olhar afetuoso, olhar de quem sabe amar, porque se identificam na dor do outro. E compreendi o relato dele quando comenta o exílio que enfrentou nos diferentes lugares em que teve que trabalhar; quando menina tivemos que trocar de cidade e recordo que não me sentia acolhida, mas descriminada (em vários aspectos). Muitas vezes fiquei literalmente sozinha, em grandes colégios, não me sentindo parte de nada.

E hoje, com minha trajetória de vida, rememorando também os lugares em que trabalhei, compreendo, mais do que nunca, o quão importante é acolhermos as pessoas, em todos os momentos, não importando as circunstâncias, oferecendo atenção, cuidados, delicadezas… Repare também que algumas pessoas são realmente especiais, diferentes (parecem destoar de tudo e todos), porque vivem em uma incansável ação no bem.

E não lhe parece, caro leitor, com todo esse contexto que vivemos, que questões envolvendo o ego, poder, dinheiro, descriminação (em todos os sentidos) serem por demais insignificantes, ou mesmo ridículas, tendo como parâmetro sua trajetória pessoal, tudo que temos enfrentado? Porque no final de tudo só nos restará a verdade de todo o bem que conseguirmos realizar. Experimente o exercício de se afastar de seus problemas, preocupações, dores, cansaços, de toda sua vida… e se pergunte o que realmente tem valido a pena - como diria Fernando Pessoa.

E, na esperança de retornarmos a sonhar:

“Deu-me mais tolerância, compreensão, capacidade de perdoar. Também me deixou com uma nova empatia para com os fracos e indefesos. E paciência, muita paciência, ou seja, o dom de entender que para as coisas importantes precisa tempo, que a mudança é orgânica, que há limites e que devemos trabalhar dentro deles e ao mesmo tempo manter os olhos no horizonte, como fez Jesus.[…] Aprendi que sofri muito, mas se você se deixar mudar, sairá melhor. Ao contrário, se você levantar barreiras, sairá pior”.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Fragmentos poéticos
Das páginas de um livro a aventura épica de heróis e heroínas por campos imaginários em distantes paragens. Nas laudas imaginárias os viscerais versos preenchem os recôncavos mais remotos dos indeléveis momentos. O afável e o inefável e a aspereza fragmentadas e o coração da humanidade em intermináveis flagelos.

Há na poesia uma sintonia, uma harmonia e a singeleza do viver. Mesmo que não queiram, mesmo assim as flores florescem. O amor quer sonhar e convida a vida para semear. O amor quer sonhar e convida a vida para colher. O amor e o fruto saboreiam o viver. Como se fosse algo que se desmanche no encontro consigo mesmo e no instante seguinte se refaça ao sabor das aleatoriedades. Como se fosse tão simples, tão singelo e tão sublime como algo indescritível. Na frenética fluidez momentânea, a impressão que fica é a artificialidade, tudo tem que ser nessa velocidade, caso contrário sai de cena.

Um caminho para o sol e uma estrada até a lua. O mundo aos nossos pés e as mãos que afaga o vazio da existência em busca de sentido. Um caminho longo e de difícil acesso é só seguir em frente que logo surge uma escada para o horizonte. E nas esquinas as palavras estão solitárias e quase não se falam somente se ouve o silêncio e o cantar das cigarras em uma tarde de verão.

 Em meio a tantos afazeres, o mundo em nós e as portas da percepção se abrem aos líricos olhares sob os quintais petrificados. Mudar o mundo, mas roubaram os nossos sonhos e plantaram o caos, onde havia um vasto jardim de esperança. Quem é o dono do mundo que faz da ordem a desordem total? Esquematizam os seus esquemas perfeitos e dizem que tudo é assim mesmo.

O mundo como está, a vida vai sendo reduzida, tudo está se desgastando, o que ontem era valoroso, hoje já pode ser descartado. Há um oásis entre os olhares, um filete de luz transpassa as lágrimas que cai sorrateiramente. Será que há algo que se perdeu na vastidão da incredulidade?

 Em si o semblante natural em uma moldura artificial. A imagem perene e o fulgor dos algozes que suga o suor alheio. Mesmo distante o sol queima e o deserto da alma na penúria do alvorecer. A saga humana e a história entre vitórias e derrotas de vilões que se passam como heróis.

Experienciando e vivenciando com vivacidade e intensidade todos os momentos. Não é o tempo que faz a pessoa, o tempo apenas molda aquilo que  já existe. A essência não muda e nem acaba, se intensifica. Deixe o tempo, intensifique os momentos e faça que seu instante se eternize no amor que perpetua para sempre. A vida em todas as suas possibilidades e tudo envolta é simplicidade.

O tempo é leve, é o vento, é a brisa. É o tempo que passa, é o tempo que já passou. E com ele muitas lições são aprendidas. Muitas dores são aliviadas. Mas o tempo deixa as feridas que mesmo curadas jamais serão cicatrizadas. Mas não importa o quão difícil seja, era só um tempo que passou e fez história. Fez do rio da vida o mais perfeito percurso.

Ah, esses dias, que antes de completar o seu ciclo perambulam de momentos em momentos até se findar em um novo dia, em um novo ciclo e assim segue. Felizes momentos no pretérito da vida. A leveza e a sutiliza sublimando o tempo que está por vir. Oh, primavera em que a felicidade fez a sua morada e semeou as flores do amanhã no jardim do por vir.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

Além dos sonhos...
Creio que não viveria, mas sobreviveria sem os sonhos... Eles nos permitem acreditar no devir. E talvez mais importante que sonhar seja colocar em prática tudo o que almejamos. Confesso que constantemente busco inspiração na vida de pessoas que trabalham na causa do bem; toda vez que leio sobre a vida e obra de algum santo fico muito emocionada (choro mesmo), pois percebo o quanto estou longe de realizar todo o bem que poderia...

Gostaria de compartilhar um pouco dos sonhos de Dom Bosco, pela forma como ele buscou inspiração nos sonhos, em que escutava o Senhor e colocava em prática por meio do cuidado que tinha com os pobres, com as crianças abandonadas. E ele me fez refletir também sobre um dos aspectos que considerava ser o pior que poderia acontecer a seus alunos: o pecado do orgulho. E me parece que este pecado tem passado despercebido no atual contexto em que vivemos. Creio que todos sabemos o que seja a soberba, mas talvez seus frutos não sejam imediatamente reconhecidos: a presunção, a autossuficiência (tão comum hoje em dia...), a arrogância, prepotência (a tirania mascarada, em que muitos tentam impor aos outros suas crenças religiosas, políticas, arf), autopiedade (colocar-se na situação de vítima), astúcia (a insídia... que ainda me assusta), a malícia, a vaidade (o desejo de aparecer, de se exibir, de ser reconhecido).

Só por estes frutos teríamos muito a refletir... E veja que este comportamento é mais comum do que imaginamos; acontecem nas vivências do cotidiano, nas relações familiares, nos grupos de whatsap (repare que nos grupos tem sempre alguém na espreita, vigiando, esperando o momento em poderá impor ao outro seus pensamentos, sejam eles políticos ou religiosos). Também a atitude vitimizadora, que fomenta a desesperança; creio que todos conhecemos alguém que reclama de tudo, que sempre é a vítima (oh dia, oh azar!), que não exprime gratidão (contabiliza sempre o que perdeu).

E, em um processo de mea-culpa, acho que possa ter incorrido nesses comportamentos. A realidade é que dificilmente percebemos nossas limitações, erros, defeitos, pois é mais fácil ver as falhas alheias; somos cegados pelas barreiras do ego, da autoilusão. E mais difícil ainda é tentar encerrar com os ciclos familiares, com comportamentos que diversas famílias carregam, como estigmas, atitudes perpetuadas de geração em geração, que se evidenciam. Em algumas pode predominar a arrogância, a malícia, o sarcasmo, sendo este comportamento visto como uma forma natural de tratamento entre todos; em outras a avareza é um sinal comum (pecado da idolatria), o guardar para si, o acúmulo de coisas.

Os ciclos são muitos e repare que talvez haja um paradigma subliminar que envolva quase todos nós, mas como perceber isso, já que faz parte da tradição familiar. Algumas famílias parecem ficar presas no tempo, sempre nas relações conturbadas, como que procurando litígio, confusão com alguém, seja familiar ou não. E mesmo o ato de não perdoar pode ser uma marca comum, em que os filhos não aprenderam na infância a amar o irmão.

O ato de refletirmos sobres esses padrões, ciclos, possibilita o reconhecimento e a abertura para as mudanças. Mais importante ainda é a aceitação, a compreensão das vulnerabilidades, das limitações próprias, assim como dos outros. E desejar (de todo o coração) modificar o padrão de comportamento, em uma atitude de humildade, de acolhimento.

Difícil? Certamente. Por isso precisamos do auxílio da Graça. Em Jesus conseguimos ir além ... por que Ele nos presenteou com a Misericórdia (tenho pedido a Deus que retire a venda de meus olhos para que enxergue meus defeitos, pecados e seja todavia lenta em enxergar os dos outros). Recordo quando na adolescência recebi uma explicação que marcou para mim, que mostrava a diferença (gritante) entre piedade e misericórdia. Piedade é quando vemos um cãozinho ferido na rua, maltratado, doente, e ao olharmos sentimos dó. Mas prosseguimos. Misericórdia é quando nos deparamos com este animal em situação miserável, sofrível e em vez da pena escolhemos cuidar dele, agirmos para modificar a triste realidade que se nos apresenta (em todos os sentidos...).

 Isto representa ir além... E merecemos a chance de construir uma nova história.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


A lógica de nós mesmos
O que nos motiva? Alguém pode responder: A vida, o fato de estar vivo, isso é o suficiente. Mas será que todas as pessoas pensam assim? É claro que não. Cada pessoa é um universo, é única, e só ela sabe sentir as suas dores e suas necessidades. A lógica de tudo se perde no vazio do nada. E assim é a vida, é a loucura e a lucidez e a lógica de nós mesmos.

A vida é simples e ao mesmo tempo é complexa. É a esperança que se faz presente e depois dorme a realidade para sonhar outras noites e acordar outros dias. Nessa simplicidade e nessa complexidade, muitas pessoas relativizam o que até então eram visto como absoluto.

O simples e o complexo, o individuo e a individualidade em uma sociedade competitiva. Quem somos nós diante de tudo que nos apresentam? O que buscamos? E por que buscamos algo que nem se quer sabemos o quê? E se sabemos, será que nos satisfaz?

A necessidade e o desejo. Será que o que nós buscamos é necessidade ou desejo? Vivemos na saciedade de desejos. Quanto mais saciamos, mais desejamos. E nessa voracidade incontrolável será que desejamos o que satisfaz a nossa necessidade?

Será que tudo que consumimos é necessário? Quero deixar bem claro, não sou contra o consumo. Todos nós precisamos consumir, precisamos saciar as nossas necessidades básicas para viver dignamente. Mas o que se vê hoje é um consumismo desenfreado, e isso se define a partir do momento em que as coisas passam a ter você e não você a ter as coisas. A necessidade de ser é substituído pelo desejo de ter, e ter sempre mais. É a lógica do consumir por consumir. Parafraseando o filósofo René Descartes: consumo, logo existo.

Hoje em dia somos apresentados a todo o momento a uma nova tecnologia, cada vez mais rápidos e mais potentes. Tudo é volátil, o que importa é saciar os desejos, mesmo que para isso esquecemos as virtudes, aquilo que nos constitui como seres humanos, éticos e responsáveis pelas nossas ações.

São os resultados que interessam. Os erros são punidos, não se permitem errar. A racionalidade e a “maquinização” do ser humano, o que importa é a produção. E nesse processo, muitas pessoas são descartadas como peças de uma engrenagem.

E nessa luta consigo mesmo, como o bem e o mal, o divino e o profano. Caminhamos na incerteza de que a única certeza é a finitude da vida terrena. O momento agora é o que temos, é o percurso, o curso que se faz o ir em frente sem temer o que virá. O medo, a mentira e a ganância humana nos fazem refém de nós mesmos. A fome de pão e a sede de justiça roubam-nos a dignidade e joga uns contra o outro num jogo em que todos são perdedores. A barbárie e a civilidade e a legalidade de tudo que é espúrio. Nos bastidores do poder, o poder da barganha e a ética são deslegitimadas. O deus mercado e a competitividade como a única forma de triunfar e a única forma de premiar os vencedores.

E as manhãs esperançadas e os sonhos dos bravos sonhadores que jamais se darão como vencidos. A vida, uma dádiva de Deus, um presente que é concedido a todo o momento. Um instante e um respirar, um inspirar inalando os fluídos de uma brisa suave sublimando a beleza e a leveza do viver. Esperançar a vida é vivê-la incondicionalmente à sua plenitude. Plena e altiva, na plenitude e na altivez. A divina graça de congratular com o todo, partilhando emoções e compartilhando a bondade mesmo nos infrutíferos momentos. 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


Estava Jesus predestinado a morrer?
É comum haver explicações, por diversas doutrinas, que defendem que Jesus estava predestinado a morrer. Mas será que Ele precisaria realmente morrer por nós? Sua entrega, o fato de Ele ter aceitado morrer por nós, faz parte de um plano de salvação de Deus, de redenção. Mas tudo poderia ter sido diferente, houvessem as escolhas sido outras... A partir do momento em que o pecado da desobediência, da soberba, foi escolhido, tanto no plano angelical como pelos seres humanos, e colocado acima do amor a Deus, o mundo entrou em processo de decadência. A morte de Jesus poderia ter sido evitada se não houvesse a insídia, a malícia, a deformação: a evidência do mal.

Jesus não precisaria passar pela horrível morte de Cruz. Deus não predestinou morrer por nós. É muito diferente do que comumente imaginamos. Ele decidiu vir; aceitou morrer, não porque estava predestinado a isso, mas como forma de invalidar o mal. Veja você a dimensão deste amor incomensurável: um Deus que se deixa abater, que se deixa morrer na cruz diante da imensidão de Seu amor por nós. Pode haver um ato de maior humildade? A história registrou o assassinato de um Rei: o Rei dos reis. Mas poderia ter sido diferente. Nossas escolhas também poderiam ser outras...

Quantas vezes nós também enveredamos pelo caminho da autossuficiência, a partir do momento em que negamos a presença de Deus, quando decidimos caminhar por conta própria. Assim, nos perdemos em meio a seduções mundanas, no teatro do cotidiano, acreditando que não precisamos da união com Ele. E tanto maior é a separação na medida em que já estivemos em Sua presença, na medida em que já fomos tocados por Ele, mas mesmo assim O negamos: 

“Por isso, eu vos digo: todo pecado e toda blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoa­da”. (Mat 12,31)

Que significa isso? Confesso que não conseguia entender esta passagem... mas ao buscar entendimento, lendo textos de Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, compreendi que esta blasfêmia ocorre quando deliberadamente decidimos abandonar Deus, mesmo após o encontro com Ele, mesmo após recebermos o Espírito Santo. Isso acontece quando sabemos que algo é errado e mesmo assim decidimos fazê-lo; temos consciência de que é pecado, mas seguimos agindo no mal (é o pecado da corrupção). Quando fazemos esta escolha o Espírito Santo se retira. E a partir deste momento o coração começa a se fechar, há o endurecimento para as ações no bem. Aos poucos já não nos reconheceremos mais...

Porque sem Ele somos fracos, impotentes; nossa condição humana não nos permite ir além das aparências, da realidade terrena. Para alçarmos voo ao céu precisamos da Graça. Confesso que muitas vezes afastei o Espírito Santo, pelo meu comportamento, atitudes, pelas escolhas que fiz, mesmo que por vezes de forma inconsciente. A verdade é que o Livre arbítrio existe; por ele escolhemos nossas ações. E no final de tudo: hão de nos medir os passos...

Em uma última reflexão, ouvi certa vez de uma pessoa familiar, que muito amo, que Deus foi extremamente cruel ao enviar seu próprio filho para morrer por nós. Então, respondi imediatamente: Mas e se o próprio Deus decidiu vir? Tudo fica diferente, não é mesmo? Sim: Ele em pessoa veio até aqui, aceitou morrer, cumprindo tudo o que havia sido escrito sobre o Messias, sobre o Redentor. Não por predestinação, mas por presciência. Ele sabia tudo o que ocorreria. E mesmo sabendo de tudo, criou em todos nós o Livre arbítrio. Porque não nos quer marionetes, ou robôs. Temos o poder de decisão, de escolha. E é esta escolha pessoal, livre, que poderá nos aproximar ou nos afastar dEle.

Assim, Ele veio (Ele vem!) Não por predestinação, mas por escolher nos amar, incondicionalmente, em um amor inimaginável! Amor que talvez um dia haveremos de compreender... e que já conhece todo aquele que está diante da Sua Presença.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Uma simples provocação
Inicio essa coluna, citando Caetano Veloso, que diz: “alguma coisa está fora de ordem. Fora da nova ordem mundial”. Alguma coisa ou muita coisa, além de está fora de ordem, parece não fazer nenhum sentido. Que sentido deveria ter as coisas e qual é essa nova ordem mundial? Em se falando de Brasil, será que é algo surreal dizer que a nova política, seria essa nova ordem? Você pode me questionar, dizendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Se não tiver, serve apenas como uma simples provocação.

Tudo está acontecendo de uma forma um pouco atabalhoada, só não sei, se isso é intencional ou falta de capacidade mesmo. A nova ordem mundial, o mundo pós-pandemia e o tabuleiro político esperam a próxima jogada. O mundo de olho na eleição norte-americana. Enquanto na Bolívia, pesquisas apontam a vitória do candidato socialista.

Enquanto isso a economia chinesa volta a crescer depois de ser o epicentro da pandemia no continente asiático. E no Brasil o aumento da cesta básica impacta na renda da população brasileira, é lógico que os maiores impactos são nas famílias de baixa renda. Entre os itens que encareceram a cesta básica, o arroz foi o grande responsável. 
Economistas explicam os vários motivos desse aumento. Vão aqui alguns: devido a pandemia as pessoas ficaram mais em casa aumentando o consumo das famílias. Outra causa foi o aumento da exportação que provocou uma diminuição do produto para o consumidor brasileiro. Também há outro motivo que não é aceito pelo governo, que foi a preferência em abastecer o mercado externo, o mercado chinês é um exemplo disso. Essa escolha provocou o desabastecimento do mercado interno, provocando a alta de preço.

Em relação à política social que beneficia as pessoas de baixa renda ou nenhuma renda, é bom lembrar que quando o Presidente Jair Bolsonaro era parlamentar, ele sempre foi um crítico férreo do programa Bolsa Família (programa de transferência de renda para famílias vulneráveis). E não foi diferente nesse momento crítico, que antes da pandemia já não era dos melhores. Todos sabem que o auxílio emergencial foi uma negociação muito difícil entre governo e oposição para ser aprovado.

Mas hoje a ideia é outra, de posse do auxílio emergencial, vendo a sua popularidade subir nas pesquisas, ele que era totalmente contra a esse tipo de benefício, percebeu que pode tirar proveito político de um programa social. Por isso que a equipe econômica está tentando achar uma brecha no orçamento para criar um novo programa, pois o auxilio emergencial acaba em dezembro. Então é preciso criar um programa com marca desse governo, já que o programa bolsa família tem a marca petista.

São tantas coisas que estão fora da ordem. São tantas banalidades acontecendo. E o pior de tudo é que tudo isso que está acontecendo passou a ser normal. Normalizou-se a anormalidade, dá a entender que a desordem e o retrocesso é a nova bandeira empunhada por essa política conservadora e reacionária.

O diálogo foi substituído pela estupidez. O Brasil do retrocesso vira as costas para o progresso em nome do seu projeto de poder. O aparelhamento do estado para defender os privilégios concedidos pelo poder continua a todo vapor. Acabou a corrupção, não há mais o que investigar. E de delírios em delírios a nova política vai se assentando entre o fanatismo e o conservadorismo, pavimentando o seu caminho rumo a 2022.

Aqui em terras tupiniquim as coisas vão seguindo daquele jeito que a gente já conhece. O país ainda mais dividido. Temos de um lado à esquerda demonizada e a direita com a pátria e a família em profundo patriotismo com a missão de salvar o Brasil. E Amazônia e o pantanal continuam em chamas e o ministro do maio ambiente parece que não gosta do meio ambiente. Enquanto isso, o vice-líder do governo no senado foi flagrado com dinheiro escondido na cueca. E de absurdos em absurdos, as coisas estão acontecendo das formas mais inusitadas que jamais se viu.

Aguardamos os próximos acontecimentos, nessa aventura chamada Brasil. Já estava esquecendo, que daqui mais ou menos três semanas temos as eleições municipais. Vamos ver como irão se comportar os eleitores e qual serão os cenários políticos para o próximo ano. Finalizo essa coluna, citando o sociólogo alemão Ulrich Beck, “Pensar globalmente, agir localmente”.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


A responsabilidade do voto
Vamos falar de política. Para alguns esse assunto é chato, é um tema que não diz respeito. É preciso falar de política, ainda mais agora que estamos em plena campanha eleitoral e menos de um mês para as eleições. Eu não gosto de política, é comum ouvir esse tipo de comentário. Lembrando que somos governados por quem gosta muito de política e uma grande parcela dessa classe faz da política a sua profissão.

A política é uma ciência social. Não podemos confundir política com político. A política em si é algo para promover o bem comum. O político é o sujeito que faz uso da política. O mau político pratica a má política, utilizando para benefícios próprios. A política tem como propósito melhorar a vida da sociedade. Infelizmente não é isso que estamos presenciando, são muitos os noticiários de desrespeito com o bem público. Essa forma de fazer política é algo que se pratica nos bastidores do poder, praticada pelos profissionais da política.

Falando dos poderes executivos e legislativos na esfera federal, estaduais e municipais, sabemos que todas as decisões tomadas nessas três esferas têm consequências em nosso dia a dia. Como estamos próximo das eleições municipais, será mais propício nesse momento enfatizar esse evento, que é pleito eleitoral que queiramos ou não estamos envolvidos. Cabe a cada um de nós o compromisso de escolher os nossos próximos representantes no legislativo e no executivo.

No dia 15 de novembro como todos sabem vamos escolher o chefe do executivo municipal, o prefeito que irá administrar o município pelos próximos quatro anos. Escolhido como representante do poder executivo, é o prefeito quem encabeça a administração municipal, gerindo a gestão da coisa pública. E como responsável pelo controle do erário público, do planejamento a concretização de obras, em benefício da população.

As funções que são atribuídas ao prefeito como, a elaboração de políticas públicas para saúde, educação, habitação, entre outros fatores relacionados ao bem comum e a qualidade de vida dos munícipes. O termo empregado já deixa bem claro, é o poder executivo representado pelo prefeito que tem a função de executar, por em prática o conjunto de intenções do governo municipal (prefeito eleito) para realizar determinada obra, projeto, programa ou políticas públicas.

Ao prefeito também cabe sancionar ou vetar as leis aprovadas em votação pela câmara e também cumpri-las. Com todas essas atribuições, é preciso frisar, o prefeito não governa sozinho, depende de apoio político do legislativo municipal (câmara de vereadores), assim como de outras esferas governamentais, como do governo estadual e federal.

Outro aspecto importante a ser mencionado, o prefeito precisa montar a sua equipe de trabalho como, assessores e secretários. Pode-se dizer que os secretários são braços da prefeitura em setores importante, são pessoas de total confiança e a responsabilidade pela escolha é do prefeito. Cabe aqui uma pergunta: Quais são os critérios para a escolha do secretariado? Em princípio as escolhas deveriam ser técnicas, mas nós sabemos que a maior parte dessas nomeações são políticas. Isso é tão comum que passou a ser regra. Esses cargos são negociados, por isso que na maioria dos casos, essas nomeações são puramente de caráter político, faz parte do acordo e do apoio.

O legislativo municipal equivale ao legislativo federal que sem o qual o presidente não governa. O poder executivo precisa do apoio dos vereadores para governar. Por isso não podemos nos prender em apenas eleger o prefeito que acreditamos que será o melhor. Da mesma forma temos que eleger o melhor para compor o legislativo. A nossa responsabilidade como eleitores e eleitoras, é eleger pessoas comprometidas com o município.

Eleger os mesmos que pouco ou nada fizeram ou eleger pessoas sem o mínimo de preparo e conhecimento em políticas públicas ou ao menos que saibam as funções do legislativo? Temos o poder de escolha. Mas não vamos cair em discursos fáceis, em promessas mirabolantes. Sejamos conscientes, escolhendo aquele ou aquela que melhor nos representará pelos próximos quatro anos. Que o executivo e o legislativo trabalhem pensando no melhor para o município e que o desenvolvimento seja para toda a população.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


O que domina você (Segunda parte)
Resolvi continuar este artigo porque após sua publicação recebi um argumento contrário a tudo quanto eu havia proposto. Vou retomar o texto anterior e no final colocarei a indagação de um leitor. A história de Judas sempre me causou tristeza e também inquietação, pois ele traiu Nosso Senhor. E na verdade eu queria entender o motivo desta atitude. Confesso que nunca consegui ter raiva de Judas, mas sim muita pena, pois apesar de ele ter vivido junto ao Mestre, não compreendeu a dimensão de Seu amor.

Então fui buscar compreensão novamente nos Evangelhos, fiquei me perguntando o motivo da traição, e do significado deste trecho em particular:

“Depois de dizer isso, Jesus ficou interiormente perturbado e testemunhou: Em verdade, em verdade, vos digo: um de vós me entregará”(Jo, 13,21).

E ao ler o texto acima comecei a matutar: Como assim… Jesus ficou perturbado? Mas Ele é Deus! Porém, refletindo sobre as Escrituras, com todos os relatos da vida e obra de Jesus, compreendi que a perturbação demonstra também a humanidade de Cristo. Mas creio que a perturbação a que se refere o Evangelho é muito maior do sequer cogitamos: Jesus amava Judas, queria o apóstolo com Ele no reino de Deus; tentou de todas as formas mostrar a ele a dimensão de Seu amor, a razão de Sua vinda e missão, mas Judas não aceitou. Ele negou a presença do Espírito Santo. Ele se decidiu pelo mal, apesar de tudo o que Jesus fez por ele. (Já tentou falar sobre compaixão, sobre perdão com alguém que tem o coração duro?).

Na verdade, Judas não se deixou tocar. Estava preocupado com a revolução pelas armas, com o poder, a tomada de Roma – com as lutas terrenas, conquistas mundanas. A ilusão terrena o cegou; ele não almejava conquista alguma que não fosse terrena, política e imediata. Então Judas rejeitou e traiu Jesus. (Não é isto que também acontece conosco, quando escolhemos permanecer na cegueira espiritual?)

Cada um de nós, de uma maneira particular, recebe o amor de Deus, seus ensinamentos, o convite para que estejamos com Ele, para que O aceitemos. Mas mesmo assim, podemos rejeitar esse Amor, optar pela traição, diante das escolhas que fazemos, escolhas estas em que muitas vezes não inclui a caridade, a generosidade, o cuidado com o outro, o perdão, a oração.

Se olharmos a história de Pedro veremos que o pecado dele foi maior que o de Judas. Pedro rejeitou Cristo por três vezes. Mas a diferença crucial entre eles é que Pedro pediu perdão, arrependeu-se, acreditou na Misericórdia do Senhor (que é maior do que a justiça). Judas ficou preso ao remorso!

E o que ouvi sobre meu texto anterior é que se Jesus sabia que seria traído por Judas indicava que era porque Deus já havia determinado isso, ou seja, dizia que ele havia sido predestinado a ser traidor. Respondi que isso seria acreditar no determinismo (é uma visão limitada, reducionista). Expliquei que Deus é puro amor, que jamais escolheria alguém para ser o traidor do Messias. Não. O que ocorre é que Ele é onisciente: conhece o passado, o presente e o futuro. Assim, sabia de antemão como Judas agiria, que escolheria entregar Jesus, apesar de todo o amor do Mestre por ele. Judas não veio predestinado a trair, mas pelo livre arbítrio escolheu agir assim.

E encontrei nas palavras de Pedro o que tanto procurara: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são estrangeiros… eleitos segundo a presciência de Deus Pai, e santificados pelo Espírito”. (1 Pedro 1: 1,2)

Presciência significa que não existe a predestinação dos eleitos, como afirmam algumas doutrinas. No estudo e meditação da Sagrada Escritura veremos que aparece em vários textos a mensagem de que Deus tem seus eleitos, como Daniel, David, José, dentre outros. Mas isto não significa que eles foram escolhidos por Deus os amar mais do que os demais. O amor de Deus é muito grande, não faz distinção de pessoas. O que ocorre é que, sendo Ele onisciente, conhece o que se passará com cada um de nós, sabe quem são aqueles que lhe serão fiéis: até o fim! Assim, todos os que aceitam Seu chamado são como filhos amados, tratados como eleitos, predestinados a estar com o Senhor.

Para Judas, digo com convicção: não precisaria a corda. O remorso não pertence a Deus: basta o arrependimento!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Paradoxo
Falando um pouco de tudo, sobre o nada e sobre o todo. Sobre coisas que nos dizem respeito. Os erros e os acertos, a mentira e a verdade e a ilusão de todos os dias. A literatura humana e o paradoxo do mundo no paradigma do conhecimento. O texto e o contexto, o fazer já se desfazendo perpassando o escuro em um feixe de luz.

A vida e todas as suas peripécias, o mundo e a obscuridade momentânea. As teorias conspiratórias e os terraplanistas se emergem sob a esfera terrestre. A negação da ciência. Deus, pátria, família e a Amazônia e o pantanal em chamas, sob a égide do patriotismo.

Certamente, há incertezas entre dúvidas, como um campo verdejante e flores para florir. O conhecer a vida, o conhecimento que nos leva a sanar todas as dúvidas. Ledo engano, se todas as dúvidas forem sanadas, se finda o conhecimento. Alimenta-me a dúvida e nutri-me o conhecimento. O racional, o irracional e os reacionários.
  
De quantas dúvidas se faz uma certeza? O caminho é longo, mas daqui onde me encontro posso vislumbrar a sua infinitude. A perplexidade de se maravilhar com a vida. Se alegrar com as pequenas alegrias e convidá-la para se alegrar conosco. A tese, a antítese e a síntese e outra tese e assim segue o caminho em busca de novos conhecimentos.

O conhecimento é um horizonte que se abre para novas possibilidades. Uma ponte que nos leva a vislumbrar o infinito que está em nós. Alimento minhas dúvidas e sigo as minhas as certezas, ao segui-la vem à incerteza e indica outros caminhos, dizendo para olhar o mundo com diferentes olhares.

A fronteira entre o conhecido e o desconhecido, entre a certeza e a incerteza e tendo a dúvida como ponto de partida. Imaginar o conhecimento e inventar outra imaginação, imaginando outras dúvidas. O conhecimento é uma ilha cercada por um mar de dúvidas, quanto mais aumenta essa ilha do conhecimento, mais aumenta o mar de dúvidas.

As feridas ainda não cicatrizadas, o medo e a pós-verdade sob as vitrines do tempo. O poder, a truculência, a banalidade e as dores latentes dos corações aflitos. O poder da arrogância e o conhecimento usado de forma distorcida para disseminar o ódio em nome de uma suposta maioria e de uma falsa normalidade.

O extraordinário, o esplêndido e o inexplicável. A vida acontecendo, e tudo sintonizando com o todo. Como canta Milton Nascimento “Abelha fazendo mel Vale o tempo que não voou”. Tudo é tão fascinante, é um vislumbre que perpassa a sublimidade do viver. É o colorido do arco-íris, a aquarela do infinito e a brisa suave das quiméricas tardes.

O mundo como conhecemos, é um verdadeiro desconhecido que perpassa os nossos olhares. A vida, o respiro da vida, a saga humana em busca de si mesmo. E nessa busca nos perdemos em nós mesmos. Não observamos que a porta continua entreaberta e que os caminhos sempre estarão a nossa disposição, é só caminhar.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


O que domina você (Primeira parte)
No mundo em que vivemos é muito fácil ser dominado por alguma coisa; pode ser pelo ato de comprar, o consumismo, vício em jogos, TV, redes sociais, futebol (há pessoas que controlam suas agendas de acordo com o horário dos jogos na TV), o hábito da fofoca ou a maledicência (que parece um pecado menor, mas é um ato insidioso), ser escravo do mau humor, de um temperamento difícil, ou talvez o mais avassalador: o vício nas drogas (raramente conseguem se libertar por conta própria).

Cada pessoa é escrava daquilo que a domina. Ser dominado significa ser subjugado, vencido. Existe algo na sua vida que domina você? O problema é que muitas vezes nem sequer temos consciência de que algo nos escraviza, de que estamos subjugados.

Quando estava reescrevendo este artigo (para um livro) percebi que não seria correto de minha parte escrever sobre um tema que fala de domínio próprio, de ser senhor de si, quando eu mesma me sentia dominada por algo. Assim, decidi abandonar um vício que tem me acompanhado por longos 15 anos: beber café todos os dias! O leitor poderá achar estranho, com um certo grau de severidade de minha parte (como uma penitência imposta ou masoquismo mesmo), considerando que beber café pode trazer diversos benefícios, e certamente é muito prazeroso, tanto o aroma como o sabor, principalmente os tipos de qualidade (e eu amo café feito no bule, de um jeitinho todo especial… ai que delícia).

Enfim, decidi romper com esse vício porque percebi que estava com uma dependência química por ele, em que a abstinência da cafeína causava transtornos em minha vida, tanto pelas fortes enxaquecas, dentre outros sintomas, como pela limitação de minhas escolhas. A decisão de parar ocorreu também porque cada vez que viajava para algum lugar distante ficava condicionada a tomar meu cafezinho, e caso não conseguisse a dor de cabeça aparecia, causando transtornos e debilidades. E nas diversas vezes anteriores em que tentei parar tive dores de cabeça tão intensas que cheguei a ser hospitalizada em duas ocasiões. Então percebi que aquele vício estava fugindo do meu controle, limitando minhas escolhas e até mesmo o fato de tentar romper com ele era difícil, pois causava sofrimento.

Confesso que não foi algo fácil, porque a ausência do café causou dores muito fortes, enxaquecas intensas que não passavam com nenhuma medicação, com sentimentos de irritação, ansiedade extrema, agitação, misturados à letargia, apatia… vixi! E não foram apenas três dias como indicam algumas pesquisas, mas cerca de três semanas de tortura (quase desisti).

Todavia, agora que me libertei da dependência da cafeína estou livre para decidir sobre minha alimentação, sem estar refém de algo (iupii, ihuhu) e, o que é melhor: sem dores de cabeça (o café causava também um efeito rebote). Não significa que nunca mais bebi café (é tudo de bom né, iupii), só que agora tenho o cuidado para não ficar dependente novamente: tomo às vezes, em dias alternados e em pequenas quantidades.

Reconheço que a abstinência não é algo fácil, mas eu não poderia escrever sobre este tema sendo eu mesma dominada por algo, ainda que inofensivo, pois não provoca o mal a outras pessoas, como é o caso das drogas, do uso abusivo das bebidas alcoólicas, dentre outras. E como ocorre em todo processo de cura e libertação, o conhecimento é importante, mas também o apoio espiritual, porque somos fracos, humanos.

Essa minha busca incessante por entender o processo de dominar as paixões, como já ensinava Aristóteles, como ensina a Bíblia, me fez descobrir um comando que tem me ajudado: acima da nossa mente está a alma; acima da alma há o espírito; acima do espírito há Deus! (maravilhoso isso!). Confesso que este entendimento foi decisivo para mim. Porque não estamos abandonados: há um Deus que vela por nós, que cuida e nos ama infinitamente. E repito sempre este comando, principalmente quando percebo uma agitação interior, um sinal de ansiedade… Assim, interrompo o medo, desmonto os pensamentos, mudo os sentimentos.

Perceba que tem coisas que dependem somente de Deus; outras de nós e da ajuda de Deus. E há aquelas que dependem somente de nós mesmos.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


A nossa política de cada dia
Já que estamos em campanha política e a caça aos votos já começaram, nada mais oportuno do que escrever sobre política. Por onde e como começar esse texto? Não tenho a mínima ideia, tenho que achar o “fio da meada”. Escrever sobre política, sobre os políticos e sobre o nosso cotidiano diante da política e dos políticos. A política é suja, é comum ouvir isso em meio a tanto lamaçal político, promovido pelos maus políticos, que distorce o verdadeiro sentido da política. A política é um instrumento para gerir a coisa pública, cujo objetivo é a promoção do bem comum.

Desenrolar esse novelo e entender como a aranha tece a sua teia. É muito simples escrever sobre política, sim pode ser que seja simples, depende o que você entende por política. Não vou generalizar, mas há políticos que torcem pelo desinteresse da sociedade pela política. Quanto maior o desinteresse da sociedade pela política, maior é o interesse dos políticos pela política.

Será que cabe a quem não é candidato o total desinteresse pelo assunto, e tendo apenas o compromisso de eleger quem quer que seja? Acredito que não, isso foi apenas uma provocação, a sociedade já está bem mais consciente que o nosso compromisso vai muito mais além do voto.

Todos nós queiramos ou não estamos envolvidos e somos envolvidos pela política. No Brasil o voto é obrigatório, todos sabem disso. Votar é uma forma de fazer política, escolhemos nossos representantes pelo voto. Muito bem, então fazer política é somente de quatro em quatro anos? Nós escolhemos nossos representantes a cada quatro anos, seja para o executivo ou para o legislativo. Nessa eleição como todos sabem iremos escolher o representante para o executivo que é o cargo de prefeito e os representes do legislativo, que são os vereadores.

Votar é uma das formas de exercer a nossa cidadania e a nossa contribuição para o processo democrático. Seguindo essa linha de raciocínio, é por isso que a nossa participação na política tem que ser mais efetiva e mais engajada. O exercício de cidadania depende de como o poder político está estabelecido. Se existem a colaboração e a participação da comunidade na elaboração de projetos que atendam os anseios da sociedade. “Os ausentes nunca têm razão (Mario Sergio Cortella - filósofo e educador)

Em quê a política interfere no nosso dia a dia? Como é a nossa participação política na sociedade e como eu, você, nós participamos? E a política partidária? Precisa ter filiação partidária para concorrer ao um cargo seja no executivo como na câmara legislativa. Mas, posso muito bem exercer as minhas condições políticas, mesmo não exercendo atividades partidárias. Segundo Aristóteles “o ser humano é um ser político”. Todas as nossas ações é uma ação política, queiramos ou não.

Em tempo de eleições, nos apegamos aos mesmos preceitos que ditam todas as nossas escolhas. Estude o seu candidato, procure saber o seu passado se há algo que o desabone. Quais as suas propostas e o seu compromisso com o município. Será que todos os candidatos que nos apresentam estão aptos a ocupar os cargos por eles pleiteados? E nós, cidadãos e cidadãs sabemos quais as funções do executivo municipal (prefeito) e do legislativo (câmara de vereadores)?

Política é a capacidade do ser humano em criar diretrizes que organize a vida em sociedade. A política também faz referência a tudo que está ligado ao Estado. A característica fundamental do Estado é promover o bem comum. Quando se fala em política, passa a ser normal ouvir alguém falar que a política é coisa suja, deixe a política para os políticos, não quero me meter nisso.

Até entendo as pessoas que pensam dessa forma, embora não concordo com essa posição. A ação dos políticos atualmente deixa margem para desconfiança. Pois, são pagos por nós, somos nós que sustentamos toda máquina pública, pagando os nossos impostos. Exercemos os nossos compromissos com o Município, com o Estado e com a Federação. Sabemos que o serviço público deixa muito a desejar. Os tributos e impostos pagos por nós deveriam voltar em forma de benefícios, como: educação, saúde, moradia, saneamento básico, cultura e lazer e outros, mas não é bem assim que acontece. Por isso, esse momento é importante, vamos escolher o chefe do executivo que é quem que vai gerir toda receita do município de forma responsável que atendam os anseios da população. E a câmara de vereadores que tem o compromisso de legislar em prol do município.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


A soberba...
Eis o que diz o Senhor Javé: Eras um selo de perfeição, cheio de sabedoria, de uma beleza acabada. Estavas no Éden, jardim de Deus, estavas coberto de gemas diversas; sardônica, topázio e diamante, crisólito, ônix e jaspe, safira […] Foste irrepreensível em teu proceder desde o dia em que foste criado, até que a iniquidade apareceu em ti […]

Teu coração se inflou de orgulho devido à tua beleza, arruinaste a tua sabedoria, por causa do teu esplendor; precipitei-te em terra. Ez 28, 12-19

O livro do profeta Ezequiel traz ensinamentos profundos; ele adverte que a soberba precede a ruína… Muitos teólogos seguem a linha de que o mal em si não existe; não desejo entrar em polêmicas ou antagonismos, mas fico com a linha ortodoxa. A reflexão sobre a deformação causada pela soberba (o primeiro pecado angelical) possibilita entendermos a evolução do mal.

O pecado da soberba está na base de muitas maldades, violências e perversidades humanas. Muitas guerras foram provocadas pelo orgulho. É um estado de autossuficiência e egolatria em que o ser humano pensa ser como Deus – ou que um dia virá a ser, por meio da evolução e merecimento pessoal (teoria da Nova Era, dentre outras). O orgulhoso se considera superior aos outros. Este comportamento afeta as convivências, causa separações, divisões, podendo acontecer até mesmo nos lugares que deveriam ser sagrados: lares, igrejas. E este orgulho desmedido revela a posição em que colocamos nosso ego…

A soberba está na raiz de todo o mal; ela nos afasta do amor de Deus. A pessoa passa a achar que possui poderes, que seus valores estão acima dos demais, que ser humilde ou pedir perdão demonstra fraqueza, inferioridade. (O ato de se desculpar e de perdoar revela muito sobre a pessoa). E quando recusamos a bondade, a Graça, o coração vai endurecendo, tornando-se amargo, sombrio, mesquinho... No lugar da humildade entra a vaidade, o ego fica inflado.

E gostaria de refletir sobre este inflar. Santo Agostinho traz uma revelação profunda, e confesso que desconhecia:

“Pois bem, a presunção de espírito envolve audácia e soberba; e dos soberbos diz-se, vulgarmente, que são espíritos fortes; e com razão, uma vez que ao espírito também se chama vento. E quem ignora que aos soberbos se chama inflados, como se estivessem inchados de vento?” (“Sobre o Sermão do Senhor na montanha”).
Repare como a pessoa soberba (cheia de vento!) está realmente tão cheia de si que não sobra espaço para a elevação espiritual, seus olhos ficam fechados para a dor do outro ... E esse vento está carregado de insídia, malícia, arrogância. E dificilmente conseguiremos uma convivência pacífica, amorosa com eles. (Todos os ditadores foram (são) soberbos. Colocaram-se acima de Deus!).

Após ler Santo Agostinho compreendo melhor a que Jesus se referia no “Sermão da Montanha”: Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus”. Mat.5,3

Pense em todas as pessoas humildes que você conhece; geralmente trazem uma pureza, uma simplicidade que abraça nossa alma. E elas nos fazem tão bem porque a malícia não lhes corrompeu o coração. E é a esta pobreza de espírito que Jesus se refere, para que não nos enchamos de vento, para que não imitemos aquele que foi precipitado dos céus...

A verdade é que as coisas mundanas nos envolvem de tal maneira que raramente conseguimos compreender que não somos terrenos, que fomos criados com um propósito e que os planos de Deus são maiores que os nossos. E quando não aceitamos isso, quando não reconhecemos nossos erros, não perdoamos (aos outros é a nós mesmos) entramos em um estado de acusação, de separação, em que não conseguimos ver a Misericórdia. Quantas pessoas também se revoltam contra Deus diante das doenças, das provações, da morte de entes queridos.

Rememorando que somos cidadãos celestiais. Reconhecendo que o que vivemos aqui também não se trata de uma ilusão, como muitas seitas tentam apregoar. Nossa dor não é uma ilusão, nem nosso sofrimento. Mas certamente todo o bem que façamos não passará incólume, ficará marcado para sempre. Tendo a certeza de que Ele nos amou primeiro: fomos tecidos no ventre de nossa mãe, por Suas mãos, à Sua imagem e semelhança. Para uma dia estar com Ele, face a face. 

Por isso Ele desceu ao mundo. Poderia haver um ato de maior humildade?
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


 Inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho
Segundo o Censo 2010, o País conta com pouco mais de 45,6 milhões de pessoas com deficiência, representando 24% da população brasileira. Dessa população, menos de 1% por cento está inserido no mercado de trabalho, aproximadamente 403 mil pessoas com deficiência com carteira assinada. Quando falamos em inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, é bom lembrar-se de dois direitos sociais fundamentais: direito ao trabalho e o direito à assistência aos desamparados, pois a pessoa com deficiência se enquadra nessa categoria.

 A lei 8.213 de 1991, lei de cotas garante o direito à inclusão de Pessoas com Deficiência no mercado de trabalho. No Art. 93 da referida lei diz que a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a destinar de dois a cinco por cento de vaga para pessoas com deficiência. A proporção é a seguinte: Até 200 funcionários 2% das vagas, de 201 a 500 funcionários 3% das vagas, de 501 a 1000 funcionários 4% e de 1001 em diante 5% das vagas terão que ser preenchidas por pessoas com deficiência.

Em 06 de julho de 2015, foi aprovada a Lei Brasileira de Inclusão da pessoa com deficiência, Lei 13.146 (Estatuto da Pessoa com Deficiência). O art. 34 dessa lei discorre sobre o direito da pessoa com deficiência ao trabalho e de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. E a mesma lei em seu art. 35 diz que “É finalidade primordial das políticas públicas de trabalho e emprego promover e garantir condições de acesso e de permanência da pessoa com deficiência no mercado de trabalho”.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º garante os direitos fundamentais a todos que habitam esse país. Em 1991, a lei de cotas para inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. E a mais recente, a lei 13.146 de 2015, são instrumentos que a sociedade deveria conhecer com mais profundidade.

Diante de todos esses aparatos legais, e nesse contexto no qual estamos inseridos, cabem aqui muitas indagações que provocam reflexões. A finalidade é uma só: A INCLUSÃO. Por que é tão difícil? Como promover a inclusão? Não há uma resposta pronta e muitos menos uma porção mágica. Cabe a todos nós como sociedade, mesmo diante de todas as dificuldades, não nos deixar se abater. Temos o amparo na legislação que nos protege, por isso, é preciso fazer valer os nossos direitos.

A lei ao nosso dispor, debates, discussões sobre políticas públicas e tudo mais que atendam a demanda da sociedade. Ainda nós, pessoas com deficiência, somos visto como deficiente e não como pessoa, é preciso inverter essa lógica, ver a pessoa e não a sua deficiência.
  
O trabalho não tem apenas o sentido de promover o sustento de uma pessoa. É através do trabalho que a pessoa exerce o seu protagonismo e o seu papel na comunidade e na sociedade. A função social da lei que através do trabalho tem como objetivo promover a vida e a dignidade. A pessoa com deficiência não quer apenas um posto de trabalho, quer ser alguém que tenha relevância que seja visto como um profissional que desempenha a sua função. É preciso dar ênfase à pessoa e não à deficiência. Não é a deficiência que tem uma pessoa, mas a pessoa que tem uma deficiência.

E o ambiente de trabalho como deve ser preparado? Quando falo em ambiente, pode se pensar em espaço de trabalho, o local de trabalho. Não é somente isso, é bem mais amplo, não se trata apenas do espaço físico. Será preciso se sentir à vontade. Porque vai ter o sentimento de diferenciação, de desconfiança. Falo isso com o conhecimento de causa, já tive esse sentimento. Por isso, que antes de incluir é preciso o acolhimento, o respeito, a aceitação, a sensibilização e a empatia. O sentimento de sentir o outro nas suas dificuldades, se colocar no lugar do outro. Ser diferente é normal, o anormal é ser indiferente.

Estou escrevendo esse artigo na segunda-feira, 21 de setembro, data em que celebra o dia nacional de luta da pessoa com deficiência. Nós, pessoas com deficiência não queremos piedade, não queremos sentimentos de pena, não queremos que nos tratem como coitadinho. Todo dia é dia de luta contra toda a forma a preconceito, luta por mais aceitação. A nossa luta é todos os dias, por mais acessibilidade, por políticas públicas que nos dê cidadania e não de afagos paternalistas. Todo dia é dia de luta por visibilidade, por um tratamento de respeito e dignidade. Inclusão, democracia e cidadania. 

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


A acídia...
Diante da cultura do ócio em que vivemos, em que a preguiça parece ser justificada, talvez não haja um reconhecimento de sua real dimensão, dos males que ela pode causar. Certamente é muito bom descansar (passear, viajar…) ainda mais quando nos empenhamos em algum trabalho, nos dedicamos a algo ou a alguém. Mas a acídia tem uma conotação que vai além da preguiça cotidiana.

Confesso que desconhecia o sentido dessa palavra até entrar em contato com os textos de São Thomas de Aquino, na Suma Teológica; ele ensina que a preguiça possui mais seis características, além da falta de vontade, sendo: o desespero, que gera o abatimento; a pusilanimidade, que é a covardia, a falta de ânimo, de coragem; a divagação da mente, quando o ser humano abandona as questões espirituais e vive para os prazeres efêmeros; torpor, que é o estado de abandono em que a pessoa ignora a própria consciência; rancor, que é o ressentimento contra aqueles que querem nos conduzir a caminhos mais elevados; malícia, que significa o desprezo aos bens espirituais, resultando em uma escolha consciente pelo mal.

Se pesarmos sobre a falta de ânimo, o estado de torpor, a malícia, veremos que, infelizmente, têm sido um comportamento frequente em nossa sociedade. No estado de torpor há um embotamento da consciência, cegando nosso coração para o que é realmente importante, em que ficamos em um estado ilusório. Talvez a acídia não seja reconhecida na gravidade de sua atuação, no grau progressivo de sua ação, no ato de procrastinar, em uma decisão pelo mal. Significa ficar na inércia, não assumir a responsabilidade que compete a cada um de nós perante a vida, de não cumprir com o sentido de sua existência, de sua contribuição devida ao planeta.

Em um exercício filosófico, digamos que os grandes profetas, como Isaías, tivesse tido preguiça, não quisesse ouvir o chamado de Deus, não cumprisse com sua missão. Isaías teria argumentos para isso… mas ele foi corajoso, determinado, saiu pregando, clamando por justiça, e em uma sociedade marcada pela barbárie, em meio a um povo de coração duro. Assim também os Apóstolos, santos, e tantos outros que marcaram os anais da história, pela dedicação e trabalhos de doação.

Repare como o tédio (uma misteriosa tristeza que parece rondar as pessoas) tem também sua raiz mais profunda na acídia, na falta de esperança e na inatingibilidade do grande amor. Refere-se a um “estado de alma”, em que se manifesta o desânimo, a letargia. É uma tristeza que deprime o ânimo da pessoa, de modo que nada parece lhe agradar, pois não vê sentido nas coisas, na vida em si. Esse tipo de sentimento causa um grande mal na pessoa e em seu redor, pois lhe retira a fé, a esperança, podendo afastar de todas as boas obras.

São Tomás afirma que o homem triste não pensa em coisas grandes e belas, somente em tristezas. A preguiça é portanto o torpor da mente em começar um ato bom. E na realidade, além de causar tristeza, limita nossa visão, nos impede de ver a grandeza de nossas vidas.

O desespero, fruto da acídia, também é falta da confiança em Deus. Por isto, a acídia se opõe à esperança e à fortaleza. Neste estado a pessoa fica paralisada, deixa de cumprir com o sentido de sua existência. A Sagrada Escritura nos ensina como vencer a acídia: resistir ao mal, estar em oração, crer nos bens espirituais, na missão que compete a cada um de nós.

Representa também a fuga diante do Sacro. Quando o ser humano perde a fé ele fica abalado pela própria finitude, podendo entrar em desespero, paralisado pelo medo, vendo os acontecimentos da vida sob a ótica humana, centrado no ego, no imediatismo, nas coisas efêmeras. A acídia não nos permite ver além… compreender a razão da esperança, fundada no Eterno!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Um mundo imaginável

Adentra pelas frestas do infinito um fluido de paz em tempos turbulentos. As portas entreabertas e as vistas para o horizonte vislumbram a vida em uma gotícula de simplicidade que suaviza a generosidade do viver. As mãos entrelaçam e as estrelas resvalam nos sentimentos que se materializam para compor os próximos versos.

O tempo voa e o sonho flutua, e depois as flores inquietas buscam a poesia nos momentos de paz. Na mente apenas lembranças, resquício de momentos, vestígio de instantes que se eternizou. Imagino o imaginável e a possibilidade de não imaginar o quão é solitário a poesia entre os absurdos.

Esses dias, por esse tempo perdem-se a compaixão e se vê de longe outros dias em outros sorrisos. Tinha raízes profundas e flores ao redor da alma.  Era tão cedo que os olhos ainda dormiam. Era tão doce, tão meigo, tão complacente que se desfazia em ternura. Era tão profundo que sucumbia em si mesmo.

Em noites inteiras e sonhos fragmentados para preencher um pouco do que ainda resta de um mundo de encanto e sublimidade. A beleza suja e as mãos vazias acariciam a face das palavras submissas nas amarras do imaginário. A pureza indecente e o cão raivoso sobre a corrente da ignorância.

A utopia sentada às margens da esperança imaginando o imaginável. Na beira do caminho um sonho descansa sob a sombra dos girassóis. Utopia, esperança e um sonhador às margens das estreitas veredas que levam em diferentes lugares em longínquas paragens.

No semblante a serenidade no olhar e a certeza do caminhar. O mundo se faz no encanto para um tempo de paz. Depois da tempestade o sol das manhãs e um horizonte para além do olhar.

Insulta a verdade e prende a liberdade sob o pretexto de ser dono do mundo. Nas planícies emergidas, plainam os voos sob os sonhos das manhãs. Ainda o encanto e o sorriso inocente brincando nos quintais da vida para colher flores em outras estações.

Atropelam os sentimentos em promessas não cumpridas e aterroriza os instantes em noites de lua cheia. Instiga os dias que virão e açoitam os momentos para depois insuflar a plateia com gestos de benevolências. As palavras dóceis são hálitos de alívios em tempos moribundo anestesiados pela intolerância.

A mensagem de paz, da inquieta paz sob sublimes canções dos tempos vindouros. Um texto sublinhado, uma crônica poética e o desenho do mundo na esfera celeste. A essência nas entrelinhas e as lágrimas de muitos olhares. Atentos a tudo que envolve e desenvolve as amarras do desejo artificial em mundo superficial.

A saga humana e os capítulos que ainda serão escritos e o discurso do rei no alto do seu trono e os novos caminhos a serem desvendados. O mundo multifacetado emaranhado em números e índices estatísticos inerte ao sentimento que bebe o suor da labuta. Na busca por novos caminhos, a incerteza no caminhar e o âmago de todas as coisas. 
Uma fonte de água, um sol a iluminar e sonhos ainda a ser sonhados. Deixe a esperança saciar a poesia, deixe a suavidade afagar as faces do amanhã. Quando os olhares se perderes no horizonte, desenharei o mundo escondido no sonho esquecido.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


Setembro verde mês oficial da luta pela inclusão social

Setembro mês oficial da luta pela inclusão social tem como finalidade dar visibilidade à causa da pessoa com deficiência, provocar a reflexão e promover a discussão e o debate em torno dessa causa que é tão nobre. 

A acessibilidade está em tudo. Já foram publicados alguns artigos sobre esse importante tema nesse espaço semanal. Como se trata de um tema importantíssimo para toda a sociedade, inclusive para à pessoa com deficiência, nunca é demais voltar a falar sobre acessibilidade. 

A acessibilidade está em tudo, segundo a definição que está no art. 3º da Lei 13.146/2015. Acessibilidade: “possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida”. 

O art. 53 diz que “a acessibilidade é um direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social”. 

Como está a acessibilidade em nossa cidade? O Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência está em atividade em nossa cidade desde maio de 2016. E essa temática sempre foi e será pauta de nossos encontros e reuniões. 

Quantas e quais barreiras tornam-se obstáculos para pessoa com deficiência? Com a Lei Brasileira de Inclusão em vigor desde janeiro de 2016, o avanço da sociedade brasileira e a busca por uma vida mais inclusiva ainda enfrenta muitas resistências. Menciono algumas dessas barreiras extraída do art. 3º da referida lei: barreiras urbanísticas, barreiras nos transportes, barreiras tecnológicas, barreiras atitudinais. 

Essas são algumas das barreiras, todas as barreiras terão que ser abolidas, essa teria que ser a nossa atitude como sociedade e não provocar e promover barreiras atitudinais, atitude ou comportamento que impede ou prejudique a participação social da pessoa com deficiência com igualdade de oportunidade. 

Nesse contexto não posso esquecer-me de falar do descaso do poder público em políticas públicas que dê visibilidade a essa parcela da população. Mesmo sendo a minoria, somos pessoas, somos gentes que contribui para o desenvolvimento da sociedade. Esses cidadãos, essas cidadãs são tão cidadãos e cidadãs quanto as pessoas não deficientes. 

Atitudes de todos como cidadãos e cidadãs comprometidos com o desenvolvimento de todos. Muitas vezes a própria pessoa com deficiência sofre preconceito ou tem o seu direito negado e não procura o seu direito. As nossas atitudes como pessoas deficientes é fazer valer a lei 13.146. Por isso precisamos conhecer essa lei para cobrar da sociedade e das autoridades competentes. 

A luta pela inclusão social é de todos. Vivemos em sociedade, por isso não podemos pensar e agir de forma individualista, onde é cada um por si. A luta pela inclusão tem que ser de todos e para todos. Além da pessoa com deficiência, há muitas outras pessoas que precisam ser incluídas. O Brasil, o mundo passa por momentos difíceis, devido à pandemia. A desigualdade social que já era grande tende a aumentar. A luta pela inclusão é um preceito solidário e humanitário.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

Por que ofertar o dízimo?

Muitas vezes tomamos conhecimento de líderes religiosos que manipulam as pessoas (lavagem cerebral) para extorquir renda de seus fiéis para o enriquecimento ilícito, roubos, desvios de dinheiro, dentre outros. Estes fatos, além de provocarem repulsas e indignação, repercutem negativamente, podendo afastar pessoas que poderiam contribuir de alguma forma. Mas, mesmo reconhecendo estes abusos, é importante considerar o trabalho espiritual e de ajuda humanitária que diversas igrejas oferecem, acolhendo os necessitados, atuando na assistência social. E certamente possuem gastos com a manutenção e outras questões.

Se pensássemos no plano ideal, em um mundo onde não houvesse injustiça social, pobreza, abandono de crianças e tantos outros sofrimentos, talvez a questão do dízimo pudesse ficar restrita ao campo teológico, em colóquios sobre questões filosóficas no que se refere à virtude, à ética. Mas infelizmente nossa nação abarca diferentes realidades, que vai desde o luxo extravagante (ostentação) de uns à extrema miséria de outros. Não é um lugar com condições justas para todos; constatamos pobreza, miséria, exploração, abandono de governos no que se refere a políticas públicas e falta de assistência aos menos favorecidos, principalmente agora em que vivemos a Pandemia. Pessoas que sequer conseguem fazer uma alimentação diária (a fome dói), ou a dignidade de ter uma moradia decente, dentre inúmeros outros fatores. E que seriam delas se não houvesse o trabalho social das diferentes igrejas?

Então a questão que acredito ser crucial, principalmente para quem se considera cristão, é como posso usar a renda que tenho de forma a poder desfrutar do que disponho, com conforto e satisfação, todavia, com prudência, tendo a consciência de que preciso dividir com sabedoria tudo aquilo que recebo e possuo. Ofertar o dízimo tem um valor maior do que comumente imaginamos… O ato de contribuir, de dividir o que se possui com outros representa, além da caridade, ter gratidão, um coração contrito, que compreende que precisa estender a mão à quem precisa. E se não temos condições financeiras podemos doar nosso tempo, conhecimento, talentos, dedicar-se aos trabalhos voluntários…

A verdade é que o mundo nos seduz constantemente; sempre haverá o desejo por coisas novas, roupas, sapatos, bens diversos e se não tomarmos cuidado nos tornaremos acumuladores – na ganância: na avareza (este pecado nos afasta das bençãos de Deus). Repare como o consumismo vem acontecendo nas diversas classes sociais; cada vez mais as pessoas são direcionadas a comprar, a gastar compulsivamente, sem controlar ou administrar seu dinheiro, entrando em dívidas insanas.

Podemos desfrutar do que ganhamos, ter coisas que nos fazem bem, o problema é quando colocamos a atenção somente na satisfação própria, nos interesses pessoais (hedonismo), no egocentrismo. O desejo pode se tornar insidioso quando cresce sem controle, na extravagância, acúmulo… o coração vai endurecendo pouco a pouco, com camadas e mais camadas de egoísmo. A avareza destrói nossa capacidade de amar!

Ofertar o dízimo não representa doar somente a décima parte do que ganhamos; se temos condições financeiras, como não ajudar com um pouco mais, sendo generoso com aquele que passa dificuldades, fome, doenças… (Tenho certeza que responderemos por isto).

O apóstolo Paulo em 2 Cor 9, 6-9 exorta a ajudarmos com liberalidade, sem mesquinhez, para que recebamos a Graça:

“Convém lembrar: aquele que semeia pouco, pouco ceifará. Aquele que semeia em profusão, em profusão ceifará. Dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria. […] Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre (Sl 111,9).”

A medida do dízimo é determinada pela condição em que se encontra seu coração.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Longe é um lugar que está em mim

O tempo parece eternizar em algum momento, não sei, talvez seja bobagem, coisa que não faz o menor sentido. Outro lado, outras margens, outras lágrimas e os olhares estão distantes. E entre as margens do caminho, outras palavras, outras mensagens que me ensine outros caminhos, além do caminho das pedras.

Confesso que muitas vezes fico confuso, tudo acontece ao mesmo tempo e isso cansa. Será que viver pode levar a exaustão? E que sentido tem tudo isso que estamos vivendo? Perguntei, apenas por perguntar, não interessa nenhum pouco a resposta. Não quero falar sobre isso, quero apenas escrever, mesmo que nada que escrevo faça sentido, não importa quero apenas escrever. A imaginação é real e a realidade é imaginária. 

Às margens do sentido, mendigando um pouco de atenção, procurando entender as coisas como elas são e porque são assim. A verdade eu desconheço, a mentira está por aí em qualquer lugar. E as coisas são mesmo assim, tudo é relativo, não há verdade em lugar nenhum e a mentira sempre está aposto. 

Hoje o sol aquece, e em seguida o frio e o ser humano e seus demônios. Ludibriado pela preguiça que descansa ao ar livre em pleno sol de um dia qualquer. Vou deixar passar esse momento, não quero pensar agora, só quero voar para um lugar distante. Não quero a realidade, a imaginação me faz bem, me alimento de sol e contemplo estrelas no meu quintal.

Existe algum lugar bem longe, além da imaginação, é lá que vão os meus pensamentos. E o sentimento é somente um lugar distante longe de tudo. Não quero chegar, basta o caminhar e o cansaço nessa interminável busca. Brinco com a vida e planto flores em distantes jardins para colher próximo de mim flores e frutos em outra estação. E para depois voar bem alto entre os infinitos acariciando as faces de um ser desconhecido. 

Um dia, uma noite e uma imaginação solitária entre flores e jardins contemplando a própria solidão. Seria assim o próprio sentir, mas esse ser que é humano mórbido e insano, sapiente e demente.

Partiu para bem longe, muito longe, e a voz que ainda insistia em chamar, mas já não adiantava nada. Só ficaram os rastros e um imenso vazio e a triste lembrança daquele momento. Mas aquele momento ainda deixava um pouco de esperança, algo podia acontecer de novo e isso era fascinante. Lembrar aqueles momentos e ter quase a certeza que tudo pode ser, por mais difícil que seja tudo pode acontecer. Há um lugar em mim que mora a imaginação, pressuponho, pois a imaginação poderá levar-me para qualquer lugar.          

Já são horas e horas andando por ruas desertas e escuras, não sei onde está o sol, mas mesmo assim vou segui-lo. Um dia o tempo dirá que tinha razão e descansa à beira do caminho. Há um tempo que foi e outro que está por vir, entre eles um sonho esquecendo a realidade, querendo sonhar. 

Imagino o meu mundo, um imenso paraíso, um lugar distante longe de tudo. Não há sol para seguir, contemplo as estrelas e a lua clareia os meus passos. Quero fugir e não consigo, quero entrar e nenhuma porta se abre, quero voar e as minhas asas perderam forças, quero a liberdade estou preso em mim mesmo. Penso em mim longe de mim mesmo tentando ser eu mesmo, mas a chuva não deixa gosto dos dias de sol. Escrevo o que penso, escrevo o que sinto e o que imagino. Não escrevo para dizer o que sei, não sei, se o que escrevo interessa a alguém, apenas escrevo. Para alguns o espinho tira a essência das flores, para outros, o espinho é a própria essência.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

Precisa-se de poeta

Precisa-se de poeta. Não exige experiência. Apenas precisa-se de poeta. Não exige nenhuma experiência, apenas que cultive algum sentimento. Os dias passam e nem damos conta que a vida também passa. De repente é manhã e logo chega à noite. Precisa-se de poeta e esses dias que passam como outros tantos dias que já passaram. E outros dias amanhecem outra vez.

Passam os dias e virão outros dias e sucessivamente outras manhãs. Precisa-se de poeta, esses dias um pouco vazio, meio embaraçado de palavras machucadas. Um tempo rústico aparentemente segregados em falsas aparências. Precisa-se de poesia para semear os jardins e exalar a essência de brandura pelos quintais da vida.

Precisa-se de poeta para agraciar os momentos e acenar para vida com bom gosto. Os dias passam ao sabor do gosto da vida, a vida temperada e o amor a gosto. Uma poesia e os dias que estão passando e nesses dias que não cessam passar estão todas as formas de amar. O amor e a poesia, a poesia e o poeta e a vida em si na completude do ser. 

Por que os dias passam? Um poeta e uma poesia e a essência do viver. E no passar dos dias ficam o silêncio suave em sublimes momentos em que a vida se faz vida. E os dias passam e a vida exuberantemente e gratuitamente nos envolve em seus mais profundos mistérios. Passam-se os dias e a face do amor refletido no olhar inesperado que aos poucos nos alimenta, nutre o espírito e solidifica a alma.

Passam-se os dias e não é o acaso que faz florir o jardim, nem o sorriso entre a timidez do olhar. Se os dias passam, o amor pode ser sublime, mas a paz é inquieta. Os dias passando no piscar de olho e o ser se fazendo em essência na imperfectibilidade humana que nos faz humano.

Precisa-se de poeta para juntos sentir os inquietos sentimentos nesse tempo bravio. Com a poesia passam-se os dias e perpetua a paz em cada um de nós ao aflorar todos os sentimentos. A paz nos cantos e canções para fazer a vida com todo o amor que se faz necessário. Amor e paz para que os dias sejam mais felizes e que a felicidade perdure o passar dos dias. Por mais que a vida seja exuberante, os dias passam entre êxtase e suplício.

Nos vastos e ansiosos momentos que estão por vir, esquecemos que os dias estão passando e nós como passageiros não apreciamos a beleza da vida enquanto ela passa. Precisa-se de poeta para compor mesmo nos míseros e rudes momentos a poesia da vida. Nos olhares do mundo, a poesia se faz em lágrimas para enxugar a face da vida. Nos resquícios poéticos os extremos, entre o confronto e o conflito. O cume da ignorância e um momento que se eterniza.

A existência e a essência degusta o cálice de esperança ao sabor das desventuras humana. Extasia-se com a beleza de ser e bebe o vinho da sabedoria e brinda a plenitude da vida. Para sempre não há, só por agora, o instante que transpassa o momento e perfaz os sonhos na suavidade sublime de uma vida esperançada. 
Noite e dia. Momento, talvez um lamento. Ainda há sentimentos. Apague as estrelas das noites futuras, não, não tema o escuro a luz da alma não se apagará. É demasiado sentimento por isso um coração tão imenso. O amor permeia tudo que em si existe. O amor está vivenciando, acalentando as dores que compõe a vida. Simplicidade e singeleza. Em silêncio, o sublime da alma repleto em paz. Meu ser em silêncio. Em silêncio desfaça-me em poesia. É tão sublime.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

Podemos confiar nos sentimentos?

Será que podemos confiar naquilo que sentimos, como forma de validar emoções, relações, acontecimentos, ou no auxílio ao próximo? Gostaria de compartilhar com o leitor um pouquinho da história de Sansão. A Bíblia narra que ele confiou em seus sentimentos quando escolheu Dalila para ser sua esposa. Seus pais explicaram que ela não era a escolha adequada, que haviam outras mulheres na religião deles que poderiam ser boas esposas.

Mas Sansão insistia que havia escolhido Dalila, que ela o agradou. O final desta história é bem conhecido: Sansão havia cometido um grande engano e sofreu amargamente por sua decisão. Acabou cego, empurrando moinhos (como burro de cargas), sem realizar toda a promessa de Deus para sua vida.

Lembrei de Sansão porque é comum acreditarmos que os sentimentos podem nos conduzir, que podemos agir de acordo com nossas emoções. Mas que são os sentimentos? É definido também como conjunto de qualidades, de tendências morais de alguém; que às vezes se opõem à clareza da razão. Sendo tendências significam que agimos de acordo com os valores morais que aprendemos, e com o que sentimos no momento. Mas se vou confiar somente em meus sentimentos para ajudar, para fazer o bem, possivelmente me equivocarei, pois os sentimentos mudam, nos confundem, podendo limitar nossa visão.

Considerando que à medida que vamos nos afastando do bem, em que só buscamos interesses pessoais, o coração vai endurecendo, nos afastando cada vez mais do amor de Deus e de todo o propósito que Ele tem para nós. Em diversas passagens da Sagrada Escritura vemos exortações para não entristecermos o Espírito Santo, para que Ele não se retire. Ou seja, quando não estamos conectados com Deus, agimos por conta própria, ficamos separados do amor do Pai. Como ter sentimentos puros, altruístas, se estivermos, todavia, blindados à compaixão (não é assim que ficaram os anjos decaídos?)

Certa vez, conversando com uma colega de trabalho sobre a dimensão das obras de diversas religiões na assistência social, em que ajudam a minimizar a pobreza, perguntei a ela como acontecia este serviço na sua igreja, em que ela me respondeu que ajudavam quando sentiam no coração vontade de ajudar. (Fiquei chocada). Mas então, se no momento que cruzarmos com alguém precisando muito de ajuda, seja econômica, espiritual ou de outra natureza, só ajudaremos se sentirmos vontade? (E como as pessoas de coração duro sentirão essa vontade?)

Repare como os sentimentos mudam, por vezes até no mesmo dia e nem sempre indicam o melhor caminho. Pode ocorrer da pessoa ter também algum desiquilíbrio, seja psíquico, biológico (sem falar nos transtornos de personalidade) ou mesmo como resultado da ausência de Deus. E alijados da Graça somos apenas humanos; dificilmente sentiremos amor genuíno por um estranho, como ensina o Cristianismo.

Confesso que diversas vezes fiquei aborrecida, senti desamor, mágoa, mas depois, refletindo, tentando entender o outro, pedindo discernimento, sabedoria a Deus, compreendi que minha visão estava limitada, ou mesmo comprometida por meu ego.

Perceba também como muitos justificam seus sentimentos, se acomodam na ilusão de que faz parte da natureza deles, e que não será possível mudar o comportamento. Assim as pessoas são escravas dos sentimentos, sem comandar um temperamento explosivo, arrogante, temperamental, rancoroso e por aí afora. Mas essa fala demonstra também conformação, adaptação ou mesmo falta de interesse em se modificar, pois é mais cômodo que os outros o aceitem dessa forma. Assim as emoções (o humor) regem o comportamento da pessoa, levando muitas vezes às contendas, gritarias, separações. “Onde houver ciúme e contenda, ali há também perturbação e toda espécie de vícios” (Tiago 3:16).

Mas podemos sim questionar os sentimos, refletir de onde eles vêm, como surgem, dar comandos, recusar e modificar os padrões mentais: pensar antes de agir, buscar controlar as emoções, as atitudes. Porque não somos animais. Somos mais do que passarinhos… há toda uma promessa, um plano de Deus para cada um de nós.

E no final de nossa jornada veremos o que Ele havia preparado… e o que conseguimos realizar (apesar dos sentimentos!).
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Semana Nacional da Pessoas com
Deficiência Intelectual e Múltipla

A coluna dessa semana será sobre a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, comemorada de 21 a 28 de agosto, instituída pela Lei 13.585 de 26 de dezembro de 2017. Em seu art. 2º fala que as comemorações da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla visam ao desenvolvimento de conteúdos para conscientizar a sociedade sobre as necessidades específicas de organização social e de políticas públicas para promover a inclusão social desse segmento populacional e para combater o preconceito e a discriminação.

“O Protagonismo empodera e concretiza a inclusão social” esse tema tem como finalidade provocar a reflexão, com a proposta de identificar e valorizar a pessoa com deficiência e a sua atuação na sociedade. Discutindo e debatendo diferentes agendas de políticas públicas na saúde, na educação e na assistência social com uma efetiva inclusão.

A atitude diante dos problemas e dos percalços que de forma direta ou indireta impede a plena cidadania. Mesmo tendo tantos obstáculos, desistir ou desanimar não vão mudar a realidade. A individualidade e a potencialidade estão em cada pessoa. Valorizar cada ser humano, respeitando a sua história e propiciando a todos o exercício da plena liberdade.

A deficiência não tira da pessoa com deficiência a sua humanidade e muito menos inferioriza perante a sociedade. Por isso, expor toda essa realidade, provocar a reflexão e o debate são importantíssimos para a sociedade se conscientizar e solidarizar com essa parcela da população que precisa ser acolhida e respeitada em todos os seus anseios. É proporcionando visibilidade a essa população, trazendo à luz da realidade todos os desafios que precisam ser superados. Conhecer a realidade para entender e compreender as necessidades de implantar políticas públicas e inclusivas.

Assumir a condição de cidadão e cidadã consciente e responsável, sendo assim protagonista de tudo que a vida oferece. É o protagonismo que empodera e abrem novas perspectivas na defesa dos mais vulneráveis. 

Até que ponto nós como sociedade estamos prontos e dispostos a incluir essa população numa sociedade em que todos sejam aceitos? Todos nós temos as nossas limitações. Diante da minha deficiência posso afirmar que a insensibilidade, a ignorância e o preconceito são deficiências que empobrecem o ser humano.

A inclusão social é a palavra-chave, é esse impulso que coloca todos num vetor de desenvolvimento que despadronize essa visão de “produção em série” como engrenagem de um sistema padrão. A vida nos provoca e nos convoca a viver esse lento e ao mesmo tempo voraz dinamismo que coloca à frente de nós mesmo.

A nossa atitude e a nossa falta de atitude desenham o cenário do mundo. As leis e resoluções, que dão as definições e as dimensões e regem as nossas atitudes e o nosso agir em prol de uma sociedade mais associável e civilizada. As barreiras e todos os obstáculos ao bel prazer de uma sociedade que luta e debate entre si em um jogo onde todos são perdedores. 

Será que o mundo melhor é uma utopia? E se utopia for vamos nos deixar guiar por ela. Vamos viver essa aleatoriedade, essa graça que a vida nos concede, mesmo sendo esse caminho estreito e cheio de obstáculos, o que não se pode é parar de caminhar. Eu sei que é mais fácil falar, escrever e publicar em coluna de jornal textos e mais textos, apontando todas as falhas, todos os descasos e todas as mazelas e estupidez humana. E assim, somos aprendiz e todos os dias exercitamos o exercício do bem viver. A vida e a sua plenitude, sonho e esperança. E se utopia for vamos nos deixar guiar por ela.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

O imaginário Social

Talvez muitos desconheçam a força, o poder do imaginário social, que expressa-se por ideologias, utopias, símbolos, rituais, mitos, por ideias propagadas, mesmos que sejam mentiras implantadas. Tais elementos plasmam visões de mundo e modelam condutas e estilos de vida, com a introdução de mudanças nos comportamentos. 

Essa compreensão nos permite perceber as articulações na sociedade, a instrumentalização do poder, das ideologias (mascaramento da realidade). Desta forma é possível atingir as esperanças de um povo, identificar seus medos, anseios; pode acontecer a modelação das condutas, a preservação da ordem vigente ou mesmo sua destruição. Podemos analisar que a manipulação da opinião pública têm sido comum, principalmente pelo whatsapp, com fake news, informações plantadas e que infelizmente muitos preferem compartilhar sem consultar as fontes, a veridicidade. 

Diversos governos, ditadores usaram o poder do imaginário para conduzir as massas. Napoleão Bonaparte, imperador e ditador da França tinha conhecimento deste mecanismo. Assim arquitetou um audacioso e insano plano de guerra, conseguindo seu intento. Mas o que me chamou a atenção também foi quando li esta frase de Napoleão Bonaparte: “Há duas forças que unem os homens: medo e interesse”. Achei graça no tamanho da presunção dele e falta de sabedoria, pois além do medo e do interesse há também o propósito, o amor. 

Napoleão perdeu a guerra porque em sua prepotência (o mal de todo soberbo) confiou somente em si, achando que pelo medo ou interesse poderia se impor, alcançar a vitória. Seu grande interesse era o seu ego. E qual soldado daria a vida por um orgulhoso? Os soldados lutavam por medo e o interesse de continuar vivo, mas não havia neles o propósito. Assim, perdeu para a Rússia, diante do inverno rigoroso e depois para os ingleses, na famosa batalha de Waterloo.

O mais interessante também é a forma como ditadores conseguem convencer as pessoas, mexendo com o imaginário coletivo, validando ideologias, segregando povos, como ficou explícito ao mundo na crueldade do Holocausto. Propagandas antissemitas eram vinculadas nas rádios, cinemas, e, paulatinamente foram passando a aversão aos judeus, ridicularizando-os. 

Será que muitas vezes não ocorre o mesmo conosco? Até que ponto não somos também manipulados a ponto de deixar de lado princípios e valores, passar a aceitar  modismos, imoralidades, validar injustiças. Repare a manipulação por meio da mídia, redes sociais, em que há toda uma propaganda passando e conduzindo valores morais, relativizando o bem e o mal, e em que não existe certo ou errado. Há uma propagação das ideias da Nova Era em que não há um Deus pessoal, um Salvador, mas sim um Cosmos, um Universo em que tudo e todos são integrados.

Neste imaginário não precisamos pedir perdão, pois tudo alcançaremos por nossas próprias forças (autossuficiência), tendo diante de si diversas vidas para reencarnar, para melhorar. Assim, pouco a pouco há a dessacralização, invalidando o Sacrifício de Cristo na Cruz, colocando-o como um governador do planeta, ocultando a realidade: Jesus é Deus!

“E como todo homem está destinado a morrer uma só vez, depois do que haverá o julgamento, assim também Cristo se ofereceu uma só vez para tirar os pecados de muitos homens. Ele aparecerá uma segunda vez, sem relação alguma com o pecado aos que o esperam, para lhes dar a salvação” (Hebreus 9:27).

Que tenhamos esta certeza e estejamos alertas às manipulações sem nos deixar corromper. Cristo morreu e se entregou à horrível morte de Cruz porque quis nos resgatar com Seu sangue, veio com o propósito de nos salvar. Deus em pessoa desceu à Terra (quanta gratidão!), se encarnou na Virgem Maria no mais alto grau de amor e humildade. E isto nenhuma ideologia conseguirá jamais apagar!


Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Um sonhador às margens da existência

Ao longo do caminho, bate o cansaço, mas caminhar é preciso o sonho ainda está distante. Distante dos olhares que busca no mundo o deslumbre, e uma saída mesmo que seja pela janela. Mesmo que os dias sejam cansados, arrastados, sempre haverá a manhã. As manhãs de sol são tão lindas como uma suave manhã de chuva molhando a terra.

A chuva que molha a terra faz brotar sentimentos que nutre o espirito, sacia o corpo e eleva a alma. O horizonte observa em verso e prosa a mensagem poética do infinito além dos olhares. A mente viaja, segue rumo ao desconhecido trilhando as trilhas nunca antes trilhadas. Segue os versos e contempla a vida sob a sombra dos girassóis.

A esperança como sempre, faz leve o pesado fardo que se carrega. Às margens da existência, o rio da vida em águas cristalinas. O suor da labuta, as rugas e a face envelhecida desenhada na vitrine do tempo. O amor dos novos tempos e as angustias momentânea permeiam corações e mente na interminável saga humana. A vida segue e a aranha tece a sua teia e os rios seguem os seus percursos. 

Entre retas e curvas vão se as águas contornando os seus percalços. Há um tempo, embora distante e um sonhador às margens da existência. Na voracidade de tudo, o mundo à beira do precipício e os sonhos adormecidos no jardim da imaginação.

No terreno baldio, nascem as flores e brota esperança e a vida viceja em plenitude. Sementes de esperança semeadas em todos os cantos colhidas pelas simplicidades e pela singeleza. As canções nas infindas noites e as estrelas que encantam os olhares. A lua quer o sol e o sol busca o luar para sublimar todos os momentos na doçura dos instantes. Na avidez das palavras, a dureza do caminhar, o alivio, a beleza e o sentido da vida.

Ao contato do que não se viu e nem sentiu, quebrou-se sob o olhar lírico do tempo em quiméricos e singelos momentos. Na próxima esquina, a banalidade e os absurdos em tempo real. A paz inquieta e a vida aleatoriamente seguem o seu fluxo. Nas imaginárias veredas, os vestígios e os lamentos e a fugacidade das palavras no silêncio do dia seguinte. Assim quando nascer o dia seguinte, cada página de um livro ou cada verso de uma poesia deslumbra um pouco de si e seduz de forma absurda, o absurdo que se desfaz em um vazio cheio de sentido.

Debaixo do céu e da terra entre os pés, inventam-se outros nortes e segue rumo ao desconhecido. Seguindo o caminho do sol, tentando chegar às alturas calcando os degraus da imaginação. É só um dia e depois outra vez para dizer lindas palavras em outros momentos que ainda não foram vividos. Segue por caminhos em passos lentos, levando consigo somente o resto de solidão e um pouquinho de saudade. Vez ou outra se perde o gosto, o sabor e a essência das flores entre os espinhos. Dias assim em outros tempos dizem o que pensam e vagueiam em estranhas paragens, e sente o teor melancólico das infindas noites sob a sublime melodia do silêncio.  

Ausente às feridas abertas, o silêncio alentado e ferindo a essência das flores aflitas. Das mãos o sagrado, o sacrifício inaudito e o sufrágio em liberdade. Voam palavras, versos indelicados sublimando suaves canções. Deixa fluir! Por um instante é eternidade, silencia-me. Degusta os mesmos instantes e consome o que fortalece. Depois os mesmos sonhos em outros tempos, contempla um novo olhar entre as frestas do infinito. Vívido e lúdico navega-se em outros mares em busca da imaginação que se perdeu.  

A espontaneidade, o sublime que envolve o existir; e tudo mais que possa sentir; a beleza está nos olhos que olham. A simplicidade que faz a existência fluir a essência, e nela contempla a beleza do existir. É tão imenso tudo que nos envolve e tão profundo tudo que faz viver. Não podemos parar o tempo, não poderia ser assim, não faria sentido. Se as flores sorriem, o mundo não pode chorar. Se o mundo for capaz de sorrir, as flores estão em todos os jardins.  Se a alma é leve, o mundo sorri e o vento se faz entre dúvidas e certezas. Entre flores e essências, vícios e virtudes e tudo mais que possa existir.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

É possível ensinar a bondade?

Durante muito tempo eu me fiz esta pergunta (acho que ainda não desisti dela). Como as pessoas se tornam bondosas, amáveis, generosas; em que momento caminham em direção ao mal? Creio que não existe uma resposta pronta, mas podemos refletir que há um caminho importante a ser percorrido para que a virtude brote nos corações. A bondade ou a evolução do mal não ocorrem ao acaso, e costumo dizer aos pais que ninguém brota santo ou bandido, sendo assim a educação familiar tem um papel fundamental. A falta de amor vivida na infância, de orientações, deixará marcas profundas. Também a importância de aprendermos a enfrentar as frustações, a ter resiliência.

Diante de tudo que vivemos com a Pandemia, e em que a educação teve que ser reformulada, seria importante a reflexão sobre a promoção da formação humana, a ensinarmos as crianças (todos nós) a serem pessoas do bem, despertar para a sensibilidade, para a compaixão, a ter domínio das emoções. Quando não aprendemos a comandar nossos desejos crescemos reagindo aos problemas sem controlar os impulsos, no estado de escravos das vontades, reféns das ações dos outros, ou mesmo entrando na coodependência. O ato de agir, de resistir aos impulsos, ao mal, pode (deve) ser ensinado. 

Recordo com gratidão por ter aprendido a importância da oração com minha avó, quando era ainda muito pequena. Ela nos mandava ajoelhar bem cedinho, logo ao acordar, de sempre agradecer a Deus, não importava o que houvesse, e de fazermos nossas orações ao recebermos um alimento. Na verdade, não sei o que teria sido de mim sem os ensinamentos morais e espirituais de minha avó.

Podemos considerar que a ausência de Deus no mundo, de um modo geral, tem sido a causa também do estado de degradação moral em que vivemos; as sociedades têm produzido pessoas frágeis, medrosas, ansiosas, que desistem facilmente diante das adversidades, em uma vida vazia de sentido, pois está marcada pela finitude. Esses medos mascaram o medo da morte, e são sinais da ausência do Sacro.

Em todas as civilizações sempre houve o culto a Deus, a uma divindade. Acredito que o ser humano reconhece em seu íntimo essa Presença, e busca o bem, a harmonia, talvez como lembranças de outrora - reminiscências do paraíso perdido ... E quando estamos afastados do Pai há o sentimento de rompimento, de vazio interior, de niilismo, (veja a quantidade de pessoas desanimadas, em tédio). A realidade é que houve a propagação da cultura de ateísmo, da dessacralização. E para ter domínio próprio, romper com a reação, necessitamos também da ajuda de Deus: da Graça. Por ela conseguimos modificar nossos padrões de comportamento, perdoar nossos erros assim como dos outros e aprender a aceitar nossas limitações (ou mesmo rir de nossos desatinos, vulnerabilidades).

O ser humano necessita olhar além de si, vislumbrar a transcendência, sua imortalidade, o que é perene. Sem a fé, a crença em Deus, somos apenas humanos, a vida em si fica muito difícil, pois não há a esperança de que tanto nos fala o Apóstolo Paulo. E foi justamente por esta esperança que muitos se decidiram pelo caminho da bondade. São Francisco de Assis é um lindo exemplo: sua ação no mundo deixou rastros. Como diz meu filho Bruno, São Francisco levou seu amor a Deus e em doação às pessoas até as últimas consequências. Ele já morreu há muito tempo - mas sua obra permanece até hoje. 

Quando compreendemos a importância de agir na Luz, e não somente reagir às circunstâncias da vida, ou às atitudes das pessoas, haverá um progresso em nosso interior, uma transformação, e automaticamente, ao nosso redor. Nesta visão de mundo, podemos relevar picuinhas, grosserias, desculpar ofensas, não porque você não se importe mas porque você decide não reagir. 

A bondade é resultado de uma aprendizagem e também de uma escolha.


Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Pai
Pai, passos já caminhado 
Caminho feito por ti ao caminhar
Ao caminhar abristes caminhos para o meu caminhar
Para que meus passos fincados no chão da esperança cheguem mais longe.
Mesmo em meio a tantos obstáculos, há certeza ao caminhar.
Mesmo muitas vezes entre as incertezas, sempre há um horizonte para sonhar. 
Mesmo nos infortúnios momentos suas mãos sempre a me amparar.

Nos sublimes versos a poesia dos momentos, 
Nas sutilezas dos instantes, as sublimes lembranças.
Um sentimento eleva a alma e pacifica o espírito. 
A paz, o amor e a vida em plenitude.
Vida, o sagrado nos faz e nos refaz e apascenta os corações
Corações mansos, humildes e singelos.

Uma mensagem de paz
Uma oração e uma canção para suavizar a alma
Em nome do Pai, o amor incondicional e a paz celestial.
Paz na terra para semear, florir, partilhar e compartilhar
Amor e paz, amor e Pai.

Pai, simplesmente pai.
Meu Pai!
Meu silêncio quer ouvir sua voz.
Minha voz se faz silêncio em sua eterna lembrança.
Meu Pai!
Minha paz, meu Pai 
Um pouco de mim está ausente 
Mas a sua eterna presença me preenche. 

Eternizam em mim os seus olhares e aos céus as minhas súplicas.
Entoam palavras, o sutil e a leveza afagam a face em uma lírica poética.
Deus, pai dos pais, ilumina-nos e ajuda a caminhar e ao fraquejar que seja a força, a tua força a apoiar-nos.

Todos os dias é dia de pai, paz.
O amanhecer de todos os dias são momentos de paz, pai.
Todos os instantes se eternizam no incondicional amor que somente pode vir dos corações que amam profundamente, Pai. 

Dialogo com o mundo, converso com as estrelas, me aconselho com a lua, viajo no infinito do teu imenso amor e velejo estrelas na tranquilidade do teu olhar.
Pai, o tempo se eternizou em suas sábias palavras.

Pai, paz
Paz para perfazer novos caminhos na humana e humilde virtude de que temos um longo caminho para trilhar e muito ainda a ser feito.
Pais e filhos.

Pai, eterno amigo.
Meus olhos não cansam de buscar o infinito, 
A essência primordial de um Pai Celestial que cuida de pais e filhos e molda com seu eterno e sublime amor.
Pai, uma súplica ao silêncio e uma suave canção de esperança.
Amor, paz e pai.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


Kairós: "O Tempo de Deus"

O conceito de Kairós remete a uma reflexão importante, principalmente para quem passa pelo sofrimento do luto. Por ele podemos compreender que o tempo cronológico em que vivemos na Terra difere do “Tempo de Deus”. Nossos amados que morreram se encontram em um lugar em que não existe a marcação do tempo da forma como conhecemos.

Já havia escrito sobre o Kairós, mas assistindo à uma inspiradora homilia do Padre Paulo Gonzales, da paróquia de Sorocaba, pude relembrar desta realidade que muitas vezes está oculta para muitas pessoas. Padre Paulo descreveu belissimamente o significado de Kairós, em que após a morte estaremos no “Tempo de Deus”, sem sofrer com a distância ou a passagem dos anos. E na certeza de que nossos amados estão vivos no lar verdadeiro, na pátria celeste.

Esta compreensão é crucial não somente para aquele que viu seu filho querido morrer, como para o cristão, pois traz esperança, renova as forças por sabermos que nada que fazemos ficará incólume, nossas ações deixam rastros. E mesmo distantes de nossos amados, podemos ter a certeza de Paulo na carta aos Romanos:

“Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. Porque pela esperança é que fomos salvos. Ora, ver o objeto da esperança já não é esperança; porque o que alguém vê, como é que ainda o espera? Nós, que esperamos o que não vemos, é em paciência que o aguardamos. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor do Pai, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.”

Neste testemunho temos mais do que esperança, temos a certeza de que os nossos amados estão com o Pai, e que nem o tempo ou a distância nos separará. Apenas vivemos realidades diferentes, eles se encontram no Kairós. Então, vamos continuar nossa jornada, cumprindo nosso propósito. Para algumas pessoas a grande prova da vida é ter que viver sem o ente querido que morreu; para outras pode ser a luta pela saúde, para vencer a pobreza, fome, o abandono, ou a dor de ver os filhos se perderem nas coisas mundanas, drogas, ou seja, são inúmeras as provações. Mas a fé e a esperança são o nosso capacete da Salvação.

Considerando também que o momento em que vivemos, diante da Pandemia, em que inúmeros sofrimentos foram impostos, diante de perdas, mortes, causadas pelo COVID (eu e minha família sabemos bem!) é tempo de respondermos: 

“Estai sempre preparados para responder sobre a razão da esperança que há em vós”. 

E hora de abrir o coração... de saltar nos braços do Pai. Que é a fé? É saltar no escuro... diante do infinito, mas na certeza de que há um Deus que nos abraça, que nos segura em Suas mãos. E diante da morte, as coisas do mundo se tornam efêmeras, obsoletas ....  

Mas temos diante de nós: “EU SOU”. Todas as vezes que reflito na dimensão deste poder, deste amor de Deus por nós, me emociono e ajoelho em sinal de gratidão, pois tenho recebido muitas dádivas, curas, apesar de não merecer. Sabendo que Ele nos amou primeiro, nos teceu no ventre de nossa mãe, e tem um plano para cada um de nós: 

“Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo”. Apoc.3,20.

Podemos, apesar de tudo, fazer a nossa escolha por caminhar, independente dos sofrimentos impostos, ou diante das escolhas infelizes que nós mesmos fizemos no decorrer de nossas vidas. Sempre é tempo de recomeçar, de pedir perdão, de renovar as promessas. E quiçá um dia dizer como o apóstolo: “Combati o bom combate”.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Lei Brasileira de Inclusão - Lei 13.146/2015

A Lei Brasileira de Inclusão completou no mês de julho cinco anos. Com o intuito de divulgar e promover a referida Lei, que comecei a escrever sobre ela na edição publicada do dia 18 de julho. Naquela edição o foco foi o 1º art. que fala da finalidade da lei, que é assegurar e promover a igualdade de direitos fundamentais da pessoa com deficiência. Dando continuidade a esse propósito, nessa edição inicio pelo art. 2º que define a pessoa com deficiência.  

O art. 2º diz que considera pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. 

A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar é o que está definido no parágrafo primeiro. É considerado como deficiência:
I – os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II – os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III – a limitação no desempenho de atividades; e
IV – a restrição de participação.

O parágrafo 2º diz que cabe ao Poder Executivo criar instrumentos para avaliação da deficiência.

Já conhecemos um pouco a lei, a sua finalidade e o que ela define como pessoa com deficiência e o que é considerado na avaliação. E que o poder executivo é o responsável em criar instrumento para avaliação.  

O art. 3º fala da acessibilidade, que para fim de aplicação, a Lei considera que: a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.

Barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas. São muitas barreiras, elas são visíveis e invisíveis. Diante de todas essas barreiras estão as nossas atitudes ou nossa falta de atitude. Cito mais algumas barreiras, barreiras tecnológicas, barreiras nas comunicações e na informação, barreiras arquitetônicas, barreiras nos transportes. Todas essas barreiras são visíveis e também há barreiras invisíveis e estão inseridas do nosso cotidiano. Atitudes muitas vezes tomadas por falta de conhecimento, mas há aquelas que são fruto de uma sociedade preconceituosa, que insiste em desobedecer às normas em nome de uma superioridade. 

O art. 3º é bem objetivo, pois falam da acessibilidade com abrangência, apontando todo o tipo de barreiras e obstáculos que nos impede de ir e vir. Por isso essa lei tem de ser divulgada, pois interessa a todos. 

Da Igualdade e da Não Discriminação. O art. 4° fala que toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. No parágrafo 1º: Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.  

Direito a igualdade de oportunidade, em uma sociedade como a nossa em que prevalece a competição. É preciso agir com inteligência e humildade, mas jamais deixar ser humilhado, discriminado ou deixado para trás. Precisamos usar a força da Lei e fazer que ela seja aplicada. A deficiência não nos faz incapaz. É a própria sociedade que tira a capacidade do ser humano, impondo barreiras e obstáculos, ou com a ausência de apoio.

Que todos tenham acesso a tudo que tem por direito. O direito a liberdade, o direito de pensamento, o direito de ser e sem ser rotulados ou obrigados a seguir padrões para ser aceito. Como estão as políticas públicas de acessibilidade em nossa cidade? Estamos falando de uma Lei com apenas cinco anos, todos nós deficiente ou não estamos aprendendo, e para isso é preciso conhecer essa Lei que desde julho de 2015 legisla em defesa dos direitos da pessoa com deficiência. “O incentivo de viver é arriscar, deixe o medo para os fracos”. (Charles Chaplin)

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

Brasil, o país do podcast

Já sabemos que podcasts estão em alta. São arquivos em áudio, disponibilizados em plataformas de streaming e em sites. Funciona de forma bem parecida com um rádio, mas com a possibilidade de ouvir na hora que quiser, e usando a internet ao invés das ondas do rádio. Além disso, podcasts são mais segmentados sobre um tema. É fato de que é o queridinho do momento. O próprio Spotify considera o Brasil como “o país do podcast”, já que somos o segundo que mais consome o conteúdo em áudio, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, de acordo com a pesquisa Podcast Stats Soubdbites. 

A grande novidade é que o Spotify, um dos streams líderes no ramo, agora está adicionando uma nova funcionalidade a seu serviço: os podcasts em vídeo, garantindo assim uma maior conexão entre o produtor e o consumidor de conteúdo. A funcionalidade ainda não está liberada para todos, apenas para produtores selecionados, mas em breve deve chegar para todos os assinantes.

É claro que, teoricamente, já existe podcast em vídeo, através do YouTube. Produtores de conteúdo gravam a produção do podcast e disponibilizam no YouTube. Mas a ferramenta Google tem alguns pontos negativos para os usuários comuns, e o principal é não poder ver o vídeo em segundo plano (quando você pode alternar entre os apps, minimizar a tela, bloquear a tela e mesmo assim continuar ouvindo e vendo a imagem mesmo que em miniatura), funcionalidade que o Spotify contemplará. No YouTube, a visualização em segundo plano só é disponibilizada para assinantes Premium.

Para os produtores de conteúdo em podcasts, fica a dica: com os vídeos, não se esqueça de respeitar a característica de podcasts, que é fornecer um conteúdo mais despojado e espontâneo. Então, nada de vídeos superproduzidos, faça com que seu ouvinte se sinta próximo de você através de seus conteúdos. 

Para gravar podcast, não é preciso muita estrutura, e com vídeos não é diferente. Mas, é claro, é preciso gravar em um ambiente sem ruídos externos, com boa iluminação, bom enquadramento de câmera, além de usar microfone e câmera de boa qualidade. 


Autores:
Maria Carolina Avis é professora
do curso de Marketing Digital do Centro Universitário Internacional Uninter

Achiles Batista Ferreira Junior é coordenador dos cursos de Marketing e Marketing Digital do Centro Universitário Internacional Uninter


"Carpe diem"

A vida é o agora enquanto estamos pensando no futuro, acho que foi mais ou menos isso que disse John Lennon. Onde você está agora? No passado, no presente ou no futuro? Sem perceber, ficamos longe de nós, distante da realidade por alguns instantes. Longe de mim, fluindo por aí. 

Aproveite o dia. Aproveite o momento. Viver o hoje, o agora, o momento, o instante. Aproveite o seu dia. Estão respire, inspire, o universo congratula com o todo. Viver o dia de hoje, o ontem se fez passado e o amanhã ainda não existe. O hoje, o momento, e a sua completude.  

Aproveitar o dia de hoje não significa viver de forma desregrada. Aproveitar o tempo que temos, para nos conhecer melhor. Aproveitar o tempo para aprender e ensinar, para amar e perdoar. Para sonhar por esse momento projetando o amanhã, para que isso aconteça será preciso estar no agora, no presente. 

Será que é o tempo que está passando muito rápido, ou somos nós que mergulhamos em nossos afazeres e não sentimos a leveza e as sutilezas de tudo que está ao nosso redor? Se não dermos conta das nossas atividades diária, a culpa é do tempo. Não deu tempo. O tempo está passando muito rápido. Nem vi a hora passar. Uma coisa é certa: não é possível parar o tempo. 

Quanto tempo tem o próprio tempo? Diante de um problema eu procuro solucioná-lo, essa é uma atitude. Também posso ter outra atitude, cruzar os braços e nada fazer. As duas opções, as duas atitudes ocorrem dentro de um determinado tempo. O tempo que tenho para resolvê-lo se esvai, resolvendo ou não tal problema. Aproveitar o tempo, cada um do seu jeito.

E a felicidade, em que tempo está? Será que o tempo de um momento de tristeza dura o mesmo tempo de um momento de alegria? A felicidade é absoluta ou é relativa? Qual é o critério que eu uso para classificar o que é absoluto e o que é relativo? Talvez essas questões, essas interrogações pareçam um pouco inconvenientes. Será que as pessoas estão preocupadas com isso?

Que momento? Oh, tempo, o que queres? Quer o tempo do meu tempo, apenas o momento e o instante e um pouco do que já não existe mais. O que era? Era um tempo que se escorreu pelas frestas do infinito. Era um horizonte mais colorido e bem mais próximo. 

O tempo de amar, ternura e suavizar os corações. O tempo atracado nos mares da vida. Nas profundas águas que levam sonhos, segredos e desejos. São os olhares sobre o tempo. É um tempo que passa no piscar de olho. Vejo os meus dias, vivencio e saio de cena. Faço e refaço e depois de alguns momentos, desfaço em minha imaginação. 

Foi um tempo, era o tempo até que finda os próximos momentos. Foi o tempo que envelheceu e passou por mim sem ao menos pedir licença. Não importa o tempo, o horizonte está mais colorido. O céu está mais azul e os olhares mais ávidos. Tempo. Tempo meu, o meu tempo, o tempo que foge e deixa sua marcas. 

O tempo que nos deixa sem resposta. O tempo que não quer ouvir um simples lamento. Então sigo por esse caminho o meu caminhar. O tempo do meu momento, hoje e o agora e a intensidade de cada instante. E assim segue, segue os momentos, deixe fluir; deixe florir. O sentimento em mim e as dores do mundo; cura-me, oh tempo cicatriza as feridas e dai bênçãos ao céu. Vida, vida minha, minhas perplexas insinuações. 

Cessam-se todos os gritos e a suavidade mansamente sublima por novos tempos. Tempo, oh tempo que em mim se dissolve em juras piedosas e planificam ao sabor dessas Intempéries. Aproveito o meu tempo para ser feliz do meu jeito. É o meu tempo. O tempo que se esvai enquanto escrevo esse texto. “Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou”. (Renato Russo)

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

E agora, qual é o plano futuro para o
setor de saúde depois da pandemia?

A Covid-19 impulsionou algumas mudanças no setor de saúde como reorganização da assistência, atualização de protocolos, cuidados com a força de trabalho, imagem da empresa. Os setores, privado e público, unem forças e conhecimentos para “sobreviver”, mas e depois que a pandemia passar, como deverão organizar-se? Ainda irá funcionar de forma passiva no estado, a espera do paciente? Gestores públicos na luta com o distanciamento social e as medidas restritivas da sociedade, o setor de saúde esmagado pela demanda que já era insuportável, e agora está acrescida das novas demandas da pandemia.

Muitos estão focados nas estratégias para o enfrentamento neste momento. Mas, temos que nos preocupar com o futuro também e fazer um planejamento estratégico de médio e longo prazo. Então, como organizar o setor após pandemia? Quais os aprendizados devemos incorporar na rotina de nossos serviços?

Primeiro devemos entender que a forma como as pessoas irão “consumir” saúde será diferente, quais os critérios de escolha dos serviços pelo cliente?

Como diz o médico psiquiatra, Antônio Quinto Neto, em seu blog sobre Qualidade e Segurança Assistencial “atender toda a população através dos modelos tradicionais de cuidado exige uma quantidade infinita de recursos. A medicina digital –  promessa da Quarta Revolução Industrial – surge como base para que as ferramentas da inteligência artificial e outros recursos informacionais transformem os cuidados de saúde e proporcionem a incomparável oportunidade de acesso a todos em suas próprias casas”.

O atender tradicional, restrito às paredes dos serviços de saúde, exigirão mudanças na biossegurança, nos processos de trabalho, investimento na estrutura física, espaçamento dos atendimentos, a lógica da produção em escala não fará mais sentindo, por tudo isto, manter as estruturas custará mais caro.

Como podemos alterar a dialética do antes da Covid-19? Quando os serviços ficam na espera dos clientes, na busca por suas necessidades sentidas, com transferência total da responsabilidade pela procura para o paciente.

Em todos os setores que prestam serviços, a lógica mudou, em plena pandemia vemos que o futuro chegou mais cedo e de um jeito trágico.

A Associação Nacional de Hospitais Privados (ANHP) aponta que o “desafio agora é aproveitar a oportunidade para tornar o exercício da medicina, através da utilização de metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados, uma realidade no Brasil quando a pandemia passar. Para isso, será preciso se adequar para oferecer serviços seguros e de qualidade para um grande número de pessoas”.   

O setor de saúde deverá se reinventar, assim como vários setores da economia que fazem prestação de serviços, haverá necessidade de mudanças estruturais de forma radical no investimento em pesquisa, tecnologia, qualificação e oferta de serviços de saúde.


Ivana Maria Saes Busato é doutora em Odontologia, coordenadora dos Cursos de Tecnologia em Gestão Hospitalar e Gestão de Saúde Pública do Centro Universitário Internacional Uninter


Carta às mães enlutadas - marche!

Quando estava escrevendo esta carta para as mães, no início desta semana, minha família e eu fomos diagnosticados com COVID. Confesso que assusta, pois não é uma doença fácil. E estivemos por cerca de quatro meses em quarentena. Mas confesso também que neste exato momento podemos saber a proporção de nossa fé, a grandeza de nosso Deus!  Minha fé é imensa. Então escrevo novamente, pois semana passada uma amiga também perdeu seu filho, com a mesma doença do meu Marcos. E conheci recentemente Marisa, que perdeu sua única filha de 17 anos, devido à negligência de um caminhão que avançou o sinal vermelho, na faixa de pedestres! (Sem comentários, a indignação grita!).

Muitos me dizem que não saberiam como lidar com estas famílias, diante desta tristeza imensa. Geralmente as pessoas encontram dificuldades para lidar com a dor do outro; assim, o enlutado acaba ficando sozinho, e diante de uma tristeza incomensurável... Mas sempre podemos ajudar: oferecer apoio, acolher, tratar com carinho, dedicar um tempo para ouvir, e se não souber o que dizer, a presença em si já representa muito.

Vou tentar descrever o que tenho dito à estas mães (e a mim mesma!): somente em Deus encontraremos forças para continuar a caminhada. Pode parecer um clichê, uma frase pronta, mas é a realidade. Porque se não há fé, esperança, a vida em si perde o sentido, tudo é em vão. Muitos entram no desespero, no desânimo, desistem de viver. E como continuar a caminhada se não encontrarmos o propósito interior...

Recorro à Viktor Frankl, criador da Logoterapia (sentido da vida) viveu cinco anos em um campo de concentração durante o Holocausto. Ele perdeu tudo. Casa, carreira, esposa, pais, irmãos, tudo. Toda a sua família foi assassinada. E lá no campo, em meio ao sofrimento extremo, diante da dor de perder os seus amados e do todo sofrimento imposto, descobriu que os únicos que conseguiam seguir adiante eram os que acreditavam em Deus, no propósito da vida. Franklin era judeu, médico, vivia com o prestígio de sua carreira, suas conquistas, e de repente sua vida se transformou em tragédia. Mas ele descobriu que além de motivações de natureza humana, temos algo mais forte que nos move: o propósito.

Costumo dizer às mães que não adianta querermos entender os desígnios de Deus, não nos compete saber. Nem mesmo ficar cogitando como teria sido a vida de nossos filhos queridos se eles continuassem vivos aqui, pois isso representa um processo de tortura ad infinitum. Qual o sentido de aumentarmos ainda mais nosso sofrimento? Não devemos olhar para trás, mas seguir adiante, por mais difícil (ou cruel) que possa parecer. Caminhar com o que temos hoje. E indagar, todos dias, sobre o sentido da vida, o télos. A morte não pode definir quem somos. Ela não tem a última palavra.

Ressaltando que Deus não deseja o sofrimento, nem a morte de ninguém: “A morte não estava nos planos de Deus”. Mas a salvação sim. Por isso Jesus veio aqui, morreu para nos salvar. E preparou um lugar maravilhoso para cada um de nós, e o que nos aguarda está além da compreensão humana. E na oração, na ação no bem, nos pequenos atos de amor, vamos caminhando. Um dia por vez. Sabendo que marchamos. Sim porque o enlutado não anda: MARCHA! (Como soldados, tentando vencer a batalha da dor a cada dia).

Compreendendo que até os anjos tiveram as provas deles, assim, nós estamos enfrentado a nossa grande batalha. E temos a escolha de sairmos vitoriosos se confiarmos no amor do Pai. Ele é um Deus dos vivos, não dos mortos: Deus de Abraão, Daniel, Salomão, Davi, heróis bíblicos que deixaram um rastro de fé, coragem e determinação e acima de tudo de obediência. Por este sinal de fidelidade não teremos revoltas, lamúrias ou desânimos, seguiremos nossa jornada.

E precisamos saber que sempre podemos escolher. Neste entendimento, agir, decidir comandar as emoções, acreditar que há um sentido em nossas vidas. O desânimo não pertence ao cristão, porque temos como paráclito o Espírito Santo. E Ele sopra em nossos corações, em um amor inexplicável, nos dando forças para continuar. E todo o bem que você fizer aqui, toda oração, será recebida por seu amado. Porque Deus é misericordioso, não separa os que muito amam.

Assim, apesar de tudo: marche! Você não está sozinho nesta caminhada.

“Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Ex 3,6)? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos”. Matheus, 22, 32.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Cinco anos da Lei 13.146

Importante avanço para o país, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, (Lei 13.146/2015) completou cinco anos no dia 6 de julho. Essa lei garantiu uma série de direitos para aproximadamente 45,6 milhões de brasileiro (a)s com algum tipo de deficiência, representando de acordo com pesquisa IBGE de 2010 uma parcela de 23,8% da população brasileira. 

No 1° art., diz que a lei destina a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

A lei trouxe inúmeras mudanças para a sociedade em relação à pessoa com deficiência. A partir dessa data, temos uma lei que nos protege, pode até falar que é somente mais uma lei entre muitas que já existem. Não se trata de apenas mais uma lei, e sim de uma conquista. Conquista para toda essa parcela da população, que se estende para toda a sociedade. Em uma sociedade que se diz democrática não pode haver exclusão.

No seu 1º art., a lei nos assegura a promoção das condições de igualdade. Somos iguais perante a lei, isso está assegurado pelo art. 5° da Constituição Federal de 05 de outubro de 1988. Igualdade de oportunidades em todos os aspectos. Não é porque a pessoa é deficiente que não tem capacidades para participar do desenvolvimento da sociedade. A cidadania é para todas as pessoas, a deficiência não faz da pessoa mais cidadão ou menos cidadão, isso não existe ou não deveria existir. A lei cumpre o seu papel, e é através dela que as injustiças cometidas são reparadas. Direitos respeitados são sinônimos de cidadania.

A nossa atual Constituição Federal é conhecida como Constituição Cidadã, justamente por isso, é nela que estão resguardados todos os nossos direitos. Temos que ter em mente que tudo isso que está contido no 1º art. Lei 13.146/2015 e no art. 5º da constituição, são pequenos passos que vamos dando ao longo dessa caminhada. Que aos poucos vão se concretizando e transformando em grandes conquistas.

Os cinco anos que se comemora nesse mês foi uma conquista que não aconteceu em julho de 2015, foram anos e anos de debates, com a importante participação da sociedade. Nada acontece assim da noite para o dia. O direito de ter direito é isso que a Lei Brasileira 13.146/2015 nos concede. A lei é todos e para todos.

Esses cinco anos têm que ser visto como um avanço para a sociedade brasileira. O advento da lei está fazendo com que o país repense a sua política em todos os aspectos. Os municípios se adaptem e que os gestores públicos tenham um novo olhar, uma nova postura diante das mudanças que se fazem necessárias sobre políticas públicas.

O que nos faz diferente? O que nos deixa indiferente? O 1° art. Tornam-nos iguais, em uma sociedade que até tão pouco tempo nos enxergava como diferentes e com indiferenças. Diferentes sim, todos somos diferentes, cada ser humano com as suas peculiaridades, com as suas individualidades. Diferentes e indiferentes. Nas diferenças busquemos a igualdade de direitos, enquanto que nas indiferenças se apequenamos e nos corroemos mediantes aos preconceitos.  

Direito de todos de ter uma vida digna. Direito que nos concede a liberdade de ser o que somos e do jeito que somos. Liberdade de sonhar, pois o sonho também nos pertence. Sonhar para suavizar um pouco a dureza da realidade. Ainda que se possa sonhar e de tanto sonhar, realizar. Viver brincando de realidade, na legalidade e até mesmo nas impossibilidades. E nas impossibilidades descobrir que as possibilidades estão ao alcance de todos. O alicerce que sustenta todos os nossos anseios, todas as nossas buscas é a esperança. É nela que colocamos todos os nossos esforços, toda a nossa fé e o amor como gratuidade. 

“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Carl Jung.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

Hora de avançar com o saneamento

O novo marco legal do saneamento foi aprovado em boa hora. Após recuos e avanços durante os últimos anos, finalmente temos uma nova legislação, que permitirá o desenvolvimento de uma nova etapa no setor e trazer soluções para 35 milhões de brasileiros que ainda não dispõem de abastecimento de água e outros 100 milhões com residências sem coleta e tratamento de esgoto.

Cada grupo envolvido na discussão do novo marco pode considerar que o texto não atendeu todas as demandas, mas o importante é que conseguimos apontar um rumo e abrir possibilidade de investimentos nessa área. Um dos aspectos positivos da norma foi uma maior competição e o estabelecimento de metas para empresas prestadoras de serviços. Até o momento, contamos com o chamado contrato de programa, no qual a companhia estadual responsável pela água e esgoto pouco, ou quase nada, atendia às necessidades municipais de saneamento.

Isso deve mudar significativamente nos próximos anos, com contratos que estabeleçam as obrigações e metas das concessionárias. Com certeza, continuaremos a contar com empresas públicas e privadas na prestação desses serviços. A partir de agora, a companhia terá a obrigatoriedade de atender bem seus usuários.

Por outro lado, os prazos estabelecidos pelo novo marco legal são extremamente difíceis de serem alcançados. A legislação estabelece o atendimento de abastecimento de água para 99% da população e 90% para coleta e tratamento de esgoto nos próximos 13 anos. Para atingir esses objetivos, serão necessários investimentos que variam entre R$ 500 a R$ 700 bilhões até 2033. O saneamento é uma área extremamente complexa, com diferentes realidades entre as regiões brasileiras. Por isso, cada Estado brasileiro tem um perfil e essas metas deveriam ter levado em conta a dinâmica dessas localidades no atendimento às demandas de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Até mais do que isso, o saneamento precisa se tornar uma política de Estado, com o compromisso dos gestores em transformá-lo em um dos principais pilares do desenvolvimento econômico e social brasileiro, independente de qual partido esteja no poder. Cabe ainda ressaltar a necessidade de ter um planejamento e uma gestão centralizada na Secretaria Nacional de Saneamento.

O planejamento será fundamental para a atender as demandas necessárias para a implantação dos empreendimentos e a prestação de serviços. Ele deve ser um guia de como os governos deverão trabalhar, com informações atualizadas, que tragam um panorama claro da situação do setor em todo o território nacional e o seu acompanhamento anual permitirá a correção de rumos, caso necessário.
O novo marco legal avança um passo importante para a universalização do abastecimento de água e esgotamento sanitário. Mas para transformar essas ideias em realidade, precisamos de vontade política.

Luiz Pladevall é presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de
Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da
ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).
Alienados ideológicos e a politicagem de plantão

Desde que o coronavírus foi declarado como uma pandemia, esse assunto passou a ser recorrente nos noticiários, como não podia ser diferente. O Brasil já vivia uma crise política e econômica. A crise política e o clima político se acirraram nos últimos anos. A crise na saúde provocada pela pandemia dava a sensação de que o ânimo no campo político se acalmasse, pelos menos nesse período crítico provocado pela crise sanitária.

Todos os esforços teria que ser direcionado ao combate à crise. Mas não foi o que aconteceu, a situação extrapolou de tal maneira que uma causa que é de saúde pública foi politizada; todos nós estamos acompanhando os resultados e vendo o que está acontecendo. Mas se dependesse do governo federal a situação estaria pior.

Direita e esquerda, progressistas e conservadores, oposição e situação, alienados ideológicos e a politicagem de plantão. Ao politizar o vírus enfraqueceu o seu combate e puseram a vida da população em segundo plano. A crise política, a crise econômica ao se juntar com a crise sanitária, o resultado não poderia ser outro. Além de tudo isso, ainda tem as eleições municipais para aumentar ainda mais a tensão.

Em meio a tudo isso é possível detectar outro elemento tão conclamado pelos governistas, o combate à corrupção. A transparência e a moralidade na política. Depois de um ano e meio de governo percebe que isso está muito longe de acontecer. Os mesmos que em campanha demonizava a velha política, os velhos políticos de sempre que eles diziam que era a raiz de todos os males que recai ou recaía sobre os brasileiros, hoje se abraçam como bons e velhos amigos.

A direita está no poder, então acabou a corrupção. Acabou? A questão não é acabar com a corrupção, não que ela seja boa para o país, claro que não. O que é constrangedor ou deveria ser é dizer ou fingir que está fazendo de tudo para combater esse mal que assola o país. Mas, na verdade está protegendo seus familiares e amigos. Infelizmente tudo se acabou em retórica. Foi mais um projeto de poder. E a corrupção continua corroendo a República.

Seria um novo jeito de fazer política. O viés ideológico deixaria de fazer parte da política brasileira. O viés ideológico é a referida esquerda, que segundo eles era o maior problema do país e tinha que ser exterminada. A esquerda saiu do poder. O compromisso foi cumprido. Todos os esquerdistas são corruptos, ouvi isso de várias pessoas que se dizem ser de direita. Falam que a esquerda tem que ser aniquilada. Esse tipo de fala não cabe numa sociedade democrática. Quem alimenta essa forma de discurso não é alinhado com a democracia. É preciso saber conviver com o diferente e aceitar que o diferente tem o direito de existir e ter o seu espaço.

Ideologia a parte, o que mais cabe nesse momento é a compaixão. Tentar se colocar no lugar do outro. Muitas pessoas estão mostrando que é possível, que é preciso fazer o bem. Quando o Estado é falho, a sociedade mostra o seu poder, em inúmeros gestos de solidariedade.

Negar que o momento é difícil, não é a melhor coisa a se fazer. Ficar lamentando também não seria a melhor opção. Acredito que o melhor a fazer é aceitar e compreender o que está acontecendo. Aceitar, mas não ficar apático, e sim ser empático. Será que posso fazer alguma coisa? Sempre é possível fazer algo. Quero acreditar que ninguém em sã consciência torce pelo pior, embora a situação do país não visualize um horizonte que seja assim tão colorido. Eu sempre gosto de citar palavra esperança. E sempre há esperança por mais difícil que seja a situação. 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

Pequenos (ou grandes) atos de amor

Recebi certa vez uma mensagem de minha filha Andressa, com um texto popular em que era narrado a história de uma madame que parou para comprar ovos de um senhor pobrezinho. Ele vendia os ovos a $ 0,50 centavos cada. A mulher, esperta e arrogante, ofereceu um preço menor para comprar seis deles ou não ficaria com nada; o senhorzinho disse não haver problema, pois não havia vendido nada naquele dia. (É de cortar o coração…). Depois, no mesmo dia, a madame foi a um restaurante chique e pediu um prato caro. A conta ficou em $ 400,00, mas ela pagou $ 500,00, deixando o troco para o fino restaurante. O texto terminava com a mensagem final, em que o autor descrevia que agora podia compreender seu pai, narrando que certa vez, comprando ovos de um senhor humilde e pobrezinho, ofereceu mais do que este pedia. Ele perguntou ao pai o porquê desta atitude, em que o pai lhe respondeu que era para dar ao outro também a oferenda da dignidade!

Esta narrativa me fez perceber que o menor ato de amor que fazemos não passará em branco jamais. Minha filha se lembrou de coisas que eu fazia quando ela era ainda uma menina; isto aqueceu meu coração de mãe (mãe se cobra o tempo todo! Ai de mim). Ela me disse que recordou de mim quando leu aquele texto sobre ofertar dignidade ao outro, e eu fiquei muito grata.

Talvez este texto pareça uma bobagem; estas atitudes de compaixão podem ser interpretadas como tolice. Mas estas pequenas atitudes de caridade conseguem expressar (ensinar) mais que muitas palavras, principalmente quando educamos crianças, jovens. Quando nos colocamos no lugar do outro, compreendendo suas necessidades, podemos propagar o bem, que certamente deixará rastros...

Considerando que muitas vezes podemos estar diante de alguém que está vendendo coisas para conseguir sobreviver (passando fome) ou em que seria a única fonte de renda de sua família. Não seria realmente um ato de caridade não pedir desconto e ainda oferecer um pouco mais? Repare no comércio, principalmente de pessoas simples, humildes, que estão trabalhando com sacrifício e em que muitos (espertos) tentam levar vantagem.

Rememorando o texto, lembrei da caridade de meu pai, seu coração generoso (ele faleceu há mais de vinte anos). Recordo enternecida sua forma de tratar os mais pobres, todos aqueles que julgasse precisar de alguma coisa, pois percebia os olhares aflitos ... Meu pai costumava fazer doações; sempre que comprava algo novo procurava alguém pobre para doar, jamais vendia nada. 

Certa vez estávamos na praia e havia um senhorzinho vendendo pipas. Meu pai observando sua expressão de tristeza, frente a um sol escaldante, tratou de perguntar ao senhor: - Quanto é cada pipa?Quantas pipas você tem? – O senhor respondeu: Tenho mais de 40 pipas. Meu pai perguntou: Quanto tempo você leva para vender todas elas? – O senhor respondeu: às vezes semanas, às vezes meses; tem dias que não vendo nenhuma! (não me recordo o preço, mas gravei que eram mais de quarenta...)

Então meu pai abriu um largo sorriso e comprou todas as pipas. Recordo que pagou ainda muito mais pelo preço de todas elas. Lembro da emoção, da expressão atônita daquele vendedor humilde, um pouco idoso, que chorava e agradecia ao mesmo tempo. Eu, ainda menina, experimentava uma alegria inesperada; grata ao ver meu pai compreender a dor e a necessidade do outro.

E nestes tempos de Pandemia, em que mais do que nunca precisamos rever os passos, exercitar a caridade, meu coração se aquece por conviver com pessoas generosas, por rever familiares, amigos, pessoas queridas que mesmo o tempo ou a distância não conseguiram apagar ... Porque o amor deixa rastros. “As palavras comovem, as ações arrastam!”. 

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Ao sabor dos dias que virão

Gosto de escrever. No quintal do imaginário semeio palavras e as flores vêm depois. Depois de algum tempo, um tempo qualquer lá no meu quintal. No meu quintal nasce um tempo; um tempo para eu pensar, um tempo para refazer-me. Gosto dos dias de chuva, eles não apagam meus pensamentos e nem afoga os meus sentimentos. Gostos dos dias de chuvas, eles irrigam a alma e fortalece a minha esperança. Há um sentimento plantado no meu quintal e flores ao redor e o silêncio descansa em plenitude.

Sonhos ao sabor dos dias que estão por vir. Num finalzinho de tarde, o sol em despedida, o sonho, a esperança e uma poesia ao luar. A vida em cantos e canções suaviza o sublime e acalenta alma e coração. Sutilmente flui o gosto gostoso, o paladar do viver. A seiva da vida e a essência do ser. Da janela do mundo, o horizonte ao alcance das mãos.

O olhar quer escrever a minha liberdade no painel do imaginário. Esconde-me nesses versos e esquece-me em uma triste poesia. As cores da liberdade, o amor, a paz, a esperança e a pedagogia do viver. Ontem, a noite sonhou com as estrelas e o luar num sorriso de criança.

Eu escrevo entre as flores sob os olhares enfáticos dos espinhos.

Eu falo de flores e às vezes os espinhos me incomodam, mas nada que tira a minha tranquilidade. Minha paciência preenche os meus momentos, intensificam meus instantes e dorme um pouco mais. Logo ali, quase ao alcance das mãos, vejo o meu dia por inteiro num pouquinho de mim que descansa sob os sonhos que estão por vir.

Gosto de escrever, embora às vezes, tenho que escrever sobre a noite, no escuro do olhar, mas logo vem sol e a poesia floresce. No meu quintal a terra é fértil, e a imaginação dorme esperando a próxima estação. Vou sair desse lugar à procura de um pouco mais, um pouco de algo, não sei, acho que me perdi, o meu eu me deixou e o meu ser se extasiou.

Meu ser embrenhou em estranhos sentimentos, deixou a solidão em silêncio em um dia qualquer. Em um dia qualquer, qualquer coisa pode acontecer. No meu quintal a vida é imaginada numa singeleza. A vida. O que é a vida? Olha! O dia já amanheceu e vem à tarde e anoitece outra vez. De repente a felicidade me invade e tão de repente assim, e vai embora. No meio do caminho havia uma pedra, lembra o poeta Carlos Drummond de Andrade, no meio do caminho poderia ter outro caminho, e outro, e outro, assim de caminho em caminho possamos chegar ao finito do infinito, mas o infinito é infinitamente infinito.

Assim rolam as pedras, as pedras rolam em busca de outras pedras, que rolam ao sabor das desventuras. Podemos ser pedras que rolam ao encontro de nós mesmos, ao encontro de algo que faça a vida ter sentido. No rio da saudade, águas sinuosas nas inquietas correntezas que vão ao encontro de outras águas. Que façamos que tudo valha a pena. Como poetizou Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não for pequena”.

Não podemos se apequenar diante da vida. O mundo nos oferece diversos caminhos que muitas vezes nos apequenam diante da vida os momentos difíceis passam, os problemas serão resolvidos. A vida pede mais vida, a vida exige mais vida, a vida nos convoca e ao mesmo tempo nos provoca para sermos grandes. A vida é tão valiosa, a vida é tão generosa. A vida tem que ser plena.

Lá no meu quintal plantam-se sonhos ao sabor das utopias para colher esperança e planificar novos caminhos.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


A assertividade, a Estética - possibilidades para
novos caminhos na educação

Em tempos de pandemia, muitos debates surgiram sobre a educação, metodologias, formas de ensino e educação à distância, diálogos virtuais. E por trabalhar na gestão de escola, entre tarefas como compartilhar a organização da instituição, questões burocráticas e colóquios via internet com toda a equipe escolar, acredito que o momento exige que pensemos em novos caminhos para a educação (pensar fora da caixa).

A educação esteve atrelada aos moldes e padrões do tecnicismo, utilitarismo e para a demanda de mercado. Se rememorarmos o ensino na antiguidade, poderemos refletir sobre o papel do pedagogo, sua função na educação, formação do aluno. O Brasil seguiu diferentes padrões de educação, copiando o modelo dos EUA, enfrentando períodos de diferentes governos e “adaptando” a educação diante do que considerou necessário.

Na atualidade, diante de tudo que vivemos, seria importante refletir sobre o papel da educação, qual a nossa contribuição, no sentido de reavaliarmos a proposta educacional, de avançarmos com o essencial, apesar da Pandemia.

Há um campo da “Psicologia da afirmação” que propõe que as pessoas sejam assertivas. Mas o que seria assertividade? É a habilidade social de expressar pensamentos, posições, crenças, sentimentos de forma clara, honesta, objetiva, mas principalmente, com respeito. A pessoa assertiva dialoga de forma respeitosa, sem arrogância ou prepotência, com a capacidade de ouvir o outro.

Quando nos tornamos assertivos conseguimos dialogar com tranquilidade, com questionamentos que não visam diminuir ou ofender o outro, mas trazer o entendimento, a paz. Dialogar sem dissimulações, ironias ou confrontos. E é importante não reagir, não entrar na armadilha do ego ferido. Nem revidar, ofender, nem tão pouco fingir que nada aconteceu. Mas, de forma clara, direta, passar o que se deseja, se possível com o olhar da alteridade.  Difícil? Certamente. É um exercício, uma busca. Pode ser necessário também estender o perdão ou mesmo se desculpar, reparar o erro cometido.

Muitos dos problemas enfrentados na educação se encontram também nas relações humanas, na falta de assertividade. Seria importante avaliarmos nossos comportamentos, pois muitas vezes nem nos damos conta da forma como agimos ou reagimos (a reação vem do inconsciente) diante dos problemas e situações. E podemos ensinar isto aos alunos, às crianças.

Considerando também que a educação atual, de um modo geral, tem sido permissiva, com falta de autoridade dos pais, omissões e desconhecimento do papel da família na formação humana. Muitos acham que mimar seus filhos, dando-lhes tudo, sendo condescendente, já basta. É primordial ensinarmos sobre corresponsabilidade, generosidade, compaixão, e o sentido de nossa existência. A criança que não aprendeu sobre perdas, frustrações, ou o significado de caridade, compaixão, dificilmente desenvolverá a resiliência ou mesmo a cidadania (ver Jaime Pinsky).

Compreendendo que a virtude: bondade, justiça, misericórdia, não nascem espontaneamente – são valores que precisam ser trabalhados, vivenciados no dia a dia. Educar exige postura, reconhecimento, amorosidade, mas acima de tudo, um questionamento sobre como estamos agindo, quem somos, e dentro de qual propósito estamos educando. Estes parâmetros precisam estar bem definidos em uma educação coerente.

Uma possibilidade seria a educação Estética, no conceito de belo, relacionada à beleza no sentido filosófico, em que remete à virtude, aos valores, à Ética (conceito). A partir do momento e que a arte modificou seus parâmetros, passando da função de remeter ao Belo, para tornar-se utilitarista, atendendo ao mercado consumidor, iniciamos um lento processo de degradação moral e espiritual.

A arte, no passado, tinha a intenção de refletir sobre os valores, nos elevar espiritualmente. Desde que Duchamp apresentou ao mundo o “Urinol”, como uma crítica à arte, apesar de não ser essa sua intenção, a arte foi interpretada como podendo ser qualquer coisa. Também Pablo Picasso usou a arte desfocada, em cubismo para chocar, mostrar ao mundo o “ensaio de Hitler” em Guernica. Este movimento foi importante e talvez não compreendido em sua intencionalidade.

Refletindo que nem tudo é arte; muito menos o que corrompe! A Estética pode influenciar, modificar comportamentos, padrões morais. Na atualidade, com a Pandemia, seria importante a reflexão sobre o sentido da educação, com a possibilidade de abrir novos caminhos, ampliar o olhar, acolher, trabalhar a sensibilidade. 

O medo, a ansiedade não pode nos desanimar ou paralisar. E a morte não pode definir quem somos. Há um propósito em nossa vida. Somos mais que passarinhos... Para o cristão, existe a Graça. E esta metanóia é possível na fé, esperança, fortaleza: virtudes teológicas. Virtudes que a modernidade tratou de abafar, diante da dessacralização, do endeusamento do ser humano, da egolatria.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Os instantes que tecem a beleza da vida

A beleza e a simplicidade em cada momento. A vida nos convida e nos convoca para juntos caminharmos. E assim segue, é viver e viver. Vivendo a cada respirar e a cada batida do nosso coração. Do amanhecer ao entardecer, o sublime e a suavidade nos simples gestos que nos humaniza. Aceitar o convite da vida e a sua gratuidade. Aceitar os preceitos que a vida nos impõe, não significa aceitar os limites que a sociedade quer nos impor. Compreender a nossa missão e entender a importância de comprometermos com a vida. 

Para falar da vida nos mais profundos sentimentos. Para falar da vida em tudo que é sublime. Um sentimento único, um olhar profundo e a totalidade que nos faz e nos completa como ser humano. O amor que nos humaniza, e nele nos irmanamos em profunda espiritualidade. Deus está em nós e nós estamos em Deus, pois Ele é o amor que se fez humano e se encarnou entre nós. O simples, o profundo, o humano e o sagrado. Tudo está em nós. Somos o sonho plantado do coração de Deus, a esperança espalhada como sementes de amor no seio da humanidade. 

A simples beleza do existir e a harmonia do viver. A beleza está na completude da existência e na essência do viver como um todo. A nossa existência é marcada por vitórias e derrotas. Nossas buscas são permeadas por encontros e desencontros. Buscamos a liberdade e a felicidade como plenitude. Para isso, mais do que vê-la é preciso sentir com a alma e o coração muito além da razão e das aparências. 

São tantos os obstáculos que nos impedem de ver o que realmente é o essencial. O que realmente nos importa. Muitas vezes, o que nos importa é deixado de lado, ou porque não queremos ver ou porque não nos interessa. Será que estamos dando importância para algo que realmente importa? O profundo e o superficial, o simples e o complexo. O sonho e a realidade, a vida e tudo que nela possa existir. A vivência e a sobrevivência e tudo que nos envolve e nos desenvolve como seres humanos. Os instantes que tecem a beleza da vida que contempla o que há de mais singelo em tudo que existe.

Há momentos difíceis, caminhos tortuosos, sonhos não realizados e tantos outros obstáculos que dificulta o nosso caminhar. O desprezo, o abandono e todas as formas de preconceitos que nos apequena diante da grandeza da vida. Frente às essas dificuldades, muitas vezes viver se torna um fardo que superam as nossas forças. Não suportamos tanto peso e caimos, a fraqueza nos abateu. Mesmo ferido e machucado tentamos levantar, buscando forças onde não temos. Mas, lá no fundo, bem lá no fundo emerge uma força que nem sabíamos que tínhamos. O amor sublime de um Pai misericordioso que nunca nos abandona.

A beleza da vida está nas nossas atitudes e como encaramos os nossos problemas. Como filhos e filhas de Deus ungido pelo seu espírito, não podemos ficar inerte aos problemas que nos aflige e esperando que tudo se resolva em um passe de mágica. A graça da vida é esse vai e vem, no encontro e no desencontro, no cair e levantar. No ir além de nós mesmo, e dizer: Deus jamais me desampara. Lembrando Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. 

A coragem para enfrentar e a fé que nos impulsiona que nos compromete com o todo como protagonistas de nossos sonhos. O medo pode até nos inibir, mas a coragem de seguir sempre em frente, desbravando a beleza da vida no duro chão da esperança. A dor não nos diminui, muito pelo contrário, a dor nos faz humano. Se a dor nos torna fraco, a superação nos faz fortes. 

Semeiam sementes de bondade nos férteis terrenos da vida para colher os frutos e alimentar a esperança. É a esperança que nos impulsiona e com ela temos a oportunidade de visualizar novos caminhos e novas possibilidades. A sutil leveza que afaga a face e enxuga as lágrimas na suavidade dos momentos que se eternizam em cada ser humano. A vida partilhada e compartilhada e a sensibilidade que aflora o ser elevando alma e espírito na esperança de dias melhores.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


PAS (Pessoas Altamente Sensíveis)

Faz tempo que vinha pensando em escrever sobre este tema, na verdade desde que descobri que também fazia parte deste grupo; assisti a uma entrevista na TV com o Roni Von, e conforme ele ia descrevendo o que se passava com pessoas altamente sensíveis eu só conseguia pensar com meus botões: isso, isso mesmo, ahan, euzinha também, iupiii!

Confesso que foi um alívio descobrir que existe uma parcela da população que vê os acontecimentos, as relações e vivências de forma mais sensível que o restante das pessoas, e por consequência, reage de maneira diferente. E durante grande parte de minha vida precisei disfarçar esse meu jeito de ser para poder me encaixar no padrão de “normalidade”.

Hoje aceito com gratidão essa sensibilidade extrema (que mais parecia um estigma) sem cobranças, comparações ou adaptações. Mas durante um bom tempo de minha vida me senti alheia a maioria das atitudes que constatava em outras pessoas, sempre mais pragmáticas, contidas (ou um tanto rudes...).

Esclarecendo que ser P.A.S. não significa ter aquela sensibilidade afetada, daquele que se magoa com tudo, ou contabiliza picuinhas. Não. É um olhar diferente, atento… Parece que vemos o mundo sob outra ótica. As expressões de arte como cinema, música, (ou mesmo um belo entardecer) são vistos com uma percepção aguçada, e as pessoas, suas histórias, lutas, alegrias, nos afetam em um sentido profundo... E é muito difícil encontrar serenidade em fatos que talvez pareçam corriqueiros para muitos, como: crianças pobres, abandonadas, moradores de rua, animaizinhos que sofrem... bem, a lista seria imensa.

Mas o motivo deste artigo foi um fato ocorrido semana passada, e que decidi compartilhar. Estava com duas amigas (de máscaras, ufa) entre telas, pinturas e colóquios sobre Arte, quando no portão da casa apareceu um jovem de bicicleta, perguntado sobre onde poderia tirar xerox, pois precisava imprimir seu currículo.

Foi só isso. Mais nada. Normal, né? Para elas, ou para muitas outras pessoas. Para mim, que sofro de P.A.S., é diferente: fiquei profundamente tocada, preocupada mesmo, imaginando se não estaria este jovem precisando de alguma coisa; talvez pela pandemia enfrentasse alguma necessidade, ou urgência, não sei definir, só sei que meu coração sentiu a tristeza dele. E fiquei querendo saber como ajudar aquele mocinho de alguma forma...

Mas ao relatar às colegas o que sentia ouvi que aquilo tudo fazia parte da vida, e que era bom acontecer. Então silenciei (mas faltou uma carinha de emojion de whatzap nesta hora, ufa!). Fui embora em um monólogo intermitente (costumo falar sozinha mesmo). E venho me questionando se esta sensibilidade extrema é inerente ao ser humano, obra do Criador, ou se é um processo pessoal de busca interior, de escuta, no desejo de descobrir o télos da existência...

Arrisco dizer que tanta sensibilidade sem todavia o agir no bem, ficaria um tanto piegas. Recordo quando iniciei o trabalho voluntário no Hospital de Câncer Infantil e na Casa do Menor em Sorocaba (local de abrigo para crianças sem famílias, que sofreram abusos) e escutava dos colegas próximos que eles jamais fariam este trabalho voluntário, pois não suportariam. E eu só conseguia pensar que esta dor, esta sensibilidade perante o sofrimento do outro, não deveria nos afastar, mas ser a força que impulsiona a agir no bem.

Como um sine qua non... E, acredite, se você faz parte do P.A.S. talvez tenha problemas também em entender ironias, agressões tácitas (silenciosas) e diria que até mesmo linguagem corporal de indiferença causa espanto (ai de mim).

Assim, quando assisti a entrevista do Roni Von senti um grande alívio (fiquei insuportavelmente feliz!). E de vez em quando trombo com uma P.A.S, e você não imagina a felicidade em reconhecer no outro essa normalidade estranha.

Por último, confesso que venho meditando constantemente as palavras de Paulo em Coríntios, na esperança de um dia conseguir também pôr em prática a máxima da sensibilidade: a caridade! E não ser um címbalo que retine...

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria! A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”


Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Travessia

Em tempos difíceis como esse de tantos sofrimentos, sempre vem à mente inúmeros questionamentos. Por que o sofrimento? Onde está Deus no sofrimento humano? Por que Deus que é tanto amoroso e tão misericordioso permite que seus filhos sofram? Será que cabe a nós questionar os desígnios de Deus? Vamos transferir essas questões para nós mesmo. Será que temos respostas? O que fazemos diante do sofrimento? O sofrimento nos faz crescer como seres humanos, tornando-nos pessoas melhores?  “Os que lançam as sementes entre lágrimas colherão com alegria.” (Sl 125).

A nossa atitude diante de situações adversas que poderá fazer a diferença. Nesses momentos procurar ajuda é essencial. Temos que ser solidários com aqueles que sofrem. Todos nós passamos por sofrimento, isso faz parte da vida. Mas o sofrimento não pode ser em vão, temos que aprender com cada etapa da vida. Diante das dificuldades temos que ter resiliência. Resiliência é um termo que faz parte física, em que um determinado corpo tem a capacidade de voltar à forma original depois de uma deformação.

Temos que passar pelo sofrimento, não tem como ser diferente. Mas não como mero espectador e sim transformando esse sofrimento em experiências para a nossa vida. Como nos comportamos frente às dificuldades ou como nos adaptamos às mudanças. Nós temos que ter a capacidade de suportar os momentos ruins e a capacidade de sermos seres humanos melhores, não somente suportar as crises, os momentos difíceis, mas sair das dificuldades maiores do que entramos. Retomando o questionamento sobre Deus em nosso sofrimento. Deus jamais nos abandona, Ele está com a gente em todos os momentos. Como já foi dito, o sofrimento está inserido em nossa vida.

Há o sofrimento que é provocado por nós mesmo, fruto da nossa ganância e do nosso egoísmo. E aí temos que conviver com a famigerada desigualdade social que causa tantos sofrimentos. Que cada vez mais se aprofunda, deixando milhões sem acesso aos direitos básicos. Estamos assistindo todos os dias à situação nas periferias do Brasil, onde falta o básico como a água, fundamental para a vida, principalmente durante uma crise sanitária como essa que lavar as mãos é umas das orientações para evitar o contágio. O sistema de saúde que já era frágil, com a pandemia, essa fragilidade ficou visível. Pondo à mostra a falta de zelo e o desmando com os recursos públicos. Um sofrimento provocado por um sistema que distribui muito para poucas pessoas e pouco para muitas pessoas.

A justiça social tão falada e comentada em tempos outrora, simplesmente desapareceu do debate. Não que tenhamos nesses últimos anos a conquistado, muito pelo contrário, o abismo que já existia, está cada vez mais aumentando. Os recursos em políticas sociais estão cada vez mais diminuindo. A pergunta que fica é: Para onde vão esses recursos que seriam aplicados em melhorias para a população?

“Dai pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão”. Que esse tempo difícil em que passa a humanidade faça com que valorizamos mais o que importa. E nada mais importa mais do que a vida. Disse Jesus: “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância” (João 10:10).

Finalizo com um trecho do colunista Frade Dominicano Frei Betto, publicado no site Amai-vos. Esse pequeno texto reporta o diálogo entre o Príncipe de Florença e Galileu. Deus não está “lá em cima”. O príncipe de Florença perguntou a Galileu se ele havia visto Deus através de seu telescópio. Diante da resposta negativa, retrucou: “Como devo acreditar em seu invento se não vê Aquele que habita os céus?” Galileu respondeu: “Se Deus não se encontra em cada um de nós, ele não se encontra em lugar nenhum”.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP

Reminiscências de menina ...

As experiências vividas na infância deixam marcas indeléveis. Recordo quando nos mudamos de Araçatuba para Capão Bonito, e durante um bom tempo minha mãe teve que enfrentar tudo sozinha, em uma cidade nova. Devo muito à minha mãe. Eu a amava imensamente. Quando ela morreu pensei que a vida estava acabada para mim também. 

Mas acho que só compreendi a dimensão de seu valor muito tempo depois de sua morte. Ela me ensinou como ser íntegra, a retidão de caráter, não com palavras, mas por meio das atitudes, das ações. Ela tinha uma garra e determinação como poucas pessoas que conheci. E me ensinou sobre a importância de caminhar, sempre, apesar das dificuldades. E de não se deixar abater pelos sofrimentos impostos. 

Todas as vezes que enfrentei momentos difíceis recordei a fortaleza e dignidade de minha mãe. Nunca a vi reclamar, falar mal das pessoas ou se vitimizar. Não tinha tempo para isso. Sua vida era trabalhar.  Levantava-se todos os dias e imediatamente se vestia com o melhor que tinha, com cabelos arrumados, batom, colares, e lá ia ela impecável para o trabalho com as crianças, era professora primária. Recordo de ver minha mãe por diversas vezes com a coluna torta, sofrendo dores profundas (pudera, carregava o mundo nas costas) e nem assim reclamava ou tinha autocomiseração.

Rememoro hoje as dificuldades que enfrentei na infância e adolescência de uma forma diferente, leve, sem o pesar da tenra idade, mas acreditando que recebi o necessário para a minha jornada. Teve alguns episódios, que na época foram constrangedores, mas que agora me divirto relembrando. 

Lembro quando acontecia a comemoração ao Aniversário da cidade (que eu adorava, iupii) e era no mês de Abril. Só que sempre fazia um frio (absurdo) em Capão nesse dia. E eu só tinha um par de congas (vulgo tênis de pobre mesmo) e tinha que frequentar as aulas de Educação Física de tarde e depois no outro dia já tinha que desfilar. Detalhe: algumas ruas eram de barro! Imagine agora a cena: usava o conga para a aula e de tardezinha corria para lavar e deixar limpo de novo para desfilar (ai, ai). 

Parece que ainda ouço a voz da professora de Educação Física nos advertindo (ou será ameaçando? kkk). Mas como fazer aquela proeza, pois além do tempo frio, às vezes chuvoso, se não haveria ainda tempo hábil para o conga secar. Assim, eu os lavava, esfregava bastante e os colocava para secar no forno! Isso mesmo. NO FORNO! (Misericórdia, kkkk).  Se você não fez nunca isso (claro que não né) vou explicar: coloca o conga em uma forma de alumínio e põe para secar por uns 50 minutos. O que acontece? O tênis seca (kkkkk). Só que derrete toda a sola! (Ai, ai de mim).

Então, lá ia a Carmo para o desfile da cidade, com a roupa limpinha, o conga limpinho, mas... sem a sola! Tipo o carro dos Flintstones, sabe? E havia outro detalhe: quase sempre eu separava os pelotões, marchava sozinha no meio da rua. Nossa, e eu tinha um baita medo que aquele conga se desmanchasse no meio da avenida (ui, ui), que tudo aquilo abrisse de repente. Mas, medos à parte, lá ia eu feliz, garbosa (insuportável de feliz) só porque separava um pelotão. E olha que eu marchava no asfalto frio, às vezes encharcado pela chuva, ou com a terra úmida entrando pela sola do sapato! (E o pezinho congelava!).

Enfim, o tempo passou, e com gratidão defino tudo pelo qual passei com uma palavra: resiliência! Quando revejo meu passado, sei que as experiências de menina marcaram minha forma de ver o mundo, as coisas, as pessoas... Tudo isso moldou meu caráter, a maneira de entender o sentido da vida. Acho que fiquei mais sensível ao sofrimento alheio, e procuro sempre enxergar além das aparências, descobrir o que vai escondido no olhar, apesar do aparente sorriso... E a cuidar, ser gentil, mesmo com aquele que não mereça (geralmente são os que mais precisam!). E a não fazer julgamentos. 

Rememoro quantas pessoas passaram por minha vida, que me acolheram, ensinaram. Tenho imensa gratidão aos familiares, amigos, professores, amores. Tenho a impressão de que Deus coloca pessoas amáveis, generosas em nosso caminho, não somente para nos aquecer o coração, como para nos fazer querer ser melhor também. E mesmo após muito tempo, essas lembranças juvenis são como faróis, pequeninas estrelas que ainda brilham em meu horizonte...

Hoje compreendo que a história que vivi, mais do que reminiscências, pode possibilitar resgates importantes, lições esquecidas, valiosas. Quase todos vivemos situações difíceis, sofrimentos, dores, mágoas, complexos, sentimento de impotência (ou de inadequação mesmo, que era meu caso), mas, apesar de tudo, temos sempre diante de nós a decisão de agir, de escolher aprender com o passado, sem a necessidade de esquecimento ou superação, mas de abraçá-lo com o que Paulo tão bem definiu em Coríntios: a caridade!

A vida fica mais leve quando aceitamos nossas vulnerabilidades. Assim, rememoro minha história e abraço a menina frágil e insegura de outrora. E me lembro, a todo momento, que posso não aceitar a história que me foi contada... E, diante do que vivemos, com a pandemia, penso que não podemos deixar que o medo nos paralise, ou sabote o propósito de nossa existência. A vida é bela. Apesar de tudo!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Que seja uma utopia

Os Conselhos de direitos surgiram a partir da Constituição Federal de 1988, sem dúvida foi um momento importante para os rumos das políticas sociais e para as formas de interação entre estado e sociedade, abrindo espaço para um conjunto de grupos organizados reivindicarem seus direito.  

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2006, é um marco histórico para toda a sociedade. Uma vez que representa um passo fundamental para materialização das políticas de inclusão das pessoas com deficiência, tendo sido resultado da luta dos movimentos de direitos humanos, protagonizada pelas pessoas com deficiência. 

No Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência, sancionado em 2015, garantiu uma série de direitos para aproximadamente 45,6 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência, representando de acordo com pesquisa IBGE de 2010 uma parcela de 23,8% da população brasileira. A maioria desse público, talvez não tenha o conhecimento da importância dessa lei - Lei Nº 13.146, de 06 de Julho de 2015.

Segundo o Estatuto, é considerado pessoa com deficiência aquele que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Esse importante documento prevê a inclusão da pessoa com deficiência e sua participação mais ativa na sociedade. Também determina o papel do Ministério Público e de Estados e Municípios na fiscalização e no cumprimento do Estatuto no âmbito do trabalho, da educação, da saúde e das políticas públicas em geral. 

O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CMDPcD, instituído pela Lei Municipal nº 3.079 de 21 de Fevereiro de 2008, teve o início dos seus trabalhos em 31 de maio de 2016, alterado pela Lei Municipal nº 4.297 de 17 de Maio de 2017. A formação do conselho foi articulado pelo Sr. Pedro Paulo de Almeida Galvão, Secretário Municipal de Desenvolvimento Social naquele período e pela Assistente Social Andréia Cristina. No dia 13/06/2018, com a presença do Prefeito Sr. Marco Antonio Citadine e do Secretário Municipal de Desenvolvimento Social, concederam a posse de recondução dos membros do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CMDPcD) para o biênio 2018/2020, tendo como Presidente o PROFESSOR MÁRIO RODOLFO. Com sede e foro no Município de Capão Bonito SP, vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, sob a responsabilidade do secretário Sr. Erivaldo Laury Rodolfo (Nhã). 

O Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência é um órgão colegiado de assessoramento, consultivo, deliberativo e fiscalizador das ações voltadas à política de atendimento e defesa da pessoa com deficiência, de caráter permanente e paritário em todos os níveis das políticas públicas do município. 

No dia 31 de maio 2020, completamos quatro anos de trabalho na defesa de direitos, dos nossos direitos. Será que temos o que comemorar? Sempre há o que comemorar em cada etapa vencida, em cada obstáculo ultrapassado, tudo é motivo para comemoração. O que parece insignificante para pessoas não deficiente, para pessoas com deficiência sempre terá um importante significado. Todos os nossos esforços por menor que pareça tem um significado importantíssimo. Nesses quatro anos que se passaram muitos já foi feito. Estamos praticamente no início do trabalho, muitas coisas estão pela frente que ainda precisa ser vencida. 

Muitas pessoas se dedicaram para que a nossa causa fosse reconhecida e aceita como digna. Há uma legislação ao nosso favor, façamos que essa lei seja cumprida. O conselho tem mostrado a sua importância e atitudes comprometidas e responsáveis. É um trabalho acima de tudo de conscientização e sensibilização da sociedade.  Nos quatro anos de trabalho, foi realizada anualmente a virada inclusiva. Todos os eventos realizados foram extraordinários, pois todos tiveram a participação de um público que aceitaram o nosso convite, tanto a sociedade civil como das entidades envolvidas. Esses eventos além de dar visibilidade ao nosso trabalho são formas de conscientizar a todos e dizer que nós estamos aqui, existimos e exigimos respeito. Não queremos e não podemos ficar às margens, queremos conquistar o nosso espaço e o nosso protagonismo. 

Conquistando o direito de ter direito. É competitivo, o mundo é dos mais fortes. Bem que podia ser menos competição e mais compaixão. Mas o sonho resiste a quaisquer intempéries. Mesmo que uma calçada um pouco íngreme dificulta os meus passos, continuo caminhando apesar das dificuldades. Uma escada pode impedir a minha passagem, mas não pode impedir o sonho de seguir em frente. Piedade não é o que eu quero e nem clemência, não desse jeito, com esse jeito de quem me vê como um coitado.

Mas o que fazer? Fazer valer o nosso direito. Fazer jus a luta de quem lutou o bom combate, de que abriu o caminho para que chegássemos até aqui. Mesmo assim, há muito que fazer. Muitos obstáculos precisam ser ultrapassados, muros a ser derrubados e esperança para ser esperançada. Eu sei que a realidade é difícil, que a velocidade é voraz e que nem todas as pessoas dizem bom dia numa bela manhã de primavera. 

Finalizo com essas palavras do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte correm dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos Direitos da
Pessoa com Deficiência Capão Bonito/SP


Fazer 80

A escritora, contista, jornalista, tradutora e artista plástica publicou mais de 70 obras para crianças e adultos, e em 26 de setembro, dia de seu aniversário, Marina Colasanti descreve parte de sua preciosa vida. O que é fazer 80 anos e sentir-se plena? 

Ela responde esta pergunta nesta crônica fazendo um autorretrato escrito. Leia essa sensível reflexão.

“E assim, aconteceu que esta semana eu fizesse 80 anos!

 Nunca imaginei chegar tão longe. Filha de uma mãe que morreu aos 40, considerava-me destinada a curto percurso. E a vida não parecia ter por mim grande apreço; tentou me matar de pneumonia aos seis anos, dardejou-me uma meningite aos oito, castigou-me com inúmeras pneumonias ao longo de todo o percurso e, já no terceiro ato, coroou o conjunto com uma tuberculose. Mas, como se disputasse uma maratona, cheguei aos 80 esbaforida somente pelo trabalho. 

80 anos são uma tremenda esquina da vida.

Com certeza chegamos a ela mais frágeis, porque a possibilidade de morte, que sempre foi a mesma mas que antes parecia eventual, ganha uma certa concretude.

E, ao mesmo tempo, chegamos mais fortes porque a maior parte do caminho foi percorrida, as inseguranças da juventude ficaram para trás, alguma tantas perguntas já foram respondidas, e o que havia a fazer já foi feito.

Certas coisas mudam, porém, aos 80.

Não terei mais cão, porque um cão correria o risco de viver mais do que eu, e não quero prometer proteção e amor a alguém para de repente descumprir a promessa.

Não faço mais projetos a longo prazo; vou até alguns meses à frente, aos compromissos já marcados, embora sabendo que para o ano que vem marcarei outros. Não vou mais imaginar-me mergulhada em estudos de alemão, como sempre fiz, e muito menos de mandarim, como minha curiosidade me ordenaria. No capítulo viagens, dou uma fechadinha no leque; não conhecerei o Himalaia, não enfrentarei falta de hotel ou de banheiro, não caminharei tardes inteiras atendendo minha ânsia turística. E até nos museus, minha sempre paixão, terei que ser menos gulosa.

Fecho o leque da realidade, mas tenho outro para abrir. As minhas viagens, tantas, estão anotadas em cadernos e cadernetas. Ali estão datas, descrições e até desenhos ou rabiscos retendo aquilo que ameaçava diluir. Agora, me basta abrir qualquer um deles para retomar a estrada.

Isso, quanto às viagens facultativas e aventurosas. As outras, de trabalho, continuam na ordem do dia, levando-me a arrastar minha malinha de rodas pelos aeroportos da vida.

Aos 80, considero todo dia como um presente dos deuses, embora até hoje não saiba quem são eles. E toda noite agradeço com gratidão, mesmo com a indecisão do endereço.

Até essa esquina olha-se para a frente. Chegando a ela, o retrovisor se impõe.

Olho para trás e o que vejo me agrada. Vivi com abundância, a palavra melhor é essa. Abundância biográfica de países, de línguas e culturas. Abundância de situações, as favoráveis e as adversas. Abundância de encontros com pessoas preciosas, com criaturas admiráveis, e alguns poucos canalhas, úteis como referência. Trabalhei em muitas coisas diferentes e de todas gostei, porque de cada uma fiz um degrau de aprendizado que me permitiu desempenhar a próxima. Li quase todos os dias da minha vida, fosse pouco ou muito, enchendo a mochila de dados que eu embaralharia, de nomes que se iriam no vento, mas conservando as emoções que os livros me davam. Não escrevi tanto quanto li, nem teria sido possível. Mas o que escrevi está de acordo comigo e me representa mais generosamente que uma selfie.

Considero estar pronta para o embarque. Mas enquanto meu vôo não é anunciado, vou estruturando — como faço com frequência em aeroportos — ideias e frases de um próximo livro.” 

Marina Colasanti, em 1968, lançou seu primeiro livro, “Eu Sozinha”; quando transmite a marca da solidão de uma mulher jovem que caminha só, mora só, viaja só, trabalha só, mesmo quando há ao lado a ilusão dolorosa de outras proximidades. De lá para cá, publicaria mais de 70 obras, entre literatura infantil e adulta. Seu primeiro livro de poesia, “Cada Bicho seu Capricho”, saiu em 1992. Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por “Rota de Colisão” (1993), e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil, por “Ana Z Aonde Vai Você?”. 

Suas crônicas estão reunidas em vários livros, neles, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade, como se percebe nesta apreciada crônica.
Antonio do Amaral Queiroz Filho



Heresia ou fé?

O que significa cometer a idolatria? Um pouquinho de hermenêutica seria interessante. Os textos sagrados precisam ser compreendidos, analisados dentro dos contextos históricos e culturais. Ao retornarmos à antiguidade, notamos que o povo daquela época estava diante da cultura pagã, com diversas divindades cultuadas, em meio ao misticismo, à magia, holocaustos, em que crianças eram terrivelmente sacrificadas aos deuses!

O povo hebreu foi escolhido para levar o monoteísmo ao mundo. Mas lendo o livro do Êxodos, capítulo 25,18 veremos que Deus ordena a Moisés a fabricação de imagens:

“Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório.” Também a ordem de bordar querubins. No cap. 37, 7 a construção de querubins: Fez dois querubins de ouro, feitos de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro […]. Em Números, cap. 7, 89 aparece a construção de dois querubins em cima da arca.

Também no Livro dos Reis aparece a instrução para a construção de estátuas, de imagens. Analisando o texto no hebraico encontraremos a palavra fessel ou pecel, que não significa “imagens de esculturas”, mas sim de “ídolos”. Pelo texto, e diante da cultura daquela época, podemos perceber que a instrução divina era para que o povo eleito não agisse como os demais povos, não idolatrasse nenhum deus pagão.

Mas o Deus verdadeiro poderia e deveria ser adorado. Por isso aparece em Josué, 6,8: “Logo que Josué acabou de falar, os sete sacerdotes, levando as sete trombetas, retumbantes, puseram-se em marcha diante do Senhor, tocando os seus instrumentos; e a arca da aliança do Senhor os seguiu”. Veja que a arca ia com eles. Eles idolatravam a arca? Não. Seguiam orientações reveladas; faziam procissão com a arca da aliança.

Podemos ver no texto de 1 Reis 10: “O rei Salomão mandou fazer duzentos escudos de ouro batido... Mandou fazer também um grande trono de marfim revestido de ouro fino. O trono tinha seis degraus...havia de cada lado do assento dois braços, junto dos quais se achavam figuras de dois leões; havia outros doze leões postos nos degraus, seis de cada lado.”

Figuras com doze leões? Então eram idólatras? Não. Se analisarmos o texto na íntegra veremos que declara que no templo de Salomão havia a Glória do Senhor! Salomão ficou conhecido por sua grande sabedoria. E os leões? Eram ornamentos para embelezar.

Em uma analogia, podemos citar a fé Católica, em que as imagens, esculturas e pinturas belíssimas, retratam o Belo, feitas para remeter ao Sacro. As imagens de santos, anjos, representam a beleza, e por estas obras magníficas podemos nos elevar a Deus.

Imagine, caro leitor, o mundo sem as obras de arte, sem a beleza dos quadros de artistas que brilhantemente retrataram as mais belas figuras, paisagens, com pinturas, obras que foram eternizadas pelo tempo. Artes consagradas, acervos que são patrimônio da humanidade, ornamentando Museus, Catedrais, Igrejas (belíssimas!).

Infelizmente existe ainda muito preconceito, por desconhecimento do significado de heresia. Creio que há diversas formas de cometer idolatria na atualidade: a avareza, o consumismo, o acúmulo de bens, e excesso de coisas supérfluas, a tibieza (o endurecimento do coração, não agindo em defesa dos pobres, dos injustiçados); o hedonismo, a maximização da felicidade, a autossuficiência, a divinização do eu. Os diversos vícios que escravizam: como a embriaguez, a glutonaria, os jogos de azar, ou mesmo o uso excessivo das redes de comunicação (o whatsap também pode nos escravizar!). E também igrejas que pregam a teoria da prosperidade – a idolatria da divinização ao dinheiro!

Quanto à Virgem Maria, ou aos santos, são venerados, porque adoramos somente a Deus. E devemos muito à Maria, pois ela disse sim ao Arcanjo Gabriel. E este sim, este ato de humildade, abriu para toda a humanidade as portas do céu. Por ela o Paraíso nos foi estendido.

Acaso Deus não escolheria um lugar também santo para abrigar o filho do Altíssimo?

O pecado da idolatria consiste em divinizar as coisas mundanas e as realidades incapazes de manifestar a transcendência, usurpando o lugar de Deus. As imagens santas, ao contrário, refletem a presença e a bondade divina, ajudando-nos a recordar seus rastros e a missão que compete a cada um de nós. São o registro de que é possível - apesar de nossa humanidade - alçar ao céu!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


A gratuidade da vida

Escrever alguma coisa de tudo que está acontecendo. Escrever sobre o amor, o ódio e a incredulidade humana e as vicissitudes da vida. O essencial e o supérfluo, o superficial e o profundo. As respostas simplistas que tentam explicar algo muito mais complexo. Falar de paz, falar de amor e fomentar o ódio. Espalhar a verdade e mergulhar na mentira. Todas as perguntas, dúvidas, certezas e incertezas, mares e sertões. A justiça dos homens e a pobreza em espírito.

Estamos em junho, metade do ano já se foi, passou, virou história. Será que 2020 deixará saudade? É melhor não pensar nisso agora. Devemos sim, aprender com as lições, com as duras lições desses momentos. Uma coisa é certa, não dá para falar de 2020 sem falar da pandemia, olha que temos seis meses pela frente e muita coisa para acontecer.

O mundo e suas dores e as dores do mundo no coração humano. Fere essas dores, doem essas feridas, que não querem cicatrizar. Quem irá sanar essas dores? Trago duas citações para ajudar a refletir sobre a dor, isso não significa que esse texto irá trazer reflexões sobre a dor. Não tenho essa pretensão e muito menos conhecimentos suficientes para mergulhar num tema tão profundo e inquietante como esse. Na primeira citação Arthur Schopenhauer: Quem deseja sofre. Quem vive deseja. A vida é dor. Em seguida Voltaire afirma que a dor é tão necessária como a morte.

Essas duas citações, só como forma de ilustração. O que pretendemos ganhar ao ficarmos tentando achar resposta para o significado da morte? Veja só, estou falando de dor. A palavra morte nesse contexto e pra fazer um contraponto com a vida. O que me inquieta não é morte e o seu significado. O que deveria ser inquietante é a busca de sentido para a vida. Antes da morte vem à vida. Se o fim é a morte, muitas pessoas acreditam, então porque pensar no fim, ignorando o início e o meio? A falta de sentido nos faz mergulhar nesse mar de dor e angustia.

O sentido da dor de quem está desprotegido em meio essa crise. Essa é dimensão visível, é a face do abandono. O poder que domina que nos faz refém de nossa própria busca. O que buscamos? Em que momento essa busca se iniciou? E em que momento ela irá cessar? A humanidade já passou por inúmeros conflitos e confrontos. As duas grandes guerras mundiais mostraram a brutalidade humana. As dores que sufocam e mina aos poucos a força dos que persistem na teimosia do acreditar.

O quanto o ser humano é movido por desejo e poder ou o desejo do poder. Isso também causa a dor, o poder dominante e opressor. Nunca subestime a estupidez humana. Não podemos aceitar a normalização do absurdo. Há tantos absurdos povoando os nossos dias, testando os limites da nossa indignação. O ser humano que alimenta o ódio e se alimenta do ódio. Há pessoas que querem espalhar o caos num retrocesso sem avaliar as consequências. À banalização da estupidez, regado à ignorância e a intolerância.

O ser que somos? Alimentamos de esperança e na esperança caminhamos na concretude do ser. As forças contrárias insistem em puxar para outros caminhos, onde impera o poder da arrogância, a ganância do ter e a ignorância. Ao contrário a tudo isso, há pessoas que acreditam no poder da partilha e da solidariedade como a única forma do bem comum. A dimensão profunda do coração humano e a gratuidade da vida, no amor que nos envolve e nos desenvolve como pessoas, como individuo que se conduz pelo caminho da vida.

Atento a tudo que está em volta, tudo que envolve mexe com as palavras e inquieta os sentimentos, deixando um pouquinho dos doces momentos nos instantes que faz a eternidade sob os olhares da alma. Assim, brada os momentos e voa a liberdade, não tenha medo de seguir o seu próprio caminho. Voa o mais alto que puder. O infinito é o amigo mais próximo e o horizonte observa de longe o sol que nos aquece na esperança de cada amanhecer.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência


Nossas ações deixam rastros...

Não sei se devido ao momento de pandemia que estamos passando, se pela minha natureza peculiar, quiçá bucólica, reflexiva, enfim, venho rememorando lugares, pessoas que tive o privilégio de ter em minha vida. Algumas foram presenças tão marcantes, que o tempo, mesmo insistindo, não conseguiu apagar. E assim, em meio à pandemia... reencontrei amigos queridos de longa data. E cada uma dessas pessoas, a seu modo, foi expressando seus sentimentos, amores, saudades...na vida que segue – impreterivelmente.

E penso que neste momento, cada um oferece o que há dentro de si. Cada pessoa age (agir nos coloca no comando) ou reage (a reação vem do inconsciente) de uma determinada forma diante dos acontecimentos, principalmente neste período de reclusão, seja ele um momento de solidão, dor, sofrimento, ou mesmo na alegria inesperada (amo pequenas delicadezas). E é nestes momentos que revelamos quem de fato somos...

Reconhecendo todas as perdas, enfermidades, mortes, causadas pelo Coronavírus, mas, mesmo assim, só consigo pensar que ganhamos um tempo... tempo precioso para estar com os nossos, para cuidar de quem muito amamos...mesmo que à distância. Tempo para rever os passos, pois nossos atos deixarão marcas indeléveis.

Assim, gostaria de compartilhar com o leitor um tantinho das ações de minha avó Carmem, que apesar de ter morrido há mais de 40 anos, deixou um lindo rastro... e marcou minha vida para sempre. Ela partiu em uma manhã de sábado, depois de uma longa batalha contra o câncer. Eu tinha dezessete anos na época, e fiquei ao lado dela até o final.

Eu a defino como uma mistura perfeita entre ternura e energia. Era de uma simplicidade ímpar, em um amor incondicional... Uma mulher de ação. Não parava um só instante, ou melhor parava somente para rezar. Andava pela casa fazendo serviços e proclamando sua sabedoria em forma de jargões. Ainda me lembro de todos eles, vou citar alguns: “Por fora uma bela viola, por dentro pão bolorento”; “Cabeça vazia, oficina do diabo”.

Aprendi com ela a importância de não mostrar boa aparência somente por fora. A ser verdadeira e pura por dentro. A andar perfumada, em todos os sentidos... e a não embolorar com ações de maldade, fofoca, avareza ou mesmo a preguiça. Minha avó tinha horror à preguiça, à lamúria – não perdia tempo com isso — e jamais se deixava esmorecer.

Ela levanta-se bem cedinho, quase escuro mesmo, e preparava nosso café: tinha chá, pãezinhos e um bolo de fubá... ah... mas um bolo tão maravilhoso... e inexplicável pela quantia tão simples de ingredientes ... tenho para mim que ela guardava pozinhos mágicos escondidos em seu avental... pitadas de amor, sonhos escondidos, embrulhados em forma de bolo... Esses ingredientes faziam tudo ser inimaginável – inoblidable!

A casa de meus avós era pequena, tudo muito simples, mas transbordava na proporção do amor que tinham por nós. E eles, ao nos receber, tinham um olhar tão generoso...tão gentilmente feliz... que fico rememorando nostalgicamente e desejando reencontrar em outras pessoas, esta ternura olvidada... Então, me pego perscrutando os olhares, principalmente quando vou visitar parentes, amigos... E insistentemente desejo ir além das aparências, expectativas e coisas que possam nos distrair. Busco ainda aquela doçura, aquele olhar terno e puro que aquece o coração.

Não sei se somente eu preciso deste mimo, deste aconchego que toca a alma sem precisar de palavras... e que faz um bem imenso. Penso que os encontros, a vida em si esvazia-se, torna-se chata, triste, se não nos acolhermos no encontro do olhar (minha avó me tornou exigente, ai, ai).

Hoje, mais do que nunca, me inspiro em seu amor e dedicação, e em sua fé inabalável em Deus, pois mesmo após a morte de seu filho querido (as mães enlutadas sabem bem ao que me refiro) não se deixou paralisar pela dor. Seguiu. Marchou...com determinação, coragem, decidiu viver, não se deixou derrotar pela tristeza. E nos arrastou com seu amor...

Minha avó me deixou ainda uma última lição, no momento derradeiro de sua vida, horas antes de morrer. Ainda de madrugada, ela me pediu para ligar para meu tio (seu filho) e para meu avô, que viviam com ela. Eu pensava comigo mesma... nossa, mesmo ela assim, no finalzinho, passando por todo o sofrimento que esta doença causa... em meio a tanta morfina... continua ainda a cuidar de todos!

Então, ao abrir sua pequena e humilde bolsinha, já gasta pelo tempo... a qual ela carregava sempre consigo, encontrei um pequeno lápis e um pedaço de papel, amarelado pelo tempo... com os dizeres: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Amém!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Indignai-vos!
A vida pede por atitudes e não se deixa abater. Um silêncio tece e perfaz o momento que em seguida se desfaz aos gritos ensurdecedores dos bárbaros e insanos que invadem sonhos e destrói vidas. O caos, o desequilíbrio; o cosmos, o equilíbrio e harmonia. Mesmo em tempos difíceis, em que as pessoas mostram a sua verdadeira face. É preciso acreditar que tudo vai passar e o que cabe a cada um de nós será da nossa inteira responsabilidade.

E aqui o nosso mundo segue entre barbárie e civilidade, nada mais assusta, mas, o ser humano sempre surpreende. Em plena crise da saúde, a única atitude seria salvar vidas. Mas, infelizmente não é isso que está acontecendo. Pessoas sem escrúpulos aproveitam o momento para levar vantagem. Outras levam na brincadeira, descumprindo as orientações sanitárias mostrando o total desrespeito com a vida, colocando a própria vida e a vida do outro em risco sem qualquer constrangimento.

O sacrifício de muitos por estar em isolamento social é tratado com sarcasmos por aqueles que negam o obvio. Negar a realidade é ter cumplicidade com a ignorância. Acredito que o mais grave de tudo é quando essa negação é vinda de pessoas públicas, de quem deveria ser exemplo. E daí? O desdém e a indiferença pelas vidas que foram ceifadas.

A naturalidade e a indignação. No atual momento que estamos passando, o natural causa indignação. Não podemos aceitar tudo isso como normal. Não estamos numa letargia, numa apatia, não deixe que roube o nosso poder de se indignar. Santo Agostinho fala que a indignação é filha da esperança, Ele diz assim: “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”. Não tem como fechar os olhos e fingir que nada está acontecendo além da pandemia.

Como a vida em toda a sua plenitude tem valores inestimável e inegociável, deveria ser o centro de todas as atenções. Infelizmente, não é isso que está acontecendo. Intrigas políticas e o poder pelo poder joga o país numa triste realidade. E a vida? E daí? É incrível a falta de sensibilidade, de empatia com uma população que está gritando por socorro. O ministério mais importante nesse momento – o ministério da saúde, o ministro é interino. Não vou citar aqui esse ou aquele, e nem cor partidária, isso não faz a menor diferença nesse momento.

O que é estarrecedor é a postura de quem devia zelar pela harmonia e o equilíbrio do país frente a tudo que está acontecendo, pelo menos nesses momentos. Mas, pelo contrário, faz tudo para jogar um lado contra o outro, sabendo que estamos todos no mesmo barco. A gente sempre usa esse termo, no mesmo barco. Sim, isso é correto, estamos falando da sociedade como um tudo. Mas quando fazemos alguns recortes, podemos ver que não é bem assim. Em muitas periferias como podemos acompanhar pelos noticiários, falta o básico, a água um dos itens fundamentais para a vida e na prevenção contra o vírus.

Outra questão que cabe ser analisada é o emprego e renda, que antes dessa crise era 12% de brasileiros desempregados. Esse índice tende a crescer ainda mais. Temos uma ajuda do governo, o auxilio emergencial. E para as pequenas empresas uma linha de crédito. Estamos acompanhando as dificuldades de muitos para receber o auxílio emergencial e muitos pequenos empresários que não consegue a linha de crédito prometida pelo Governo Federal.

Precisamos ficar atentos em tudo que está acontecendo, eu sei que é difícil, pois a nossa única e grande preocupação tem que ser com o coronavírus. Mas no bojo de tudo isso, muitas coisas que não são boas para o país aproveitam-se dessa ocasião. Em nenhum momento cabe o desmando e o desrespeito com o dinheiro público, mas excepcionalmente esse não é o momento, quem ousa cometer essa sandice, essa desumanidade merecerá todo o nosso repúdio, desprezo e indignação. 
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência


Os versos que a vida compõe
Na coluna de hoje vou escrever livremente, quero se perder entre as palavras e depois me encontrar por aí em lugar nenhum. Pode ser que seja um vento qualquer soprando de outro norte. Não importa o que seja o que importa que seja algo. O mar, a brisa, as ondas e o silêncio de um poeta.  Depois dizer para o mundo os sentidos de suas dores. Para onde levam esses caminhos? E onde se esconde o vento? Quero apenas escrever e deixar a mente voar sem nenhum lugar certo para pousar. Longe é um lugar que está em mim. Para me acompanhar nessa pequena jornada tomei emprestado os versos do poeta capão-bonitense Alcides de Souza: “A minha mente tudo se distorcia. Você enxergava confusão, onde eu via poesia”.

Então abrem todas as portas, caem por terra todas às fronteiras e o horizonte se aproxima mesmo estando distante. A imaginação faz das palavras um mundo com inúmeras possibilidades. Aí a gente para e o texto continua nas entrelinhas, e a imaginação voa nas asas solta e plena, plainando o infinito na artimanha do pensar e na inquietude do sentir. De repente, vem o vento e me leva para estranhos lugares em longínquas paragens. Como arauto do meu tempo, imagino o tempo todo, se talvez nada fosse assim como é. E logo adormeço nos braços dos meus sonhos, e ao sonhar somente peço que me espere em qualquer esquina. Talvez esse caminho seja longo demais, e eu não consiga chegar. Imagino-me como um barco à deriva em águas calmas, mas estranhas. De repente sou uma criança e o lúdico passa a ser o meu mundo.

E o vento chega mansinho e espanta o silêncio e num pouco de cada dia um verso de qualquer poesia. E na poesia de todos os momentos, um instante, apenas um instante e o mundo se faz e se refaz na esperança que sempre renasce. No coração do ser humano o que já foi o que é, e o que está por vir e o que já foi feito e o que está por fazer. Com as mãos vazias, a fome de pão e a sede do mundo na secura de todos os corações.

Abraça-me num instante qualquer e vomita o coração da humanidade num hiato de ternura e complacência. O hálito da vida e a essência exalada por todo o canto do mundo. Somos versos se fazendo a todo o momento para compor a grande obra a criação. O sublime afeto e a afeição do olhar no olhar do mundo. Somos encontros e desencontros, encantos e desencantos. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Vinícius de Moraes.

Num canto qualquer, um canto de paz e um cálice de silêncio numa suave e sublime melodia a embalar milhões de sonhos num ínfimo instante. Sob o olhar vão-se as lágrimas, enquanto enxugam-se as faces no calor que afaga e no silêncio que acalma. São os versos da alma na poesia da vida e o instante se faz em momento, no olhar que insiste em olhar, apenas olhar a beleza de tudo que é belo, a divina criação e a profundidade do ser.

Lápis e papel e o contorno do mundo. A cor do céu, o azul do mar e o arco-íris em pleno olhar. Pinto o horizonte e desenho a face do mundo. E sob o sorriso do céu as lágrimas do infinito e a mão suave afagam as faces das manhãs. A dor e o alívio e a bondade para fazer a paz. E um coração para sentir os mais profundos sentimentos. O sublime da alma e a leveza de espírito suaviza a dura caminhada.

Tudo é tão simples, é voar sem ter asas é se apaixonar toda dia pela vida. É beber da fonte a água pura e saciar a sede dos ávidos caminhantes. É viver cada instante que se eterniza em um sorriso. O sol, a chuva, o dia, à noite e a vida em plenitude. É só por hoje, é só uma poesia e os mais profundos e dilacerantes sentimentos. Talvez seja tarde, talvez ainda seja cedo que o sol ainda não acordou. Avise-me quando o sol acordar pode ser que ao raiar do sol o sonho me abrace e me leve para longínquas paragens. Não sei, só sei que assim vou vivendo, compondo a vida nos versos que fiz.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência

Brisa Suave...em tempos de Pandemia
Penso que acalmar o coração, ter tranquilidade, discernimento, quando estamos envolvidos em sérios problemas, em dificuldades (no meio da tormenta, do furacão mesmo!) ou quando enfrentamos um grande sofrimento, com a morte inesperada de uma pessoa que muito amamos... (e sentimos que não teremos mais forças) é necessário aquietar o espírito - buscar compreender tudo o que estamos vivendo, apesar de nossos sentimentos conturbados... 

O profeta Elias tem muito a ensinar sobre a forma como Deus fala conosco, tanto nos momentos de alegria como de dor e sofrimento (consegue distinguir dor de sofrimento?!). Diante de acontecimentos diários, talvez o grande desafio para aquele que se julga cristão seja aceitar os desígnios de Deus, mesmo sem compreendê-los... Tentar ouvir Sua voz, apesar dos ruídos fortes a que estamos expostos… Buscar agir e não reagir aos acontecimentos (a reação vem do inconsciente, a ação nos coloca no comando!)

Mas como agir com clareza, com assertividade e compaixão, diante de grosserias, injustiças, sarcasmos, rejeição... diante de alguma maldade, explícita ou sutil... ou quando, por algum motivo, entramos em depressão - ou nos sentimos paralisados pela dor?

Um pouquinho da história do grande profeta Elias talvez possibilite a abertura no olhar (sair fora da caixa), sobre a forma como encaramos a vida. Elias era um profeta de Deus, costumava enviar recados para os povos, falava não o que o outro queria ouvir, mas sim o que precisava escutar. Ele tinha intimidade com o Senhor, buscava pelo Pai em suas orações e ações.

Em uma de suas profecias e admoestações ao povo, recebeu um recado da rainha Jezabel de que ela o mataria, da mesma forma como fizera com outros profetas. O Livro dos Reis narra um Elias forte e corajoso, depois, mais adiante, aparece um profeta assustado, que fugiu, entrou em depressão, e ficou paralisado pelo medo (já me senti assim várias vezes!). Diante da ameaça de morte ele correu para se esconder no deserto. Entrou em uma caverna e ficou isolado, prostrado, deprimido. Pediu para morrer (quantos de nós fazemos o mesmo diante das adversidades, das tristezas ou diante da morte de daquele ente querido...).

A Bíblia narra que Elias foi acordado por um Anjo, que lhe trouxe alimento: “levanta-te e come”. Além da simbologia, vemos que Elias recebeu o animus que precisava para agir (e não somente reagir), para poder continuar sua caminhada. O profeta foi amparado, recebeu a força para trilhar o seu caminho. 

Muitas pessoas preferem se lamuriar, reclamar da vida, de pessoas... das tristezas e doenças (a murmuração é o louvor do diabo!) ao invés de prosseguir. Escolhem ficar no deserto, isolados, sem coragem para enfrentar os desafios (ou tormentas) que aparecem em suas vidas. Não se lembram da importância da oração, da escuta.

E há uma pergunta que Deus fez a Elias, e que faz também a cada um de nós: “Que fazes aqui Elias?” Que está você fazendo agora, principalmente com esta Pandemia? O que podemos aprender diante de tudo que estamos vivendo... diante de tantas pessoas que sofrem – diante da morte – e da vida que segue...

Note que Elias teve que aprender a melhor forma de encontrar a Deus, porque Ele não estava no vento forte, no terremoto, nem no fogo que passou... O texto é belíssimo. Percebemos que o Senhor não está no tumulto... E o profeta somente pode ouvir o Senhor quando ele se acalmou - na Brisa Suave. Ali, no silêncio, na calmaria, na paz, na oração, ele encontrou as forças de que precisava. 

Elias estava com muito medo, pois sentiu que estava sozinho. Repare que os sentimentos muitas vezes nos confundem... O profeta caiu em depressão, e desejou a morte. Chegou a pedir para morrer! Quantas vezes também pensamos que estamos sós... e que aquela tristeza (ou tragédia) que nos tirou o chão, a esperança… irá ultrapassar todas as nossas forças...e que não teremos mais condições para prosseguir… 

Mas veja o que está em 1 Reis, 19,15: “O Senhor disse-lhe: “Retoma o caminho...” (Sempre é tempo de recomeçar...). Podemos aprender com Elias, que enfrentou o medo, recobrou o sentido de sua vida - pois viu que não estava só: o Senhor era seu sustento. E, o que penso ser também digno de reflexão, é que o ato de reclamar, de se envolver em queixas, revoltas, de reagir com raiva... ou mesmo ficar isolado, apenas causa separação, divisão. Porque Deus não está nas contendas, agressões, discussões. A forma dEle agir é outra…

Assim, todas as vezes em que tenho que lidar com dores, sofrimentos... ou com questões que colocam minha vida em xeque, e não sei como agir (e sinto reviver em mim aquela menina franzina e assustada da infância) diante do sentimento de ter sido injustiçada... e em que vejo brotar a impulsividade, a ansiedade extrema... rememoro este texto bíblico e lembro de acalmar o coração, de confiar no Pai. Peço prudência, sabedoria, discernimento para tentar agir no bem.

Reconheço que é difícil... mas esta Brisa suave é que nos ajudará a estar e permanecer com Ele. Na certeza da fé e da esperança - virtudes teológicas.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Politização e ideologização
Inicio essa coluna com a citação filosófica de Jean Paul Sartre: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Existir, viver e sonhar. Não importa o tamanho da queda, é preciso levantar e seguir em frente. De nada adianta ficar reclamando por algo que está acontecendo, culpar quem quer seja não vai resolver. Acredito que a maioria da população temia esse vírus, por todas as informações e imagem que chegavam até nós, da Europa principalmente. As nossas estruturas de saúde infelizmente não é das melhores do mundo, isso é uma realidade. Outra realidade seria como esse governo iria se apresentar frente a essa turbulência. A realidade está aí exposta, nua e crua. 

Vivemos um momento conturbado de extrema apreensão. Crise na saúde em decorrência da pandemia e esse fato acentuou a crise econômica; e não bastasse, vivemos uma crise política que tende a se agravar. A impressão que dá é que o país está desgovernado ou ingovernável. Essa polarização política que já vinha acontecendo no Brasil, se acentuou com essa crise. 

As narrativas de um lado e de outro que tentam de qualquer forma culpabilizar esse ou aquele. Mesmo sabendo que não há culpados. Mesmo assim, há quem afirme que o vírus foi criado em laboratório, mesmo sabendo que isso já tenha sido refutado por vários pesquisadores. O momento em que vive o país alimenta essas conspirações, pois, ainda guarda os resquícios de tudo que vem acontecendo no Brasil nesses últimos anos. 

A politização da crise e a ideologização partidária coloca a vida em segundo plano. Para uma parcela da população esse difícil momento que estamos enfrentando é meramente uma questão política. O comunismo quer dominar o mundo e por incrível que pareça muitas pessoas compram essa ideia. Veja só até que ponto chega o fanatismo político, o vírus não é de direita e nem de esquerda. O vírus simplesmente mata como estamos acompanhando todos os dias, infelizmente o número de mortes só aumenta.

No momento, o que devemos fazer é seguir as recomendações. Mas o isolamento social e o distanciamento social virou uma discussão de torcida organizada em que cada um quer ter suas razões e para sustentá-la, muitos usam informações falsas para dizer aquilo em que acredita ou estão dispostos a acreditar. 

A ignorância pede passagem e segue a passos largos. Estamos vivendo a era do negacionismo, ignorar os fatos e fazer pouco caso das orientações de órgãos competentes passou a ser comum para certos grupos de pessoas. Ignorância de quem devia governar, mas se dá ao papel de descumprir os procedimentos, e assim confundido a população. Para dar sustentação ao que foi escrito acima, faço uso de uma citação de Martin Luther King Jr, pastor protestante batista e ativista político estadunidense que disse: “Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez consciente.”

As críticas aos governadores e prefeitos por tomar medidas de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). E também ao Ministro do Superior Tribunal Federal (STF) por suspender o decreto que pedia o fim do isolamento social. É uma estupidez todo dia, é uma ignorância sem tamanho. Essas atitudes contradiz o próprio Ministro da saúde.

Essas atitudes de contrariedades aos procedimentos técnicos alimentam seus seguidores em redes sociais, desqualificando quem se opõe as suas ideias. E a ignorância é cada vez mais voraz isso fica nítido em cada atitude de agressão a imprensa e o desrespeito à democracia. Os críticos são chamados de antipatriotas e inimigos do país, com frase dizendo que a nossa bandeira jamais será vermelha, como se o vírus tivesse preferência por cor ou nacionalidade ou até fizesse parte de um sistema político. 

Esse grupo que apoia a atual gestão federal, que elogia os anos da ditadura e pede a volta do AI-5. Tomou para si a nossa bandeira, o verde e amarelo tornou-se sinônimo de truculência e intolerância. E a Bandeira que é um dos nossos símbolos nacionais que tremula sob os ares da democracia, vem sendo usado em eventos que atentam contra a DEMOCRACIA.

Não é atentando contra as instituições que vamos sair da crise. Não é negando a crise que vamos superá-la. É importante ter em mente que a crise só será combatida com posições políticas claras e eficientes. Não se pode politizar e muito menos partidarizar esse momento. Essa crise é de saúde pública, e suas consequências podem ser muito mais profundas, se as medidas tomadas forem ineficazes e irresponsáveis.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência
Meter tempo entre a vida e a morte...

Esta frase é de um dos famosos Sermões do Padre Antônio Vieira. Penso que neste tempo de Pandemia, em que estamos reclusos em nossas casas há quase dois meses, temos diante de nós essa possibilidade: meter tempo entre a vida e a morte. Para ampliar esta reflexão, vou discorrer um pouco sobre a decisão do rei Carlos V, que me tocou profundamente (achei mais que inspirador...). Havia lido esta história há muito tempo, e quando deparei-me com ela, achei relevante compartilhar.

Ele foi imperador da Alemanha e rei da Espanha – conhecido também como Carlos I. Como todo imperador, Carlos V era detentor de uma imensa riqueza, poder e prestígio. Governava os povos e era adorado com um deus. Seu poderio era ilimitado. Então aconteceu que o rei recebeu certo dia um soldado veterano, e que era particularmente muito apreciado por ele devido à sua coragem e valentia nos combates e guerras, por sua dedicação à coroa. O rei tinha muito apreço por ele.

Mas qual não foi o espanto do imperador quando o estimado soldado apareceu no palácio pedindo licença, apresentando um memorial para deixar seu posto e se retirar das armas, a fim de que pudesse partir livre, sem o dever de lutar mais em nenhuma batalha. O rei (que deveria estar muito chocado!) afirmou ao soldado que ele era o melhor de todos no reino e que em breve receberia homenagens por sua valentia e dedicação. Todavia, para surpresa e admiração do rei, o soldado lhe respondeu que não queria glórias ou reconhecimento, somente: “meter tempo entre a vida e a morte”.

O rei deve ter se perguntado o significado desta frase ... Confesso que assim que comecei a ler esta história fiquei me perguntado sobre o sentido disso, a dimensão de tal ato, tomado tanto pelo soldado como pelo rei. (Confesso também que constantemente fico refletindo se deverei pausar o que venho fazendo, se devo seguir outro caminho...).

Vejamos a narrativa:

“Concedeu enternecido a licença; retirou-se ao gabinete; tornou a ler o memorial do soldado; e despachou-se a si mesmo. Oh soldado mais valente, mais guerreiro, mais generoso, mais prudente, e mais soldado que eu! Tu até agora foste meu soldado, eu teu capitão; desde este ponto, tu serás meu capitão, e eu teu soldado: quero seguir tua bandeira. Assim discorreu consigo Carlos, e assim o fez. Arrima o bastão, renuncia o Império, desde a púrpura, e tirando a coroa imperial da cabeça, pôs a coroa a todas suas vitórias; porque saber morrer é a maior façanha”.

Quando eu li este relato fiquei profundamente comovida, entre enternecida e admirada... Como pode o rei abandonar tudo – deixar sua vida esplendorosa, de riqueza, fama, poder ... Compreendi que Carlos V encontrou a resposta em seu coração. Percebeu que vivia também uma grande ilusão... O rei sabiamente decidiu que não ficaria esperando pela morte, ou que ela um dia o surpreenderia ... e fosse tarde demais. 

Com determinação (e muita coragem) largou tudo para trás.  Carlos V foi recolher-se no Convento de Juste, e “meteu tempo entre a vida e a morte”. Escreve ainda Padre Antônio Vieira: “e porque a primeira vez soube morrer Imperador, a segunda morreu Santo”.

Note que o soldado, quando fez menção de “meter tempo entre a vida e a morte”, acabou também por inspirar o rei; sua atitude despertou no imperador questionamentos sobre sua vida, a realeza, a glória terrena, coisas que tinha e que já não mais faziam sentido. O rei, tocado, inspirado por tão nobre atitude do amigo, abdicou de todo o seu império, títulos, conquistas e no ano de 1556 foi para o Mosteiro, vindo a falecer dois anos mais tarde.  

Diante de tal lição, fico me perguntando o que poderia renunciar em minha vida... E, diante do que o rei abdicou, qualquer coisa terrena fica irrisória, pois sua riqueza e poder eram imensos. Há momentos em nossas vidas em que é necessário abdicar. Renunciar a um emprego melhor, uma cargo importante ... mas que o afastará de sua família... Diversas circunstâncias poderão ter a aparência de sucesso, ou mesmo de trazer a felicidade, mas na realidade nos afastará de estarmos pertinho daqueles que amamos, ou sentido da vida (ou da morte!). 

Creio que há uma consciência dentro de cada um de nós, uma voz que representa o sentido de nossa existência. E descobrir não é tarefa fácil – mas necessária. Quando nos afastamos do Santo, o coração vai se endurecendo, e fica mais difícil escutar o verdadeiro propósito interior. E assim ficamos confusos, distraídos em meio a ilusões...

E talvez só tenhamos condições de renunciar quando compreendermos o significado real de liberdade. Pois sendo livres (com a clareza do que isto representa) poderemos renunciar a tudo aquilo que possa nos afastar do Eterno.

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


As mães são eternas

Um dia de paz, um dia feliz e um dia para sempre. Um dia como outros dias. Vamos combinar uma coisa, esse dia não é um dia comum. Esse domingo, segundo domingo do mês de maio, mãe esse é o seu dia. Mesmo sabendo que todos os dias são seus, pois a todo o momento chamamos o seu nome, mãe.

Mãe, palavra sublime. Tão sublime; simplesmente mãe. Mãe, versos ao vento, flores ao tempo, momento e sentimento. Mãe, tudo inspira amor. Amor que doa. Amor que cuida. Mãe, um amor celestial, umbilical. Mãe, o oásis em paisagem, um olhar simples como a simplicidade. Mãe, a seiva da vida, das dores e das flores. Mãe, a face feminina de Deus. Mãe, a face que perfaz o olhar no olhar de Deus. Mãe, o amor que faz eterno na eternidade de um sorriso. As mães são eternas.

As mães são eternas. Eternas pelos simples fato de serem mães, isso é o suficiente. Basta em si mesmo. Suficiente é tudo que vem recheado de amor, é esse o sentimento, o maior de todos que faz com que as mães sejam sagradas.

Mãe, porque a senhora quer que eu faça as coisas assim desse jeito? Não me retruque, faça assim, esse é o jeito certo! Ela sabe, ela sempre sabe o que é melhor para os filhos. Mãe me deixe ser um super-herói, pois sou filho de uma heroína. Percebi então, que mesmo sendo filho de uma heroína, não precisaria ser nenhum super-herói. Bastava ser forte de alma e espírito, assim como à senhora sempre me ensinou. 

As mães são eternas pelo simples fato de serem mães. O amor existe e é contagioso. O amor de mãe não percebe que os filhos crescem. Mãe, não sou mais nenhuma criança. Ledo engano, para elas sempre seremos crianças. Não porque elas não queiram que seus filhos cresçam, simplesmente porque são mães. 

“Só as mães são felizes”. “Mãe é padecer no paraíso”. Frases cheia de sentido e de significado. Cheias de sentimentos. Quanta ternura, quanto afeto e quanta brandura. Sentimentos que elas querem transmitir, seja lá como for, elas sempre querem transmitir algo e algo que nos faz melhores.  Ela me deixa caminhar e assim vou longe; mesmo distante, estarei sempre por perto. 

Mãe é assim, não há tese que explique, também não precisa. Não é possível explicar, os olhos veem e o coração sente. E assim é o mundo em uma bela manhã entre flores em qualquer estação e um sonho para ser melhor. É mãe, a senhora sempre quer o melhor, muitas vezes nós não entendemos, não compreendemos tanto cuidado.

Mãe, a teimosia de acreditar quando tudo parece perdido. Quando nada parece fazer sentido. Um olhar de mãe ressignifica o sentido da vida. A fé como compromisso e a vida vivenciada em toda a sua plenitude. Nos jardins e quintais, bálsamo e essência e um sorriso de paz nas faces das manhãs.  Mãe, sinônimo de paz. Uma frase no contexto da vida, um verso à procura de uma poesia. O tempo consume os meus dias, a noite dorme o meu sono.

Mãe, entusiasmo pela vida, vida cheia de Deus e um sorriso para fazer o dia. Viceja as flores pelos quintais da vida e depois descansa no colo da esperança.   

Os mistérios da vida, a dádiva sublime de Deus criador e a leveza da alma e o espírito de bondade. Tudo é inspirador, o amor de mãe, o favo de mel e os momentos que tecem a vida. A paz de todos os dias, o amor semeado dos jardins da vida, o fruto, o sustento nessa dura caminhada. Entre abraços e despedidas, encontros e partidas. E uma lágrima se faz verso só para dizer que mãe é poesia. 

Meu mundo, meus sonhos e meus ideais. Uma lágrima de felicidade, outra lágrima de tristeza. Um gosto doce e gostoso com sabor de harmonia e ao longo do dia, um gosto um pouco amargo, assim meio sem graça e os dias passam. Pelos caminhos da vida sempre caminharei com passos firmes, pois as suas mãos sempre me apoiarão. A sua voz sempre me guiará, e o seu coração estará sempre comigo e em seu coração sempre estarei.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência
Todos são chamados à santidade
A vida dos santos sempre me causou admiração, respeito, inspiração e sempre me intrigou... A forma radical como eles deixaram tudo por amor a Deus, pelo próximo. Eles deixaram o conforto de suas casas, abandonaram tudo para viver seu extremo amor, sua missão. E sempre achei que a santidade era reservada para poucos (alguns escolhidos). Mas não é verdade. Muito me surpreendi, principalmente pelo que estamos vivendo com o Coronavírus, pela quantidade de pessoas que tem dedicado seu tempo (e vida) para cuidar, salvar o próximo.

Nos belíssimos textos das Sagradas Escrituras aparece o convite de Deus, que incansavelmente ama e aguarda por todos os filhos. Um Pai que cuida, protege, fala, escuta, que toca os corações profundamente, e espera pelo dia em que ouviremos Seu chamado. (Mas nem todos aceitam).

Ninguém nasce santo ou pecador. A santidade é resultado de uma busca constante, de um empenho no bem; por nossas obras revelamos quem verdadeiramente somos. Mas não somente pelas ações, porque somos demasiadamente humanos – fracos. Necessitamos da Graça. Pela Graça, pelo Espírito Santo, recebemos a força e o poder de cumprir com nosso propósito na Terra.

Ouvi certa vez, em uma homília do Pe Wagner Ruivo, paróquia de Sorocaba, que quando ele esteve visitando a Terra Santa, em Israel, a chegar ao local em que Jesus foi sepultado, sentiu inexplicavelmente um perfume maravilhoso: “Sabemos que Jesus não está mais no sepulcro: Ele ressuscitou. Mas o perfume do Mestre permanece: a Rosa de Saron”.

Se para os que visitam este lugar, ainda hoje conseguem sentir a presença do Sacro, imagino quão maravilhoso deve ter sido para os que estiveram na real presença de Cristo, quando aqui esteve - para os que conviveram, caminharam com Ele. Considerando também que nós podemos estar com Ele. Podemos perfumar os caminhos por onde passamos. É difícil, mas não impossível. Santidade não significa nunca errar, mas ao cair se levantar, pedir perdão e recomeçar novamente. Não desistir. Trabalhar incansavelmente no bem. E saber que Jesus sempre espera por nós, basta relembrar a parábola do filho pródigo...

Quantas pessoas trilham anonimamente o caminho da santidade, nas pequenas ações de amor, nas atitudes de doação, de cuidado e respeito para com o outro. E agora, o momento que vivemos com a pandemia, necessitamos expressar imensa gratidão pelos trabalhadores que executam os mais difíceis trabalhos, como lidar com o lixo, momento em que estão arriscando suas vidas. A santidade de voluntários que se dedicam a cuidar de idosos, de crianças abandonadas ou com câncer, assim como os religiosos: padres, freiras, pastores, enfim, pessoas de fé, que continuam ajudando os pobres com doações, enfrentado as ruas ... ou nos encorajando com suas orações e testemunhos (que benção poder contar com eles!).

E certamente não poderia olvidar os profissionais da saúde, médicos, enfermeiros... tantas pessoas que estão expostas ao Coronavírus, mas continuam bravamente, pois escolheram dedicar suas vidas a salvar outras. Minha gratidão a minha irmã Cláudia e cunhado Antônio, que deixaram o conforto e a proteção do lar e estão se expondo para ajudar a salvar vidas na cidade de Tambaú!

Pedindo, neste momento, o reconhecimento e a oração por todos aqueles que perderam suas vidas lutando contra o Coronavírus. Nossa eterna gratidão. O Senhor os receba e console as famílias enlutadas.

Haverá certamente infinitos trabalhos de doação, de amor profundo pelo outro, em um ato de entrega, sem que se espere nada em troca. E quando, apesar do trabalho intenso, pesaroso, ou mesmo sofrido, entregamos a Cristo, como oferta de amor, estamos participando do caminho à santidade. Principalmente para pessoas que sofreram a perda de seus filhos, seus amores... seja pela pandemia ou outro tipo de morte, apesar do sofrimento, o ato de continuar a caminhada, de não se revoltar e decidir cumprir, dignamente, com seu propósito na Terra, faz com que estejamos unidos ao sacrifício de Cristo – e podemos perfumar onde passamos...

Sabemos de nossa humanidade, de nossas fraquezas. Mas pela Graça teremos a virtude necessária para alçar o céu. O convite à santidade é para todos. Hoje. No exato lugar onde estamos. Recolhidos em nossas casas ou não. Não importa o local. Podemos fazer a diferença.

E quando o sofrimento, o cansaço ou a dor nos parecer demasiado, lembremos que podemos neste momento nos unir ao Senhor. Sozinhos somos fracos. Com Ele somos revigorados – feitos novas criaturas.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com
 

Pessoa com deficiência

Bom, agora vou deixar a minha deficiência aqui do lado, mais tarde eu volto para buscá-la. Pois, sou uma Pessoa portadora de deficiência. É fácil carregá-la, não pesa, não cansa, ela é tão comum que é vista como normal. O termo “portador de deficiência” deve ser abolido do nosso linguajar. As pessoas não portam suas deficiências, assim como portam documentos, portanto, devemos utilizar o termo “pessoa com deficiência”. Outra expressão bastante comum é a “pessoa normal”, para aqueles que não possuem nenhum tipo de deficiência. Isso passa a ideia de que pessoas com deficiência são anormais, o que é pejorativo. Devemos utilizar “Pessoa não Deficiente”. É muito importante entender que o uso de alguns termos são pejorativos e até mesmo ofensivo, podendo levar a um constrangimento desnecessário. De acordo com a LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015, o termo correto é: PESSOA com DEFICIÊNCIA.

Às vezes dá a impressão que as cidades são para a maioria. Sabemos que a maioria são pessoas não deficientes, portanto, a minoria deve-se adequar a maioria da população. Será que é isso mesmo? Será que pessoa com deficiência tem menos valores, e que valores seriam esses?

A quem interessa a exclusão? Não vou me prender a uma resposta individualizada, e sim em todo o conjunto da sociedade. Como um todo, todos perdem. A sociedade ganha, quando todos ganham. É o retrato da nossa sociedade hoje, quanto mais acúmulo, mais desigualdade.

É preciso saber para conscientizar, para incluir. Fala-se muito em ACESSIBILIDADE, uma cidade acessível para todas as pessoas. Em termos práticos o que isso significa? Coisas simples para pessoa não deficiente passa a ser complexas para pessoas com deficiência.

Assim como os deveres são para todas as pessoas, os direitos também são para todas as pessoas. Somos todos iguais perante a lei, assim diz a nossa constituição, no Artigo 5º. Na prática é isso que acontece? Essa igualdade que diz a carta magna é respeitada? Ainda nós, pessoas com deficiências somos invisíveis em plena era da informação? Será que falta informação?

As políticas públicas são necessárias para garantir a efetivação de direitos. É direito da pessoa com deficiência de viver em um ambiente em que possa desenvolver suas habilidades sem depender de terceiros, desenvolvendo sua autonomia e independência. Essas garantias são formuladas e implantas por meio de políticas públicas, formulada pelo poder público e pela sociedade civil. Com a participação popular e o comprometimento do poder público é possível implantar uma política pública de acessibilidade com qualidade.

Acessibilidade gera custo, e nós como somos parte da minoria, não geramos lucros o suficiente para equilibrar essa conta. Eu, ingenuamente me recuso a acreditar nessa hipótese. O ser humano não seria tão insensível a esse ponto. Ou seria?

Está faltando mais empatia com essa população que na qual eu me incluo. As nossas dificuldades, são nossas dificuldades, seria isso? Cada um com as suas dificuldades, tentando resolver algo que seria de responsabilidade de todos. Colocar-se no lugar no outro para sentir as suas dificuldades. Acredito que a partir do momento que cada cidadão, cada cidadã abraça uma causa, seja lá qual for, e traz para si como sua, é início de uma conscientização. Vivenciamos essa experiência nas viradas inclusivas que realizamos. Estamos no caminho certo, tudo é um aprendizado e cada etapa vencida deve ser valorizada.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência

Um pouco de C. S. Lewis

Conheci o trabalho de Lewis por indicação de meu filho Bruno, na época em que estava tecendo minha Tese de Doutorado, em 2012. Posso dizer que desde a primeira leitura me apaixonei por tudo o que este autor escreve. Se você assistiu ao filme: “Os Contos de Nárnia” (maravilhoso!), pode conhecer um pouco de seus pensamentos. Confesso que as obras dele tem o poder de me tirar de meu (pretenso) cotidiano, e suspender, por um momento que seja, minhas limitações... A profundidade de suas obras faz-me ver a grandeza, a magnitude da vida (por vezes esquecida), a dimensão de nossa existência e tudo o que ainda podemos fazer por nós e pelo outro.

Assim, até hoje continuo a perscrutar seus escritos na esperança de que eu mesma possa me encontrar novamente… A clareza e brilhantismo de seus pensamentos o capacitou a ultrapassar o tempo. Lewis foi ateu ferrenho, convicto, e como tal defendia o ateísmo. Mas se converteu ao Cristianismo, mudando para sempre o rumo de sua literatura, passando a escrever apologéticas cristãs.

O que mais toca em mim é que Lewis se converteu por meio de seu amigo, Tolkien, famoso pelo “O Senhor dos anéis”. Fico imaginando que maravilha, que benção ter um amigo que nos leve à conversão... (Confesso que tenho desejado - intensamente - ser uma amiga assim...). Na verdade Lewis estava cercado de grandes homens, amigos cristãos comprometidos com o bem, como o famoso: Chesterton, dentre outros.

Resolvi trazer um pouco de Lewis como inspiração, devido ao momento em que vivemos, com a devastação do Coronavírus... O autor passava fé e esperança em um dos momentos mais crucias da história da humanidade, no período da Segunda Guerra Mundial, em que as pessoas enfrentavam sofrimentos, perdas, mortes. Lewis, por meio da Rádio, propagava mensagens e apologéticas cristãs, levando coragem e ânimo, não se deixando sucumbir ou paralisar diante das diversidades (o medo não pode nos paralisar!).

Assim, determinadamente, transmitia seus textos que acabaram sendo editados, tornando-se preciosos livros. Ou seja, ele discutia filosofia em tempos de guerra... de extrema dor... Lewis era um sopro de vida diante de tantos tormentos; ensinava, ainda que de forma tácita, a virtude da fortaleza – pois mesmo diante das piores circunstâncias, ainda podemos ter fé, esperança, acreditar que podemos fazer a diferença. (E nestes momentos é que revelamos quem de fato somos).

Não é isso que vivemos na atualidade, com a ameaça do Coronavírus? Não tem você se surpreendido com a atitude de pessoas...tanto para o bem como para o mal? Devo dizer que alguns familiares me surpreenderam pelo elevado grau de bondade, pelo altruísmo. Confesso também, que apesar de compreender a devastação causada pelo Coronavírus, com todo o sofrimento causado, mesmo assim, não consigo deixar de ter esperança de que sairemos melhores, que recebemos uma nova chance... e que o momento é de gratidão.

Talvez a mídia, meios de comunicação nos façam crer que somos finitos, terrenos e forgettables. Mas quando enxergamos somente o agora, nossa visão fica limitada, impossibilitada de enxergar o propósito interno (todos temos, até as formigas, que dirá o ser humano!) e a grandeza de nossa existência.

Nossa finitude não pode limitar o sentido de nossa existência. A morte não pode definir quem somos. Diante dela, e apesar dela, compreendermos que somos ainda maiores. E que talvez ela seja ela um grande presente… A morte nos permite enxergar nossa finitude terrena, mas com a promessa da imortalidade celestial. E é neste momento de pandemia que necessitamos, mais do que nunca, termos fé, esperança, cumprindo com o propósito a que viemos. O mundo precisa (urgentemente) de pessoas melhores.

Um pouco mais de Lewis:

“Bons sentimentos, novas ideias e um interesse maior pela “religião” nada significam se não melhoram nosso comportamento, assim como o fato de um doente se “sentir melhor” de nada aproveita se o termômetro mostra que sua temperatura ainda está subindo. ... A árvore é conhecida pelos seus frutos…” 

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

O silêncio dos bons

A liberdade vence o medo de voar e a verdade sempre vencerá. Os olhos abertos não percebem a luz que insiste em não se apagar. Assim é a verdade, sempre uma luz que muitas vezes imperceptível que se nega a apagar. Verdades e mentiras em absurdos que aos poucos parecem roubar a nossa normalidade em meio à insanidade de um caos momentâneo.

A verdade empunhada e o gosto amargo no covil da impunidade. E a ressignificação das palavras e as bravatas do poder. A desobediência em tom sarcástico e o desafio diante do medo encorajado pelo poder da solidariedade.

Em volta da vida, a liberdade como um vento suavizando as faces da dor e as lágrimas sublimam os olhares num brilho que ainda existe. Mesmo nas frias manhãs e na dureza do caminhar, a vida vai seguindo o seu ritmo. Nas margens do pensamento, um pensamento cansado que não sabe de onde veio e nem para onde vai.

A solidão machuca e a dor é silenciosa. E o menino anda pelas ruas sem saber o que procura, sem saber de onde saiu, sem saber onde vai chegar. Chora uma lágrima no escuro de um olhar, e a rua é a casa, a calçada é cama e a lua não cansa de clarear.

O sonho sob os raios de muitos sóis, enquanto adormece a criança nos braços da esperança que caminha sob as flores em meio aos espinhos e essências. O dia se escondeu por entre ruas e favelas, palácios e mansões; luxos e luxúrias. A sociedade escolhe sua casta e o resto, o resto fica aos cuidados da sorte, a fome já passou, ficou para depois.

Nas mesas a fartura de pão e migalhas à justiça que mendiga um pouco de sapiência por nada poder fazer. Não adianta fazer nada, não há o que fazer. “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. (Martin Luther King).

O que fazer agora se a lua não quer mais clarear e o sol perdeu o seu brilho e a ferrugem corrói os metais? Lenta é a viagem e a mente desacelera e o pensamento caminha entre jardins abandonados e flores solitárias. Ao sabor do tempo, voam asas em liberdade e infinitas verdades a povoar as mentes insólitas que ainda sobrevivem, apesar da soberba e a arrogância a acampar ao ar livre.

Nos olhares perdidos as lágrimas do mundo e o avesso da alma no oásis de ternura. Aos quatro ventos, a liberdade sob as asas feridas e nuvens passageiras. E na acidez das palavras a insana ignorância e a estupidez humana.

Segue as veredas em diferentes direções e abismos vertentes que secam as mentes e envenenam os sentidos aniquilando a essência que se desfaz entre e verdades, mentiras e castelos de ilusões. Uns falam o que pensam. Outros nem pensam, consomem o supérfluo que enfiam goela abaixo. Assim fica difícil florir campos e jardins para colher a próxima estação. Todos querem um lugar ao sol e ao mesmo tempo todos brigam pela sombra.
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência
SP e a guerra sem tréguas contra o vírus

Estamos em guerra contra um inimigo menor que uma semente de mostarda, invisível a olho nu, mas que não obstante representa um enorme desafio, não apenas para São Paulo e o Brasil, mas para o mundo. Este inimigo, contudo, está longe de ser invencível e nós o estamos combatendo dia e noite, com medidas sanitárias, econômicas, sociais e administrativas.  As batalhas pela frente são muitas, mas tenho convicção de que, com a ativa colaboração dos brasileiros de São Paulo, que entenderam a gravidade da situação e oferecem a sua cota de sacrifício pessoal, seguindo as recomendações das autoridades, seremos vitoriosos. 

Nós do Governo do Estado de São Paulo confiamos que, com as medidas tomadas até aqui, e com outras que ainda virão, retomaremos as atividades normais do dia a dia o mais cedo possível. Nossa intenção é liberar a retomada das atividades o mais rapidamente possível, mas não podemos colocar a saúde da população em risco. A curva de disseminação da doença é ascendente, e por isso a recomendação é de isolamento social, com o mínimo fluxo possível de pessoas para que o sistema de saúde possa atender e cuidar de todos. 

Para que isso se torne realidade, o governo do Estado faz a sua parte. Por exemplo, liberamos para todos os 645 municípios paulistas R$ 311 milhões em repasses emergenciais para enfrentamento e contenção da Covid-19. 

Na semana passada, o Governador João Doria anunciou o repasse de R$ 40 milhões para municípios com menos de 100 mil habitantes. Somados aos R$ 218 milhões confirmados para outras 79 cidades com população maior do que esta, além de outros R$ 50 milhões para a Capital, o total representará efetivos investimentos na aquisição de insumos hospitalares, montagem e operação de hospitais de campanha, como o do estádio do Pacaembu e do Anhembi, na Capital, bem como em centros de referência para atendimentos de baixa e média complexidade nas cidades menores do interior e do litoral.  

A orientação para municípios com até 300 mil habitantes é a criação de um centro de referência de combate ao Coronavírus, com primeiro atendimento, consulta e testes, sem a previsão de leitos. Para municípios maiores, a orientação é a criação de hospitais de campanha, com leitos. Os municípios contam com flexibilidade para a utilização dos recursos, o Estado entende que cada região conhece melhor as suas dificuldades e peculiaridades e pode utilizar o método mais apropriado no enfrentamento da doença. 

Os valores anunciados já começaram a ser transferidos aos municípios no dia 30 de março. 

Esta estratégica permitirá que os leitos de terapia intensiva (UTI) estejam liberados para os pacientes em estado grave. Medidas de assistência social, como a abertura dos restaurantes Bom Prato inclusive nos fins de semana, também fazem parte das ações governamentais. Bem como a distribuição de 140 mil kits de alimentação para caminhoneiros, que tem apoio de empresas concessionárias e será realizada em 43 pontos de 19 rodovias que operam sob regime de concessão. A medida vai se estender até o dia 30 de julho.  

No âmbito da Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR), temos realizado diariamente videoconferências com municípios das 15 Regiões Administrativas do estado para esclarecer, informar e debater com os prefeitos e os secretários municiais de saúde as medidas de enfrentamento da pandemia, sanando dúvidas sobre os procedimentos adotados e abordando a situação de saúde local. 

Além disso, autorizamos repasse de R$ 100 milhões para mais de 300 Santas Casas e hospitais municipais. O Governador criou ainda uma força-tarefa de logística e transportes para garantir o funcionamento da malha rodoviária paulista e, consequentemente, todo o sistema de escoamento de produtos durante o período da pandemia. O objetivo é facilitar a circulação de mercadorias e garantir a segurança dos profissionais que trabalham nesta cadeia econômica, que não pode ser interrompida.  

Finalmente, vale lembrar a ampliação da rede de testes para o novo coronavírus no Estado; reforçaremos a rede de exames com as unidades regionais do Instituto Adolfo Lutz, situadas em Santo André, Sorocaba, Ribeirão Preto, Bauru e São José do Rio Preto. Elas estarão habilitadas a processar amostras, com capacidade de 500 exames por dia, podendo chegar até mil. Nesta semana ainda, chegam 20 mil kits de testes importados e 10 mil enviados pela Fiocruz, que serão distribuídos entre o Instituto Adolfo Lutz e outros laboratórios credenciados. 

Vamos retomar nossas atividades de sempre o mais cedo que for possível, mas a recomendação ainda é de isolamento social para que possamos cuidar de todos que precisarem. Não tenham dúvida, vamos vencer esta guerra!

Marco Vinholi, secretário de Desenvolvimento Regional do Governo do Estado de SP
O mundo escondido no sonho esquecido

Histórias do nosso tempo contadas por cada um de nós. Feridas abertas, cicatrizes e faces em lágrimas e liberdade aprisionada. O nosso mundo tem muitas facetas, riqueza, pobreza, crenças e culturas são partes de um todo. Sonhos e pesadelos, verdades e mentiras. A insanidade do poder nos púlpitos e tribunais. A força da fraqueza e a humana estupidez.  

E uma canção brota da alma e rompe o infinito trazendo a vida numa melodia de esperança.  Envolvendo o mundo numa sutil beleza, poetizando as rudes palavras, versando a simplicidade na sensibilidade de um simples olhar. Caminhar por diferentes caminhos estreitando distâncias. Embrenhar mata adentro, ferindo-nos mais profundos espinhos. É preciso caminhar. “Caminhante não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”. (Antônio Machado, poeta espanhol).

Caminhar, partir e chegar. Ao caminhar e extasiar com a beleza de tudo que nos envolve e suportar as dores ao longo da existência. Na aventura humana, história e imaginação, encanto e desencanto; é a vida romanceada se fazendo em realidade. Realidade, momentos difíceis são esses. A fragilidade humana exposta, não dá para negar essa dor, esse medo; essa desconfiança.

Num canto da vida, o inexplicável, a lógica da vida é extremamente a ilógica de tudo. O caminho nem sempre nos leva ao paraíso. E assim, se desfaz o dia e se faz à noite, dando vida ao novo dia e em tudo que está por vir. Na busca de sentido, tem se a sensação que tudo passa a não fazer sentido. Nos quintais da vida, flores e essência e um pouco de paz para ver o novo dia.

Amar um pouco mais, viver como se isso fosse a nossa única missão. Como palavras soltas em frases desconectadas e descontextualizadas. Talvez o tempo desapareça num raio de luz e as estrelas brilhem em um dia de sol, enquanto a lua quer a noite para sonhar dias melhores. E de repente um silêncio e nada mais. A partir de agora meus caminhos se curvam enquanto a noite espera por novos dias na esperança de sonhar que a fraternidade seja o novo paradigma da humanidade. Vestígios de silêncio em versos e palavras semeando sentimentos e acalentando corações e mentes.

Minhas mãos tocam as estrelas, quaisquer estrelas em qualquer noite, lua vicejante, planeta em difusão, lua de asas feridas, liberdade perdida em oceano de luzes e terra em transe. Tudo bem, eu entendo, quero apenas dialogar com a vida, conversar com as palavras e saciar minha sede logo ali no próximo parágrafo. Uma fonte de água, um sol para iluminar e um sonho se perde entre as lágrimas do acaso. 

E um vento sopra por entre as frestas do infinito. E um olhar se perde na imensidão do nada. Nada é para sempre, suporte essas dores, é só por esse momento. Tudo aos poucos se ajeita e essas lágrimas não são por acaso. Assim, o fluxo do mar, e assim, ao que tudo indica a marcha do sol, e o sonho da humanidade. Esqueça os sonhos nunca sonhados. Quando os olhares se perderes no horizonte, desenharei o mundo escondido no sonho esquecido.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência

O que domina você?

Cada pessoa é escrava daquilo que a domina. Ser dominado significa ser subjugado, vencido. Ser escravo é estar submetido à vontade de alguém ou de alguma coisa. Existe algo na sua vida que domina você? O problema é que muitas vezes nem sequer temos consciência de que algo nos escraviza. Se conseguirmos chegar a esta compreensão, já será dado um grande passo…

No mundo em que vivemos é muito fácil ser dominado por alguma coisa. (Na atualidade, o medo do Coronavírus está liderando...) Pode ser pelo ato de comprar, o consumismo (ai de mim…), pelos jogos, pelo futebol (há pessoas que só passeiam segundo o horário dos jogos na TV), de praticar a fofoca ou a maledicência, em vigiar o outro, em acusar. Ou ser escravo do mau humor, de um temperamento difícil. Para vencer um vício, um hábito, é necessário decisão, a vontade de romper com o que escraviza. Este é o primeiro grande passo após a consciência de que se está subjugado.

Reconheçamos que não é fácil decidir por romper com um vício, seja ele qual for. Pedro diz em sua segunda carta: Pois cada pessoa é escrava daquilo que a domina”, 2Pe 2.19.

Se você é escravo de algo, o que lhe domina, mais cedo ou mais tarde, vai afastar você da presença de Deus. O vício nos aprisiona, encerra a possibilidade de sermos livres. Veja o caso de pessoas que são explosivas, mau humoradas. Elas, como crianças mimadas reagem diante dos acontecimentos. E como conviver com pessoas assim?

É fácil ser cordial com quem nos irrita, ofende ou magoa? Evidentemente que não. Mas se não somos capazes de vencer nossos impulsos, nossas reações, nosso medo, somos escravos tanto quanto aquele que é dominado pelo temperamento, pelas drogas, álcool ou outro tipo de escravidão. Quando revidamos atitudes grosserias passamos a reagir, a ser coodependentes do humor dos outros. O outro não pode determinar como devo me sentir. A reação é para aquele que não tem consciência de seus atos, da importância de ser senhor de si. Quem reage é o animal. O ato de escolher como agir define que eu não coloco o meu humor, alegria ou esperança nas mãos de outrem.

Não é um exercício fácil, mesmo porque só conseguimos mudar padrões de comportamentos quando temos plena consciência da forma como agimos. Muitas vezes repetimos um padrão de comportamento vivenciado por gerações de nossa família. Para sair deste círculo é necessário a autorreflexão, a compreensão de que há um problema, seja ele grave ou não. Após este reconhecimento, ter o desejo de ser curado, buscar a cura, pedir pela Graça.

Muitas pessoas adultas carregam dentro de si a criança que foi ferida lá no passado. Agem na atualidade como se fossem ainda aquele ser indefeso, carregando traumas e complexos. Eu mesma, por diversos momentos em minha vida, tive um retorno ao passado, revivi, inconscientemente, traumas de infância, a partir de acontecimentos presentes no meu cotidiano.

Assim, entrei em tormento, em sofrimento, ficando paralisada, em pânico. Mas consegui perceber que estava presa por meio de minha mente (que pode ser o pior carrasco), por problemas enfrentados em data longínqua. Foram momentos difíceis, perturbadores, tristes... mas que acabaram. Ficaram no passado. Agi. Escolhi dar um choque de lucidez. Disse para mim mesma que não era mais aquela criança, aquela menina indefesa. A mulher adulta podia resolver o problema. 

Nesta busca pela cura, na autorreflexão, estudei um autor que foi decisivo para me ajudar, para a mudança de comportamento: Victor Frankl.  Ele era médico, foi o criador da Logoterapia. Descobriu que há no ser humano muito mais do que motivação, desejos, impulsos ocultos, ou males causados pelo ego, o inconsciente ou subconsciente, marcados na linha de Freud.

Frankl foi além. Compreendeu que há também um processo de cura que vem por meio da fé, uma cura espiritual e uma busca interior pela mudança. A incredulidade também impede que a cura ocorra. Ele descobriu que há o sentido da vida: o propósito - que move cada um de nós. Sem o propósito o ser humano desisti da vida, de viver.

Frankl passou cinco anos no Campo de concentração - perdeu toda sua família, que foram brutalmente exterminados por Hitler, no Holocausto. Ele perdeu tudo. Sua profissão de médico, sua família, esposa, amigos. Mas não perdeu o sentido da vida. Compreendeu que, mesmo naquele horrível ambiente, vivendo na dor e sofrimento extremo, mesmo assim, o ser humano tem dentro de si o poder da escolha:

“O ser humano não é completamente condicionado e definido. Ele define a si próprio seja cedendo às circunstâncias, seja se insurgindo diante delas. Em outras palavras, o ser humano é, essencialmente, dotado de livre-arbítrio. Ele não existe simplesmente, mas sempre decide como será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte.”

Então, mesmo no momento difícil que estamos vivendo causado pelo coronavírus, podemos escolher agir. Ter esperança. Fé. Virtudes teológicas essenciais. E é neste momento que mostraremos quem de fato somos... E acredite: podemos fazer a diferença.

“Portanto, não temais... não turbeis os vossos corações. Antes, santificai em vossos corações Cristo, o Senhor. Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança.”
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

No consolo da fé

“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). Estamos na Campanha da Fraternidade, refletindo sobre a vida. Mais do que refletir, o atual momento nos convoca e nos chama a nos colocar no lugar do outro, para que juntos possamos suportar essa travessia. A Campanha da Fraternidade, como já sabido acontece durante o tempo da quaresma. Todo ano a campanha discute e nos convida a refletir sobre temas que nos dizem respeito; todos são temas de extrema importância. Mas, o desse ano passou a ser importantíssimo e fundamental, pois incorpora todos os nossos anseios. Sim, todos. Na minha concepção não há maior anseio do que a vida.

A vida que é concedida de uma forma plena, mas nós preferimos ignorar  essa plenitude. Não queremos que as vidas de todas as pessoas sejam plenas. E criamos todas as formas de barreiras que nos separam como seres humanos. A idolatria dos bens materiais e o consumo desenfreado concretizaram essas barreiras. O poder acima de tudo. A soberba, a arrogância e a discrepância pelo bem comum. O ser e o ter. O ser para ter e o ter para ser, essa dicotomia nos alicerça como seres humanos e nos mergulha na profundidade de um mundo desigual.

Muitos pensadores já se debruçaram sobre essa temática. O mundo e suas aflições, o homem e a sua busca. E nessa busca muitas vezes desenfreadas, não percebemos que muitas coisas importantes e fundamentais estão ficando para trás. Trocamos valores fundamentais por valores temporais e se perdemos em nós mesmos. “Vendendo fácil o que não tinha preço”. (Renato Russo).

Mergulhando dessa vastidão de incerteza, nos portamos como heróis e heroínas, brindando as vitórias. Mas, quem são os derrotados? E o que faz os vencedores com as suas glórias? Nos embates da vida uma pergunta, somente uma pergunta: Quanto vale a vida? E como calculamos esse valor? Quem é o avaliador?

O cuidado com a vida e tudo que envolve e desenvolve e faça com que ela seja plena. Quem somos e o que fazemos em meio a tudo que nos envolve? A vida implora por cuidado. Cuidar da vida, cuidar do mundo. O amor envolvente reina entre nós num cuidado cósmico. Um olhar perpassa o todo num elo sentimental e pede paciência e suplica por cuidado. Cuidado, que a vida é frágil e exige de nós singeleza e gentileza. A fragilidade do humano se fortalece no poder gratuito de Deus que nos moldou à sua imagem e semelhança.

Torno a perguntar: Quanto vale uma vida? Com certeza esse valor é inestimável. É preciso cuidar. É preciso semear. Recolher em nós, cada um de nós, e tentarmos procurar o que há em nós. Os jardins e as flores, pétalas que afagam as faces no consolo da fé. Lágrimas ao amanhecer e sorrisos ao anoitecer. A esperança no inocente olhar de uma criança. Sonhar o sonho dos bravos sonhadores desbravadores das rudes palavras e dos poetas da alma. Com o coração ferido e as mãos solidárias e a alma purificada com o bálsamo da vida e a essência do amor. A vida é o amor entre os seres humanos, e o cuidado com o todo. A vida é o sonho de Deus.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência

O que aconteceu com Paulo?

Nem sei como descrever a dimensão da admiração e respeito que tenho pelo apóstolo. Sua vida é inspiradora, digna de reflexão. Todas as vezes que enfrento um grave problema, ou situações difíceis, reflito sobre o tamanho dos problemas sofridos por Paulo, a forma corajosa como agiu, fiel, ciente do seu chamado e determinado a cumprir sua missão (sua obediência e coragem estremecem meu mundo…).

Sinto que não esgotei ainda os relatos sobre sua conversão, sua história e testemunho de fé. Assim, estou sempre a ler os Atos dos Apóstolos, suas cartas… quanta riqueza, quanta sabedoria e amor por Cristo. Confesso que sempre que leio seus textos me emociono, choro mesmo. A vida de Paulo é um testemunho vivo (nos arrasta para Jesus).

Devo confessar que a história dele foi decisiva para o reavivamento de minha fé. E qualquer pessoa que tenha dúvidas sobre a divindade de Cristo, de ser Ele mesmo Deus, basta se dedicar a ler as passagens no Novo Testamento. Não precisa ser um grande historiador ou compreender hermenêutica para chegar a esta análise. Os relatos bíblicos testificam. A mudança na vida de Paulo foi radical. Ele se tornou uma nova pessoa.

Se você tiver dúvidas sobre Jesus, a vida de Paulo traz a resposta. Como é que Paulo, cidadão romano ilustre, erudito, rico, rodeado de prestígio, deixou tudo, passou a viver na miséria, enfrentou sofrimentos extremos sendo condenado à morte para defender um Messias que já estava morto?

Só há uma explicação: Paulo encontrou o Mestre. Conheceu Jesus. Esteve com Ele. Ninguém dá a vida por um herói morto. Ele não daria a própria vida por nada. Após a conversão por sua vida e obras testemunhou quem era Jesus de Nazaré. E diante deste encontro ele não poderia recuar.

Paulo chamava-se Saulo. Era cidadão romano, judeu, rico, da família de fariseus (esta compreensão é importante para entendermos sua história) pertencia ao magistrado, falava diversas línguas, pertencia a elite romana, e portanto, conhecedor e praticante da lei. Eu, romântica que sou, imagino que ele tenha sido também um homem muito bonito, forte, alto, e por onde passava chamava a atenção. Sua postura já impunha respeito e admiração.

Paulo perseguiu durante muito tempo os cristãos porque acreditava que eles descumpriam a Lei de Moisés e a tradição judaica. Ele não acreditava em Cristo, assim, prendia e executava todo aquele que era considerado cristão. Mas ele descreve o momento de sua conversão, quando ouviu do Senhor: “Saulo, Saulo, por que me persegues?

Ele revela que quando foi orar no Templo, foi arrebatado: viu Jesus. Falou com o Mestre. Esteve com Ele. Toda esta história foi descrita por Paulo quando estava preso e prestes a ser executado, apedrejado por uma multidão (judeus, fariseus, saduceus). Ele deveria morrer por defender Cristo como o filho de Deus. Mas ele manteve sua palavra até o fim, não esmoreceu, mesmo sabendo que em algum momento morreria por isso.

Se analisarmos a vida do apóstolo veremos que depois de sua conversão ele teve muitos sofrimentos. Deixou sua família, seus bens. Perdeu tudo, inclusive o prestígio. Foi preso por diversas vezes, acorrentado, apedrejado, açoitado. Enfrentou a humilhação, a dor, a solidão e o desprezo, principalmente pelos seus. Justo ele, que era uma figura ilustre, conhecida e reverenciada. Este fato por si só revela que Paulo esteve com Jesus. Por isso toda a mudança radical em sua vida.

Ele foi escolhido para ser apóstolo dos pagãos – para pregar o Evangelho a todas as nações. E aceitou o chamado, foi obediente. Ouviu o Senhor. Deu ao mundo o seu melhor porque conheceu Jesus e se decidiu por Ele. Após sua conversão seu comportamento se modificou, suas obras evidenciaram sua fé. Mas não se salvou somente por suas obras: a Graça o salvou!

E a história de Paulo, como de tantos heróis bíblicos e santos, testifica que não há como esperar para fazer o bem, deixar para outras vidas… Paulo aceitou o chamado. Se analisarmos os textos da Sagrada Escritura veremos orientações para o cumprimento da vontade de Deus, a exigência da obediência, da fé, caridade, de trabalho no bem, ou seja, a urgência da reforma íntima. Sem procrastinar.

Considerando também que a vida de Paulo, assim como tantos outros heróis bíblicos e santos, invalidam a perspectiva de reencarnações, pois se assim fosse não precisariam dar a própria vida, nem enfrentar tantos sofrimentos, aceitar privações, ou grandes renúncias por amor a Deus. Eles poderiam esperar...

Paulo, assim como tantos outros, compreendeu que tinha que provar seu amor ao Mestre. Não haveria outra chance. Não haveria outro tempo. A conversão exigia tomada de decisão.

Assim, cada um de nós será julgado de acordo com o que recebeu. Pode ser uma vida de pobreza; sofrer injustiças; ter uma herança genética complicada, um temperamento difícil; viver em uma família onde impera o desamor, ou se sentir rejeitado por aqueles que mais deveriam amar você. Enfim, não importa sua trajetória particular. Todos sofremos adversidades, lutas, tristezas… E cada um responderá pela forma como conseguiu expressar amor – apesar das dificuldades enfrentadas.

Diante de sua história, e que se constitui a sua vida particular, a questão: quanto de amor você conseguiu espalhar, apesar de tudo? 
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com


Solidariedade e cuidado

Serão tempos difíceis afirmam os especialistas. No aspecto econômico isso é certo, dólar em alta, bolsas de valores em baixas. Fronteiras sendo fechada, diminuição do fluxo de pessoas. Acredito que a maioria dos brasileiros não está interessada nesse assunto, deixe isso para os investidores e os analistas econômicos. As incertezas dos mercados já são comuns, devido às turbulências políticas. Não podemos nos fixar nos aspectos econômicos que tende a se agravar por conta dessa pandemia que coloca o mundo em alerta. Como já sabemos, esse vírus teve origem na China e se espalhou por todos os continentes, por isso que a OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou como pandemia.

Não sou economista e nem especialista em saúde para dar detalhes técnicos sobre o assunto. Sou um cidadão, assim como todos, um pouco apreensivo com os fatos e com tudo vem acontecendo. E como cidadão tenho as minhas responsabilidades, pois vivendo em sociedade onde cada um tem que fazer a sua parte.

São esses momentos, são nos momentos difíceis que temos que mostrar a nossa humanidade, como povo e como nação. Cuidar um do outro, lembrando o lema da Campanha a Fraternidade desse ano. O cuidar, sentir as dificuldades do outro, estar sempre à disposição para ajudar. Ter sempre em mente que dependemos um do outro, e as dificuldades nos mostra o quanto somos fortes.

Mas infelizmente, muitos não entendem assim e coloca os seus interesses individuais acima dos interesses coletivos. É nesse momento que também aparecem os espertalhões, aquele que gosta levar vantagens em tudo, aproveitando momentos como esse para lucrar em meio ao sofrimento e o desespero.

Estamos assistindo pelos noticiários muitas informações sobre esse assunto. Compartilhamos pelas redes sociais todo o peso desse momento. E aí surgem inúmeras teorias que tentam explicar tudo isso que está acontecendo.  Não importa às teorias conspiratórias, o vírus está infectando e mantando pessoas pelo mundo. O que temos que fazer é unir forças, comprometendo com a vida de cada um. Sem egoísmo, sem partidarismo, pensando realmente no bem comum. A melhor coisa a fazer é seguir as recomendações dos especialistas. Essas que todos nós já sabemos e temos que por em prática. Sabemos que não está sendo fácil ouvir e ver tantas notícias desoladoras e saber que isso já faz parte da nossa realidade.

Todos conscientes nessa travessia, sabemos que depois da tempestade o sol sempre volta a brilhar. Que essas dificuldades reforcem e renasça em nós o sentido de humanidade. E que a paz, a esperança e o amor reinem em nossos corações.

Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência


A palavra perdão nos remete a vários significados, mas geralmente seu real sentido não é revelado ou compreendido. Quando ouvimos que devemos perdoar determinada pessoa, muitas vezes há uma recusa, uma negativa ou mesmo pode ser considerado como uma afronta, dependendo do ato que nos foi infringido. Mesmo porque os sentimentos são subjetivos. E cada um reage de uma forma diante das ofensas, calúnias, ao sofrer injustiças ou ser alvo de extrema maldade. Pior ainda quando ocorre a perda de algum ente querido pelo erro de alguém, mesmo que não seja intencional... E talvez o ato de perdoar se torne mais difícil quando somos pressionados a isso. 

Mas o que é revelado no ato de perdoar? Eu diria que em primeiro lugar está a virtude da coragem, aliada à generosidade. É preciso coragem para escolher perdoar. E muita generosidade, não somente ao outro como a si mesmo. É uma atitude que envolve a decisão de seguir livre, apesar do que o outro lhe fez. Perdoar não significa que a maldade será esquecida. Não. Dependendo do grau da ofensa, do sofrimento, talvez nunca haja o esquecimento. Mas, mesmo reconhecendo que houve uma falta grave, escolhemos por não continuar carregando este peso. Decidimos por não carregar o ódio, a revanche ou a mágoa. Isto muda tudo.

O ato de perdoar implica muito mais do que as pessoas sequer imaginam... Há uma justificativa no senso comum que valida o ato de revanche, de não se levar desaforo para casa, de reagir às ofensas. Mas a verdade é que é preciso muita coragem para não revidar, para dominar os sentimentos e emoções. Geralmente esta decisão corajosa não é percebida em sua grandeza. As pessoas muitas vezes validam e justificam a falta de perdão.

Acredito que o ato de perdoar revela também outras cinco virtudes: humildade, alteridade, sabedoria, fé e esperança. Humildade, porque precisa deste valor para se desvencilhar de seu ego, acreditando que todos são dignos do perdão, pela nossa humanidade em si - e mais ainda se somos cristãos. 

Alteridade, pois é necessário se colocar no lugar do outro, entender suas razões, sua história, suas dores, o atual estado em que se encontra... Sabedoria, porque é imprescindível conhecimento e inteligência, não se deixando dominar pelos instintos, buscando agir ao invés de reagir às agressões e adversidades.

Fé e esperança - virtudes teológicas – que revelam a escolha pessoal pela paz, acreditando que somos todos filhos de Deus, dignos do perdão, da misericórdia, pois, como dizia Paulo: somos cidadãos celestiais (nosso lugar verdadeiro não é aqui). Acreditando que nossas obras nos acompanham. E nenhum bem será apagado.

Enfim, quem perdoa demonstra extrema generosidade - não é para qualquer um. Aquele que perdoa compreende que o outro jamais poderá diminuir sua grandeza ou afetar sua dignidade. O arrogante dificilmente perdoa. Ele se sente ofendido em seu ego, em sua autossuficiência. Famílias inteiras são destruídas pela falta de perdão, pela falta de amor. Cada um se fecha em sua razão, e os mais próximos vão tomando partidos. Começa a divisão, a separação, a dor, o sofrimento. 

O ato de perdoar não diminui ninguém, nem retira a razão. É um ato de renúncia do ego. É antes de mais nada uma escolha pelo bem. Uma decisão que poderá trazer libertação ou sofrimento. Acredito que a todo momento estamos sendo testados em nossa fé, em nossa postura para com o outro, para com nossos familiares. O lar é o primeiro lugar em que devemos estender a compaixão, a bondade, o perdão.

Quando escolhemos perdoar, trazemos a nós mesmos a libertação, estendemos a compaixão não somente ao outro que nos feriu mas a nós mesmos, experimentando a paz verdadeira. E o bem excede todo entendimento, se propaga de uma forma progressiva e inimaginável...

Por que perdoar? Para curarmos a nós mesmos e ao mundo ao nosso redor!
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes. Pianista, Graduada em História; Pós-graduação em Filosofia; Mestre em Educação e Doutora em Educação. Email: carmolincoln@gmail.com

Depois da outra margem

Em alto-mar, barco à deriva em inquietas águas. As mentes conectadas de continente para continente transmitem a divina comédia humana. Os corações dilacerados e a flor ferida sob as lágrimas de um breve amanhecer. Diante de mim, o silêncio inquietante e uma jornada ao desconhecido em busca de outro norte. E tranquilamente aquele barco segue em meio ao lamaçal e encalhando aqui e acolá, mesmo assim segue à procura de outras paragens.

Enviaste flores a sua existência, pois foi assim mesmo que perdeste ao longo do cominho à vontade e o desejo de chegar. A liberdade rompe as correntes das aprisionadas paixões que se misturam entre sentimentos. Nas veredas, a aurora de todos os dias e o encanto em todos os olhares, embora o desencanto desfaça o sonho entre lágrimas e lamentos.

Infinitos olhares que vagueiam solitários, e assim segue, seguem o caminhar o mesmo caminho. Somente só e solitário por apenas alguns momentos que parece se perpetuar. Longe daqui, o refúgio e as cores do arco-íris depois da tempestade.

Plenamente ungindo pela chuva que faz a terra germinar a semente para colher fruto e folhas, flores e essência. Contrasta a emudecei e a decência, o cosmo e o caos ao bailar das nuvens. Entre todas as criaturas, somos as mais frágeis, precisamos e necessitamos de cuidados. Assim somos como crianças brincando no quintal do paraíso sob os olhares de um Pai amoroso que zela por cada um de seus filhos.

Frente ao sonho que fez pesadelo num encontro desencontrado. Sob a noite o fel em poucas doses embriaga o sono que se esvai nos próximos momentos. Soa o silêncio no vazio de um instante em pleno amanhecer de um dia qualquer em um instante de eternidade. O bem é mais e um pouco de alguma coisa para preencher um simples momento que esconde o mal no subterrâneo do ser. Não adianta dizer que a vida é bela diante da miséria que sucumbi o corpo, corrói a alma e esvazia o espírito. 

A complexidade e o paradoxo e as reticências da vida. O conhecimento é fascinante, quanto mais se sabe, mais se envolve no mundo do saber. E aí vem a frustração, percebe que quanto mais se pensa que sabe, na verdade nada se sabe. Como disse o filósofo Sócrates, “só sei que nada sei”. O universo do saber é infinito, assim como são infinitas as estrelas em uma noite qualquer.

Nos caminhos das desventuras, escravos de um pensamento padrão, cuja futilidade é a máxima doutrinária. Ensandecidos pelo barulho infernal, o silêncio se refugia e cala-se diante de tantos absurdos.  O chão sumiu ao tocar as estrelas. O tempo se foi, e o vento já passou e o sonho segue o seu caminhar alimentando a essência dos sábios que habitam um tempo qualquer. E nas entrelinhas do caminhar um transeunte em distantes veredas fugindo de si mesmo, refém dos próprios pensamentos.

E as pedras falarão, quando os homens se calarem e o silêncio revelará ao infinito o segredo da vida. A seta aponta para outros nortes, depois da outra margem de outros rios que inundam campos e imensidões. Cidades e canções, lendas escritas em versos e palavras cantadas ao silêncio nas noites futuras entre sonhos e realidade. 

A areia se esvai entre a ampulheta e o tempo que se perdeu na fenda que se fechou sobre os olhares enfáticos do tempo. A bússola não consegue encontrar o seu norte e a noite adentra e nutri o ser que perfaz a alma e solidifica o espírito. 

Uma flor desabrocha silêncio! Uma vida foi concebida. E a consciência busca refúgio no parir da paciência, na paranoia do caos. Volto à história e revivo o filme de sonhos no oásis de emoções. No espelho da mente a imagem refletida daquele barco em alto-mar. Envolto ao cio da criação, O parto da vida. O grão, a semente, o fruto e o alimento. E o amor que constitui o todo! Tudo silencia! E aquele barco...
Luiz Carlos de Proença
Conselheiro Municipal dos
Direitos da Pessoa com Deficiência


Possibilidade

Está difícil? Esse caminho é muito longo? São muitos obstáculos? São muitas setas, muitas curvas, muitas vozes contrárias? O que eu fiz hoje que não senti o dia passar? Será que fiquei preso em minhas incógnitas? E onde eu encontro respostas para essas perguntas? Talvez eu me perca em minhas próprias buscas. Não encontrando saída, caio no desalento e no desânimo.

Por que essa pressa, essa desconfiança? Essa sensação que algo vai mal, se nós, isso mesmo nós, cada um de nós podemos ser a diferença, fazer a diferença; deixando um pouco de lado as dificuldades e nos conectarmos com as possibilidades.

É difícil ouvir em meio a tanto barulho? Inquietações, ruídos; tudo parece que está nos roubando aos poucos. E sem perceber somos tomados pelas tentações momentâneas de um mundo superficial. Corroídos pelo desejo e pela imbecilidade propagada de que tudo é assim mesmo. Somos dominados pelo conformismo. 

São tantos conflitos ideológicos, discussões rasas, superficiais que não agrega. São tantas fúrias, tantas incompreensões, tantas maldades, mentiras e injustiças. Tantas incoerências, tanto falar só por falar. Deus está na boca de quase todas as pessoas, mas ausente na maioria de nossas ações.

Alimentamos os mesmo velhos pensamentos, tudo é assim mesmo, nada vai mudar. É tudo muito difícil, é não saber ou não querer pensar fora da bolha. É ter asas e não querer voar, a altura nos apavora. É ter sono e não poder dormir, o corpo cansado e a consciência pesada.

Meu Deus quantas dificuldades! Por falar em Deus, onde está Deus que não encontro? Onde estou nesse momento, e em que momento Deus está em mim? E tudo parece tão difícil; tudo está tão longe do meu alcance. São barulhos, inquietações; parece que estou desconectado de tudo que sou. Tudo é tão difícil. Então paro por um momento, é esse o momento, é o agora, não há o antes e nem o depois. O que eu tenho é o agora, é esse o momento e nele posso ser inteiro.

O caminho é longo, mas que tal eu pensar na possibilidade de dar o primeiro passo? Posso escolher entre me perder nas dificuldades ou me libertar pelas possibilidades. Conecto ao silêncio, tá difícil, é muito barulho, é muita correria, projetos, metas a serem cumpridas e tantos outros ruídos. Mesmos assim, busco o silêncio, o meu silêncio. O silêncio que está em mim, é isso mesmo, que está em mim. Vem à mente novamente a mesma pergunta: Onde está Deus que não encontro? Deus está dentro de mim, dentro de você. Não busque na superficialidade e nos eloquentes discursos o que só se encontra na profundidade e na simplicidade.

Viver é sempre um aprendizado, todo o dia é uma nova lição. Todo o amanhecer é uma nova chance que tenho para ser melhor. Desprendo-me das dificuldades e vou ao encontro das possibilidades. Esse é o meu exercício de todos os momentos. Aprendendo a ser melhor a cada dia.
Luiz Carlos de Proença


“Sim, pode ser DEMÔNIO, mas também pode ser simplesmente VOCÊ”

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes

Este é o título do livro que li esta semana. O autor é Alfredo C. Veiga. Confesso que comprei porque fiquei intrigada pelo tema. Até que ponto somos nós os causadores do mal? Quando uma pessoa é tomada pelo mal? Veiga traz diversas questões, explicando que muitas vezes é creditado ao demônio uma culpa que é da própria pessoa. 

Reconhecendo que há um sensacionalismo em torno do demônio, principalmente em nosso país, em que diversas igrejas – ou seitas, fazem shows de expulsão em público, algumas televisionadas (com diversos abusos em nome da fé). Por outro lado, talvez muitos desconsiderem ou ignorem a existência e atuação do mal. 

Acredito que este tema merece ponderação e discernimento. As Sagradas Escrituras mencionam a presença de Satanás. Mas muitas vezes atraímos o mal pelas escolhas que fazemos, mesmo que de forma inconsciente. Nossos comportamentos e atitudes revelam de que lado estamos. 

Nossa atuação no mundo tem um peso muito grande, traz consequências. Por vezes imputamos diversos sofrimentos aos outros e a nós mesmos. Todas as vezes que agimos de forma egoísta, sem buscar a paz, o entendimento, a reconciliação, o perdão, nos fechamos. Com o tempo o coração vai endurecendo…e talvez nem a pessoa se reconheça mais. É o caminho para a entrada do mal. Mas veja que houve uma escolha.

Considerando também que muitas atitudes, vistas com naturalidade, nos afastam do bem, como o ato de fomentar a fofoca, a maledicência, ou mesmo a postura rígida, extremada, diante de questões morais, políticas ou religiosas. A posição rígida, acusadora, causa separação, divide as pessoas, pois não permite o diálogo. Muitas pessoas, famílias, se desentendem por discussões banais, que não levam a lugar algum, causando desavenças e contendas desnecessárias. 

Quando impomos o nosso ponto de vista ao outro imediatamente nos colocamos em posição de confronto – não há o respeito, o acolhimento. (Veja a quantidade de pessoas que brigaram na última eleição: petistas versus bolsomitas, e ainda brigam, ufa). Se a intenção é realmente de ajudar o próximo, então é necessário agir com assertividade, tratar com respeito, acolhimento – com amor. 

“É um ambiente assim, de discordâncias e defesas cruéis do próprio ponto de vista que se dá o debate transcrito no Livro de Gêneses. No cenário de um jardim tranquilo e pacífico, levanta-se uma questão. A serpente (o mal) questiona a palavra do Senhor, sugerindo a dúvida sobre se aquilo que Deus fala merece ou não algum crédito[…] disse ela a mulher: É verdade que Deus os proibiu de comer dos frutos da árvore que estão no jardim? “. pg.22

Repare que a serpente não faz uma pergunta inocente, como normalmente fazemos com o intuito de compreender algo. Não. A pergunta vem imbuída de uma sugestão maldosa. Aparenta ser ingênua, mas é insidiosa. Questiona a autoridade de Deus! 

Comece a refletir sobre a sutileza deste mal, a dissimulação, a sordidez mascarada. Por meio de simples palavras o mal é plantado no coração. Pode ser no ambiente de trabalho, familiar ou mesmo nos meios de comunicação. Há um movimento na mídia, em que há um processo de dessacralização, em que a fé é retirada paulatinamente, impregnada da ausência de Deus e elevação do ser humano (egolatria).

Há um discurso em prol da divinização do eu, um culto ao ego, ao prazer (hedonismo), que prega o utilitarismo e maximiza a felicidade terrena (haja o que houver).

Quando o ser humano coloca em si mesmo atributos de um deus, quando acredita que galgará por conta própria a salvação, e que não precisa de um Salvador, somente de evolução pessoal (reencarnações), automaticamente a Cruz – com o ato de Amor e Redenção de Cristo – é invalidada, descartada.

A verdade é que somos fracos. Por nossas próprias forças não conseguimos alçar o céu …  Como diz o apóstolo Paulo em Romanos 7:

“Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço. […] porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita.”

Ou seja: sozinhos fracassamos, porque somos imperfeitos. Precisamos da Graça. Pela Graça encontramos força, discernimento, sabedoria – amor para realizar tudo o que viemos fazer… e um dia partir rumo a casa do Pai (talvez devêssemos nos preparar mais para isso).

Retornando ao livro:

“Basta olhar ao redor e ver que determinadas situações só podem ter por trás um artífice do mal, e que de tão más, não parecem nascer de pessoas cujos rostos refletem uma semelhança com Deus”. 

Em alguns momentos de minha vida me questionei sobre a força do mal… Talvez não tenhamos condição de compreender a sua real dimensão, de como é possível alguém cometer atos de extrema crueldade, de causar sofrimentos aos outros. Isto porque o mal não é uma invenção humana: é uma invenção angélica!

Por isso é tão difícil conviver com a maldade, com pessoas ruins.

E a pergunta talvez não seja porque existe o mal, mas como ainda permitimos que ele exista.
Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes
Pianista, Graduada em História;
Pós-graduação em Filosofia:
Mestre em Educação e
Doutora em Educação.
Email: carmolincoln@gmail.com


Política: Situação X Oposição

Luiz Carlos de Proença

Política: Um jogo em que todos podem ser perdedores.

Por isso não podemos ver e muito menos agir como se isso fosse um jogo.

Uns veem e agem conforme suas convicções, outros conforme seus interesses.

Para a situação (governo) tudo está certo, tudo vai bem.

Para a oposição tudo está errado, tudo vai de mau a pior.

A oposição é a pedra. A situação é a vidraça.

A base aliada joga junto quando interessa e joga contra quando não interessa, tão simples assim.

Governo e oposição, dois lados da mesma moeda que dificilmente caminham na mesma direção. O interesse de um desinteressa o outro, e assim, governo e oposição, verdades e mentiras, tudo é verdade; tudo é mentira.

Duas forças opostas seduzidas pelo poder.

Em tempo de eleições a situação (governo) fala o que fez e a oposição fala o que faria se fosse situação, mas quando a oposição passa a ser situação esquece tudo que falou quando era oposição.

O poder faz um grande mal aos políticos, provoca amnésia.

E o povo, o povo... é mero figurante nessa peça que a gente sempre sabe qual é o final.

A política é suja, não! A política não tem nada a ver com o que está acontecendo, a política é uma ferramenta que pode construir ou destruir, depende das mãos que a manipulam e a intenção pela a qual ela é usada.

A política é limpa, são as mãos sujas de muitos políticos que suja a política.

A máscara cai por terra entre a ética e a estética, a estética perfaz a face desfigurada do poder corrompido. Enquanto a ética é algo distante, não se vê, não se fala, apenas se recorda que existiu um tempo no tempo que era um tempo que se foi. Era uma vez...

Maquiavel já havia afirmado, no século XVI, que a política tem pelo menos duas caras: A que se expõe aos olhos do público e a que transita nos bastidores do poder.
Luiz Carlos de Proença

Ainda é tempo...

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes

Não sei se o passar dos anos faça a real diferença para melhorar as pessoas. Nem que seja, quem sabe, um … sine qua non. Talvez o grande enigma não esteja no tempo… mas na consciência do valor e da dimensão de nossa existência. E muitas vezes, andamos tão distraídos, que nem sequer percebemos a realidade que nos cerca, ou mesmo as pessoas que caminham conosco.

Repare também que a virtude, a temperança, a bondade ou o senso de justiça, às vezes se manifestam nas mais tenras idades. Em criaturas que se mostram diferentes, singulares. Pessoas que são autênticas, sem máscaras e agem com determinação, sem se importar se destoam da maioria ou do pensamento do senso comum.

Penso que Deus, propositalmente, as coloca entre nós, como que para nos lembrar quem realmente somos – cidadãos celestiais, segundo Paulo – e que ainda há tempo para sermos melhores.

Neste sentido, tenho rememorado as experiências que vivi, não sei se pelo saudosismo que me é peculiar ou se pelo eterno luto que vivo desde a morte de meu filho Marcos. Venho recordando os sonhos da menina de outrora…reminiscências do tempo em que tinha ao meu lado pessoas muito queridas. Rememorando também as que ainda tenho comigo, e o muito que aprendo com elas. E, considerando que temos a vida diante de nós, creio que ainda é tempo de: 

Fazer boas promessas… 

Sorrir dos desatinos. Fugir da altivez, de pessoas estressadas, e das soberbas também. 

Ter a coragem de não revidar as ofensas (é preciso muita coragem para agir assim!). Decidir perdoar mais vezes. E quiçá compreender os porquês do outro - mesmo sem concordar com ele.

Não se comprometer com o que não vale a pena.

Achar graça do nada. Assistir mais comédias.

Cantar mais vezes. Falar sozinho. Não ter vergonha de expor seu amor aos outros.

Conversar com os animaizinhos. Não ter medo do ridículo, da opinião alheia.

Ir mais ao cinema. Comer pipocas. Estar e cuidar com carinho das crianças.

Tomar mais sorvetes. Andar descalços. Correr pela praia sem se importar, se desengonçados, engraçados ou estranhos. 

Saber quem você é - e para onde caminha. Sempre.

Estender o perdão ao outro mas também ter compaixão de si mesmo.

Ter a virtude da fortaleza (fé, esperança, determinação!). 

Procurar a mansidão. A Retidão. Sem olvidar a justiça ou a caridade.

Fugir da maledicência. Da maldade (de gente ruim mesmo).

Ter o coração puro (“somente os puros verão a Deus!”).

Não perder tempo com discursos. Nem com pessoas duras de coração.

Transformar pelas atitudes. Pela decisão.

Arrastar o mundo pela ação.

Ajudar um pobre. Ter compaixão pela dor alheia. Fazer o bem aos pouquinhos.

Encher de carinho os que estão pertinho. Surpreendê-los com mimos e delicadezas…

Ter mais gratidão a Deus.

Tratar a todos com generosidade. Estender aos outros gentilezas - mesmo a quem não as mereça. O amor deixa rastros. Invade corações.

Não se cobrar demais, nem sofrer por julgamentos alheios A árvore boa se conhece por seus frutos. As pessoas nos observam. E Deus tudo vê. Tudo conhece.

Ainda é tempo de…

Não reagir aos acontecimentos. Mas escolher agir.

Não ter medo de ser diferente. Não se acomodar. Nem se deixar moldar. Mas: “Transformai-vos pela renovação de vossa mente”.

Não aceitar o injustificável. Jamais.

Não se acostumar com pessoas mesquinhas. 

Fugir da avareza. Ter piedade do avarento. 

Ainda é tempo de estar com as pessoas. Completamente. Por inteiro. Há tempo pra tudo na vida: “Tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de matar e tempo de curar”. 

Tempo de morrer. Ah… isto não temos escolha. Mas podemos mudar nossa atitude perante a morte, e principalmente, perante a vida!

Ainda é tempo de…

Ser livre, de aceitar e rir de seus defeitos, vulnerabilidades… e gostar de sua própria companhia.

Aquietar o coraçãozinho. Um tantinho por dia.

Para estar em oração.

Para ouvir Nosso Senhor.

Dar uma guinada nos pensamentos. Escolher ser feliz. Curar a mente.

Romper com padrões e ciclos de sabotagem.

Não se deixar guiar por sentimentos, emoções… nem se preocupar demais: “somos mais que passarinhos”.

Estar no comando. Controlar o humor. E nunca permitir que o outro decida como você deve se sentir.  Não ser coodependente.

Não se contaminar com lamúrias ou azedumes (a lamúria é o louvor do diabo).

Ser leve. Alegre. Grato.

Decidir controlar as paixões. Não ser escravo dos desejos. Não seguir seu temperamento, sua mente. 

Ter domínio próprio. Nossa… isso é libertador.

Saber que acima da mente há a alma. E acima da alma há Deus!

Ainda é tempo de…

Escolher os pensamentos. 

Sacudir a passividade, a ironia, a agressividade, a procrastinação… ufa: a preguiça!

Escolher e se decidir pela integridade. Falar com assertividade.

Não se deixar paralisar pela dor. Marchar. Sempre. Haja o que houver. Marche! (Moisés fez isso…)

Ainda é tempo de… 

Ter a simplicidade das flores, com a surpresa de suas raras e esplêndidas fragrâncias.

Lembrar da advertência: prudentes como as serpentes, pacíficos como as pombas. 

Sermos rápidos e certeiros para fazer o bem. Lentos para a malícia ou a maldade. 

Não se importar com os ruídos. O mal é barulhento mesmo. O amor? Silencioso.

Saber que as dores e sofrimentos também podem nos curar, principalmente quando permitirmos a entrada do amor. Porque a dor tem a incrível capacidade de nos amargurar, separar… de nos paralisar (ou destruir!).

Ainda é tempo de escolher pelo bem. Decidir pelo amor.

Não esperar sentir para ajudar.

Fazer o bem hoje. Ajudar agora. Imediatamente.

E de desejar, com todas as forças do coração, ser uma pessoa melhor. O mundo precisa disso!

Compreender que no final tudo dará certo. Porque o Bem triunfará. 

E talvez você não se dê conta ainda…  mas seus pequenos atos de amor não passarão incólumes. Há uma multidão invisível no céu que vela e torce por você. E Ele vem!

Assim, ainda é tempo de almejar a Graça. 

O Eterno.

Amém!

Professora Drª Maria do Carmo Lincoln R. Paes

Pianista, Graduada em História;

Pós-graduação em Filosofia:

Mestre em Educação e

Doutora em Educação.

Email: carmolincoln@gmail.com




O Sabor da Volta às Aulas

Bem se expressa o pedagogo Rubem Alves quando diz que o saber sem prazer é como a comida sem sabor. Vem dele a inspiração desta metáfora que envolve escritores e cozinheiros: “só aprende quem tem fome”. Por certo, alguém comeria uma refeição que não lhe desperta o paladar com pouca motivação. Arrisco dizer que, da mesma forma, alguém ficaria entusiasmado em provar algo que lhe estimulem outros sentidos, como o olfato ou a visão – talvez daí venha a expressão “comer com os olhos”.

Curiosa pelas novidades da cozinha, li dias atrás sobre a neurogastronomia e um estudo sobre como o cérebro estabelece o gosto – apontando, inclusive, que os fatores sociais influenciam nessa percepção. Mágico, não é? Um convite a pensar sobre quanto da relação “saber e sabor” está presente no ato de aprender. Afinal, aprendemos o tempo todo e aprendemos mais e de forma mais significativa e duradoura quanto mais encantados e provocados a experimentar e “saborear” estivermos.

Vamos refletir sobre um momento bem específico desta relação... a volta às aulas. Quem teria animação em voltar às aulas se não espera ter experiências agradáveis sobre o ensino? Quem de nós retomaria a essa rotina após dias cheios de tranquilidade, liberdade e despreocupações? Com certeza, para que tenhamos motivação e vontade de retomar essa rotina, precisamos de muitos estímulos. 

Para que o retorno ao ano letivo seja prazeroso a pais, crianças e educadores, é necessário haver preparação de todas as partes. Diria que o planejamento dos professores para as primeiras semanas de aula seria o ato de aguçar o paladar dos alunos. Um envolvimento mútuo, que inclui responsabilidade e criatividade. Uma boa dose de participação coletiva que acrescentará um tempero especial ao ensino, despertando o sabor do aprendizado logo nas primeiras aulas do ano. Começar bem um prato não é garantia de sucesso, mas já nos dá uma boa perspectiva de que teremos algo delicioso para provar no final.

Pensando assim, o cuidadoso planejamento deste retorno, a escolha dos melhores ingredientes, os mais coloridos, mais saborosos para essa retomada, requer preparação, cuidado e muito amor. A escola inicia esse processo muito tempo antes. Enquanto os alunos ainda estão curtindo suas férias, a equipe de gestores precisa se mobilizar a fim de receber seus professores e organizar as primeiras receitas (semanas de aula); criar um ambiente acolhedor e prazeroso, pensar no cardápio do ano e escolher os melhores elementos para produzirmos os pratos saborosos.

Da mesma forma, do outro lado, os pais e alunos devem se dedicar à preparação para uma nova rotina, diferente da falta de rotina das férias. Todos engajados na cerimônia e nos preparativos para tornar a ocasião a mais especial possível. Importante também nesse contexto é o papel da família em amenizar as dificuldades que os meninos e meninas enfrentam no retorno ao ano letivo. É verdade que, nas férias, não é conveniente impor-lhes os estudos. É momento de relaxar, conhecer lugares e pessoas, fazer novas descobertas. Porém, com a proximidade da volta às aulas, é preciso ficar atento para que a rotina de férias seja, sim, flexível, mas não imprópria.

O sabor prazeroso do saber é uma responsabilidade de todos os envolvidos no processo de construção do conhecimento. Esse conjunto determina o rito de preparo dos pratos e sua forma de apresentação à mesa. Do começo ao fim do ano letivo é necessário que os participantes da produção do saber estejam comprometidos. Só assim, a escola será mais do que prédios, salas, quadros, programas, horários e conceitos. A escola será, sobretudo, gente. Gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece e se estima. Gente que tem fome de “descobrir”, ávida por sentir o sabor agradável da educação. 

Claudia Saad é coordenadora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino




Plástico descartável: proibir para mudar

Ao ser questionado sobre o uso de produtos descartáveis, talvez você não se lembre que provavelmente utilizou na última semana vários deles. Grande parte das atividades humanas modernas utilizam produtos descartáveis feitos de material plástico e, quando paramos para observar o comércio de alimentos e bebidas, vemos que o uso desses materiais é significativamente mais expressivo. 

Anualmente, são geradas cerca de 300 milhões de toneladas de lixo plástico no mundo, sendo 14% desse resíduo encaminhado para reciclagem e apenas 9% efetivamente reciclado. Algumas pessoas possuem a falsa impressão de que todos os resíduos plásticos são recicláveis, porém, produtos químicos acrescentados aos polímeros plásticos e embalagens de alimentos contaminadas com restos orgânicos podem inviabilizar o processo de reciclagem.

Desta forma, fica clara a necessidade de reduzir a geração desse resíduo por meio da redução do consumo de materiais plásticos. Vários países já estão adotando medidas que proíbem a utilização de produtos plásticos descartáveis. O Canadá, a Indonésia e a União Europeia, por exemplo, já definiram uma data para a proibição, e o Brasil, sendo o 4º país que mais gera resíduos plásticos no mundo, precisa acompanhar esse movimento.

Sob o mesmo ponto de vista, temos na utilização de produtos descartáveis em bares e restaurantes uma grande oportunidade de redução de consumo, visto que o volume de itens plásticos utilizados pela maioria desses estabelecimentos é bastante expressivo. Copos, canudos, pratos e talheres descartáveis são utilizados cotidianamente em muitos estabelecimentos e o consumidor, tão acostumado com esse padrão de consumo, não tem por hábito questionar a real necessidade de utilização desses materiais.  

É necessário que proprietários de bares e restaurantes comecem a buscar produtos que possam substituir o plástico, exercendo a mesma função, porém formados de material biodegradável. Em contrapartida, a indústria responsável pela produção desses produtos precisa aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento de materiais com baixo impacto ambiental, promovendo a inovação nos seus produtos para a garantia da manutenção dos seus negócios. 

Ademais, é importante destacar que nós, como consumidores, podemos adotar uma postura consciente e proativa que não dependa da existência de políticas públicas. O consumidor final é o agente de transformação com maior poder nesta cadeia e podemos impulsionar as marcas que consumimos, os fornecedores que contratamos e os estabelecimentos comerciais que frequentamos a realizar iniciativas de substituição do plástico. 

Por fim, partindo do princípio de que nenhuma mudança é fácil, devemos reconhecer, por meio da preferência, aquelas empresas que possuam um posicionamento ativo e comprometido no que diz respeito a iniciativas de baixo impacto ambiental, contribuindo para viabilizar essa mudança de comportamento tão urgente e fundamental para a sustentabilidade do nosso futuro. 

Andréa Luiza Santos Arantes, engenheira ambiental e sanitarista, consultora nas áreas de gestão de processos, qualidade e meio ambiente, é mestre em Gestão Ambiental pela Universidade Positivo e Coordenadora de Sistema de Gestão no Grupo Positivo

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